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ANEXO 2
APELO AO CHEFE DO GOVERNO PROVISÓRIO
DA REPÚBLICA BRASILEIRA*
No intuito de prestar serviços ativos ao meu país, como um entusiasta
patriota que tem a devida obrigação de por à disposição das autoridades adminis-
trativas todas as suas funções especializadas,préstimos, profissão, fé e atividade,
comprovadas pelas suas demonstrações públicas de capacidade, quer em todo o
Brasil, quer no estrangeiro, vem o signatário, por este intermédio, mostrar a Vossa
Excelência o quadro horrível em que se encontra o meio artístico brasileiro, sob
o ponto de vista da finalidade educativa que deveria ser e Ter para os nossos
patrícios, não obstante sermos um povo possuidor, incontestavelmente, dos
melhores dons da suprema arte.
O momento, senhor presidente, parece propício para que Vossa Excelência
possa mostrar com a ação e um gesto decisivos, o alto valor com que Vossa
Excelência distingue os nossos artistas e a grande arte no Brasil.
Um e outro se acham em quase completa penúria, de um declive fatal,
provocado pelas crises imprevistas e ininterruptas, que tem sacudido o mundo
inteiro após a grande guerra. Era preciso encontrar um meio prático e rápido
para suavizar esta situação, evitar a queda do nosso nível artístico.
A solução única, acreditamos, foi finalmente encontrada! E nunca digam os
incrédulos que para os grandes males não há remédios... Depois de muito amadu-
recer ideias e examinar fatos concretos, aplicados e extraídos de realidade em
realidade, numa observação demorada e justa, resolvemos formular as sugestões
que pedimos vênia para endereçar a Vossa Excelência. Possa, Excelentíssimo
Senhor Presidente, como os eloquentes argumentos aqui expedidos, ter constan-
temente presente em sua memória, a estatística de nossos artistas, quase inteira-
mente desamparados.
Como vem de ser mostrado a Vossa Excelência, acham-se desamparados
para mais de trinta e quatro mil musicistas profissionais, em todo o Brasil,
homens que representam, entretanto, pelos seus valores como artistas, quatro
vezes os valores representativos pessoais, porque assim é e tem sido em todos os
países, em todas as épocas, a diferença de valor intelectual de que se destaca do
vulgar esta gente privilegiada. E a arte da pintura? a escultura? a dança elevada?
Esta nem existe entre nós que seja uma afirmação; quanto a arte da dança
* Villa-Lobos, H. Apelo ao chefe do governo provisório da República Brasileira. In:
Presença de Villa-Lobos. Rio de Janeiro: MEC/DAC/Museu Villa-Lobos, 1972. p. 85. 7.º v.
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