
Olimpo é justamente seu caráter satírico, uma vez que, apesar de oferecer-lhes o “néctar”,
possibilitando algum humor divino, acabava por revelar as verdades ocultas sobre as máscaras.
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Freqüentemente representado com chifres, símbolo do poder, ele era acompanhado por centauros
(cabeça humana, corpo de cavalo), ninfas (as belas entidades as quais assombravam os bosques e
florestas) e musas (ligadas às artes e às ciências), o que nos faz pensar ainda mais nessa entidade
como símbolo do grotesco; além disso, sua costumeira associação tanto com os céus quanto com
a terra remete a sua situação fronteiriça - morada comum ao monstro.
O grotesco, assim, pode ser entendido como aquilo que surge de uma criação onírica,
assumindo formas horríficas ou fantásticas, de algum modo, absurdas, criando muitas vezes o
satírico e a crítica. Constitui o monstruoso, que, de efeito risível, aponta unicamente para o
estranho, ainda que familiar.
Um outro exemplo do estranho pode ser encontrado nos seres híbridos. Eles são seres
disformes e ricos de significações nas mais diversas lendas. Pode-se dizer que há uma hierarquia
entre esses seres que são, em parte, humanos, em parte, animais. Os que possuem cabeça humana,
como é o caso da esfinge, são considerados superiores àqueles de constituição inversa, o que
torna a parte animalesca predominante, já que seu pensamento reside numa cabeça bestial. Os
híbridos têm significados diversos, de acordo com os animais que os constituem. O leão,
associado à águia, por exemplo, simboliza o corpo e a alma do homem:
E, se, por vezes, eles se mordem um ao outro, a primeira idéia não é a de
combate, mas de dois animais que se enfrentam, que se co-penetram, que se
tornam um só devorado-se mutuamente, que passam sem cessar de um ao outro.
O tema fica ainda mais claro quando o homem em pessoa é associado a esses
dois componentes simbólicos. Às vezes eles simbolizam o antagonismo que
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“Passam (os deuses) as horas sóbrias da manhã, acolhendo as contestações e esperando as súplicas. Logo,
empaturrados de néctar e incapazes de qualquer ocupação séria, vão para a parte mais elevada do Céu, de onde se
inclinam para espiar as ações humanas. Não existe espetáculo mais divertido para eles. Meu deus! Que comédia!”
(ROTTERDAM, 2001, p. 58).
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