Cap. IV –Apresentação e Análise dos Resultados da Pesquisa 74
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UNESP – FCLAR Kleber Tüxen Carneiro
faziam de cipó naquele dique na beira do rio. Pegar cipó para fazer corda
era muito prazeroso, muito gostoso mesmo. A gente percebe que as
crianças [atuais] não têm prazer: elas ganham o presente e, daqui a pouco,
já quebrou. Não dão valor naquilo. Meu filho mesmo é um deles. A gente
tenta passar isso para ele, mas é a geração filho único. Você dá tudo? Não.
A gente procura passar isso para ele. Converso muito com ele sobre isso:
os brinquedos que eu tive, os que o pai dele teve, as brincadeiras...; tanto
que ele vai lá no sítio e faz isso [brinca à maneira antiga]. Nossa, ele não vê
a hora. Ele anda de bicicleta, nada no rio, anda descalço – e por aí leva
cada rachado [machucado nos pés] –, brinca na enxurrada...”.
P (02):
“Sim, todo o dia eu falo que a gente brincava assim e ia dormir falando o
que ia fazer amanhã [no dia seguinte]. Tinha muito de jogos de tabuleiro,
dama, ludo, bingo – aquele bingo com as cartelinhas –, stop, amarelinha.
Brincava muito: de queimada, pular corda (de zero a dez, foguinho),
esconde-esconde, estátua, de pega-pega, alerta, casinha – brinquei muito
de casinha. A gente fazia a casinha, montava tudo e depois ficava tão
cansada [pelo tempo que gastava para montar tudo] que não aguentava nem
brincar. Eu sempre brinquei de escola, eu sempre era a professora. Tinha
brincadeira com carro. Tudo virava festa. Eu fazia estepe [modalidade de
ginástica de academia]. Desde criança ficava brincando na sarjeta de
pular trocando a perna. Brincadeiras de roda eram muitas, brincadeiras
de mãos, rodas cantadas, brinquedos cantados, pipas... Sim, eu demorei
para aprender a subir em árvore. Minhas irmãs subiam às vezes, e eu
ficava conversando com elas (elas no alto, eu embaixo). Eu só subia em
árvores mais baixas e mais fáceis, mas sempre gostei também dessa
aventura. Sempre teve muitas árvores frutíferas em casa: pé de goiaba, pé
de ameixa. Eu me deliciava, gostava muito, foi uma fase muito boa da
minha vida”!
P (01)
“Eu brinquei muito com os meninos ali da rua; eram amigos. Brincava de
esconde-esconde, mãe-da-rua... Lá em frente [do local onde mora] tem uma
outra ruinha que não é muito utilizada e as duas avenidas. Ali a gente
brincava de queimada, mãe-da-rua, esconde-esconde. Tinha construção ali,
mas era muito bom subir em árvore, [brincar de] soldado-e-ladrão, pique-
bandeira. Era direto, eu não tenho do que reclamar. Até soltar pipa... Oh,
aqueles joguinhos de saquinhos – três ou cinco marias, não sei bem como
chama. Sentava na ruinha – a gente chamava de ruinha... Carriola
humana a gente fazia. Era direto, menino com menina, no asfalto, depois
do gramado... Só que é inclinado, pois moro no início do Santa Rosa.
Eram [brincadeiras] prazerosas, muito boas. Minha mãe até puxava minha
orelha ‘porque tem que vir embora...’. Minha avó perguntava: ‘Você não
vai tomar banho não?’. Eu não via a hora [de brincar]. Eu chegava da
escola, um ia chamando o outro. Era muito legal subir em árvore e também
brincar de pega, pega-corrente, pega-auto. Eu vejo agora, de um tempo pra
cá, que ninguém sabe subir em árvore. Infelizmente, é uma pena!”.