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I
INVESTIGAÇÃO SOBRE HÁBITOS ALIMENTARES EM
DOIS VIZINHOS, SUDOESTE DO PARANÁ E
MUNICÍPIOS PRÓXIMOS
Andrea Martha de Oliveira
Maria Tereza Betiol
2011
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II
O trabalho Investigação sobre hábitos alimentares em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e
municípios próximos de Oliveira, A.M.; Betiol, M.T. foi licenciado com uma Licença Creative
Commons - Atribuição 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em andreamarthadeoliveira.blogspot.com.
_______________________________________________
Oliveira, Andrea Martha de. Betiol, Maria Tereza
Investigação sobre hábitos alimentares em Dois
Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios
próximos / Andrea Martha de Oliveira. Maria Tereza
Betiol – Maringá, 2010.
V, 91p. : grafs, tabs
1. Alimentos hábitos alimentares 2. Alimentos -
Qualidade. 3 Higiene Alimentar. 4 Saúde
Pública.
CDD 612.39
_______________________________________________
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III
SOBRE AS AUTORAS
Andrea Martha de Oliveira
Graduada em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Estadual Paulista,
Araraquara, SP. Mestre em Tecnologia de Alimentos área de Boas Práticas de
Manipulação de Alimentos pela Universidade Federal do Paraná. Consultora do
Programa Alimentos Seguros (PAS Mesa) pelo SENAC, PR. Docente nas disciplinas
de Bromatologia, Tecnologia de Alimentos, Princípios de Controle de Qualidade e
Supervisão de Estágio do Curso de Farmácia da UNISEP, Dois Vizinhos, PR no
período de 2004 a 2008.
Maria Tereza Betiol
Graduada em Nutrição na UFPR, Curitiba, PR. Mestre em Enfermagem pela
EERP/USP, Ribeirão Preto, SP. Professora da UNICENTRO, Guarapuava, PR
(Fundamentos da Nutrição e da Dieta, Estágio Supervisionado em UAN e Nutrição
Clínica, Gastronomia), no período de 2003 a 2006. Professora das Faculdades
Guarapuava, PR, (Alimentos e Bebidas, Restaurante e Nutrição), no período de
2005 a 2006. Coordenadora e Professora do Curso de Nutrição da FADEP Pato
Branco (Técnica Dietética, Ética, Dietoterapia Infantil, UNATI),de 2006 a 2007.
IV
AGRADECIMENTOS
À força divina que move os homens ao maior conhecimento para
que a vida na Terra seja mais saudável e alegre.
Ao Sr. Joseti Meimberg pelo empreendimento da concepção da
UNISEP, expandindo o conhecimento no Sudoeste do Paraná
Aos Docentes do Curso de Farmácia da UNISEP, em especial à
Prof. Letícia de Cássia Tavares Thiesen pela sua singular
energia na busca e partilha do conhecimento, respeito,
competência, dedicação e companheirismo
Aos Discentes do Curso de Farmácia da UNISEP que
participaram desta pesquisa, e provaram que dando
oportunidade a estes jovens, a busca compartilhada pelo
conhecimento constrói o caminho e multiplica os resultados
À nossa querida família, esposos, filhos e pais, que pertencem
conosco a esta construção de conhecimento.
V
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................. 1
NOTAS TÉCNICAS......................................................................................................
5
PATOLOGIAS PESQUISADAS NO ESTUDO......................................................... 10
1 - ALERGIA ALIMENTAR..................................................................................................
10
2 - CÂNCER (DE BOCA, ESÔFAGO, DE FÍGADO, DE LARINGE, DE INTESTINO)
11
3 – CISTICERCOSE.................................................................................................................
12
4 – DIABETES...........................................................................................................................
13
5 - DISLIPIDEMIAS – DOENÇAS CARDIO-VASCULARES...........................................
14
6 - GASTRITE ..........................................................................................................................
15
7 – HIPERTENSÃO.................................................................................................................
16
8 - PEDRA NA VESÍCULA....................................................................................................
17
9 - PEDRA NOS RINS.............................................................................................................
18
10 - PROBLEMAS INTESTINAIS.........................................................................................
20
11 – TOXOPLASMOSE...........................................................................................................
21
12 DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS E REPRESENTAÇÃO
GRÁFICA DOS ÍNDICES ENCONTRADOS POR ENFERMIDADES
PESQUISADAS........................................................................................................................
22
ALIMENTOS PESQUISADOS NO ESTUDO........................................................... 26
GRUPO 1: PÃES, CEREAIS, RAÍZES E TUBÉRCULOS......................................... 28
POLENTA.................................................................................................................................
29
MACARRÃO............................................................................................................................
31
PÃO BRANCO.........................................................................................................................
33
GRUPO 2: HORTALIÇAS/ GRUPO 3: FRUTAS..................................................... 37
GRUPO 4: LEITE E PRODUTOS LÁCTEOS.............................................................
40
QUEIJO......................................................................................................................................
40
LEITE CRU...............................................................................................................................
44
GRUPO 5: CARNES E OVOS......................................................................................
47
CARNE COM GORDURA.....................................................................................................
47
CARNE SEM INSPEÇÃO.......................................................................................................
48
CARNE MAL PASSADA.......................................................................................................
50
SALAME...................................................................................................................................
51
CONSUMO DE OVOS COLONIAIS SEM INSPEÇÃO E CONSUMO DE
MAIONESE PREPARADA COM OVOS CRUS..................................................................
56
GRUPO 6: LEGUMINOSAS E OLEAGINOSAS – AMENDOIM......................... 62
GRUPO 7: ÓLEOS E GORDURAS............................................................................. 65
BANHA DE PORCO...............................................................................................................
65
TORRESMO.............................................................................................................................
67
NATA........................................................................................................................................
68
SALGADO FRITO...................................................................................................................
70
GRUPO 8: AÇÚCARES, DOCES.E SAL.................................................................... 73
DOCES, BOLACHAS E BOLOS............................................................................................
73
SAL.............................................................................................................................................
74
ÁGUA E CHIMARRÃO...............................................................................................
78
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 85
1
INTRODUÇÃO
A relação entre saúde e alimentação é percebida pelo
homem desde a antiguidade, podendo ser mantenedora da
saúde ou causadora de doenças. Em uma análise rápida pela
história da humanidade, na pré-história o gado bovino
forneceu nutrientes, mas também trouxe doenças como
tuberculose e a varíola, entre outras. Os porcos e as aves
adicionaram suas gripes à população humana. A
sedentarização e o desenvolvimento da agricultura também
facilitaram a disseminação de doenças ligadas ou
transmitidas por parasitas e insetos, como a malária.
Este processo de contaminação ligado ao aparecimento de novas técnicas de
produção para a obtenção de alimentos continua e continuará, como exemplo,
temos os problemas recentes da BSE (doença da vaca louca) e da gripe das aves.
Acreditava-se na Grécia antiga de Hipócrates (377 a.C.), que a doença seria
causada por uma ingestão incorreta de alimentos, que provocaria um desequilíbrio
entre os quatro humores corporais: sangue, fleugma, bílis amarela e bílis negra.
Entre os alimentos, Hipócrates incluía a água e o ar
1
.
Muito foi filosofado desde a antiguidade, patologias estudadas, fármacos
foram desenvolvidos e tratamentos farmacológicos definidos. Apesar de todo este
conhecimento sobre o funcionamento do organismo humano e dos mecanismos que
levam o homem a adoecer, o que vivemos em escala global no culo 21 é o
crescimento epidêmico das doenças crônicas, tanto em países desenvolvidos como
em desenvolvimento. Este cenário é devido à dieta e mudanças no estilo de vida das
pessoas. Isto ocorre mesmo sendo os fatores de risco reconhecidos, de existirem
progressos científicos para o controle destas doenças e análises laboratoriais para
diagnósticos cada vez mais precisos
2
.
No Brasil não é diferente, em se tratando de saúde pública, as alterações que
vêm ocorrendo nas mudanças de hábitos alimentares nas últimas décadas, resultam
de profundas modificações sociais e econômicas, denominado por transição
nutricional.
[QUE SEU REMÉDIO
SEJA SEU ALIMENTO E
QUE SEU ALIMENTO
SEJA SEU REMÉDIO]
HIPÓCRATES
460-377A.C.
2
Alguns dos resultados desta transição são benéficos, como o rápido declínio
da prevalência de desnutrição em crianças; os maléficos são representados pelo
sobrepeso e obesidade e suas consequências.
Quando se compara as décadas de 70, 80 e 90 no Brasil e suas regiões,
observa-se a passagem de um quadro de atraso econômico e social para uma etapa
superior e representativa do desenvolvimento humano, com desaparecimento do
Kwashiorkor, marasmo, correção do déficit estatural e aparecimento do binômio
sobrepeso/obesidade em um ritmo rápido
3
.
Estas mudanças de hábitos alimentares podem ser mensuradas por estudos
sobre o consumo alimentar familiar. São estudos de muita importância
epidemiológica e, no Brasil, foram realizados entre 1974-1975 (Estudo Nacional
sobre Despesa Familiar), 2002-2003 (Pesquisa de Orçamentos Familiares POF), e
em 2008-2009 (POF), cujos dados estão em processamento
4
5
.
Os dados coletados em âmbito nacional servem como banco de dados e
pesquisadores os utilizam para a realização de estudos transversais para análises
regionais do consumo de alimentos e nutrientes da população brasileira. Vários
destes estudos foram utilizados no presente livro.
Quando se pensa em uma região específica do Brasil, se concebe que as
diferenças de hábito alimentar serão influenciadas pela variedade cultural, histórica e
de recursos naturais daquela região. Portanto a alimentação precisa ser avaliada
regionalmente, e os hábitos saudáveis a serem estimulados irão variar de acordo
com a região analisada
6
.
Esta preocupação aparece nos estudos científicos atuais, o estudo dos
hábitos alimentares tem se tornado mais frequente e tem conquistado espaço nas
publicações científicas, onde são observados diagnósticos e relatos de mudanças de
hábitos, com destaque às pesquisas regionais e locais, buscando a correlação com
problemas de saúde pública
7, 8, 9, 10, 11
.
Se nas regiões do Brasil os hábitos alimentares são diferentes, isto também
ocorre dentro de um mesmo Estado, como o Paraná, visto que a população provém
de variadas nacionalidades e consequentemente, de culturas e tradições distintas. A
região sudoeste do Paraná, onde se localiza Dois Vizinhos e a maioria dos
municípios estudados nesta pesquisa, é caracterizada por colonização recente, em
sua maioria por imigrantes de descendência italiana e alemã provenientes dos
estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A emancipação da maior parte dos
3
municípios desta região se deu na década de 1950. Muitas de suas características
sociais e econômicas são resultantes do relevo acidentado da região, as
propriedades agrícolas são de pequeno e médio porte, cultivadas em grande parte
por agricultores familiares. Estes são responsáveis por uma série de alimentos
chamados coloniais como queijo, salame, derivados de frutas e verduras produzidos
em pequena escala
12
.
A agricultura familiar tende a produzir alimentos com menos ou ausência de
componentes químicos. Estes produtos coloniais, que até meados da década de
1990 eram restritos ao consumo familiar, tiveram sua produção direcionada à
comercialização, atendendo a um nicho de mercado com alta demanda
13, 14
.
A alimentação, sendo um hábito, é adquirido tanto no ambiente familiar, que é
resultante das tradições, como nas relações sociais da população. Esse hábito vem
se modificando com o tempo. Atividades braçais, que antes demandavam grandes
quantidades de energia, hoje são substituídas pela mecanização do serviço, o que
traz uma diminuição das necessidades energéticas. No entanto, se observa a
escolha pelo mesmo tipo de alimentação com alto aporte calórico, com a adição de
alimentos industrializados. Estas escolhas vêm acompanhadas pelo sedentarismo e
falta de tempo para o preparo e consumo de alimentos.
O estudo dos hábitos alimentares de uma região permite avaliar as escolhas
que a população adota. Se este estudo for contínuo, existe a possibilidade de
avaliação das mudanças e a análise dos benefícios ou malefícios que possam trazer
às pessoas. Estes dados fornecem informações preciosas para o planejamento de
ações que previnem doenças.
O envolvimento da comunidade acadêmica neste processo traz inúmeros
benefícios, não só porque os acadêmicos necessitam da participação em projetos de
pesquisa para enriquecer sua formação, como também colabora para o
desenvolvimento de uma visão crítica em relação a uma situação previamente
estabelecida e que merece uma reflexão sobre seu benefício ou malefício.
Entendendo que a manutenção ou não de um hábito alimentar faz parte de
uma evolução constante e regionalizada, este livro discute os resultados de
pesquisa realizada em 2008, com auxílio de acadêmicos do curso de Farmácia da
UNISEP Dois Vizinhos - PR, sobre alguns hábitos alimentares passíveis de
desenvolver doenças ou contribuir para o agravamento das mesmas, em residentes
do município de Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos.
4
REFERÊNCIAS
1. DIAS, J.P.S.
A Farmácia e a História
.
Farmacologia e da Terapêutica. Disponível em: URL: http://www. ff.ul.pt/paginas/jpsdias/Farmacia-
e-Historia/node104.html, acesso em: 12/04/2010
2. World Health Organization.
Diet nutrition and the prevention of chronic diseases: report
of a joint WHO/FAO Expert Consultation. Geneva: World Health Organization; 2002.
3. BATISTA FILHO, M.; RISSIN, A..
A transição nutricional no Brasil:tendências regionais
e temporais. Cad. Saúde Pública, v.19, n.1, p.181-191, 2003
4. IBGE.
Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002/2003
. Rio de Janeiro: IBGE, 2004.
5. YOKOO, E.M.; PEREIRA, R.A; VEIGA, G.V.;NASCIMENTO, S.; COSTA, R.S.; RAMOS DE
MARINS, V.M.; LOBATO, J.C.P.;SICHIERI, R. Proposta metodológica para o dulo de
consumo alimentar pessoal na pesquisa brasileira de orçamentos familiares Rev. Nutr., v.21,
n.6, p.767-776, nov./dez., 2008
6. BRASIL.
Alimentos Regionais Brasileiros
. 1.ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2002
7. VASCONCELOS, F.A.G.
Tendências históricas dos estudos dietéticos no Brasil.
História, Ciência e Saúde- Manguinhos, v.4, n.1, p.197-219, jan-mar, 2007
8. ROSANELI, C.F.; OLIVEIRA, A.A.B.;OLIVEIRA, E.R.N.
Participação da mistura arroz e
feijão na dieta usual de alunos da escola pública e privada de Maringá/PR. Cienc. Cuid. Saúde,
v.6, n. 2, p.384-389, 2007.
9. DALLA COSTA, M.C.; CORDONI JÚNIOR, L.; MATSUO, T..
Hábito alimentar de escolares
adolescentes de um município do oeste do Paraná. Rev. Nutr., v.20, n.5, p. 461-471, 2007
10. ZIMMER, A.F.; SEITZ, D.R.; MACCARI, I.M.; JELLINEK, M, J; MALAGUTTI, M.;
SCHMMOLER, S.; OLIVEIRA. Influência dos hábitos alimentares no desenvolvimento de
gastrites estomacais. Revista de Biologia e Saúde da UNISEP.v.1, n.1, 2, 2007
11. BERTIN, R.L.; KARKLE, E.N.L.; ULBRICH, A.Z.; STABELINI NETO, A.; BOZZA, R.;
ARAÚJO, I.Q.; CAMPOS, W.. Estado nutricional e consumo alimentar de adolescentes da rede
pública de ensino da cidade de São Mateus do Sul, Paraná, Brasil. Ver. Bras. Matern. Infant.
Recife, v.8, n.4, 435-443, out-dez 2008
12. OLIVEIRA, A.M.
Boas práticas de fabricação na agroindústria familiar
-
Propostas para
garantia da segurança alimentar.Estudo de caso em coronel vivida PR, 131p., 2002.
Dissertação de Mestrado Programa de Pós Graduação em Tecnologia de Alimentos, Universidade
Federal do Paraná.
13. MENASCHE, R; MARQUES, F.C; ZANETTI, C.
Autoconsumo e segurança alimentar: a
agricultura familiar a partir dos saberes e práticas da alimentação Rev. Nutr., n.21, p.145-158,
jul./ago., 2008
14. DORIGON, C.
A constr
ucão do mercado de produtos de origem colonial: o caso da
região oeste de Santa Catarina Brasil. Disponível em URL:
http://www.itoi.ufrj.br/seminario/anais/Tema%205-2-CL%D3VIS.pdf, acesso em: 20/01/2010
5
NOTAS TÉCNICAS
Neste capítulo serão descritas as referências temporais e
do universo amostrado na pesquisa realizada, bem como
aspectos adotados na metodologia da pesquisa.
A coleta de dados para a pesquisa foi realizada entre
agosto e dezembro de 2008, com a colaboração de acadêmicos
do Curso de Farmácia da União de Ensino do Sudoeste do
Paraná - Unisep, Dois Vizinhos - PR e profissionais da área de
saúde de Dois Vizinhos e 12 municípios próximos. O universo
pesquisado resultou em uma amostra o-probabilística, que
abrangeu indivíduos da comunidade de entorno dos acadêmicos, residentes nos
seguintes municípios: Abelardo Luz, Barracão, Coronel Vivida, Dois Vizinhos, Eneas
Marques, Francisco Beltrão, Itapejara D’Oeste, Marmeleiro, Pato Branco, Salgado
Filho, São João e São Jorge do Oeste, que são municípios do Paraná e Campo Erê,
que pertence a Santa Catarina na divisa com a região sudoeste do Paraná
1
.
Esta pesquisa está classificada como Pesquisa Descritiva, com a observação
dos fatos tal como ocorrem e coleta de dados padronizada por meio de questionário,
do tipo levantamento, para o conhecimento direto da realidade. Foi adotado o
método quantitativo para tabular hábitos, condutas e gosto que constituem o modo
de viver da população estudada
2
3
.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da UNISEP Dois Vizinhos em
2008.
Para a realização do diagnóstico proposto, a pesquisa foi dividida em cinco
etapas, a serem descritas a seguir:
1. Capacitação dos Acadêmicos participantes da pesquisa
Para propiciar a participação dos acadêmicos não como meros coletores de
informação, mas como membros pensantes da pesquisa, foram realizadas reuniões
de capacitação discutindo os objetivos da pesquisa e sua metodologia.
2. Coleta de dados entre Profissionais da Área de Saúde
Os acadêmicos participantes distribuíram um formulário explicativo da
pesquisa, com o seguinte questionamento: Quais hábitos alimentares da Região
Sudoeste você suspeita que possam estar relacionados às enfermidades mais
[É FAZENDO QUE SE
APRENDE A FAZER
AQUILO QUE SE DEVE
APRENDER A FAZER]
ARISTÓTELES
384-322 A.C.
6
observadas na população? As respostas foram agrupadas pelos acadêmicos para
orientar a próxima etapa da pesquisa.
Nesta pesquisa participaram 23 acadêmicos do curso de Farmácia, que
obtiveram informações de 108 profissionais da área de saúde do município onde
residem.
Os profissionais de saúde consultados foram farmacêuticos (49),
nutricionistas (9), médicos (17), agente de saúde (4), enfermeiros (9), auxiliar de
enfermagem (13), fisioterapeuta (1), odontólogos (6).
3. Desenvolvimento de Questionário de Pesquisa
Foi desenvolvido em conjunto com os acadêmicos um questionário de
perguntas fechadas para a coleta dos dados, representado na Figura 1. Este
questionário foi previamente testado para verificar seu entendimento. Dentre as
características da população investigadas foram de interesse idade, alimento e
frequência de consumo, sendo este critério dividido entre raramente, algumas vezes
por semana, todos os dias. Também foram questionados alguns fatores
relacionados à segurança alimentar, como consumo de alimentos sem fiscalização e
com alto risco à saúde. Os acadêmicos participaram de treinamento para a utilização
correta deste instrumento de coleta de dados
3 4
.
Este questionário não incluiu porções de alimentos e poderá evoluir para a
criação de um questionário quantitativo de frequência alimentar a ser aplicado
sistematicamente para estudos epidemiológicos
5
.
4. Realização das Entrevistas
As entrevistas foram realizadas entre outubro e novembro de 2008, com
amostragem aleatória, buscando a maior variedade possível de municípios da
região, conforme a disponibilidade dos acadêmicos participantes. Foram
entrevistados 534 indivíduos representando a comunidade próxima aos acadêmicos.
Após a coleta, os dados foram cadastrados em planilha do Excel, para o estudo
estatístico descritivo e demonstração gráfica.
7
Figura 1 Questionário utilizado para coleta de dados sobre hábitos alimentares em
Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos, 2008 (continua)
8
Figura 1 Questionário utilizado para coleta de dados sobre hábitos alimentares em
Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos, 2008
9
A distribuição dos participantes por idade pode ser vista na Tabela 1
Tabela 1 Distribuição dos entrevistados por idade, na pesquisa sobre hábitos alimentares
residentes em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos, 2008.
Idade (anos) 0 a 20 21 a 40 41 a 60 acima de 60 Total
Participantes 159 222 124 29 534
(%) 30 42 23 5 100
5. Apresentação Preliminar dos resultados obtidos
Com intuito de socializar os dados preliminares obtidos na pesquisa, foi
realizado um seminário em dezembro de 2008, aberto à comunidade e desenvolvido
pelos acadêmicos envolvidos na pesquisa.
A partir desta etapa iniciou-se um estudo mais aprofundado para permitir uma
comparação dos dados obtidos com a literatura científica existente e assim fornecer
subsídios mais consistentes para discussão. Os dados são compostos por
distribuição de frequência caso discreto e foram avaliados como medidas de
tendência não central, em percentis
6
.
REFERÊNCIAS
1. COSTA NETO, P.L.O.
Estatística.
São Paulo: Edgard Blüchter, 1977, 264p.
2. TURATO, E.R.
Métodos qualitativos e quantitativos na área de saúde: definições,
diferenças e seus objetos de pesquisa. Revista de Saúde Pública, v.39, n.3, 2005
3. GIL. A.C.
Como Elaborar projetos de Pesquisa
. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1995, 102p.
4. KIDDER, L.H. Métodos de pesquisa nas relações sociais/ SELLTIZ; WRIGHTSMAN;
COOK. 4.ed, v.2, São Paulo:EPU, 1987, 133p. 2
5. CARDOSO, M.A.; STOCCO, P.R.
Desenvolvimento d
e um questionário quantitativo de
freqüência alimentar em imigrantes japoneses e seus descendentes residentes em
São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v.16, n.1, 2000
6. COSTA, A.C.
Estatística 1.
Lisboa: UNL, 2007. Disponível em:
https://online.isegi.unl.pt/Classificacoes/Parciais/23_2009261822.pdf. Obtido em:
15/09/2009.
10
PATOLOGIAS PESQUISADAS NO ESTUDO
As patologias relacionadas aos hábitos alimentares da
região estudada, citadas pelos profissionais da área de saúde,
foram agrupadas em 11 categorias, listadas em ordem alfabética.
1 - ALERGIA ALIMENTAR
A alergia alimentar é a reação adversa a um antígeno
alimentar mediada por mecanismos imunológicos. É um problema
nutricional que afeta 2,5% da população adulta no mundo e
apresenta um crescimento nas ultimas décadas, provavelmente devido à maior
exposição da população a um número maior de alérgenos alimentares disponíveis.
Os alimentos mais citados como causadores de alergias alimentares são: leite, ovos,
amendoim, castanhas, camarão, peixe e soja, e os principais alérgenos alimentares
identificados são de natureza protéica
1
. Na população estudada 18 pessoas
alegaram apresentar alergia alimentar, totalizando um índice de 3,4%, número este
que parece estar acima da média dos estudos, conforme visto na Tabela 2. Em
relação á faixa etária, destaca-se a população entre 0 e 20 anos, onde 5%
apresentam alergia alimentar e entre 41 e 60 anos o índice é de 4%. Acima de 61
anos os participantes não declararam possuir esta morbidade. Apesar da tendência
ao crescimento da alergia alimentar no mundo, são poucos os estudos que
apresentam números de sua prevalência.
Tabela 2 Porcentagem de entrevistados por idade, que possuem alergia alimentar, na pesquisa
sobre hábitos alimentares residentes em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos,
2008.
Idade (anos) 0 a 20 21 a 40 41 a 60 acima de 60 Total
Portadores de Alergia
Alimentar
8 5 5 0 18
Número de entrevistados 159 222 124 29 534
(%) relativa por coluna 5 2,3 4 0 3,4
Esta população está apresentando aumento nas reações alérgicas
relacionadas a alimentos e para uma próxima pesquisa seria providencial investigar
quais alimentos estão envolvidos nestas reações.
[A FELICIDADE DO
CORPO CONSISTE
NA SAÚDE, E A DO
ESPÍRITO, NO SABER]
TALES DE MILETO
625 - 556 A.C.
11
2 - CÂNCER (DE BOCA, ESÔFAGO, DE FÍGADO, DE LARINGE, DE
INTESTINO)
O câncer é responsável por 7,1 milhões de mortes por ano, o que representa
12,6% do total de óbitos no mundo. Os fatores associados à dieta alimentar são
responsáveis 30% dos casos de câncer nos países ocidentais e por até 20% nos
países em desenvolvimento. O regime alimentar perde apenas para o fumo, como
principal causa de câncer que pode ser evitada. Cerca de 20 milhões de pessoas
sofrem de câncer e esse número deve chegar a 30 milhões nos próximos 20 anos. O
número anual de novos casos (incidência) deverá aumentar de 10 para 15 milhões
até 2020, de acordo com as estimativas. Mais da metade de todos os casos de
câncer acontece em países em desenvolvimento
3
. Das evidências que reduzem ou
aumentam o risco de casos de câncer algumas são convincentes outras nem tanto.
Estas evidências estão representadas na Figura 2
2 3 4 5 6
.
Evidência Redução de Risco Aumento de Risco
Convincente Atividade física diminui o risco de
câncer de cólon e reto
Excesso de peso e obesidade
aumentam o risco de câncer de
esôfago, cólon e reto, mama,
endométrio, rins;
O álcool aumenta o risco de
câncer na cavidade oral,
faringe, laringe, esôfago, fígado
e mama;
Aflatoxina aumenta o risco de
câncer de fígado
Provável Alimentação rica em frutas e verduras
diminui o risco de câncer na cavidade
oral, estômago, cólon e reto.
Carne em conserva aumenta o
risco de câncer de cólon, reto e
esôfago;
Sal e alimentos conservados
em sal aumentam o risco de
câncer de estômago;
Bebidas e alimentos muito
aquecidos aumentam o risco de
câncer na cavidade oral,
faringe e estômago.
Possível / insuficiente Fibra; soja; peixe; ácidos graxos;
carotenóides; vitaminas B2, B6, folato,
B12, C, D, E; cálcio; zinco; selênio;
constituintes vegetais não nutritivos
(ex. flavonóides e isoflavonas).
Gordura animal; aminas
heterocíclicas; carboidratos
aromáticos policíclicos e
nitrosaminas.
FIGURA 2 – Descrição das evidências dos fatores que reduzem ou aumentam o risco de desenvolver
câncer
2 3 4 5 6
12
A população pesquisada em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios
próximos, apresenta aumento de casos de câncer diagnosticados conforme o
aumento da idade, como pode ser visto na Tabela 3.
Tabela 3 Porcentagem de entrevistados por idade, com diagnóstico de câncer, na pesquisa sobre
hábitos alimentares residentes em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos, 2008.
Idade (anos) 0 a 20 21 a 40 41 a 60 acima de 60 Total
Entrevistados com
diagnóstico de câncer
0 0 1 1 2
Número de entrevistados 159 222 124 29 534
(%) relativa por coluna 0 0 0,8 3 0,4
Esta morbidade felizmente não parece ser de grande incidência na população
estudada, mas requer contínuo monitoramento, e estando em alerta, as
oportunidades de prevenção são mais eficientes.
3 - CISTICERCOSE
A neurocisticercose (NCC) humana é uma patologia diretamente relacionada
à ingestão de ovos de Taenia solium que se transformam em larvas e migram para o
sistema nervoso central. Os ovos ingeridos podem ser provenientes de sua própria
infestação ou da alimentação. Esta enfermidade está diretamente relacionada ao
aparecimento de crises epilépticas em indivíduos adultos tanto em países em
desenvolvimento como nos países industrializados, devido à imigração de indivíduos
procedentes de zonas endêmicas. A neurocisticercose acomete cerca de 2% da
população brasileira, e na região noroeste do Paraná este índice é de 0,8%
7
.
A cisticercose em animais é a origem da infestação humana por estes
parasitas, e um dos meios de evitá-la é a realização de Inspeção Sanitária em
carcaças destinadas ao consumo. Esta é a patologia mais encontrada na Inspeção
post mortem em bovinos abatidos em estabelecimentos com Serviço de Inspeção
Federal (SIF). No Brasil a média da prevalência desta parasitose é de 5%, porém,
estes índices podem variar segundo a região anatômica avaliada, região geográfica
ou período de realização de trabalho. No Paraná um estudo realizado em 2000 na
região de Curitiba, identificou 3,8% em média dos bovinos com cisticercose
8
.
Dentre os entrevistados em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios
próximos, 2 pessoas alegaram serem infectados por cisticercos, representando 0,4%
13
do total da população estudada (Tabela 4). Os índices encontrados são menores em
comparação ao Noroeste do Paraná e ao total do país.
Tabela 4 Porcentagem de entrevistados por idade, com diagnóstico de cisticercose, na pesquisa
sobre hábitos alimentares residentes em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos,
2008.
Idade (anos) 0 a 20 21 a 40 41 a 60 acima de 60 Total
Portadores de cisticercose 0 1 1 0 2
Número de entrevistados 159 222 124 29 534
(%) relativa por coluna 0 0,5 0,8 0 0,4
4 - DIABETES
Cerca de 177 milhões de pessoas sofrem de diabetes no mundo e esse índice
deverá dobrar a2030. Aproximadamente quatro milhões de mortes ao ano são
atribuídas a complicações do diabetes. O Brasil está entre os dez países do mundo
de maior número de diabéticos, e pesquisa realizada em 2006 indica uma
porcentagem de 5,3% de portadores
9
. Os custos de atenção ao diabetes variam de
2,5% a 15% dos orçamentos anuais da saúde, dependendo da prevalência local de
diabetes e do nível de complexidade dos tratamentos disponíveis. Os custos de
produção perdidos podem exceder, em até cinco vezes, os custos diretos de
atenção à saúde. Estudos baseados em populações da China, Canadá, Estados
Unidos indicam que intervenções para alterar o estilo de vida podem prevenir o início
do diabetes em pessoas de alto risco. A prevenção primária dos fatores de risco se
faz com um regime alimentar saudável e atividade física regular
2
.
Em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos, o índice de
portadores de diabetes em relação ao total dos entrevistados foi de 2,2%, menos da
metade do índice brasileiro. Verifica-se o aumento dos portadores de diabetes com o
aumento da idade, sendo que acima de 60 anos o índice supera a média brasileira,
conforme os dados representados na Tabela 5.
Tabela 5 Porcentagem de entrevistados por idade, com diagnóstico de diabetes, na pesquisa sobre
hábitos alimentares residentes em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos, 2008.
Idade (anos) 0 a 20 21 a 40 41 a 60 acima de 60 Total
Portadores de diabetes 1 5 4 2 12
Número de entrevistados 159 222 124 29 534
(%) relativa por coluna 0,6 2,3 3,2 7 2,2
14
5 - DISLIPIDEMIAS – DOENÇAS CARDIO-VASCULARES
Cerca de 16,6 milhões de pessoas morrem anualmente de doenças
cardiovasculares, que incluem doenças coronarianas (ou doença isquêmica cardíaca
e infarto), doença vascular cerebral (derrame), hipertensão, insuficiência cardíaca,
doença reumática cardíaca, o que equivale a um terço do total de óbitos no mundo
em 2001. Aproximadamente 80% dos óbitos por doenças cardiovasculares ocorrem
em países de baixa e média renda. Estima-se que as doenças cardiovasculares
serão a principal causa de mortalidade nos países em desenvolvimento nas
próximas décadas. Pelo menos 20 milhões de pessoas sobrevivem a infartos e
acidentes vasculares cerebrais a cada ano. Muitas delas, após o problema,
continuam a depender de atenção clínica dispendiosa. A prevenção passa por um
regime alimentar saudável evitando sal e gorduras saturadas e consumindo frutas,
verduras, nozes e grãos integrais, exercício físico adequado, controle da
hipertensão, controle de diabetes, redução do colesterol e obesidade e eliminação
do fumo
2
.
Diversos estudos têm demonstrado que a dieta afeta diretamente os níveis
séricos de colesterol, pela quantidade e qualidade dos ácidos graxos ingeridos, com
a indicação de que a redução da ingestão de gordura saturada é o fator de maior
impacto na redução do nível de colesterol plasmático
10
.
Entre os entrevistados em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios
próximos, 39 participantes apresentam dislipidemias, representando 7,3% do total da
população estudada, ilustrado na Tabela 6. Quando se analisa a distribuição da
dislipidemia por faixa etária, as porcentagens aumentam com o aumento da idade,
alcançando 21% dos entrevistados acima de 60 anos. Em 1998, um estudo
conduzido no Brasil mostrou que 38% dos homens e 42% das mulheres apresentam
colesterol total acima de 200mg/dL
11
.
Tabela 6 Porcentagem de entrevistados por idade, com diagnóstico de dislipidemias, na pesquisa
sobre hábitos alimentares residentes em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos,
2008.
Idade (anos) 0 a 20 21 a 40 41 a 60 acima de 60 Total
Entrevistados com
dislipidemias
1 12 20 6 39
Número de entrevistados 159 222 124 29 534
(%) relativa por coluna 0,6 5,4 16,1 21 7,3
15
Cabe ressaltar que não foram realizadas análises sanguíneas na população
entrevistada em Dois Vizinhos e municípios próximos, e este índice de 7,3% para o
total dos participantes pode encobrir a ignorância em relação ao real estado da
composição lipídica. Poderia ter sido incluída na entrevista a alternativa de
desconhecimento por falta de análises e não somente neste tópico, mas também em
outros como diabetes e hipertensão, por exemplo.
Uma pesquisa sobre o perfil lipídico em 124 habitantes do município de Dois
Vizinhos em 2007 aponta que a situação desta população não apresenta um perfil
lipídico indicativo de risco cardiovascular, mas indica um alerta em relação a
algumas faixas etárias, destaca-se que as alterações se encontram na maior parte
em adultos jovens e aponta para as alterações nos níveis de triglicerídios
12
.
6 - GASTRITE
A gastrite é a lesão que mais frequentemente afeta o estômago e é definida
como uma inflamação da mucosa gástrica, que pode ou não estar infectada pela
bactéria Helicobacter pylori. O sintoma destacado é dor abdominal, sensação de
distensão gástrica, com perda de apetite e náuseas. Os ataques podem ser iniciados
com a ingestão de volume exagerado de alimentos, consumo de alimentos aos quais
o indivíduo é sensível e produtos irritantes á mucosa gástrica como álcool, tabaco,
ácido acetil salicílico e agentes antiinflamatórios não esteróides
13
.
Atualmente, a H. pylori acomete mais da metade da população mundial,
sendo mais freqüente nos países subdesenvolvidos onde sua prevalência nos
adultos alcança, segundo alguns estudos, índices de até 80%, valores estes
significativamente superiores aos observados nos países industrializados
representando um fator essencial na gênese da úlcera péptica e risco para o
desenvolvimento de câncer gástrico (20% a 50%)
14
.
As recomendações dietéticas para gastrite são: distribuição calórica normal
(carboidratos: 50 a 60%, proteínas: 10 a 15%, lipídios: 25 a 30%) com valor
energético total suficiente para manter ou recuperar o estado nutricional; o
fracionamento deve ser de 4 a 5 refeições/dia (evitar longos períodos em jejum). Os
alimentos com efeito positivo o aqueles ricos em fibras alimentares, que agem
como tampão, reduzindo a concentração de ácidos biliares no estômago e
diminuindo o tempo de trânsito intestinal, o que leva a menor distensão. Os
16
alimentos a serem evitados são os irritantes da mucosa: bebidas alcoólicas; café;
refrigerantes; pimenta vermelha; a pimenta preta; mostarda em grão, chili e
chocolate. As frutas ácidas devem ser consumidas de acordo com a tolerância do
paciente. O ambiente durante a alimentação deve ser tranquilo, comendo devagar e
mastigando bem os alimentos. Apesar das recomendações gerais, os pacientes
apresentam diferentes tolerâncias aos alimentos
13
.
Na pesquisa realizada em Dois Vizinhos no Sudoeste do Paraná e municípios
próximos, a gastrite foi a morbidade mais citada pelos participantes, 60 admitiram
sofrer deste mal, conforme os dados dispostos na Tabela 7. Em relação ao total de
entrevistados, o índice é de 11,2%, distribuídos de maneira quase uniforme nas
faixas etárias a partir de 21 anos.
Tabela 7 Porcentagem de entrevistados por idade, com diagnóstico de gastrite, na pesquisa sobre
hábitos alimentares residentes em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos, 2008.
Idade (anos) 0 a 20 21 a 40 41 a 60 acima de 60 Total
Portadores de gastrite 9 28 19 4 60
Número de entrevistados 159 222 124 29 534
(%) relativa por coluna 5,7 12,6 15,3 14 11,2
7 – HIPERTENSÃO
A Hipertensão Arterial é uma doença crônica, não transmissível, de natureza
multifatorial e na maioria dos casos assintomática. Nesta patologia existe o
comprometimento do equilíbrio dos mecanismos vasodilatadores e vasoconstritores,
levando a um aumento da tensão sanguínea nos vasos, capaz de provocar danos
aos órgãos por eles irrigados
15
. As doenças cardiovasculares constituem o principal
grupo de causas de morte da população adulta no Brasil e a Hipertensão Arterial é o
principal fator de risco para doenças coronarianas, doenças cerebrovasculares entre
outras doenças do aparelho cardiovascular. Neste contexto, a patologia revela-se
como um dos mais importantes problemas de saúde pública de nosso país, com
prevalência média de 21,6%, conforme estudo realizado em 2006 com 54.369
indivíduos por meio de entrevistas telefônicas
10
.
correlação entre os níveis de pressão arterial com a idade, o peso, a
frequência cardíaca, a glicose, a dieta com excesso de ingestão de sal e ácidos
17
graxos, o etilismo, a obesidade, o sexo, a cor do indivíduo, a história familiar, o
sedentarismo e o tabagismo
15
.
Quanto ao tratamento não medicamentoso, dentre as modificações do estilo
de vida estão a redução do excesso de peso corpóreo, redução da ingestão de
sódio, maior ingestão de alimentos ricos em potássio, cálcio e magnésio, redução do
consumo de bebidas alcoólicas e práticas de exercícios físicos regulares. Outras
medidas que também devem ser associadas são o abandono do tabagismo, o
controle das dislipidemias, o controle do diabetes mellitus quando associado e evitar
drogas potencialmente hipertensoras
15
.
Do total de entrevistados em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios
próximos, 10,7% são hipertensos, índice que se encontra bem abaixo do citado
como média do Brasil. Mas, ao se avaliar a porcentagem distribuída pela faixa etária,
a situação se torna bem diferente (Tabela 8). Observa-se um nítido aumento do
número de hipertensos com o aumento da idade, culminando com 48% dos
participantes acima de 61 anos. Portanto quase metade da população acima de 61
anos se encontra hipertensa e sujeita às conseqüências causadas por esta
morbidade.
A população entrevistada nesta pesquisa se encontra acima da média de
hipertensos brasileira a partir da faixa etária acima de 41 anos, o que deve ser um
alerta para ações preventivas a esta morbidade.
Tabela 8 Porcentagem de entrevistados por idade, com diagnóstico de hipertensão, na pesquisa
sobre hábitos alimentares residentes em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos,
2008.
Idade (anos) 0 a 20 21 a 40 41 a 60 acima de 60 Total
Hipertensos 1 10 32 14 57
Número de entrevistados 159 222 124 29 534
(%) relativa por coluna 0,6 4,5 25,8 48 10,7
8 - PEDRA NA VESÍCULA
As pedras na vesícula conhedcidas também por cálculos biliares e litíase biliar
é uma doença do trato digestivo, multifatorial que apresenta prevalência variada em
diferentes grupos étnicos e que gera altos gastos nos sistemas de saúde. No Brasil
estima-se a prevalência de 9,3% da população em geral
16
.
18
Mais de 90% dos cálculos são formados principalmente por colesterol no
interior da vesícula biliar, pela hipersaturação hepática do colesterol, nucleação, e
fatores adicionais como hipomotilidade vesicular e trânsito intestinal lento. Os 10%
restante são cálculos pigmentados de bilurrubinato de cálcio polimerizados,
possivelmente formados por bactérias
16
.
Os fatores que contribuem na formação de cálculos biliares são genéticos,
dietéticos (dieta rica em carboidratos, gorduras e baixo consumo de fibras),
fisiológicos (gravidez, menopausa) além de fatores ambientais (sedentarismo), ainda
não bem definidos
16
.
Sabe-se que os pacientes submetidos à gastroplastia e que sofrem grande
emagrecimento em curto espaço de tempo também estão sujeitos ao aparecimento
da cálculos na vesícula, principalmente nos primeiros meses do pós-operatório. A
obesidade é o maior fator de risco para o desenvolvimento de cálculos de colesterol
e cerca de 25% a 45% da população apresentam estes cálculos
17
.
Na pesquisa realisada em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios
próximo, 1,1% dos entrevistados declararam apresentar pedras na vesícula, sendo
que os mais atingidos são os estão acima de 41 anos, como representado na Tabela
9. Os dados obtidos nesta pesquisa fornecem um número de portadores de cálculos
biliares bem abaixo do que se encontra no Brasil.
Tabela 9 Porcentagem de entrevistados por idade, com diagnóstico de cálculo biliar, na pesquisa
sobre hábitos alimentares residentes em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos,
2008.
Idade (anos) 0 a 20 21 a 40 41 a 60 acima de 60 Total
Portadores de cálculo biliar 0 1 4 1 6
Número de entrevistados 159 222 124 29 534
(%) relativa por coluna 0 0,5 3,2 3 1,1
9 - PEDRA NOS RINS
As pedras nos rins ou cálculos renais são a terceira causa mais comum de
doença do trato urinário no mundo. Os cálculos urinários são agregados
policristalinos compostos de quantidades variadas de cristais de oxalato de cálcio,
fosfato de cálcio, ácido úrico, triplo fosfato amoníaco magnesiano ou estruvita e
cistina
18
.
19
O século XX foi caracterizado por um notável aumento na freqüência de
cálculos, especialmente em países industrializados, devido a alterações no estilo de
vida, com particular atenção aos hábitos dietéticos e situação nutricional dos
formadores de cálculos. A prevalência da litíase urinária é estimada em 2% a 3 % da
população geral, podendo variar de 1 a 15%
18
.
Os fatores de risco podem ser idade, sexo e hereditariedade, fatores
geográficos, climáticos e dieta, entre outros
18
.
Uma alta ingestão de líquidos é uma medida fundamental para evitar a
formação de cálculos urinários, pelo seu efeito dilucional e redução na razão de
supersaturação da urina, além de prevenir a recorrência
18
.
A dieta é um dos fatores mais importantes na formação de cálculos. Uma
dieta com um menor valor energético diminui a formação de cálculos. O grande
consumo de proteína animal, pode levar à formação de cálculos. Um dado que
reforça esta idéia é o fato de essa ser uma doença relativamente incomum em
vegetarianos
18
.
A ingestão de cálcio é um fator intrigante, pois a restrição de cálcio na dieta
foi uma recomendação muito popular baseada em uma alta incidência de
hipercalciúria em formadores de cálculos de cálcio, de aproximadamente 50%. Mas
na verdade, pessoas que ingerem menos cálcio têm uma probabilidade maior de
formar cálculos, por que baixas concentrações de cálcio no lúmen intestinal causam
um aumento secundário no oxalato urinário, devido à diminuída ligação de oxalato
ao cálcio no trato gastrointestinal. Diante desses dados, atualmente a maioria dos
estudiosos aconselha uma maior ingestão de cálcio para prevenir a litíase urinária
19
.
uma relação estabelecida entre a ingestão de cloreto de sódio (NaCl) e
a excreção urinária de cálcio, assim, evitar o sódio excessivo é uma estratégia
razoável para a prevenção da formação de cálculos de cálcio recorrentes
18
.
É importante evitar quantidades excessivas de alimentos ou líquidos ricos em
oxalato (chocolate preto, nozes)
18
.
Por último, modificações dietéticas para a prevenção do sobrepeso,
juntamente com uma ingestão líquida adequada deveria ser o tratamento de primeira
linha em todos os formadores de cálculos
18 20
.
Os dados obtidos sobre cálculos renais em Dois Vizinhos, Sudoeste do
Paraná e municípios próximos, demonstram que 3,6% do total dos entrevistados já
sofreram ou sofrem deste mal, e a distribuição pelas faixas etárias não indica uma
20
linearidade em relação ao aumento ou diminuição da idade dos participantes (Tabela
10). Considerando o valor de que 2 a 3% da população em geral apresenta cálculos
renais, a população estudada acima de 41 anos está muito acima deste valor.
Tabela 10 Porcentagem de entrevistados por idade, com diagnóstico de cálculos urinários, na
pesquisa sobre hábitos alimentares residentes em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios
próximos, 2008.
Idade (anos) 0 a 20 21 a 40 41 a 60 acima de 60 Total
Portadores de cálculos
urinários
4 4 9 2 19
Número de entrevistados 159 222 124 29 534
(%) relativa por coluna 2,5 1,8 7,3 7 3,6
10 - PROBLEMAS INTESTINAIS
Nos estudos de auto-relatos de problemas de saúde no Brasil, os problemas
intestinais se encontram frequentemente citados sendo os mais percebidos pela
população a diarréia, dor de barriga e prisão de ventre. Estes sintomas geralmente
não são suficientes para que os atingidos procurem atendimento médico e
consequentemente optam pela auto-medicação, contribuindo com o fenômeno
denominado iceberg da morbidade
21
.
A diarréia pode ser ocasionada por fatores osmóticos, secretores, motores,
exsudativos e mistos, que podem ser relacionados com a dieta, nutrientes, utilização
de laxantes, problemas congênitos, doenças inflamatórias, hormônios,
enterotoxinas, cirurgias, diabetes, hipertireoidismo, infecções, entre outras causas. A
diarréia pode ser aguda se durar até 3 semanas ou crônica caso ultrapasse este
período
22 23
.
a prisão de ventre ou obstipação ou constipação intestinal, aparece em
ascenção devido aos hábitos da vida moderna, alimentação com poucas fibras,
sedentarismo e estresse crônico. Pode atingir até 30% da população e além dos
fatores causais citados também se encontram o uso abusivo de laxativos,
doenças do trato gastro-intestinal (cólon, mal de Chagas), doenças endócrinas e
metabólicas, neurológicas e psíquicas
22
.
O intestino pode ser considerado o grande mantenedor da saúde. O acúmulo
de maus tratos na função intestinal afeta o equilíbrio da microbiota, fazendo com que
as bactérias nocivas proliferem e gerem consequências para a digestão de
21
nutrientes. Para que o equilíbrio seja mantido, é essencial uma reeducação
alimentar, evitando o consumo excessivo de alimentos processados, de açúcares
simples, das carnes vermelhas e do leite e derivados, bem como o aumento na
ingestão de vegetais, frutas e cereais. Além disso, o uso de produtos probióticos,
prebióticos e simbióticos auxilia na prevenção e no tratamento das possíveis
alterações da microbiota intestinal
22
.
A ciência vem mostrando claramente que o intestino é um dos melhores
indicadores com que se pode contar para avaliar a saúde de um indivíduo. Cuidando
melhor do sistema gastrintestinal, melhora-se o sistema imunológico e,
consequentemente, vive-se com mais disposição
24
.
Em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos, 7,8% do total
dos entrevistados admitem sofrer de problemas intestinais, ilustrado na Tabela 11,
problemas estes que aparecem com um índice de 5% entre os mais jovens,
atingindo 10% da população acima de 61 anos.
Em comparação com os índices citados acima, esta população apresenta
melhores índices de saúde neste item do que a média da população no Brasil.
Tabela 11 Porcentagem de entrevistados por idade, com problemas intestinais, na pesquisa sobre
hábitos alimentares residentes em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos, 2008.
Idade (anos) 0 a 20 21 a 40 41 a 60 acima de 60 Total
Portadores de Problemas
Intestinais
8 21 10 3 42
Número de entrevistados 159 222 124 29 534
(%) relativa por coluna 5 9,5 8,1 10 7,9
11 – TOXOPLASMOSE
Estima-se que mais de 2 bilhões de pessoas estejam infectadas pelo
protozoário Toxoplasma gondii em todo mundo. Os únicos hospedeiros definitivos da
infecção são os felídeos, sendo que os gatos domésticos possuem papel
fundamental na transmissão de T. gondii para o homem e outros animais, os
hospedeiros intermediários. O homem adquire a infecção por três vias principais: por
ingestão de cistos teciduais em carne crua ou mal cozida, por ingestão de oocistos
esporulados e por via transplacentária
25
.
A pesquisa da presença de anticorpos IgG específicos em carne bovina e
suína abatidos no Brasil detectam a presença variável deste protozoário, e no
22
sudoeste do Paraná a freqüência de anticorpos anti-Toxoplasma gondii em suínos
abatidos foi de 25,5%. Os cistos de T. gondii são encontrados em lingüiças tipo
frescal, e também no leite
25
.
Na maioria das vezes a toxoplasmose é assintomática, porém a infecção
durante a gestação pode levar ao abortamento, ao retardo motor e mental ou à
perda da visão
25 26 27 28
.
Em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos, 1,1% do total
dos entrevistados sabem possuir diagnóstico positivo para Toxoplasmose, conforme
os dados na Tabela 12, lembrando novamente que não o resultados laboratoriais
de exames sanguíneos e que estes participantes podem ser também portadores
assintomáticos.
Tabela 12 – Porcentagem de entrevistados por idade, com diagnóstico de toxoplasmose, na pesquisa
sobre hábitos alimentares residentes em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos,
2008.
Idade (anos) 0 a 20 21 a 40 41 a 60 acima de 60 Total
Portadores de
Toxoplasmose
1 4 1 0 57
Número de entrevistados 159 222 124 29 534
(%) relativa por coluna 0,6 1,8 0,8 0 1,1
12 DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS E REPRESENTAÇÃO
GRÁFICA DOS ÍNDICES ENCONTRADOS POR ENFERMIDADES
PESQUISADAS
Na sequência estão representadas as respostas dos participantes desta
pesquisa sobre a freqüência de aquisição de doença de origem alimentar (Figura 3)
e a porcentagem dos entrevistados que alegam possuir as patologias pesquisadas
neste estudo (Figura 4).
Os entrevistados em sua maioria, 88% alegam que raramente ficam doentes,
mas uma somatória de 8% adoecem todos os anos ou até mais frequentemente. Os
números indicados nas colunas se referem à quantidade de participantes que
responderam para cada categoria.
23
Figura 3 Frequência de aquisição de doença de origem alimentar em Dois Vizinhos, Sudoeste do
Paraná e municípios próximos, 2008.
A Figura 4 ilustra os dados que foram apresentados separadamente por
categoria de doenças acima, destacando a incidência de gastrite, hipertensão,
problemas intestinais e dislipidemias na população estudada em Dois Vizinhos,
Sudoeste do Paraná e municípios próximos.
Figura 4 Porcentagem de entrevistados que alegam possuir as patologias pesquisadas em Dois
Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos, 2008.
Estes índices quando comparados aos nacionais apresentam destaque ao
serem analisados pelas faixas etárias, como foi discutido acima.
24
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26
ALIMENTOS PESQUISADOS NO ESTUDO
O ato da alimentação deve estar inserido no cotidiano das pessoas, como um
evento agradável e de socialização. Sabe-se que aquilo que se come e que se bebe
não é apenas uma questão de escolha individual, é ainda, em grande parte, uma
questão familiar e social. As refeições são mais saudáveis quando preparadas com
alimentos variados, com tipos e quantidades adequadas às fases do curso de vida,
compondo refeições coloridas e saborosas que incluem alimentos tanto de origem
vegetal como animal. As práticas alimentares saudáveis devem ter como enfoque
prioritário o resgate de hábitos alimentares regionais inerentes ao consumo de
alimentos in natura, produzidos em nível local, culturalmente referenciados e de
elevado valor nutritivo
1
.
Os alimentos estão divididos em oito grandes grupos apresentados a seguir
1
:
Grupo 1: Pães, cereais, raízes e tubérculos
Fazem parte desse grupo de alimentos o arroz, o milho e o trigo. Assim como
pães e massas, que devem ser consumidos preferencialmente na forma integral,
além de tubérculos como as batatas e raízes como a mandioca. Esse grupo deve
ser a principal fonte de energia da nossa alimentação e da maioria das refeições.
Grupos 2 e 3: Frutas, legumes e verduras
Frutas, legumes e verduras são ricos em vitaminas, minerais e fibras e devem
estar presentes diariamente nas refeições, pois contribuem para a proteção à saúde
e diminuição do risco de ocorrência de várias doenças.
Grupo 4 e 5: Leites e derivados, carnes e ovos
Leite e derivados, principais fontes de cálcio na alimentação, e carnes, aves,
peixes e ovos fazem parte de uma alimentação nutritiva que contribui para a saúde e
para o crescimento saudável. Os tipos e as quantidades desses alimentos devem
ser adequados às diferentes fases do curso da vida. Leite e derivados devem ser
27
preferencialmente desnatados, para os adultos, e integrais para crianças,
adolescentes e gestantes.
Grupo 6: Feijões e outros alimentos vegetais ricos em proteínas
As leguminosas como os feijões e as oleaginosas como as castanhas e
sementes são alimentos fundamentais para a saúde. A preparação típica brasileira
feijão com arroz é uma combinação alimentar saudável e completa em proteínas.
Grupos 7 e 8: Gorduras, açúcares e sal
As gorduras e os açúcares o fontes de energia. O consumo freqüente e em
grande quantidade desses e do sal, aumenta o risco de doenças como obesidade,
hipertensão arterial, diabetes e doenças do coração. O sal utilizado deve ser sempre
o sal fortificado com iodo.
As suspeitas dos profissionais da área de saúde, sobre os alimentos inseridos
no hábito da população em Dois Vizinhos, no Sudoeste do Paraná e municípios
próximos foram agrupadas conforme os 8 grupos de alimentos da pirâmide
alimentar
2
.
Grupo 1: Excesso de consumo de pães, massas e macarrão produzidos com farinha
refinada. Alto consumo de polenta. Baixo consumo de cereais integrais.
Grupos 2 e 3: Baixo consumo de hortaliças.Baixo consumo de frutas.
Grupo 4 e 5: Consumo de leite cru, sem ferver ou pasteurizar; consumo de queijo
sem inspeção; consumo de queijos com alto teor de gordura. Carne com gordura,
carne sem inspeção, carne mal passada, alto consumo de defumados e embutidos,
consumo de salame clandestino, consumo de ovos sem inspeção, consumo de
maionese preparada com ovos crus.
Grupo 6: Alto consumo de amendoim e derivados.
Grupo 7 e 8: Utilização de banha de porco em substituição ao óleo vegetal, consumo
de torresmos; alimentos fritos como pastéis e salgados e alto consumo de nata.Alta
ingestão de açúcar, alimentos em conservas doces, cucas, doces. Alta ingestão de
Sal.
28
Além destes alimentos, os profissionais da área de saúde entrevistados se
preocupam com a qualidade e quantidade de água que é ingerida pela população, o
que foi detectado nas seguintes respostas: consumo de água com agrotóxicos e
contaminada por parasitas, água não tratada e pouco consumo de água.
Os hábitos da vida moderna também foram percebidos: almoço fora do lar,
presença dos lanches na alimentação e alimentos congelados e industrializados com
condimentos em excesso foram citados pelos profissionais como uma preocupação
em relação à manutenção da saúde.
O consumo de chimarrão, a temperatura da água utilizada em seu preparo e a
quantidade excessiva de sal na alimentação foram as respostas mais freqüentes
entre os profissionais entrevistados.
Após a coleta de dados junto aos 534 participantes da pesquisa, com a
utilização do questionário exemplificado na Figura 1, as respostas foram
contabilizadas e representadas em gráficos. Nestes gráficos são informados o
percentual das respostas do total dos entrevistados e também a porcentagem
relativa por faixa etária. As colunas das faixas etárias são referentes ao total dos
participantes por idade, assim, as colunas da faixa entre 0 a 20 anos, tem um total
de 159 participantes; a faixa entre 21 e 40 anos, de 222 participantes; a faixa entre
41 e 60 anos, 124 participantes e acima de 61 anos, de 29 participantes, conforme a
Tabela 1. No interior das colunas é informado o número dos participantes de acordo
com a resposta dada ao entrevistador.
REFERÊNCIAS
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Básica. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Brasília: Ministério da
Saúde, 2006.
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29
GRUPO 1: PÃES, CEREAIS, RAÍZES E TUBÉRCULOS
Suspeita: Excesso de consumo de pães, massas e macarrão produzidos com
farinha refinada. Alto consumo de polenta. Baixo consumo de cereais integrais.
POLENTA
Da população entrevistada, 95% consomem polenta, com pouca variação
entre as faixas etárias, ilustrado na Figura 5. A frequência de consumo comprova o
hábito alimentar enraigado pela tradição italiana, com 5% dos entrevistados
consumindo polenta todos os dias e 40% consumindo algumas vezes por semana,
conforme se observa na Figura 6. Este hábito alimentar, característico de algumas
regiões do Estado do Paraná, não foi observado por exemplo, em Toledo no Oeste
do Estado, em estudo com adolescentes entre 14 e 19 anos, os mesmos alegam
consumir polenta apenas mensalmente. Entre os adolescentes de Dois Vizinhos,
Sudoeste do Paraná e municípios vizinhos 40% consomem várias vezes por semana
ou diariamente
1
.
Figura 5 - Percentual dos entrevistados que consomem polenta, por idade, em Dois Vizinhos,
Sudoeste do Paraná e municípios próximos, 2008.
A polenta é composta nutricionalmente por carboidratos (13,8%), proteínas
(2,3%), fibras (1,2%) e o Índice Glicêmico (IG) é estimado em 52%, sendo
considerado médio. O IG é calculado a partir da glicemia encontrada no sangue em
até duas horas após a ingestão de um alimento fonte de carboidrato. Quanto mais
alto o IG, maior o pico de glicemia após a ingestão do alimento, forçando o
30
organismo a produzir picos de insulina, o que contribui para o desenvolvimento de
doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, obesidade ou a síndrome
metabólica
2 3
A porção recomendada de consumo da polenta é de 150g e a quantidade de
fibras proporcional nesta quantidade é de 1,8g, correspondendo a 6% do total de
fibras que deve ser consumido diariamente, não sendo uma boa fonte de fibras
4
.
Nutricionalmente, este alimento é considerado uma fonte energético-proteica,
e como fonte de energia é interessante por possuir o IG considerado médio. Mas em
relação à qualidade protéica, é deficiente em alguns aminoácidos essenciais, como
a lisina e o triptofano, o que confere à sua proteína baixo valor biológico. A qualidade
protéica da polenta indica a necessidade de complementar a alimentação com
outros alimentos que forneçam estes aminoácidos, como o feijão, soja, carne, ovos e
laticínios. Uma dieta pobre em lisina e triptofano, prejudica o funcionamento
adequado do organismo em geral, visto que as proteínas estão presentes em
praticamente todas as reações e estruturas humana
5 6 7 8
.
Figura 6 - Percentual dos entrevistados que consomem polenta sobre a frequência do consumo, por
idade, em Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos, 2008.
Quanto ao hábito de consumir polenta, com a frequência identificada na
pesquisa, é preciso cuidado com a quantidade ingerida e a complementação da
alimentação para a ingestão dos demais nutrientes necessários à manutenção da
saúde.
31
Além do aspecto nutricional, torna-se importante destacar a possibilidade de
contaminação do milho e fubá pelas micotoxinas bem como a falta de estudos que
quantifiquem este perigo na polenta
9
.
As micotoxinas são substâncias produzidas por algumas espécies de fungos,
com propriedades tóxicas acentuadas. Já foram isoladas mais de 300 micotoxinas, e
as mais largamente distribuídas nos alimentos o as toxinas do Ergot, aflatoxinas,
esterigmatocistina, ocratoxina, zearalenona, tricotecenos, fumonisinas, patulina,
toxinas produzidas no arroz, rubratoxinas, esporodesminas, ácido ciclopiazônico e
micotoxinas termorgênicas
10
.
O fubá pode ser contaminado por aflatoxina, relacionada com câncer
hepático, hepatoxicose aguda, e necrose do fígado. Também pode ser contaminado
por ocratoxina, associado com nefropatologias e outra micotoxina, a fumonisina,
está estatisticamente correlacionada com o aumento do risco de câncer do esôfago
em seres humanos que consumiram milho contaminado
9
.
Em um estudo envolvendo 123 amostras de milho e derivados nos municípios
de Maringá e Marialva PR, 5% das amostras estavam contaminadas, com baixos
níveis de toxina. Apesar do baixo índice, é importante o monitoramento dos
alimentos pois estas substâncias apresentam efeitos acumulativos no organismo
podendo causar problemas de saúde em longo prazo
11
.
MACARRÃO
O índice do total de participantes da pesquisa do Sudoeste do Paraná que
consomem macarrão é ainda maior do que o da polenta, alcançando 96%,
obviamente um hábito alimentar amplamente disseminado, conforme ilustrado na
Figura 7.
A freqüência de consumo deste alimento também é maior do que o consumo
da polenta, pois 74% dos participantes o consomem mais de uma vez por semana,
senão todos os dias, como pode ser observado na Figura 8.
O macarrão é composto por carboidratos (22,4%), proteínas (4,2%), lipídios totais
(0,5%) e fibras (1,2%)
12
. O IG do macarrão é estimado em 43% considerado baixo,
e a porção recomendada de consumo é de 180g
13
. É, portanto, um alimento
energético-proteico, de baixo custo e fácil preparo, que fornece pouca quantidade de
32
fibras por porção e possui baixa qualidade protéica, lembrando-se que desequilíbrios
nutricionais implicam em distúrbios no metabolismo
14 15
.
Pesquisadores estudando ratos alimentados com macarrão com ovos
concluíram que o consumo de macarrão afeta negativa e significativamente alguns
parâmetros relacionados ao metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios,
influenciando no ganho de peso, constituição das fezes, concentração plasmática de
glicose, ácido úrico, colesterol total e HDL, tamanho dos rins e pâncreas. Desta
forma, estes mesmos pesquisadores alertam, o crescente consumo de macarrão em
detrimento do arroz pela população brasileira poderia estar relacionado com o
aumento na incidência de desnutrição protéica e obesidade adulta e infantil, além de
agravar o quadro clínico de pacientes com hiperuricemia
15
.
Figura 7 - Percentual dos entrevistados que consomem macarrão, por idade, em Dois Vizinhos,
Sudoeste do Paraná e municípios próximos, 2008.
O equilíbrio na alimentação é algo que deve ser permanentemente buscado e
alertado à população, pois os bitos surgem de necessidades que muitas vezes
não são racionalizadas, apenas reproduzidas.
Considerando a frequência de consumo representada na Figura 8, o valor
obtido para a faixa etária entre 0 a 20 anos se parece com o obtido em pesquisa
realizada no Oeste do Paraná, onde 63% dos adolescentes entre 14 e 19 anos
relatam consumir macarrão semanalmente e 24% diariamente. Nesta pesquisa, a
faixa etária entre 0 e 20 anos é a maior consumidora de macarrão e 78% consomem
algumas vezes por semana e 7% todos os dias
1
.
33
Figura 8 - Percentual dos entrevistados que consomem macarrão quanto a frequência, por idade, em
Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná e municípios próximos, 2008.
A preocupação adicional ao excesso de consumo de carboidratos e a
inadequação protéica, é o aumento do consumo de macarrão instantâneo,
classificado como alimento ultraprocessado, que em sua maioria apresentam baixo
valor nutricional, alto valor calórico, escasses de fibras, inclusão de aditivos e alto
teor de sal, pois são produzidos com ingredientes já processados como óleos,
gorduras, farinhas, amido, açúcar e sal, além de conservantes, flavorizantes,
corantes e estabilizantes. Por meio de análise dos produtos, foi constatado que o
tempero em adicionado ao macarrão tem mais sódio que o valor total diário
recomendado para o consumo, quantidades abusivas de glutamato monossódico e
quantidade excessiva de gordura
16 17
.
PÃO BRANCO
Quanto a ingestão de pão, 10% do total de participantes da pesquisa
reconhecem que consomem em exagero, 39% consomem adequadamente e 51%
acreditam consumir moderadamente (Figura 9). No estudo realizado na região Oeste
do Paraná, o pão é consumido diariamente por adolescentes entre 14 e 19 anos
1
.
O o representa um alimento de baixo custo e de fácil acesso. O problema
do alto consumo deste alimento é que a maioria dos consumidores não opta pelo
pão integral, onde o teor de fibras estaria mais elevado e o suprimento de
carboidrato de alto índice glicêmico seria diminuido. Consequentemente, esta dieta
favorece ao desenvolvimento futuro de diabetes mellitus tipo 2. Considera-se um alto
34
IG quando é maior ou igual a 70% e o o francês, por exemplo, apresenta um IG
de 83%, quando uma refeição é baseada neste alimento, ocorre uma alta liberação
de carboidratos logo após a ingestão, acarretando na necessidade de liberação de
grande quantidade de insulina para equilibrar a glicemia sanguínea, produzindo
picos de produção de insulina com sobrecarga ao pâncreas
3 7 18 19
.
O consumo de pão integral, como o pão 7 grãos preparado com farelo de
trigo, farelo de aveia, flocos de centeio, sementes de girassol, farinha de cevada,
fubá de milho e gergelim, proporciona um IG de 42%, considerado baixo e
consequentemente mais saudável, além dos benefícios da ingestão de fibras
20 21
.
Figura 9 - Percentual da percepção dos entrevistados sobre seu consumo de pão
branco, por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
Um estudo prospectivo envolvendo 37.000 adultos durante 4 anos de
seguimento, chamado Melbourne Collaborative Cohort Study, relacionou
estatisticamente o aumento do risco de desenvolver diabetes mellitus tipo 2 com a
ingestão de dieta com alto IG e alto consumo de pão branco
22 23
.
A percepção da população entrevistada na pesquisa do Sudoeste do Paraná
é em sua grande maioria, de que o consumo de pão está entre adequada e
moderada, significando que esta quantidade consumida não é motivo de
preocupação nas dietas individuais. Seria oportuno investigar a quantidade
consumida deste alimento e o tipo de pão, se é integral ou não, para fins de
comparação levando-se em conta a porção recomendada pela pirâmide nutricional.
35
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37
GRUPO 2: HORTALIÇAS/ GRUPO 3: FRUTAS
Suspeita: Baixo consumo de hortaliças e frutas
O consumo de frutas, legumes e verduras tem sido associado à diminuição do
risco de mortalidade e à redução da ocorrência de doenças crônicas, tais como as
doenças cardiovasculares, derrames e alguns tipos de câncer. Além destas
enfermidades, a Organização Mundial da Saúde afirma que existem evidências
convincentes de que o consumo de frutas, legumes e verduras também diminui o
risco de diabetes e obesidade
1 2
. Desta maneira, existe uma recomendação de
consumo mínimo de pelo menos cinco porções diárias de frutas, legumes e
verduras, o que equivale a 400g ou mais por dia. O aumento na ingestão de frutas,
legumes e verduras pela população em geral tem sido uma prioridade das políticas
públicas de saúde em muitos países, inclusive no Brasil, como defende o Programa
Alimentação Saudável do Ministério da Saúde
3
.
Resultados da Pesquisa Mundial de Saúde em 2003, revelaram que o
consumo diário de frutas, legumes e verduras por adultos brasileiros foi referido por
apenas 1/5 dos entrevistados, sendo o consumo maior à medida que aumentava a
idade, em indivíduos com maior escolaridade e maior número de bens no domicílio
4
.
Na pesquisa realizada no Sudoeste do Paraná, apenas 2% do total de
entrevistados alegam não consumir frutas e verduras, sendo que 4% da faixa etária
entre 0 a 20 anos declaram não consumir estes alimentos (Figura 10).
Figura 10 - Percentual dos entrevistados quanto ao consumo de frutas e verduras,
por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
38
Sobre a frequência de consumo, 64% do total de entrevistados responderam
que consomem todos os dias, 26% que consomem algumas vezes por semana e
10% raramente consomem, como ilustrado na Figura 11. A princípio tem-se 36% dos
que declaram consumir frutas e verduras em frequência inadequada em relação ao
que se recomenda para a manutenção da saúde e prevenção de doenças. A faixa
etária que acusa o menor consumo é a de 0 a 20 anos, seguida pela de 21 a 40
anos.
Em pesquisa sobre este consumo na cidade de Pelotas RS, foram
entrevistadas 972 pessoas, dos quais apenas 20,9% consumiam regularmente frutas
e verduras. Estes autores destacam a influência do impacto do custo de frutas e
verduras no orçamento familiar como provável fator desestimulante do consumo. O
que influencia positivamente o aumento do consumo destes alimentos são
campanhas de aconselhamento nutricional. Considerando que hábitos alimentares
estão inseridos em estruturas culturais, econômicas e políticas, sugere-se maior
ênfase na promoção de políticas dirigidas aos determinantes do consumo de frutas,
legumes e verduras, bem como em ações específicas de educação nutricional que
visem ao estímulo deste consumo
5
.
Figura 11 - Percentual dos entrevistados quanto a frequencia do consumo de frutas
e verduras, por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
Em pesquisa realizada com 2.122 pessoas, pelo telefone, no município de
São Paulo, foi constatado que as mulheres apresentam a maior frequência de
consumo de frutas e verduras e observou-se que existe uma associação positiva
entre maior escolaridade e maior consumo destes alimentos. Os pesquisadores
39
concluiram que a freqüência do consumo de frutas, legumes e verduras na
população adulta residente no município de São Paulo está aquém das
recomendações atuais, em especial entre os mais jovens e aqueles de baixa
escolaridade. Estudos semelhantes apontam para a mesma constatação, o consumo
de frutas e verduras está muito abaixo do adequado, inclusive com uma grande
parcela da população com ausência de consumo
5 7 8
.
Com estas considerações, destaca-se a importância do estudo dos fatores
associados à freqüência do consumo de frutas, legumes e verduras para balizar
iniciativas de promoção do consumo desses alimentos
6
.
A frequência de consumo de frutas e verduras no Sudoeste do Paraná está
acima da identificada em outras regiões do Brasil. Como sugestão para uma próxima
pesquisa, este consumo poderia ser quantificado e comparado à recomendação da
Organização Mundial de Saúde.
REFERÊNCIAS
1. World Health Organization. Diet nutrition and the prevention of chronic diseases: report of
a joint WHO/FAO Expert Consultation. Geneva: World Health Organization; 2002. (WHO
Technical Report Series, 916).
2. OPAS. Doenças crônico-degenerativas e obesidade: estratégia mundial sobre
alimentação saudável, atividade fisica e saúde. Brasília: OPAS, 2003.
3. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Alimentação saudável. Disponível em:
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=1444. Obtido em:14/04/2010.
4. JAIME, PC; MONTEIRO,C.A. Fruit and vegetable intake by Brazilian adults, 2003. Cad
Saúde Pública 2005;21 Suppl 1:S19-24.
5. NEUTZLING, M.B.; ROMBALDI, A.J.; AZEVEDO,M.R.; HALLAL, P.C. Fatores associados ao
consumo de frutas,legumes e verduras em adultos de uma cidade no Sul do Brasil.
Cadernos de Saúde Pública, v. 25, n.11, 2009.
6. FIGUEIREDO, I.C.R.; JAIMEI, P.C.; MONTEIRO, C.A. Fatores associados ao consumo de
frutas, legumes e verduras em adultos da cidade de São Paulo. Revista de Saúde Pública,
v.42, n.5, 2008.
7. VIEBIG, R.F.; PASTOR-VALERO, M.; SCAZUFCA, M.; MENEZES, P.R. Fruit and vegetable
intake among low income elderly in the city of o Paulo, Southeastern Brazil. Revista de
Saúde Pública, v.43, n.5, 2009.
8. ENES, C.C.; SILVA, M.V.Disponibilidade de energia e nutrientes nos domicílios: o
contraste entre as regiões Norte e Sul do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v.14, n.4, 2009.
40
GRUPO 4: LEITE E PRODUTOS LÁCTEOS
Suspeita: Consumo de queijo sem inspeção; consumo de queijos com alto teor de
gordura; consumo de leite cru, sem ferver ou pasteurizar
QUEIJO
O queijo é um alimento que se encontra inserido no hábito alimentar da
população estudada, com seu consumo variando entre 92 e 95% nas faixas etárias
estudadas, indicado na Figura 12.
Figura 12 Percentual dos entrevistados sobre o consumo queijo, por idade, em
Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
A frequência de consumo é bastante alta, com 56% dos entrevistados
consumindo algumas vezes por semana e 20% consumindo todos os dias,
observando-se na Figura 13 um ligeiro aumento de consumo conforme aumenta a
idade.
A preferência é pelo produto colonial, 74% da população entrevistada prefere
este alimento, com aumento da preferência relacionado ao aumento da idade, como
se observa na Figura 14.
A composição nutricional do queijo colonial desta região não é bem estudada.
Sabe-se que existem grandes variações na quantidade de gordura entre os lotes
produzidos e também na quantidade de proteína, umidade e sal. Em um estudo
sobre a composição de 50 queijos da região serrana de Santa Catarina, foi
comprovado que não existe uma padronização no processo de fabricação, bem
como no desempenho do gado leiteiro e tipo de alimentação. O teor de gordura total
41
da maioria das amostras (70%) variou entre 20 a 25%, valores considerados
relativamente baixos quando comparados a seus similares e o teor de sal das
amostras estudadas variou entre 0,5 a 3,5%. A preocupação nutricional envolvendo
ente alimento está relacionada ás dislipidemias e hipertensão. Portanto, uma pessoa
que consuma queijo colonial frequentemente, está sujeito a grandes variações de
consumo de sal e gorduras
1
.
Figura 13 - Percentual da frequência de consumo de queijo pelos entrevistados, por
idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
Figura 14 - Percentual da preferência dos entrevistados que consomem queijo, entre
queijo colonial ou industrial, por idade, em Dois Vizinhos PR e municípios
próximos, 2008
Os queijos coloniais, quanto a sua qualidade microbiológica, constituem
perigo de infecção à população em geral e, especialmente, àquelas pessoas
imunocomprometidas. Como o leite oferece ótimas condições para o
desenvolvimento microbiológico, as condições de Boas Práticas desde a criação do
gado e todo o processo produtivo devem ser obedecidas. Vários pesquisadores
42
publicam artigos sobre a qualidade microbiológica de queijos, indicando a
contaminação na maioria das amostras recolhidas de pequenos produtores, o que
demonstra a dificuldade em implantar os controles sanitários necessários.
Ao ser constatada a presença de coliformes totais no alimento, existe a
indicação de higiene insuficiente que pode estar relacionada à matéria prima ou ao
processo de fabricação. Este fato pode não causar uma doença transmitida por
alimento, mas indica que este alimento oferece risco potencial de provocar uma
doença.
Análises de 62 amostras de queijos coloniais no Rio Grande do Sul
constataram que 84% se encontrava acima do limite permitido pela legislação
brasileira para Coliformes totais, confirmando problemas com higiene no processo
de fabricação. Contaminação por coliformes totais também foi encontrada em 100%
das 50 amostras de queijo colonial da região serrana de Santa Catarina. Também no
Rio Grande do Sul, 100 amostras de queijo colonial foram analisadas, das quais 8
amostras apresentaram a presença de Listeria sp, indicando contaminação na
matéria prima ou processo de fabricação
1 2 3
.
O queijo é um alimento capaz de veicular outros microorganismos causadores
de doenças como Brucella spp e Salmonella typhi. Quanto à contaminação química
no queijo se destacam dois aspectos: presença de pesticidas e aminas biogênicas
4
.
A presença de resíduos de pesticidas em leite e derivados tem sido mais
estudada nos Estados Unidos e na Europa e existem poucos estudos sobre este
assunto no Brasil. Em pesquisa que quantificou a presença de organoclorados, em
14 queijos tipo colonial e 4 tipo industrializados no Rio Grande do Sul, 56% das
amostras apresentaram pelo menos um composto organoclorado acima do limite
máximo de resíduos permitido pela Legislação Brasileira
5
.
Os organoclorados estão proibidos no Brasil desde 1985 e quando presentes
no gado leiteiro, são excretados pelo leite e são associados a vários efeitos crônicos
como imunossupressão, deficiência reprodutiva, alterações endócrinas e
neurológicas, carcinogenicidade, mutagenicidade, teratogenicidade, irritação e lesão
ocular e cutânea, mais criticas em crianças
5
.
Outros contaminantes químicos são as aminas biogênicas, que são formadas
na fermentação da mesma maneira como ocorre no salame, e o queijo é excelente
meio para a produção destas substâncias
6
. Em baixos níveis de concentração estas
aminas não representam grande risco á saúde, mas podem se tornar perigosas se o
43
consumo deste alimento for muito alto ou se as rotas normais de catabolismo
estiverem bloqueadas no consumidor. Entre estas aminas estão a histamina e a
tiramina, que podem estar presentes em queijos maturados, e que constam da lista
dos agentes causadores de surtos alimentares. Os sintomas da ingestão destas
aminas em alimentos incluem cefaléia, tontura, náusea, vômito, gosto apimentado,
ardência na garganta, tumefação e vermelhidão facial, dor de estômago e prurido
cutâneo, que podem aparecer entre alguns minutos ou horas após sua ingestão
4
.
A segurança dos alimentos tradicionais, como é o caso do queijo colonial,
será melhorada de fato a partir do momento em que este nicho de mercado for visto
em sua realidade, com seus problemas e contexto sócio-econômico. Está claro que
as normas exigidas de maneira genérica não são possíveis de serem empregadas, a
participação dos agricultores familiares na discussão destas normas é fundamental
para o avanço desta área, mas isto só será possível se houver programas de
capacitação direcionados para as comunidades em questão, para evitar a
clandestinidade
1 6
.
Existem ótimas oportunidades de parcerias entre os centros de formação
profissional e as associações de produtores de alimentos tradicionais para que se
desenvolvam trabalhos de extensão com a implantação de Boas Práticas de
Fabricação e monitoração da qualidade físico-química e microbiológica e em
contrapartida abrem-se áreas de estágio e atuação profissional aos acadêmicos.
Na pesquisa realizada em Dois Vizinhos e municípios próximos sobre a
verificação da presença de rótulo em queijo, observa-se uma variação entre 40 e
60% de respostas positivas nas faixas etárias pesquisadas, ilustrado na Figura 15.
Este índice de verificação de rótulo parece estar bastante alto, salientando
que o foi avaliado se o queijo consumido pelos entrevistados possuia tulo e se
este está adequado, bem como não foi avaliado se os entrevistados compreendem e
utilizam adequadamente a informação nutricional.
44
.
Figura 15 Percentual de verificação da presença de rótulos em queijo pelos
entrevistados, por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
LEITE CRU
Doenças transmitidas por leite cru, ou seja o leite que não foi pasteurizado ou
fervido, sempre foram alvo de preocupação na área de saúde pública. Apesar do
consumo de leite cru não ser um hábito alimentar característico desta região
pesquisada, ainda tem-se 17% do total de entrevistados alegando que consomem
este alimento, hábito este que decresce com o aumento da faixa etária, como está
demonstrado na Figura 16. Este comportamento também é observado no município
de Campo Mourão-PR, onde 34% de 423 entrevistados consomem leite cru, e as
razões deste consumo parecem estar diretamente relacionado com conceitos
previamente formados de que este produto possui boa qualidade, além não
conhecerem os riscos que este consumo oferece
8
.
O leite cru pode ser veículo para 7 doenças viróticas básicas e 16 doenças
bacterianas, destacando-se: ricketisioses (febre Q), infecções e intoxicações
bacterianas (tuberculose, brucelose, listeriose, clostridioses), intoxicações
alimentares (principalmente devido à toxina do Staphylococcus aureus), febres
tifóide e paratifóide, salmonelose e intoxicações estreptocócicas. Este alimento
também pode veicular inseticidas, desinfetantes, metais pesados, toxinas e drogas
diversas
4
9 10
.
45
Figura 16 Percentual dos entrevistados sobre o consumo ou não consumo de leite
cru, por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
Várias pesquisas sobre a qualidade microbiológica do leite cru demonstram
contaminação por mesófilos, como foi constatado em 68% de 60 amostras de leite
cru clandestino, comercializado nos municípios de Botucatu e São Manuel SP,
com microrganismos mesófilos e coliformes totais acima do limite permitido pela
legislação brasileira e 50% das amostras contendo Staphilococcus coagulase
positiva. Pesquisas mais recentes continuam detectando contaminações acima do
permitido, em amostras de leite cru refrigerado na zona da mata mineira, bem como
a seleção de bactérias psicrotróficas proteolíticas devido ao período prolongado de
armazenagem refrigerada
11 12
.
Cabe registrar a necessidade de se aprofundar o estudo, tanto em relação ao
comportamento de consumo, que sempre está unido à cultura e imagens associadas
aos alimentos que teoricamente seriam mais saudáveis, e muitas vezes o são, como
em relação à qualidade microbiológica deste alimento.
Outro alerta sobre a segurança alimentar do leite, não relacionada ao fato de
ser cru, fervido ou pasteurizado é a adição de antibióticos ao mesmo. Em
Piracicaba-SP, a análise de 96 amostras de leite pasteurizado detectou resíduos de
antibiótico em 50% das amostras, sendo a penicilina o mais frequente
13
. Tendo em
vista o crescente número de pessoas que desenvolve alergia alimentar ao leite, qual
não seria a surpresa se em estudos futuros pudesse ser comprovado que esta
alergia não seria relacionada à proteína do leite e sim aos resíduos químicos
presentes neste alimento
13
.
46
REFERÊNCIAS
1. IDE, L.P.A.; BENEDET, H.D. Contribuição ao conhecimento do queijo colonial produzido
na Região Serrana do Estado de Santa Catarina, Brasil. Ciência e Agrotecnologia, v.25, n.6,
2001
2. ZAFFARI, C.B.; MELLO, J.F.; COSTA, M. Qualidade bacteriológica de queijos artesanais
comercializados em estradas do litoral norte do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência Rural,
v.37, n.3, 2007.
3. PIANTA, C.; DIAZ, T.M.L.; FERNANDÉZ, M.C.G.; FALLAVENA, L.C.B.; ESMERALDINO, A.T.
Presença de Listeria sp. em queijos artesanais tipo Colonial no Rio Grande do Sul.
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Alimentos. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_dta.pdf. Obtido
em: 03/08/2010.
5. SANTOS, J.S.; XAVIER, A.A.O.; RIES, E.F.; COSTABEBER, I.H.; EMANUELLI, T. Níveis de
organoclorados em queijos produzidos no Estado do Rio Grande do Sul. Ciência rural
Santa Maria v 36 n 2 p630-635 2006
6. PERRY, K.S. Queijo:aspectos químicos, físicos e microbiológicos. Química nova v 27 n 2,
2004
7. OLIVEIRA, A.M. Boas praticas de fabricação na agroindústria familiar propostas para
garantia da segurança alimentar. Estudo de caso em Coronel Vivida PR . Dissertação de
Mestrado. Curitiba, Programa de Pós Graduação em Tecnologia de Alimentos, UFPR, 2002
8. NERO, L.A.; MAZIERO, D.; BEZERRA, M.M.S. Hábitos alimentares do consumidor de leite
cru de Campo Mourão – PR Semina: Ciências Agrárias v. 24, n. 1, 2003
9. BRANDÃO et al, 1994 apud ABRAHÃO, R.M.C.M.; NOGUEIRA, P.A.; MALUCELLI, M.I.C. O
comércio clandestino de carne e leite no Brasil e o risco da transmissão da tuberculose
bovina e de outras doenças ao homem: um problema de saúde pública. Archives of
Veterinary Science v.10, n.2, 2005.
10. NAUIACK, J.B. Infecções bacterianas mais importantes no leite de vaca. São Paulo,
Universidade Castelo Branco, 2006.
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representado pelo consumo de leite cru comercializado clandestinamente. Revista de
Saúde Pública, v.30, n.6, 1996.
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refrigerado e isolamento de bactérias psicrotróficas proteolíticas. Ciência e Tecnologia de
Alimentos, v.26, n.3, 2006.
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antibióticos no leite comercializado em Piracicaba, SP. Revista de Nutrição, v.14, n.2, 2001.
47
GRUPO 5: CARNES E OVOS
Suspeita: Carne com gordura, carne sem inspeção; carne mal passada; alto
consumo de defumados e embutidos; consumo de salame clandestino; consumo de
ovos sem inspeção; consumo de maionese preparada com ovos crus
CARNE COM GORDURA
Na continuidade da relação entre alimentos que trazem benefícios ou
malefícios à saúde, tem-se as gorduras de origem animal, em sua composição
contando com a maior parte de ácidos graxos saturados.
Em documento elaborado em 2003 pela Organização Pan-Americana da
Saúde, em conjunto com a Organização Mundial de Saúde, com o título Doenças
Crônico Degenerativas e Obesidade: Estratégia Mundial sobre Alimentação
Saudável, Atividade Física e Saúde, alerta-se que a obesidade e o excesso de peso
são fatores de risco relevantes para o surgimento de doenças crônicas, como
diabetes tipo 2, cardiopatias, hipertensão, acidentes vasculares cerebrais e certos
tipos de câncer. As principais causas do problema são o consumo crescente de
dietas com alta densidade energética, ricas em gorduras saturadas e açúcares, além
de atividade física reduzida
1
.
Quando se considera as cardiopatias, AVCs e hipertensão, avalia-se a
questão da aterosclerose no organismo, que é apontada como a primeira causa de
morte no mundo e também no Brasil. Esta doença está relacionada ao hábito
alimentar de alta ingestão de colesterol e gorduras insaturadas. O colesterol é
encontrado somente em alimentos de origem animal; portanto, para a diminuição da
ingestão, deve-se restringir o consumo de leite integral e seus derivados (queijo
amarelo, manteiga, creme de leite), sorvetes cremosos, carne vermelha gordurosa,
carne de porco, bacon, banha de porco, embutidos em geral, vísceras e alguns
animais marinhos (camarão, lagosta e ostra)
2 3
.
Outras patologias estão associadas ao consumo excessivo de gordura e
pouco consumo de fibras, como o câncer de cólon e reto e câncer de estômago
4 5
.
O consumo de carne com gordura é assumido por 45% da população de Dois
Vizinhos e municípios próximos, de uma maneira crescente até a faixa de 41 a 60
anos, onde chega a atingir 55% da preferência e nos indivíduos com mais de 61
48
anos apresentando um índice de 40% de consumo de carne com gordura, conforme
Figura 17. Sensorialmente sabe-se que a gordura confere sabores extremamente
agradáveis aos alimentos mas, com todo o conhecimento científico acumulado sobre
os malefícios da mesma para a saúde, deve-se substituir estes prazeres por outros
sabores, a fim de manter-se saudável com o passar dos anos.
Figura 17 Percentual dos entrevistados sobre o consumo ou não consumo de
carne com gordura, por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
Este resultado de 45% de preferência deste alimento, quando comparado a
um estudo realizado em 32 municípios do Noroeste do Paraná, comprova que a
população pesquisada no estudo de Dois Vizinhos e Municípios próximos consome
mais carne com gordura do que o Noroeste, onde 32% da população entrevistada
alegam a preferência por carne com gordura
6
.
CARNE SEM INSPEÇÃO
Sabe-se que uma boa parcela da carne consumida pela população brasileira
é abatida sem inspeção, mas a quantificação deste procedimento não é possível de
ser determinada. Com o início da discussão sobre a implantação da rastreabilidade
em abatedouros em 2001, foi estimado que metade da carne consumida no Brasil
provinha de matadouros clandestinos
7
.
A inspeção sanitária no abate, é adotada para suspeitar ou diagnosticar as
seguintes enfermidades: animais caquéticos, artrite infecciosa; babesioses;
bruceloses; carbúnculo hemático; carbúnculo sintomático; coriza gangrenosa;
49
encéfalomielites infecciosas; enterites septicêmicas; febre aftosa; gangrena gasosa;
linfangite ulcerosa; metro-peritonite; mormo; paratuberculose; pasteureloses;
pneumoenterite; doença de newcastle; peste suína; raiva e pseudo-raiva (doença de
aujezsky); ruiva; tétano; tripanossamíases; tuberculose. Na inspeção post-mortem,
são descartadas carcaças que possuam abscessos e/ou lesões supuradas;
actinomicose e actinobacilose; adenite; edema generalizado; alterações na
qualidade da carne; broncopneumonia verminótica; brucelose; cirrose hepática;
cisticercoses; estrongilose, teniase e ascaridioses; tuberculose; tumores malignos;
uronefrose; entre outros
8
.
O consumo de carne sem inspeção pode trazer riscos como a contaminação
humana pela Mycobacterium bovis, causando tuberculose em seres humanos. O
risco é maior no consumo de leite cru, sem ferver, mas o risco de se adquirir a
doença pelo consumo da carne não deve ser ignorado. Outros microrganismos
como Yersinia enterocolitica com cepas patogênicas podem ser encontradas em
carne, como foi detectado pela técnica de PCR, em uma incidência de 10% em 30
amostras de carcaças de suínos em abatedouros sem inspeção, com indicação de
contaminação por falhas de Boas Práticas de Fabricação
9 10
.
Ao serem questionados se verificam a presença do carimbo de inspeção na
carne, 54% do total dos entrevistados de Dois Vizinhos e Municípios vizinhos
responderam que sim, comportamento que parece aumentar de freqüência conforme
aumenta a idade, conforme ilustrado na Figura 18.
Figura 18 Percentual dos entrevistados sobre se verifica o carimbo de inspeção,
por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
50
Estes dados podem ser melhor pesquisados, porque a população brasileira
não parece ter por hábito questionar a origem dos alimentos que adquire e nem
verifica a existência ou não da inspeção. Esta questão remete à presença do
carimbo, que, quando está presente é facilmente identificável pelo consumidor.
CARNE MAL PASSADA
O próximo alimento de alto risco é carne mal passada, que pode ser veículo
de vários agentes causadores de doenças como E.coli, Taenia saginata, Brucella sp,
Coxiella burnetti, Toxoplasma gondii, tuberculose, brucelose e cisticercose;
toxinfecções alimentares, que são provocadas por bactérias (Salmonella sp.,
Yersínia enterocolítica, Listeria monocytogenes, Campylobacter jejuni,
Staphylococcus aureus, Escherichia coli enteropatogênica, Clostridium perfrigens),
ou suas toxinas, causando uma síndrome gastroentérica; e Taenia solium
10 11
.
Da população estudada em Dois Vizinhos e municípios próximos, 28% do
total de entrevistados admitem consumir carne mal passada, com oscilações entre
33 e 17% conforme a faixa etária, demonstrado na Figura 19. Esta população se
encontra sob o risco de contrair as doenças transmitidas por alimentos citadas
acima.
Figura 19 Percentual dos entrevistados sobre o consumo ou não consumo de
carne mal passada, por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
Uma destas doenças mais estudadas recentemente é a toxoplasmose,
relacionada ao consumo de carne mal passada como indica pesquisa realizada no
51
Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, onde 32,57% desta população é portadora do
T. gondii. Nesta população foi identificada uma relação estatisticamente significativa
entre o consumo de carne crua ou mal passada e a presença do agente etiológico
da doença, além de outros fatores
12
.
Em Anápolis – GO foi estudado um surto de toxoplasmose entre 2005 e 2006,
associado ao consumo de quibe cru, onde 61 pessoas contraíram a doença
13
.
Análises de 30 amostras de alcatra inteira e moída, crua, para detecção de
E.coli e Listeria sp e submissão a antibiogramas, no município do Rio de Janeiro,
encontraram estes microrganismos nas amostras e apresentando resistência a
maioria dos antimicrobianos utilizados para o tratamento destas doenças,
representando risco severo á saúde pública
14
.
Em relação aos endoparasitas, um levantamento realizado sobre a
prevalência de cisticercose em 1.976.824 bovinos abatidos em estabelecimentos
com inspeção federal, no período de janeiro de 1990 a junho de 2000, traz dados
significativos. Do total de bovinos inspecionados, 4,18% apresentava cisticercos e
foram descartados. Destes cisticercos, 1,19% se encontravam vivos e os demais
calcificados. Os bovinos provenientes do estado do Paraná apresentaram uns dos
menores índices de infestação (2,49%). Ao comparar a infestação de cisticercos em
suínos e bovinos, observa-se que a presença em bovinos é muito maior do que em
suínos
15
.
Todos estes dados alertam para a importância de se evitar o consumo de
carne mal passada, bem como exigir a inspeção da carne após o abate.
SALAME
O salame é consumido por 85% dos entrevistados, como pode ser verificado na
Figura 20, sendo um hábito que se apresenta com uma regularidade nas faixas
etárias estudadas.
Destaca-se a frequência de consumo, representada na Figura 21, pois 50%
desta população consomem salame pelo menos algumas vezes por semana, com
um aumento gradual na frequência de consumo a partir dos 41 anos.
Este hábito, como vários outros, é proveniente da colonização italiana e
gaúcha da região sudoeste do Paraná. O consumo de salame na região central do
Rio Grande do Sul também é um hábito freqüente, com 54% da população
52
consumindo este alimento regularmente, 20% eventualmente e 26% não comem.
Observa-se que entre os estudados no Sudoeste do Paraná o consumo de salame é
maior do que nesta região gaúcha
16
.
Figura 20 – Percentual dos entrevistados sobre o consumo de salame, por idade, em
Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
Figura 21 - Percentual da frequência do consumo de salame pelos entrevistados, por
idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
A preferência da população do Sudoeste do Paraná é pelo salame colonial,
conforme Figura 22, tendência esta que aumenta com o aumento da idade, atingindo
cerca de 90% da preferência a partir dos 21 anos, que é a faixa etária que mais
consome salame conforme anteriormente constatado.
Ao se confirmar o bito do consumo de salame, com a frequência
constatada na pesquisa, vale destacar a preocupação deste hábito em duas
53
dimensões, a primeira quanto a qualidade nutricional e a segunda em relação a sua
segurança alimentar
Figura 22 Percentual da preferência dos entrevistados que consomem salame,
entre salame colonial ou industrial, por idade, em Dois Vizinhos PR e municípios
próximos, 2008.
A composição nutricional de um salame pode apresentar variações
significativas, dependendo da quantidade de gordura adicionada ao mesmo. A
legislação brasileira determina para salame que seja adicionado no mínimo 60% de
carne suína e contenha no máximo 35% de gordura total. Ao considerar uma porção
de 40g de salame, com um teor baixo de gordura (20%) e baixo teor de sal, cuja
composição está detalhada na Tabela 13, destacam-se quatro componentes por sua
contribuição na % Valor Diário: gorduras totais, gorduras saturadas, colesterol e
sódio
17 18
.
Encontram-se no mercado salames com teor de gordura e sal muito mais
elevados do que este exemplificado na Tabela 13, fato conhecido que resulta na
recomendação para pacientes hipertensos, obesos e portadores de dislipidemias
evitarem este alimento
1 19
.
Uma pesquisa realizada no Sudoeste do Paraná em 2007, sobre o perfil
lipídico de 124 pessoas, divididos por sexo e idade, verificou que a população
avaliada se encontra acima do limite do valor de referência para Colesterol total
entre os homens de 21 a 30 anos. A avaliação do nível de LDL indicou que as
mulheres entre 21 e 30 anos estão acima do limite do valor de referência e os
homens entre 31 a 50 anos apresentam valor de HDL abaixo do limite do valor de
referência. Constata-se que a alteração em relação aos valores de referência
54
ocorrem em adultos jovens, e não com idade mais avançada, como seria
esperado
20
.
Tabela 13 – Informação Nutricional de uma porção de 40g de salame com baixo teor
de gordura.
Componente Valor % Valor Diário
Valor Calórico 100 kcal 5
Carboidratos 1 g 0
Proteínas 5,6 g 7
Gorduras totais 8 g 15
Gorduras saturadas 3,2 g 15
Gorduras Trans 0 g 0
Colesterol 26 g 9
Fibra alimentar 0 g 0
Sódio 426 mg 18
Fonte: PHILLIP, 2002
21
Para uma avaliação do teor de gordura, colesterol e sal, é fundamental a
presença de rótulos bem elaborados e que os consumidores leiam os rótulos e os
compreendam. Existem muitas inadequações presentes nos rótulos de
alimentos,particularmente quanto às informações nutricionais e essas inadequações
resultam mais da falta de fiscalização do que da ausência de leis
21
.
Sobre o rótulo de salames, 66% dos entrevistados da pesquisa em Dois
Vizinhos e municípios próximos responderam que verificam a presença no produto,
e conforme a Figura 23, este comportamento não apresenta grandes variações nas
faixas etárias estudadas.
O percentual de verificação de rótulos obtidos nesta pesquisa é maior do que
foi obtido, em uma população de 112 entrevistados em Brasília, onde 51% possuem
o hábito de consultar o rótulo de embutidos
22
.
A pesquisa realizada em Dois Vizinhos e municípios próximos não teve por
objetivo avaliar se o salame consumido pelos entrevistados possuia rótulo e se este
está adequado, bem como não foi avaliado se os entrevistados compreendem e
utilizam adequadamente a informação nutricional, aspectos importantes a serem
considerados em futuras pesquisas. Também vale destacar a carência de suporte
técnico qualificado para suprir as necessidades dos pequenos produtores artesanais
55
nesta área de elaboração de rótulos, cálculo e determinação de composição
nutricional.
Figura 23 Percentual de verificação da presença de rótulos em salame pelos
entrevistados, por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
Quanto a segurança alimentar do salame, vários aspectos negativos estão
relacionados a este alimento. O salame está sujeito a contaminação por várias
fontes: pelo animal abatido, pela água, equipamentos, manipulação entre outros
fatores
23
.
Sendo o salame tipo italiano um produto fermentado e pronto para o
consumo, ou seja, não necessita de nenhum tratamento térmico antes de ser
consumido, é muitas vezes responsável pela veiculação de patógenos como:
Staphylococcus aureus, Salmonella, Listeria e Escherichia coli, dentre outros. A
presença de microrganismos contaminantes indesejáveis e a utilização de processos
industriais inadequados podem promover a alteração do sabor característico do
produto, comprometendo sua qualidade e segurança. Vários estudos sobre a
qualidade microbiológica de salames indicam a contaminação acima dos níveis
permitidos pela legislação microbiológica brasileira, apresentando risco aos
consumidores. De 15 amostras de salame de uma mesma empresa em São Paulo,
em 1997, apenas 5 se encontravam adequadas para o consumo. Em Santa
Catarina, a análise de 20 amostras de salame caseiro ou colonial constatou que
90% das amostras apresentaram contaminação com o gênero Listeria sp. Outro
estudo em Santa Catarina indicou que em 12 amostras de salame colonial, menos
56
de 20% estavam aprovadas quanto aos parâmetros físico-químicos e
microbiológicos
24 25 26
.
Na escala de produção colonial e nos pequenos frigoríficos existe grande
dificuldade em monitorar a qualidade da matéria-prima, uma vez que geralmente não
dispõem de laboratórios químicos capazes de realizar estas análises.
Também que se considerar o problema da presença de nitritos e
nitrosamina em alimentos, que pode estar relacionados com a incidência de câncer,
cianose, hipotensão e metahemoglobinemia. Em análise de 81 amostras de
embutidos coloniais em Blumenau-SC, foi detectado que a dosagem de nitratos
quanto de nitritos das amostras, apesar de abaixo do limite estipulado pela
legislação brasileira, não obedece a um padrão pré-determinado por cnicos. Os
produtores desconhecem a legislação referente à utilização destes compostos e
consequentemente as prováveis implicações da manipulação sem critérios dos
aditivos: nitrato e nitrito
27
.
Mais estudos sobre os alimentos coloniais e a realidade de sua produção são
necessários para que os parâmetros de segurança alimentar possam ser cumpridos,
contribuindo com a manutenção da saúde da população.
CONSUMO DE OVOS COLONIAIS SEM INSPEÇÃO E CONSUMO DE
MAIONESE PREPARADA COM OVOS CRUS
Conforme sugerido por profissionais da área de saúde da região estudada,
existem uma série de alimentos considerados como pouco seguros para o consumo,
que são integrantes dos bitos alimentares, como os ovos coloniais sem inspeção
e a maionese preparada com ovos crus.
Observa-se na Figura 24, que o consumo de ovos coloniais, sem inspeção,
faz parte do hábito alimentar de 72% desta população, sem grandes variações nas
faixas etárias estudadas.
A questão do ovo colonial é a ausência de controles preventivos quanto a
contaminação por Salmonella sp e a ausência de inspeção dos ovos. Este quadro
pode ser mudado afinal, este alimento apesar de apresentar o risco microbiológico,
seria teoricamente menos contaminado quimicamente. Os ovos coloniais ou
“caipiras” e ovos orgânicos, apresentam o apelo de bem estar animal em crescente
exigência pela sociedade em comparação ao sistema convencional de poedeiras.
57
Entre as dificuldades deste mercado se encontram a falta de informação, ausência
de estrutura de fiscalização e divergências na legislação que regulamenta esta
atividade produtiva
28
.
Figura 24 Percentual dos entrevistados sobre o consumo de ovos coloniais, sem
inspeção, por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
A contaminação dos ovos por Salmonella spp tem sido a causa de muitos
surtos de doenças de origem alimentar bem documentadas. Em 1998, em análise de
23 surtos de salmonelose foi constatado que 95,7% destes surtos tiveram como
veículo ovos crus ou mal cozidos. O preparo de maionese com ovos crus em uma
escola de Pontalinda-SP em 1995, levou 211 pessoas, em sua maioria crianças a
desenvolverem salmonelose. No Paraná, um levantamento sobre doenças
transmitidas por alimentos (DTA) entre 1978 a 2000, 33,8% dos casos foram
causadas por Salmonella sp, com a maioria dos casos sendo veiculadas por ovos ou
alimentos contendo ovos e 50% dos surtos ocorreram em residências
29 30 31
.
Sendo a salmonelose uma doença grave, que pode levar à morte, com estes
dados sobre o consumo de ovos crus em residências, a pesquisa em Dois Vizinhos
e municípios vizinhos indica a forte presença deste hábito alimentar, com 50% do
total de entrevistados que consomem maionese produzida com ovos crus, conforme
Figura 25. Este hábito apresenta decréscimo conforme aumenta a idade dos
participantes, mas ainda assim 40% dos entrevistados acima de 60 anos consomem
este alimento de alto risco de infecção alimentar.
Em um interessante estudo sobre a cinética de Salmonella enteritidis
envolvida em surtos alimentares no Rio Grande do Sul, os pesquisadores
58
inocularam esta linhagem em dois meios de cultura: caldo nutriente e salada de
batata com maionese caseira produzida com ovos crus. Na comparação entre
tempo, temperatura de armazenamento e contagem bacteriana, os pesquisadores
concluíram que se a salada de batata com maionese caseira permanecer em
temperatura no máximo até 9,5ºC por até 24h, não multiplicação bacteriana. O
grande desafio é convencer a população consumidora sobre a necessidade do
controle de temperatura destes alimentos de risco
32
.
Figura 25 Percentual dos entrevistados sobre o consumo de maionese produzida
com ovos crus, por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
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62
GRUPO 6: LEGUMINOSAS E OLEAGINOSAS
Suspeita: Alto consumo de amendoim e derivados
O consumo de amendoim e derivados é bastante frequente em Dois Vizinhos
e municípios próximos, como foi constatado. O problema da ingestão deste alimento,
é que existe uma alta incidência de aflatoxinas no amendoim cultivado no Brasil.
As aflatoxinas o metabólitos de fungos do gênero Aspergillus e foram
encontradas inicialmente em ração animal. Estes compostos têm um alto poder
agudo de toxicidade e carcinogenicidade para várias espécies animais, incluindo o
ser humano. As primeiras suspeitas sobre esta contaminação de origem alimentar
se deu na Inglaterra na década de 1960, por criações de perus, patos e galinhas que
se intoxicaram com uma ração contendo amendoim brasileiro. Posteriormente as
rações começaram a ser analisadas e descobriu-se que 13 diferentes países
forneciam ração contaminada por micotoxinas. Desde então a ração animal tem sido
pesquisada e concluiu-se que o amendoim se contamina com maior facilidade do
que outras oleaginosas. As propriedades tóxicas das aflatoxinas variam de acordo
com três fatores: do organismo, da dose que o alimento contém e do tempo de
exposição a este contaminante. Em altas doses pode ser letal a curto prazo e em
pequenas doses, apresenta acúmulo nos tecidos, podendo originar tumor,
principalmente no fígado
1
.
A alta incidência de aflatoxinas em amendoim encontrada no Brasil se deve,
principalmente, às tradicionais práticas de colheita, secagem e armazenamento
utilizadas pelos produtores. Condições de alta umidade e temperatura aumentam a
probabilidade de desenvolvimento do Aspergillus e de produção de aflatoxinas,
situação agravada no período chuvoso
2
.
Conforme a Figura 26, 87% do total dos participantes da pesquisa consomem
amendoim e seus derivados. A frequência deste consumo, ilustrada na Figura 27
revela que 32% do total dos participantes consomem este alimento com uma
frequência alta entre algumas vezes por semana e todos os dias. Destaca-se a faixa
etária entre 0 e 20 anos onde este consumo é mais elevado do que nas demais,
chegando a 40% dos participantes com consumo elevado de amendoim e derivados.
63
Figura 26 - Percentual dos entrevistados quanto ao consumo de amendoim e
derivados, por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
Figura 27 - Percentual dos entrevistados quanto a frequencia do consumo de
amendoim e derivados, por idade, em Dois Vizinhos PR e municípios próximos,
2008.
A preocupação de monitorar esta contaminação em amendoim é expressada
por várias pesquisas publicadas, como o estudo realizado no Distrito Federal, que
não é produtor deste alimento, mas que o importa do Estado de o Paulo, onde
esta contaminação é conhecida como um problema há mais de 20 anos. Este estudo
demonstrou que a contaminação do amendoim comercializado variou entre 14 a
49% no período de 1985 a 2001 e um valor médio de aflatoxinas de 84 µg/kg
encontrado em paçoca e doces de amendoim. Estes alimentos o amplamente
consumidos pela população jovem do Distrito Federal, principalmente em escolas
3
.
64
No Sudoeste do Paraná, percebe-se que o consumo de amendoim e
derivados é um hábito amplamente adotado, são produtos de baixo custo, fácil
acesso e conservação.
Comparando estes dados com outros estudos, tem-se que em Lavras, MG,
alunos do 1ª e 2ª série do ensino fundamental não possuem o bito de
consumir amendoim com grande freqüência, apenas 0,5% desta população faz o
consumo diário e mais de 90% consomem este alimento mensalmente ou não
consomem
4
. Em Dois Vizinhos e municípios próximos, 5% dos entrevistados entre 0
e 20 anos consomem amendoim e derivados diariamente, 35% algumas vezes por
semana e 60% consomem raramente.
Em Alfenas - MG, as análises de 21 amostras de amendoim e 15 de paçoca
obtiveram a incidência de contaminação por aflatoxinas de 38% nas amostras de
amendoim e 13% nas amostras de paçoca, concluindo que a contaminação destes
alimentos continua em um patamar elevado
5
.
Como prevenção para este problema de saúde pública é necessário que os
produtores de amendoim escolham espécies resistentes ao fungo e aperfeiçoem as
técnicas de plantio, colheita, armazenamento e secagem dos grãos
6
.
REFERÊNCIAS
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riscos para a saúde humana. Revista de Saúde Pública, v.36, n.3, 2002.
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derivados no cenário brasileiro. Biológico, v.72, n.1, 2010.
65
GRUPO 7: ÓLEOS E GORDURAS
Suspeita: Utilização de banha de porco em substituição ao óleo vegetal, consumo de
torresmos, alimentos fritos como pastéis e salgados e alto consumo de nata
BANHA DE PORCO
Quando se considera uma alimentação saudável, os alimentos gordurosos
devem ser evitados, tendo em vista a alta concentração energética que favorece o
aumento de peso, elevado consumo de colesterol, lipídios e ácidos graxos, muitas
vezes saturados, relacionados com problemas de aterosclerose e comprometimento
cardíaco
1 2 3
.
Os hábitos alimentares em sua relação cultural, muitas vezes são
extremamente desfavoráveis à manutenção da saúde. A recomendação saudável
para o consumo de alimentos gordurosos ou fritos, é que seja no máximo uma vez
por semana, mas não é o geralmente se observa
3
.
Em Pelotas-RS, uma pesquisa sobre a adoção dos 10 Passos para uma
Alimentação Saudável sugerida pelo Ministério da Saúde, verificou que menos da
metade de 3.136 adultos pesquisados relatou adesão ao consumo de alimentos
gordurosos apenas uma vez por semana
4
.
A banha de porco é composta de 43,5% de ácidos graxos saturados ( 14:0,
16:0 e 18:0); 43,5% de ácidos graxos monoinsaturados (16:1, 18:1 n-9 e 18:1 n-9t) e
13% de ácidos graxos poliinsaturados (18:2 n-6). Observa-se a presença de cerca
de 2,3% de ácido graxo trans (18:1 n-9t), de ocorrência natural. Esta composição em
ácidos graxos da banha varia de acordo com a raça, sexo, dieta e idade do animal.
Sendo assim, o grau de saturação da banha depende principalmente da quantidade
e da composição de gordura da dieta do suíno
5 6
.
Como se conhece, o consumo de ácidos graxos saturados em excesso não
traz benefícios á saúde, devendo ser substituído pelos alimentos fornecedores de
ácidos graxos poliinsaturados, de preferência ômega 3 e 6, presentes nos óleos de
linhaça, canola, oliva, soja e milho, por exemplo
7
. A banha de porco também tem
sua utilidade nutricional, tem sido utilizada em preparações para substituir a gordura
do leite em preparações para recém nascidos. Sua composição aliada a óleos
66
vegetais fornecem a variedade de lipídios necessária para o desenvolvimento
infantil
8
.
A Figura 28 ilustra o consumo de banha de porco confirmado por 46% do total
dos entrevistados em Dois Vizinhos e municípios próximos, com destaque para a
porcentagem de 66% dos indivíduos com mais de 60 anos.
Figura 28 - Percentual dos entrevistados que consomem banha de porco, por idade,
em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
Este é um dado preocupante, quando se alia às informações ilustradas na
Figura 29, onde a frequência de consumo é alta, com 67% do total dos participantes
consumindo algumas vezes por semana e até todos os dias.
Figura 29 - Percentual dos entrevistados que consomem banha de porco sobre a
frequência do consumo, por idade, em Dois Vizinhos PR e municípios próximos,
2008.
67
Na região central do Rio Grande do Sul, o consumo de banha de porco
declarado pela população pesquisada em 2004, teve a freqüência bem menor do
que a do Sudoeste do Paraná: 24% consomem regularmente, 4,66% consomem
eventualmente e 70,98% nunca consomem
9
.
Em um estudo realizado em Cotia-SP, considerou a relação entre a
frequência de ingestão de alimentos considerados de risco para as lipidemias, entre
eles a banha de porco, além de outros fatores que foram estatisticamente
relacionados e como era de se esperar, quanto maior a ingestão dos alimentos de
risco, maiores foram os índices de lipideos sanguíneos
10
.
TORRESMO
A porcentagem dos entrevistados que consomem torresmo é impressionante,
conforme ilustrado na Figura 30, 60% do total de entrevistados consomem este
alimento, sem grandes variações entre as faixas etárias.
Figura 30 - Percentual dos entrevistados que consomem torresmo, por idade, em
Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
A frequência de consumo do torresmo, representada na Figura 31, é
expressiva na faixa etária maior que 60 anos, caracterizando um hábito alimentar em
uma população que já não utiliza este aporte calórico fornecido pelo alimento.
68
Figura 31 - Percentual dos entrevistados que consomem torresmo frequência, por
idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
Em entrevista realizada em 2007 com 267 pessoas no Rio Grande do Sul, foi
constatado que 12% dos entrevistados consomem torresmo regularmente, 18%
eventualmente e 70% nunca consomem
9
. Este hábito, em Dois Vizinhos e
municípios próximos parece ser mais difundido do que no Rio Grande do Sul.
NATA
A preocupação com o consumo de gordura de origem animal em excesso
pela população estudada nesta pesquisa continua com o hábito de consumir nata ou
creme de leite. Este consumo é feito de maneira direta com pão e geléias,
adicionado a compotas de frutas ou em tortas, cucas, recheios e coberturas de
bolos. Conforme ilustra a Figura 32, 65% desta população consomem nata, sem
grandes variações nas faixas etárias pesquisadas, com uma frequência
preocupante, onde 10% do total consomem todos os dias e 31% consomem
algumas vezes por semana, demonstrado na Figura 33.
A nata ou creme de leite é composta nutricionalmente por 2% de proteínas,
28% de lipídios totais, que em sua maioria são gorduras saturadas e 9% de
carboidratos
11
.
Quando se recomenda bitos alimentares saudáveis para controlar ou evitar
obesidade, se recomenda evitar o consumo de creme de leite, entre outras gorduras
saturadas
12
.
69
Figura 32 - Percentual dos entrevistados que consomem nata, por idade, em Dois
Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
Na região central do Rio Grande do Sul o resultado obtido para consumo de
nata pela população não é tão significativo como no sudoeste do Paraná, pois 17%
alegaram consumir regularmente, 4,67% eventualmente e 78,24% nunca consomem
9
.
Figura 33 - Percentual dos entrevistados que consomem nata sobre a frequência do
consumo, por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
na região oeste do Paraná, os adolescentes entrevistados em 2007
informaram que 17% consomem nata diariamente e nesta pesquisa 12% deles
consomem nesta freqüência. Quanto ao consumo semanal, tem-se 18% no oeste e
o dobro, 36% na região sudoeste, nesta faixa etária
13
.
70
SALGADO FRITO
O último alimento pesquisado em relação a alto conteúdo de gordura, foi
salgado frito. Este definitivamente é um hábito alimentar desta população,
demonstrado na Figura 34, com 88% dos participantes afirmando o consumo,
chegando a uma porcentagem de 94% na faixa etária entre 0 a 20 anos, sendo o
consumo reduzido com o aumento da faixa etária.
Figura 34 - Percentual dos entrevistados que consomem salgados fritos, por idade,
em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
O que se destaca neste consumo é a frequência, ilustrada na Figura 35, onde
5% dos entrevistados na faixa etária entre 0 a 20 anos consomem salgados fritos
todos os dias, 50% algumas vezes por semana e 45% raramente. Quando se espera
uma mudança de hábito pelas novas gerações, pois possuem mais informação
sobre alimentação e saúde, não é isto o que se tem observado na realidade. Vários
estudos abordam a facilidade de acesso deste tipo de alimento nas cantinas
escolares, sendo às vezes única opção de lanche, e os pesquisadores do assunto
defendem ser de extrema importância o ensino sobre nutrição no ambiente escolar a
fim de se promover hábitos alimentares saudáveis entre as crianças. Também é
necessário observar a baixa qualidade nutricional do lanche escolar, contendo
reduzida quantidade de fibras, cálcio e ferro e elevada quantidade de carboidratos
processados, lipídios e sódio
14 15
.
Nas demais faixas etárias pesquisadas, o consumo de salgados fritos ficou
em média de 30% para algumas vezes por semana e 70% raramente.
71
Figura 35 - Percentual dos entrevistados que consomem salgados fritos sobre a
frequência do consumo, por idade, em Dois Vizinhos PR e municípios próximos,
2008.
Em estudo com base na POF 2002/2003 comparando a alimentação entre a
região norte e sul do Brasil, foi constatado que o grupo da banha, toucinho,
maionese e creme de leite (fontes expressivas de gorduras saturadas) revelou uma
participação, invariavelmente, mais expressiva nos domicílios das famílias
moradoras da região Sul, comparada à região Norte. A maior contribuição deste
grupo alimentar (9,2%) foi verificada entre o grupamento com renda de mais de vinte
a trinta salários mínimos. As autoras desta pesquisa registram que esse valor se
revelou muito próximo da proporção máxima (10%) preconizada pela OMS para o
consumo de gorduras saturadas
16
.
REFERÊNCIAS
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1276, 2009.
73
GRUPO 8: AÇÚCARES, DOCES E SAL
Suspeita: alta ingestão de açúcar, alimentos em conservas doces, cucas,
doces. Alto consumo de sal.
DOCES, BOLACHAS E BOLOS
Os hábitos culturais do município de Dois Vizinhos e municipios próximos
incluem o consumo de bolos recheados, biscoitos ou bolachas caseiras, cucas, pães
doces, sagu e muitas sobremesas doces.
Ao serem perguntados sobre a percepção que os participantes possuem
sobre seu próprio consumo dos alimentos doces, mais da metade (52%) do total dos
entrevistados acreditam que consomem estes alimentos moderadamente, conforme
se observa na Figura 36.
Figura 36 - Percentual da percepção dos entrevistados sobre seu consumo de
doces, biscoitos e bolos, por idade, em Dois Vizinhos PR e municípios próximos,
2008.
A faixa etária que admite consumir doces, biscoitos e bolos em maior
quantidade é a entre 0 e 20 anos. Em pesquisa em estudantes no Rio de Janeiro, foi
constatado que o biscoito está entre os alimentos mais consumidos diariamente por
esta população, além de manteiga/margarina e leite
1
.
Os biscoitos também aparecem como hábito alimentar nos adolescentes do
oeste do Paraná, onde 50% deles consomem semanalmente e 22% diariamente
2
.
74
Um estudo com 390 adolescentes em Piracicaba SP detectou que 78% dos
entrevistados ultrapassavam a recomendação máxima diária no consumo de doces
3
. Resta saber se a percepção dos entrevistados condiz com a porção diária
recomendada para o consumo de doces, que seria de de no máximo 2 porções por
dia de 80 ou 100 kcal. Uma porção deste valor calórico corresponde a fatia de bolo
sem recheio ou uma colher de sopa de açúcar, ou 1 colher de sopa de achocolatado
ou 1 colher de sopa de doce caseiro. Assim, o recomendado é avaliar os alimentos
que contém açúcar e somá-los para obter o real consumo diário
4 5 6
.
O alto consumo de doces pode induzir ao aumento de peso, desequilibrar a
concentração de lipídios no sangue e propiciar o desenvolvimento de doenças como
diabetes. A prevalência do diabetes mellitus tipo 2 tem se elevado vertiginosamente
e espera-se ainda um maior incremento. Na América Latina uma tendência do
aumento da freqüência entre as faixas etárias mais jovens, cujo impacto negativo
sobre a qualidade de vida e a carga da doença ao sistema de saúde é relevante. O
aumento das taxas de sobrepeso e obesidade associado às alterações do estilo de
vida e ao envelhecimento populacional, são os principais fatores que explicam o
crescimento da prevalência do diabetes tipo 2. As modificações no consumo
alimentar da população brasileira - baixa freqüência de alimentos ricos em fibras,
aumento da proporção de gorduras saturadas e açúcares da dieta - associadas a um
estilo de vida sedentário compõem um dos principais fatores etiológicos da
obesidade, diabetes tipo 2 e outras doenças crônicas. Programas de prevenção
primária do diabetes vêm sendo desenvolvidos em diversos países, cujos resultados
demonstram um impacto positivo sobre a qualidade de vida da população
7
.
SAL
O consumo de sódio, presente no sal de cozinha, NaCl é reconhecido como
um dos fatores que contribuem para o desenvolvimento da hipertensão arterial, cuja
etiologia, na maioria dos casos ainda é desconhecida. Vários o os fatores que
podem estar associados à elevação da pressão arterial como o sedentarismo, o
estresse, o tabagismo, o envelhecimento, a história familiar, a raça, o gênero, o peso
e os fatores dietéticos. Além da hipertensão, o consumo excessivo de sal também
está associado ao câncer gástrico e ao desenvolvimento de osteoporose
8 9
.
75
Metade da população estudada no município de Dois Vizinhos e municípios
próximos considera que seu consumo de cloreto de sódio é moderado, enquanto
que 43% alegam que o consumo é adequado e apenas 7% acreditam que a
ingestão é exagerada, demonstrado na Figura 37. Isto indica que a maioria desta
população se encontra sem preocupações em relação ao consumo de sal,
lembrando que como foi discutido anteriormente, observa-se um nítido incremento
do número de hipertensos com o aumento da idade (Tabela 8).
A avaliação dietética de dio é extremamente complexa, que sua ingestão
diária varia substancialmente e pode subestimar a quantidade de sódio ingerida,
pois não leva em consideração as diferenças interpessoais na adição de sal. Além
disso, outro problema encontrado para a realização da avaliação dietética é a tabela
de composição de alimentos utilizada, que pode variar muito de um país para o outro
e não contemplar preparações regionais e os produtos industrializados produzidos
internamente
9
.
O que atualmente é comprovado é o efeito de uma dieta saudável (rica em
frutas e vegetais e pobre em gordura) sobre o comportamento dos níveis da pressão
arterial e os malefícios do elevado consumo de álcool e sódio e excesso de peso.
Recentemente vêm sendo, também, associados o consumo de potássio, cálcio e
magnésio, os quais atenuariam o progressivo aumento dos níveis da pressão arterial
com a idade
10
.
Figura 37 - Percentual da percepção dos entrevistados sobre seu consumo de sal,
por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
76
Em estudo sobre o consumo de sal por parte da população brasileira,
baseado na Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002/2003, foi constatado que a
quantidade diária de sódio disponível para consumo nos domicílios brasileiros foi de
4,5 g por pessoa (ou 4,7 g para uma ingestão diária de 2.000 kcal), excedendo,
assim, em mais de duas vezes o limite recomendado de ingestão desse nutriente.
Embora a maior parte do sódio disponível para consumo em todas classes de renda
provenha do sal de cozinha e de condimentos à base desse sal (76,2%), a fração
proveniente de alimentos processados com adição de sal aumenta linear e
intensamente com o poder aquisitivo domiciliar, representando 9,7% do total de
sódio no quinto inferior da distribuição da renda per capita e 25,0% no quinto
superior. Concluindo, a população brasileira excede largamente a recomendação
máxima para esse micronutriente, em todas as regiões do Brasil, em todas as
classes de renda
9
.
Percebe-se que é necessário um aumento de conscientização da população
estudada no Sudoeste do Paraná para que aumentem a percepção sobre o sal que
é ingerido diariamente na alimentação.
REFERÊNCIAS
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& Metabologia, v.50, n.3, 2006
77
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pdf .Obtido em: 10 abril 2010 11:00h.
9. SARNO, F.; CLARO, R.M.C.; LEVY, R.B.; BANDONIL, D.H.; FERREIRA, S.R.G.; MONTEIRO,
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consumo de sal em população urbana. Revista de Saúde Pública, v.37, n.6, 2003.
78
ÁGUA E CHIMARRÃO
Suspeita: consumo de água com agrotóxicos e contaminada por parasitas, água não
tratada e pouco consumo de água
Ao avaliar a origem da água consumida, pesquisa-se o risco de contaminação
por microrganismos ou contaminação química. Sendo o sudoeste do Paraná uma
região essencialmente agrícola e de criação de animais como aves, suínos, bovinos
e caprinos, ambos os riscos podem se tornar perigos, tanto de contaminação por
pesticidas utilizados nas lavouras como por microrganismos provenientes dos
resíduos da criação animal.
Resíduos de pesticidas organoclorados, apesar de proibidos pela legislação
brasileira ainda são encontrados no solo e nas águas de rios e lagos, devido a sua
lenta degradação
1
. Esta contaminação não é exclusiva das águas superficiais, mas
também é encontrada nas águas subterrâneas, que englobam os postos artesianos.
A monitoração da qualidade das águas subterrâneas em relação à contaminação por
pesticidas é um tema que merece investigações sistemáticas e a longo prazo.
Estudos de monitoramento ambiental são realizados com esse intuito e quando
resultam em dados que ultrapassam os limites máximos para resíduos de pesticidas,
são recomendadas práticas de remediação. Estes estudos utilizam modelos
matemáticos para selecionar quais pesticidas precisam ser analisados de maneira a
reduzir os custos deste monitoramento
2 3 4
.
Observa-se que 70% do total dos entrevistados em Dois Vizinhos e
municípios próximos consomem água da Companhia de Saneamento do Paraná
(Sanepar), que possui um controle monitorado da qualidade da água, não entrando
no mérito do armazenamento desta água em suas residências, como se observa na
Figura 38. O consumo de água de poço é a rotina de 17% dos entrevistados e 13%
consomem água de fonte.
A Sanepar disponibiliza em seu endereço eletrônico (www.sanepar.com.br), o
relatório anual da qualidade microbiológica da água, química e padrões de
potabilidade em cada município de sua rede de abastecimento, portanto supõe-se
ser uma fonte segura de água.
79
Figura 38 - Percentual dos entrevistados quanto a origem da água que consomem,
por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
Voltando à questão do armazenamento desta água, se os reservatórios e
caixas d’água estiverem contaminados, de nada adiantará o tratamento efetuado
anteriormente. Em pesquisa realizada em 22 pontos do Campus III da Universidade
Federal do Paraná, em Curitiba, as amostras de água fornecida pela Sanepar foram
analisadas e todas se encontravam com qualidade microbiológica adequadas ao
consumo humano, mas o mesmo não aconteceu com análises realizadas no
Triângulo Mineiro, em Marília – SP e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
onde as amostras de água se encontraram impróprias para o consumo
5
.
Dentre as doenças de veiculação hídrica,os protozoários Giardia lamblia e
Cryptosporidium parvum são os agentes causadores mais freqüentes, e em
pesquisa realizada em Maringá-PR, foi encontrada a presença dos mesmos em
amostras de água “in natura”, mas a maioria das amostras de água tratada pela
Sanepar não apresentou estes microrganismos. Para maior segurança aos
consumidores de água tratada, recomenda-se maior controle no tratamento do
esgoto e destinação adequada aos rejeitos humanos
6 7
.
Em Guarapuava, na região central do Paraná, 298 amostras de água de
várias origens, tratadas e não tratadas foram analisadas. Nos sistemas de
abastecimento de água avaliados, os que menos apresentaram problemas foram os
com algum tipo de tratamento, com cerca de 7% das amostras com contaminação
microbiológica, isto sem considerar possíveis contaminações dos locais de coleta
(cavalete, torneira). os sistemas alternativos (fonte e poço), os quais o
possuem tratamento, apresentaram índices elevados de contaminação. Das 34
80
amostras de água de fonte, 30 (88,24%) apresentaram índices de contaminação
acima do permitido, sendo que em 29 amostras foi encontrada a bactéria E. coli, um
indicador de contaminação por fezes humanas
8
.
Devido a importância que a qualidade da água reflete na saúde da população,
deve ser constantemente monitorada e estudada sobre os riscos de novos
contaminantes ou mesmo o aumento acidental dos contaminantes conhecidos. Um
artigo publicado na Revista Consumidor SA on line (2001) alerta a existência de
focos contaminantes na água fornecida pela Sanepar no Paraná, onde 1/3 de 113
pontos analisados apresentaram irregularidades como a presença de coliformes,
variação no teor de cloro, interrupções e alteração na coloração da água.
havendo exigência de análise parasitológica
9
.
Os restantes 30 % dos entrevistados na pesquisa do sudoeste do Parase
dividem entre o consumo de água de poço e água de fonte. Em análises realizadas
no ano de 2008 em águas na região sudoeste do Paraná, foi constatado que 88%
das amostras coletadas de poços rasos, fontes e poços artesianos estavam
impróprias para o consumo, contendo carga excessiva de coliformes fecais
10
.
Portanto, esta população corre o risco de se contaminar por bactérias com a água
que ingere, e ainda existe a ilusão de que água de poço e fonte não se contamina.
Outro aspecto importante relaciona-se à quantidade da ingestão de água.
Quando perguntado aos participantes, a maioria acredita que ingere uma quantidade
adequada de água (65% do total), 26% reconhecem que ingerem pouca água e 9%
alegam ingerir água em excesso, como ilustra a Figura 39.
Em condições normais de saúde uma pessoa deve ingerir cerca de 2 litros de
água por dia. Isto equivale a menos de um copo de 200 ml por hora. A ingestão em
excesso pode fazer mal à saúde e pessoas portadores de doenças cardíacas devem
controlar a quantidade de água que ingerem para evitar algumas complicações
relacionadas a estes problemas, sendo esta ação indicada pelo médico que
acompanha o paciente
11
.
81
Figura 39 - Percentual da percepção dos entrevistados quanto a ingestão de água,
por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
Uma das formas de ingestão de água em Dois Vizinhos e municípios
próximos, é com certeza o chimarrão. Observa-se na Figura 40 que 77% do total de
entrevistados tomam chimarrão, com declínio deste hábito apenas na faixa etária
entre 0 e 20 anos, onde 57% participam deste hábito.
Figura 40 - Percentual dos entrevistados quanto ao consumo de chimarrão, em Dois
Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
O chimarrão, a infusão aquosa quente de folhas e galhos da erva mate, cujo
nome científico é Ilex paraguariensis, é largamente consumida na região estudada.
O consumo aumenta com o aumento da faixa etária, e a questão da implicação
deste consumo sobre a saúde deve ser discutida pois apresenta tanto efeitos
benéficos como maléficos ao adepto a este hábito.
82
Dentre os efeitos benéficos tem-se a presença de xantinas e polifenólicos que
proporciona efeito colerético e atua como facilitador do trânsito intestinal; possui
ação antioxidante atribuidos aos flavonóides e cafeoil e efeitos
hipocolesterolemiantes pela presença de saponinas
12
.
Quanto aos efeitos maléficos podem ser citados a associação de neoplasias,
especialmente de esôfago, o risco é 12,5 vezes maior de desenvolver esta doença
em quem ingere cerca de 2,5 l de chimarrão por dia, em relação a que não tem o
hábito de beber chimarrão. Este fator parece estar relacionado com contaminantes
que possam ocorrer no processamento e a temperatura da água da infusão
12
.
Quanto à frequência do consumo do chimarrão, 60% do total dos
consumidores tomam todos os dias, chegando a 80% nos participantes acima de 41
anos, conforme representado na Figura 41.
Figura 41 - Percentual dos entrevistados quanto ao consumo de chimarrão, por
idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
A temperatura da água do chimarrão é o fator mais polêmico neste hábito. A
percepção dos participantes sobre a temperatura da água indica que uma pequena
parcela, 2%, admitem ingerir água muito quente. A maioria dos entrevistados, 74%
declaram que a água utilizada é quente e 24% utilizam água morna (Figura 42). O
problema é que a percepção é subjetiva e como constatado em Taquara RS, em
estudo sobre a temperatura da água utilizada para chimarrão em 72% das
residências pesquisadas, a temperatura da água foi igual ou superior a 60ºC, e os
usuários não foram capazes de estimar a temperatura da água que utilizam
13
.
83
Figura 42 - Percentual da percepção dos entrevistados quanto a temperatura da
água do chimarrão, por idade, em Dois Vizinhos – PR e municípios próximos, 2008.
Nesta comprovação de hábito de consumo de chimarrão com alta frequência,
caberia sem dúvida uma pesquisa para se determinar a temperatura da água
utilizada pelos moradores do município de Dois Vizinhos e municípios próximos.
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85
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a análise dos dados obtidos nesta pesquisa, ficou claro que a população
entrevistada mantém hábitos alimentares tradicionais, entre eles o consumo de
chimarrão, polenta, torresmo, banha de porco, nata, ovos coloniais, maionese com
ovos crus, salame e queijo colonial.
Dos alimentos pesquisados, os que não se caracaterizaram como hábito
alimentar da maioria da população foram apenas o leite cru e a carne mal passada.
As questões que envolveram as percepções sobre a ingestão de alimentos,
que no caso foram sobre a quantidade de ingestão de sal, pão branco, doces,
bolachas, bolos e água devem ser destacadas. As respostas obtidas deu a entender
que a maioria desta população considera que a quantidade ingerida destes
alimentos está adequada ás propostas de manutenção da saúde. Resta o
questionamento se este consumo é percebido realmente pela população e se existe
o conhecimento sobre qual é a frequência e quantidade ideal.
Os aspectos pesquisados sobre a saúde dos participantes alertam para o
aumento do índice da alergia alimentar entre os mais jovens, o aumento dos
portadores de diabetes acima de 60 anos, o alto índice de hipertensos acima de 41
anos e alto índice de portadores de cálculos renais acima de 41 anos.
Os resultados obtidos para portadores de câncer, toxoplasmose, cisticercose,
problemas intestinais, dislipidemias e lculos biliares se apresentam abaixo dos
índices brasileiros, mas comportam alguma ressalva. Os dados sobre dislipidemia e
toxoplasmose poderiam ser confirmados por exames laboratoriais.
A população estudada apresenta a vantagem para a manutenção da saúde
de consumir frutas e verduras em maior porcentagem do que se observa em nosso
país, mas ainda está abaixo do que seria desejável. Também se expõe ao consumo
de muitos alimentos altamente gordurosos e de alta fonte energética como queijo,
salame, carne com gordura, torresmos, macarrão, banha de porco e salgados fritos.
É necessário uma revisão nas quantidades ingeridas destes alimentos para evitar
sobrepeso e suas consequências como hipertensão, diabetes e a formação de
cálculos renais.
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As suspeitas sobre a ingestão de alimentos possivelmente contaminados por
micotoxinas como amendoim e o fubá devem estar sempre presente como
prevenção de doenças.
Vários aspectos foram sugeridos no texto para futuras pesquisas, por
exemplo: a avaliação da presença de rótulos dos produtos coloniais, a veracidade
das informações e como o consumidor compreede e utiliza estas informações.
Esta pesquisa forneceu um retrato de alguns bitos alimentares de uma
população com características culturais próprias, como cada região possui, que
precisam ser acompanhados para que atitudes de prevenção sejam adotadas a fim
de colaborar com a manutenção da saúde. O exemplo de atitude que precisa ser
tomada é em relação à alimentação dos jovens em cantinas de colégios e
faculdades, é necessária a oferta de lanches que utilizem alimentos integrais, frutas
e exclusão dos salgados fritos. A utilização contínua de macarrão instantâneo
também precisa ser pesquisada, não só pelo baixo valor nutritivo como também pelo
alto conteúdo de sal.
A escolha alimentar precisa ser feita como estratégia de manutenção da
saúde e sempre estimulada para as melhores escolhas, pois a cultura atual busca a
princípio a praticidade e o imediatismo. O consumo de alimentos saudáveis
apresenta dificuldades como necessidades de preparo ou custo mais alto, mas a
verdade é que não necessitamos de tanta quantidade de alimentos como estamos
ingerindo ultimamente. A mudança de hábito que implica em diminuir a quantidade e
a freqüência do consumo de alimentos tradicionais ou não, com alto valor
energético, alta quantidade de gorduras saturadas, alto teor de sal é difícil de ser
adotada e requer estímulo constante.
A escolha alimentar feita como estratégia de manutenção da saúde vale a
pena ser feita. Variar alimentos, analisar o que e quanto se come poderá auxiliar a
manutenção da qualidade de nossa vida, cuja longevidade aumenta a cada década.
Viver com saúde é tão importante para nós quanto para aqueles que nos cercam.
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