
10
Nascida em abril de 1914 na Indochina francesa
1
com o nome de Marguerite
Donnadieu, fruto do casamento dos franceses Henri Donnadieu, professor de
matemática, e Marie Legrand, professora primária, a escritora só vai para França aos
dezoito anos de idade. Sua mãe tem ainda dois filhos mais velhos do que ela, Paulo e
Pierre, mas seu pai já tinha dois meninos, Jean e Jacques, do seu primeiro casamento,
que sempre moraram na França. Marguerite mal conheceu o pai, que faleceu enquanto
ela era criança, e nunca conheceu os meio-irmãos. A paisagem da Indochina, as
histórias de sua mãe e de seus irmãos, sua relação com a família, sua paixão pela escrita,
além de outras experiências como sua ida à Índia são uma constante em sua obra. Seu
maior reconhecimento de público e crítica veio em 1984 com a publicação de L’amant
(O amante), fenômeno de edição e ganhador do prêmio Goncourt de literatura francesa.
Marguerite Duras ainda escreve uma dezena de livros, que vêm completar sua já extensa
obra, antes de morrer no dia 3 de março de 1996, em Paris.
Neste trabalho, citamos diversos livros, filmes, peças de teatro e cine-romances da
autora, mas analisamos principalmente L’amant (O amante), de 1984, e Un barage
contre le Pacifique (Barragem contra o Pacífico)
2
, de 1950. A escolha de Barragem
deve-se por este ser um livro considerado embrionário de grande parte da obra de
1
A Indochina francesa resulta de uma reorganização das colônias do extremo-oriente ocorrida por causa
do enfraquecimento do Império chinês a partir da primeira guerra do Ópio (1839-1841). A conquista da
região levou quase meio século (1858-1897), culminando com o domínio de cinco países: Camboja, Laos,
Annam, Cochinchina e Tonkin. Hoje Annam, Cochinchina e Tonkin formam a República socialista do
Vietnã.
Zona de grande apelo migratório, além de uma das grandes fronteiras históricas do mundo ao longo da
qual se estabeleceram muitos contatos e trocas culturais, inclusive de indianos e chineses, a Indochina
chegou a ser nomeada por alguns geógrafos como Índia-exterior, por causa da sua localização, mas
acabou sendo chamada pelos franceses de Indochina, por ter estado algumas vezes submetida ao império
Chinês e por ter a maior parte de seus povos semelhança com os chineses, seja pela fisionomia, o
tamanho e a pele, seja pelo comportamento, a religião e a língua.
Embora tenha sido vista por alguns, a exemplo do político Jean Léon Jaurès, como uma forma de
promover o progresso em áreas menos favorecidas, de acordo com o espírito francês de humanidade e de
democracia, a colonização na Indochina foi antes de tudo uma empresa de dominação política e a origem
de um fluxo constante de lucros, rendas e benefícios para o povo francês. A estrutura colonial funcionou
plenamente de 1897 até 9 de março de 1945, quando o exército japonês provocou a derrota da França na
região e outorgou a independência aos reinos de Annam, Tonkin, Camboja e Laos. No mesmo ano, depois
da capitulação do Japão na segunda guerra mundial, o Vietminh (partido comunista), liderado por Ho Chi
Minh, intitula-se República democrática do Vietnã e promete não mais se submeter aos franceses. A
guerra estende-se, porém, até 1954 (batalha de Dien Bien Phu), quando, com a ajuda dos chineses, os
vietnamitas derrotam os franceses, que, apoiados pelos Estados Unidos, estavam também preocupados
com a expansão do comunismo na região.
Com a assinatura da paz de Genebra, em 21 de julho de 1954, o Vietnã é dividido em duas zonas: Vietnã
do Norte, comunista, e Vietnã do Sul, capitalista. Camboja e Laos já eram independentes, mas Laos
também foi dividido politicamente. A unificação do Vietnã em República Socialista do Vietnã só
acontece em 1976.
Para maiores detalhes, ver BROCHEUX e HÉMERY (2001).
2
Para facilitar a leitura, os textos de Marguerite Duras são citados a partir de então somente em
Português, apesar de termos trabalhado com as versões originais em francês.