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Barbero (2008, p.149), “essas literaturas inauguram outra função para a
linguagem: a daqueles que, sem saber escrever, sabem, contudo, ler. Escritura
portanto paradoxal, escritura com estrutura oral”.
Mas, como imaginar essas literaturas em papel? Na Espanha, criou-se o
pliego, uma ou mais folhas de papel dobradas, com impressão dos textos em
colunas. A divulgação era feita em cordel
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nas praças. Daí já se populariza o
acesso, saindo das bibliotecas para a busca dos leitores na rua. Começa a
popularização da informação. Nos pliegos, destacavam-se as idéias de
divulgação do seu conteúdo, na intenção de sua compra, como informa Martin-
Barbero (2008, p.151):
Apresenta uma feitura na qual o título é reclame e motivação,
publicidade; segue-se ao título um resumo que proporciona ao leitor as
chaves do argumento ou as utilidades a que se presta, e uma gravura
que explora já a “magia” da imagem.
Essa literatura voltada ao popular, com o exagero nas gravuras e títulos, já
seria, então, os primeiros sinais de sensacionalismo (MARTIN-BARBERO, 2008,
p.156).
Já na França, no início do séc. XVII, o resumo e a reescrição de romances,
contos de fadas, calendários, etc, selecionados por trabalhadores da gráfica de
uma família de livreiros-editores na cidade de Troyes, resultaria numa produção
assumida por livreiros estabelecidos, a literatura de colportage tornou-se exclusivamente um produto
econômico, vendido por cegos e mendigos, presumivelmente destinado a responder a um gosto popular:
constava de cartilhas, almanaques, calendários, estampas, orações, hagiografias, autos, novelas, relações,
gazetas… Com o movimento ideológico da Reforma, os colporteurs tiveram um papel importante, na
Alemanha sobretudo, ao divulgarem literatura panfletária protestante. Na França, durante todo o Antigo
Regime, estiveram associados à venda de textos heréticos ou contrários ao poder real. Em Portugal, vários
foram chamados a testemunhar junto da Inquisição por venderem textos não autorizados pela censura.
Quando a literatura popular se incorporou totalmente no mercado livreiro, os colporteurs tornaram-se apenas
gazeteiros; hoje, são cauteleiros”. Literatura de colportage. Disponível em
http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/C/colportage.htm. Acesso em 31/08/2009.
5 No Dicionário Aurélio: “s.m. Corda muito delgada; cordinha. // Bras. Literatura de cordel, o romanceiro
popular nordestino, que se distingue em dois grandes grupos: o da poesia improvisada, cantada nas
'cantorias', e o da poesia tradicional, de composição literária, contida em folhetos pobremente impressos e
vendidos a baixo preço nas feiras, esquinas e mercados do Nordeste”.