
92
Dewey procura mostrar, então, que o aparato conceitual da lógica aristotélica é
inadequado para as necessidades da ciência moderna, conforme assegura a conclusão de
seu argumento. Para isso, compara o contexto cosmológico e ontológico que caracteriza
a filosofia aristotélica com o da ciência moderna, dizendo que, no primeiro, a medição
não ocupava nenhum lugar de destaque, podendo até ajudar nas atividades práticas que
tratavam de matérias que mudavam constantemente, mas não levava a nenhum
conhecimento demonstrativo. Segundo Dewey (1938a, p. 201), na ciência moderna, o
status da medição é completamente diferente, pois as proposições particulares são
“determinações do material de um problema para investigações posteriores”. A tarefa da
teoria lógica, a favor da qual Dewey argumenta, é estabelecer um acordo entre a teoria
das proposições quantitativas e a investigação que é, de fato, praticada.
Dewey (1938a, p. 215) argumenta que a ciência também compara coisas
qualitativamente diferentes entre si e que tal procedimento tem uma significação
definida quanto à valoração, o que contradiz “a noção de que existem algumas entidades
que seriam padrões em absoluto, isto é, por si mesmas”. Um padrão de medida como o
metro, Dewey (1938a, p. 216) exemplifica, não existe em razão de alguma propriedade
intrínseca, de longitude absoluta; trata-se de um meio para “facilitar e executar todas as
espécies de transações sociais”, representando um sentido conceitual, tal como os que
fazem parte do senso comum, que se relacionam entre si por razões histórico-sociais.
Dewey (1938a, p. 222) entende que os padrões encontram-se submetidos à revisão e
eventos que têm suas condições específicas naqueles que os precedem, os quais, por sua vez, reagem
sobre aqueles que o seguem”. Parodi (1989, p. 231) afirma que, para Dewey, “tudo muda, de forma ou
cor, por exemplo, não podendo ser definido” salvo “em relação a um contínuo temporal de coisas que
antecedem e se sucedem” (DEWEY apud PARODI, 1989, p. 231). Parodi (1989, p. 234) argumenta ainda
que, em Dewey, o conhecimento “vai essencialmente do conhecido ao desconhecido”, e explica que o
“envolvimento da concordância com os fatos não é, de modo algum, conformidade com o dado, presente
ou passado, mas uma melhor organização da atividade em processo, na direção do futuro; é um método,
um plano de ação; uma certa concepção acerca do que está dado em suas relações hipotéticas para o que
ainda não foi dado”. A lógica de Dewey serve “para impulsionar as fronteiras das ciências”. Em Dewey,
“A ‘inventio’ é mais importante do que a ‘judicium’, a descoberta, mais importante do que a prova. O
paradoxo da relação da teoria com a prática é que, de todos os modos de prática, a teoria é a mais prática
de todos”.