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INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular
Cecilia Rocha de Souza
O Efeito de APRIL na Migração de Timócitos
Dissertação apresentada ao Instituto Oswaldo
Cruz como parte dos requisitos para obtenção do
título de Mestre em Biologia Celular e Molecular.
Orientador(es): Prof
a
Dr
a
Carla Eponina de Carvalho Pinto
Prof. Dr. Wilson Savino
RIO DE JANEIRO
2009
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INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular
AUTOR: CECILIA ROCHA DE SOUZA
O EFEITO DE APRIL NA MIGRAÇÃO DE TIMÓCITOS
ORIENTADOR (ES): Prof
a
. Dr
a
. Carla Eponina de Carvalho Pinto
Prof. Dr. Wilson Savino
Aprovada em: 21/08/2009
EXAMINADORES:
Prof. Dr. Alexandre Morrot Lima (Suplente)
Prof
a
. Dr
a
. Maria Isabel Doria Rossi
Prof
a
. Dr
a
. Salete Smaniotto
Prof
a
. Dr
a
. Valéria de Mello Coelho (Suplente)
Prof. Dr. Vinicius Cotta de Almeida - Presidente
Rio de Janeiro, 21 de agosto de 2009.
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Dedico este trabalho à minha querida amiga Joana, pois
life is still worthwhile if you just smile”.
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AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a todos que estiveram ao meu lado ao longo desta
jornada. Este trabalho me proporcionou uma fuga para os problemas e, em alguns
momentos, a razão deles. Por isso, foi muito importante ter o apoio, carinho,
preocupação e torcida das pessoas que gostam de mim. Obrigada a todos vocês!
Primeiramente, agradeço aos meus pais, meus exemplos, por me permitirem sonhar
com uma carreira tão difícil, por vibrarem com minhas conquistas (mesmo que ainda
sejam poucas) e por participarem ativamente desse sonho. Por me apontarem o
caminho quando, muitas vezes, eu não o via. Por terem me ensinado a suportar e
superar as dificuldades. Sem vocês nada disso seria possível. À minha maneira, eu
os amos muito. Muito obrigada!
Ao meu namorado, João Victor, pelo carinho, apoio e, principalmente, pela
paciência. Pelo seu bom humor, companheirismo e pelo seu amor. Por sempre
aparecer na hora certa com seu lindo sorriso e maravilhosos chocolatinhos! Você foi
abrigo, força e inspiração. Você é meu grande exemplo de superação. Obrigada por
me fazer sorrir para os problemas. Obrigada por tudo e por nada, simplesmente por
você fazer parte da minha vida.
Aos meus avós, pela constante preocupação, e por não reclamarem da minha
ausência. Por serem simples, mas tão nobres. Vocês não fazem a menor idéia, mas
me dão forças para continuar a cada dia...
As minhas tias, sempre preocupadas comigo, pela escandalosa, carinhosa e
calorosa torcida para que os experimentos funcionassem e para que eu, um dia,
descubra algo muito legal.
Aos meus irmãos barulhentos, Rico e Mau, que fizeram com que eu desenvolvesse
uma incrível capacidade de abstração e concentração nestes anos.
Aos meus primos (que são tantos!), pela imensa alegria de estar ao lado de vocês
em qualquer ocasião.
Ao meu afilhado, o menino mais lindo e inteligente desse mundo, que enche a
dindinha de orgulho. Eu sei que nos últimos meses eu fui uma dindinha um
pouquinho ausente, mas aqueles passeios e lanchinhos acumulados acontecerão
logo!
Aos meus queridíssimos Andressa, Vanessa, Tamara, Giselle, Pamela, Marcelo,
Gustavo, Samon, Flávio, Léo e Bahamut. Por me ouvirem, por perdoarem os meus
furos, e por me divertirem sempre! Se existe algo na minha vida de que eu não
possa reclamar, é de ter AMIGOS. Vocês são únicos, verdadeiros, e, por isso,
fundamentais.
Mas eu devo um agradecimento especial para as minhas amigas Joana e Julie que
sempre estiveram ao meu lado, mesmo que virtualmente, independente da hora,
local e humor. Que me conhecem tão bem, e tantos anos, sabendo exatamente
quando o momento pedia uma piada, um abraço, um cineminha, uma caixinha de bis
(ou trufas!), ou apenas alguns momentos de silêncio... Meninas, eu amo vocês!
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Aos meus amigos de faculdade, Clarissa, Camila, Dani, Fefê, Gentil, Rei, Sérgio,
Paula, Tiago, Sheila e Henrique, por manterem o espírito de “turma” vivo mesmo
depois da graduação. Que equipe! Vocês também fazem parte disso.
Aos amigos que fiz no meu primeiro estágio (ainda durante a graduação),
Archimedes, Vinicius, Camila e Alexandre, pelos momentos que passamos juntos
nestes últimos anos. Eles foram poucos, mas me fizeram tão bem... Tenho
saudades de vocês no meu dia-a-dia!
Aos amigos que fiz em Montpellier, Gisa e Fernando, por toda ajuda durante as
minhas temporadas em solo francês, pelos jantares, pela simpatia, e pela torcida
para que o trabalho continue (e as viagens também!).
A família do meu namorado, Márcia, Higino (in memoriam), vovô Rodrigo, Pedro,
Bia, Yuki e Sheeva, por todo mimo e incentivo nestes 5 anos.
A Stephenie Meyer, por ter escrito seus livros.
Aos colegas de laboratório de Pesquisas Sobre o Timo (LPT), Dani, Ednéa,
Eduardo, Pedro(s), Diego(s), Ailin, Luciana, Carol, Emmanuelle, Marina, Ariany e
etc... pelo agradável convívio, troca de protocolos e artigos, almoços e lanchinhos.
A Sid, pela simpatia, e por toda ajuda, especialmente, em imprimir este trabalho.
Ao Luiz (Luiz! Luiz! Luiz!) e a Flávia Madeira (Frávia!), pela amizade e imensa ajuda
no laboratório. Obrigada!
A rbara e ao Francisco, que não fazem mais parte do grupo, mas que sempre me
ajudaram muito.
A Leandra, por todos os protocolos e por tirar as minhas dúvidas nos experimentos.
A Eugênia, pela calma que você transmite, pela sua simpatia e por toda ajuda.
A Klaysa, sobretudo, pelo seu imenso bom humor. Por todo incentivo e carinho. Mas
eu preciso agradecer por todos os macaquinhos!
Ao Marco, pelas idas ao FACS até que eu aprendesse a usá-lo sozinha, pelas
sugestões, pelas dicas, pelos artigos, e, principalmente, pela troca de experiências.
E a Marcele, pelas caronas, pela simpatia e pelo carinho. Sentirei saudades de
vocês!
Ao Douglas, Paulo Emílio e Eustáquio pela ajuda na UFF.
Aos queridos Dani, Gabriel, Ju, Teh e Felipe pelas sextas-feiras de seminários mais
animadas que o Laboratório de Migração em Imunopatologia (UFF) já teve.
A Mariana, pela sua simpatia, seu jeitinho calmo e doce. Saudades de você...
A minha querida amiga Ana Flávia, por ter dividido comigo as alegrias e angústias
da dissertação (e do APRIL!). Por ter se tornado uma amiga essencial e muito
vi
especial. Nossa parceria continua! Afinal, “o timo é um órgão linfóide primário
bilobado...”.
A Nina e a Bartira, com quem sempre aprendi tanto. Por serem duas “mãezonas”!
Obrigada pela prazerosa companhia no laboratório (UFF), pelas conversas, pelos
conselhos, pela amizade e por toda ajuda.
A Flavinha, pela amizade e carinho que cultivamos nestes anos. Por sempre me
abrigar no seu cantinho francês, e pela companhia em nossas inesquecíveis
aventuras pela Europa.
Aos pesquisadores do LPT por todas as discussões e sugestões durante os
seminários.
Ao Ernesto e ao João, que também fazem parte do grupo, pela simpatia e incentivo.
A Salete, pelas dicas e por aceitar fazer parte da banca. E aos outros membros da
banca, Alexandre, Isabel, Valéria e Vinícius, por aceitarem o meu convite.
A Juliana, por todas as sugestões e, especialmente, por revisar e discutir comigo
este trabalho.
Ao Désio, por toda força, principalmente, nestes últimos meses. Sua ajuda fez toda
diferença.
A Déa, por ser tão querida e serena. Muito obrigada pela atenção que sempre teve
comigo.
A Letícia, pela simpatia, bom humor, energia e pela imensa ajuda nos experimentos.
Gracias!
Ao Michael, pela oportunidade de trabalhar com APRIL (“a proteína mais importante
do mundo”). Danke schön!
Aos meus orientadores, Carla e Savino, por todas as oportunidades, pela confiança
e liberdade. Gostaria, ainda, de agradecer, em especial, à Carla que me acompanha
desde a graduação. Muito obrigada pela dedicação ao longo destes anos!
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“Empty spaces
what are we living for ?
Abandoned places
I guess we know the score
On and on, does anybody know what we are looking for ?
Another hero, another mindless crime
Behind the curtain, in the pantomime
Hold the line, does anybody want to take it anymore ?
The show must go on
The show must go on
Inside my heart is breaking
My make-up may be flaking
But my smile still stays on”
Freddie Mercury
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INSTITUTO OSWALDO CRUZ
O Efeito de APRIL na Migração de Timócitos
RESUMO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Cecilia Rocha de Souza
As proteínas da família do Fator de Necrose Tumoral (TNF) possuem papel
importante na indução de processos biológicos como proliferação, diferenciação,
sobrevivência e morte celular. APRIL (ligante indutor de proliferação) é uma citocina
desta família que promove proliferação e sobrevivência tumoral, modulando,
também, a atividade de linfócitos B, favorecendo a sobrevivência e produção de
anticorpos. Por outro lado, seus efeitos em linfócitos T ainda o pouco conhecidos.
APRIL interage com os receptores BCMA e TACI expressos em linfócitos. Além
destes, APRIL pode ligar-se a proteoglicanas de heparan-sulfato (HSPG) nas
superfícies celulares. Camundongos transgênicos para APRIL que expressam a
proteína em excesso desenvolvem neoplasia associada às células B-1. Em análise
preliminar por imunohistoquímica encontramos um aumento de células B220
+
no
timo destes animais comparado aos controles. O timo é o órgão linfóide primário
onde ocorre a maturação de linfócitos T, processo altamente dependente da
migração dos timócitos no microambiente tímico. Para isto, os timócitos interagem
com células epiteliais tímicas (TEC) e com uma rede de matriz extracelular
complexa, que apresenta entre outros componentes, fibronectina e laminina. No
entanto, os efeitos de APRIL no timo ainda não são conhecidos. Neste sentido,
nosso objetivo foi estudar o efeito de APRIL na migração de timócitos de
camundongos normais através de ensaios de migração em câmaras de transwell.
Inicialmente, investigamos o impacto de APRIL na sobrevivência e proliferação de
timócitos, porém, não encontramos alterações após o tratamento in vitro com a
proteína recombinante. Por outro lado, os ensaios de migração ex vivo revelaram
que APRIL possui efeito quimiorrepulsor, provavelmente, em conseqüência da
diminuição da adesão dos timócitos conforme análise do co-cultivo com linhagens de
TEC. A modulação destes eventos não estava relacionada com alteração do perfil
de expressão dos receptores para fibronectina e laminina (VLA-4/VLA-5 e VLA-6)
nas subpopulações de timócitos. Além disso, o efeito quimiorrepulsor de APRIL foi
potencializado por CXCL12 e laminina (mas não por fibronectina). E ainda, os
timócitos, ao contrário das TEC, o expressam receptor TACI. No entanto, o pré-
tratamento com heparina bloqueia parcialmente o efeito de APRIL na migração dos
timócitos, sugerindo que este seja mediado pela interação com HSPG. Assim,
concluímos que APRIL estimule a migração de timócitos, e module negativamente a
adesão celular, através da interação com HSPG.
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INSTITUTO OSWALDO CRUZ
The effect of APRIL on thymocyte migration
ABSTRACT
MASTER THESIS
Cecilia Rocha de Souza
Proteins of the tumor necrosis factor (TNF) family play an important role in many
biological processes like cell proliferation, differentiation, survival and death. APRIL
(A Proliferation-Inducing Ligand) is a member of this cytokine family, promotes tumor
proliferation and survival, and modulates B cells activities, enhancing cell survival
and antibody production. However, whether APRIL exerts any effect on T cells
remains unclear. APRIL acts by interacting with two receptors, BCMA and TACI, both
expressed on lymphocytes. Additionally, APRIL binds to cell surface heparan
sulphate proteoglycans (HSPG). Transgenic mice overexpressing APRIL develop a
B-1 cell neoplasia. In preliminary analysis, we observed by immunohistochemistry, an
increase in B220
+
cells in the thymus from APRIL Transgenic mice compared to the
controls. The thymus is a central lymphoid organ in which T cell differentiation
occurs. This process is deeply dependent on thymocyte migration throughout organ,
and for that the thymocytes interact with the thymic epithelial cells (TEC) and
extracellular matrix molecules such as fibronectin and laminin. APRIL effects in the
thymus remain unknown. This work aimed to study the effect of APRIL on thymocyte
migration of normal mice. Firstly, we investigated whether APRIL could modulate
thymocyte survival and proliferation. We did not find any alterations in response to in
vitro treatment with APRIL recombinant protein. Even though, the ex vivo migration
assays revealed a chemorrepulsive effect probably owning to a decrease on
thymocyte adhesion as showed by co-culture with TEC. Interestingly, these results
did not correlate with any difference in the membrane expression of fibronectin or
laminin receptors (respectively VLA-4 / VLA-5, and VLA-6) on thymocyte
subpopulations. APRIL chemorrepulsive effect was enhanced by CXCL12 and
laminin (but not by fibronectin). Besides, differing from TEC, thymocytes did not
express APRIL receptors. Nevertheless, pre-treatment with heparin partially blocks
migration, suggesting that the effect of APRIL on thymocyte migration is mediated by
HSPG interaction. In conclusion, APRIL seems to stimulate thymocyte migration, and
downregulates cell adhesion, by interacting with HSPG.
x
ÍNDICE
Resumo ..................................................................................................................... ix
Abstract ...................................................................................................................... x
1.Introdução ............................................................................................................... 1
1.1.Família do Fator de Necrose Tumoral............................................................................................ 2
1.2.APRIL ............................................................................................................................................. 7
1.2.1.Receptores e sinalização ........................................................................................................ 9
1.2.2.Efeitos de APRIL ................................................................................................................... 10
APRIL e Tumorigênese ........................................................................................................... 10
APRIL e Autoimunidade .......................................................................................................... 11
APRIL e Linfócitos ................................................................................................................... 13
1.2.3.Camundongos transgênicos para APRIL .............................................................................. 14
1.3.Timo .............................................................................................................................................. 17
1.3.1.Microambiente tímico ............................................................................................................ 17
1.3.2.Maturação e migração intratímica dos linfócitos T ................................................................ 23
1.3.3.APRIL e timo ......................................................................................................................... 29
2.Objetivos ............................................................................................................... 30
3.Material e Métodos ............................................................................................... 31
3.1.Reagentes .................................................................................................................................... 31
3.2.Animais ......................................................................................................................................... 32
3.2.1.Obtenção de timócitos .......................................................................................................... 32
3.3.Cultivo celular ............................................................................................................................... 32
3.4.Ensaio de Sobrevivência celular .................................................................................................. 32
3.5.Ensaio de Migração celular .......................................................................................................... 33
3.6.Ensaio de adesão ......................................................................................................................... 34
3.7.Fenotipagem ................................................................................................................................. 34
xi
3.8.Análise Estatística ........................................................................................................................ 35
4.Resultados ............................................................................................................ 36
4.1.Avaliação do efeito de APRIL na sobrevivência de timócitos ...................................................... 36
4.2.Avaliação do efeito de APRIL na migração de timócitos in vitro .................................................. 38
4.2.1. Efeito de APRIL na migração de timócitos .......................................................................... 38
4.2.2. Efeito de APRIL na migração de timócitos frente à fibronectina, laminina e CXCL12 ........ 40
4.2.3. Análise fenotípica dos ensaios de migração ........................................................................ 41
4.3.Interação de APRIL com moléculas de matriz extracelular ......................................................... 44
4.4.Avaliação do efeito de APRIL na interação TEC-timócito ............................................................ 46
4.5.Avaliação do efeito de APRIL na expressão de receptores para matriz extracelular .................. 46
4.6.Determinação da interação APRIL x Timócito ............................................................................. 51
4.6.1. Caracterização da expressão do receptor TACI nos timócitos ............................................ 51
4.2.2.Avaliação da participação de proteoglicanas de heparan-sulfato (HSPG) na migração de
timócitos ......................................................................................................................................... 51
5.Discussão ............................................................................................................. 54
6.Conclusões e Perspectivas ................................................................................. 65
7.Bibliografia ............................................................................................................ 66
8.Anexo: artigo desenvolvido de publicado durante o mestrado ...................... 85
xii
ÍNDICE DE FIGURAS
1.1.Ligantes e receptores da Família TNF ............................................................... 3
1.2. Sinalização intracelular através dos receptores para APRIL ......................... 4
1.3. Efeitos de APRIL ................................................................................................ 8
1.4. Alterações histológicas dos órgãos linfóides e não-linfóides em
camundongos transgênicos para APRIL .............................................................. 16
1.5. Microambiente tímico ....................................................................................... 19
1.6. Padrão de expressão de moléculas de matriz extracelular (ECM) e
citoqueratinas no timo ............................................................................................ 20
1.7. Maturação e migração intratímica: influência das moléculas de matriz
extracelular (ECM), quimiocinas e seus receptores ............................................. 25
4.1. APRIL não interfere na sobrevivência e proliferação de timócitos ............. 37
4.2. Efeito quimiorrepulsor de APRIL na migração de timócitos ........................ 39
4.3. . Efeito de APRIL na migração de timócitos orientada por fibronectina,
laminina e CXCL12 .................................................................................................. 42
4.4. Análise fenotípica dos ensaios de migração ................................................. 43
4.5. APRIL interage com fibronectina .................................................................... 45
4.6. APRIL modula negativamente a interação TEC-timócito .............................. 47
4.7. Expressão de VLA-4 (CD49d) não é alterada após tratamento com APRIL 48
4.8. Expressão de VLA-5 (CD49e) não é alterada após tratamento com APRIL 49
4.9. Expressão de VLA-6 (CD49f) não é alterada após tratamento com APRIL . 50
4.10. Subpopulações de timócitos não expressam o receptor TACI .................. 52
4.11. APRIL modula migração de timócitos via HSPG ......................................... 53
5.1. Modelo de interação entre APRIL, fibronectina, laminina e HSPG .............. 61
xiii
ÍNDICE DE TABELAS
3.1. Anticorpos monoclonais utilizados na fenotipagem..................................... 31
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS
APC – aloficocianina (allophycocinin)
APRIL – ligante indutor de proliferação (a proferation-inducing ligand)
APRIL-KO – camundongo nocaute para APRIL
APRIL-Tg – camundongo transgênico para APRIL
AR – Artrite Reumatóide
BAFF – fator ativador de linfócito B (B cell activating factor)
BCMA receptor para APRIL e BAFF, antígeno de maturação de linfócito B (B Cell
maturation antigen)
BLyS – fator estimulador de linfócito B (B lymphocyte stimulator)
CD – marcadores de superfície celular (clusters of differentiation)
CIA – Artrite induzida por colágeno (collagen induced arthritis)
CIVD - coagulação intravascular disseminada
CK – citoqueratina (citokeratin)
CLL – Leucemia Linfocítica Crônica (chronic lymphocytic leukemia)
DC – células dendríticas (dendritic cells)
DN – timócitos duplo-negativos
DP – timócitos duplo-positivos
ECM – matriz extracelular (extracellular matrix)
FN - fibronectina
FITC – isotiocianato de fluoresceína (fluorescein isothiocyanate)
GH – hormônio do crescimento (growth hormone)
HBD – domínio de ligação para heparina (heparin-binding domain)
HE – Hematoxilina e Eosina
HSPG - proteoglincanas de heparan-sulfato (heparan sulfate proteoglycans)
Ig – imunglobulina
IL – interleucina
LES – Lúpus Eritematoso Sistêmico
LN – laminina
LPS - lipopolissacarídeo
MG – Miastenia Gravis
MHC Complexo Principal de Histocompatibilidade (Major Histocompability
Complex)
mLN – linfonodos mesentéricos
xv
MMPs – metaloproteinases
PAMPs - padrões moleculares associados à patógenos (pathogen-associated
molecular patterns)
PBMC célula mononucleare de sangue periférico (peripheral blood mononuclear
cell)
PE – ficoeritrina (phycoeritrin)
PercP – proteína piridina de clorofila (piridin-chlorophyll-a-protein)
PP – placa de Peyer
PTR – célula fagocítica do retículo tímico (phagocytic cell of thymic reticulum)
RNAm – ácido ribodesoxirribonicléico (ribonucleic acid) mensageiro
SP – timócitos simples-positivos
TACI receptor para APRIL e BAFF, ativador transmembranar que interage com
CAMIL (Transmembrane activator and CAMIL interactor)
TCR – receptor clonal de células T (T cell receptor)
TEC – células epiteliais tímicas (thymic epithelial cells)
Th – célula T auxiliadora (T helper cell)
TLR- receptores semelhantes a Toll (toll like receptors)
TNC – célula nurse tímica (thymic nurse cell)
TNF – fator de necrose tumoral (turmor necrosis factor)
TNF-R – receptores da família TNF
TRAF - Fator Associado ao TNF-R
SS – Síndrome de Sjörgren
VLA – antígeno de superfície tardio (very late antigen)
VLA-4 –
α4β1 ou CD49d/CD29, receptor de fibronectina
VLA-5 – α5β1 ou CD49e/CD29, receptor de fibronectina
VLA-6 – α6β1 ou CD49f/CD29, receptor de laminina
1
1. INTRODUÇÃO
Em 1998, Hahne e colaboradores descreveram um novo membro da família
TNF (Fatores de Necrose Tumoral), denominado APRIL (A PRoliferation Inducing
Ligand). Desde então, com a produção do camundongo transgênico para a proteína,
muito se tem estudado sobre seus efeitos no sistema imune.
A proteína APRIL foi descrita como um potente indutor de proliferação e
aumento de sobrevivência de tumores, sendo expressa, predominantemente, em
linhagens celulares e tecidos tumorais (Hahne et al., 1998). A partir destes achados,
investigou-se, também, a participação de APRIL em processos de autoimunidade.
Vários grupos encontraram um aumento da concentração plasmática da proteína em
pacientes com doenças auto-imunes, como Artrite Reumatóide, Lupus Eritematoso
Sistêmico, Miastenia Gravis e Síndrome de Sjörgren (Josson et al., 2005; Seyler et
al., 2005; Thangarajh et al.; 2006 Morel et al., 2009). Conhecemos a importância de
APRIL na biologia dos linfócitos B, promovendo a apresentação antigênica,
produção de anticorpos e sobrevivência celular (Dillon et al., 2006). Estudos com
camundongos transgênicos para APRIL, que produzem a proteína constitutivamente,
revelaram que estes animais desenvolvem uma neoplasia associada às células B-1,
com invasão de células tumorais em órgãos linfóides secundários e órgãos não-
linfóides (Planelles et al., 2004). Porém, ainda não são conhecidos os possíveis
efeitos de APRIL em órgãos linfóides primários, bem como na atividade de linfócitos
T.
Assim, nosso grupo propôs-se a estudar os efeitos da proteína APRIL sobre
alguns aspectos relacionados à fisiologia do timo. Para isto, realizamos ensaios ex
vivo com a proteína recombinante tendo como foco principal a atividade migratória
de timócitos e sua interação com as células epiteliais tímicas.
Para melhor compreensão de nossos resultados, as sessões seguintes deste
capítulo apresentam uma coletânea de informações acerca da temática abordada
nesta dissertação de Mestrado.
2
1.1. Família do Fator de Necrose Tumoral
As proteínas da Família do Fator de Necrose Tumoral são ligantes e
receptores (TNF-R) que possuem papel importante na indução e regulação de
diversos processos biológicos como proliferação, diferenciação, organogênese dos
órgãos linfóides secundários, inflamação, sobrevivência e morte celular (Aggarwall et
al., 2003; Clark, 2007). Foram descritos cerca de 50 membros: 19 ligantes que
exercem efeitos biológicos através da sinalização a partir de 29 receptores
(Hehlangs & Pfeffer, 2005). Estas moléculas são trímeros e, de maneira geral, ligam-
se a mais de um receptor, sendo expressos preferencialmente por células do
sistema imune. Conforme ilustrado na figura 1.1, a grande maioria destes receptores
apresenta-se na forma membranar, podendo ser encontrados, também, após
processamento, na forma solúvel (Aggarwall et al., 2003).
A sinalização através dos receptores TNF-R recruta proteínas adaptadoras
que ativam diferentes vias intracelulares. Neste sentido, os receptores podem ser
divididos em três grupos de acordo com a estrutura do domínio citoplasmático, e,
portanto, com os eventos estimulados. O primeiro grupo é formado pelos receptores
FAS (CD95), TNFR1, TRAIL-R1 (DR4), TRAIL-R2 (DR5), TRAIL-R4 (DcR2), TRAMP
(DR3) e EDAR. Estas moléculas possuem um domínio de morte na sua porção
citoplasmática, de modo que sua ativação leva ao recrutamento de adaptadores
contendo domínios de morte, como FADD e TRADD (Hehlangs & Pfeffer, 2005), que
ativam as caspases induzindo, assim, a morte celular (Baker & Reddy, 1998). O
segundo grupo compreende os receptores TNFRII, CD27, CD30, CD40, LT
βR,
OX40, 4-IBB, BAFFR, RANK, Fn14, AITR, XEDAR, TROY, BCMA e TACI que
apresentam o domínio de interação (TIM) que recruta o Fator Associado ao TNF-R
(TRAF) que, por sua vez, ativa a transdução de sinais pelas vias do NFkB, JNK, p38,
ERK e PI3K (Figura 1.2). O terceiro grupo inclui os receptores TRAIL-R3 (DcR1),
DcR3 e OPG que não possuem domínios específicos para sinalização, mas
competem com os outros pelos ligantes (Hehlangs & Pfeffer, 2005).
3
Figura 1.1. Ligantes e receptores da Família TNF. Os receptores estão
representados na esquerda, e os respectivos ligantes na direita. Podemos observar
que a maioria dos membros desta família é liberada da membrana celular após
clivagem realizada por diferentes enzimas proteolíticas. TNF e RANKL o clivados
por metaloproteinases da família ADAM, TRAIL e CD95L pela matrilisina, ao passo
que TWEAK e APRIL por furinas. Os valores à esquerda representam o número de
aminoácidos no domínio citoplasmático de cada receptor. A sinalização através dos
receptores pode ser mediada pela interação da porção citoplasmática com domínios
de morte ou com diferentes fatores de interação que recrutam o Fator Associado ao
TNF-R (TRAF) que ativam diferentes proteínas (Modificado de Aggarwall, 2003).
4
Figura 1.2. Sinalização intracelular através dos receptores para APRIL. APRIL
pode ligar-se a BCMA, TACI e HSPG nas superfícies celulares, no entanto, ainda
não se sabe se a interação com este último receptor gera algum sinal intracelular. A
sinalização através dos outros receptores é mediada, primeiramente, pelo
recrutamento e interação com diferentes domínios TRAF dependendo do receptor
envolvido. A principal via de sobrevivência celular envolvida com este circuito é do
NFkB, sua ativação modula outros fatores de transcrição, levando ao aumento de
proteínas anti-apoptóticas, e diminuição das pró-apoptóticas. Como resultado,
observamos aumento da sobrevivência, proliferação celular e troca de classe de
imunoglobulinas para IgA (Modificado de Kimberley et al., 2008).
5
O Fator de Necrose Tumoral (TNF), primeiro membro da família, foi
inicialmente descrito como um potente indutor seletivo de morte em células tumorais.
Demonstrou-se que esta citocina era produzida por macrófagos ativados com
endotoxina bacteriana, lipopolissacarídeo (LPS) de E. coli, e era, então, responsável
pela destruição necrótica de diversos tipos de tumor em modelo murino in vitro e in
vivo (Carswell et al., 1975). No entanto, estudos posteriores mostraram que a
estimulação crônica com TNF, em baixas doses, favorece o desenvolvimento
tumoral promovendo seu crescimento, invasão e metástase, pois, aumenta a
sobrevivência, angiogênese, mobilidade e produção de metaloproteinases de matriz
(MMPs) (Szlosarek et al., 2006). Sendo assim, o TNF é uma citocina capaz de
estimular efeitos antagônicos, podendo tanto promover, como inibir a atividade
tumoral.
Além de sua participação na resposta imune de tumores, o TNF é uma
importante citocina pró-inflamatória, promovendo a imunidade inata através da
inflamação em resposta à invasão de microorganismos. Estes sinais são
fundamentais para iniciar a resposta adaptativa ao estimular a diferenciação de
linfócitos TCD4
+
virgens em Th1 que apresentam um perfil de resposta celular capaz
de eliminar as células infectadas. Macrófagos quando ativados por padrões
moleculares associados à patógenos (PAMPs) passam a secretar TNF que ativa o
endotélio vascular, de modo que este passa a expressar um maior número de
moléculas de adesão, facilitando a migração leucocitária do vaso para o tecido alvo
(Murphy et al., 2008).
Por outro lado, o TNF pode desencadear reações extremamente danosas ao
hospedeiro quando é produzido em excesso, estando relacionado com processos
como sepse e caquexia, além de diversas doenças auto-imunes (Hehlgans & Pfeffer,
2005; Clark, 2007). A sepse é uma resposta exacerbada do hospedeiro diante de um
processo infeccioso, constituindo-se de uma resposta sistêmica com alta produção
de citocinas pró e anti-inflamatórias. Dentre as pró-inflamatórias, as principais
citocinas envolvidas o o TNF-α e a IL-1β, ao passo que a IL-10 e o TGFβ são as
citocinas anti-inflamatórias predominantes neste processo. Assim, a liberação de
TNF-α no sangue faz com que o sistema vascular entre em colapso em
conseqüência da coagulação intravascular disseminada (CIVD) ou choque (Murphy
et al, 2008).
As citocinas da Família TNF têm sido ainda relacionadas com a reação
inflamatória presente nos processos de autoimunidade, principalmente, em doenças
6
como a Artrite Reumatóide (AR), a Doença de Crohn e o Lúpus Eritematoso
Sistêmico (LES) (Hehlgans & Pfeffer, 2005). Nestas, pode ser encontrado aumento
dos níveis séricos, assim como no tecido afetado, de citocinas pró-inflamatórias,
dentre elas, o TNF (Bradley, 2008). Por isso, o uso de drogas anti-TNF, como o
anticorpo monoclonal Infliximab, tem sido empregado na terapia contra estas
doenças. No entanto, os ensaios clínicos realizados com antagonistas de TNF
revelam o aparecimento de efeitos colaterais, como a produção de auto-anticorpos
anti-núcleo e anti-dsDNA (Kollias & Kontoyiannis, 2002).
A AR é uma doença crônica que acomete as articulações sinoviais. Nestas
grande produção de citocinas como IL-1, IL-6, IL-12 e TNF-
α, e formação de um
tecido inflamatório, chamado de pannus, constituído, principalmente, de neutrófilos,
macrófagos, células dendríticas, linfócitos T e B, que invade e destrói osso e
cartilagem (Firestein, 2003; Robins et al., 2005). Assim, camundongos transgênicos
que superexpressam TNF-α desenvolvem inflamação crônica das articulações. No
entanto, estas alterações são completamente inibidas com a administração de
anticorpo monoclonal anti-TNF-α, revelando que esta citocina é fundamental para o
desenvolvimento da doença (Keffer et al., 1991).
A Doença de Crohn é uma doença inflamatória crônica na qual a mucosa do
trato gastrintestinal é invadida por um infiltrado formado, principalmente, por
linfócitos T e macrófagos, com predominância, assim como na Artrite Reumatóide,
do perfil de resposta Th1 (Elia & Souza, 2001). Camundongos geneticamente
modificados, que expressam a citocina TNF-α constitutivamente, desenvolvem um
quadro histopatológico semelhante à Doença de Crohn, com inflamação crônica e
colabamento das vilosidades intestinais (Kontoyiannis et al., 1999). E, por outro lado,
a terapia com Infliximab induz remissão da doença em pacientes, mostrando a
importante participação do TNF-α na promoção desta patologia (Sands et al., 2004).
O LES é uma doença auto-imune crônica caracterizada, principalmente, pela
produção exacerbada de auto-anticorpos e conseqüente deposição dos complexos
imunes em diversos tecidos. Esta deposição promove a ativação da cascata do
sistema complemento. Pacientes com LES apresentam níveis séricos elevados de
TNF-α que se correlacionam com a atividade da doença, de maneira que o uso de
bloqueadores é eficiente no tratamento da inflamação que acomete os órgãos
atingidos (Aringer & Smolen, 2008).
Além do TNF-
α, outras citocinas desta família estão sendo apontadas como
fatores críticos no desenvolvimento e manutenção de diversas doenças auto-
7
imunes, e, portanto, são novos alvos em potencial para o tratamento destas
alterações (Dillon et al., 2006; Mackay et al., 2007). As citocinas BLyS (B lymphocyte
stimulator), conhecida também como BAFF (B cell activating factor) e, em especial
para este trabalho, APRIL (A Proliferation-Inducing Ligand), apresentam-se
aumentadas no soro e nos tecidos acometidos de pacientes e de animais em
diversos modelos experimentais para as doenças acima mencionadas, recebendo
atenção no cenário científico nos últimos anos (Mackay et al., 1999; Wang et al.,
2001; Seyler et al., 2005; Morel et al., 2009).
1.2. APRIL
APRIL (A Proliferation-Inducing Ligand), também conhecido como TNSF13A,
Tall-2, TRDL-1 e CD256, é o mais novo ligante da família TNF descrito por Michael
Hanhe e colaboradores em 1998. APRIL foi assim denominada devido à sua
capacidade de estimular a proliferação de diversas linhagens de lulas tumorais in
vitro. Esta proteína foi identificada após o mapeamento genético, seguido de
alinhamentos múltiplos em bancos de dados para seqüências semelhantes a outros
ligantes da família já conhecidos. Assim, pôde-se obter a estrutura primária de
APRIL que é codificada pela região cromossômica 17p13, e constitui-se de 250
aminoácidos (Hahne et al., 1998).
APRIL é uma proteína solúvel que, assim como ocorre com os demais
membros da família TNF, é sintetizada como uma proteína transmembranar, porém,
o sítio de ancoramento à membrana é clivado por uma furina convertase no aparelho
de Golgi (Lopez-Fraga et al., 2001). Dessa forma, após processamento intracelular,
APRIL é secretada para o meio extracelular na forma biologicamente ativa com um
trímero solúvel de peso molecular de 63-kDa (Wallweber et al., 2004). Ela pode ser
produzida por diversos tipos celulares, pertencentes ou não do sistema imune,
dentre eles estão: neutrófilos, monócitos, macrófagos, células dendríticas, linfócitos
B e T, lulas estromais da medula óssea, megacariócitos e osteoclastos (Figura
1.3). APRIL é expressa, predominantemente, por células tumorais e células do
microambiente tumoral, ao passo que os tecidos normais produzem níveis muitos
baixos da proteína, porém, dentre estes, os leucócitos do sangue periférico, a
expressam em maior intensidade (Hahne et al., 1998; Dillon et al., 2006).
8
Figura 1.3. Efeitos de APRIL. APRIL pode ser produzido por diversos tipos
celulares. Seus efeitos estão relacionados com a atividade de lulas tumorais e
linfócitos. APRIL aumenta a sobrevivência e proliferação celular de diversos tipos
tumorais e linfócitos B, estimula a mudança de classe de imunoglobulinas e aumenta
a apresentação antigênica. Em linfócitos T, APRIL pode co-estimular a proliferação
celular (Modificado de Dillon et al., 2006).
9
1.2.1. Receptores e sinalização
APRIL pode desencadear seus efeitos através da interação com dois
receptores conhecidos, BCMA (B Cell maturation antigen) e TACI (Transmembrane
activator and CAMIL interactor) (Rennert et al., 2000), conforme mostrado na figura
1.2. Estes receptores ligam-se também a outro membro da família, o BAFF, sendo
que APRIL liga-se com maior afinidade a BCMA, ao passo que BAFF possui maior
afinidade por TACI (Marsters et al., 2000). Ambos os receptores são expressos por
linfócitos: as células B expressam os receptores BCMA e TACI, enquanto que as
células T expressam somente TACI (Mackay et al., 2002). Embora TACI tenha sido
descrito, primeiramente, como receptor de células T ativadas (von Bülow & Bram,
1997), os dados sobre a expressão de TACI em linfócitos T ainda são conflitantes
(Mackay & Leung, 2006) . Resultados recentes mostraram que em camundongos,
linfócitos T CD4
+
e CD8
+
de baço, linfonodos mesentéricos e periféricos, assim como
de lavado peritoneal, expressam o receptor TACI constitutivamente, portanto na
ausência de estimulação (Hardenberg et al., 2008).
Acredita-se ainda que APRIL possua um terceiro receptor específico, pois
linhagens de células tumorais de linfoma de células T humano (Jurkat) e de
carcinoma humano de lulas epiteliais (A549), que não expressam os receptores
BCMA e TACI, respondem ao estímulo in vitro com aumento de proliferação (Hahne
et al., 1998). Este efeito de APRIL não é observado quando estas células são
submetidas previamente ao tratamento com heparina, que APRIL possui uma
seqüência de aminoácidos próxima da extremidade N-terminal que é necessária
para ligação com proteoglicanas de heparan-sulfato (HSPG) (Hendriks et al., 2005).
Esta ligação é específica, pois a administração de BCMA-Fc não afeta a ligação
entre APRIL com HSPG, sugerindo que a seqüência protéica envolvida nesta
ligação é diferente daquela necessária para a ligação com BCMA e TACI (Ingold et
al., 2005). Sendo assim, APRIL poderia ligar-se, também, a HSPG presente nas
superfícies celulares.
As vias intracelulares utilizadas por estas moléculas ainda não foram
completamente mapeadas, mas, a o momento, se sabe que TACI e BCMA
ativam a via clássica do fator de transcrição NF-kB (Marsters et al., 2000). Esta
ativação promove, principalmente, a produção de anticorpos e o aumento de
sobrevivência em linfócitos através da interação com os membros da família TRAF
(Kimberley et al., 2008). O efeito de APRIL na inibição de morte foi descrito como
resultado da modulação de proteínas evolvidas com apoptose, pois estimula o
10
aumento de fatores anti-apoptóticos e leva à diminuição dos pró-apoptóticos (Stein
et al., 2002, He et al., 2004; Kern et al., 2004; Belnoue et al., 2008). No entanto,
ainda não se sabe se a interação entre HSPG e APRIL é responsável pela ativação
de algum sinal intracelular. Sua interação com APRIL auxiliaria o acúmulo da
proteína na membrana facilitando, assim, a sinalização através dos outros
receptores (Kimberley et al., 2009).
As vias envolvidas com o receptor BCMA associam-se aos fatores TRAF1,
TRAF2 e TRAF3 resultando na ativação de NF-kB, Elk-1, JNK e p38 (Mukhopadhyay
et al., 1999; Hatzoglou et al., 2000; Marsters et al., 2000). Ao passo que o domínio
intracelular do receptor TACI interage com os fatores TRAF2, TRAF5 e TRAF6
ativando, da mesma maneira, NF-kB e JNK (Xia et al., 2000). Há, então, diminuição
dos níveis das proteínas pró-apoptóticas Bim, Bax e p53, e, paralelamente, aumento
da expressão de proteínas anti-apoptóticas Bcl-2, Bcl-xL, Mcl-1, XIAP, dentre outras,
como mostrado anteriormente na Figura 1.2 (He et al., 2004; Kimberley et al., 2008).
1.2.2. Efeitos de APRIL
APRIL e Tumorigênese
APRIL foi descrita com uma molécula capaz de modular a biologia tumoral,
induzindo aumento de proliferação e sobrevivência, tornando-se, assim, um novo
alvo de estudos para terapia contra o câncer. Neste sentido, foi visto que APRIL é
capaz de inibir a apoptose mediada por receptor em algumas linhagens de células
tumorais, como U373MG (astrocitoma humano) e LN-229 (glioma humano), quando
estas foram transfectadas para APRIL. Assim, a expressão de APRIL levou à
redução da morte induzida por CD95L e TRAIL em decorrência do aumento da
expressão da proteína anti-apoptótica XIAP (Roth et al., 2001).
APRIL foi encontrado em diversos tipos de tumores sólidos, como o
melanoma e o carcinoma de célula basal, sendo produzido, principalmente, por
neutrófilos infiltrantes. A interação com HSPG parece promover a formação de
domínios ricos em APRIL ao redor do tumor, privilegiando, assim, seu
desenvolvimento (Mhawech-Fauceglia et al., 2006). Estes arranjos foram
observados, também, em pacientes com Linfoma de células B Não-Hodgkin. Nestes,
os neutrófilos infiltrantes foram identificados como a fonte celular de APRIL que,
similarmente, pôde acumular-se nas células tumorais através da ligação com
proteoglicanas (Schwaller et al., 2007).
11
APRIL foi ainda relacionado com a promoção da Leucemia Linfocítica Crônica
(CLL). A CLL é uma leucemia de linfócitos maduros da subpopulação B-1, de
fenótipo CD5
+
CD19
+
CD23
-
IgM
+
. A principal característica desta patologia é a
acumulação gradual de linfócitos em decorrência da falha na regulação dos eventos
relacionados com a morte celular programada. Linfócitos B de pacientes com CLL,
assim como células mononucleares CD14
+
, que dão suporte às células tumorais
protegendo-as da apoptose, chamadas de nurse-like cells, expressam tanto o
receptor TACI, quanto o ligante APRIL (Kern et., 2004; Nishio et al., 2005). Estudos
com pacientes com CLL mostraram que as amostras de soro apresentaram uma
elevação da concentração de APRIL (Planelles et al., 2004, 2007). A estimulação
com APRIL e BAFF ativa a via clássica do NF-kB de modo a aumentar a
sobrevivência celular de linfócitos B-CLL, ao contrário do que foi observado nas
células B normais que utilizavam a via alternativa (Endo et al., 2007). Porém, o
tratamento com receptores solúveis ou antagonistas para APRIL, aumenta a
susceptibilidade à apoptose das células B leucêmicas (Kern et., 2004), revelando,
assim, que o efeito anti-apoptótico de APRIL na CLL ocorre por mecanismos
moleculares distintos daqueles envolvidos num contexto fisiológico, e, portanto,
representam possíveis alvos para intervenções clínicas.
Camundongos transgênicos para APRIL (APRIL-Tg) apresentam aumento na
incidência da Eritroleucemia, e, em conseqüência, diminuição da sobrevivência, em
decorrência de infecção por vírus MLV (Moloney murine leukemia virus). Esta
leucemia é uma doença aguda caracterizada pela proliferação excessiva de
progenitores da linhagem eritróide, e esplenomegalia combinada com queda no
hematócrito para percentuais menores que 35%. Neste modelo, foi encontrado
aumento em até quatro vezes do peso do baço, sugerindo uma expansão da
população de eritroblastos, pois, os animais APRIL-Tg apresentavam, também,
enriquecimento da população de células Ter-119
+
no órgão, antígeno de superfície
celular associado à linhagem eritróide presente desde os estágios mais precoces da
diferenciação (Hardenberg et al., 2008).
APRIL e Autoimunidade
Além de sua importância em processos tumorais, alguns trabalhos apontam
para o envolvimento de APRIL no estabelecimento e manutenção de doenças auto-
imunes, pois, foram encontrados níveis elevados desta proteína no soro de
pacientes com Artrite Reumatóide, Esclerose Múltipla, Lupus Eritematoso Sistêmico,
12
Miastenia Gravis e Síndrome de Sjörgren (Dillon et al., 2006). No entanto, ainda não
se sabe de qual maneira APRIL participa ou influencia a resposta imune nestas
patologias.
Em estudo com pacientes com Artrite Reumatóide, biópsias de tecido sinovial
revelaram aumento da expressão de APRIL em células dendríticas, e de seu
receptor TACI nos linfócitos T (Seyler et al., 2005). em modelo murino de Artrite
induzida por colágeno (CIA), o tratamento com TACI-Fc foi capaz de inibir a
progressão da doença, com redução na produção de anticorpos IgG1 e IgG2a anti-
colágeno acompanhada da melhora das alterações histológicas (Wang et al., 2001).
Porém, foi demonstrado, recentemente, que os camundongos deficientes para
APRIL quando submetidos ao protocolo de CIA apresentam redução da incidência
da doença, porém sem alterações na severidade, em decorrência da redução dos
níveis de IL-17, assim como de IgG2a (Xiao et al., 2008).
APRIL parece participar também na fisiopatologia do LES. No entanto, os
dados publicados até o momento são controversos. Koyama e colaboradores (2004)
encontraram aumento de APRIL no soro de pacientes, e esta elevação estava
correlacionada com os níveis de anti-dsDNA (Koyama et al., 2004). Porém, em
estudo recente, nosso grupo observou uma relação inversa entre os níveis séricos
de APRIL e o índice de atividade da doença, que inclui como parâmetro a produção
de anticorpos anti-dsDNA, mostrando que APRIL pode atuar de maneira protetora,
regulando a produção de auto-anticorpos (Morel et al., 2009). Estes resultados estão
de acordo com o que Stohl e colaboradores encontraram em estudo semelhante
(Stohl et al., 2004).
A Síndrome de Sjörgren é uma doença auto-imune que afeta,
predominantemente, tecidos exócrinos como as glândulas salivares e lacrimais.
Estas glândulas são invadidas por um infiltrado inflamatório composto por linfócitos T
e B, lulas dendríticas e macrófagos, formando centros germinativos ectópicos.
Assim como nas doenças antes mencionadas, os pacientes com SS apresentam
aumento da concentração plasmática de APRIL (Jonsson et al., 2005).
Tomados em conjunto, os dados acima resumidos sugerem que APRIL
participe de maneira importante da resposta imune em processos auto-imunes. No
entanto, os mecanismos envolvidos e o efeito no controle ou promoção da doença
ainda precisam ser desvendados.
13
APRIL e linfócitos
Paralelamente ao crescente número de trabalhos sobre o envolvimento de
APRIL em processos tumorais e doenças auto-imunes, acumulam-se dados na
literatura acerca de seus efeitos na biologia dos linfócitos, principalmente
relacionados com as células B (Mackay & Tangye, 2004). Vários estudos mostraram
a participação de APRIL na indução da proliferação, diferenciação e sobrevivência
de linfócitos B. Culturas primárias de esplenócitos murinos quando tratadas com
APRIL e anti-IgM apresentam maior incorporação de timidina [
3
H] (Yu et al., 2000). E
ainda, linfócitos B-1 de camundongos APRIL-Tg, que expressam a proteína em
excesso, acumulam-se a partir da cavidade peritoneal em decorrência do aumento
da sobrevivência celular (Planelles et al., 2004). Além disso, APRIL estimula a
divisão e diferenciação celular de plasmablastos para plasmócitos, pois
camundongos deficientes em APRIL (APRIL-KO) apresentam redução na
sobrevivência destas lulas, assim como na produção de anticorpos na medula
óssea (Belnoue et al., 2008).
APRIL é capaz, também, de controlar a produção de anticorpos in vitro e in
vivo. O tratamento de leucócitos de sangue periférico (PBMCs) humanos com a
proteína recombinante mostrou-se um potente estímulo para a produção de IgM
(Marsters et al., 2000). O mesmo foi observado com os camundongos APRIL-Tg, os
quais apresentam aumento dos níveis séricos de IgM basal e após estimulação com
antígeno T-dependente (Stein et al, 2002). E ainda, camundongos APRIL-KO
apresentaram diminuição de IgA pré-imune e após imunização intraperitoneal com
antígeno T-independente (Castigli et al., 2004), confirmando, assim, um efeito de
APRIL na modulação da secreção de anticorpos IgM, e na mudança de classe de
imunoglobulinas para IgA.
APRIL pode, ainda, favorecer a apresentação antigênica de linfócitos B (Dillon
et al., 2006). lulas B da linhagem A20, transfectadas para BCMA, receptor para
APRIL, ou esplenócitos previamente estimulados com IL-4 e IL-6 (interleucinas
capazes de induzir a expressão do receptor) aumentam a expressão das moléculas
envolvidas na apresentação antigênica como CD40, CD80 (B7-1), CD86 (B7-2) e
MHC de classe II após tratamento com APRIL. Estas células quando co-cultivadas
com linfócitos T com TCR transgênico para OVA, DO11.10, na presença do antígeno
específico são capazes de estimular a produção de IL-2 (Yang et al., 2005). Sendo
assim, APRIL é capaz de contribuir na apresentação antigênica de linfócitos B para
linfócitos T.
14
Como mencionado, poucos dados foram publicados a respeito da participação
de APRIL na biologia dos linfócitos T. No entanto, alguns trabalhos mostram que,
assim como observado nos linfócitos B, existe uma relação com estímulo para a
proliferação celular, pois, o tratamento de células T aumenta a incorporação de
timidina[
3
H], efeito sinérgico com anti-CD3 administrado em dose sub-ótima,
mostrando que APRIL pode atuar como um co-estímulo para proliferação de
linfócitos T (Yu et al., 2000). APRIL promove ainda aumento da sobrevivência ex
vivo de lulas CD4
+
e CD8
+
de camundongos APRIL-Tg em decorrência do
aumento da expressão da proteína anti-apoptótica Bcl-2 (Stein et al., 2002).
1.2.3. Camundongos Transgênicos para APRIL
A produção e utilização dos camundongos transgênicos para APRIL foi
fundamental para maior compreensão sobre os efeitos da proteína no sistema
imune, tanto no contexto fisiológico como patológico. Para isto, foi construído um
vetor contendo a região de cDNA humano codificante para APRIL sob controle do
promotor distal para lck (Wildin et al., 1995), de modo que os camundongos
transgênicos possuem células T maduras produtoras de APRIL. Os animais
transgênicos, ao contrário dos controles, possuem níveis detectáveis da proteína no
soro, porém, não apresentam alterações na expressão de seus receptores, TACI e
BCMA, nem do outro ligante, BAFF (Stein et al., 2002).
Apesar de APRIL estar relacionado com a acumulação de linfócitos B
esplênicos (Yu et al., 2000), não foram encontradas diferenças na celularidade, no
peso, nem na análise histopatológica do baço dos animais APRIL-Tg jovens (6-12
semanas de idade). No entanto, a avaliação das populações linfocitárias dos órgãos
linfóides secundários, como baço, placas de Peyer, linfonodos mesentéricos e
periféricos, revelou um aumento de linfócitos TCD4
+
e TCD8
+
CD62L
-
como, também,
no percentual de células B220
+
, acompanhada de proporcional redução de células
TCD4
+
e CD8
+
nos linfonodos periféricos. No entanto, quando linfócitos purificados
foram estimulados com anti-CD3 e anti-CD28, as células dos animais APRIL-Tg
apresentaram maior taxa de proliferação, estando este aumento relacionado com
produção de IL-2 (Stein et al., 2002).
Além de estimular a divisão celular de linfócitos T, a expressão de APRIL em
excesso modula a sobrevivência destas células ex vivo, pois, após três dias de
cultivo, com anti-CD3 e anti-CD28, as células dos APRIL-Tg apresentam redução na
captação de iodeto de propídio (PI), devido ao aumento da expressão da proteína
15
anti-apoptótica Bcl-2. No entanto, o efeito observado na divisão e na sobrevivência
de linfócitos T não está relacionado, somente, com a população CD62L
-
, pois as
células CD62L
+
dos APRIL-Tg, linfócitos virgens, também apresentam as mesmas
alterações, mostrando que APRIL age diretamente nos linfócitos T
independentemente do seu estágio de ativação (Stein et al., 2002).
A respeito da biologia dos linfócitos B, os APRIL-Tg possuem
desenvolvimento normal sem perturbações nos percentuais dos diferentes estágios
de maturação. A produção de anticorpos IgG também é comparável entre
transgênicos e controles, ao passo que a produção de IgM, antes e após desafio
com antígenos T-dependente e T-independente (vírus MVA e NP-Ficoll
respectivamente) é maior nos APRIL-Tg, mostrando que APRIL promove os dois
tipos de resposta humoral. O aumento de IgM pré-imune refletiu em uma alteração
da subpopulação B-1. Porém, não foram encontradas em animais desta idade,
variações no percentual e número absoluto destas células no peritônio (Stein et al.,
2002).
Ao contrário do observado nos APRIL-Tg jovens, camundongos com idade
avançada, 9-15 meses, apresentam alterações no sistema imune. A avaliação
macroscópica, e posterior contagem de células, dos órgãos linfóides secundários
revelou hiperplasia em linfonodos mesentéricos (mLN), placas de Peyer (PP) e baço
(Figura 1.4A). Estes órgãos apresentaram, também, alterações histológicas com
perda da arquitetura tecidual normal e formação de massas tumorais. Não se
distingue as áreas T e B dos mLN, assim como, a polpa branca e vermelha no baço.
Além disso, invasão de células tumorais na mucosa das PP, na cápsula do baço
e nas áreas subcapsulares dos linfonodos (Figura 1.4B) (Planelles et al., 2004).
A análise fenotípica por citofluorimetria mostrou aumento, em números
absolutos, de linfócitos B e T. infiltração e enriquecimento de linfócitos B-1 no
baço e linfonodos mesentéricos, e, também, em alguns órgãos não-linfóides, como
os rins (Figura 1.4C). A avaliação da população de células B-1 da cavidade peritonial
dos APRIL-Tg com hiperplasia revelou acúmulo gradual do número destas células
com o passar da idade. Estas células apresentam aumento da sobrevivência celular,
in vitro e in vivo, sugerindo que a acumulação observada deve-se ao efeito anti-
apoptótico de APRIL (Planelles et al., 2004). Cabe aqui salientar que os estudos
acima relatados se restringiram aos órgãos linfóides secundários e sítios de
infiltração tumoral, sem abranger órgãos linfóides primários, particularmente o timo.
16
Figura 1.4. Alterações histológicas dos órgãos linfóides e não-linfóides em
camundongos transgênicos para APRIL. A, camundongos transgênicos para
APRIL (APRIL-Tg) apresentam hiperplasia de linfonodo mesentérico (mLN) e placas
de Peyer (PP), fotos da esquerda, acompanhada de perda da arquitetura tecidual
normal com o passar da idade, fotos da direita. B, hiperplasia está associada com
acúmulo de células B220
+
. C, infiltração de células tumorais com fenótipo B-1
(B220
+
CD5
+
), também, em órgão não-linfóide (rim). Aumento de 100x (Modificado de
Planelles et al., 2004).
17
1.3. Timo
O timo é um órgão linfóide primário situado no mediastino ântero-superior no
qual ocorre a maturação dos linfócitos T. A capacidade de gerar linfócitos maduros
por toda a vida do hospedeiro, mesmo sem possuir células auto-renováveis, é
garantida pela entrada contínua de precursores linfóides gerados na medula óssea
(Takahama, 2006). O timo é constituído de uma rede epitelial que tem origem
embrionária da camada endodérmica derivada da terceira bolsa faríngea, formando
um broto epitelial que é englobado pelo mesênquima originado da crista neural. Ao
longo de seu desenvolvimento, o epitélio tímico diferencia-se num microambiente
complexo e diverso que atrai os precursores linfóides da medula óssea, gerando,
assim, nichos imprescindíveis para o desenvolvimento dos linfócitos T (Petrie &
Zúñiga-Pflucker, 2007; Ciofani & Zúñiga-Pflucker, 2007).
O timo é um órgão bilobado, sendo cada lobo dividido em numerosos lóbulos
parcialmente separados por septos fibrosos. Cada lóbulo consiste de duas regiões
histológicas bem definidas, o córtex e a medula. A região cortical, mais externa, que
abriga os linfócitos T nos estágios mais precoces de maturação, sendo intensamente
corada pelo corante Hematoxilina por possuir uma grande densidade linfocitária.
na medula, região mais interna do lóbulo, as células T encontram-se nos estágios
finais da maturação. Porém, estima-se que somente 5% dos linfócitos gerados no
timo completam todo o processo de maturação e são exportados para os órgãos
linfóides periféricos. Tendo um número relativamente menor de linfócitos (quando
comparada ao rtex), esta região é menos corada pela Hematoxilina como
podemos observar na figura 1.5A. (Crivellato et al., 2004).
1.3.1. Microambiente tímico
O microambiente tímico é complexo, compondo-se de diferentes tipos
celulares imersos na trama composta por moléculas de matriz extracelular (ECM)
que concentra, também, diferentes citocinas e quimiocinas. É um tecido densamente
vascularizado e formado, principalmente, por lulas epiteliais tímicas (TEC)
corticais e medulares, além de macrófagos, células dendríticas e fibroblastos (Figura
1.5B). Este arcabouço celular abriga, estimula e direciona os timócitos,
diferencialmente distribuídos pelas regiões do lóbulo tímico (Savino et al., 2002).
As TEC organizam-se numa rede interconectada de modo a percorrer todo
órgão. No entanto, este epitélio é heterogêneo, pois, as TEC das regiões cortical e
medular apresentam características morfológicas e fenotípicas distintas (Meireles de
18
Souza et al., 1993). As TEC corticais possuem prolongamentos citoplasmáticos
delgados que envolvem os timócitos, ao passo que as TEC medulares apresentam
corpos celulares mais volumosos. As TEC podem ser classificadas de acordo com a
expressão diferenciada de filamentos intermediários de citoqueratinas K8 e K5, e
dos marcadores MTS44 e MTS10 (Figura 1.6D-E). Em camundongos, o córtex
possui, em maioria, TEC com fenótipo K8
+
K5
-
MTS44
+
, ao passo que na medula
apresentam-se K8
-
K5
+
MTS10
+
, e duplo-positivas, K8
+
K5
+
, na junção córtico-medular
(Meireles de Souza et al., 1993; Klug et al., 1998; Blackburn et al., 2002).
Na região cortical, encontramos complexos multicelulares constituídos por
TEC e timócitos chamados de “células nurse tímicas” (Thymic nurse cells- TNC)
(Figura 1.5B). Cada estrutura linfo-epitelial é formada por uma TEC que pode abrigar
até 200 timócitos nos seus espaços intermembranas (Villa-Verde et al., 1995). As
TNC fornecem um microambiente favorável para sobrevivência, proliferação e
diferenciação intratímica dos linfócitos T, pois são capazes de secretar hormônios
tímicos, como a timulina, e moléculas de matriz extracelular, além de expressarem
na superfície celular moléculas que participam da maturação dos timócitos como
MHC de classe I e classe II (Wekerle & Ketelsen, 1980; Villa-Verde et al., 1995).
Na região medular, em humanos, podemos encontrar TEC organizadas em
pequenas estruturas concêntricas chamadas de Corpúsculo de Hassall. A
participação dos corpúsculos na fisiologia tímica ainda é duvidosa. No entanto,
algumas evidências sugerem a participação destas estruturas na remoção de células
mortas e, também, na geração intratímica, em especial, de células T reguladoras ao
influenciarem a atividade das células dendríticas (Watanabe et al., 2005).
As interações entre o epitélio tímico e timócitos são fundamentais para a
diferenciação dos linfócitos T. As TEC influenciam de modo pleiotrópico este
processo através da interação direta com os timócitos mediada por moléculas de
adesão célula-célula e moléculas do MHC de classe I e II. E ainda, através da
secreção de citocinas que, dentre outros efeitos, podem aumentar a sobrevivência e
estimular a proliferação, assim como quimiocinas, moléculas de matriz extracelular e
MMPs de matriz, que direcionam os timócitos para as diferentes regiões do
microambiente de acordo com o estágio de maturação em que se encontram ao
longo das diferentes etapas do processo de diferenciação (Figura 1.5C) (Savino et
al., 2002).
19
Figura 1.5. Microambiente tímico. A, nesta foto histológica podemos observar as
duas regiões anatômicas do timo: a medula, região mais central, é menos corada
pela Hematoxilina-Eosina, ao passo que o córtex, região mais externa, é mais
intensamente corada. Aumento de 400x (Adaptado de Pearse, 2006). B,
componentes celulares do microambiente tímico. C, os timócitos podem ter sua
atividade modulada ao interagirem de diversas maneiras com as TEC durante o
processo maturação: (1) interação quimiocina-receptor, (2), interação ECM-receptor,
(3) interação quimiocina-receptor, sendo a quimiocina depositada pela ECM e (4)
ação das metaloproteinases de matriz que podem interromper a interação com a
ECM e quimiocinas (Modificado de Savino et al., 2002).
20
Figura 1.6. Padrão de expressão de moléculas de matriz extracelular (ECM) e
citoqueratinas no timo. Através da marcação para pan-citoqueratina, podemos
observar no painel A a distribuição do epitélio tímico por todo órgão. Os painéis B e
C mostram marcação com anti-fibronectina, e anti-laminina, respectivamente. A
trama de ECM é mais intensa na região medular (M) do que no rtex (C). Aumento
de 400x. As TEC corticais e medulares podem ser identificadas por diferentes
moléculas. Em D, mostramos as TEC corticais K8
+
(vermelho) na trama de laminina
(verde), escala de 100µm. Ao passo que em E, mostramos as TEC medulares
MST10
+
(vermelho), e TEC corticais K8
+
(azul), laminina (verde). Fotos foram
gentilmente cedidas por Flávia Calmon Hamaty (A, B e C) e Marco Augusto
Stimamiglio (D e E).
21
Como mencionado, as TEC produzem diferentes moléculas de ECM, uma
rede acelular formada de proteínas e polissacarídeos que estão associadas às
superfícies celulares, regulando o desenvolvimento, migração, proliferação,
sobrevivência, forma e atividade celular (Alberts et al., 2004). No timo, as principais
moléculas encontradas são os colágenos do tipo I e IV, fibronectina e laminina
(Berrih et al., 1985; Lannes-Vieira et al, 1991; Meireles de Souza et al, 1993).
A fibronectina é uma proteína heterodimérica que pode ser produzia por
células epiteliais e fibroblastos. A laminina é um trímero que apresenta conformação
cruciforme fundamental para a ligação com outras moléculas (Goodman, 1992).
Estas proteínas desempenham papel na maturação intratímica dos linfócitos, e
dispõem-se de maneira característica nas regiões cortical e medular, sendo
altamente conservadas nos mamíferos (Savino et al., 2004).
A cápsula tímica é formada por tecido conjuntivo rico em fibras de colágeno
tipo I, assim como no interior dos septos interlobulares, onde podemos encontrar,
também, as fibras de fibronectina e laminina, enquanto a membrana basal constitui-
se, basicamente, de colágeno tipo IV (Berrih et al., 1985). Nas junções córtico-
medulares, três tipos de colágenos (I, III e IV) estão presentes, porém, somente o
colágeno do tipo IV é expresso nos espaços perivasculares. Além disso, os
filamentos de fibronectina e laminina formam uma rede que pode ser encontrada em
todo órgão, tornando-se mais densa na região medular (Figura 1.6). Este padrão de
expressão pode, ainda, intensificar-se com o passar da idade (Berrih et al., 1985;
Lannes-Vieira et al., 1991), e em processos infecciosos, como na infecção aguda
pelo Trypanosoma cruzi (Cotta-de-Almeida et al., 2003; Savino et al., 2006).
Grande parte dos receptores para proteínas de ECM pertence à família das
integrinas. Estas moléculas foram assim denominadas por integrarem os
compartimentos intra e extracelular ao se ligarem às moléculas presentes no
microambiente, como as outras células ou a proteínas da ECM, e aos componentes
do citoesqueleto. As integrinas são glicoproteínas transmembranares
heterodiméricas compostas de duas subunidades (
α e β). Até o momento, foram
descritas 18 subunidades α, e 8 subunidades β, formando, assim, 24 diferentes
moléculas (Kinashi, 2007). Os timócitos expressam, principalmente, as integrinas
denominadas VLAs (very late antigens) da família β1, como por exemplo, os
receptores VLA-4 (α4β1 ou CD49d/CD29) e VLA-5 (α5β1 ou CD49e/CD29) para
fibronectina, e o receptor VLA-6 (
α6β1 ou CD49f/CD29) para laminina. No entanto, a
distribuição destas moléculas difere segundo o estágio de diferenciação, refletindo
22
uma influência diferencial dos ligantes e receptores em cada etapa da maturação
(Figura 1.7) (Savino et al., 2000, 2004).
Células não-epiteliais também podem ser encontradas no microambiente
tímico. Dentre elas, vários tipos de lulas fagocíticas e apresentadoras de
antígenos distribuem-se pelas regiões do órgão (Figura 1.5B). Os macrófagos
residentes do córtex tímico apresentam núcleos degradados caspase-3
+
no
citoplasma, indicando que estas células fagocitem timócitos apoptóticos (Paessens
et al., 2008; Wakimoto et al., 2008).
As células dendríticas (DC) localizam-se na junção córtico-medular e na
região medular, dispondo-se ao longo dos vasos sangüíneos. A população de DCs
tímicas é heterogênea, e encontramos DCs plasmacitóides, grandes produtoras de
IFNα, e DCs convencionais que apresentam uma maior capacidade de apresentar
antígenos para os linfócitos T através das moléculas de MHC de classe I e II
(Proietto et al., 2009). As DCs convencionais estão envolvidas com a deleção de
clones auto-reativos durante a seleção negativa dos timócitos, bem como com a
geração de células T reguladoras (Treg) (Proietto et al., 2009).
Encontramos, também, as PTR (phagocytic cells of thymic reticulum), lulas
que apresentam fenótipo similar aos macrófagos, expressam MHC de classe I e II,
F4/80 e Mac-1. Estas células podem ser isoladas a partir de culturas primárias de
timo murino. Assim como as TEC, as PTR produzem moléculas de matriz
extracelular como colágeno-IV, fibronectina e laminina, expressam os receptores
correspondentes, VLA-4, VLA-5 e VLA-6, respectivamente, e ainda interagem com
timócitos através de ligantes e receptores de ECM (Ayres-Martins et al., 2004).
O timo possui, além dos tipos celulares citados, fibroblastos que estão
localizados nas regiões ricas em tecido conjuntivo, como o septo e a psula. Estas
células também são capazes de produzir diferentes moléculas de ECM como
fibronectina, laminina, colágenos tipo I e tipo IV (Savino et al., 2000).
Apesar de o timo ter sido caracterizado como o principal sítio de diferenciação
de linfócitos T, ele também sedia maturação de células B a partir de progenitores
vindos da medula óssea (Mori et al., 1997). As células B tímicas estão localizadas,
predominantemente, na junção córtico-medular e representam, aproximadamente,
1% da suspensão celular do timo (Miyama-Inaba et al., 1988). Estas células
apresentam características fenotípicas da subpopulação de linfócitos B-1 e atividade
de células apresentadoras de antígenos participando, assim, da seleção intratímica
(Inaba et al., 1991). Além disso, as células B tímicas podem deixar o órgão,
23
atingindo os órgãos linfóides periféricos (Akashi et al., 2000).
O acúmulo de linfócitos B no timo está relacionado com o envelhecimento e
algumas patologias auto-imunes, como a Miastenia Gravis (MG). Em cortes
histológicos de adultos e, mais intensamente, em pacientes com MG, podemos
encontrar a expansão desta população, com sua redistribuição para todas as regiões
do órgão (Flores et al., 2001). Além disso, podem ser encontrados arranjos
semelhantes a centros germinativos no timo. Os linfócitos B tímicos na MG
apresentam aumento da sobrevivência celular, e são responsáveis pela secreção de
auto-anticorpos, anti-receptor de Acetilcolina (AChR) que iniciam o processo auto-
imune na junção neuro-muscular (Hill et al., 2008).
Este aumento da população de células B-1 no timo também foi encontrado em
modelo murino de Lupus Eritematoso Sistêmico. Os camundongos (NZBxNZW)F1
(BWF1) desenvolvem, com passar da idade, uma doença auto-imune semelhante ao
LES em humanos (Ishikawa et al, 2001; Ito et al., 2004). Após transferência
intravenosa de uma mistura de células B-1 e B-2 para camundongos BWF1, as
células B-1 migram, preferencialmente, para o timo. O recrutamento observado
deve-se, em parte, ao aumento da expressão da quimiocina CXCL13, um importante
fator quimioatraente para linfócitos B (Ito et al., 2004). Assim, num contexto de
autoimunidade ou senescência do sistema imune, o microambiente gera sinais que
aumentam a sobrevida das células B tímicas, ou, estimulam a migração de linfócitos
B para o timo.
A respeito da influência de APRIL na biologia das células B-1, se sabe que
esta citocina promove aumento da sobrevivência de lulas tumorais de pacientes
com CLL (Haiat et al., 2006). E ainda, conforme mencionado anteriormente,
camundongos APRIL-Tg apresentam uma expansão desta subpopulação a partir da
cavidade peritoneal que invade outros órgãos linfóides (Planelles et al., 2004).
Nesse sentido, resultados preliminares de nosso grupo mostram um acúmulo de
células B220
+
, também, no timo de camundongos APRIL-Tg a partir dos 9 meses de
idade. No entanto, o efeito de APRIL na fisiologia tímica permanece, ainda,
desconhecido.
1.3.2. Maturação e migração intratímica de linfócitos T
No parênquima tímico ocorrem os eventos celulares responsáveis pela
diferenciação dos linfócitos T. Este processo é dinâmico, porém, organizado e
compartimentalizado em diferentes regiões do microambiente que, devido à sua
24
composição específica, fornece sinais essenciais para o direcionamento dos clones
durante seu desenvolvimento. Os precursores de linfócitos T entram no timo, através
dos vasos sangüíneos presentes na junção córtico-medular, e migram, inicialmente,
para a região cortical e, depois, encaminham-se para a medula, onde completam o
processo de maturação (Figura 1.7) (Petrie & Zúñiga-Pflucker, 2007). Vale ressaltar
que a migração direcionada necessita de substrato para adesão, fornecido pelas
moléculas de ECM, e, também, de sinais polarizantes dados pelas quimiocinas.
Estes sinais são fornecidos pelas lulas do microambiente, estabelecendo uma
comunicação (crosstalk) com os timócitos através da interação com os receptores
específicos (Savino et al., 2002, 2004). Assim, os timócitos alternam a expressão de
diferentes moléculas de adesão e receptores de quimiocinas durante seu
desenvolvimento, conforme é ilustrado na figura 1.7B.
Os timócitos podem ser identificados de acordo com a expressão de
moléculas de superfície celular que apresentam ao longo das diferentes etapas do
desenvolvimento. As células nos estágios mais imaturos, presentes na junção
córtico-medular e na área cortical, ainda não expressam os co-reptores CD4 e CD8
sendo, assim, denominadas de células duplo-negativas (DN). Esta população pode,
ainda, ser subdividida em quatro sub-etapas de desenvolvimento, DN1, DN2, DN3 e
DN4, baseadas, principalmente, na expressão de duas moléculas de superfície
celular: o CD25 (IL-2R
α), cadeia alfa do receptor para IL-2, e o CD44 (Pgp-1),
receptor para ácido hialurônico e fibronectina (Figura 1.7A). No entanto, outras
moléculas também influenciam a biologia das lulas nestes estágios, como o
CD117, ou c-kit, receptor para fator de célula tronco (SFC) (Godfrey et al., 1993).
As TEC produzem diferentes citocinas e quimiocinas que direcionam a
migração destas subpopulações. Dentre elas, a IL-7 é fundamental para o
desenvolvimento e sobrevivência dos timócitos. Na sua ausência há diminuição
severa da celularidade no timo com bloqueio na diferenciação de linfócitos e,
conseqüentemente, linfopenia no sangue e nos órgãos linfóides periféricos (von
Freeden-Jeffry et al., 1995). A expressão de IL-7 difere na intensidade e localização
ao longo da ontogenia, a freqüência de células IL-7
hi
diminui com o envelhecimento.
Podemos encontrá-las no primórdio tímico, mas, à medida que o órgão expande,
observamos uma redução da produção desta citocina (Zamisch et al., 2005). No timo
adulto, as TEC produtoras de IL-7 são encontradas na junção córtico-medular, sítio
colonizado por timócitos nos estágios mais precoces do desenvolvimento (Alves et
al., 2009).
25
Figura 1.7. Maturação e migração intratímica: influência das moléculas de
matriz extracelular (ECM), quimiocinas e seus receptores. O painel A mostra
esquemáticamente a distribuição dos estágios de maturação no timo: os precursores
linfóides (DN) entram no órgão através dos vasos sanguíneos situados na junção
córtico-medular de onde migram para a região cortical mais externa. Os timócitos
passam, então, para o estágio de duplo-positivo (DP), dirigindo-se para a região
medular. Na medula encontramos os linfócitos nos estágios mais avançados de
maturação, com fenótipo simples positivo CD4 ou CD8 (Modificado de Crompton et
al., 2007). O painel B, mostra à esquerda que o processo de diferenciação de
timócitos se no contexto da rede do microambiente tímico (retícula cinza) e de
proteínas solúveis, marcadas como estrelas vermelhas. No lado direito deste painel
podemos perfis citofluorimétricos que representam a expressão diferencial dos
receptores de ECM (VLA-4, VLA-5 e VLA-6) e quimiocinas (CXCR4) nos diversos
estágios de diferenciação (Modificado de Savino et al., 2004).
26
A IL-7 induz expressão das enzimas responsáveis pela recombinação dos
genes V(D)J, RAG1 e RAG2, participando, assim, do rearranjo do TCR (Muegge et
al., 1993).
Os progenitores linfóides DN1 (CD25
-
CD44
+
c-kit
+
) que chegam através dos
vasos da junção córtico-medular no timo, proliferam expandindo o número de
progenitores, e o dirigidos para a região cortical adjacente onde se apresentam
com o fenótipo DN2 (CD25
+
CD44
+
c-kit
+
) (Petrie & Zúñica-Pflucker, 2007). O
recrutamento de precursores para a região cortical é altamente dependente da
sinalização entre a quimiocina CXCL12 e seu receptor CXCR4. Os timócitos duplo-
negativos expressam CXCR4, e seu ligante pode ser produzido pelas TEC corticais.
Em ensaios in vitro, os precursores aumentam a atividade migratória na presença de
CXCL12, ao passo que a ausência de seu receptor impede a entrada dos
precursores no córtex, acumulando-os ainda no estágio DN1 na junção córtico-
medular (Plotkin et al., 2003).
Nestes primeiros estágios de maturação, os precursores linfóides
comprometem-se com a linhagem T. Em linhas gerais, durante o processo de
maturação, os linfócitos T passam a expressar o receptor de antígeno (TCR), assim
como as moléculas acessórias CD4 e CD8. O TCR é formado por duas cadeias, αβ
ou γδ, no entanto, a maioria dos clones gerados no timo apresenta moléculas de
TCRαβ. Estas moléculas são produzidas através do rearranjo dos segmentos
gênicos V, D e J. Diferentes segmentos podem ser direcionados para compor o
receptor, gerando, assim, uma grande variedade de repertório. Os linfócitos T
imaturos que apresentarem rearranjos produtivos, originando TCRs capazes de
interagir com moléculas de MHC apresentadas por células do microambiente,
porém, sem deflagrar uma resposta auto-tóxica estão aptos para deixar o órgão e
colonizar a periferia. Por outro lado, os clones que apresentarem rearranjos
improdutivos, ou que não interagirem com moléculas de MHC próprio com avidez
moderada morrerão por apoptose (Takahama, 2006).
As TEC participam deste processo ao estimularem a sinalização através dos
receptores Notch que o expressos pelos timócitos desde os estágios mais
precoces, ao passo que as TEC expressam os ligantes Jagged1, Jagged2, Delta-
like1 e Delta-like4 (Harman et al., 2003). Sendo assim, quando a interação com
receptor para Notch é bloqueada, ocorrem falhas no desenvolvimento dos linfócitos
T, inviabilizando o início do rearranjo dos segmentos gênicos para produção do
27
receptor de antígeno, evento que determina total comprometimento com a linhagem
T (Schmitt et al., 2004).
No estágio subseqüente de maturação DN3 (CD25
+
CD44
-
c-kit
low
), os linfócitos
já estão comprometidos com a linhagem T e expressam pré-TCR associado à
molécula de CD3. No entanto, aquelas células que apresentam falhas no rearranjo
morrem nesta fase do desenvolvimento (Saint-Ruf et al., 1994). Existe uma última
subetapa de diferenciação no estágio DN, na qual os timócitos duplo-negativos
perdem a expressão do CD25 e passam a apresentar o fenótipo DN4 (CD25
-
CD44
-
).
Estas células encontram-se, ainda, na porção mais externa do córtex, na área sub-
capsular, assim, a migração para a região medular coincide com a transição do
estágio de duplo-negativo para duplo-positivo (DP), seguindo o estímulo dado pelo
acúmulo de moléculas de matriz extracelular e quimiocinas nesta região, conforme
ilustrado na figura 1.7 (Savino et al., 2004).
Os timócitos DP são assim chamados por expressarem os co-receptores CD4
e CD8 simultaneamente. Estas células, que correspondem à cerca de 80% dos
timócitos totais, podem ser encontradas próximas das junções córtico-medulares, e
migram em direção a região medular onde darão origem às células maduras simples
positivas CD4
+
CD8
-
(CD4SP) ou CD4
-
CD8
+
(CD8SP) (Petrie&Zúñia-Pflucker, 2006).
Desta maneira, o microambiente que sinaliza para a entrada de DN no córtex é o
mesmo que influencia a saída de DP em direção a medula. No entanto, estas duas
subpopulações respondem de maneira diferente aos mesmos estímulos, pois
apresentam expressão diferenciada de receptores específicos para os sinais
liberados pelo microambiente tímico (Figura 1.7B).
A IL-7 é fundamental, também, para a manutenção da subpopulação de
timócitos SP. Esta citocina é produzida pelas TEC medulares, e a expressão de seu
receptor, IL-7R, está aumentada nas células CD4
+
CD8
-
e CD4
-
CD8
+
, estimulando a
expansão dos clones selecionados (Hare et al., 2000; Zamisch et al., 2005). Além
desta molécula, as quimiocinas CCL19 e CCL21 participam da transição para as
etapas finais de diferenciação, guiando os clones selecionados positivamente,
CD4SP ou CD8SP, para a medula. A ausência destes ligantes ou do receptor CCR7,
leva ao bloqueio da entrada de timócitos na medula, acumulando-os na região
cortical, o quê explica o defeito na exportação de linfócitos T encontrado nos animais
deficientes em CCR7 (Ueno et al., 2004).
Para completar o processo de maturação, os timócitos devem passar pelos
eventos de seleção intratímica. Na seleção positiva, ainda no córtex, os TCR
28
formados são testados quanto à restrição ao MHC próprio. De maneira geral, as
células que reconhecem antígenos apresentados por MHC de classe I tornam-se
CD8SP, ao passo que aquelas que interagem com MHC de classe II diferenciam-se
em CD4SP. Em ambos os casos, a avidez da interação TCR/MHC-peptídeo é
moderada. Na seleção negativa, os linfócitos devem ser capazes de interagir com
complexo MHC:peptídeo, porém, com avidez maior, sem deflagrar um sinal de
morte, que ocorre freqüentemente quando uma resposta aos auto-antígenos
apresentados. Esta distinção entre próprio e não-próprio envolve a atividade das
TEC, principalmente as medulares, que expressam uma diversidade de antígenos
específicos de tecidos (tissue-specific antigens, TSA) sob controle do fator de
transcrição AIRE (auto-imune regulator) (Kyewski & Derbinski, 2004). Trabalho com
camundongos AIRE
-/-
mostraram que estes animais desenvolvem autoimunidade
órgão-específica em diversos tecidos cujos antígenos perdem sua representação
tímica. Assim, o timo sedia os eventos responsáveis pela indução de tolerância
central, prevenindo a saída de células auto-reativas para a periferia, e,
conseqüentemente, o aparecimento de doenças auto-imunes (DeVoss et al., 2006).
As células T que passam por todos estes estágios estão aptas a deixar o
timo. Ainda não são conhecidos todos os mecanismos envolvidos na saída dos
clones para a periferia, no entanto, foi observado que os linfócitos maduros prestes a
emigrar apresentam algumas mudanças no fenótipo que proporcionam esta
migração. Além da modulação da expressão de CCR7 como mencionado
anteriormente, há, também, aumento da expressão do receptor de esfingosina-1-
fosfato, S1P
1
, um lipídio abundante no sangue, e da molécula de adesão CD62L
(McCaughtry et al., 2007). Assim, os linfócitos maduros são atraídos para os vasos,
podendo, então, ser exportados para os órgãos linfóides periféricos.
É importante ressaltar que todos os estímulos citados, atuam conjuntamente
na migração dos timócitos, ou seja, trata-se de um processo multivetorial resultante
da atuação de diversas interações (vetores), tais como as interações mediadas por
moléculas de matriz extracelular, quimiocinas e citocinas (Savino, 2007; Mendes-da-
Cruz et al, 2008). Neste sentido, APRIL poderia ser mais um fator capaz de modular
os eventos relacionados à migração de timócitos.
29
1.3.3. APRIL e timo
Trabalhos recentes mostraram que, dentre os órgãos linfóides e não-linfóides
de diferentes espécies animais analisadas (cão, coelho e porco), o timo apresenta
níveis de RNAm para APRIL bastante altos quando comparados a vários outros
órgãos (Guan et al., 2007; Shui et al., 2008; Wang et al., 2009). Ainda através da
análise de RNAm, foi identificada a expressão do receptor TACI em amostras de
timo humano (von Bülow & Bram, 1997). Deste modo, seria possível que a
sinalização através da ligação com APRIL influenciasse a fisiologia tímica.
No entanto, não existem relatos da expressão da proteína em tecido mico
humano e murino, sobretudo dentro de um contexto fisiológico. Até o momento, um
único trabalho detectou a proteína APRIL em macrófagos no timo de pacientes com
MG (Hahne et al., 1998; Thangarajh et al., 2006). Sendo assim, ainda não se
conhecem os efeitos de APRIL neste órgão. Então, dando continuidade à
investigação da participação de APRIL na atividade dos linfócitos (Stein et al., 2002;
Planelles et al., 2004), nosso grupo propôs-se a estudar o efeito de APRIL na
atividade de timócitos em diferenciação, em especial nos eventos de migração
celular.
30
2. OBJETIVOS
Sabemos que o timo é um órgão linfóide central, responsável pela geração e
seleção de linfócitos T e, portanto, importante sítio para indução de tolerância.
Tendo em vista, que o aumento da expressão de APRIL está relacionado com
diversas doenças auto-imunes, torna-se necessário investigar possíveis alterações
da fisiologia tímica frente à proteína APRIL no que tange seus efeitos na migração
de timócitos, processo fundamental para a diferenciação dos linfócitos T.
Nesse contexto, nosso objetivo geral foi avaliar o efeito de APRIL na migração
dos timócitos. E, de forma mais específica:
Analisar o efeito de APRIL na sobrevivência e proliferação de timócitos;
Verificar o efeito de APRIL na adesão de timócitos às células epiteliais
tímicas;
Avaliar o efeito de APRIL na migração de timócitos.
31
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Reagentes
Utilizamos os seguintes reagentes: soro bovino fetal (Cultilab, Campinas,
BRA); formaldeído (VETEC, Campinas,); APRIL e CXCL12 recombinantes
(Peprotech, Princeton, EUA); APRIL-flag e BAFF-flag humanos (Invitrogen,
California, EUA); fibronectina e laminina (Sigma-Aldrich, St. Louis, EUA). Os demais
reagentes: salina tamponada com fosfato (PBS), meio RPMI 1640, piruvato de sódio,
albumina sérica bovina (BSA), heparina, Hematoxilina, Eosina-Fuxina, e anti-flag
Flag BioM2 foram obtidos juntos à Sigma-Aldrich. a estreptavidina conjugada à
peroxidase foi comprada da Becton Dickinson (Franklin Lakes, EUA).
Quanto aos anticorpos monoclonais (mAb) utilizados na fenotipagem,
obtivemos: anti-B220 (clone RA3-B2) PercP, anti-CD4 PercP (clone RM4-5), anti-
CD8 APC (clone 53-6.7), anti-CD5 FITC (557487), anti-CD19 FITC (553785), anti-
CD49d PE (clone R1-2), anti-CD49e PE (557447), anti-CD49f PE (clone 33775X),
todos da Becton Dickinson (Franklin Lakes, EUA); anti-TACI PE (clone 166010) da
R&D Systems (Minneapolis, EUA). Todos os anticorpos estão listados na tabela 3.1.
Tabela 3.1. Anticorpos monoclonais utilizados na fenotipagem.
Anticorpos monoclonais utilizados na fenotipagem
Marcador
Anticorpo
Molécula alvo
Fluoro
cromo
Linfócitos B
Anti-CD45R
Tirosina fosfatase (B220) PercP
Anti-CD5 Regulador negativo do BCR FITC
Anti-CD19 Co-receptor do BCR FITC
Sub-
populações de
linfócitos T
Anti-CD4
Co-receptor do TCR para ligação
ao MHC de classe II
PercP
Anti-CD8
Co-receptor do TCR para ligação
ao MHC de classe I
APC
Molécula de
ativação
Anti-CD25 Cadeia alfa do receptor para IL-2 FITC
Molécula de
adesão
Anti-CD49d
Subunidade α da integrina α4β1
(VLA-4)
PE
Anti-CD49e
Subunidade α da integrina α5β1
(VLA-5)
PE
Anti-CD49f
Subunidade α da integrina α6β1
(VLA-6)
PE
Receptor para
APRIL
Anti-TACI Receptor para APRIL PE
32
3.2. Animais
Foram utilizados camundongos machos das linhagens BALB/c e C57BL/6
com 5-6 semanas de idade, obtidos no biotério central da Fundação Oswaldo - RJ
(CECAL) e mantidos no biotério experimental do Pavilhão Leônidas Deane em
condições SPF. A manipulação dos animais obedeceu às normas de biossegurança
estabelecidas pela Comissão de Ética no Uso de Animais do IOC (CEUA P0145).
3.2.1. Obtenção de timócitos
Os timos foram macerados em homogeneizador de tecidos, potter”, contendo
1mL de RPMI-SBF 10%. Após centrifugação por 5 minutos a 400g a 4ºC, as células
foram ressuspendidas em 1mL de RPMI-SBF 10% para contagem com Azul de
Tripan em câmara de Neuebauer e posterior utilização nos ensaios de RT-PCR,
sobrevivência, migração e adesão celular. Parte das células foi utilizada para os
ensaios de citofluorimetria, sendo a fluorescência adquirida e posteriormente
analisada em citômetro FACSCalibur ou FacsAria (Becton-Dickinson).
3.3. Cultivo celular
Nos ensaios de adesão celular, utilizamos as linhagens de lulas epiteliais
tímicas (TEC), IT-76M1 e 2BH4, obtidas após cultivo contínuo de estroma tímico de
camundongos BALB/c e C57BL/6, respectivamente (Itoh et al., 2001; Amarante-
Mendes et al., 1995). Para o plaqueamento e manutenção dos cultivos celulares,
utilizamos meio RPMI 1640, suplementado com 10% de SBF acrescido de 100U/mL
de penicilina, 1% de L-glutamina, 1% de piruvato de sódio e albumina sérica bovina
(BSA). As células foram mantidas a 37°C em estufa c om 5% de CO
2.
3.4. Ensaio de Sobrevivência Celular
Para verificar a influência de APRIL na sobrevivência dos timócitos in vitro,
tratamos 10
6
células com 50ng/mL da proteína APRIL por 16 horas a 37ºC em estufa
com 5% de CO
2
. Após este período, verificamos a celularidade de cada amostra
através da contagem em câmaras de Neubauer por exclusão de Azul de Tripan, e
utilizamos o kit ApoScreen™ Annexin V Apoptosis (Southern, EUA) para detectar o
percentual de células apoptóticas através da análise citofluorimétrica. Esta molécula
pode conjugar-se à fosfatidilserina presente na face externa da membrana da
maioria das células em processo em fase inicial de morte celular programada. Por
isso, pode ser utilizada como ferramenta para avaliação da apoptose. Como controle
33
positivo para morte celular, foram utilizados timócitos tratados com 100nM de
hidrocortisona.
3.5. Ensaio de Migração celular
Para analisar o efeito da proteína APRIL na migração de timócitos, realizamos
ensaios de migração em placas de transwell (Corning Inc., New York, EUA) dotadas
de membranas com poros de 5
µm de diâmetro. Os insertos tiveram suas
membranas previamente tratadas com moléculas de matriz extracelular, fibronectina
e laminina (Sigma-Aldrich) na concentração de 10µg/mL, por 45 minutos a 37°C em
estufa com 5% de CO
2
, ou BSA na mesma concentração (usada neste experimento
como controle negativo para migração celular). Posteriormente, as membranas
foram bloqueadas com PBS-BSA 0,5% por 1 hora a 37°C em estufa com 5% de
CO
2
. Foram utilizados 2,5x10
6
timócitos para os ensaios de migração, obtidos de
acordo com a sessão 3.2.2. Nos ensaios de quimiorrepulsão, conforme
esquematizado na sessão dos resultados, os timócitos foram depositados sobre a
membrana de transwell em meio à solução de RPMI-BSA 1% contendo diferentes
doses da proteína APRIL recombinante. Em alguns experimentos, os timócitos
receberam pré-tratamento com solução de 50µg/mL de heparina por 1h a 37
o
C em
estufa contendo 5% de CO
2
.
Nos ensaios de quimiotaxia, as câmaras inferiores
receberam solução de 200ng/mL de CXCL12. Após 3 horas de migração a 37°C em
estufa com 5% de CO
2
, as células migrantes foram retiradas, lavou-se a face inferior
da membrana com 200µL de PBS-SFB 10% e as células depositadas na câmara
inferior foram coletadas. As células foram centrifugadas e a contagem realizada em
câmara de Neubauer pelo método de exclusão do corante Azul de Tripan.
Para identificação das subpopulações linfocitárias das lulas migrantes,
submetemos os timócitos à análise citofluorimétrica.
Para análise comparativa da atividade migratória de cada subpopulação,
calculamos o percentual de input (% de input) para cada subpopulação de timócito
de acordo com a seguinte fórmula:
Número absoluto de células depois da migração
% de Input = ________________________________________ x 100
Número absoluto de células antes da migração
34
3.6. Ensaio de Adesão
Para avaliar o efeito da proteína APRIL na adesão de timócitos às TEC,
realizamos ensaios de adesão de acordo com protocolo estabelecido pelo nosso
grupo (Ribeiro-Carvalho et al., 2002). Para isto, as TEC foram plaqueadas em
frascos de 25cm
2
(Nunc S/A, Dinamarca) na concentração de 7,5x10
4
células por
frasco, que foram mantidos em cultura por 48 horas em meio RMPI como descrito na
sessão 3.3. As TEC foram lavadas com PBS e co-cultivadas com timócitos frescos,
tratados ou não previamente com 50ng/mL de APRIL por 1 hora a 37°C em estufa
com 5% de CO
2
. A cultura de 2BH4 recebeu timócitos da linhagem C57BL/6, ao
passo que a IT-76M1 recebeu timócitos de BALB/c. A proporção para o co-cultivo foi
de 50 timócitos/TEC. Nos primeiros 30 minutos, as co-culturas foram incubadas a
37°C em estufa com 5% de CO
2
, e, nos 30 minutos restantes, as células foram
mantidas sob agitação leve (60 rpm) à temperatura ambiente. A seguir, os frascos
foram deixados na posição vertical por 5 minutos para que os timócitos o-
aderentes fossem depositados e desprezados do sistema. Os co-cultivos foram
fixados com metanol (Vetec) por 8 minutos, coradas com Giemsa (Merk) 10% por 20
minutos, e lavadas com PBS, para visualização e contagem. As imagens foram
obtidas em microscópio óptico (Zeiss modelo Axiolab, Alemanha). Para análise da
interação entre timócitos e TEC, utilizamos o índice de adesão (IA) determinado pela
seguinte fórmula:
Número de TEC com timócitos x número de timócitos aderidos nas TEC
IA= __________________________________________________________x 100
Número total de TEC
3.7. Fenotipagem
A fenotipagem das subpopulações linfocitárias foi feita por citofluorimetria. Os
timócitos foram obtidos conforme descrito na sessão 3.2.1, e as TEC foram retiradas
dos frascos de cultura com auxílio de 1,5mL de EDTA 10mM por 20 minutos. As células
foram colocadas em placas de fundo "V" de 96 poços, centrifugadas a 400g por 5
minutos a 4ºC, e ressupendidas em 5µL de soro normal de camundongo para bloqueio
por 20 minutos a 4
o
C. Adicionamos 15µL da solução contendo os anticorpos
específicos para a detecção das proteínas estudadas (Tabela 3.1). Após incubação por
35
30 minutos a 4
o
C no escuro, as suspensões celulares foram lavadas com 100µL de
tampão de PBS-SBF 1% e centrifugadas. Desprezou-se o sobrenadante, e as lulas
foram ressuspendidas em 200µL de tampão de fixação (PBS-PFA 1%), transferidas
para tubos apropriados, e estocadas a 4
o
C protegidos da luz até a aquisição em
citômetro de fluxo. Os dados adquiridos foram analisados no programa Summit 4.3 2,
Dako®.
3.8. ELISA
Para verificar se APRIL é capaz de interagir com moléculas de matriz
extracelular, realizamos a técnica de ELISA. Placas de 96 poços foram cobertas com
10µg/mL de fibronectina, 10µg/mL de laminina ou 100ng de BCMA-Fc (utilizado
como controle positivo) por poço. As placas foram incubadas por 16-18 horas a C.
No dia seguinte, foram lavadas três vezes com PBS-Tween 0,005% e cobertas com
200µL/poço de PBS-BSA 1% durante 1 hora à temperatura ambiente. As placas
foram incubadas por 1 hora com soluções contendo diferentes concentrações de
APRIL-flag. Terminado o período de incubação, cada poço foi lavado 5 vezes com
PBS-Tween 0,005% e, em seguida, foi adicionado 100µL/poço de anti-flag
biotinilado. Após uma hora de incubação, à temperatura ambiente, as placas foram
novamente lavadas cinco vezes com PBS-Tween 0,005%. Acrescentou-se então
solução de estreptavidina HRP para revelar o Flag-biotinilado. As placas foram
mantidas no escuro por 30 minutos à temperatura ambiente. Após cinco lavagens,
foram colocados 100µL/poço de solução substrato (OPD-3mg, H
2
O
2
5mL, 2,5mL de
tampão citrato e 2,5mL de Na
2
HPO
4
). A reação foi interrompida após cinco minutos
com solução 2N de HCl. A medida da densidade óptica foi realizada em um leitor de
ELISA (Dynex), utilizando um comprimento de onda de 492nm.
3.9. Análise Estatística
As análises estatísticas foram realizadas através do Teste ANOVA com
auxílio do software GraphPad Prim 4. As diferenças entre os grupos analisados
foram consideradas estatisticamente significativas quando o valor de p < 0,05.
36
4. RESULTADOS
4.1. Avaliação do efeito de APRIL na sobrevivência de timócitos
Sabendo-se que APRIL foi descrito primeiramente como um importante fator
indutor de proliferação de células tumorais in vitro (Hahne et al., 1998) e,
posteriormente, como uma citocina promotora de sobrevivência de linfócitos T e B
em diferentes modelos (Stein et al., 2002; Planelles et al., 2004; Belnoue et al.,
2008), buscamos, inicialmente, verificar o efeito de APRIL na sobrevivência e
proliferação de timócitos in vitro.
Timócitos frescos de camundongos C57BL/6 foram incubados em solução
contendo 5ng/mL ou 50ng/mL de APRIL em estufa a 37°C contendo 5% de CO
2
.
Após 16 horas de tratamento, as culturas foram avaliadas quanto à morte celular
através da contagem e análise da viabilidade celular em câmaras de Neubauer por
exclusão com Azul de Tripan. Além disto, avaliamos o perfil de ligação de Anexina V
nas subpopulações de timócitos.
Não foram encontradas diferenças na celularidade entre os dois grupos
experimentais, controle e tratado (Figura 4.1A). E ainda, a análise da marcação com
Anexina V revelou que APRIL parece não alterar o número de células em apoptose
neste modelo, pois, os percentuais e a média de intensidade de fluorescência (MFI)
permaneceram iguais nos dois grupos em todas as subpopulações de timócitos
analisadas (Figura 4.1B).
Estes resultados sugerem que APRIL não é capaz de causar morte dos
timócitos ou protegê-los da apoptose em ensaios in vitro. Podemos sugerir, ainda,
que APRIL não estimule proliferação, pois não encontramos diferenças na
celularidade entre os dois grupos.
37
Figura 4.1. APRIL não interfere na sobrevivência e proliferação de timócitos.
Os timócitos de camundongos C57BL/6 foram incubados com 50ng/mL de APRIL
por 16h a 3C em estufa contento 5% de CO
2
. Em A, mostramos que não há
diferenças na celularidade das subpopulações de timócitos após o tratamento in
vitro. Em B, observamos que não alteração da população em apoptose nos dois
grupos através da marcação com Anexina V. A hidrocortisona é utilizada como
controle positivo para indução de morte celular. Os gráficos e histogramas
representam resultado representativo de três experimentos independentes (n=3).
“*”p<0,05.
38
4.2. Avaliação do efeito de APRIL na migração de timócitos in vitro
4.2.1 Efeito de APRIL na migração de timócitos
A migração celular é um evento crucial na diferenciação intratímica dos
linfócitos T. Ao longo do processo de maturação, os timócitos em diferentes estágios
migram através do microambiente tímico, onde recebem sinais essenciais para sua
diferenciação, até completarem o seu desenvolvimento (Petrie & Zúñiga-Pflucker,
2007). Nosso grupo tem utilizado o modelo de migração celular ex vivo para avaliar
a participação de diferentes moléculas neste processo (Savino et al., 2002, 2003,
2004).
Desta forma, para avaliar o efeito de APRIL na atividade migratória de
timócitos provenientes de camundongos normais, e, assim, analisar sua influência
na diferenciação dos linfócitos T, realizamos ensaios ex vivo de migração em
câmaras de transwell. Primeiramente, diferentes concentrações de APRIL foram
utilizadas para investigar se esta molécula seria capaz de modular a atividade
migratória dos timócitos atuando como um fator quimioatraente ou repulsor. Assim,
para os ensaios de quimiotaxia, soluções contendo APRIL (0,5ng/mL, 5ng/mL,
50ng/mL e 100ng/mL) foram depositadas na câmara inferior das placas de transwell.
Nos ensaios de quimiorrepulsão, os timócitos foram depositados na câmara superior
em meio a uma solução contendo, igualmente, diferentes doses de APRIL, conforme
esquematizado na figura 4.2.
Não encontramos alterações numéricas na migração dos timócitos em
resposta a nenhuma das doses de APRIL utilizadas no ensaio de quimiotaxia (Figura
4.2A). Por outro lado, nos ensaios de quimiorrepulsão, observamos um aumento
dose-dependente na taxa de migração de timócitos, sendo que após tratamento com
50ng/mL de APRIL, omero de células migrantes coletado na câmara inferior foi 2-
3 vezes maior do que o das células do grupo controle, sugerindo, desta maneira,
que APRIL possa atuar como um fator quimiorrepulsor (Figura 4.2B).
39
Figura 4.2. Efeito quimiorrepulsor de APRIL na migração de timócitos. Os
timócitos de camundongos C57BL/6 jovens não-tratados (quimiotaxia) e tratados
(quimiorrepulsão) com APRIL (0,5ng/mL, 5ng/mL, 50ng/mL e 100ng/mL) foram
depositados sobre membranas de transwell com poros de 5µm, tratadas
previamente com BSA (esquemas à esquerda). Após três horas de migração, as
células que migraram para a câmara inferior foram recolhidas e contadas em
microscópio óptico. Em A, mostramos os ensaios de quimiotaxia nos quais
diferentes doses de APRIL foram depositadas na câmara inferior. Em B, mostramos
os ensaios de quimiorrepulsão nos quais os timócitos foram tratados com diferentes
doses de APRIL. Observamos aumento da migração quanto os timócitos foram
tratados com 50ng/mL de APRIL. Dados apresentados como média ± erro padrão de
três experimentos independentes (n=3), “*” p<0,05 em relação ao controle.
40
4.2.2 Efeito de APRIL na migração frente à fibronectina, laminina e CXCL12
Os eventos relacionados com a migração intratímica dos linfócitos T são
parcialmente direcionados e controlados por proteínas de ECM e quimiocinas,
dentre elas fibronectina e laminina e CXCL12, respectivamente (Savino et al., 2002;
2003; 2004).
Sendo assim, com o intuito de verificar a influência de APRIL na migração de
timócitos orientada por moléculas de ECM, realizamos ensaios de migração nos
quais as membranas dos insertos foram tratadas previamente com fibronectina ou
laminina conforme ilustrado nos esquemas da figura 4.3A e B. Diante dos resultados
encontrados nos ensaios de quimiorrepulsão (Figura 4.2B), foi utilizada a dose de
50ng/mL para tratamento dos timócitos nestes ensaios de migração.
Confirmando dados anteriores de nosso grupo (Savino et al., 2004), a migração
sobre fibronectina e laminina foi maior do que na ausência destes dois estímulos
haptotáticos. Foi observado um aumento no número de células migrantes quando as
membranas dos insertos foram previamente tratadas com estas moléculas de ECM
(Figura 4.3A e B). No entanto, os timócitos tratados com APRIL que receberam,
também, o estímulo da molécula de fibronectina, não apresentaram alterações na
reposta migratória em comparação com o controle não-tratado e com as células
tratadas com APRIL que migram na ausência de fibronectina (Figura 4.3A). A
incubação com APRIL foi suficiente para obter o efeito migratório similar,
numericamente, à migração em fibronectina de timócitos não-tratados. Não houve,
portanto, potencialização dos efeitos de cada fator, APRIL e fibronectina, quando os
estímulos são dados no mesmo sistema (Figura 4.3A).
Diferindo dos resultados obtidos na migração sobre fibronectina, observamos
um aumento no número de células migrantes quando timócitos tratados com APRIL
receberam, também, estímulo de laminina (Figura 4.3B). No entanto este aumento
nunca chegou a valores que correspondessem à soma dos dois estímulos utilizados
isoladamente. Estes resultados nos levaram a pensar que a proteína APRIL interaja,
de alguma maneira, com moléculas de ECM, particularmente laminina.
Buscamos ainda avaliar a influência do tratamento com APRIL na migração de
timócitos direcionada por CXCL12. Para isto, foram realizados ensaios de migração
nos quais as câmaras inferiores do sistema continham solução com a quimiocina
CXCL12 de acordo com o esquema da figura 4.3C.
Conforme descrito anteriormente, a atividade migratória dos timócitos é
aumentada na presença de CXCL12. A resposta frente à CXCL12 é cerca de duas
41
vezes maior que aquela observada após estímulo por APRIL, mostrando que o
estímulo da quimiocina é mais potente na atividade dos timócitos. Além disso, os
timócitos que receberam os dois estímulos, APRIL e CXCL12, apresentaram
aumento da migração em comparação com o grupo que não é exposto a quimiocina.
No entanto, de novo o número de timócitos migrantes na presença dos dois
estímulos foi inferior à soma dos valores encontrados quando cada estímulo foi
usado isoladamente (Figura 4.3C).
4.2.3 Análise fenotípica dos ensaios de migração
Dando continuidade à análise do efeito de APRIL na migração orientada por
fibronectina, laminina e CXCL12, verificamos o fenótipo dos timócitos após ensaios
de migração para analisar a atividade migratória de cada subpopulação. Para isto,
realizamos análise citofluorimétrica com marcação para as moléculas de superfície
celular CD4 e CD8. Tendo como parâmetro o número de células migrantes, foi
comparado o perfil das diferentes subpopulações em relação aos percentuais
observados antes da migração, representado pelo percentual de input (% de input),
descrito na sessão 3.5 do Material e Métodos.
A migração em BSA revelou aumento da migração de todas as subpopulações
de timócitos, porém, encontramos diferença significativa no percentual de
timócitos duplo-positivos após tratamento com APRIL (Figura 4.4A). Por outro lado, a
migração em fibronectina não revelou diferenças significativas no percentual das
subpopulações de células migrantes, ou seja, não houve recrutamento preferencial
neste contexto (Figura 4.4B). No entanto, quando os timócitos migravam em
membranas revestidas com laminina houve aumento da atividade migratória das
subpopulações de células CD4SP no grupo tratado com APRIL (Figura 4.4C). E
ainda, a análise fenotípica após migração direcionada por CXCL12 não mostrou
diferenças entre os dois grupos (Figura 4.4D). Assim, estes resultados apontam para
um efeito diferencial de APRIL na migração de timócitos que está especificamente
relacionado com a molécula de laminina.
42
Figura 4.3. Efeito de APRIL na migração de timócitos orientada por
fibronectina, laminina e CXCL12. Os timócitos de camundongos C57BL/6 jovens
tratados e não-tratados (Ø) com solução de 50ng/mL de APRIL são depositados
sobre membranas de transwell com poros de m, tratada previamente com BSA,
fibronectina (A) ou laminina (B). Câmara inferior recebeu solução de CXCL12 (C).
Após três horas de migração, as células foram recolhidas e contadas em
microscópio óptico. Dados apresentados como média ± erro padrão de três (A e B) e
dois (C) experimentos em triplicata, “*” p<0,05 e “**”p<0,005.
43
Figura 4.4. Análise fenotípica dos ensaios de migração. Timócitos não-tratados
(controles barras brancas) e tratados com solução de 50ng/mL de APRIL (barras
negras) são depositados sobre a membrana de transwell com poros de 5µm tratadas
previamente tratadas com BSA (A), fibronectina (B) ou laminina (C). Solução
CXCL12 foi depositada na câmara inferior (D). Após três horas de migração, as
células foram recolhidas, contadas em microscópio óptico e fenotipadas por
citofluorimetria. As barras mostram o número relativo (% de input) das
subpopulações de timócitos. Valores representam média ± erro padrão, sendo
“**”p<0,005.
44
4.3. Interação de APRIL com molécula de matriz extracelular
Diante dos diferentes efeitos sobre a migração dos timócitos tratados com
APRIL frente à fibronectina e à laminina (Figura 4.4A e B), verificamos se APRIL
seria capaz de ligar-se a proteínas de matriz extracelular. Para isto, realizamos
ensaios imunoenzimáticos (ELISA) nos quais as proteínas de ECM foram adsorvidas
em suportes plásticos, recebendo, em seguida, APRIL-flag ou BAFF-flag, utilizado
como controle. Após as lavagens, foi adicionado anti-flag ao sistema para detecção
da interação entre APRIL e as moléculas de matriz através da leitura da densidade
óptica em espectrofotômetro.
Conforme esperado, os valores máximos de leitura foram encontrados nos
poços que receberam o coating do receptor BCMA, mostrando assim, que os
ligantes APRIL e BAFF interagem com esta molécula. Neste sentido, pôde-se
observar que os valores encontrados quando as placas foram revestidas com
fibronectina e laminina são inferiores em comparação ao controle (BCMA) para os
dois ligantes. No entanto, os valores encontrados nos sistemas que receberam
fibronectina e APRIL o maiores do que na presença de laminina, o quê não foi
observado para BAFF (Figura 4.5). Assim, estes resultados sugerem que APRIL
possa se ligar à fibronectina, e não a laminina. Isso poderia explicar porque não
ocorre nenhum efeito aditivo em termos de resposta migratória, quando timócitos
são pré-incubados com APRIL e posteriormente deixados migrar através de
fibronectina.
45
Figura 4.5. APRIL interage com fibronectina. Moléculas de matriz extracelular
(fibronectina e laminina) foram depositadas em placas de poliestireno e incubadas
com APRIL-flag e BAFF-flag. Após 2h, a interação foi revelada através de reação
imunoenzimática com auxílio de anti-flag. Valores representativos de dois
experimentos independentes, expressos em densidade óptica (O.D.), em relação ao
controle BCMA-Fc (BCMA).
46
4.4. Avaliação do efeito de APRIL na interação TEC-timócitos
Conforme descrito por nosso grupo, ao longo do processo de maturação, os
timócitos migram pelo microambiente tímico, para isso, interagem com as lulas do
microambiente, principalmente, as TEC. Assim, a adesão célula-célula é um evento
fundamental para o processo de migração intratímica dos linfócitos T (Savino et al.,
2002, 2003, 2004). Neste contexto, buscamos avaliar o efeito de APRIL na adesão
de timócitos às TEC.
Neste sentido, foram realizados ensaios de adesão com timócitos previamente
tratados com solução contendo 50ng/mL de APRIL conforme ilustrado no esquema
da figura 4.6. Os timócitos foram co-cultivados com as TEC, e após uma hora de
adesão, a interação foi quantificada através da contagem ao microscópio óptico e
cálculo do índice de adesão (IA), seguindo o protocolo descrito na sessão 3.6 do
Material e Métodos.
O tratamento dos timócitos com APRIL mostrou-se capaz de diminuir, em cerca
de 50%, a interação entre TEC e timócitos (Figura 4.6). Diante da similaridade dos
resultados encontrados com as duas linhagens de TEC (2BH4 e IT-76M1),
representamos na figura 4.6 somente os resultados dos experimentos com a
linhagem IT-76M1. Este efeito de-adesivo corrobora o papel de quimiorrepulsor,
evidenciado nos experimentos de migração celular ex vivo.
4.5. Avaliação do efeito de APRIL na expressão de receptores para matriz
extracelular
A participação das integrinas VLA-4, VLA-5, receptores de fibronectina, e VLA-
6, receptor de laminina foi caracterizada por nosso grupo como moléculas
fundamentais para a atividade migratória dos timócitos (Savino et al., 2000; Savino
et al., 2004). Sendo assim, tendo em vista os achados acerca do efeito de APRIL na
migração e adesão de timócitos (Figuras 4.2, 4.3 e 4.6), foi avaliada a expressão dos
receptores VLA-4, VLA-5 e VLA-6 nos timócitos em resposta ao tratamento in vitro
com a proteína.
Nestes ensaios, as células foram incubadas por 6h e 3h com solução
contendo 5ng/mL ou 50ng/mL de APRIL. Nossos resultados revelaram que o perfil
de expressão dos receptores VLA-4, VLA-5 e VLA-6 nas subpopulações de timócitos
dos grupos tratado e controle, não sofreu alterações após os tratamentos com
5ng/mL (dados não mostrados) ou 50ng/mL de APRIL nos dois períodos de
incubação utilizados (Figura 4.7, 4.8 e 4.9). Diante da similaridade dos resultados
47
encontrados, representamos nas figuras 4.7, 4.8 e 4.9 somente os resultados do
tratamento de 50ng/mL por 3h. Assim, não foi possível estabelecer uma relação
entre o aumento da resposta migratória, assim como a redução da adesão dos
timócitos, e os níveis de expressão destas integrinas.
Figura 4.6. APRIL modula negativamente a interação TEC-timócito. Este painel
corresponde a um ensaio de adesão com co-cultivos de células epiteliais tímicas
(TEC) e timócitos. Timócitos, controle, não tratados, (Ø) e pré-tratados com 50ng/mL
de APRIL por 1h, foram co-cultivados com TEC (IT-76M1) por 30 minutos a 37°C em
estufa com 5% de CO
2
, e mais 30 minutos sob agitação leve (60rpm) à temperatura
ambiente. O gráfico à direita mostra os resultados expressos em “IA” (Índice de
Adesão) referente à interação entre timócitos e TEC, e que foram normalizados para
100% dos valores de co-cultivos com timócitos controle. Valores representam média
± erro padrão de três experimentos, sendo “*”p<0,05.
48
Figura 4.7. Expressão de VLA-4 (CD49d) não é alterada após tratamento com
APRIL. Timócitos de camundongos C57BL/6 controle (linha tracejada) e tratados
com 50ng/mL de APRIL (linha cheia) foram incubados por 3h e 6h a 37°C em estufa
contendo 5% de CO
2
. Controle de isotipo (IgG2a) está representado em cinza.
Análise citofluorimétrica do perfil de expressão da cadeia α4 integrina (CD49d) do
receptor de fibronectina VLA-4, nas subpopulações de timócitos após tratamento.
Histogramas expressam resultados representativos de três experimentos
independentes com 3h de tratamento.
49
Figura 4.8. Expressão de VLA-5 (CD49e) não é alterada após tratamento com
APRIL. Timócitos de camundongos C57BL/6 controle (linha tracejada) e tratados
com 50ng/mL de APRIL (linha cheia) foram incubados por 3h e 6h a 37°C em estufa
contendo 5% de CO
2
. Controle de isotipo (IgG2a) está representado em cinza.
Análise citofluorimétrica do perfil de expressão da cadeia α5 integrina (CD49e) do
receptor de fibronectina VLA-5 nas subpopulações de timócitos após tratamento.
Histogramas ilustram resultados representativos de três experimentos
independentes com 3h de tratamento.
50
Figura 4.9. Expressão de VLA-6 (CD49f) o é alterada após tratamento com
APRIL. Timócitos de camundongos C57BL/6 controle (linha tracejada) e tratados
com 50ng/mL de APRIL (linha cheia) foram incubados por 3h e 6h a 37°C em estufa
contendo 5% de CO
2
. Controle de isotipo (IgG1) está representado em cinza.
Análise citofluorimétrica do perfil de expressão da cadeia α6 integrina (CD49f) do
receptor de laminina VLA-6 nas subpopulações de timócitos após tratamento.
Histogramas ilustram resultados representativos de três experimentos
independentes com 3h de tratamento.
51
4.6. Determinação da interação APRIL x Timócito
4.6.1 Caracterização da expressão de receptor TACI nos timócitos
A expressão de receptores para APRIL na população de linfócitos T, TACI, no
timo ainda não está relatada. Avaliamos então, a expressão desta molécula nas
diferentes subpopulações de timócitos através da cnica de citometria de fluxo. Os
linfócitos B (CD19
+
) provenientes da cavidade peritoneal foram utilizados como
controle positivo para expressão do receptor TACI (Hardenberg et al., 2008).
Conforme representado nos gráficos da figura 4.10A, nenhuma das
subpopulações de timócitos, definidas pelos marcadores CD4 e CD8, apresentaram
expressão membranar do receptor TACI. No entanto, as linhagens de TEC e os
linfócitos B (CD19
+
) micos foram positivos para o receptor (Figura 4.10B e C).
Assim, podemos pensar que o efeito de APRIL na atividade dos timócitos talvez seja
mediado pela interação com outro receptor, ou ainda, que APRIL poderia modular a
atividade das TEC, e dos linfócitos B, que, então, influenciariam a atividade dos
timócitos.
4.6.2 Avaliação da participação de proteoglicanas de heparan-sulfato (HSPG)
na migração de timócitos
As moléculas de HSPG também foram descritas como capazes de se ligar a
APRIL. Estudo com células T Jurkat, que não possuem os receptores TACI e BCMA,
revelou que a interação com o ligante via HSPG é capaz de modular a atividade
celular (Hendriks et al., 2005). Entretanto, ainda não são conhecidas as possíveis
vias intracelulares envolvidas nesta ligação. Diante destes dados, e dos resultados
relativos à não-detecção do receptor TACI nos timócitos (Figura 4.8), buscamos
avaliar a importância de HSPG na resposta migratória de timócitos frente à APRIL.
Foram realizados ensaios de migração com timócitos previamente tratados com
heparina, pois, esta molécula pode se ligar a HSPG impedindo, assim, a sua
interação com APRIL (Hendriks et al., 2005; Ingold et al., 2005).
Vimos que o pré-tratamento com heparina bloqueou o efeito de APRIL na
migração dos timócitos, pois os valores encontrados nos ensaios onde as células
recebem somente a proteína APRIL retornaram aos do grupo controle quando as
células foram previamente incubadas com heparina (Figura 4.11). Sendo assim,
podemos inferir que APRIL estimule a migração dos timócitos via interação com
HSPG.
52
Figura 4.10. Subpopulações de timócitos não expressam o receptor TACI. A,
análise de citometria de fluxo em histogramas mostrando a ausência de marcação
específica para receptor para APRIL, TACI, nas subpopulações de timócitos
definidas pela expressão dos co-receptores CD4 e CD8. B, marcação para TACI nas
linhagens de TEC (IT-76M1 e 2BH4). C, linfócitos B (CD19
+
) tímicos. D, linfócitos B
(CD19
+
) da cavidade peritoneal são utilizados como controle positivo. Controle de
isotipo (IgG2a) está representado em cinza. Este resultado é representativo de três
experimentos com camundongos das linhagens C57BL/6 e BALB/c.
53
Figura 4.11. APRIL modula migração de timócitos via HSPG. Timócitos de
camundongos C57BL/6 tratados com 50ng/mL de APRIL foram depositados sobre a
membrana de transwell com poros de 5µm, tratada previamente com BSA. Em
alguns casos, as células receberam pré-tratamento com heparina (50µg/mL) por 1h
a 37
o
C. Após três horas de migração, as células que migraram para a câmara
inferior foram recolhidas e contadas em microscópio óptico. Dados apresentados
como média ± erro padrão de três experimentos independentes em duplicata, sendo
“**”p<0,005.
54
5. DISCUSSÃO
Os estudos com a proteína APRIL têm demonstrado seu envolvimento no
sistema imune, em particular, em processos patológicos como tumores e doenças
autoimunes (Dillon et al., 2006), sugerindo ainda que esta citocina possa vir a ser
alvo terapêutico para estas doenças. APRIL participa da promoção da sobrevivência
de células tumorais e da atividade de linfócitos B. Os estudos realizados com estas
células mostraram que APRIL influencia os mecanismos envolvidos com a
apresentação antigênica, produção e mudança de classe de imunoglobulinas e,
também, proliferação e sobrevivência (Dillon et al., 2006).
No entanto, desde sua descoberta por Hahne e colaboradores, em 1998, os
efeitos desta citocina na fisiologia dos linfócitos T, ainda são pouco consistentes
(Hahne et al., 1998). Nosso grupo, em colaboração com a equipe do Dr. Hahne, vem
estudando a participação de APRIL na biologia do sistema imune, em linfomas de
células B-1, e em processos de autoimunidade (Stein et al., 2002; Planelles et al.,
2004; Morel et al., 2009), sendo a presente dissertação, o primeiro estudo sobre
uma possível participação de APRIL na fisiologia tímica enfocando a migração dos
timócitos.
A diferenciação dos linfócitos T é um processo dependente da migração
celular. Para completar seu desenvolvimento, os precursores oriundos da medula
óssea devem, primeiramente, direcionar-se para o timo. No interior do órgão, os
timócitos movimentam-se pelas diferentes regiões ao longo do processo de
maturação. As células recém chegadas no timo pela junção córtico-medular, mais
imaturas, migram em direção à região cortical. Completadas algumas etapas do
desenvolvimento, os timócitos localizados na região cortical encaminham-se para a
medula tímica onde aquelas células positivamente selecionadas estão aptas para
sair do timo e colonizar os órgãos linfóides periféricos (Takahama, 2006).
O processo de diferenciação intratímica dos linfócitos T é resultante, também,
dos eventos celulares como adesão, de-adesão, migração, quimioatração e
repulsão. Com o intuito de melhor compreender os mecanismos envolvidos com o
desenvolvimento de células T e, mais especificamente, na migração de linfócitos T,
nosso grupo vem estudando a participação e o efeito de vários fatores neste
processo, em condições fisiológicas e patológicas. Os trabalhos mostraram que o
timo é um órgão alvo para doenças infecciosas (Savino et al., 2006), bem como uma
diversidade de moléculas, hormônios e neuropeptídeos que são capazes de modular
a adesão, migração e, portanto, a diferenciação dos timócitos (Savino et al., 2000;
55
Villa-Verde et al., 2002; Savino et al., 2004; Smaniotto et al., 2005; Lepelletier et al.,
2007; Ribeiro-Carvalho et al., 2007; Terra-Granado et al., 2007; Dardenne et al.,
2009; Mendes-da-Cruz et al., 2009).Tendo em vista o modelo bem estabelecido
em nosso laboratório, e a complexidade do envolvimento de diferentes moléculas
nos mecanismos que influenciam a atividade migratória dos linfócitos T em
diferenciação, buscamos avaliar o efeito de APRIL na migração de timócitos
normais.
Inicialmente, investigamos a expressão de RNAm para APRIL no timo de
camundongos C57BL/6 e BALB/c, assim como em linhagens de TEC murinas.
Porém, por questões técnicas, ainda não pudemos concluir estas análises, as quais
serão, sem dúvida, importantes para definir uma possível participação da citocina na
fisiologia do órgão. Vale ressaltar, no entanto, que dados publicados recentemente
revelaram que o timo de algumas espécies animais, como cães, coelhos e porcos, é
um dos órgãos com a maior expressão de RNAm para APRIL (Guan et al., 2007;
Shui et al., 2008; Wang et al., 2009). Por outro lado, até o presente, somente um
trabalho mostrou a detecção da proteína em timo humano. A análise de amostras de
timo de pacientes com Miastenia Gravis através da técnica de imunohistoquímica
revelou uma expressão pontual e citoplasmática em células com características de
macrófagos (Thangarajh et al., 2006). Por outro lado, análise de tecido humano
normal o apresentou o mesmo resultado (Hahne et al., 1998; Thangarajh et al.,
2006). Portanto, pretendemos determinar quais células expressam APRIL no timo de
camundongos. Para isto, investigaremos, através de PCR em Tempo Real, se as
subpopulações de timócitos, bem como outros componentes não-linfóides residentes
do microambiente tímico, podem contribuir para o entendimento do resultado
observado em timo de animais normais (Guan et al., 2007; Shui et al., 2008; Wang
et al., 2009) como, também, em modelos de doenças autoimunes e infecciosas.
Tendo em vista a descrição inicial de APRIL como um fator indutor de
sobrevivência e proliferação de linfócitos e de células tumorais (Hahne et al., 1998;
Stein et al., 2002; Planelles et al., 2004; Kimberley et al., 2009), avaliamos o efeito
do tratamento in vitro sobre a sobrevivência de timócitos murinos. Em estudo com
camundongos APRIL-Tg, linfócitos TCD4
+
e CD8
+
esplênicos apresentaram aumento
da sobrevivência celular ex vivo em decorrência do aumento da expressão da
proteína anti-apoptótica Bcl-2 (Stein et al., 2002). Nossos resultados, ao contrário,
revelaram que APRIL não modula a sobrevivência das diferentes subpopulações de
timócitos. Além disso, de acordo com nossos achados, podemos supor que o
56
tratamento com APRIL não influencie, também, a proliferação dos timócitos. Neste
sentido, resultados preliminares com camundongos APRIL-Tg, que superexpressam
a proteína, revelaram que estes animais apresentam a histologia do timo,
celularidade e distribuição das subpopulações de timócitos normais (dados o-
publicados). O mesmo foi observado em animais nocautes para APRIL (Varfolomeev
et al., 2004). Assim, é possível que a modulação da proliferação e sobrevivência de
linfócitos T por APRIL seja um evento observado somente em células maduras na
periferia.
Para investigar o efeito de APRIL na migração dos timócitos, analisamos o
impacto do tratamento ex vivo com a proteína recombinante na migração destas
células. Nestes ensaios, o tratamento de timócitos com 50ng/mL de APRIL foi capaz
de aumentar, em cerca de 50%, a migração celular, indicando que APRIL poderia
exercer um efeito quimiorrepulsor. Porém, não observamos efeito quimiotático
quando a proteína era depositada no compartimento inferior da câmara de transwell.
E ainda, a análise fenotípica das células migrantes revelou que este efeito reflete,
principalmente, um recrutamento preferencial da subpopulação de linfócitos DP, que
constituem cerca de 80% dos timócitos.
Diante do aumento encontrado na migração de timócitos após tratamento com
a proteína APRIL, e da importância das moléculas de ECM no direcionamento
destas células ao longo da maturação (Savino et al., 2004), avaliamos a influência
de APRIL na migração orientada por fibronectina e laminina. Observamos que
APRIL pode aumentar a atividade migratória em laminina, em especial para os
timócitos CD4SP, mas que os valores de migração finais eram inferiores à soma dos
valores obtidos quando os dois estímulos eram utilizados isoladamente. Trabalhos
anteriores de nosso grupo haviam relatado uma maior resposta migratória desta
subpopulação em resposta à laminina (Smaniotto et al., 2005; Mendes-da-Cruz et
al., 2008). No entanto, com relação à fibronectina, não detectamos diferenças, em
números de células migrantes, entre o grupo tratado com APRIL e controle. Apesar
de não termos ainda uma explicação em nível molecular, é surpreendente que os
valores da resposta migratória à fibronectina em presença ou ausência de APRIL
sejam semelhantes; como se o efeito quimiorrepulsor de APRIL desaparecesse em
presença de fibronectina.
Em estudo com TNF-
α, foi descrito que o tratamento de linfócitos T humanos
com a citocina não altera a migração celular. Demonstrou-se, porém, que a
associação entre TNF-
α e fibronectina nas membranas dos insertos induz um efeito
57
supressor. Esta interação fornece “sinais de parada” que promovem a inibição da
migração dos linfócitos independente da alteração do perfil de expressão de
integrinas
β1 (Franzita et al., 2000). Assim, pretendemos realizar experimentos nos
quais a proteína APRIL, assim como foi feito com TNF-α, seja depositada sobre a
camada de fibronectina. Com isso, poderemos investigar uma possível interferência
na migração de timócitos em virtude de sua associação com fibronectina.
Analisamos, também, a expressão dos receptores para fibronectina, VLA-4 e
VLA-5, e laminina, VLA-6, nos timócitos após tratamento in vitro com APRIL, mas,
assim como no trabalho acima citado de Franzita e colaboradores, 2000, não
detectamos diferenças.
A interação heterotípica entre células epiteliais tímicas e timócitos é um
evento necessário à migração celular, e, da mesma maneira, é modulado por
moléculas de ECM e seus receptores (Savino et al., 2002). Deste modo, na tentativa
de compreender nossos achados nos ensaios de migração, analisamos a
participação de APRIL na adesão de timócitos a células epiteliais tímicas. Para isto,
utilizamos o método de co-cultivos de timócitos e TEC. Após 1h de tratamento dos
timócitos, verificamos que APRIL regula negativamente a adesão dos timócitos às
TEC, porém, sem alterar o perfil de expressão de receptores de ECM, VLA-4, VLA-5
e VLA-6.
Em concordância com os nossos resultados, outros trabalhos mostraram que
o tratamento de timócitos com diferentes moléculas, neuropeptídeos e hormônios,
foram capazes de reduzir a adesão de timócitos à TEC, promovendo a migração
celular no mesmo modelo utilizado neste trabalho. Galectina-3, lectina ligadora de β-
galactose, e que influencia atividade e morte de timócitos, modula a interação entre
TEC e timócitos diminuindo adesão e, também, estimula a migração, principalmente
da subpopulação de timócitos DP, após tratamento in vitro (Villa-Verde, et al. 2002;
Silva-Monteiro et al., 2007). Da mesma maneira, foi observado que semaforina-3A,
glicoproteína envolvida com o crescimento axonal no sistema nervoso apresenta
efeito quimiorrepulsor sobre timócitos humanos (Lepelletier et al., 2007). Assim,
levando-se em conta as interações celulares durante o processo de maturação
intratímica dos linfócitos T, uma modulação da migração celular pode ser resultado
da diminuição da adesão aos constituintes, celulares e acelulares, do
microambiente. Nesse contexto, é possível que o aumento da migração celular, ou
seja, a atividade quimiorrepulsora de APRIL, represente uma conseqüência da
diminuição da adesão dos timócitos às TEC.
58
Diante dos efeitos de APRIL na migração e adesão de timócitos, buscamos
identificar qual receptor estaria mediando estes eventos. Os dados a respeito da
expressão e atividade do receptor para APRIL em linfócitos T, TACI, entretanto,
ainda são controversos (Mackay&Schneider, 2008). Alguns trabalhos mostraram a
expressão deste receptor em linfócitos T humanos de sangue periférico (von Bülow
& Bram, 1997) e de tecido articular de pacientes com Artrite Reumatóide (Seyler et
al., 2005). Em camundongos, células TCD4
+
, CD8
+
de baço, linfonodos
mesentéricos, periféricos e de lavado peritoneal expressam TACI (Hardenberg et al.,
2008). Porém, um único trabalho acerca da presença de TACI no timo humano
mostrou somente a presença de RNAm para esta molécula (von Bulow & Bram,
1997). Através da análise por citometria de fluxo pudemos constatar que as
subpopulações de timócitos de camundongos normais não apresentavam expressão
membranar do receptor TACI, ao passo que as TEC e os linfócitos B foram positivas.
Este resultado nos levou a pensar que o efeito encontrado após tratamento de
timócitos com APRIL seria mediado por outra molécula de superfície celular.
As moléculas de HSPG foram descritas como ligantes para APRIL. Foi
observado que linhagens de células tumorais (T Jurkat, NIH-3T3 e A549) apesar de
não expressarem os receptores TACI e BCMA respondem ao tratamento com
APRIL. Estas células aumentaram a taxa de proliferação quando foram estimuladas
com a citocina in vitro. Este efeito foi abolido com o tratamento por heparina, que
compete pelos sítios de ligação com HSPG, mostrando que a colaboração entre
APRIL e HSPG pode modular a atividade celular (Henrdriks et al., 2005; Ingold et al.,
2005). Tendo em vista que os timócitos usados em nossos ensaios não expressam o
receptor TACI, e que estas células, assim como as TEC, produzem
glicosaminoglicanos, incluindo heparan-sulfatos (Britz & Hart, 1982; Werneck et al.,
1999, 2000), anteriormente descritos como receptores para APRIL, realizamos
ensaios de migração nos quais os timócitos recebiam um pré-tratamento com
heparina, e, sem seguida recebiam a solução contendo APRIL. Quando os timócitos
foram incubados previamente com heparina, observamos que a reposta migratória
retornava aos valores basais, independentemente do tratamento com APRIL. Este
resultado sugere que APRIL module a migração de timócitos via HSPG.
Contudo, ainda o foi descrito se a interação entre APRIL e HSPG é
responsável por gerar sinais intracelulares. Alguns trabalhos mostraram que esta
ligação pode auxiliar no acúmulo de APRIL na membrana plasmática, formando um
domínio rico em APRIL que auxilia na interação e ativação do receptor TACI
59
(Kimberley et al., 2009). Esta cooperação é importante para a atividade de linfócitos
B, em particular, para produção de anticorpos IgA (Sakurai et al., 2007). Além disso,
a interação APRIL x HSPG participa do controle da progressão do ciclo celular,
estimulando a proliferação e, ao contrário, induzindo senescência em células
tumorais quando a produção de APRIL é suprimida (Henrdriks et al., 2005; Ding et
al., 2009; Moreaux et al., 2009). Assim, apesar de não conhecermos os mecanismos
de sinalização intracelular envolvidos, os dados publicados até o momento,
juntamente com nossos resultados, indicam que APRIL possa modular a atividade
dos timócitos através da ligação com HSPG.
As sindecans são proteínas transmembranares ligadas covalentemente às
cadeias de heparan-sulfato associadas à superfície celular e à ECM (Bernfield et al.,
1999). As moléculas de sindecam-1 são expressas por células epiteliais e
plasmócitos; sindecam-2 em fibroblastos, células endoteliais, neurônios e células
musculares lisas; sindecam-3 em células do sistema nervoso e condrócitos; ao
passo que a sindecam-4 possui uma distribuição ubíqua, sendo expressa, também,
por linfócitos (
Lambaerts
et al., 2009). Estas HSPG atuam como receptores celulares
regulando a proliferação, diferenciação, adesão e migração celular. Para isto, estas
moléculas podem servir de co-receptores para fatores de crescimento e constituintes
da ECM. Podem controlar, também, a expressão de moléculas na membrana celular,
a organização do citoesqueleto e a transdução de sinais após sua ligação com
domínios de interação para heparina (heparin-binding domain, HBD) presentes nas
moléculas de ECM (Morgan et al., 2007;
Lambaerts
et al., 2009). APRIL pode ligar-se
a sindecam-1, sindecam-2 e sindecam-4 (Ingold et al., 2005), assim, é possível que
o aumento na atividade migratória dos timócitos em resposta ao tratamento com
APRIL seja mediado pela interação com estas moléculas de HSPG (Figura 5.1A).
A atividade acessória (co-receptor) das sindecans pode ser mediada pela
interação com integrinas (Bernfield et al., 1999). Foi visto que a atividade sinérgica
entre estas moléculas participa do controle da adesividade e atividade celular em
resposta às diferentes condições físico-químicas do microambiente no qual estão
inseridas (Woods & Couchman, 1999; Morgan et al., 2007). No entanto, os
mecanismos intracelulares envolvidos nesta cooperação ainda não foram
completamente identificados (Lopes et al., 2006). Foi observado, porém, que a co-
localização de sindecans e as intregrinas β-1 nos sítios membranares em
associação com ECM, como a fibronectina, é necessária para formação da “adesão
focal”, sítios de ancoragem célula-ECM ricos em receptores que participam desta
60
interação (Morgan et al., 2007). Neste contexto, destacam-se a sindecam-1 e
sindecam-4 que estão envolvidas com adesão e migração através da ativação de
moléculas sinalizadoras, PKC e PIP
2
, e proteínas do citoesqueleto, como a actina
(Simons & Horowirtz, 2001; Morgan et al., 2007;
Lambaerts
et al., 2009).
A sinalização celular através de HSPG em colaboração com integrinas nos
eventos de migração celular está envolvida com alterações no citoesqueleto. Foi
demonstrado que o aumento da expressão de sindecam-1 sustenta a adesão
mediada pela integrina α2β1 através da reorganização dos microfilamentos de actina
em células de ovário de hamster (Vuoriluoto et al., 2008). E ainda, células epiteliais
intestinais de rato transfectadas para sindecam-2 exibiram uma maior atividade
migratória in vitro em decorrência do aumento da fosforilação da proteína FAK,
evento inicial da adesão celular ao substrato, que potencializou a expressão e da
atividade da integrina α2β1(Choi et al., 2009), mostrando que HSPG e integrinas
atuam conjuntamente na adesão e migração celular, ativando proteínas
intracelulares diretamente envolvidas nestes processos. Assim, é importante
investigar se estas vias são alvo da sinalização a partir da ligação com APRIL.
A interação de timócitos com fibronectina é mediada, dentre outros
receptores, pela integrina α5β1 (VLA-5) que reconhece domínios RGD (arginina-
glicina-aspartato) na estrutura da ECM (Ruoslahti, 1996). No entanto, demonstrou-
se, que para promoção da adesão em fibronectina, é necessária além da ligação da
integrina com os domínios RGD, que ocorra a interação da sindecam com domínios
HBD da fibronectina (atividade acessória das moléculas sindecans) conforme
esquematizado na figura 5.1B. E ainda, foi visto que o tratamento com heparina
bloqueia a adesão e a migração celular, em cultura de fibroblastos humanos, frente
à fibronectina (Woods et al., 1993), mostrando, assim, que a ligação dos HSPG
presentes nas superfícies celulares aos domínios HBD da molécula de fibronectina é
necessária para adesão e migração.
61
Figura 5.1. Modelo de interação entre APRIL, fibronectina, laminina e HSPG. A,
APRIL pode estimular a migração de timócitos através da ligação com HSPG. Porém
os mecanismos intracelulares envolvidos, assim como na participação de HSPG
nestes eventos, são desconhecidos. B, a interação de timócitos com fibronectina é
mediada pela integrina VLA-5 (α5β1) que reconhece domínios RGD na estrutura da
molécula de ECM, em cooperação com a ligação de HSPG aos domínios HBD
durante os eventos de adesão e migração celular. APRIL pode interagir, também,
com os domínios HBD ocupando o sítio de ancoramento para moléculas de HSPG.
C, isto não é observado na migração frente à laminina, pois o sítio de ligação para o
receptor VLA-6 (α6β1) encontra-se em região distinta e independe da interação com
HBD. Desta forma, o vetor resultante (
) dos estímulos gerados pela ligação com
fibronectina e APRIL gera uma reposta menor, na atividade migratória, do que o
resultante na presença de laminina ou da quimiocina CXCL12 (D).
62
Neste sentido, nossos ensaios de migração nos quais os timócitos tratados
com APRIL receberam, também, o estímulo das moléculas de fibronectina ou
laminina apresentaram resultados distintos. Não foi observado um sinergismo, ou
soma dos estímulos, quando as células migravam em presença de APRIL e
fibronectina, ao passo que a resposta migratória à laminina era potencializada após
o tratamento com APRIL. Isto nos levou a pensar em uma possível interação entre
APRIL e moléculas de ECM. Utilizando a cnica de ELISA, observamos que APRIL
pode interagir com fibronectina. Estes achados sugerem que APRIL seja capaz de
ligar-se, também, à fibronectina, e assim, seria possível que a interação desta
citocina com os domínios HBD presentes na molécula de ECM ocupasse este sítio
de ancoramento da célula interferindo na migração e a adesão celular dos timócitos
(Figura 5.1B).
É importante ressaltar que os timócitos apresentam mais de um receptor para
fibronectina, dentre eles, as integrinas VLA-5 (
α5β1) e VLA-4 (α4β1) (Savino et al.,
2000). Estas duas moléculas podem ligar domínios distintos da proteína. A integrina
VLA-5, como mencionado, liga domínios RGD, ao passo que VLA-4 liga seqüências
CS-1 (Guan & Hynes, 1990; Ruoslahti 1996). Além disso, a colaboração, ou
importância, destes dois receptores na diferenciação intratímica, parece não ser
equivalente, pois os timócitos expressam e utilizam estas integrinas diferentemente
ao longo do processo de maturação (Savino et al., 2000). As células mais imaturas
expressam os receptores VLA-4 e VLA-5 em maior intensidade, utilizando,
preferencialmente, VLA-4 na migração frente à fibronectina, ao passo que as células
mais maduras utilizam o receptor VLA-4, porém, em colaboração com o VLA-5
(Crisa et al., 1996). Por exemplo, a administração de anticorpos anti-α4 inibiu em
60% a adesão de timócitos à TEC, enquanto que o tratamento com anti-α5
apresentou 21% de redução (Dalmau et al., 1999).
No entanto, mais recentemente, trabalhos de nosso grupo têm demonstrado
que, em camundongos NOD, a deficiência na expressão de VLA-5 em timócitos é
responsável por uma drástica redução da migração em resposta à fibronectina, com
acúmulo de timócitos nos espaços perivasculares. As subpopulações afetadas pela
deficiência de VLA-5 representam aproximadamente 95% da população de
timócitos. Dessa forma, a diminuição da atividade migratória de timócitos DP,
CD4SP e CD8SP, também em animais normais que receberam anti-VLA-5, reduz
em mais de 50% o número de células migrantes (Cotta-de-Almeida et al., 2004;
Mendes-da-Cruz et al., 2008). Sendo assim, a atividade do receptor VLA-4 parece
63
não ser suficiente para sustentar o direcionamento dos timócitos nos estágios mais
maduros de diferenciação, mostrando uma ligação e sinalização preferencial via
VLA-5 na migração destas células em resposta à fibronectina. E ainda, levando-se
em conta a cooperação entre HSPG e VLA-5 para adesão e migração celular, a
ocupação dos sítios HBD da fibronectina por APRIL pode ser capaz de interferir na
resposta migratória dos timócitos, conforme esquematizado na figura 5.1B. É
possível, então, que o efeito de APRIL observado em nossos ensaios de migração e
adesão com os timócitos seja conseqüência da interferência da interação com
fibronectina dependente de VLA-5 e HSPG, que não é resgatada pela atividade do
receptor VLA-4.
A interação entre integrinas e a molécula de laminina, ao contrário da
fibronectina que possui pequenos domínios para ligação, é dependente do arranjo
de suas cadeias. O receptor VLA-6 (
α6β1) liga o fragmento E8 do domínio globular,
o domínio ativo da proteína responsável por estimular a adesão e migração celular
(Sonnenberg et al., 1990; Goodman, 1992). O tratamento de fibroblastos humanos
com heparina não foi capaz de inibir a adesão à laminina (Hozumi et al., 2006), pois,
o domínio de ligação com heparina encontra-se em outra região, no fragmento E3,
igualmente responsável por estimular a atividade celular, porém de maneira
independente (
Yurchenco
et al., 1990; Sung et al., 1993). Desta forma, a interação via
E3 não interfere nos eventos mediados pela ligação do fragmento E8 ao receptor
VLA-6. Este dado reforça a hipótese de que o aumento da migração celular
orientada por laminina observada em timócitos tratados com APRIL seja resultado
da resposta dos dois estímulos, APRIL e laminina, pois APRIL não compete pelo
sítio de ligação à heparina desta molécula de ECM (Figura 5.1C). Não entanto, ainda
não sabemos porque a resposta aos dois estímulos simultâneos apresenta valores
inferiores à soma das respostas obtidas com cada estímulos individualmente.
A respeito da resposta migratória de timócitos tratados frente ao estímulo
quimioatraente da molécula CXCL12, é possível que o efeito quimiorrepulsor de
APRIL seja sobrepujado diante da potência desta quimiocina (Figura 5.1D). As
quimiocinas podem ativar diferentes vias de transdução de sinais intracelulares que
podem controlar a afinidade e atividade das integrinas e, também, regular mudanças
no citoesqueleto, modulando a polaridade celular e, conseqüentemente, a atividade
migratória (Kinashi, 2007). A migração de timócitos ao longo do processo de
diferenciação é conduzida por diferentes quimiocinas que são expressas no timo.
Através dos ensaios de migração ex vivo foi possível observar que as quimiocinas
64
CXCL12 e CCL19, por exemplo, são capazes de aumentar a migração direcionada
por moléculas de ECM (Savino et al., 2003; Savino et al., 2004).
Um único estudo acerca deste tema revelou, por outro lado, que APRIL não é
capaz de estimular a migração de linfócitos B maduros, nem de modular a resposta
quimiotática frente às quimiocinas CCL21, CXCL12 e CXCL13. BAFF, outro membro
da família TNF, ao contrário, aumenta a atividade migratória destas células nestas
condições (Badr et al., 2008). E ainda, amostras de timo de pacientes com MG que,
conforme mencionado anteriormente, são positivas para expressão das citocinas
APRIL e BAFF (Thangarajh et al., 2006), apresentam, também, aumento da
produção de CXCL13 (Meraouna et al., 2006). Com isso, o acúmulo das citocinas
CXCL13 e BAFF, e não de APRIL, pode contribuir para o recrutamento e criação de
um nicho intratímico favorável para a atividade de linfócitos B produtores de auto-
anticorpos.
65
6. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS
Este trabalho teve como objetivo avaliar o impacto do tratamento com a
proteína APRIL na migração de timócitos murinos in vitro. Nossos resultados
sugerem que APRIL não module a sobrevivência, nem proliferação, de timócitos,
mas seja capaz de estimular a atividade migratória destas células apresentando
efeito quimiorrepulsor, possivelmente, em conseqüência da diminuição da adesão
celular através da interação com HSPG, um ligante recentemente descrito para
APRIL e que está envolvido com adesão e migração celular.
Para maior compreensão dos resultados aqui alcançados, e, buscando
avançar nos estudos do efeito de APRIL no microambiente tímico e na atividade dos
timócitos, pretendemos inicialmente definir em camundongos normais que células no
timo produzem APRIL constitutivamente. Além disso, é nossa intenção saber quais
efeitos APRIL pode exercer sobre células epiteliais tímicas, as quais expressam
constitutivamente o receptor TACI.
Por outro lado pretendemos repetir uma série de experimentos mencionados
no corpo desta dissertação, mas agora sobre timócitos e células epiteliais tímicas de
camundongos transgênicos para APRIL, já disponíveis em nossa Instituição.
66
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8. ANEXO: Artigo desenvolvido e publicado durante o mestrado.
Manuscrito Publicado:
Morel J, Roubille C, Planelles L, Rocha C, Fernandez L, Lukas C, Hahne M & Combe
B. Serum levels of tumour necrosis factor family members a proliferation-inducing
ligand (APRIL) and B lymphocyte stimulator (BLyS) are inversely correlated in
systemic lupus erythematosus. (2009). Ann Rheum Dis, 68, 997-1002.
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