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desse descrédito e explorar esse espaço de legendas em que a ideologia
'transforma continuamente os produtos da história em tipos essenciais'‖ (BARTHES,
1970, p. 243 apud URBAIN, 1991, p. 49). Esses tipos são, na visão de Urbain
(1991, p. 49), bons e maus, belos e feios, puros e impuros – ou, aqui, viajantes e
turistas. Nesse sentido, considera que ―as narrativas de viagem mencionam o
encontro desses personagens, significando nessa ocasião sua irredutível
incompatibilidade‖.
Na análise dessas narrativas, esse autor salienta a existência de uma
absoluta ―oposição entre turista e viajante‖, pois ―se acontece que o viajante se torne
turista, é por pura desatenção: um 'erro de percurso', um desvio muito provisório‖.
Mas ―o turista está em todo lugar‖, pois é essa a primeira constatação que as
narrativas evidenciam, ―não sem amargor, repercutindo um sentimento de intrusão‖
(p. 52-53). O que o viajante censura no turista é a introdução ―de relações
comerciais no interior das viagens‖, é a perversão ―das tradições‖ e o favorecimento
da ―luxúria, fazendo, por exemplo, danças rituais das 'exibições indecentes'―. (p. 54).
Segundo esse antropólogo, ―verdadeiramente, aos olhos do viajante, toda atividade
turística é uma diversão inquietante que conduz a todos os males: mercantilismo,
invasão, destruição do meio ambiente, destruição das culturas e das tradições – pelo
vício‖. Nas narrativas de viagem, o que esse autor identifica é que o viajante, ao
contrário do turista, ―não corrompe‖. Nesse ponto de vista, considera que ―o viajante
observa, descobre, respeita, preserva, melhora, salva ou espera salvar o mundo‖.
Nesse contexto, ―eternamente em vanguarda, o viajante está em missão
permanente‖ (p. 55). Esse antropólogo considera igualmente que, ―se o viajante
atribui ao turista esse lote comum de defeitos, é que ele encontra nisso algum
interesse‖, pois ―fazer do outro sua antìtese, é demonstrar a contrario a panóplia
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Segundo Houaiss (2007, on line), o surgimento desta palavra data de 1852-1853. Na
sua acepção militar, significava: na Grécia antiga, armadura completa de hoplita; na Idade Média,
armadura completa de cavaleiro europeu (com ou sem as armas do resto do seu equipamento).
Por extensão de sentido, significa uma coleção de armas exibida em uma parede ou em um painel
com finalidades decorativas e por metonímia, significa tanto uma obra que versa sobre armas
antigas quanto uma casa de armas. Por analogia, significa uma coleção ou conjunto de objetos,
troféus etc., exibidos com fins ornamentais. Por extensão de sentido, significa, também, tanto um
conjunto de objetos ou acessórios que uma pessoa leva sobre si no desempenho de um trabalho,
uma atividade, quanto um conjunto de objetos que simboliza ou caracteriza um trabalho ou uma
atividade. Além disso, ainda por extensão de sentido, significa um conjunto variado de objetos da
mesma natureza. Em sentido figurado, significa tanto um conjunto de coisas de ordem abstrata
quanto, no seu uso informal, um conjunto de recursos, modos de agir, expedientes, razões de que
uma pessoa dispõe para atingir seus objetivos. Disponível em: <
http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=pan%F3plia&stype=k >. Acesso em: