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• A segunda parte do meu mecanismo nanceiro é importante para proporcionar aos dois la-
dos o que desejam e, ao mesmo tempo, reduzir os custos monetários para ambos. Isso ocorre
como uma “opção” comprada pela China, dos Estados Unidos. Trata-se, novamente, de um
derivativo do mercado de carbono do Protocolo de Kyoto. Ele funciona como uma “opção de
venda”, dando à China o direito de vender suas reduções de emissões aos Estados Unidos a
um preço mínimo, que se relaciona ao preço do crédito de carbono. Isso elimina os temores
da China de vender suas reduções de emissão a troco de nada.
A melhor analogia é visualizar esse mecanismo nanceiro como duas “opções” casadas – uma, que os
Estados Unidos comprarão da China, e outra, que a China comprará dos Estados Unidos. Na prática,
toda a transação seria quase uma “equivalência” na troca monetária e, ao mesmo tempo, estabeleceria
limites de emissões para os dois países.
Além de superar o impasse diplomático, a proposta também pode ajudar a implementar uma situação
real, uma maneira prática de reduzir a concentração de carbono da atmosfera quando as “opções”
forem apresentadas, sem minar o extremamente necessário desenvolvimento econômico. Isso envolve
uma extensão modesta do Desenvolvimento Limpo para certicar tecnologias que possam aumentar
a energia disponível e, ao mesmo tempo, reduzir o carbono da atmosfera. Parece uma tarefa enorme
– mas isso é real e possível
9
.
Uma modesta extensão do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo poderia proporcionar
a assistência nanceira e técnica necessária para aumentar as fontes de energia e, ao mesmo tempo,
reduzir o carbono. Precisamos de soluções que possam reduzir rapidamente o carbono da atmosfera
ao invés de reduzir gradativamente as emissões. Essas são chamadas “tecnologias de carbono ne-
gativo”, porque reduzem mais carbono do que emitem. As tecnologias de carbono negativo podem
funcionar para os dois lados, para as nações industrializadas e para as nações em desenvolvimento.
Existem novas tecnologias capazes de extrair carbono do ar e, ao mesmo tempo, produzir eletricida-
de – transformando, assim, indústrias de combustível fóssil em “depósitos” de carbono limpo, e as
indústrias de energia solar em depósitos maiores, e estimulando a transição para renováveis
10
. Essas
tecnologias podem produzir mais energia em nações em desenvolvimento e, ao mesmo tempo, limpar
a atmosfera a um passo acelerado. O custo de capital envolvido é de cerca de US$ 100 milhões para
1 milhão de toneladas de CO
2
capturado por ano
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, e um total de US$ 3 trilhões seria suciente para
capturar, hoje, todo o estoque de emissões
12
. Isso é menos do que 5% do PIB do planeta, que teria de
ser distribuído em um período de 10 anos, ou 0,5% do PIB por ano, o que parece ser bem favorável
quando comparado com os subsídios do Governo à indústria nanceira em 2008 e 2009. O valor total
do estímulo para as nações do G-20 é de apenas cerca de US$ 692 bilhões para 2009, cerca de 1,4%
do PIB combinado dessas nações
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. Somente nos Estados Unidos, esse valor foi de US$ 825 bilhões,
9
Ver N. Jones,
Nature
, dez. 2008, abr. 2009 e G. Chichilnisky,
Nature
, jun. 2009.
10
As tecnologias aqui descritas envolvem a captura de CO
2
do ar e são diferentes da tradicional captura de carbono
de escapamentos e chaminés, também chamada CCS (Captura e Sequestro de Carbono). Esse último é, na melhor das
hipóteses, carbono neutro, e teve oposição nas negociações sobre o clima porque parece encorajar o uso contínuo de
combustíveis fósseis. A captura de ar pode ser carbono-negativa, i.e., pode reduzir mais carbono do que é emitido no
processo de produção de energia. Ver Jones, “Sucking carbon out of the air” (2008) e Jones, “Sucking it up” (2009);
Chichilnisky e Eisenberger, “How air capture could help to promote a Copenhagen solution” (2009); The Royal Socie-
ty, “Geoengineering the climate: science, governance and uncertainty” (2009); e Chance et al., “Global Warming and
Carbon-Negative Technology: Prospects for a Lower-Cost Route to a Lower-Risk Atmosphere” (2009).
11
Ver Chance et al., obra citada (2009), e Chichilnisky e Eisenberger, “Energy Security, Economic Development and Car-
bon Capture” (2009).
12
Cada milhão de CO
2
capturado requer uma fábrica de, aproximadamente, US$ 100 milhões; existem, hoje, cerca de 30
gigatoneladas de carbono emitidas pelo homem.
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De acordo com o Brookings Institute, o valor do estímulo para os países do G-20 totaliza, aproximadamente, US$ 692
bilhões para 2009, o que representa 1,4% do PIB combinado de todos esses países. Ver Relatório em: