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Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e
os pregadores não pregam a verdadeira doutrina, ou porque a terra se não deixa salgar, e os
ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não
salga, e os pregadores dizem uma coisa e fazem outra, ou porque a terra se não deixa salgar, e os
ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem; ou é porque o sal não
salga, e os pregadores se pregam a si, e não a Cristo, ou porque a terra se não deixa salgar, e os
ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? (Cap.I, §
331)
(2)
“Não o levam os coches, nem as liteiras, nem os cavalos, nem os escudeiros, nem os pajens,
nem os lacaios, nem as tapeçarias, nem as pinturas nem as baixelas, nem as jóias: pois, em que
se vai e despende toda vida? No triste farrapo com que saem à rua, e para isso se matam todo
ano”
(Cap.IV, § 354 )
Em (1), percebemos que o enunciador levanta especulações a respeito do que “pode ser a
causa desta corrupção?”, referindo-se à corrupção da terra. Se ele especula, só poderia
prosseguir no discurso levantando argumentos que possivelmente solucionassem a questão.
Quanto a isso, Vieira usou convenientemente o operador argumentativo “ou”, que
repetido, encadeou outros segmentos que serviram de argumento para a solução da questão. A
presença do paralelismo estrutural com o operador “ou”, além de promover a progressão do
texto, levantando constantemente as possíveis causas da corrupção da terra, também “aciona”
o raciocínio do ouvinte em relação aos argumentos que lhes estão sendo apresentados como
razão possível para que o sal, representação dos pregadores da palavra de Deus, não esteja
conseguindo evitar tal corrupção.
Portanto, a opção de Vieira em organizar o parágrafo em estruturas recorrentes com o
operador argumentativo “ou” alternativo, não é nada ingênua. Através da forte presença do
discurso autoritário que permeia a formação discursiva do sermão, em (1), Vieira delimita,
entre outras possíveis, apenas algumas causas da corrupção da terra, justamente aquelas que
condizem com os interesses ideológicos da mensagem religiosa. Essa demarcação
argumentativa “obriga” os ouvintes a focalizarem seu raciocínio apenas no que foi proposto
pelo enunciador.
Outra vantagem argumentativa pela escolha desse paralelismo com “ou”, operador
alternativo, se dá pelo fato de que esse operador garante a solução da questão, em relação ao