
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Por Pedro Ferreira de Andrade
O texto traz à tona a discussão sobre a avaliação escolar. Por
ser um tema polêmico mostra quais novos sentidos e
orientações vêm sendo sugeridas para a sua transformação
prática, de modo que como instrumento educacional seja
inclusivo, formativo e pedagógico. Busca esses novos sentidos e
orientações em propostas de alguns autores atuais que
rediscutem a questão e nas diretrizes nacionais atuais que
organizam e revisam estruturas, estratégias e práticas
educativas tais como a LDB, os PCN e as Diretrizes para
Formação de Professores.
A conclusão é que a avaliação deve ter como finalidade a
orientação da aprendizagem, a autonomia dos aprendizes em
relação à mesma e a verificação das competências adquiridas.
INTRODUÇÃO
De início definiremos os termos avaliar e avaliação. Avaliar
segundo o Aurélio digital (2001) significa: determinar o valor, o
preço ou a importância de alguma coisa. Já avaliação segundo a
mesma fonte significa: 1. ação ou efeito de avaliar. - 2.
procedimento de cálculo do valor de um bem. - 3. estimativa. - 4.
valor determinado por quem avalia.
A partir dessa investida podemos afirmar que ambos termos
num sentido geral podem ter vários sentidos, todos muito
abrangentes, o que não seria diferente quando nos referimos a
uma das variantes específicas, a avaliação educacional que
pode resultar no mínimo em dois processos: avaliação
institucional e avaliação da aprendizagem.
Em conformidade com o Vocabulário Fundamental de
Pedagogia (Ipfling, 1974, p. 50), a avaliação dos alunos pelo
professor designa o levantamento cuidadoso e a classificação
sistemática, bem como a interpretação apreciativa dos modos de
conduta e das propriedades dos alunos, que são de fundamental
importância para a melhoria das atividades escolares e
educativas. Inclui nessa definição a necessidade de observação
prolongada do comportamento do aluno durante o ensino, no
levantamento sistemático de dados por meio de testes e
trabalhos escritos, no levantamento de dados anamnésicos (no
lar, evolução e desenvolvimento) e no diálogo pessoal com o
aluno.
Na literatura pedagógica atual que contempla o tema, podemos
encontrar autores que propõem formas de realizar a avaliação
que não se reduz à valoração de resultados conseguidos pelos
alunos. Por isso há definições de avaliação bastante diferentes,
e, em alguns casos bastantes ambíguas. Algumas destas
chegam a entender que o sujeito da avaliação não deve ser,
necessariamente, o aluno, mas, sim, a classe, ou mesmo o
professor, ou outros fatores intervenientes que concorreram para
um determinado resultado pelo avaliado.
Mesmo sendo conceito - avaliação - e designação de uma área
de sua ação - avaliação educacional - permeada de vários
sentidos, e suportando várias concepções e opiniões elaboradas
por diferentes autores, prevalece na prática, levada a efeito no
ambiente escolar, a avaliação educacional baseada na
verificação (provas, testes, trabalhos) do rendimento do aluno
fundada na necessidade de controle externo da aprendizagem.
Essa forma prevalente é reduzida aos critérios e instrumentos
empregados pelo professor, geralmente ditados pela "instituição"
onde esse trabalha, que, por sua vez, segue uma tradição na
qual cabe apenas a visão e atuação unilateral de avaliação
admitida sobre a acumulação de "conhecimento" pelo aluno ou
sobre o que foi adquirido por ele mediante ensino, sendo a
referência para análise e veredicto o julgamento unilateral do
professor o qual tem mandado para realizar a classificação
quantitativa, por meio de notas, o que não inclui peso algum a
auto-avaliação pelo próprio aluno, a avaliação que o aluno faz
do professor e a análise de outros fatores intervenientes nos
resultados.
Concordando com Zabala (1998), e bem na direção do que
afirmou Paulo Freire (1996), de que "não há docência sem
discência" (p. 26), distinguimos dois processos avaliáveis e, pelo
menos, dois sujeitos que devem ser avaliados: o aluno que
aprende e o professor que ensina. Nessa perspectiva o
desempenho do aluno pode e deve ser relacionado ao
desempenho do professor, além de outros fatores e agentes
intervenientes também influírem no resultado da aprendizagem
do aluno.
Zabala (1998) também percebe que a avaliação escolar correta
não deve se cingir apenas à relação entre esses dois
protagonistas diretamente envolvidos no processo educativo - o
aluno e o professor -, pois na realidade o processo de
ensino/aprendizagem em sala de aula inclui processos e
relações pedagógicas grupais e a classe como um todo. Mas
essa visão de avaliação pode ser ampliada ainda mais se não
nos prendermos somente ao que acontece em sala de aula,
possibilitando que tenhamos uma fotografia mais abrangente do
processo de ensino/aprendizagem ao focalizar este como reflexo
do todo, ou seja, a aprendizagem do aluno pode ser avaliada
como resultante das condições gerais propiciadas pela
instituição escolar e do esforço do próprio aluno para efetivá-la.
Estaríamos assim, a meu modo de ver, mais perto de uma
avaliação institucional, pois nela não só os processos educativos
são levados a efeito mas todos os fatores que concorreram
proporcionados por uma unidade escolar, vinculando-se o
resultado da aprendizagem do aluno às condições gerais que a
escola oferece.
Com essa visão, penso que a avaliação que cabe ao processo
educativo deve ser abrangente, consistente, contínua,
sistemática, dinâmica, coerente e polissêmica, de modo que
todos os fatores e agentes intervenientes também sejam
considerados e analisados nos resultados obtidos pelo aluno.
Tenho também que concordar com os atuais sentidos dado a
avaliação: mais que quantitativa ela deve ser qualitativa, levando
em conta atitudes, aspirações, interesses, motivações, modos
de pensar, hábitos de trabalho e capacidade de adaptação
pessoal e social do aluno, aspectos intrínsecos e inter-
relacionados com a construção do conhecimento.
No aspecto qualitativo de avaliação deve ter peso à auto-
avaliação, considerando ser o próprio julgamento sobre o
resultado da aprendizagem pessoal, um dos elementos que
ajudará o aluno a identificar no que deve melhorar e a
empreender esforço próprio para superar ou avançar na
construção de conhecimentos.