
120
originais, quando, ao enumerar as várias categorias de homens,
mostra várias maneiras pelas quais se equivoca o pensamento.
a) A primeira categoria é a daqueles que raras vezes raciocinam, pen-
sando e procedendo consoante o exemplo dos demais, sejam os
pais, os vizinhos, os ministros de sua religião ou quem quer que lhes
agrade escolher como objeto de fé implícita, para forrar-se ao esforço
e ao aborrecimento de pessoalmente refletir e examinar.
b) A segunda espécie é a dos que põem a paixão no lugar da razão e,
achando-se resolvidos a dirigir seus atos e argumentos, não usam
sua própria razão nem atendem à dos outros, sempre que não se
adapte à sua disposição de espírito, a seu interesse e ao seu partido
18
.
c) A terceira classe é a dos que natural e sinceramente se guiam pela
razão, mas sem a visão completa de tudo o que se prende a determi-
nada questão, pela falta do que poderíamos chamar o senso amplo,
exato e compreensivo das coisas... Mantêm relações apenas com uma
casta de homens, leem apenas um gênero de livros, querem apenas
conhecer uma qualidade de opiniões. Velejam pequenas distâncias
com os conhecimentos náuticos relativos a uma pequena baía... mas
não se aventuram no mar alto do conhecimento.
[Homens originalmente dotados de disposições idênticas podem,
afinal, chegar a diferentes provisões de conhecimento e verdade] quan-
do toda a disparidade entre eles se limitou ao diferente escopo que às
suas inteligências foi dado adotar, ao coligir as informações e ao
guarnecer o cérebro de ideias, noções e observações nas quais se
ocupasse o espírito.
19
Em outra parte de suas obras
20
, Locke expõe os mesmos con-
ceitos em forma um tanto diversa.
1. O que está em desacordo com os nossos princípios acha-se tão
longe de que o consideremos provável, que nem como possível o
admitimos. Tão grande é nosso respeito por esses princípios e tão
18
Em outro lugar, diz Locke: “os preconceitos e inclinações dos homens iludem, com
frequência, a eles próprios... A inclinação sugere e insinua no raciocínio termos favoráveis,
que introduzem ideias favoráveis; até que, por fim, tinge-se, desse modo, uma conclusão,
a qual, assim vestida, é clara e evidente, mas que, em seu estado natural, se se empre-
gassem somente ideias precisas e determinadas, não encontraria nenhuma acolhida.”
19
The Conduct of the Understanding, § 3º.
20
Essay Concerning Human Understanding, vol. IV, cap. XIX, “Of Wrong Assent of Error”.
JohnDewey_NM.pmd 21/10/2010, 09:38120