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CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
O CRESCIMENTO DO JORNALISMO POPULAR E A RETRAÇÃO DO
SENSACIONALISMO NO RIO DE JANEIRO: UM ESTUDO DE CASO DOS
JORNAIS EXTRA E MEIA HORA
por
ALEXANDRE MADRUGA
Rio de Janeiro
2009.2
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CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
O CRESCIMENTO DO JORNALISMO POPULAR E A RETRAÇÃO DO
SENSACIONALSIMO NO RIO DE JANEIRO: UM ESTUDO DE CASO DOS
JORNAIS EXTRA E MEIA HORA
Trabalho acadêmico apresentado ao
Curso de Comunicação Social da
UNISUAM, como parte dos requisitos
para obtenção do Título de Bacharel em
Comunicação Social (Jornalismo).
Por:
Alexandre Carlos Nunes Madruga
Professor-Orientador:
Vanessa Paiva
Professores Convidados:
Fabiana Crispino
Ovídio Mota
Rio de Janeiro
2009.2
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Ficha Cadastral
Nome completo do aluno: Alexandre Carlos Nunes Madruga
Matricula: 06.101.038
Identidade: 08.279.445-4
CPF: 025.689.607.-01
Endereço: Rua Carmo do Rio Verde, 25-A – Jardim Sulacap - RJ
4
ALEXANDRE CARLOS NUNES MADRUGA
O CRESCIMENTO DO JORNALISMO POPULAR E A RETRAÇÃO DO
SENSACIONALISMO NO RIO DE JANEIRO: UM ESTUDO DE CASO DOS
JORNAIS EXTRA E MEIA HORA
Banca Examinadora composta para a defesa de Monografia para obtenção do
grau de Bacharel em Comunicação Social (Jornalismo)
APROVADA em: ______ de ___________ de _______
Professor-Orientador: ____________________________________________
Professor Convidado: ____________________________________________
Professor Convidado: ____________________________________________
Rio de Janeiro
2009.2
5
CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA
ÁREA DE ..................................................
CURSO DE .................................................................................
ATA DE MONOGRAFIA
Aos ...... dias do mês de ................................., do ano de 200....., na sala
............do bloco ........., da Unidade ................................................. do Centro
Universitário Augusto Motta UNISUAM, reuniu-se a Banca Examinadora de
Monografia composta pelos Professores: .............................................................
........................................................................ como Orientador, .........................
............................................................................................. e ..............................
........................................................................................., sob a presidência do
primeiro, para julgamento do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
intitulado ....................................................................................................................
............................................................................................................... de autoria
de ..............................................................................................................................
, matrícula número ..............................., como requisito para a obtenção do grau
de ............................................................................................ Após o exame do
trabalho escrito, apresentado aos membros anteriormente, e a respectiva defesa,
a Banca Examinadora (sugestões da
banca)........................................................................................................................
...........................................................................................................................
conferindo o grau ................. (..........................). E, nada mais havendo a registrar,
eu,....................................................................................................., lavrei a
presente ata que segue por todos os membros assinada.
Rio de Janeiro, ............ de ................................. de 200.....
Presidente (Orientador): .......................................................................................
Primeiro Membro:..................................................................................................
Segundo Membro: ................................................................................................
6
DEDICARIA
Este Trabalho de Conclusão de Curso é o resultado que simboliza a realização e
conquista de parte de meus anseios profissionais e pessoais, pois meu sonho
está definitivamente mais próximo: ser professor universitário. Estar mais próximo
dessa realização é graças à influência direta de três mestres que aprendi a
chamar de amigos: Professores Ovidio Mota, Marco Schneider e Vanessa Paiva.
7
AGRADECIMENTOS
Tudo que sou hoje, definitivamente é fruto do aprendido com meus mestres que
fizeram parte de minha vida na UNISUAM. Minha passagem por esses
educadores me fez crescer, evoluir e me tornar um profissional certamente muito
melhor. Ganhei como cidadão, cresci como homem.
Agradeço a todos, pois me mostraram o caminho de como chegar ao meu
primeiro destino: ser um jornalista.
8
“É evidente que todos os jornais, pela
necessidade de sobrevivência, se
tornaram mercadorias. Os interesses
econômicos são centrais na definição
dos modos de ser dessa imprensa, mas
dizem respeito somente a uma das
faces do fenômeno. Além de serem
mercadorias, os jornais também
produzem sentidos, significações”.
MÁRCIA FRANZ AMARAL
9
RESUMO
MADRUGA, Alexandre. O crescimento do jornalismo popular e a retração do
sensacionalismo no Rio de Janeiro: um estudo de caso dos jornais Extra e Meia
Hora. Orientador: Profª. Ms. Vanessa Paiva. Rio de Janeiro: Unisuam, 2009. 74
páginas. Monografia. (Graduação em Comunicação Social).
No início de 2000 jornais populares alavancaram as tiragens de todos os jornais
do país. No Rio de Janeiro, Extra e Meia Hora lideram em vendas. No entanto, os
jornais que antes chegaram a dividir a liderança, sofreram uma mudança no início
de 2009. O tipo de jornalismo feito por cada jornal acabou por determinar aquele
que venderia mais ou menos. Com isso, uma queda acabou sendo constatada
dentro do jornalismo chamado sensacionalista, enquanto que o “popular” manteve
a liderança. O presente projeto fará um estudo de caso desses jornais e verificará
a mudança, ou não, em suas editorias e o modo de escolha na opção do que é ou
não é publicado, além da prioridade na escolha dessas editorias.
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................11
CAPÍTULO 1 O CRESCIMENTO DO JORNALISMO “POPULAR” E SUAS
RAMIFICAÇÕES PELO MUNDO .........................................................................13
1.1 Contexto Histórico do Jornalismo Popular.......................................................15
1.2 O movimento dos “populares” pelo mundo......................................................19
1.3 Jornalismo Popular, Sensacionalista e Fait Divers..........................................22
CAPÍTULO 2 – A IMPRENSA POPULAR NO BRASIL........................................27
2.1 O crescimento dos “populares” .......................................................................28
2.2 Os critérios-notícia nos jornais Extra e Meia Hora ..........................................31
CAPÍTULO 3 – UMA COMPARAÇÃO DA IMPRENSA POPULAR....................36
3.1 O Extra.............................................................................................................37
3.2 O Meia Hora.....................................................................................................47
3.3 O discurso dos jornais EXTRA e MEIA HORA................................................55
3.4 Ascensão, Desenvolvimento e Novos Números..............................................62
CONCLUSÃO........................................................................................................68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................72
11
INTRODUÇÃO
Durante os quase dez anos que antecederam esta pesquisa, notamos um
crescimento dos jornais impressos populares, que, com o tempo, assumiram a
frente das vendas entre os jornais no Rio de Janeiro. Inicialmente, falaríamos do
crescimento dessa imprensa popular. No entanto, desde o início de 2009, notou-
se uma queda no número de vendas de um dos jornais analisados, enquanto
outro se mantinha líder. Esse fato alterou nossa pesquisa, que prontamente
modificou seu foco para entender o motivo dessa separação (quando antes
apenas tentaríamos demonstrar o “crescimento de todos os populares”). Como
um deles caiu, a temática da pesquisa precisou ser refeita.
A mudança, necessária, acabou por evidenciar uma diferença dentro da
imprensa popular. Descobrimos, com isso, duas vertentes distintas dentro do
mesmo segmento. A partir disto, propomos um estudo detalhando desde o
surgimento dos populares, a chegada ao Brasil e um estudo de caso detalhado,
para melhor entendimento do que estava ocorrendo.
Em nosso primeiro capítulo fomos a fundo na história do jornalismo popular
e sensacionalista, descobrindo suas origens e desdobramentos pelo mundo,
caminhando juntos em alguns momentos e se separando em outros. Mas, antes
de qualquer coisa, procuramos explicar o que é o jornalismo, matéria prima para
tudo o que viria a seguir, com seus segmentos e caminhos. Europa, Estados
Unidos e, posteriormente, o Brasil, seriam o caminho do jornalismo que adveio da
literatura popular do velho mundo.
Na chegada do jornalismo ao Brasil, o início do sensacionalismo e a
tentativa de produzir um jornalismo popular. Ainda naquela época, essa diferença
12
era inexistente, que, por vezes, ambos caminhavam juntos. O crescimento dos
populares é mostrado através da elevação de índices de alfabetização e de
classes sociais, graças à situação financeira do país no início de 2000. A
mudança no pensamento desse público, os critérios adotados por essa imprensa
e a diferenciação entre eles servem para mostrar o quanto são diferentes os
jornais de referência, popular e sensacionalista.
Por fim, um estudo de caso dos jornais que justificaram essa pesquisa:
MEIA HORA e EXTRA, com suas editorias específicas. Uma comunicação
comparada entre os anos de 2007 e 2009, em ambos os jornais, apoiada por
apresentações gráficas, ajudam, inicialmente, a entender os motivos da oscilação
de vendas dos veículos em questão. Para enriquecer essa fundamentação, uma
breve análise no discurso dos jornais e a apresentação de todos os números que
embasaram essa pesquisa.
Tudo isso para tentar entender os motivos que separaram o jornalismo
popular do jornalismo dito sensacionalista e demonstrar a opção do público leitor
pelo segmento popular.
13
CAPÍTULO 1
O NASCIMENTO DO JORNALISMO “POPULAR”
E SUAS RAMIFICAÇÕES PELO MUNDO
Martín-Barbero (2008, p.246) afirma que a imprensa de referência é a
temática mais escolhida pelos pesquisadores mas, quando os estudos vão para a
parte sensacionalista, ou imprensa marrom (que, por enquanto, trataremos como
jornalismo popular, mas, no entanto, verificaremos mais adiante que existem
diferenças), o fazem quase que exclusivamente em termos de crescimento das
tiragens e da expansão publicitária.
No cenário brasileiro, consultar as vendas e constatar o crescimento
comercial de publicações populares é simples, baseando-se em dados
estatísticos, especificamente do Instituto Verificador de Circulação (IVC). Mas,
para muito além de meramente observar dados numéricos que analisam o
desempenho comercial dos principais periódicos do país, a pesquisa ora
desenvolvida também deseja entender a linguagem utilizada nos veículos ditos
“populares”, suas formas expressas, a tendência de saturação da linguagem
sensacionalista e a busca pelo jornalismo popular de qualidade, com uma
comparação entre os jornais populares cariocas EXTRA e MEIA HORA.
Não queremos ficar restritos a questões como a construção de um lead,
que responde apenas às perguntas básicas. Tentaremos identificar que público é
esse e por que lê, compra, fideliza-se. Essa constatação de alta demanda pelos
“populares” foi comprovada em 2000, quando o “Workshop de Jornais
Populares”, da quarta edição do Curso ster em Jornalismo para Editores,
14
concluiu que são um dos maiores fenômenos editoriais do país
1
. Mas, por que da
preferência? Quais os motivos que colocam os “populares” entre sete dos dez
jornais mais lidos do país?
2
Ou seja, as classes C, D e E passaram a ler mais jornal, seja pela
estabilidade econômica ou pelo valor dos periódicos. Conforme explica Amaral
(2004, p.19), os grandes grupos de comunicação perceberam que “servir o
cidadão passa a ser mais do que uma função social, torna-se também uma
atividade lucrativa”. Entende-se, então, que a notícia tem valor, financeiramente
falando mesmo. Mas, para se vender bem, precisa-se adequar a linguagem
editorial a essas classes.
Então, falaremos também aos (e dos) jornalistas e demonstraremos a
formulação da notícia no passado e no presente com o título e o lead, a busca
pela qualidade da informação e fuga do sensacionalismo. Comprovando a teoria
de Amaral (2004, p.14), onde afirma que “o fato de nos dirigirmos a um
determinado tipo de leitor não é uma estratégia do plano mercadológico, mas,
fundamentalmente, do plano comunicacional”.
Analisar essa comunicação será uma de nossas etapas, buscando
entender como os jornalistas se instrumentalizam para compreender a lógica dos
“populares”. Técnicas como “o povo fala” e o conceito dos Lugares de Fala serão
métodos demonstrados em nossa pesquisa. Ou seja, a informação é dirigida a
1 In: AMARAL, Marcia Franz. Jornalismo popular: desdém ou superexposição? Artigo publicado em
Comunicação & Cultura Midiática. Silveira, Ada. C. et. alii. Santa Maria: FACOS-UFSM, 2003. p. 97-116.
Apresentado no I Encontro da Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), reunido em
Brasília, nos dias 28 e 29 de novembro de 2003, com o título original "Imprensa e modos de endereçamento
ao leitor popular: do desdém à superexposição"; título e intertítulos da redação do OI. Disponível em
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=276DAC003. Publicado em 11/05/2004. Acesso
em 26/08/2009.
2 Dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC).
15
certo público, de certa maneira, oriunda de um suporte que o leitor se identifica,
que se vê, seja através da narrativa do cotidiano ou da necessidade retratada.
Ao fim, perceberemos que mesmo com essa divulgação do cotidiano
especificamente da violência, que ocupa espaços maiores com fotos e, por vezes,
lançando mão de recursos linguísticos que remetem ao exagero perceberemos
que essa linguagem sensacionalista começa a ficar menos aceitável, conforme
conceitua Lemos (apud AMARAL, 2004, p.18-19).
Constataremos também a queda de vendas do jornal MEIA HORA, assim
como a preocupação do jornal EXTRA em diferenciar-se entre os “populares”,
preocupando-se com um jornalismo popular destinado a um público que valoriza a
informação e, com isso, conseqüentemente, manteve um alto índice de leitores. O
desempenho mercadológico de ambos os jornais aqui destacados dialoga com a
observação por Marcia Franz Amaral, a seguir:
Conhecer o público é uma meta ausente nas aulas de graduação e nos
textos sobre jornalismo, em que o assunto da relação com o público é
imediatamente remetido ao campo do marketing. A ojeriza à submissão
mercadológica tem razões históricas importantes, como as distorções,
invenções, exageros e deslizes éticos cometidos em nome do aumento
das tiragens. Ela não pode fazer com que nós, jornalistas, localizemo-
nos no extremo oposto e desenvolvamos um sentimento que apaga do
horizonte a existência de um público leitor de jornais. Como quem lança
garrafas ao mar, muitas vezes escrevemos sem saber sobre nosso
destinatário. Queiramos ou não, todo jornal para tornar-se viável precisa
ser dirigido a um mercado de leitores (AMARAL, 2004, p. 13).
1.1 Contexto Histórico do Jornalismo Popular
Falar de jornalismo popular nos remete a uma primeira idéia: o que é
jornalismo? Para o dicionário Michaelis e Aurélio, a conceituação de jornalismo
quer dizer “imprensa periódica, profissão de jornalista e os jornais”.
Para Ciro Marcondes (apud Genro Filho, 1987, p.60), jornalismo é:
Propriamente dito a atividade que surge em um segundo momento da
produção empresarial de notícias, e que se caracteriza pelo uso do
veículo impresso para fins – além de econômicos, políticos e ideológicos.
16
Somente no momento em que a imprensa passa a funcionar como
instrumento de classe é que ela assume o seu caráter rigorosamente
jornalístico.
Para Genro Filho (1987), jornalismo é:
A modalidade de informação que surge sistematicamente destes meios
(rádio, TV etc.) para suprir certas necessidades histórico-sociais que (...)
expressam uma ambivalência entre a particularidade dos interesses
burgueses e a universidade do social em seu desenvolvimento histórico.
Já para a Publique Agência de Notícias, jornalismo é:
Atividade profissional que consiste em lidar com notícias, dados factuais
e divulgação de informações. Também define-se o jornalismo como a
prática de coletar, redigir, editar e publicar informações sobre eventos
atuais. Jornalismo é uma atividade de Comunicação.
3
A sinopse do livro “O que é o Jornalismo”, de Clóvis Rossi, da Coleção
Primeiros Passos (1995), cita o jornalismo como:
Uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus
alvos - leitores, telespectadores ou ouvintes. Uma batalha geralmente
sutil e que usa uma arma de aparência extremamente inofensiva - a
palavra, acrescida, no caso da televisão, de imagens.
Analisando estas breves definições, podemos perceber a combinação de
termos que nos remetem a uma reflexão: como se difere jornalismo de referência
e de jornalismo popular, se ambos estão voltados para o mesmo público, o leitor?
Para interpretar isto, talvez seja interessante, antes de tudo, recuar no tempo e
observar o início deste tipo de publicação, dito “popular”. Nossa aposta é que,
apenas a partir deste mapeamento histórico, será possível compreender o avanço
de tais periódicos no desenrolar da história do jornalismo.
A produção cultural para as classes populares advém do século XVII.
Falamos da passagem da literatura do oral para o escrito, do folclórico para o
popular, como o cordel, na Espanha, e o colportage
4
, na França. Para Martin-
3 Publique Agência de Notícias. Disponível em http://www.publiqueagenciadenoticias.com.br/home.php.
Acesso em 29/08/2009.
4 “Venda ambulante de impressos 'em papel', ou seja, não encadernados, contendo normalmente textos de
literatura popular ou de circulação clandestina. Os colporteurs começaram por ser, no século XV, agentes
dos primeiros impressores, encarregados de difundir as novas publicações pelas feiras da Europa. Consigo,
levavam panfletos publicitando títulos e casas impressoras. Quando a venda de impressos passou a ser
17
Barbero (2008, p.149), “essas literaturas inauguram outra função para a
linguagem: a daqueles que, sem saber escrever, sabem, contudo, ler. Escritura
portanto paradoxal, escritura com estrutura oral”.
Mas, como imaginar essas literaturas em papel? Na Espanha, criou-se o
pliego, uma ou mais folhas de papel dobradas, com impressão dos textos em
colunas. A divulgação era feita em cordel
5
nas praças. Daí se populariza o
acesso, saindo das bibliotecas para a busca dos leitores na rua. Começa a
popularização da informação. Nos pliegos, destacavam-se as idéias de
divulgação do seu conteúdo, na intenção de sua compra, como informa Martin-
Barbero (2008, p.151):
Apresenta uma feitura na qual o título é reclame e motivação,
publicidade; segue-se ao título um resumo que proporciona ao leitor as
chaves do argumento ou as utilidades a que se presta, e uma gravura
que explora já a “magia” da imagem.
Essa literatura voltada ao popular, com o exagero nas gravuras e títulos, já
seria, então, os primeiros sinais de sensacionalismo (MARTIN-BARBERO, 2008,
p.156).
Já na França, no início do séc. XVII, o resumo e a reescrição de romances,
contos de fadas, calendários, etc, selecionados por trabalhadores da gráfica de
uma família de livreiros-editores na cidade de Troyes, resultaria numa produção
assumida por livreiros estabelecidos, a literatura de colportage tornou-se exclusivamente um produto
econômico, vendido por cegos e mendigos, presumivelmente destinado a responder a um gosto popular:
constava de cartilhas, almanaques, calendários, estampas, orações, hagiografias, autos, novelas, relações,
gazetas… Com o movimento ideológico da Reforma, os colporteurs tiveram um papel importante, na
Alemanha sobretudo, ao divulgarem literatura panfletária protestante. Na França, durante todo o Antigo
Regime, estiveram associados à venda de textos heréticos ou contrários ao poder real. Em Portugal, vários
foram chamados a testemunhar junto da Inquisição por venderem textos não autorizados pela censura.
Quando a literatura popular se incorporou totalmente no mercado livreiro, os colporteurs tornaram-se apenas
gazeteiros; hoje, são cauteleiros”. Literatura de colportage. Disponível em
http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/C/colportage.htm. Acesso em 31/08/2009.
5 No Dicionário Aurélio: “s.m. Corda muito delgada; cordinha. // Bras. Literatura de cordel, o romanceiro
popular nordestino, que se distingue em dois grandes grupos: o da poesia improvisada, cantada nas
'cantorias', e o da poesia tradicional, de composição literária, contida em folhetos pobremente impressos e
vendidos a baixo preço nas feiras, esquinas e mercados do Nordeste”.
18
de livretos com baixo custo, voltado ao grande público. As páginas eram de papel
mais grosso e granulado, mal costurados e recobertos de uma folha azul, que
ficaria conhecido como “Bibliothèque Bleu” (MARTIN-BARBERO, 2008, p. 152).
Sendo assim, conforme conceitua Martin-Barbero (2008, p. 154), “nas
literaturas de cordel e colportage, estão as chaves para traçar o caminho que leva
do folclórico ao vulgar e daí ao popular”.
O jornalismo dito “popular” nasceu na Europa, no século XIX, quando,
graças à Revolução Industrial, milhares de pessoas tiveram que se deslocar para
a cidade em busca de trabalho. Com esse aumento de operários, os grandes
empresários da época tiveram que ampliar seu quadro de administradores,
capatazes e técnicos, que, por conta do cargo que exerciam, tinham que ser
alfabetizados. Com isso, os jornais antes voltados a burgueses e à vida social dos
aristocratas (desde 1609, quando os primeiros jornais começaram a circular),
mais adiante os periódicos teriam outro tipo de público, e com isso, um novo estilo
de matérias seria necessário.
Com isso, nascem os folhetins, em 1830, com seu conteúdo totalmente
voltado ao “popular”. Era a passagem definitiva da literatura para o jornalismo. “As
classes populares alcançam a literatura mediante a operação comercial que
fende o próprio ato de escrever e desloca a figura do escritor na direção da figura
do jornalista” (MARTIN-BARBERO, 2008, p. 177).
Os folhetins faziam parte dos jornais da época e tinham pouco espaço
ainda. Além de servirem para publicação dos episódios de romances populares
em sequência (com intuito da compra do próximo periódico para acompanhar a
continuação da história), sobrava-lhe o espaço do rodapé da capa do jornal, onde
19
estariam, também, temas como variedades, críticas, resenhas, receitas, além da
publicidade.
Com o crescimento da publicidade (anúncios por palavras) e o aumento
dos romances escritos, o espaço do folhetim nos jornais foi crescendo e, com
isso, os jornais começaram a pensar no “grande blico”, pensando no
barateamento dos custos, graças à evolução da tecnologia com o advento da
rotativa, nos idos de 1830. Com isso, as tiragens saltam de 1.100 páginas
impressas por hora para 18 mil (MARTIN-BARBERO, 2008, p. 177).
Ou seja, a combinação de durabilidade da informação com os romances e
o preço baixo, fizeram com que os folhetins se tornassem um sucesso “massivo”
e, por conseqüência, duradouro.
Entre a linguagem da notícia e a do folhetim mais de uma corrente
subterrânea que virá à tona ao se configurar aquela outra imprensa que,
para ser diferenciada da “séria”, chama-se sensacionalista ou popular
(MARTIN-BABERO, 2008, p. 188).
1.2 O movimento dos “populares” pelo mundo
A cultura do “popular” pelo mundo encontra nos dispositivos de
composição tipográfica sua principal marca. A começar pelas letras grandes,
claras e espacejadas, que tinham uma preocupação com o seu público leitor.
Leitores para os quais a leitura supõe um esforço, uma tensão maior do
que para outros leitores mais experientes, e que encontram nos brancos
do texto algum descanso, momentâneo mas confortável para a vista (...),
sendo leitores que não desfrutavam de condições de iluminação
adequadas (de dia ou de noite), e nestes casos uma tipologia de corpo
generoso ajuda muito. (J.-F. BROTEL apud MARTIN-BARBERO, 2008,
p. 185)
Como ainda não separamos o popular do sensacionalista, vamos seguir
uma cronologia, usando ambos os termos.
20
Os primeiros jornais na França aparecem entre 1560 e 1631, com os
jornais Nouvelles Ordinaire e Gazette de France, este muito parecido com os
jornais sensacionalistas de hoje, recheados de fait divers (cujo significado será
explicado no próximo subcapítulo) e eventos pitorescos sensacionalistas. No
entanto, antes desses jornais, existiam os occacionnels, que eram feitos em
brochuras.
Apesar da melhora da capacidade técnica e, com isso, da redução do
preço dos exemplares a partir de 1830 – foi a evolução política que fez com que o
número de leitores aumentasse. “A lei eleitoral francesa de 1831 dobrou o número
de deputados e a reforma inglesa, de 1832, deu entrada à pequena burguesia na
vida política” (AMARAL, 2004, p. 101). Ainda nesse século, surgem os populares
franceses de uma página, conhecidos como canards, que significa “conto absurdo
ou fato não verídico”. De fato, os primeiros jornais populares franceses aparecem
em 1836: La Presse e Le Siècle.
O primeiro jornal com características sensacionalistas nos EUA surgiu em
1690, e se chamava Publick Occurrences. O início do jornalismo popular (termo
que iremos esclarecer em nosso próximo subcapítulo) foi em 1833, com o The
New York Sun, com o slogan de um jornal que “brilha para todos”, direcionado
“aos mecânicos e às massas em geral”. Custava um centavo, que significava um
penny. Surge aí a expressão penny press.
(O jornal) continha anúncios publicitários e atendia um público leitor que
buscava informações ligadas ao seu cotidiano, relacionadas a dramas de
pessoas comuns, polícia e o dia-a-dia nos parlamentos. Não se utilizava
do folhetim, mas buscava o relato detalhado de feitos reais, crimes,
dramas de família e narrações de interesse humano. Relatava
extensamente os episódios sensacionais para assegurar a fidelidade do
público (AMARAL, 2004, p. 101).
21
As altas vendas em jornais “populares” chegam ao mercado norte-
americano em 1883, com o Morning Journal e o New York Word, cujos
proprietários eram, respectivamente, Willian Randolph Hearst e Joseph Pulitzer.
Ambos tinham preços baixos e publicavam dramas ilustrados com títulos
chamativos. Os jornais utilizavam manchetes escandalosas em corpo
tipográfico largo; publicavam notícias sem importância, informações
distorcidas, provocavam fraudes de todos os tipos, como falsas
entrevistas e histórias, e também quadrinhos coloridos e artigos
superficiais. Promoviam premiações e sorteios. Os repórteres estavam “a
serviço” do consumidor e faziam campanhas contra os abusos sofridos
pelas pessoas comuns, numa mistura de assistência social e produção
de histórias interessantes. Hearst e Pulitzer lutaram com todos os meios
para expandir suas circulações e voltaram-se para truques
sensacionalistas, protagonizando uma guerra comercial entre os jornais.
(AMARAL, 2008, p. 18)
Para o professor de Pós-Graduação em Comunicação da PUC-Rio, Leonel
Azevedo de Aguiar, diversos autores como Lage (2004), Traquina (2005), Kovach
e Rosenstiel (2004) explicam o motivo dessa “linha editorial”.
Os jornais sensacionalistas funcionaram como um dispositivo de
socialização para agregar a sociedade norte-americana, tanto os negros
libertos quanto os migrantes europeus. Para possibilitar essa
sociabilidade, a imprensa investe em estratégias de comunicação
capazes de fascinar um público com baixo nível de alfabetização ou que
domina rudimentarmente o inglês. Uma dessas estratégias
comunicacionais, visando não facilitar a leitura da notícia, mas,
principalmente, atrair e fixar a atenção do leitor, foi a técnica do lead e da
pirâmide invertida, utilizada pela primeira vez no The New York Times,
em abril de 1861, e logo apropriada pelos jornais sensacionalistas.
6
Em 1887 surge o New York Herald, de James Gordon Bennet, utilizando
histórias de todos os tipos, como divórcios, estupros, assassinatos e fofocas.
Esse e outros jornais receberam o sugestivo conceito de “lepra moral”. Alguns
anos depois, em 1895, Hearst, do Mourning Jornal, compra o New York
Journal, que dá preferência a escândalos e sexo.
6 Trabalho apresentado no GP Teorias do Jornalismo do IX Encontro dos Grupos / Núcleos de Pesquisa em
Comunicação, evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom
Curitiba 2009). Informar ou Entreter: questões sobre a importância e o interesse das notícias. AGUIAR,
Leonel Azevedo de. PUC-Rio.
22
Pressionada devido aos exageros pela burguesia americana, a imprensa
sensacionalista veio a reaparecer, com destaque, em 1919, com o tablóide
Illustrated Daily News, que chegou à casa do milhão em número de eleitores. As
características inovadoras do jornal eram influenciadas pelo cinema, e continha
muitas fotos e dramas.
Em tempo: o sucesso de Pulitzer, marcando o início do jornalismo
sensacionalista, inspirou esse húngaro naturalizado norte-americano a criar o
prêmio mais respeitado do jornalismo dos Estados Unidos, em 1917. Esse
imigrante europeu defendeu o ensino do jornalismo nas academias e, para isso,
ajudou financeiramente a Universidade de Columbia a criar a primeira escola de
jornalismo do mundo. No entanto, entre a oferta (1892) e a criação (1912),
Missouri acabou por ser a pioneira.
Pulitzer inovou o jornalismo popular com o uso da manchete principal em
vermelho, além de ilustrações e quadrinhos. Inclusive, a expressão “jornalismo
amarelo” vem do New York Word, graças a um personagem das histórias em
quadrinhos que vestia camisola amarela.
No Brasil, o “amarelo” se tornaria “marrom”. Mas outras explicações
para esse termo em terras tupiniquins. Mas isso vamos ver em nosso próximo
capítulo.
1.3 Jornalismo Popular, Sensacionalista e Fait Divers
Para completar o entendimento dos tipos de jornalismo, uma vez que
contextualizamos o jornalismo em si e o surgimento da linguagem “dita” popular
através dos folhetins, vamos entender as ramificações do jornalismo nos jornais
impressos.
23
Enquanto nos folhetins o romance era a informação, nos fait divers a
relação é inversa. Enquanto os folhetins fazem uma ficção baseada na realidade,
os fait divers contam a realidade com recursos dramáticos. Para Meyer (apud
AMARAL, 2004, p.113), “o fait divers é irmão xifópago do romance de jornal, um
subproduto imediato da matriz folhetinesca, um relato romanceado do real”.
Incorporar o popular no impresso é uma forma de fazer o leitor identificar-se no
jornal (e, consequentemente, comprá-lo), ferramenta tanto do folhetim como do
fait divers.
Por intermédio de dispositivos de reconhecimento de um leitor imerso na
cultura oral, da fragmentação da leitura, da organização em episódios,
do suspense, do relato, da experiência da violência e da luta pela
sobrevivência e, por último, um que nos interessa particularmente: da
identificação do leitor com os personagens (MARTIN-BABERO apud
AMARAL, 2004, p.114).
Já para Angrimani (apud AMARAL, 2004, p.100):
O Grande Dicionário Universal do Século XIX, de Pierre Larousse,
definia fait divers como uma rubrica sob a qual os jornais publicam, com
ilustrações, as notícias de gêneros diversos que ocorrem no mundo:
pequenos escândalos, acidentes de carro, crimes, suicídios de amor,
chuvas torrenciais, tempestades de gafanhotos, gêmeos xipófagos.
Alguns autores lembram que os fait divers eram relatados em canções,
por trovadores populares durante a Idade Média, antes de se tornarem
objeto dos occasionnels e, posteriormente, dos canards. (...) Os jornais
passam a editar semanalmente cadernos ilustrados de fait divers,
“cozinhando” os relatos que tinham sido publicados anteriormente pelos
canards.
Da dramatização da informação nos fait divers ao jornalismo
sensacionalista, o caminho percorrido parece pequeno, mas não é, conforme
Marcondes Filho conceitua:
(...) vende-se nas manchetes aquilo que a informação interna não irá
desenvolver. (...) As notícias da imprensa sensacionalista
sentimentalizam as questões sociais, criam penalização no lugar de
descontentamento e constituem-se num mecanismo reducionista que
particulariza os fenômenos sociais (apud AMARAL, 2006, p.20-21).
24
No entanto, cabe uma questão ao termo sensacionalismo. O jornalista
Alberto Dines afirmou, em palestra ministrada na Semana de Estudos da Escola
de Comunicações da Universidade de São Paulo (ECO-USP), que toda a
imprensa utiliza-se do recurso sensacionalista e que subdivisões dentro do
termo:
O próprio lead é um recurso desse tipo, por sublinhar os elementos mais
palpitantes da história para seduzir o leitor. (...) O sensacionalismo
(divide-se) em três grupos: o sensacionalismo gráfico, o sensacionalismo
linguístico e o sensacionalismo temático. O gráfico ocorre quando
uma desproporção entre a importância do fato e a ênfase visual; o
linguístico é baseado no uso de determinadas palavras; e o temático
caracteriza-se pela procura de emoções e sensações sem considerar a
responsabilidade social da matéria jornalística (apud AMARAL, 2006,
p.20).
É o mesmo pensamento de AMARAL (2006, p.20), que afirma que “todo
jornal é sensacionalista, pois busca prender o leitor para ser lido e,
conseqüentemente, alcançar boa tiragem”.
Indo do sensacionalismo ao popular, percebe-se o quanto são pequenas as
diferenças entre sedução do leitor e responsabilidade pública. Esse jornalismo
popular tem procurado se diferenciar do sensacionalismo, tentando aproximar-se
do leitor através da divulgação de prestação de serviços e entretenimento. A
cobertura de fatos jornalísticos ganha mais importância, não tanto quanto nos
moldes do jornalismo de referência, como conceitua AMARAL:
Jornalismo popular é jornalismo com os mesmos fundamentos dos
jornais de referência, apenas com uma mudança de linguagem, mais
simples e didática. (...) Privilegia a cobertura de esporte, polícia, lazer
(fofocas) e serviço, temas que o diferenciam dos jornais de referência
(2006, p.37).
Do popular ao de referência, então, fica uma questão: quando os jornais
mais vendidos há anos são populares (pensando em Rio de Janeiro, uma vez que
o Extra é o mais vendido
7
), quem seria esta referência nos dias de hoje? Antes de
7 Dados do Instituto Verificador de Circulação, junho de 2009.
25
1990, a realidade jornalística impressa imputou ao O Globo e Jornal do Brasil
essa noção de “referência”. E hoje, quando um popular é o mais vendido no Rio, e
talvez, no Brasil? Essa resposta seria uma quebra de paradigma.
A imprensa de anos atrás conseguiu o status de “referência” devido ao
trabalho realizado por muitos anos, sem a mesma tecnologia disponível nos dias
de hoje. Então, outra questão: quanto tempo seria suficiente, devido à evolução
tecnológica atual, para uma imprensa popular de qualidade tornar-se “de
referência”, uma vez que essa mídia mantém a maior fatia do mercado por anos?
No caso do jornal Extra, sua liderança dura desde outubro de 2000.
Outro pensamento: um jornal voltado às massas, ou seja, consumido pela
maioria, deveria ser considerado “referência”, se entendermos que a referência é
o ponto de vista da maioria? No entendimento de hoje, de acordo com a jornalista
e professora Maria da Consolação Resende Guedes, do Curso de Comunicação
Social da Faculdade de Pitágoras (Betim/MG), “as características fundamentais
do jornal de referência são: uso da linguagem abstrata e conceitual, discurso
baseado na verdade, na credibilidade e objetividade”.
8
Pensando em credibilidade (que certamente é baseada na objetividade e
verdade), o que seria mais crível do que receber prêmios por reportagens? E os
jornais “populares” também ganham prêmios.
Exemplo de enfoques inovadores de como é possível tornar,
simultaneamente, as notícias importantes é a prática editorial que esteve
sendo adotada pelo jornal O Dia, principalmente entre 1989 e 2005,
período em que recebeu diversas premiações pela qualidade jornalística
de suas reportagens. Como não é considerado modelo de referência, O
Dia sempre foi discriminado por determinados segmentos sociais como
um jornal sensacionalista ou de baixo nível cultural, apesar de ter
estado entre os mais vendidos do país e ter sido premiado pela
8 Trabalho apresentado no GP Teorias do Jornalismo, do IX Encontro dos Grupos / Núcleos de Pesquisa em
Comunicação, evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom
Curitiba 2009). Jornalismo popular-massivo: quem é o leitor do Super Notícia. GUEDES, Maria da
Consolação Resende. Mestranda do curso de Mídias Interativas da PUC/MG.
26
publicação de reportagens relevantes dos pontos de vista jornalístico e
social. (AGUIAR, 2009)
9
Então, pensar na imprensa de qualidade em si, e imaginar uma mudança
do conceito “de referência” para algumas delas, certamente dependerá de uma
série de condições, que não a “linguagem puramente abstrata e conceitual”,
mas em outras situações que qualifiquem o todo do trabalho. No entanto, esta
não é a temática discutida na presente pesquisa. Fica para outrem a iniciativa de
debater essa questão. Enquanto isso será mantida a conceituação de “referência”
baseada na citação de Guedes, acima descrita.
Neste capítulo vimos todo o contexto histórico dos jornais populares,
advindo dos folhetins, e os vários tipos de jornalismo. A finalidade disso tudo foi
mostrar as diferenças, por vezes sutis, mas agora claras. Os jornais e o
jornalismo vieram se adaptando a suas massas tentando, a todo custo, angariar
mais audiência, mais leitores.
Entendida essa contextualização, voltemos nossos olhares ao mercado
brasileiro, e como o jornalismo popular e sensacionalista cresceram e estão juntos
(no que diz respeito ao público-alvo), mas separados quanto à opção de leitura da
maioria dos leitores.
9 Trabalho apresentado no GP Teorias do Jornalismo do IX Encontro dos Grupos / Núcleos de Pesquisa em
Comunicação, evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom
Curitiba 2009). Informar ou Entreter: questões sobre a importância e o interesse das notícias. AGUIAR,
Leonel Azevedo de. PUC-Rio.
27
CAPÍTULO 2
A IMPRENSA POPULAR NO BRASIL
O termo “sensacionalista” começou a ter destaque nas palestras da
Semana de Estudos de Comunicações e Artes da Universidade de o Paulo
(ECO-USP), que aconteceram em 1969. Artigos do jornalista Brito Broca e do
escritor Afonso Lima Barreto destacaram as inovações da imprensa brasileira e
fizeram uma comparação entre jornais do início do século XX.
Historicamente, o sensacionalismo brasileiro começou em 1910, com
pequenas notas em grandes publicações da época. Os jornais diários destinados
ao popular somente viriam a surgir no início da década de 1920, com o sucesso
em vendas fruto da divulgação de tragédias e sensações. Destaque para a Folha
da Noite, primeiro jornal publicado pela Empresa Folha da Manhã (hoje Folha de
São Paulo), que circulou de 1921 a 1959, e que atraía leitores das classes médias
urbanas da cidade de São Paulo.
Outros jornais que se destacaram (no passado mesmo, pois encerraram
suas atividades) entre o público popular foram o Última Hora (Rio de Janeiro,
1951-1964), Luta Democrática (Rio de Janeiro, 1954-1979) e Notícias Populares
(São Paulo, 1963-2001). Destacamos, atualmente, os jornais Agora São Paulo,
Extra (RJ), Folha de Pernambuco (PE), Primeira Hora (MS), Notícias Agora (ES),
Expresso Popular (SP), Diário Gaúcho (RS), O Dia (RJ), Tribuna do Paraná,
Jornal da Tarde (SP), Diário do Litoral (SC) e Diário de São Paulo, Super Notícia
(MG), Aqui! (MG), Meia Hora (RJ) e Expresso da Informação (RJ).
10
1
0
Somente destacamos jornais que constam no IVC – Instituto Verificador de Circulação.
28
Graças a alguns desses veículos, os termos “espreme que sai sangue” e
“jornalismo marrom” ficaram conhecidos. Enquanto o primeiro termo remete à
idéia de divulgação de informações sobre cadáveres e à ampla exposição da
violência, o segundo termo possui conceituações de origens diversas.
Como vimos no capítulo anterior, inicialmente o termo “marrom” era
conhecido nos EUA como “amarelo”, devido à publicação no jornal New York
Word de uma história em quadrinhos, chamada “Hogan´s Alley”, desenhada em
cores por Outcault. A história retratava um menino desdentado, sorridente,
orelhudo e vestido com camisola amarela, onde vinham escritas suas falas (e não
em balões como são escritos hoje em dia).
No Brasil, o “marrom” tem várias explicações. A expressão foi publicada,
em primeira mão, no jornal Diário da Noite (RJ), em 1960.
(Alberto) Dines, repórter do jornal na época, soube que alguém havia se
matado por ter sido chantageado por uma revista de escândalos e fez
uma manchete mencionando que a imprensa amarela havia levado um
cineasta ao suicídio. Calazans Fernandes, chefe de reportagem, teria
alterado a manchete: trocou a expressão “imprensa amarela” por
“imprensa marrom”, relacionando o marrom à 'cor de merda'. (AMARAL,
2006, p.19)
para Angrimani (1995, p.22), o termo “marrom” aparece na França, no
início do século XIX.
Segundo o Dictionnaire des Expressions et Loccutions Roberts, a origem
possível do termo marrom teria sido uma apropriação do adjetivo
cimarrom, que se aplicava na metade do século XVII aos escravos
fugidos em situação ilegal. De acordo com a Enciclopédia Larousse,
tratava-se de um adjetivo aplicado a pessoas que exercem uma
profissão em condição irregular, “médicin marron”, “avocat marron”. A
expressão “imprensa marrom” ainda é amplamente utilizada quando se
deseja lançar suspeita sobre a credibilidade de uma publicação.
2.1 O crescimento dos “populares”
Expressões à parte, o crescimento dos jornais destinados ao público C, D e
E começa entre 1996 e 2000, após o lançamento do Plano Real. As vendas
29
passam de 6,4 milhões para 7,8 milhões de exemplares por dia, um crescimento
no mercado de 11% (1996) para 17% (2000). Na mesma época, os jornais de
referência caem de 25% para 20%
11
. Ou seja, a estabilidade econômica coloca no
mercado um público que antes não podia comprar jornal, e que, naquele
momento, torna-se acessível a periódicos que custam de R$ 0,25 a R$ 1.
Anos mais tarde, observa-se um aumento da classe C (ver gráfico abaixo),
e, com isso, um aumento na qualidade de vida, segundo o diretor-executivo de
Marketing, Parcerias e Novos Negócios da Cetelem Brasil, Franck Vignard-
Rosez
12
. Segundo ele, o resultado mostra a tendência de um consumidor mais
exigente na hora de comprar produtos e serviços. “Antes, a pessoa queria apenas
uma TV. Hoje, ela quer uma TV de tela plana”.
FONTE: Pesquisa Cetelem/Ipsos
1
1
Dados da consultoria McKinsey & Co., apresentado no Congresso da Associação Nacional de Jornais
(ANJ) em 2001.
1
2
Classe C agora tem mais brasileiros que classes D/E, diz pesquisa. Disponível em http://g1.globo.com/
Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL364370-9356,00-
CLASSE+C+AGORA+TEM+MAIS+BRASILEIROS+QUE+CLASSES+DE+DIZ+PESQUISA.html.
Publicado em 26/03/2008. Acesso em 12/10/2009.
30
Outro índice que pode ter ajudado o crescimento dos jornais voltados ao
público popular foi a queda da taxa de analfabetismo, desde o fim da década de
90. A Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios 2003 (PNAD) do IBGE
mostra um analfabetismo de 11,6%, uma queda de 32% desde 1992, quando a
taxa era de 17,2% (ver gráfico abaixo).
Antes voltados a interesses políticos (como o Última Hora) ou unicamente à
utilização de recursos sensacionalistas (como o Notícias Populares), os jornais
voltados ao grande público de hoje em dia optam pela aproximação do leitor com
a prestação de serviços e de entretenimento. Com o crescimento de um blico
com menos poder aquisitivo, mas ainda com pouco hábito de leitura, os
“populares e sensacionalistas” adotam políticas de marketing e editoriais
específicas, como promoções (sorteios e brindes), venda avulsa (bancas,
jornaleiros e pontos de venda), textos curtos (fácil interpretação e leiturabilidade)
e poucas páginas (deixando o custo de impressão barato), com mais ênfase no
cotidiano, mazelas, violência e esportes.
31
2.2 Os critérios-notícia nos jornais Extra e Meia Hora
Esses critérios-notícia, de acordo com AMARAL (2006), dentro da
imprensa popular (que, aqui, vamos considerar que também abrange o
sensacional), terá uma maior probabilidade de ser noticiado se:
possuir capacidade de entretenimento;
for próximo geográfica ou culturalmente do leitor;
puder ser simplificado;
puder ser narrado dramaticamente;
tiver identificação dos personagens com os leitores (personalização) e for
útil.
No entanto, um tema é recorrente nos jornais de referência, popular e
sensacionalista: o futebol. Mas, como vamos ver abaixo nas edições do dia
15/10/2009, cada um trata a notícia de uma forma. A notícia em questão é a
classificação da Argentina na última rodada das Eliminatórias para a Copa do
Mundo da África do Sul, em 2010. Cada jornal optou por destacar uma parte
específica da matéria. No entanto, observamos algo comum a todos: a foto do
técnico da Argentina, Diego Maradona, comemorando a classificação de sua
equipe.
32
O GLOBO: “No dia da festa do Brasil, a Argentina comemora mais”
Jornal de referência, O GLOBO optou pela comparação das festas pela
classificação. A matéria ocupa o espaço superior da página. A matéria na capa
contém um breve lead, uma charge, além do complemento da informação (em
forma de quadro gráfico) com a relação dos países classificados para a Copa
do Mundo de 2010.
EXTRA: “Maradona põe Argentina na Copa e xinga imprensa”
33
Jornal popular, o EXTRA deu um pequeno destaque ao fato em sua capa,
usando o lado esquerdo da capa com manchete e pequeno lead inserido dentro
da foto. Houve uma clara opção em destacar o xingamento feito por Maradona à
imprensa, conforme destaca em sua manchete. A chamada ficou restrita apenas
aos resultados das partidas do Brasil e da Argentina.
MEIA HORA: “Na Copa a gente seca melhor, Maradona”
Jornal sensacionalista, o MEIA HORA prefere mostrar em sua manchete
que o brasileiro não queria a Argentina na Copa, utilizando de recurso gráfico
para aumentar essa afirmação: a foto de um personagem da televisão, o Zeca
Pimenteira, do programa humorístico “Zorra Total”, da Rede Globo. O referido
personagem ficou famoso por colocar “olho gordo” nas coisas alheias, ou seja, no
termo popular, “secar”. O resultado do jogo do Brasil fica restrito a uma pequena
tarja, em verde e amarelo, logo abaixo. Detalhe: a capa não informa em quais
páginas estão essas matérias.
Agora, vamos identificar nas capas dos jornais EXTRA e MEIA HORA os
critérios-notícias, de acordo com AMARAL (2006).
34
JORNAL EXTRA
(i) Entretenimento:
“Tony Tornado, o grandalhão que é um doce”
(ii) Proximidade geográfica ou cultural com o leitor:
“Mais um atraso em dia de entrega de trem novo”; “Perícia confirma que grávida
sofre agressão” (caso envolvendo goleiro do Flamengo, equipe carioca)
(iii) Narração dramática:
“Sonhar é...”
(iv) Utilidade:
“Receita Federal vai liberar restituição do IR até o fim do ano”; “Servidor do Rio
terá 6,38% de aumento, mas em dezembro”; “Baixada terá novo feirão com 5
mil imóveis”; “Enem: UFF não vai usar notas do provão” e “Casa da Moeda abre
concurso: são 1.459 vagas”
35
JORNAL MEIA HORA
(i) Entretenimento:
“Sem mover as pernas, ex-BBB Fernando anda a cavalo”
(ii) Proximidade geográfica ou cultural com o leitor:
“Bruno (goleiro do Flamengo, equipe do Rio de Janeiro) vai ter que se explicar na
DP”
(iii) Narração dramática:
“Maré cheia de corpos”; “Superladrão de carros na gaiola”
(iv) Identificação dos personagens com os leitores (personalização):
“Na Copa a gente seca melhor, Maradona”
Estudando apenas a edição de um dia dos jornais voltados para o grande
público, percebe-se que EXTRA e MEIA HORA optam pela prioridade em alguns
critérios-notícias de AMARAL (2006). Aqui, aparece de forma clara a prioridade do
36
popular (EXTRA) pelo serviço e utilidade pública, enquanto o sensacionalista
(MEIA HORA) prefere a narração dramática, o entretenimento e a fofoca.
No nosso próximo capítulo poderemos acompanhar mais detalhadamente
esses perfis, comparando, explicando suas linguagens e mudanças ocorridas no
último ano.
37
CAPÍTULO 3
UMA COMPARAÇÃO DA IMPRENSA POPULAR
Para começar a análise dos jornais propostos, primeiramente faremos uma
comparação entre o EXTRA e o MEIA HORA nos períodos de 2007, 2008 e 2009,
de segunda a sexta-feira, de um mês especificamente. Optamos por jornais
publicados durante a semana para analisarmos o conteúdo das capas em dias em
que as editorias ficam mais sujeitas ao factual, incluindo também a editoria
esportiva.
Neste primeiro momento, relacionaremos as manchetes com seus
subtítulos (quando houver), na ordem de leitura normal, ou seja, de cima para
baixo, da esquerda para direita. Não destacaremos aquela manchete que teve
letras garrafais ou fotos de grandes proporções. Nossa intenção é mostrar quais
notícias foram escolhidas para estar nas capas e que, com isso, são responsáveis
pela compra dos jornais pelos leitores.
Separemos as manchetes por editorias. Os jornais estudados tratam
assuntos ligados à violência (como assaltos e acidentes) e fatos do cotidiano
(como atriz que esmola) como editoria GERAL. Aqui tentaremos desmembrar
esse GERAL. Então, relacionamos as editorias em:
(i) Polícia (violência, assaltos);
(ii) Entretenimento (fatos envolvendo artistas/celebridades que não sejam
relacionados à editoria “Polícia”. Exemplo: “Luciana leva os R$ 500 do No
Limite”);
(iii) Cidade (Exemplo: “Ex-refém adia volta ao trabalho”; “Horário de verão
começa já no dia 18”; “MEC vai criar feriado para a prova do ENEM”);
38
(iv) Economia
(v) Esporte
(vi) Ciência e tecnologia
(vii) Cultura (cinema, música, teatro e TV)
(viii) Turismo
(ix) Moda
(x) Política
(xi) Internacional
3.1 O EXTRA
Começaremos pelo jornal EXTRA, com as edições do período de
01/10/2007 a 05/10/2007 e 28/09/2009 a 03/10/2009. Entre parênteses, após as
manchetes, a identificação da respectiva editoria:
01/10/2007 (segunda-feira) 28/09/2009 (segunda-feira)
Menina desabafa no Orkut: “Eu não matei meu
pai, na escola eu te explico”
(i)
Flu vence mas não sai da lanterna. Fla empata no
Sul e Botafogo apanha
(v)
Botafoguense revoltada escreve sua manchete:
(foto de torcedora com cartaz, dizendo: “Vocês
são a maior vergonha da história do fogão”)
(v)
Refém quer ajudar mãe de bandido. “Ele também é
vítima”, diz marido de Ana Cristina. Família ajuda
crianças para afastá-las do crime.
(i)
Mônica Veloso nua na capa da Revista Playboy.
Ela faz uma revelação: “Tem coração no cofrinho”
(ii)
PM é espancado após baile funk na Cidade de
Deus. Secretário de segurança ameaça proibir
bailes na favela, que tem uma Unidade Pacificadora
(i)
Brasil é vice e jogadoras pedem ajuda
(v)
Confira 3.500 vagas de trabalho
(iv)
Sessão Extra: Em “Duas Caras” não é mole nem
na novela
(vii)
Luciana leva os R$ 500 mil do “No Limite”
(ii)
Ministro lamenta hospital fechado
(iii)
Sessão Extra: Lázaro Ramos será o novo Roque
Santeiro
(vii)
Fogo atinge sete andares na sede da UERJ
(iii)
Pai de Isabela Nardoni vai alegar acidente
(i)
Secretário diz que Polinter é indecente
(i)
Fim da redução do IPI dos carros exige cuidados
(iv)
39
O que se constatou nas edições de segunda-feira é a prioridade pela
editoria esportiva, sempre estando entre as primeiras opções na capa. A opção
pelos clubes do Rio de Janeiro é para atingir seu público leitor: o carioca. Essa
opção percorre os jornais populares, a opção pela sua “freguesia”, ou seja, por
sua área de abrangência e atuação. Assim desmembramos as editorias:
EDITORIA 01/10/2007
(segunda-feira)
28/09/2009
(segunda-feira)
Polícia 02 02
Entretenimento 01 01
Cidade 02 00
Economia 00 01
Esporte 02 01
Cultura 01 01
Por quantidade, em ambas as segundas-feiras a maioria das manchetes
opta pela violência, mostrando que essa é a prioridade na escolha das matérias e
em sua localização entre as primeiras manchetes. No caso, o que vende a edição
é a violência que envolve morte ou fatos policiais. Apesar de “Esporte” ser a
chamada em maior tamanho, a violência não saiu da capa. Em 2009, uma
mudança é notada: a editoria “Economia” começa a aparecer, quando antes
sequer era citada. A questão do “bolso do cidadão”, seja nas compras ou no
emprego, começa a ter espaço.
40
02/10/2007 (terça-feira) 29/09/2009 (terça-feira)
Menina muda versão e diz que tentou se matar
(i)
Grazi, generosa, dá esmola de R$ 50
(ii)
Luciano Huck é assaltado em SP, e desabafa:
“Chamem a Tropa de Elite”. Apresentador diz
que não morreu por pouco
(i)
Mascote Cidadão. (boneco João Buracão
torcendo pelas Olimpíadas no Rio em 2016)
(iii)
Dona do Outback morre em acidente de táxi. A
empresária estava no carro que bateu de frente
com ônibus na Niemeyer, o taxista também
morreu
(i)
Greve de banco obriga aposentado a receber
salário em caixas 24h
(iii)
Presa mãe que jogou bebê no rio
(i)
Atriz Claudia Alencar é vítima de assalto em rua
de Botafogo
(i)
Nova meta do Fogão é não ser rebaixado
(v)
Franquias oferecem mil oportunidades no estado
(iv)
Sessão Extra: O grande medo de Suzana
Vieira
(vii)
Chance de queda já chega a 99%
(v)
Belo agora quer boicotar Viviane Araújo
(ii)
Vascão enfrenta o Figueirense e pode disparar
(v)
Bancários vão decidir hoje se fazem greve
(iii)
Prefeitura inicia cassação de três empresas de
ônibus. Todas atuam na Zona Oeste. Decisão
acontece depois de justiça lacrar garagem de
uma delas
(iii)
Brasileiro gasta mais no salão do que com
comida
(iv)
IPI zerado deve ser mantido
(iv)
Médicos lutam na justiça para atuar em Acari
(iii)
Ex-refém adia volta ao trabalho em farmácia
(iii)
Shopping de São Gonçalo abre 600 vagas
(iv)
Autônomos têm débito indevido
(iii)
A editoria “Polícia” ainda é a primeira opção nas partes superiores da capa
em 2007. Essa tendência muda dois anos depois, quando fatos das editorias
“Cidade” e “Entretenimento” passam a ter prioridade. O assalto à atriz Claudia
Alencar, em 2009, ganha destaque, mas não domina a manchete.
41
EDITORIA
02/10/2007
(terça-feira)
29/09/2009
(terça-feira)
Polícia 04 01
Entretenimento 01 01
Cidade 02 05
Economia 01 03
Esporte 01 02
Cultura 01 00
Por quantidade, nas terças-feiras de 2007 a editoria “Polícia” continua
sendo a prioridade, inclusive no posicionamento entre as primeiras manchetes.
Fatos da cidade vêm em segundo lugar. em 2009, “Cidade” e “Economia”
passam a dominar a capa. “Polícia” fica com apenas uma citação.
42
03/10/2007 (quarta-feira) 30/09/2009 (quarta-feira)
Postos do INSS têm novos horários de
atendimento. Objetivo da presidência é diminuir
as filas de segurados pela manhã. Confira as
alterações
(iii)
Luma tem uma nora à sua altura
(ii)
Mônica Veloso diz que não é Bebel
(ii)
Marcos Palmeira no meio do povo
(ii)
Sessão Extra: Zeca, Jammil e Revelação no
show da 98
(vii)
Bandidos voltam a sequestrar ônibus lotado na
Linha Amarela. Via Expressa virou terra de
ninguém. PM só chega a tempo de evitar
incêndio em veículo
(i)
Estado não prevê aumento para os servidores
em 2008. A proposta de orçamento enviada a
ALERJ na semana passada não estabelece
reajuste salarial para o funcionalismo público
(iv)
Nova América abre mil vagas
(iv)
Bando preso fez mais de 2 mil assaltos. Idoso
morre com tiro na nuca, em saidinha de banco
no Centro
(i)
Rede de lojas vai contratar 200 deficientes
(iv)
Botafogo vira as costas para a crise em
Curitiba
(v)
Mascote cidadão número 1
(iii)
Chefão de Acari tinha paiol sob o piso do
banheiro
(i)
Vasco cai e é vaiado em casa
(v)
Patrões propõem reajustes de 8% do mínimo
(iv)
Secretário diz que Grazi errou ao dar esmola
(iii)
Baixada ganha mais de 19 linhas de ônibus-
metrô
(iii)
Prefeitura promete instalar contadores nos sinais.
Temporizados à mostra para os motoristas nos
cruzamentos pode representar o fim do golpe do
amarelo
(iii)
Morre o ator Castro Gonzaga
(iii)
Horário de Verão começa já no dia 18
(iii)
PM contradiz menina que matou o pai
(i)
Comissão da Câmara aprova fim dos feriadões
(x)
Concorrência das mototáxis assusta ônibus
(iii)
Agile, a nova aposta da GM
(iv)
Uma diferença é notada na opção pela violência na parte superior da capa.
Enquanto a violência contra um idoso (ou seja, uma única pessoa) ocupa a quarta
posição na prioridade de manchete em 2007, a tendência muda em 2009, quando
a violência contra um ônibus lotado tem mais destaque, ocupando a segunda
opção. Ou seja, uma opção de “quanto mais atinge” mais se dá destaque.
43
EDITORIA
03/10/2007
(quarta-feira)
30/09/2009
(quarta-feira)
Polícia 03 01
Entretenimento 01 02
Cidade 04 04
Economia 02 04
Esporte 01 01
Cultura 01 00
Política 01 00
Por quantidade, nas quartas-feiras de 2007 “Cidade” começa a ganhar
mais destaque, mesmo com a violência ainda sendo um tema muito recorrente.
Uma mudança é o começo da utilização da editoria “Economia”. Uma mescla de
opções passa a ser utilizada. Além do “Esporte”, que costumeiramente aparece,
outras editorias como “Entretenimento” e “Política” dividem espaço na capa. Em
2009, a opção por “Economia” e “Cidade” prevalecem e se sobrepõem a assuntos
ligados à violência. “Esporte” não sai de cena, mas “Cultura” e “Política” não
aparecem nessa edição.
44
04/10/2007 (quinta-feira) 01/10/2009 (quinta-feira)
Fabio Baiano derruba o Vasco em São Januário
(v)
Comércio abre 800 vagas para contratação imediata.
Lojas americanas têm 200 oportunidades sem precisar
comprovar experiência. Shopping em Botafogo recruta
(iv)
Fla pega o SP hoje com o Maraca lotado
(v)
Ronaldo pede na Justiça redução da pensão de
Ronald. A ex, Milene Domingues, reage: ‘Foi uma
situação constrangedora’
(ii)
Giselle Itié sofre traumatismo craniano após queda
no gelo
(ii)
Consignado para aposentado do INSS vai ficar mais
barato. Ministério da Previdência Social baixa juros de
empréstimos com desconto em folha. Confira as
simulações
(iv)
Polícia limpa o Dona Marta. Não perca a conta: sete
fuzis, três metralhadoras, oito pistolas, cinco
escopetas, um rifle, um revólver, um lançador de
flechas
(i)
Ônibus mudam trajeto por causa da violência na Linha
Amarela
(i)
Presos ladrões que agiam na Linha Amarela
(i)
João ‘cestinha’ Buracão (boneco do jornal apoiando o
basquete, jogando numa quadra)
(iii)
Especialista quer pedágio no Centro do Rio
(iii)
Botafogo toma um susto no Equador
(v)
Peneira importada. (foto de Audi A3 de ex-PM com
mais de 80 buracos de bala)
(i)
Flu joga pela Sul-Americana hoje à noite
(v)
‘Bebel’ está grávida na vida real
(ii)
Vans começam a aceitar Rio Card no próximo dia 20.
Equipamento será instalado em 641 veículos que
fazem transporte intermunicipal legalizado
(iii)
PM acha vídeo do Bope em celular do tráfico
(i)
Perseguição acaba com batida no Centro
(iii)
Emprego: mais de mil vagas na baixada
(iv)
Basta identidade para fazer o Enem
(iii)
Funk do Castelo das Pedras dá lugar ao samba
(iii)
Marcos Paes depõe na CPI dos Pardais
(x)
Terremoto abala o Pacífico depois do Tsunami
(xi)
Apesar do dia anterior ter tido futebol, envolvendo equipes do Rio de
Janeiro em ambos os casos, em 2009 optou-se pela editoria “Economia”,
preterindo o “Esporte” para um segundo plano. Apesar de aparecer apenas uma
vez nos dois jornais, o “Entretenimento” volta a marcar presença entre as
primeiras manchetes. A violência é tratada, mas não com prioridade nas duas
edições.
45
EDITORIA
04/10/2007
(quinta-feira)
01/10/2009
(quinta-feira)
Polícia 04 01
Entretenimento 02 01
Cidade 01 05
Economia 01 02
Esporte 02 02
Política 00 01
Internacional 00 01
Enquanto em 2007 continua a prioridade pela editoria “Polícia”, as quartas-
feiras de 2009 optam pela editoria “Cidade”, que domina a maioria da capa,
seguida de “Economia” e “Esporte”. Destaque para o aparecimento das editorias
“Política” e “Internacional”. No entanto, com pequeno destaque, na parte inferior
da página (rodapé).
46
05/10/2007 (sexta-feira) 02/10/2009 (sexta-feira)
Mortos por gás: laudo critica obra na cobertura
de Gugu
(i)
Imperador desce até o chão na Vila Cruzeiro
(ii)
Fla derruba o líder e agora espera o Flu. Gol de
Ibson diante de 68 mil pessoas, agita Fla x Flu
de domingo
(v)
Enem: veja prova anulada e gabarito. Fraude
adia exame que seria realizado no fim de semana
e estudantes protestam contra ação do MEC
(iii)
Agora é lei, servidor vai ter crédito imobiliário
com desconto em folha. Aprovação do projeto
era uma condição exigida para bancos abrir
linhas de financiamento
(iv)
Queda de juros do INSS beneficia servidor da
União. O novo teto para as taxas do consignado
também deve baratear empréstimo para o
funcionalismo
(iv)
Tráfico mata ator que foi a morro de facção
rival
(i)
Mesmo de brincadeira, Buracão dá a mão ao Rio
(iii)
A Fashion Week dos camelôs (modelos
desfilam com roupas vendidas por ambulantes
em evento na Baixada)
(iii)
Pesquisa: homem comprometido atrai as
mulheres
(vi)
Giselle Itié deve sair do hospital
(ii)
Aumenta o limite de empréstimo da casa própria
(iv)
Tomógrafo de Acari vai para hospital Jesus
(iii)
Justiça despeja time vascaíno do Vasco-Barra
(v)
Dona Marta: Polícia pode ter vendido fuzil
(i)
Senac oferece 1.500 vagas para telemarketing
(iv)
Revista Diversão Extra. “Tropa de Elite”: vale a
pena ver de novo
(vii)
Bebê de 1 ano é baleado no colo do pai
(i)
Dono de linha de vans é morto em Belford
Roxo
(i)
Revelação e Lulu animam a festa em Copa
(vii)
Viradouro demite Dominguinhos e chama Nêgo
(iii)
As editorias “Polícia” (no topo) e “Esporte” são prioridade em 2007,
dividindo espaço com “Economia”. Essa mesma editoria dividiu capa superior em
2009, mas com prioridade, em primeiro plano, à editoria “Entretenimento”, seguida
da editoria “Cidade”. A violência, que em 2007 abre a capa, em 2009 fica restrita à
parte inferior da página (rodapé), praticamente encerrando as manchetes.
EDITORIA
05/10/2007
(sexta-feira)
02/10/2009
(sexta-feira)
47
Polícia 04 01
Entretenimento 01 01
Cidade 03 02
Economia 01 03
Esporte 01 01
Ciência e Tecnologia 00 01
Cultura 01 01
Em 2007, a editoria “Polícia” divide prioridade com “Cidade”. Ainda assim,
“Polícia” é a primeira opção de capa. As editorias “Economia” e “Cidade” passam
a aparecer em maior número em 2009, com destaque para “Economia”. Apesar
de ser sexta-feira (dia ideal para a divulgação dos acontecimentos do final de
semana), ambos os jornais fazem apenas uma citação à “Cultura”, mesmo assim,
na parte inferior da página.
48
Através do gráfico acima, podemos verificar a mudança na prioridade de
editorias. Enquanto em 2007 era a editoria “Polícia” que dominava as capas,
seguida da editoria “Cidade”, em 2009 uma brusca mudança. “Cidade” e
“Economia” passam a ser prioridade nas manchetes, deixando a violência com
muito menos destaque durante a semana.
Curioso o equilíbrio mantido entre “Esporte” e “Entretenimento” em ambos
os recortes. Talvez, a explicação mais provável, seja que ambas as editorias
ocupam dias específicos nas capas ou mantêm certa assiduidade, mesmo que
pequena, em todas as capas da semana. Nesse ponto, podemos incluir o
“Entretenimento”, que sempre aparece com pelo menos uma manchete. No caso
de “Esportes” os dias certos de publicação são as segundas e quintas, posteriores
a jogos realizados.
3.2 O MEIA HORA
Agora, vamos ao jornal MEIA HORA, com as edições do período de
01/09/2008 a 05/09/2008 e 28/09/2009 a 03/10/2009. Entre parênteses, após as
manchetes, a identificação da respectiva editoria:
49
01/09/2008 (segunda-feira) 28/09/2009 (segunda-feira)
Babá larga criancinha dentro do carro na
Baixada. Vacilona foi ao mercado em Caxias e
deixou o menino de 4 anos trancado. Acabou
em cana!
(i)
PM espancado em baile funk na CDD
(i)
Filezinho aperitivo para a galera delirar. Mulher
Filé posa para ensaio peladona em revista.
Gata exigiu funk durante as fotos
(ii)
‘Ficaram uma vez só’. Brasileira que diz ter filho
com Ronaldo teve um único encontro com o
craque
(ii)
Que jogão! Fla x Flu foi emocionante até o
último minuto. O empate em 2 a 2 acabou
sendo ruim para os dois
(v)
Isabella: defesa alega acidente. Hipótese é de
que menina se assustou ao acordar sozinha,
cortou rede para procurar os pais e caiu da janela
(i)
Comprar piratão vai dar cadeia
(i)
Fluzão, enfim, vence
(v)
Bando mata PM em assalto
(i)
Mengo fica no 0 a 0 debaixo de dilúvio
(v)
Botafogo dá vexame em casa: 3 a 1 vitória
(v)
Como é formato tablóide e, por conseguinte, não ter a “dobra de página”, o
que daria prioridade para as notícias na parte superior da mesma, o MEIA HORA
adota um diferencial: opta por dar destaque às manchetes em box de cores pretas
e letras brancas (ou laranjas), ou box vermelho com letras brancas. Editoria
“Polícia” e “Entretenimento” são os destaques. Em ambos os casos, a primeira foi
“Polícia”.
Curiosamente, apesar de ser uma segunda-feira, apenas o jornal de 2009
colocou mais manchetes da editoria de “Esporte”. No entanto, em ambos os
casos, essa editoria não foi prioridade para destaque.
50
EDITORIA
01/09/2008
(segunda-feira)
28/09/2009
(segunda-feira)
Polícia 03 02
Entretenimento 01 01
Esporte 01 03
Ciência e Tecnologia 00 01
Cultura 01 01
Em 2008, a editoria “Polícia” é o destaque único, liderando em inserções.
em 2009, a editoria “Esporte” prevalece, seguindo a tendência de destaque
após rodadas de futebol. No entanto, nesse ano, ainda assim, a editoria “Polícia”
praticamente mantém um equilíbrio de inserções.
02/09/2008 (terça-feira) 29/09/2009 (terça-feira)
Sessão de pescotapas mata aluno de CIEP.
Garoto reclamou de um “pedala, Robinho” e
acabou tomando várias mocas dos colegas
(i)
Maicon Jackson do crime vai fazer o passinho do
‘Moonwalk’ rumo ao inferno. Bandidão com nome
de estrela rouba geral em três bairros da Zona
Oeste e morre em confronto com PMs na
Avenida Cesário de Melo
(i)
Galera do Fogão não perdoa
(v)
Gata do ‘BBB’ está pegando GluGlu da Record
(ii)
Elefante-marinho de Sepetiba ganhou apelido
de Zárate
(iii)
Vascão, o orgulho do Rio, joga hoje
(v)
A verdade está lá fora. Moradores da Baixada
filmam disco voador
(iii)
Fotos mostram Ronaldo se esbaldando com
brasileira que diz ter um filho dele
(ii)
Polícia acaba com esquema de prostituição de
menores. Foi em cana pagando cofrinho
(i)
Casa de praia de Sassá da ADA é assaltada
(i)
Hoje tem coluna do Presidente Lula
(x)
51
Editoria “Polícia” continua sendo a prioridade e, mais uma vez, encabeça
as manchetes da capa em ambos os jornais. “Esporte” passa a ser uma opção
constante, seja até “suitando” (desdobramento de uma matéria publicada em dia
anterior) a insatisfação de uma derrota no fim de semana passado, como em
2008. O aparecimento do “Esporte” numa terça-feira de 2009 consta devido a
uma equipe carioca estar jogando no dia em questão.
EDITORIA
02/09/2008
(terça-feira)
29/09/2009
(terça-feira)
Polícia 02 02
Entretenimento 00 02
Cidade 02 00
Esporte 01 01
Política 00 01
Os jornais nesse dia optam por dar equilíbrio na quantidade de editorias
nas manchetes. Em 2008, “Polícia” e “Cidade”. Em 2009, “Polícia” com
“Entretenimento”. Nota-se que a editoria “Polícia” é uma opção constante. A
opção “Política” apareceu por estar envolvendo o próprio Presidente da
República.
52
03/09/2008 (quarta-feira) 30/09/2009 (quarta-feira)
Ronaldão vai treinar no Mengão
(v)
Professor taradão leva alunas para aula prática
de sexo em motel
(i)
Milícia da Zona Oeste alicia meninos para a
prostituição
(i)
Tá na seca? O Meia te ajuda a cair nas graças da
mulherada com a máscara do José Mayer
(ii)
Grupos que dominam favelas de Jacarepaguá
forçam menores de idade a fazer programas
por até R$ 15
(i)
Vasco dá mole em casa: 2 a 1 Figueirense
(v)
Pilantra roda com carregamento de 23
granadas do CV
(i)
Adriano volta para a ex e já pensa em casamento
(ii)
Fábio Assunção retoma carreira de ator em filme
mal-assombrado
(vii)
PM quebra quatro no Jacarezinho e na Vintém
(i)
Uma matéria de forte apelo popular (a volta do ídolo de futebol Ronaldo ao
Brasil, especificamente para o Flamengo), “rouba” a capa da edição de 2008,
quebrando a sequência de editorias de “Polícia”. Mesmo assim, talvez numa
forma de compensar essa situação, todo o restante da capa fica para editoria
“Polícia”.
Em 2009, volta a opção por “Polícia” e “Entretenimento”, com prioridade
para a primeira. Editoria de “Esporte” não falta, pois “suíta” a chamada do dia
anterior. Curiosamente, não se percebeu “suítes” em nenhuma editoria, exceto a
de “Esporte”.
EDITORIA
03/09/2008
(quarta-feira)
30/09/2009
(quarta-feira)
Polícia 03 02
Entretenimento 00 02
Esporte 01 01
Cultura 00 01
53
Nos dois jornais, a editoria “Polícia” é a prioridade. Nota-se, no entanto,
que “Entretenimento” começa a ganhar espaço em 2009, com certa constância. O
que poderia indicar uma mudança de conceito no que diz respeito à escolha das
manchetes de capa.
04/09/2008 (quinta-feira) 01/10/2009 (quinta-feira)
Ladrão em fuga assalta galã global
(i)
‘Bahuan’ é acusado de pegar travesti de 15 anos
em Copa. Empresário indiano que mora no Rio é
suspeito de pedofilia e acaba indo pra cadeia. Ele
diz que só deu carona à boneca para tirá-la do
frio e da chuva
(i)
Lula: “Eu topo ser colunista do Meia”.
Presidente faz planos para o fim do mandato e
comemora o convite. “Gosto de falar para o
povão”
(x)
Reencarnação. Dado:’Meu pai voltará como o
meu filho’
(ii)
Olha o cajuzão da Cajuína!
(ii)
Fogão perde, mas se classifica
(v)
Tráfico alimentava jacarés com corpos de
bandidos inimigos
(i)
40 ônibus de volta às ruas
(iii)
(N. do autor: o texto abaixo foi colocado num
Box quadrado cinza, no rodapé esquerdo da
capa).
Aviso ao leitor: tentamos encaixar aqui a foto
do Ronaldo treinando no Mengão, mas ele está
tããããão fofinho que o espaço ficou pequeno.
(v)
Taxista herói ajuda PM a prender ladrões de
carro
(i)
Em 2008 e 2009 a editoria “Polícia” segue a tendência por prioridade. Em
ambos os jornais a quantidade de matérias se equivalem. “Política” aparece em
2008, novamente por estar relacionada com o Presidente da República.
54
EDITORIA
04/09/2008
(quinta-feira)
01/10/2009
(quinta-feira)
Polícia 02 02
Entretenimento 01 01
Cidade 00 01
Esporte 01 01
Continua a prioridade pela editoria “Polícia” nos dois jornais. Percebe-se,
apenas, que em 2009 outras três editorias também ocupam o mesmo espaço,
quando antes eram apenas duas.
05/09/2008 (sexta-feira) 02/10/2009 (sexta-feira)
Matou a família e cozinhou os corpos no forno
por 3 dias. Monstro convidou parentes para
jantar em sua casa e serviu comida temperada
com chumbinho ao pai, dois irmãos, madrasta
e tia. Acabou atrás das grades
(i)
Bebezinho leva tiro no olho em assalto. Pai sai de
igreja com criança de 1 ano no colo e é atacado
por ladrão, que largou o aço porque a vítima
estava sem dinheiro. Menininho está internado
em coma
(i)
Guaribada no Caveirão. Novo blindadão vai
fazer a vagabundagem tremer: “É maior, mais
pesado, leva 22 policiais e aguenta tiro de
ponto 30”
(i)
Fluzão lava a alma
(v)
Vasco perde outra e não ajuda o Fla
(v)
Adriana se casa até o final do ano
(ii)
Policial mata dois ladrões em Van da Ilha
(i)
Fraude adia a prova do Enem
(iii)
Professor pedófilo usava até provas para azarar
as alunas
(i)
Apesar da editoria “Polícia” continuar a liderar no topo dos jornais, em 2009
nota-se uma diferença pela continuidade em colocar outras editorias na capa.
Novamente, em 2008, mantém-se o monopólio da capa pela editoria “Polícia”.
55
EDITORIA
05/09/2008
(sexta-feira)
02/10/2009
(sexta-feira)
Polícia 03 02
Entretenimento 00 01
Cidade 00 01
Esporte 01 01
Os dois jornais mantêm a prioridade na editoria “Polícia”. Contudo, em
2009, continua a divisão de diversas editorias na capa.
O jornal MEIA HORA, de acordo com o gráfico acima, prefere manter a
prioridade pela editoria “Polícia” nos dois jornais. No entanto, notou-se um
crescimento das editorias “Esporte” e “Entretenimento”, sendo a segunda opção a
que mais cresceu. Apesar da igualdade dessas duas editorias em 2009, ficou
clara a preferência pelo “Entretenimento”, visto que o crescimento foi muito maior
do que a editoria “Esporte”. “Polícia” não perde a liderança, mas percebe-se que a
editoria “Entretenimento” passa a ser a segunda opção em destaque nas capas.
A editoria “Cidade” mantém igualdade nos dois jornais, diferentemente da
editoria “Cultura”, que mostra um pequeno crescimento.
56
3.3 O discurso dos jornais EXTRA e MEIA HORA
Analisaremos as formas dos discursos dos dois jornais em estudo, sendo
escolhida uma data em que ambos colocaram em suas capas, manchetes sobre
um mesmo fato. No caso, escolheu-se o dia 30 de outubro de 2009. Abaixo as
capas, e em destaque, as respectivas manchetes.
EXTRA
Prédio em Acari escondia drogas, fuzis e granadas. Página 15
MEIA HORA
NO BOX: Preju de 1 milhão para a bandidagem. Página 3
É, SIM, EM ACARI. Civil olé no tráfico e trava fuzis, metralhadoras,
granadas, pistolas, lança rojão e munição. Tem vagabundo chorando até agora.
57
Agora, as páginas internas das reportagens e seus respectivos textos,
reproduzidos aqui na íntegra:
EXTRA
Paiol do tráfico é estourado
Prédio de fábrica desativada em Acari escondia fuzis, granadas,
munição e dezenas de fardas da PM
Paulo Carvalho
O antigo prédio de três andares de uma fábrica de laticínios, na entrada
da favela de Acari, escondia um paiol de armas, granadas e fardamentos
da polícia. Investigações da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas
(DFFC) levaram os policiais, ontem, a encontrar um vasto material que
estava escondido em diversos cômodos. O local foi invadido, sete
anos, por moradores da comunidade, e vinha servindo também como
abrigo para traficantes de drogas. O prédio não despertava suspeitas por
ficar localizado fora da favela.
Foram mobilizados 50 homens da especializada para a operação. A
polícia não precisou efetuar nenhum disparo para entrar na comunidade.
Enquanto aguardavam a retirada do material, entretanto, traficantes de
drogas faziam disparos à distância.
Os policiais apreenderam três fuzis calibre 7.62 e um calibre 5.56, duas
submetralhadoras, cinco pistolas 9mm, 15 granadas, um lança rojão,
cinco mil cartuchos de diversos calibres, nove caixas de fogos, 15 rádios
de comunicação e dez carregadores.
Três detidos
O que chamou a atenção dos policiais foram as dezenas de fardas da
PM, coletes operacionais, botas e toucas ninjas que foram encontradas
nos esconderijos.
O delegado Deoclécio Assis Filho acredita que o prejuízo do tráfico seja
de mais de R$ 1 milhão. Segundo a polícia, o chefe do tráfico da região
é um bandido conhecido pelo apelido de Praxedes. Três homens foram
detidos para averiguação.
A matéria ocupou a parte superior da página, tendo uma altura de 16,5 cm.
Ou seja, aproximadamente 31,5% de toda a página, em formato standart.
58
MEIA HORA
Preju de R$ 1 milhão pro tráfico
Civil detona o paiol da bandidagem em Acari
Policiais travam armamento pesado, munição e fardas em prédio invadido
(sem autoria)
Policiais da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) ‘estouraram’ paiol
de armas e munição ontem de manhã, na Favela de Acari, subúrbio do Rio. A
quantidade e variedade do material encontrado surpreendeu até o titular da
DRFC, Deoclécio de Assis, que avaliou o prejuízo dos traficantes em cerca de
R$ 1 milhão. Ninguém foi preso, e não houve confrontos durante a operação.
Num prédio que abrigava fábrica de leite e tinha sido invadido por sem-teto
sete anos, os agentes encontraram três fuzis calibre 7.62, um fuzil 5.56, duas
submetralhadoras 9mm, lança-rojão, cinco pistolas, 15 granadas, cinco rádios,
cinco mil projéteis de vários calibres e nove caixas de morteiros, além de
carregadores para pistolas e dezenas de fardas pretas completas calças,
camisas, casacos, coturnos, e toucas ninjas, tudo na cor preta. Os trajes,
segundo os policiais, são semelhantes aos usados pelo Batalhão de Operações
Especiais (Bope).
QG do crime
O paiol foi localizado graças a uma denúncia anônima. O material estava
escondido em vários pontos do prédio de três andares, que servia como uma
espécie de ‘quartel-general’ do tráfico de Acari.
Delegado comemorou ao achar trabucos: ‘Fizemos um bingão’
Os 50 policiais da DRFC chegaram a Acari por volta das 8h e logo tomaram
conta do prédio, atualmente ocupado por dezenas de famílias e de cujo telhado
os traficantes têm vista privilegiada de todos os acessos à favela e acompanham
a movimentação da polícia. Após a localização do armamento, o delegado
Deoclécio gritou: “Fizemos um bingão”, comemorando o sucesso da ação.
Todo o material foi levado para a sede da DRFC, na Pavuna, para que a origem
das armas, da munição e das fardas seja investigada. O lança-rojão, de uso
exclusivo das Forças Armadas e capaz de destruir um carro, estava guardado
numa caixa de madeira, mas sua numeração de série e procedência tinham
sido raspados. O paiol seria do traficante conhecido como Praxedes.
A matéria ocupou 100 % da página, que tem formato tablóide.
59
Algumas diferenças foram notadas em ambos os leads. Veja na quadro.
EXTRA MEIA HORA
O que?
Policiais encontraram um paiol de
armas, granadas e fardamentos
Policias ‘estouraram’ paiol de armas e
munição
Quando? Ontem Ontem de manhã
Onde?
Antigo prédio de um fábrica de laticínios,
na entrada da favela de Acari
Favela de Acari, subúrbio do Rio
Como? Investigações da DRFC
Não citou. Mas ao fim da matéria, afirma
que foi “denúncia anônima”
Outras diferenças na matéria foram notadas, até em virtude do estilo de
jornalismo proposto pelos veículos. Enquanto o MEIA HORA adjetivou os
moradores que teriam invadido o local de “sem teto”, o EXTRA diz “moradores da
comunidade”. Na relação da apreensão, outra diferença foi notada. Vejamos no
quadro abaixo (em negrito, as diferenças):
EXTRA MEIA HORA
2 submetralhadoras 2 submetralhadoras 9mm
5 pistolas 9mm 5 pistolas
5 mil cartuchos de diversos
calibres
5 mil projéteis de vários calibres
15 rádios de comunicação 5 rádios
10 carregadores Carregadores
Uma questão une os dois jornais: o público a que é destinado. Então, para
entender essa parte, analisando o discurso de ambos de forma superficial,
optamos pelos lugares de fala, no qual o lugar simboliza onde está o jornal e o
60
seu leitor; e fala, que de acordo com BAKHTIN (apud AMARAL, 2004, p.42), se
considera “a situação social, a posição e a importância do destinatário repercutem
na comunicação”.
O enunciado tem autor e destinatário, e esse é o seu índice constitutivo:
o fato de se dirigir a alguém e de estar voltado para o destinatário que
até pode ser indeterminado, mas é presumido, o que influi no enunciado.
Brandão e Araújo (apud AMARAL, 2004, p.42) utilizam-se de Foucault para
“afirmar que o discurso é o espaço em que o saber e o poder se articulam, pois
quem fala, fala de algum lugar” e “produzem as práticas e especificam o lugar e o
lugar do outro”.
A fim de explicar melhor a noção dos Lugares de Fala, optamos pela linha
francesa da alise de discurso. Em AMARAL (2004, p.43), uma breve
explicação.
Dizem Guimarães e Orlandi, baseados em Michel Pêcheux, que “as
palavras mudam de sentido segundo as posições daqueles que as
empregam”. Para Orlandi, o Lugar de Fala está relacionado ao plano
social porque tomar a palavra é um ato social com todas as suas
implicações (conflitos, reconhecimentos, relações de poder, constituição
de identidades), ou seja, o “lugar a partir do qual fala o sujeito é
constitutivo do que ele diz”. Se o sujeito fala do lugar de jornalista, sua
fala significa de modo diferente do que se falasse na situação de leitor.
Os Lugares de Fala, nesse sentido, também poderiam ser trabalhados
como Lugares de Enunciação, caso os objetivos do trabalho incluíssem
os modos dizer, as modalidades enunciativas ou funcionamentos
discursivos.
Então, pensando no jornalismo, que por si é o detentor da verdade e de
interesse público, deduz-se que o jornalismo popular tem que falar a verdade para
um público específico, no qual o jornalista não está inserido (a princípio), visto que
a grande maioria dos jornalistas são de classe média, público paradoxalmente
invertido ao leitor da imprensa popular. Com isso, os jornalistas tiveram que se
inserir em um nicho específico, e falar de modo a ser entendido por esse público.
61
Na busca por esse nicho popular, o preço dos jornais torna-se uma
prioridade para o crescimento dos “populares”. Assim, na busca de grandes
tiragens, e menos espaço editorial, essa imprensa fica vulnerável ao mercado
publicitário, ou seja, um grande espaço comercial lhe é destinado. Além das
adaptações de ordem comercial, surge um jornalismo voltado especificamente a
um público, para um público, construindo sua legitimidade junto a esse nicho
popular, ganhando um laço com o mundo desse leitor. Ou seja, são jornais feitos
para esse mercado. O grifo anterior recebe uma crítica de AMARAL (2004, p.66).
Muitas das críticas à imprensa em questão utilizam-se do ingênuo
argumento de que são jornais “feitos para o mercado”. É evidente que as
empresas jornalísticas produzem jornais para o mercado. Aliás, qualquer
jornal é feito para um determinado mercado, seja ele popular ou de elite;
alternativo, de oposição ou sindical; vise ao lucro ou não. Qualquer jornal
estará sempre dirigido a um determinado mercado a partir de uma
estreita relação entre o campo da produção e o do consumo.
Então, os estilos de vida de seus leitores, os gostos, a linguagem precisam
ser entendidas pela imprensa popular, para ter a identificação de seu público-
leitor e vice-versa. Com isso, precisa valorizar o cotidiano, o sentimento individual
desse leitor. Ou seja, os assuntos públicos passam a não ser prioridade, e os
fatos que viram notícia precisam ser simplificados ao extremo, aproximados do
ambiente do leitor. Para AMARAL (2004, p.68), “a imprensa popular é obrigada a
conhecer bem o universo cultural de seu leitor, incluindo seus habitus, gostos e
estilos”.
Pensando nessa adaptação de estilo editorial, que por vezes opta pelo
“Entretenimento”, como vimos nos gráficos dos jornais EXTRA e MEIA HORA,
Bourdier (apud AMARAL, 2004, p.68) explica.
As mercadorias culturais, denominadas por ele de comercial-omnibus,
visam às expectativas do mais amplo público. Os fatos-omnibus atraem
a atenção sem chocar, são construídos a partir da noção de um leitor
médio rebaixado. A busca do lucro não combina com o ferimento de
suscetibilidades e interesses. Por isso, alguns jornais ignoram a política
62
e optam por temas como os ligados ao entretenimento. Para Bourdieu, a
mídia teme ser entediante, e está acompanhada de um pânico de divertir
a qualquer preço, de criar espetáculos. Nesse processo, “perde as
asperezas” e levanta “problemas sem história” que não chocam
ninguém.
O jornalismo popular baseado em pouco texto, priorizando as imagens,
parece querer se assemelhar à televisão, que não sobrevive sem imagens e
atinge um grande público. Com pouco texto (e com isso, escrito de forma simples
ou sucinta como os OFFs na TV) e muita imagem, a leitura dos jornais torna-se
mais rápida e entendida. Morin (apud AMARAL, 2004, p.70) explica.
a personalização ou a transformação das pessoas em personagens
envolvidos em relações dramáticas. O jornal torna-se mais fluido,
assemelhando-se ao discurso da televisão. A informação desejável não
é aquela que produz conhecimento, mas a que produz um efeito estético
ou dramático. Se toda notícia deve ser de interesse humano, nem toda a
história de interesse humano deveria ser elevada ao status de notícia.
Essa tênue linha que separa o que é de interesse público e o que não é
flutua de acordo com o mercado no qual determinados jornais se
inserem.
o uso da linguagem, os termos que “divertem”, tipo “bandidagem”,
“preju”, “detona”, com cunho sensacionalista, AMARAL (apud MOREIRA, 2009,
p.12) identificou como Sensacionalismo Linguístico, “que se caracteriza pelo uso
de determinadas palavras para chamar a atenção do leitor”.
Concluindo nossa pequena análise do discurso dos jornais populares, que
entendemos como meios de comunicação de massa, citamos uma crítica da
Escola de Frankfurt (PREVEDELLO, 2008, p.69).
Construíram uma teoria fundada na tese de manipulação da sociedade
pela imprensa: a cultura e o modo de vida em sociedade seriam
moldados pela ditadura da rede de comunicação, a quem foi atribuído
um poder de influência que pressupunha a alienação do público.
Entendemos que a crítica em questão não cabe aos jornais EXTRA e MEIA
HORA, uma vez que os leitores ganharam espaço, sendo emitindo cartas, e-
mails, espaços de “eu repórter”, mesmo que, ainda assim, com veiculações
63
controladas. No entanto, o espaço para a “voz” do leitor é algo existente. Claro
que o podemos esquecer que os jornais em questão são produtos de grandes
grupos de comunicação, especificamente O DIA e O GLOBO.
Ainda assim, é necessário repensarmos essa passividade atribuída ao
público-leitor, conforme cita PREVEDELLO (2008, p.69).
hoje, com o desenvolvimento dos Estudos Culturais, o entendimento
de um receptor atuante. Não manipulado pela influência da mídia, mas
considerado segundo a complexa teia de fatores sócio-culturais que o
modelam, determinando, além da possibilidade de seleção do consumo
midiático, também a alternativa de participação, tendo em vista a
concessão cada vez maior de lugares de fala e instrumentos de
interação ao público nos jornais.
E as vendas desses jornais acabam por serem influenciadas diretamente
pela concessão desses espaços e o atendimento de seus anseios. Esses
números, mais detalhadamente, veremos a seguir.
3.4 Ascensão, Desenvolvimento e Novos Números
Ao longo dos últimos nove anos estamos acompanhando as vendas dos
jornais do Rio de Janeiro pelo IVC (Instituto Verificador de Circulação) e, nessa
pesquisa, constatou-se o crescimento dos jornais populares no estado. Foram
acompanhados vários jornais, como Expresso da Informação, Extra, Jornal do
Brasil, Lance!, Meia Hora, O Dia e O Globo.
A pesquisa começou em Janeiro de 2000, com os jornais Extra, Jornal do
Brasil, Lance! e O Globo. No decorrer do trabalho, entraram O Dia (maio/2000),
Meia Hora (Outubro/2005) e Expresso da Informação (Abril/2006).
Apesar do grande número de vendas, juntando em bancas e assinantes, o
jornal O Globo não foi considerado no contexto geral, uma vez que sua vendas
64
em bancas de jornal é muito baixa, conforme Informação Jurada do Editor ao IVC,
de Junho/09.
Com isso, focamos nosso acompanhamento em dois jornais que lideravam
as vendas em bancas de jornal ou pontos de vendas: EXTRA e MEIA HORA.
Sendo assim, entenderemos, daqui para frente, o termo “vendas” como aquelas
ocorridas somente em pontos de vendas, incluindo nesse termo as bancas de
jornal.
Notadamente incluídos em imprensa popular, porém de segmentos
diferentes, EXTRA e MEIA HORA vêm, desde julho de 2006, liderando as vendas
(todas as planilhas no Anexo). Abaixo, o ranking com todos os jornais
pesquisados
13
.
1
3
Não foi incluído no gráfico o jornal O Globo, pois o mesmo poderia mascarar o resultado, uma vez
que a pesquisa não separou o número de assinantes do número de vendas.
65
No gráfico abaixo, um momento da pesquisa no qual EXTRA e MEIA
HORA ficaram muito próximos, até mudando de posição no ranking.
O que justificou essa pesquisa foram os números de 2009, no qual foi
constatada a queda do jornalismo sensacionalista do jornal MEIA HORA e a
manutenção, e até crescimento, do jornalismo popular do jornal EXTRA.
66
Uma série de situações foram expostas durante a pesquisa a fim de
entender o motivo da queda nas vendas do MEIA HORA, que, em junho de 2009,
chegou a cair 25%, em relação a quando liderou em dezembro/08.
O MEIA HORA, antes de constatar a queda de vendas, passou seu valor
de R$ 0,50 para R$ 0,60
14
em 12 de janeiro de 2009
15
. E de R$ 0,60 a R$ 0,70, no
dia 12 de abril. Valor que vigora até os dias de hoje.
O concorrente direto do MEIA HORA, com mesmo valor inicial (R$ 0,50), o
jornal Expresso da Informação foi usado como parâmetro para justificar a queda
MEIA HORA, uma vez que, no entendimento comum, o jornais mais baratos então
subiriam em vendas. No entanto, tal realidade não aconteceu, ao menos na
mesma proporção de queda do MEIA HORA, conforme mostra o gráfico a seguir.
1
4
Valor de segunda-feira à sábado.
1
5
Lembramos que as Informações Juradas ao Editor somente são fechadas e encaminhadas ao IVC de
5 a 10 dias após o encerramento do mês.
67
Apesar de o Expresso da Informação ter tido um crescimento da ordem de
24%, no decorrer de janeiro a junho/09, isso somente o levou ao patamar dos
81.198 exemplares, enquanto o MEIA HORA mantém seus 176.578 exemplares,
em junho de 2009.
Na pesquisa também se pode constatar uma queda do jornal O Dia, após
meses de estabilidade na casa dos 120.000 exemplares em média, durante o ano
de 2008. No entanto, em 2009 começou uma queda, que manteve um declínio
juntamente com o MEIA HORA, conforme constata o gráfico.
68
Talvez pensando numa saída editorial, para aumentar as vendas, o Grupo
O DIA lançou, no segundo semestre de 2009, o jornal O Campeão, somente com
a editoria de “Esporte”. Nessa linha, no Rio de Janeiro, somente o jornal Lance!,
que atualmente vem tendo “picos” de vendas, uma vez que também adotou a
tática dos “selos promocionais”, como acontecem nos jornais Extra e Meia Hora.
O gráfico abaixo mostra uma comparação dos jornais Lance!, Meia Hora e O Dia.
Enfim, mostrar todos esses números serve para constatar que não
somente o valor dos jornais teve influência em seus respectivos crescimentos ou
quedas. Mais do que isso, talvez, seus conteúdos (e preferências) editoriais
tenham tido interferência direta nesse novo quadro que se desenvolveu no
primeiro semestre de 2009.
69
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após tantas abordagens sobre a imprensa popular que consideramos ter
duas ramificações (popular e sensacionalista), mostrando as mudanças de
editorias, crescimento e queda nas vendas não como negar os efeitos das
campanhas de marketing (pontos de venda), além de constatar o resultado do
crescimento dessas mídias voltadas ao grande público. Entendemos que houve
um enlace entre publicidade e jornalismo, agregando uma série de situações com
o intuito de atingir maior vendagem, seja através das campanhas dos selos
(criando a fidelização dos leitores para “ganhar” o prêmio), seja via pontos de
vendas alternativos (semáforos e trens). No entanto, por ser essa uma pesquisa
de comunicação em Jornalismo, deixaremos os tópicos acima descritos para
serem desdobrados em uma pesquisa futura, que certamente agregará todas as
considerações aqui ressaltadas.
Acreditamos que o jornalismo popular do EXTRA vem mantendo sua alta
vendagem por apostar em uma maior exigência de seu público leitor. Como vimos
no gráfico das classes sociais, a classe C cresceu e, junto com ela, elevou-se
também a demanda por qualidade. O jornal EXTRA privilegiou editorialmente o
“bolso” do cidadão e seu cotidiano, através das editorias “Economia” e “Cidade”,
respectivamente. Essa preocupação com o cliente (leitor) ampliou seu blico,
que se identifica com este perfil e sente a necessidade de se informar com
qualidade. Sendo o EXTRA o “primo pobre” de O Globo, muitos certamente optam
por esse jornal por acreditar receber informações de qualidade a um preço mais
70
em conta. Hoje, o EXTRA custa R$ 1,20 nos dias de semana, enquanto O Globo
custa R$ 2.
Os jornais destinados às classes B, C e D integram um novo mercado a
ser analisado, caracterizado por um público que não quer apenas
histórias incríveis e inverossímeis, mas compra jornais em busca
também de prestação de serviço e entretenimento (AMARAL, 2006, p.9).
Para o EXTRA, “Entretenimento” não foi uma opção para ampliar o público,
uma vez que os gráficos mostram que foi dado o mesmo destaque a esta editoria
em ambos os recortes temporais (2007 e 2009). Entendemos que o EXTRA tenta
tornar a leitura de seu jornal essencial à vida do leitor. Por isso, costuma optar por
assuntos relacionados à editoria “Cidade”, aproximando-se ainda mais de seu
público.
Sua ênfase em “Economia” é um reflexo do jornalismo de serviço, voltado
ao cidadão. A ênfase na editoria “Polícia” ficou para outro veículo das
organizações Globo: o Expresso da Informação. Com isso, a empresa continua
atingindo todas as classes, inclusive aqueles que gostam mais de “Polícia”. Ou
seja, atende a todos os nichos do mercado, com produtos bem diferentes
(chamamos de “bem diferentes”, pois o jornalismo sensacionalista opta por textos
bem curtos, com linguajar vulgar em alguns momentos, para causar mais impacto
e identificação com seu público leitor. Entendemos ser essa sua direção, pois os
gráficos mostraram uma clara opção por “Polícia” e “Entretenimento”).
Acreditamos que o jornal MEIA HORA procura voltar-se mais ao público
classe D, residente na Baixada Fluminense ou em comunidades carentes. Como
o MEIA HORA as comunidades como reduto da violência (já que, na maioria
das vezes, suas matérias somente as citam em momentos de conflito), o jornal
71
valoriza este tipo de noticiário, procurando atingir esse leitor e mostrar a ele (e,
claro, a todos não residentes nestes espaços) “a vida como ela é”.
Curiosamente, mesmo os jornais (...) populares, cujo público é formado
por moradores dessas comunidades, seguem as mesmas linhas de
difusão. A periferia é sempre apresentada a partir da violência.
Naturalmente, as notícias sobre as mortes em suas localidades
realmente geram grande interesse nos moradores de comunidades,
Afinal, o noticiário policial é um dos poucos espaços em que este
cidadão pode ver os seus iguais e o que acontece a sua vizinhança. Se
morre um traficante da Maré, terei curiosidade de ler a nota, pois
provavelmente eu o conheço ou a sua morte pode provocar mudanças
no poder local, o que terá impacto na minha vida (SOUZA E SILVA,
2007, p. 96).
Entendemos, então, que essa ênfase na violência atrai tanto o público
atingido, quanto aquele que gosta do tema, não ficando, com isso, restrito a
alguma classe em específico.
A cobertura da violência é o grande espaço do noticiário local. Mal ou
bem (mais aquele do que este), é a única que fala diariamente do bairro,
da periferia; nesse sentido, é a única que traz referências muito
concretas para o público. Logo, cabe a pergunta: “A cobertura interessa
por conta da violência ou em virtude da proximidade com o cotidiano dos
leitores e expectadores?”. Por cotidiano não nos referimos apenas a uma
realidade violenta, mas também às remissões a personagens
conhecidos, lugares e cenas familiares (CANELA, 2007, p. 146).
O certo é que nossa pesquisa mostra uma queda do sensacionalismo no
jornal MEIA HORA, e entendemos que seja por motivos de saturação da leitura
vulgar ou da violência. Essa queda nas vendas, no entanto, não causa prejuízo
financeiro direto ao MEIA HORA, uma vez que, com o aumento do valor de venda
em banca, o lucro na verdade aumentou.
Período Preço de Venda Tiragem Vendida Lucro de Vendas
Jun/08 0,50 221.869 R$ 110.934,
Jun/09 0,70 176.578 R$ 123.064,
72
Contudo, certamente haverá um prejuízo aos anunciantes, pois com a
queda das vendas, menos público o jornal e, consequentemente, seus
anunciantes. Ou seja, entendemos que o MEIA HORA aumentou seu preço de
venda na tentativa de aumentar seus lucros, uma vez que sua principal opção
editorial não se alterou. Ao contrário, o jornal estendeu o espaço destinado à
editoria “Entretenimento”, fazendo uma clara opção pelo sensacionalismo,
acompanhando o dia a dia de artistas e celebridades.
Aos jornalistas da imprensa popular e vamos falar para o alcance do
jornalismo popular de qualidade entendemos que é inegável o trabalho conjunto
de publicidade (marketing) e jornalismo, na busca pela obtenção de mais público
leitor. Mas, para AMARAL (2006, p.108), o jornalismo se manterá a frente
desse processo quando a redação entender que se não elaborar estratégias
jornalísticas para se aproximar do leitor ficará ainda mais refém das fórmulas dos
departamentos de marketing. Talvez essa seja a diferença entre o MEIA HORA
(com muita publicidade) e o EXTRA (com mais informação).
Na busca por um jornalismo ético e socialmente responsável, os jornais
populares devem prezar pela informação para a cidadania, saindo do
entretenimento (que, como o termo determina, deve entreter e não informar) ou
do consumo.
73
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<a rel="license" href="http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/"><img
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property="dct:title" rel="dct:type">O CRESCIMENTO DO JORNALISMO POPULAR E
A RETRAÇÃO DO SENSACIONALISMO NO RIO DE JANEIRO: UM ESTUDO DE
CASO DOS JORNAIS EXTRA E MEIA HORA</span> de <span
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property="cc:attributionName">ALEXANDRE MADRUGA</span> foi licenciada com
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