
UFF-FE / PPGE Julho / 2010 4
Sendo assim, procurei trilhar caminhos na busca de respostas esclarecedoras para as
questões acima, sem ter a pretensão de, com apenas este trabalho, abranger todos os debates e
opiniões acerca da etnomatemática.
O PROGRAMA ETNOMATEMÁTICO: UMA BREVE INTRODUÇÃO
Foi em 1984, no 5º Congresso Internacional de Educação Matemática, em Adelaide,
Austrália, que o professor Ubiratan D‟Ambrosio apresentou sua teorização para o Programa de
Pesquisa Etnomatemática. Algumas novas tendências em Educação Matemática, como
“Matemática e Sociedade”, “Matemática para todos” e “História da Matemática e de sua
pedagogia” entre outras (ESQUINCALHA, 2004, p.3), também estavam em foco naquela época.
A principal motivação era procurar entender o saber/fazer matemático ao longo da História da
Humanidade, contextualizado em diferentes grupos de interesse, comunidades, povos e nações.
A gestação do programa deu-se durante a estada de D‟Ambrosio em Mali, na África, ocasião em
que dirigia o programa de doutorado da UNESCO, e também onde lhe ocorreu a ideia da
Etnomatemática:
“Nas conversas que eu tinha com os doutorandos, pessoal de alto nível, culturalmente ligado
à sua realidade, eles me mostraram que aquela Matemática de Primeiro Mundo levada à eles
não tinha nada que ver, na sua origem, com a tradição deles. Os malinenses, que são
mulçumanos, construíram grandes mesquitas típicas deles, de pau-a-pique. Estão de pé há
mais de 500 anos . . . Eles tiveram os arquitetos deles, os urbanizadores deles, que fizeram
coisas maravilhosas com uma matemática muito própria, com soluções diferentes das nossas
para problemas comuns a todos os povos. Então comecei a estudar muita Antropologia,
História Comparativa, para entender melhor esse fenômeno, que, claro, não se explica
somente pela Matemática.” (D´AMBROSIO
2
apud ESQUINCALHA, 2004, p.4)
O Programa de Pesquisas em Etnomatemática, para ser compreendido, exige um
mergulho nas ideias de Ubiratan D‟Ambrosio. A Etnomatemática lança mão dos diversos meios
de que as culturas se utilizam para encontrar explicações para a sua realidade e vencer as
dificuldades que surgem no seu dia-a-dia. Ela propõe um enfoque epistemológico alternativo
associado a uma historiografia mais ampla, ou seja, parte da realidade e chega, de maneira
natural através de um enfoque cognitivo com forte fundamentação cultural, à ação pedagógica. O
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Entrevista de Ubiratan D´Ambrosio à Revista Nova Escola, em agosto de 1993.