China e o Autocratismo Esclarecido
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administrativa que acompanhou o início da reforma, as comunidades
podiam planejar o volume da produção e, claro, a produção para o
mercado cresceu enormemente, tornando o plano praticamente
irrelevante para a estratégia dos comuns. Por isso, isto é, em busca de
maximização dos lucros, é que as comunidades, e depois as famílias,
passaram a organizar a produção. Sem necessidade de coação ou
vigilância, o interesse instalou-se como principal ordenador das
atividades rurais. Na segunda fase da reforma, toda a produção passou
a ser encaminhada para o mercado. O efeito demonstração do mercado
é, na expressão de uma analista, contagioso, e a comparação dos ganhos
advindos dos contratos com o Estado e os obtidos pela via do mercado
rapidamente faz com que a balança pese em favor do mercado.
Primeiro, nas áreas rurais, mas também no mundo industrial urbano,
particularmente nas relações de trabalho, sob considerável influência
das empresas estrangeiras.
13,14
Um processo nozickiano de desenvolvimento apresenta claras
similaridades com os processos evolucionários, nos quais o
experimentalismo se encarrega de inventar e, por assim dizer,
desinventar modos de sobrevivência. Sem citar Nozick ou os teóricos
da evolução, é, todavia, segundo tal modelo que Tsai apresenta o
surgimento e expansão do setor privado na China.
15
Garantido um
mínimo de liberdade e de credibilidade pública, as pessoas se organizam
13
Cf. Mary Elizabeth Gallagher, Contagious Capitalism – Globalization and the
Politics of Labor in China, Princeton University Press, 2005.
14
As etapas das reformas no campo e na área industrial são claramente apresentadas
no volume de Naughton, cit., e no de James Riedel, Jing Jin, Jian Gao, – How China
Growns Investment, Finance, and Reform, Princeton University Press, 2007,
especialmente no capítulo 1 – “Overview of Economic Reforms and Outcomes”, e
cujos capítulos finais apontam para a vulnerabilidade do crescimento chinês em virtude
do subdesenvolvimento de seu sistema financeiro.
15
Cf. Kellee S. Tsai, Capitalism without Democracy – The private sector in contemporary
China, Ithaca, Cornell University Press, 2007.