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AUDRE CRISTINA ALBERGUINI
A Ciência nos Telejornais Brasileiros
(O papel educativo e a compreensão pública das matérias
de CT&I)
Universidade Metodista de São Paulo
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
São Bernardo do Campo, 2007
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AUDRE CRISTINA ALBERGUINI
A Ciência nos Telejornais Brasileiros
(O papel educativo e a compreensão pública das matérias
de CT&I)
Tese apresentada em cumprimento parcial às
exigências do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação Social da Umesp - Universidade
Metodista de São Paulo, para obtenção do grau
de Doutor.
Orientadora: Profª Drª Graça Caldas.
Universidade Metodista de São Paulo
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
São Bernardo do Campo, 2007
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FOLHA DE APROVAÇÃO
A tese “A Ciência nos Telejornais Brasileiros (O papel educativo e a compreensão pública das
matérias de CT&I), elaborada por Audre Cristina Alberguini, foi defendida no dia 17 de
maio de 2007, tendo sido:
( ) Reprovada
( ) Aprovada, mas deve incorporar nos exemplares definitivos modificações
sugeridas pela banca examinadora, até 60 (sessenta) dias a contar da data da
defesa
( ) Aprovada
( X ) Aprovada com louvor
Banca Examinadora:
Profª Drª Graça Caldas (presidente/orientadora) UMESP
Profª Drª Elizabeth Moraes Gonçalves (UMESP)
Profº Drº Sebastião Squirra (UMESP)
Profª Drª Ivete Cardoso Roldão (PUC-Campinas)
Profª Drª Vera Toledo Camargo (UNICAMP)
Área de Concentração: Processos Comunicacionais
Linha de Pesquisa: Divulgação Científica e Políticas de C&T
4
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, José Carlos Alberguini e Maria do Carmo
Seorlin Alberguini, pelo amor incondicional. Aos meus avós,
Isaura Ardengui Alberguini (in memorian), Pedro Alberguini (in
memorian), Nicola Seorlin (in memorian) e Margarida Augusto
Seorlin, pelas boas lembranças.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço, acima de tudo e sempre, a Deus, por me dar saúde e força para buscar melhorar
sempre e aprender com meus próprios erros.
Aos meus pais, José Carlos Alberguini e Maria do Carmo Seorlin Alberguini, meu irmão,
Ricardo Alexandre Alberguini, e minha cunhada, Cyntia Duque Lustosa, pela confiança,
paciência e dedicação.
À minha orientadora, Graça Caldas, pelo trabalho árduo, pelo incentivo, pela confiança e pela
compreensão.
À Umesp e aos professores do Curso de Pós-Graduação em Comunicação Social, pelo suporte
que me foi dado e pela qualidade do curso.
Às professoras doutoras Anamaria Fadul e Elizabeth Gonçalves, cujas disciplinas foram
fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho.
À Capes, pela bolsa de doutorado.
À banca examinadora de qualificação deste trabalho, formada pelos professores doutores
Sebastião Squirra e Ivete do Carmo Roldão, pela riqueza das colaborações e pelo aprendizado.
À amiga Rosane de Bastos, pela amizade, pela revisão do trabalho e pelas longas e divertidas
conversas.
À querida amiga Márcia Akemi Tamamoto Lehman, pela tradução do resumo em espanhol.
Às funcionárias da Umesp, em especial à Amanda Quintela Ferreira e à Márcia Pitton, pelo
apoio.
À amiga Sueli Teixeira de Camargo por me presentear com amizade tão sincera.
A Ivan Soares David, pela produção dos materiais multimídia.
À Ana Cristina Zamberlan, pelos momentos de análise.
À doutora Vera Regina Toledo de Camargo, por ser meu modelo de profissional,
pesquisadora e mulher.
Aos amigos Patrícia Ozores Polacow e Victor Kraide Corte Real, pelo incentivo.
Aos funcionários da empresa KS Pistões de Nova Odessa e aos alunos do 3º ano de
Jornalismo da Unip de Campinas, de 2006, pela participação nas discussões dos Grupos
Focais.
A tantos outros amigos que, com palavras carinhosas e de incentivo, tornaram esta jornada
mais alegre, humana, florida...
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ÍNDICE DE GRÁFICOS, TABELAS E DIAGRAMAS
Página
Capítulo I:
Tabela 1: Gêneros jornalísticos 26
Tabela 2: Posições discursivas dos atores (fontes) da matéria 27
Tabela 3: Conteúdo 29
Tabela 4: Imagens 30
Tabela 5: Recursos não-verbais 31
Quadros das amostras dos telejornais 38
Capítulo II:
Cursos de pós-graduação em Compreensão Pública da Ciência nos EUA 47
Diagrama representativo da subárea e suas especialidades 53
Capítulo III:
Tabela da grade de programação telejornalística da Rede Globo de Televisão 74
Tabela da grade de programação telejornalística da Rede Bandeirantes 75
Tabela da grade de programação telejornalística da Rede Record 76
Tabela da grade de programação telejornalística da TV Cultura 77
Tabela da grade de programação telejornalística da TVE Brasil 78
Tabela da grade de programação telejornalística do SBT 78
Tabela da grade de programação telejornalística da TV Gazeta 79
Tabela da grade de programação telejornalística da Rede TV! 79
Tabela: Critérios de noticiabilidade das matérias sobre CT&I dos telejornais 85
Capítulo IV:
A Ciência nos telejornais
Dia 09 de maio de 2005
Tabela: Principais editorias 95
Tabela: Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I 95
Tabela: Matérias de CT&I 96
Dia 11 de maio de 2005
Tabela: Principais editorias 104
Tabela: Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I 104
Tabela: Matérias de CT&I 105
Dia 13 de maio de 2005
Tabela: Principais editorias 121
Tabela: Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I 121
Tabela: Matérias de CT&I 122
Dia 24 de maio de 2005
Tabela: Principais editorias 140
Tabela: Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I 140
Tabela: Matérias de CT&I 141
Dia 26 de maio de 2005
Tabela: Principais editorias 161
Tabela: Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I 161
Tabela: Matérias de CT&I 162
Dia 28 de maio de 2005
Tabela: Principais editorias 175
Tabela: Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I 175
Tabela: Matérias de CT&I 175
Análise Quantitativa: Conclusões Parciais 2005
Tabela: Quantidade de matérias de CT&I por telejornal e total 178
Tabela: Tempo das matérias de CT&I por telejornal e tempo total 178
Tabela: As matérias de CT&I e os gêneros jornalísticos 179
Tabela: Produção das imagens das matérias por telejornal e total 179
7
Tabela: As matérias de CT&I por telejornal e Áreas do Conhecimento 180
Tabela: Origem geográfica da pesquisa por telejornal e total 181
Tabela: Origem geográfica da pesquisa nacional 181
Tabela: Origem institucional da pesquisa por telejornal e total 182
Dia 02 de maio de 2006
Tabela: Principais editorias 184
Tabela: Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I 184
Tabela: Matérias de CT&I 184
Dia 04 de maio de 2006
Tabela: Principais editorias 188
Tabela: Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I 188
Tabela: Matérias de CT&I 189
Dia 06 de maio de 2006
Tabela: Principais editorias 196
Tabela: Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I 197
Tabela: Matérias de CT&I 197
Dia 15 de maio de 2006
Tabela: Principais editorias 206
Tabela: Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I 207
Tabela: Matérias de CT&I 207
Dia 17 de maio de 2006
Tabela: Principais editorias 210
Tabela: Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I 210
Tabela: Matérias de CT&I 211
Dia 19 de maio de 2006
Tabela: Principais editorias 224
Tabela: Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I 224
Tabela: Matérias de CT&I 225
Análise Quantitativa: Conclusões Parciais 2006
Tabela: Quantidade de matérias de CT&I por telejornal e total 230
Tabela: Tempo das matérias de CT&I por telejornal e tempo total 230
Tabela: As matérias de CT&I e os gêneros jornalísticos 231
Tabela: Produção das imagens das matérias por telejornal e total 231
Tabela: As matérias de CT&I por telejornal e áreas do conhecimento 232
Tabela: Origem geográfica da pesquisa por telejornal e total 232
Tabela: Origem geográfica da pesquisa nacional 233
Tabela: Origem institucional da pesquisa por telejornal e total 233
Resultados Gerais: Análise Quantitativa Comparações 2005 e 2006
Tabela: Matérias de CT&I por telejornal e total 234
Gráfico 1: Quantidade de matérias de CT&I 2005 e 2006 234
Tabela: Tempo total dedicado a CT&I nos telejornais 235
Gráfico 2: Tempo dedicado a CT&I nos telejornais 236
Gráfico 3: Tempo total dedicado a CT&I por telejornal 236
Tabela: Matérias de CT&I e gêneros jornalísticos (2005 e 2006) 237
Gráfico 4: Matérias de CT&I e gêneros jornalísticos 237
Tabela: Produção das imagens das matérias por telejornal e total (2005 e 2006) 238
Gráfico 5: Produção de matérias por telejornal 2005 e 2006 238
Tabela: Matérias de CT&I e áreas do conhecimento 239
Gráfico 6: Matérias de CT&I e áreas do conhecimento 239
Tabela: Origem geográfica da pesquisa por telejornal e total 240
Gráfico 7: Matérias de CT&I e origem geográfica da pesquisa 240
Tabela: Origem geográfica da pesquisa nacional (2005 e 2006) 241
Gráfico 8: Matérias de CT&I e origem da pesquisa nacional (2005 e 2006) 241
Tabela: Origem institucional da pesquisa por telejornal e total 242
Gráfico 9: Matérias de CT&I e origem institucional da pesquisa 242
Tabela: Origem institucional da pesquisa nacional por telejornal e total 243
Gráfico 10: Matérias de CT&I e origem institucional da pesquisa nacional 243
8
SUMÁRIO
Página
INTRODUÇÃO 13
CAPÍTULO I: A ESCOLHA DO OBJETO E A CONSTRUÇÃO DA
METODOLOGIA
1.1) Objeto de Estudo 17
1.2) Objetivos 18
1.3) Justificativa 18
1.4) Hipóteses 20
1.5) Metodologia 21
CAPÍTULO II: CIÊNCIA, MÍDIA E EDUCAÇÃO
2.1) O Campo da Comunicação 42
2.2) A Compreensão Pública da Ciência no Campo da Comunicação 44
2.2.1) Uma Taxonomia para a subárea de Compreensão Pública da Ciência 51
2.3) Conceitos e Problemática 54
2.3.1) Conceitos de CT&I 54
2.3.2) Conceitos de Compreensão Pública da Ciência 57
2.4) A Compreensão Pública da Ciência, a Sociedade e a Mídia 62
2.5) A Compreensão Pública da Ciência, a Mídia e a Educação 66
2.6) A Ciência na TV Brasileira 70
2.7) Considerações Finais do Capítulo 71
CAPÍTULO III: CIÊNCIA E EDUCAÇÃO NO TELEJORNALISMO
3.1) O Telejornalismo no Brasil 73
3.2) O Telejornal e as Matérias sobre CT&I 80
3.3) Considerações Finais do Capítulo 90
CAPÍTULO IV: A COMPREENSÃO PÚBLICA DA CIÊNCIA NO
TELEJORNALISMO
4.1) A Ciência nos Telejornais 94
Principais Acontecimentos Noticiados pelos Telejornais
Tempo Total dos Telejornais e Tempo das Matérias de CT&I
As Matérias de CT&I dos Telejornais
A Edição das Matérias de CT&I dos Telejornais
Comparações entre as Matérias: A Função Educativa
4.2) Análise Quantitativa: Conclusões Parciais – 2005 178
4.3) Análise Quantitativa: Conclusões Parciais 2006 230
4.4) Resultados Gerais: Análise Quantitativa Comparações 2005 e 2006 234
4.5) Considerações Finais do Capítulo 244
9
CAPÍTULO V: A VISÃO DO PÚBLICO SOBRE AS MATÉRIAS DE
CT&I
5.1) Descrição da Pesquisa 249
5.2) Perfis Socioculturais dos Grupos 251
5.3) Identificação dos Integrantes dos Grupos 252
5.4) O Confronto de Discursos 253
5.5) Conclusões dos Integrantes dos Grupos sobre as Matérias 267
5.6) Considerações Finais do Capítulo 268
CONCLUSÕES 271
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 283
BIBLIOGRAFIA 295
ANEXOS
Anexo I: Análise Descritiva das Matérias 01
Anexo II: Transcrição das Matérias dos Grupos Focais 18
Anexo III: Modelo de Transcrição dos Telejornais 26
Anexo IV: Modelos de Classificação dos Assuntos dos Telejornais 43
Anexo V: Modelos de Questionários Grupos Focais 50
Anexo VI: Entrevista 51
CD Rom (I e II): Apresentação das Matérias de CT&I no verso da capa
10
RESUMO
Este trabalho investiga a cobertura de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) nos telejornais
brasileiros de canal aberto, no horário nobre (das 19h15 às 22h), para verificar a função
educativa da mídia na abordagem de assuntos de CT&I. O corpus desta pesquisa compõe-se
de um recorte dos seguintes telejornais: Jornal da Band, Jornal Nacional, Jornal da Record,
Jornal da Cultura e SBT Brasil. A proposta foi avaliar, comparativamente, as matérias
jornalísticas que tratam especificamente de CT&I, em relação ao formato, à linguagem e aos
conteúdos de cada um dos programas estudados. Este trabalho empregou a metodologia de
Análise de Discurso de linha Francesa (AD). Esta pesquisa, de natureza qualitativa, também
englobou um Estudo de Recepção sobre as reportagens selecionadas. O procedimento
utilizado para isso foi o de Grupos Focais. Dessa forma, buscou-se analisar o processo de
Comunicação que envolve as matérias telejornalísticas de CT&I das mensagens à recepção.
Este estudo verificou que CT&I é um assunto presente nos telejornais brasileiros mesmo
quando ocorrem fatos imprevisíveis (de outras editorias) que influenciam significativamente a
cobertura dos noticiários televisivos. Constatou também que não há, entre os telejornais
selecionados, um padrão de aprofundamento e contextualização dos assuntos CT&I, mas que
a abordagem varia até dentro de uma única edição. As emissoras, mesmo reconhecendo a
importância de CT&I, ainda oscilam entre uma abordagem contextualizada e a simples
descrição do fato principal. A linguagem empregada pelos telejornais para o tratamento de
assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação é, predominantemente, clara e simples. No
entanto, foi possível verificar algumas nuances, com o uso de termos específicos da
linguagem científica sem que a matéria oferecesse qualquer explicação sobre tais conceitos. A
experiência dos Grupos Focais revelou que os telespectadores não são passivos em relação
aos conteúdos científicos dos programas telejornalísticos. De modo geral, o público se
interessa por CT&I e sabe avaliar qualitativamente as matérias. Analisar como as matérias
sobre CT&I produzem sentidos e qual a contribuição que estas podem dar à Compreensão
Pública da Ciência possibilitou reflexões relevantes sobre as limitações e os potenciais da
televisão e das mensagens veiculadas, assim como o interesse e a visão crítica a respeito dos
assuntos de CT&I.
Palavras-chave: Compreensão Pública da Ciência, Função Educativa do Jornalismo,
Jornalismo Científico & Educação, Divulgação Científica no Telejornal, Telejornalismo
Brasileiro.
11
ABSTRACT
This work researches the covering of Science, Technology and Inovation (ST&I) on brazilian
open channel TV news, at prime time (from 7:15 pm to 10 pm), to notice the educational
function of media in the approach of the subjects ST&I. The corpus of this research is made
up from a clipping from the following TV news: Jornal da Band, Jornal Nacional, Jornal da
Record, Jornal da Cultura and SBT Brasil. The proposal was to evaluate comparatively the
journalist subjects that specifically deal with ST&I, in relation to the format, the language and
the contents of each studied programs. This work made use of the French Discourse Analysis
(DA) Methodology. This quality research also englobed a Study of Reception about the
selected reportings. The procedure employed for this was the Focus Groups. This way, it
attempted to análise the communication process that covers the news subjects of ST&I from
messages to reception. This study noticed that ST&I is present subject on brazilian TV news
even if there happen unpredictable facts (from others editorials) that influence significatively
the covering of the TV news. It also noticed that there isn´t among the selected TV news a
deepening standard and contextualization of ST&I subjects but that the approach varies even
involving a single edition. The broadcasting channels, even admitting the importance of
ST&I, are still oscillate between a contextualized approach and the simple description of the
principal fact. The language used on TV news concerned with the subjects of Science,
Tecchnology and Inovation is predominantly clear and simple. Nevertheless it was possible to
notice some nuances, with the use of specific terms of the scientific language without the
subject offering any explanation about such concepts. The experience of the Focus Groups
showed that television viewers are not passive in relation to the scientific contents of the
telejournalist programs. In general, people are interested in ST&I and know how to evaluate
the subjects qualitatively. Analyzing how the subjects about ST&I make sense and what
contribution they can give to the Public Understanding of Science, facilitated important
reflections about the limitations and the potencials of television and the linked messages as
well as the interest and critical vision in respect to the subjects of ST&I.
Key-words: Public Understanding of Science, Educational Function of Journalism, Scientific
Journalism & Education, Science Communication on TV News, Brazilian TV Journalism.
12
RESÚMEN
Este trabajo investiga la cobertura de Ciencia, Tecnología y Innovación (CT&I) en los
noticieros brasileños de canal abierto, en el horario noble (de las 19h15 a las 22h), para
verificar la función educativa de la media en el abordaje de asuntos de CT&I. El corpus de
esta investigación se compone de un recorte de los siguientes noticieros: Jornal da Band,
Jornal Nacional, Jornal da Record, Jornal da Cultura y SBT Brasil. La propuesta fue avaluar,
comparativamente, los asuntos periodísticos que tratan específicamente de CT&I, en relación
al formato, al lenguaje y a los contenidos de cada uno de los programas estudiados. Se ha
utilizado en este trabajo la metodología de análisis de Discurso de línea Francesa (AD). Esta
investigación, de naturaleza cualitativa, también abarcó un Estudio de Recepción sobre los
reportajes seleccionados. El procedimiento utilizado para eso fue el de los Grupos Focales. De
esa forma, se buscó analizar el proceso de Comunicación que envuelve los asuntos
periodísticos de CT&I de los mensajes a la recepción. Este estudio verificó que CT&I es un
asunto presente en los noticieros brasileños aún cuando ocurren hechos imprevisibles (de
otras editoriales) que influyen significativamente la cobertura de los noticieros televisivos.
Constató también que no hay, entre los noticieros seleccionados, un patrón de profundización
y contextualización de los asuntos CT&I, pero que el abordaje varía inclusive dentro de una
única edición. Las emisoras, aunque reconocen la importancia de CT&I, todavía oscilan entre
un abordaje contextualizado y la simple descripción del hecho principal. El lenguaje utilizado
por los periodistas para el tratamiento de asuntos de Ciencia, Tecnología y Innovación es,
predominantemente, claro y simple. Sin embargo, fue posible verificar algunos matices, como
uso de términos específicos de lenguaje científico sin que el asunto ofreciese cualquier
explicación sobre tales conceptos. La experiencia de los Grupos Focales reveló que los
telespectadores no son pasivos en relación con los contenidos científicos de los noticieros. De
modo general, el público se interesa por CT&I y sabe avaluar cualitativamente las materias.
Analizar cómo los asuntos sobre CT&I producen sentidos y cuál es la contribución que estos
pueden dar a la Comprensión Pública de la Ciencia ha posibilitado reflexiones relevantes
sobre las limitaciones y los potenciales de la televisión y de los mensajes transmitidos, así
como el interés y la visión crítica respecto de los asuntos CT&I.
Palabras-llave: Comprensión Pública de la Ciencia, Función Educativa del Periodismo,
Periodismo Científico & Educación, Divulgación Científica en el Noticiero, Noticiero
Brasileño.
13
INTRODUÇÃO
A Ciência, a Tecnologia e a Inovação (CT&I) deixaram de ser, há algumas décadas, de
interesse apenas de cientistas, pesquisadores, empresários e políticos. Nos dias de hoje, o
conhecimento rapidamente se transfere dos laboratórios para o cotidiano das pessoas e, por
isso, é necessária uma ampla divulgação, para o cidadão comum, dos processos e produtos
resultantes do trabalho científico.
Do mesmo modo, diante da presença e influência da Ciência na sociedade, torna-se relevante
a Compreensão Pública do desenvolvimento de uma pesquisa, de uma nova técnica ou
produto. O conhecimento, por parte dos cidadãos, dos processos relacionados à produção
científica é essencial para que as pessoas entendam e possam avaliar as conseqüências e
repercussões da adoção dessas inovações.
Neste aspecto, os meios de comunicação têm papel primordial, já que são a principal forma de
acesso das pessoas aos acontecimentos do mundo. No entanto, no caso de temas científicos,
devido à complexidade dos assuntos, muitos obstáculos ainda dificultam a relação entre a
Ciência
1
e a sociedade.
Este tem sido um dos diversos enfoques de comunicadores que se dedicam a aproximar
Ciência, Tecnologia e Inovação do cotidiano dos cidadãos através da mídia. De outra forma,
pesquisadores têm voltado seus estudos e análises para a relação da Ciência e da Divulgação
Científica na mídia.
Graças a diferentes aspectos ligados ao desenvolvimento científico e tecnológico, entre eles, a
projeção que a Ciência vem obtendo em várias áreas do conhecimento, além dos benefícios e
conseqüências que podem trazer à vida das pessoas, pautas de Ciência, Tecnologia e Inovação
(CT&I) ganham cada vez mais espaço nos meios de comunicação.
Assuntos de Ciência e Tecnologia são material jornalístico cada vez mais freqüente
nos meios de comunicação. A principal razão disso é a crescente aplicação da
Tecnologia, determinando mudanças, tais como desemprego e aumento da
produtividade; desaparecimento de profissões e surgimento de outras; invenção de
produtos de uso cotidiano; novos processos de produção e trabalho a que as pessoas
devem adaptar-se; criação de serviços; oferecimento de recursos técnicos que alteram
a qualidade de vida (...) Mas há um segundo motivo, também relevante: o conflito
entre o que a Ciência vai revelando e os conhecimentos entrincheirados das pessoas
crenças que se incorporam a valores religiosos em muitas culturas e que se vêem
assim contestadas diretamente (LAGE, 2002, p. 119-120).
Entre os meios de comunicação, a televisão é o mais popular na sociedade brasileira. Com
isso, assuntos abordados por essa mídia acabam tomando projeção nacional. A Ciência, a
Tecnologia e a Inovação não estão à margem desse processo.
O interesse pela popularização do conhecimento científico e tecnológico agora
agregado com a inovação visto que o setor começa, finalmente, a ser reconhecido
como estratégico para o desenvolvimento nacional e melhoria da qualidade de vida ,
1
Nesta tese, em diversos momentos, o termo Ciência é tomado no sentido amplo (de conhecimento científico),
que também envolve as modalidades Tecnologia e Inovação.
14
pode ser contabilizado pela inserção cada vez mais freqüente de temas científicos nos
telejornais brasileiros (CALDAS, 2004, p. 65-66).
Ao contar com características como fácil acesso e custo relativamente baixo, além de seu
caráter eminentemente informativo e de entretenimento, a televisão é considerada o meio de
comunicação de maior alcance nas últimas décadas.
A televisão é o fenômeno social e cultural mais impressionante da história da
humanidade. É o maior instrumento de socialização que jamais existiu. Nenhum outro
meio de comunicação na história havia ocupado tantas horas da vida cotidiana dos
cidadãos, e nenhum havia demonstrado um poder de fascinação e de penetração tão
grande (FERRÉS, 1998, p. 13).
Fatores sociais, econômicos, culturais e políticos contribuem para que a televisão ocupe um
lugar de destaque ainda maior no Brasil do que em outros países, nos quais os níveis
educacionais são melhores e onde a televisão divide a atenção das pessoas com outras opções
de lazer e de cultura.
Rezende (2000, p. 23) avalia que, entre as causas da soberania da televisão no Brasil em
relação aos demais meios de comunicação, estão a má distribuição da renda, a concentração
da propriedade das emissoras, o baixo nível educacional, o regime totalitário nas décadas de
1960 e 70, a imposição de uma homogeneidade cultural e, até mesmo, a alta qualidade da
teledramaturgia brasileira.
Este fato leva a diversas conseqüências que se interpõem entre a relação que as pessoas
estabelecem consigo mesmas, com outras pessoas e com a realidade social. “Na
contemporaneidade, a realidade que nos cerca passou a ser conhecida e reconhecida a partir
da mídia, sobretudo da televisão. Vivemos num mundo editado, e é com ele, nele e a partir
dele que se constroem novas variáveis históricas” (BACCEGA, 2003, p. 9).
Soma-se a essa conjuntura o hábito de leitura ainda restrito a determinadas parcelas da
sociedade, o que faz com que a audiência dos programas televisivos seja ampliada ainda mais.
A inspiração na oralidade propicia à TV comunicar-se com uma vasta camada do
público receptor, mas, para consegui-lo, esta é forçada a uniformizar a sua linguagem.
A qualidade alcançada a compreensão imediata do público tem, como contrapeso,
as deficiências próprias de uma limitação lingüística, conseqüência que atinge
principalmente os programas de maior audiência (REZENDE, 2000, p. 25).
Ferrés (1998) defende que a recepção da mensagem televisiva não se dá de forma passiva,
mas que este veículo mobiliza a atividade mental de forma totalmente diferente da leitura, e
esse aspecto, segundo o autor, deve ser considerado pelos estudiosos desse meio. “O
espectador constrói mentalmente espaços e tempos que, com freqüência, não correspondem
aos espaços e tempos físicos. Os cortes ou as elipses exigem a realização de constantes
inferências, deduções, estabelecimento de relações” (p. 261). Isso não quer dizer, segundo ele,
que a excessiva exposição a esse tipo de mensagem em detrimento da cultura escrita não traga
problemas que mereçam atenção.
A televisão desencadeia posições e atitudes bem opostas tanto de pesquisadores quanto da
sociedade em geral. De um lado partem críticas aos programas televisivos, acusando-os de
desestimular a leitura, incentivar a violência, o consumismo exagerado e a vida sexual
15
precoce entre crianças e adolescentes e, de outro lado, há posições que a defendem como um
meio de democratizar a informação e a cultura.
As atitudes que costumam se adotar frente ao fenômeno social da televisão oscilam
entre o catastrofismo apocalíptico dos que a consideram causadora de todos os males
individuais e sociais, e a ingênua aceitação dos que a consideram uma culminância
histórica na democratização e socialização da cultura, ou simplesmente uma diversão
gratuita e ideologicamente neutra (FERRÉS, 1998, p. 13).
Torna-se importante, neste contexto, investigar as mensagens produzidas pela TV, o que está
intimamente ligado ao processo de produção característico do meio de comunicação, assim
como sua recepção nos diferentes públicos.
A televisão é um instrumento de comunicação muito pouco autônomo, sobre o qual
pesa toda uma série de restrições que se devem às relações sociais entre os jornalistas,
relações de concorrência encarniçada, implacável, até o absurdo, que são também
relações de conivência, de cumplicidade objetiva, baseadas nos interesses comuns
ligados à sua posição no campo de produção simbólica e no fato de que têm em
comum estruturas cognitivas, categorias de percepção e de apreciação ligadas à sua
origem social, à sua formação (ou à sua não-formação) (BOURDIEU, 1997, p. 50-
51).
Entre os programas de televisão que abordam temas científicos, os jornalísticos merecem
atenção especial face às características de investigação, interpretação e contextualização dos
fatos, intrínsecos à atividade jornalística mas nem sempre presente nos telejornais. “Se, com
a especialização na área científica, o ‘homem comum’ tem cada vez menos acesso às últimas
descobertas, os meios de comunicação de massa têm a possibilidade de promover a
divulgação da Ciência a um público muito mais vasto” (SIQUEIRA, 1999, p. 20).
A produção da reportagem telejornalística põe em cena diversos discursos que revelam
saberes distintos. No caso de matérias de CT&I, os discursos das fontes especializadas
(cientistas, pesquisadores, professores), o discurso das testemunhas (pessoas que, de uma
forma ou de outra são atingidas ou fazem parte do fato) e o próprio discurso da Divulgação
(nos discursos dos repórteres e apresentadores) criam uma teia de relações entre o formato, as
imagens, os recursos não-verbais, a linguagem empregada e o conteúdo das matérias.
Considerando a importância da televisão e da Ciência, Tecnologia e Inovação no cenário
nacional, a investigação das matérias sobre esse assunto nos telejornais noturnos de canal
aberto proporciona análises importantes sobre a forma como a Divulgação Científica é
realizada e também traz contribuições para se avaliar como o público recebe tais mensagens e
reage a elas. “A televisão é um pólo ativo do processo de seleção e divulgação das notícias e
também dos comentários e interpretações que delas são feitas. Ela não é mera ‘observadora’
ou ‘repórter’: tem o poder de interferir nos acontecimentos” (ARBEX JR, 2001, p. 98-9).
Uma análise rigorosa do processo comunicativo que envolve a relação da televisão com o
público deve, necessariamente, levar em conta tais tendências de estudo. No entanto, uma
pesquisa sobre o processo de comunicação que envolva o telejornalismo partindo do
processo de produção das mensagens propriamente dito às repercussões desses materiais junto
ao público pode contribuir com novas perspectivas para o estudo da comunicação televisiva.
Este é, portanto, o intuito deste trabalho, a partir da análise da cobertura de CT&I nos
telejornais brasileiros.
16
Apresentação da tese
Esta tese está organizada em cinco capítulos. No primeiro, “A Escolha do Objeto e a
Construção da Metodologia, são descritos os procedimentos de escolha e tratamento dos
materiais que compõem a pesquisa, além do processo de construção da Metodologia
empregada.
No segundo capítulo, “Ciência, Mídia e Educação”, são contextualizados os estudos e as
pesquisas da subárea de Compreensão Pública da Ciência no Campo da Comunicação, além
de serem apresentados seus principais conceitos, o enfoque das pesquisas sobre esse assunto e
a função educativa da mídia na abordagem de assuntos de CT&I.
No terceiro capítulo,A Função Educativa dos Telejornais, é mostrado um panorama do
telejornalismo brasileiro de canal aberto e o espaço ocupado por estes na programação das
emissoras. Além disso, há uma revisão de literatura sobre telejornal, focando,
especificamente, algumas de suas características. Apresenta, ainda, o papel educativo
atribuído a esses programas por profissionais e pesquisadores da área.
No quarto capítulo, “A Compreensão Pública da Ciência no Telejornalismo”, são descritas e
analisadas as matérias que compõem o corpus do trabalho. Há, também, análises quantitativas
sobre a presença e as características das matérias de CT&I investigadas.
No quinto capítulo, “A Visão do Público sobre as Matérias de CT&I, há descrições e análises
das discussões dos Grupos Focais.
Por fim, nas “Conclusões”, são retomadas as hipóteses iniciais e os objetivos propostos na
tese.
17
CAPÍTULO I:
A ESCOLHA DO OBJETO E
A CONSTRUÇÃO DA METODOLOGIA
Apresentação
O primeiro capítulo apresenta os procedimentos de escolha e tratamento dos materiais que
compõem a pesquisa. Nesta parte, são descritos os telejornais selecionados, os objetivos deste
estudo, a justificativa para a escolha do tema, as hipóteses lançadas e todo o processo que
envolveu a construção da Metodologia empregada, além da descrição dos principais
referenciais teórico-metodológicos com os quais se trabalhou.
1.1) Objeto de Estudo
O objeto de estudo central desta pesquisa são os programas telejornalísticos de canal aberto e
de alcance nacional, transmitidos no horário nobre da noite (das 19h15 às 22h), de segunda-
feira a sábado. São eles: Jornal da Band, Jornal Nacional, Jornal da Record, Jornal da
Cultura e SBT Brasil. O corpus da pesquisa é formado por matérias jornalísticas informativas,
que tratam de assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), veiculadas nos meses de
maio de 2005 e maio de 2006.
1.1.2) Descrição dos programas estudados
Jornal Nacional (Rede Globo): Estreou em setembro de 1969. Vai ao ar de segunda a sábado,
às 20h15. É apresentado atualmente por Willian Bonner (que também é editor-chefe) e Fátima
Bernardes (que também é editora-executiva). Aos sábados (e em boa parte dos feriados), o
telejornal é apresentado por Márcio Gomes e Heraldo Pereira. O Jornal Nacional já contou
com vários apresentadores ao longo do tempo, entre eles, Heron Domingues, Sérgio Chapelin
e Cid Moreira.
Jornal da Cultura (Rede Cultura de Televisão): Estreou em agosto de 1988. O telejornal é
apresentado (desde 5 de junho de 2006) por Salete Lemos (e por Valéria Grillo aos sábados e
domingos), às 22h. A editora-chefe é Giovanna Botti. Até junho de 2006, o telejornal era
veiculado de segunda a sábado (em determinados períodos, o telejornal não era veiculado aos
sábados), às 21 horas, e era apresentado por Heródoto Barbeiro, Celso Zucatelli e Márcia
Bongiovanni. O editor-chefe era Rui Rebelo e a editora-executiva, Helena Tanaka.
Jornal da Band (Rede Bandeirantes): Estreou em fevereiro de 1997. Atualmente
2
, vai ao ar
de segunda à sexta-feira às 19h20 e aos sábados às 19h50. É apresentado por Ricardo Boechat
(que é também o editor-chefe), Mariana Ferrão e Joelmir Betting. De 2004 até 09 de fevereiro
de 2006, o telejornal era apresentado por Carlos Nascimento. Antes disso, foi apresentado por
diversos jornalistas, entre eles, Marcos Hummel e Paulo Henrique Amorim.
Jornal da Record (Rede Record): Estreou em junho de 1997. Vai ao ar de segunda à sexta-
feira, às 20h e aos sábados às 19h45. Atualmente, é apresentado por Celso Freitas e Adriana
Araújo. O editor-chefe é Valdir Zwetsch. De 1997 a 30 de dezembro de 2005, o telejornal era
ancorado por Boris Casoy. Além dele, Dácio Nitrini (diretor-executivo), Salete Lemos
2
Levando-se em conta as diversas mudanças ocorridas nas equipes e nos horários de veiculação dos telejornais,
optou-se por uma última atualização dos dados em janeiro de 2007.
18
(comentarista econômica a apresentadora substitutiva) e Selma Lins (editora-chefe), foram
substituídos.
SBT Brasil (Sistema Brasileiro de Televisão - SBT): O SBT Brasil estreou em agosto de
2005 e era veiculado de segunda a sábado, às 19h15 (o horário de veiculação variou algumas
vezes: 18h30, 19h, 18h45, 21h). Inicialmente, era apresentado por Ana Paula Padrão (em
maio de 2006, período da amostra, o telejornal era apresentado por Guilherme Menezes e por
Mauro Tagliaferri, individualmente). Atualmente, é apresentado pelos jornalistas Carlos
Nascimento e Joyce Ribeiro e é veiculado às 21h30. A direção é de Luiz Gonzaga Mineiro.
1.2) Objetivos
a) Objetivo geral:
Examinar a contribuição das matérias sobre Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) dos
telejornais para a Compreensão Pública da Ciência.
b) Objetivos específicos:
1) Analisar a cobertura de CT&I nos telejornais: Jornal da Band, Jornal Nacional, Jornal da
Record, Jornal da Cultura e SBT Brasil nos seguintes aspectos: a) conteúdo; b)
linguagem; c) formato e d) recursos empregados.
2) Detectar o espaço que as matérias sobre CT&I ocupam em relação ao total de matérias nos
telejornais selecionados.
3) Observar quais são as relações entre as fontes presentes no noticiário sobre CT&I (analisar
como são apresentadas as falas/opiniões de cientistas, professores, institutos de pesquisa,
repórteres, sociedade, terceiro setor, poder público etc. e como tais informações/opiniões
se inserem na matéria e são confrontadas ou corroboradas entre si).
4) Estudar como se dá o processo de aquisição e elaboração (recepção) dos conteúdos
científicos veiculados pelos programas telejornalísticos.
1.3) Justificativa
Um dos assuntos que vêm ganhando espaço nos noticiários televisivos nas últimas décadas é a
Ciência. “Temas relacionados à Ciência e à Tecnologia vêm tendo sua influência
potencializada em várias esferas de atuação humana, situação que os leva a ocupar com
progressiva freqüência e particular destaque o âmbito dos discursos mediáticos” (BELDA,
2002, p.122).
Sobre a Divulgação Científica de modo geral, Calvo Hernando (2000) salienta que esta possui
basicamente dois objetivos principais, um vinculado ao conhecimento, que representa o de
comunicar ao público os avanços científicos da atualidade, e outro vinculado à ação, à atuação
social em relação às conseqüências que o desenvolvimento científico e tecnológico pode
ocasionar.
De acordo com Bueno (1984), a reportagem de Ciência e Tecnologia (C&T) cumpre as
seguintes funções: informativa, educativa, social, cultural, econômica e político-ideológica.
Ao informar, a matéria sobre C&T complementa e atualiza conhecimentos e, neste sentido,
educa; ao transmitir conhecimento, atua sobre a sociedade e a cultura, determinando escolhas
econômicas e, no fim, opções político-ideológicas.
Wolton (1996) acredita que a televisão é vítima de uma certa “preguiça de análise”. Para o
autor, o caráter popular e banal da televisão faz com que ela não seja assunto considerado
19
importante por pesquisadores. Outra explicação é que a análise da televisão é dificultada por
esta ser de consumo essencialmente privado, mas que traduz uma atividade coletiva. Colabora
para isso o fato de que há um grande contraste entre a televisão, instrumento da vida
cotidiana, e, por outro lado, a extraordinária aceleração de que ela é objeto no plano
institucional, político e econômico. Também dificuldade de se identificar, conhecer e
diagnosticar quem é o telespectador, a audiência da televisão, além da complexidade de se
obter a resposta do público, saber suas reações.
O fenômeno da massificação das mensagens é também uma crítica que corrobora a
dificuldade de estudá-la. Para Hoineff (1996), a dificuldade de pensar sobre televisão ocorre,
em grande parte, por causa de sua multifacetação política, ideológica e estética. “(...),
ressalvadas as nuances, todas as novelas, os telejornais, os talk-shows tanto se parecem.
Muitos estudiosos se deparam com nítidas dificuldades ao examinar estes modelos (p. 57).
Para Araújo (1999, p. 268), estudar televisão traz conforto e também desconforto. O conforto
advém do fato de que a televisão é relativamente nova se comparada a outras manifestações
como o cinema, por exemplo, e com isso há muito o que ser escrito e explorado em termos de
pesquisa. “O desconforto decorre diretamente dessa quase ausência de passado. Numa
situação de liberdade quase plena, os caminhos a seguir são inúmeros. Aquele que nos ocorre
mais imediatamente, o mais enganoso, consiste em assimilar a TV a formas preexistentes de
arte”.
Em relação às críticas lançadas à televisão, Rocco (1999) afirma que ninguém permanece
indiferente a ela, já que esta incita posicionamentos bem antagônicos entre pesquisadores e a
sociedade em geral. Para ele, enquanto muitos a vêem como uma janela para o mundo, outros,
mesmo sem dela se desligar, a concebem como o mais alienante veículo da indústria cultural.
Machado (2000) critica as pesquisas sobre televisão e a visão que os pesquisadores têm desse
meio, que deixa a impressão de que na TV não existe nada além do comum, do superficial.
Segundo ele, por mais que pareçam avançar os estudos sobre este meio, permanece ainda a
idéia antiga de que televisão é um “serviço”, sistema de difusão, fluxo de programação, ou,
numa acepção mais “integrada”, produção de mercado.
Na visão do autor, impera entre os estudiosos a concepção de que não importa o que acontece
de fato na tela, mas sim o sistema político, econômico e tecnológico no qual se forjam as
regras de produção e as condições de recepção. Com isso, as atenções voltam-se “para a
estrutura genérica do meio, entendida como tecnologia de difusão, empreendimento
mercadológico, sistema de controle político-social, sustentáculo do regime econômico,
máquina de moldar o imaginário e assim por diante” (Machado, 2000, p. 16).
Dada a imensa diversidade de enfoques que o estudo da televisão pode ter, torna-se
imprescindível ao pesquisador buscar metodologias diversas e complementares, compatíveis
com a complexidade e especificidades do veículo.
A natureza da televisão impede ao intelectual e ao observador comum qualquer
possibilidade de compará-la com outros momentos e outras formas de expressão
cultural. Exige, pois, a invenção de outros meios de análise: isolar o artifício, conhecer
o seu sistema material, aprender a ver e a ouvir, distinguir o que pode arruinar valores
e sentimentos (NOVAES, 1999, p. 9).
20
Considerações quanto aos aparatos técnico e tecnológico empregados, à produção das
mensagens, ao conteúdo exibido, aos padrões de qualidade exigidos pela emissora e recursos
financeiros disponíveis e às relações interpessoais não podem ser tratados como aspectos
isolados e independentes na análise da televisão. Uma reportagem em televisão é sempre o
resultado do trabalho feito por uma equipe multifuncional (CURADO, 2002, p.23).
Outro aspecto importante do processo de comunicação pela televisão que não pode ser
ignorado é a instância do receptor. De acordo com Peixoto (1999), o telespectador tem uma
atenção dispersa, enquanto a televisão os atinge com um fluxo ininterrupto de imagens. “A
televisão é este contínuo de imagens, em que o telejornal se confunde com o anúncio de pasta
de dentes, que é semelhante à novela, que se mistura com a transmissão de futebol. Os
programas mal se distinguem uns dos outros” (p. 77).
Um dos conceitos fundamentais para se pensar a relação com a televisão é o de mediação.
Trata-se, segundo Martin-Barbero (2001, p. 270), das articulações entre as práticas de
comunicação e movimentos sociais, para as diferentes temporalidades e para a pluralidade de
matrizes culturais.
Para Baccega (2003, p. 12), entre o telespectador e a TV manifesta-se uma série de aspectos
do universo do receptor, os quais serão determinantes na interpretação que ele faz do que está
vendo.
O sucesso e o encantamento que a TV obtém junto ao público, por seu potencial de
entretenimento acessível e divulgador de informações, assim como os questionamentos
quanto aos baixos níveis cultural, informativo e educativo da programação dos canais abertos,
representam parte da complexidade que envolve o estudo desse meio de comunicação.
Ela é, ao mesmo tempo, uma formidável abertura para o mundo, o principal
instrumento de informação e de divertimento da maior parte da população e,
provavelmente o mais igualitário e o mais democrático. Ela é também um instrumento
de libertação, pois cada um se serve dela como quer, sem ter de prestar contas a
ninguém: essa participação à distância, livre e sem restrições, reforça o sentimento de
igualdade que ela busca e ilustra o seu papel de laço social (WOLTON, 1996, p.65).
Levando em conta os aspectos ligados ao estudo da televisão no geral, e mais especificamente
sobre a presença da Ciência, da Tecnologia e da Inovação nos programas telejornalísticos,
essa pesquisa está centrada na interface entre o meio televisivo, o Jornalismo e a Divulgação
Científica, nos aspectos ligados ao formato, à linguagem e ao conteúdo das matérias, bem
como à recepção de tais mensagens por um público determinado.
1.4) Hipóteses
I) A hipótese central deste trabalho é que a Divulgação Científica nos telejornais ocorre
ainda de forma superficial, fragmentada e destituída de contexto. Além disso, os
telejornais brasileiros ainda dedicam pouco espaço e tempo para a abordagem de
assuntos relacionados a CT&I, face à sua influência e alcance na formação da opinião
pública.
21
Com base nos pressupostos acima, outras hipóteses derivadas foram objeto de verificação
sistemática:
II) Os programas telejornalísticos limitam-se a informar sobre CT&I, facilitando a
atualização e não a compreensão dos processos que envolvem o trabalho
científico.
a) As notícias veiculadas não contribuem para o esclarecimento do telespectador
quanto aos conceitos de CT&I.
b) A linguagem empregada pelos diferentes telejornais para o tratamento de assuntos
de Ciência, Tecnologia e Inovação é semelhante.
c) A abordagem dos assuntos científicos varia. As diferenciações se dão em relação
aos recursos de imagens empregados, ao grau de relacionamento que é feito entre o
conteúdo transmitido e a vida das pessoas (humanização das matérias), bem como
quanto ao tratamento (posições discursivas) que é dispensado ao
cientista/pesquisador enquanto fonte da informação.
III) A seleção de pautas de CT&I no noticiário televisivo possui estreita relação com os
trabalhos das assessorias de imprensa de universidades e centros de pesquisa públicos,
tornando-se até dependentes destas (processo designado por agenda setting) em
muitos casos.
IV) As matérias sobre CT&I nos telejornais contam com recursos audiovisuais avançados,
tais como imagens computadorizadas, infográficos e esquemas que facilitam a
veiculação do que é dito, mas não garantem a contextualização e a compreensão do
assunto.
1.5) Metodologia
Esta tese realizou, prioritariamente, um estudo qualitativo das matérias de CT&I no
telejornalismo brasileiro de canal aberto do horário nobre. De acordo com Jankowski &
Wester (1993, p. 73), até poucas décadas atrás, uma crítica freqüente que se fazia aos estudos
qualitativos referia-se à ausência de procedimentos explícitos de investigação e por uma
recompilação desigual e insuficiente de dados. No entanto, segundo os autores, atualmente, os
pesquisadores qualitativos têm prestado atenção às críticas do passado e estão perfilando um
processo de investigação qualitativa sistemática.
Para proceder à investigação sistemática do objeto de estudo, de início, realizou-se uma
Análise Descritiva das matérias informativas sobre CT&I. Depois disso, empregou-se as
bases metodológicas da Análise de Discurso Francesa (AD), no que tange às contribuições
que esta pode trazer especificamente à análise das matérias jornalísticas sobre CT&I. Como
recurso metodológico, foram empregados, nas análises das matérias, os Padrões de
Manipulação na Grande Imprensa (ABRAMO, 2003). Além disso, elaborou-se um Estudo
de Recepção de algumas das reportagens sobre CT&I previamente selecionadas, através da
técnica de Grupos Focais. Concomitantemente às análises Descritivas, de Discurso e de
Recepção, foram realizadas Análises Comparativas entre as matérias estudadas, em relação
aos dados qualitativos, e também quantitativos, obtidos.
22
1.5.1) Análise Descritiva
A Análise Descritiva das matérias teve como objetivo caracterizar a estrutura, os recursos
empregados e o conteúdo de cada uma das matérias que compõem o corpus deste estudo, a
partir de critérios selecionados. Esta análise levou em conta os recursos jornalísticos verbais e
não-verbais das mensagens, já que se mostra imprescindível considerar a complexidade dos
conteúdos do meio televisivo. Para Rose (2002, p. 343), os meios audiovisuais são um
amálgama de sentidos, imagens, técnicas, composição de cenas, seqüência de cenas e muito
mais. Para a descrição sistemática das matérias, foram desenvolvidas categorias, que levam
em conta características relevantes para a Análise de Discurso e que se sintonizam com os
objetivos e as hipóteses do trabalho.
1.5.1.2) Categorias descritivas
O procedimento de descrição das mensagens foi realizado levando-se em conta cinco critérios
principais, a partir dos quais foram elaboradas as categorias descritivas pela autora, com base
nas definições de diversos autores (MASSARANI, 2004; LAGE, 2002; REZENDE, 2000).
São eles: gêneros jornalísticos, posições discursivas ocupadas pelos atores das matérias
(fontes, repórteres, apresentadores e comentaristas), conteúdo, imagens e elementos não-
verbais.
I Gêneros Jornalísticos: Nesta categoria estão presentes as classificações a partir das
características principais de cada uma das matérias telejornalísticas e dos elementos que
estruturam cada uma das matérias. São eles:
Elementos telejornalísticos - são as partes de compõem a matéria do telejornal. São elas:
Cabeça ou Abertura: é o texto lido pelo apresentador para iniciar a matéria. Off: trata-se do
texto gravado pelo repórter sem que o rosto dele esteja no vídeo. Sonora: é o nome que se dá
às entrevistas em telejornalismo. Passagem: ocorre quando o repórter conta o fato com sua
imagem aparecendo na tela. Encerramento: que funciona como se fosse uma passagem, mas o
repórter encerra sem dar “gancho” para uma seqüência. Nota pé ou pé da matéria: trata-se do
texto lido pelo apresentador depois que a matéria vai ao ar, para finalizá-la.
Gêneros jornalísticos informativos - classificação, proposta por Rezende (2000, p. 157-158),
dos formatos das matérias telejornalísticas: Nota simples ou nota pelada, que ocorre quando o
texto é lido pelo apresentador sem o uso de imagens. É o relato mais sintético e breve de um
fato. Nota coberta, que ocorre quando o fato é narrado pelo apresentador, em off, com
imagens do acontecimento. Reportagem é a matéria jornalística que trata do relato mais
completo de um fato (em relação à nota e à nota coberta) e que apresenta as seguintes partes:
cabeça, off, sonora e passagem. Também pode conter encerramento e nota pé.
Abordagem: Predomínio - trata-se da forma como o conteúdo é tratado na matéria: Descritiva:
apenas descreve os processos envolvidos com CT&I ou apresenta o fato gerador da matéria.
Interpretativa/analítica é aquela que apresenta o processo de desenvolvimento da pesquisa,
além dos resultados e das repercussões obtidos. Investigativa é quando a matéria jornalística é
resultado de um amplo trabalho de investigação e apuração por parte do repórter.
II Posições discursivas dos atores (fontes) da matéria
3
- trata-se do lugar ocupado e
da função do discurso das fontes da matéria.
3
Vale salientar que, nos casos em que houve mais de uma fonte especializada numa mesma matéria, o que é
comum, cada uma delas foi analisada separadamente e depois foram comparadas entre si.
23
Fontes - a partir de classificação proposta por Lage (2002): Fontes oficiais: são mantidas pelo
Estado; por instituições que preservam algum poder de Estado, como as juntas comerciais e os
cartórios de ofício; e por empresas e organizações, como sindicatos, associações, fundações
etc. Nesta categoria também estão os cientistas, pesquisadores e técnicos cujos discursos
representam as instituições governamentais de que fazem parte. Fontes oficiosas: são aquelas
que, ligadas a uma entidade ou indivíduo, não estão, porém, autorizadas a falar em nome dela
ou dele, por isso, o que disserem poderá ser desmentido. Fontes independentes: são
desvinculadas de uma relação de poder ou interesse específico em cada caso. Testemunhas:
são pessoas que viram, vivenciaram ou sentiram o fato. Especialistas: nesta categoria estão os
cientistas, pesquisadores, inventores e técnicos. É imprescindível ressaltar que a
caracterização descritiva das fontes refere-se, na corrente de Análise de Discurso Francesa
adotada neste estudo, ao papel institucional da fonte e não ao papel discursivo, visto que este
é construído na interação dos discursos e não dado a priori.
Origem da pesquisa - local (país) em que a pesquisa é desenvolvida. O objetivo é diferenciar a
cobertura da Ciência produzida no país e fora dele. A origem da pesquisa pode ser: Nacional,
Internacional, Nacional e Internacional (quando a pesquisa é desenvolvida conjuntamente
por pesquisadores brasileiros e de outros países).
Origem da pesquisa nacional - refere-se às Regiões e Estados brasileiros onde a pesquisa é
desenvolvida. Este item pode contribuir para a análise da procedência da pesquisa dentro do
Brasil, o que pode salientar ou não a concentração da produção em determinada região.
Origem institucional da fonte - trata-se de definir a procedência do cientista/pesquisador. Isso
pode ressaltar o papel das assessorias de comunicação de determinadas instituições: Institutos
públicos de pesquisa, Instituto de pesquisa privada, Universidade, Indústria, ONG, Entidade
de Classe, Agência de Fomento e Não-mencionado (quando a instituição não é mencionada na
matéria).
De onde fala o cientista - trata-se de identificar onde o cientista está inserido, ou seja, qual
“imagem de fundo” é mostrada e, com isso, avaliar a inserção ou não do pesquisador no
ambiente de produção e as repercussões disso para a compreensão de conceitos científicos e
da matéria como um todo. O cientista pode falar dos seguintes locais na matéria: do
laboratório, da sala de aula, do local de trabalho (campo), do estúdio de TV, de casa ou não
estar identificado na matéria.
Posição discursiva ocupada pelo especialista/cientista na matéria - identificar qual a função
ocupada pela(s) fonte(s) da área de CT&I em relação às demais fontes da matéria. Refere-se à
função e inserção da fonte especialista na matéria, ou seja, trata-se de identificar a posição
discursiva da fonte especialista na matéria, que pode ser Principal ou Secundária (quando
outras fontes são responsáveis pelo encadeamento dos discursos da matéria).
Forças discursivas: cientistas-fontes - trata-se de identificar como está inserido o
pronunciamento (o ponto de vista) da fonte especializada em relação às demais fontes da
matéria. Trata-se de averiguar se o discurso do cientista corrobora o discurso das outras
fontes ou se o discurso do cientista contrapõe-se ao discurso das outras fontes.
Forças discursivas: cientista-jornalista - neste caso, o objetivo é comparar e analisar a relação
dos conceitos e pontos de vista anunciados pela fonte especializada e pelo jornalista,
considerando repórter e apresentador. Neste item, pode-se avaliar que: a informação do
24
cientista corrobora a informação dos jornalistas ou que a informação do cientista contrapõe-
se à informação dos jornalistas.
Localização das matérias de CT&I no telejornal - refere-se à identificação das matérias de
CT&I nos blocos do telejornal, levando-se em conta o telejornal como um todo. De acordo
com a seqüência das matérias do telejornal, considera-se que: a Ciência está pulverizada no
telejornal, quando as matérias encontram-se em vários blocos, a Ciência está concentrada em
um único bloco, quando as matérias de CT&I são apresentadas num único bloco ou a Ciência
está distribuída em mais de um bloco, quando as matérias de CT&I distribuem-se em dois
blocos do telejornal.
III Conteúdo - refere-se aos conceitos explanados, à linguagem empregada, à
contextualização/fragmentação do conhecimento científico.
Assunto científico principal trata-se de identificar qual fonte ou jornalista da matéria é
responsável por anunciar a novidade e ou processo científico/tecnológico gerador da notícia.
De acordo com tal critério, o fato científico gerador da matéria pode ser: revelado pelo
cientista, revelado pelo jornalista, revelado por fontes oficiais (governamentais e/ou
institucionais), revelado pelo apresentador ou outros (tratando-se de outras categorias de
fontes, como independentes ou testemunhais).
Inserção da Ciência: tem como objetivo avaliar se CT&I é o tema principal da matéria ou se a
Ciência é empregada como um suporte ou uma explicação para a matéria que tem como tema
central um fato que não é especificamente de CT&I (CT&I é assunto secundário da matéria).
Abordagem da Ciência - trata-se de investigar se há, na matéria, uma explicação dos
antecedentes, dos fatores causais, conseqüências e do processo de desenvolvimento que
resultou na Ciência, na Tecnologia, na Inovação ou na Invenção anunciadas na matéria. A
abordagem pode se dar de forma: Contextualizada ou Fragmentada.
Recursos de linguagem - são alguns dos principais recursos empregados para facilitar a
compreensão do conteúdo científico: Analogia, Definição e Exemplificação.
Linguagem (características)
4
- Clara (é quando os discursos da matéria relacionados às
versões dos fatos, ao encadeamento das idéias e dos acontecimentos, além da escolha de
termos estão editados de forma a possibilitar a compreensão do assunto), Confusa (quando a
linguagem empregada apresenta lacunas que dificultam ou impedem a compreensão da
matéria). Simplificada (é quando a linguagem empregada na matéria não faz uso de
termos/conceitos técnicos não usados pelo senso comum, no uso cotidiano) ou Complexa
(quando a matéria emprega termos técnicos, sem explicação dos conceitos, que dificultam a
compreensão do assunto).
Apresentação (imagem) da Ciência - são as formas como CT&I é apresentada na matéria. No
caso, CT&I pode ser inserida das seguintes formas: elogiativa, ressaltando fundamentalmente
aspectos positivos associados a ela, depreciativa, ressaltando os aspectos negativos ligados a
4
Esta classificação refere-se, neste estudo, tão somente, às características gerais da linguagem da matéria sobre
CT&I quanto à presença/ausência de termos técnicos e/ou científicos. Para um estudo aprofundado da
linguagem dos telejornais, ver nas referências bibliográficas: CARMO ROLDÃO, Ivete Cardoso do. A
linguagem oral no telejornalismo brasileiro (2003).
25
CT&I ou equilibrada, em que há uma ponderação entre os lados positivos e negativos das
repercussões de CT&I (MASSARANI, 2004).
Conclusões da notícia - trata-se de identificar qual personagem da notícia é responsável por
concluir a matéria. São eles: Cientista, Jornalista, Apresentador ou Outras fontes.
IV Imagens: são as imagens mostradas/ambientadas nas matérias.
A relação ambiente-conteúdo - trata-se de verificar se as imagens são elucidativas dos
processos que envolvem CT&I dentro da matéria ou não. Sobre isso, o ambiente colabora
para a apreensão do conteúdo, o ambiente não colabora para a apreensão do conteúdo ou é
indiferente.
A natureza da imagem da Ciência - relação entre Ciência e a imagem. Trata-se de analisar, a
partir das imagens se: a Ciência é incorporada ao ambiente natural, a Ciência é incorporada
ao ambiente social, a Ciência é incorporada ao ambiente de produção desta, a Ciência é
incorporada ao ambiente de recepção, a Ciência é desarticulada do ambiente de produção ou
se a Ciência é desarticulada do ambiente de recepção.
Imagem e Conteúdo - trata-se de analisar o uso da imagem na compreensão da matéria (a
imagem auxilia na compreensão do processo científico envolvido) ou na espetacularização do
fato (a imagem é de impacto estética espetacularizada da Ciência) e averiguar se há
emprego de imagens para esclarecer, explicar processos e conceitos que envolvem CT&I (
demonstração do processo científico com imagens) ou não (não há demonstração do processo
científico com imagens).
V Recursos não-verbais - são os recursos empregados por apresentador/repórter ou
elementos ilustrativos que compõem as mensagens das matérias.
Recursos não-verbais do apresentador (predominantes) - são os posicionamentos e posturas do
apresentador que enfatizam determinados conteúdos. São eles: postura, voz, expressão facial
e expressão corporal.
Recursos não-verbais do repórter (predominantes) - são os posicionamentos, do repórter, que
enfatizam determinados conteúdos. São eles: postura, voz, expressão facial e expressão
corporal.
Elementos ilustrativos empregados - são recursos gráficos que têm como função facilitar a
compreensão da notícia. São eles: esquemas, mapas, gráficos, tabelas, desenho e vinheta.
Legibilidade dos elementos ilustrativos - trata-se de avaliar se os elementos ilustrativos
contribuem (as ilustrações auxiliam na compreensão dos conceitos) ou não (as ilustrações
não auxiliam na compreensão dos conceitos), para facilitar o entendimento dos processos
científicos envolvidos nas matérias. Estes também podem não ter uma importância
significativa no entendimento do processo científico apresentado na matéria (indiferente).
A partir desses elementos foram criadas as seguintes tabelas para a descrição das matérias
telejornalísticas de CT&I:
26
Telejornal:
Data:
Quantidade de matérias sobre CT&I:
Editorias do telejornal:
Tempo total do telejornal:
Tempo total das matérias sobre CT&I:
Tempo da matéria de CT&I:
Título da matéria:
Tabela 1: Gêneros Jornalísticos
Elementos
telejornalísticos
Abertura Off Passagem Encerramento Nota pé
Gêneros
jornalísticos
informativos
Nota simples Nota coberta Reportagem
Abordagem:
Predomínio
Descritiva Interpretativa/
analítica
Investigativa
27
Tabela 2: Posições discursivas dos atores (fontes) da matéria
Fontes
Oficial Oficiosa Indepen-
dente
Testemunha Especialista
Origem da pesquisa
Nacional Internacional Nacional e
Internacio-
nal
Origem institucional
da fonte
Institutos públicos de
pesquisa
Instituto privado
de pesquisa
Universi-
dade
Indústria ONG Entidade
de Classe
Agência
de
Fomento
Não
identi-
ficado
Origem da pesquisa
nacional
Região do país
Norte Nordeste Sul Sudeste Centro-
Oeste
Estado:
De onde fala o
cientista (local)
Do laboratório Da sala de aula
Do local de
trabalho
(campo)
Do
estúdio de
TV
De casa Não
identifi-
cado
Posição discursiva
ocupada pelo
especialista/ cientista
na matéria
Principal Secundária
Forças discursivas:
cientistas -fontes
O discurso do cientista
corrobora o discurso
das outras fontes
O discurso do
cientista
contrapõe-se ao
discurso das
outras fontes
28
Forças discursivas:
cientista-jornalista
Informação do cientista
corrobora a informação
dos jornalistas
Informação do
cientista
contrapõe-se à
informação dos
jornalistas
Localização das
matérias científicas
no telejornal
A Ciência está
pulverizada no
telejornal
A Ciência está
concentrada em
um único bloco
A Ciência
está
distribuída
em mais de
um bloco
29
Tabela 3: Conteúdo
O assunto
cie ntífico
principal
Revelado pelo
cientista
Revelado pelo
jornalista
Revelado por
fontes oficiais
Revelado
pelo apre-
sentador
Outros
Inserção da
Ciência
CT&I é o assunto
principal da
matéria
CT&I é
assunto
secundário da
matéria
Abordagem da
Ciência
Contextualizada Fragmentada
Recursos de
linguagem
Analogia Definição
Exemplifi-
cação
Linguagem:
características
Clara Confusa Complexa Simplifica-
da
Apresentação
(imagem) da
Ciência
Elogiativa Depreciativa Equilibrada
Conclusões da
notícia
Cientista Jornalista Apresentador Outras
fontes
30
Tabela 4: Imagens
A relação
ambiente-
conteúdo
O ambiente
colabora para a
apreensão do
conteúdo
O ambiente
não colabora
para a
apreensão do
conteúdo
Indiferente
A natureza da
imagem da
Ciência
A Ciência é
incorporada ao
ambiente natural
A Ciência é
incorporada
ao ambiente
social
A Ciência é
incorporada ao
ambiente de
produção desta
A Ciência é
incorporada ao
ambiente de
recepção
A Ciência
é desarticu-
lada do
ambiente
de
produção
A Ciência é
desarticu-
lada do
ambiente
de
recepção
Imagem e
Conteúdo
A imagem auxilia
na compreensão do
processo científico
envolvido
A imagem é
de impacto
estética
espetaculari-
zada da
Ciência
demonstração
do processo
científico com
imagens e
palavras
demonstração
do processo
científico com
palavras
somente
Não há
demonstra-
ção do
processo
científico
31
Tabela 5: Recursos não-verbais
Recursos não-
verbais do
apresentador
(predominantes)
Postura Voz Expressão facial
Expressão
corporal
Recursos não-
verbais do
repórter
(predominantes)
Postura Voz Expressão facial
Expressão
corporal
Elementos
ilustrativos
empregados
Esquemas Mapas Gráficos Tabelas Desenhos Vinheta Nenhum
Legibilidade dos
elementos
ilustrativos
As ilustrações
auxiliam a
compreensão dos
conceitos
As ilustrações
não auxiliam
a
compreensão
dos conceitos
Indiferente
32
1.5.2) Análise de Discurso
A Análise de Discurso Francesa (AD) é a principal metodologia adotada neste estudo. Esta
teve origem na segunda metade da década de 60, como uma escola de pensamento lingüístico
e filosófico, configurada na confluência entre o Marxismo, a Lingüística e a Psicanálise. As
pesquisas em AD foram consagradas com a publicação, em 1969, por Michel Pêcheux, seu
maior expoente, do número 13 da revista Langages, com o título “A análise de discurso, e de
Analyse Automatique du Discours (MAINGUENEAU, 1998; ADINOLFI, 2005).
A Análise de Discurso Francesa se aproxima do campo da Lingüística ao levar em
consideração que a linguagem não é neutra nem transparente, ou seja, “a relação linguagem /
pensamento / mundo não é unívoca, não é uma relação que se faz termo-a-termo, isto é, não
se passa diretamente de um a outro” (ORLANDI, 2002, p. 19). Esta relação pressupõe que “os
sentidos não estão assim predeterminados por propriedades da língua. Dependem de relações
constituídas nas/pelas formações discursivas” (idem, p. 44).
Para Bakhtin (1997), a expressividade da palavra isolada não é propriedade da própria
palavra, enquanto unidade da língua, e não decorre diretamente de sua significação. Ela se
prende quer à expressividade padrão de um gênero, quer à expressividade individual do outro
que converte a palavra numa espécie de representante do enunciado do outro em seu todo
um todo por instância determinada de um juízo de valor.
A contribuição do Marxismo (do Materialismo Histórico) vem da pressuposição de que há um
real na história e de que o homem faz história, mas esta também não lhe é transparente. “Daí,
conjugando a língua com a história na produção de sentidos, esses estudos do discurso
trabalham o que vai-se chamar a forma material (não abstrata como a da Lingüística) que é a
forma encarnada na história para produzir sentidos: esta forma é portanto lingüístico-
histórica” (ORLANDI, 2002, p. 19).
A filiação com a Psicanálise acontece porque a AD desloca a noção de homem para a de
sujeito e leva em conta que este sujeito é afetado pela língua e pela história e constitui-se na
relação com o simbólico. Segundo Orlandi (2002, p. 20), o sujeito discursivo funciona pelo
inconsciente e pela ideologia.
O quadro epistemológico desenhado por Pêcheux no final da década de 60 desdobrou-se,
principalmente a partir da década de 80, em inúmeras outras correntes, que mantêm
familiaridades variadas com o primeiro.
A opção por AD, neste estudo, justifica-se pela necessidade de compreender como as matérias
de CT&I dos telejornais produzem sentidos (designados em AD de “efeitos de sentidos”) e
como os sujeitos se constituem (e a seus receptores). A respeito dos meios de comunicação,
Orlandi (1996) considera que, dada a complexidade do campo da Comunicação, a Análise de
Discurso, além dos mecanismos intradiscursivos de que trata a Semiótica (e sem desprezá-
los), procura dar conta da Comunicação como resultado das condições sócio-históricas. Tais
condições sócio-históricas são tomadas no trabalho como o contexto imediato (a relação do
que é divulgado pela matéria de CT&I e o acontecimento em si, bem como com os demais
fatos divulgados pelos telejornais) e o contexto mais amplo (as relações sociais e
institucionais e como tais matérias produzem efeitos de sentidos em consonância com o que
circula e o que é impedido de circular na/pela sociedade).
33
O objetivo foi empregar o dispositivo de interpretação proposto pela AD e lançar mão deste
para a análise das matérias de CT&I dos telejornais. “Este dispositivo tem como característica
colocar o dito em relação ao não-dito, o que o sujeito diz em um lugar com o que é dito em
outro lugar, o que é dito de um modo com o que é dito de outro, procurando ouvir, naquilo
que o sujeito diz, aquilo que ele não diz mas que constitui igualmente os sentidos de suas
palavras” (ORLANDI, 2002, p. 59). Através do dispositivo analítico cuja forma é
determinada pela relação entre a natureza do material analisado, a questão posta pelo
pesquisador e os procedimentos analíticos escolhidos o analista vai formular os resultados
no batimento entre descrição e interpretação” (ORLANDI, 2001, p. 52) (grifo nosso).
A Análise de Discurso Francesa tem o discurso como objeto de estudo. “O discurso é assim
palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem
falando” (ORLANDI, 1996). O discurso, para Baccega (1998), é o lugar de encontro entre o
lingüístico e as condições sócio-históricas constitutivas das significações, e a Análise de
Discurso se constrói nesse encontro. A Análise de Discurso, segundo a autora, não vai ao
texto para extrair o sentido, mas para apreender a sua historicidade, o que significa ao analista
do discurso colocar-se no interior de uma relação de confronto de sentidos.
Para dizer, o sujeito é constituído pela ideologia e se submete à língua. Na concepção de AD
tomada neste estudo, o indivíduo é assujeitado pela língua, significando-se e fazendo
significar pelo simbólico na história. “Quando dizemos que o sujeito, para se constituir, deve-
se submeter à língua, ao simbólico, é preciso acrescentar que não estamos afirmando que
somos pegos pela língua enquanto sistema formal, mas sim pelo jogo da língua na história, na
produção dos sentidos” (ORLANDI, 2001, p. 102). Para Manhães (2005, p. 306), a Análise de
Discurso Francesa é caracterizada pela ênfase ao assujeitamento do emissor, que se expressa
na incorporação de discursos sociais instituídos, como o religioso, o científico, o filosófico, o
mitológico, o poético, o jornalístico, o publicitário, o corporativo etc.
Neste estudo é adotado o referencial teórico-metodológico da Análise de Discurso Francesa
em relação às contribuições desta para a análise de matérias sobre CT&I do telejornalismo, a
partir dos pressupostos lançados por Pechêaux, principalmente na perspectiva do discurso
como acontecimento, lugar de dispersão de diversos sentidos. Dentre os autores com os quais
se dialoga estão Foucault (2000; 2002), Ducrot (1981), Orlandi (1987; 1993; 1996; 2001;
2001b; 2002), Maingueneau (1998; 2001) e Althier-Revuz (1999). Dentro desse quadro
teórico, as principais formulações da AD trabalhadas/discutidas são:
Formação discursiva: A Análise de Discurso Francesa trabalha com a noção de formação
discursiva a partir de colaborações de autores como Foucault, Pêcheux e Althier-Revuz,
levando em conta a heterogeneidade do discurso. É a formação discursiva que determina o
que pode e deve ser dito a partir de uma posição dada numa conjuntura dada
(MAINGUENEAU, 1998; ADINOLFI, 2005). Dessa forma, um discurso pode adquirir
variados sentidos de acordo com a posição ocupada pelo sujeito, e um mesmo sujeito pode
atribuir sentidos diferentes a um mesmo discurso, variando a posição ocupada por ele no jogo
discursivo. O sentido das palavras é completamente dependente das diversas formações
discursivas em que elas aparecem, ou seja, de memórias que determinam os sentidos
permitidos para aquelas palavras, memórias que constituem o já-dito, que autorizam certos
sentidos e desautorizam outros (ADINOLFI, 2005, p. 64). Para Orlandi (2001, p. 103), a
formação discursiva representa o lugar de constituição do sentido e de identificação do
sujeito.
34
Papel: Trata-se das posições que ocupam os participantes de uma determinada interação
dialógica. É na interação que são construídos/negociados os papéis dos sujeitos. Atribui-se ao
conceito de papel duas concepções: o papel discursivo, que é ocasional e refere-se à posição
ocupada e à função desempenhada pelos participantes do diálogo e o papel institucional que
se refere aos papéis institucionalizados e estão em íntima relação com o status social dos
participantes do processo dialógico. “Não é necessário ser professor por profissão para se
encontrar numa posição de ensinamento numa interação. Ademais, os papéis são
constantemente percebidos com relação ao status: um patrão que, na interação com um
subordinado, desempenha o papel de confidente, permanece também patrão, com toda a
ambigüidade que isso implica” (MAINGUENEAU, 1998, p. 103).
Discurso de Divulgação Científica: O entendimento sobre a constituição do discurso da
Divulgação Científica é visto de formas diferentes por autores de AD. Para Althier-Revuz
(1999, p. 12), o discurso de Divulgação Científica é constituído pela tradução (de menor
qualidade) do discurso científico. “No nível do fio do discurso, é a comparação com a
tradução que me parece a mais esclarecedora: o divulgador é freqüentemente representado
como um perito em tradução, a quem é necessário recorrer em virtude de uma ´ruptura` de
comunicação na sociedade (...)”. Em contraposição a essa visão, Orlandi (2001) afirma que o
discurso de Divulgação Científica não se trata de tradução do discurso científico, pois não são
duas línguas diferentes, mas são dois discursos diferentes na mesma língua. “O discurso de
divulgação científica não é uma soma de discursos: ciência mais jornalismo igual divulgação
científica (C + J = DC). Ele é uma articulação específica com efeitos particulares, que se
produzem pela injunção a seu modo de circulação, estipulando trajetos para a convivência
social com a ciência” (ORLANDI, 2001, p. 151). De outra perspectiva ainda, Zamboni (2001)
defende que o discurso de Divulgação Científica resulta de um trabalho de formulação de um
novo discurso, “que se articula, sim, com o campo científico e o faz sob variadas formas
mas que não emerge dessa interferência como o produto de uma mera reformulação de
linguagem. Muito menos corporificando a imagem de um discurso da ciência ´degradado`,
que celebraria, de seu lugar de vulgarizado, o discurso absoluto da ciência”, enfim, segundo
ela, o discurso de Divulgação Científica trata-se de um gênero de discurso específico. Neste
trabalho, o discurso de Divulgação Científica é tomado a partir da perspectiva defendida por
Zamboni (2001).
Ethos e tom: O conceito de ethos, desdobramento da retórica tradicional, é tomado neste
trabalho como a personalidade do enunciador revelada pela enunciação. Esse ethos, segundo
Maingueneau (2001), compreende o conjunto das determinações físicas e psíquicas ligadas
pelas representações coletivas à personagem do enunciador. Trata-se dos atributos ligados a
um caráter (gama de traços psicológicos) e a uma corporalidade (gama de traços
psicológicos). Além das características atribuídas a si mesmo pelo sujeito enunciador e
reconhecidas pelo co-enunciador, o discurso também apresenta um tom, uma forma específica
de conduzir o discurso, que permite ao co-enunciador, segundo Maingueneau (2001),
construir uma representação do enunciador.
O dito e o não-dito: A relação entre o que é dito e não-dito em determinado discurso tem
sido objeto de análise de diversos autores. Ducrot (1981) distingue entre pressuposto, aquilo
que não é dito, mas que deriva da própria linguagem, e subentendido, como aquilo que se dá
em determinado contexto. Orlandi (1993; 2002) trabalha o não-dito a partir da perspectiva de
silêncio. A autora distingue o silêncio fundador (que indica que o sentido pode ser outro) e a
política do silêncio. A política do silêncio, por sua vez, dividi-se em duas: a do silêncio
constitutivo, em que uma palavra apaga outras já que, para dizer algo, é preciso,
35
obrigatoriamente, não dizer outras coisas e o silêncio local, caracterizado como censura,
algo que é proibido dizer em determinada circunstância.
Inferência: Tomada aqui na concepção de Ducrot (1981) para o qual existem, em certos
enunciados da linguagem comum, relações de inferência, tais que se admitimos uns somos
obrigados a admitir os outros. Maingueneau (1998) avalia que inferências são as proposições
implícitas que o co-enunciador pode tirar de um enunciado apoiando-se nesse mesmo
enunciado ou em informações tiradas do contexto da enunciação.
Este trabalho também tem como premissa o dialogismo da linguagem princípio lançado por
Bakhtin, que considera o dialogismo (a interação entre sujeitos e as coisas e entre os próprios
discursos) a condição de existência de todo e qualquer discurso. De acordo com Bakhtin
(1997), o dialogismo ocorre de duas formas: uma delas é a de que todo discurso é constituído
no meio do “já-dito” por outros discursos. Para o autor, todo discurso traz a memória de
outros discursos, visto aqui como interdiscurso. Segundo ele, todo discurso remonta outros
discursos. A outra se refere ao destinatário
5
do discurso: todo discurso é produzido levando
em conta a quem ele se destina. Dessa forma, o destinatário tem papel ativo na formulação de
todo discurso. O autor ressalta que o destinatário, e a sua presumida resposta, faz com que o
locutor selecione os recursos lingüísticos de que necessita. Dessa forma, as marcas do
destinatário estão presentes no discurso.
1.5.3) Padrões de Manipulação na Grande Imprensa
Para Abramo (2003), os meios de comunicação distorcem a realidade. Segundo ele, a
informação jornalística passa por um processo de manipulação, que se dá de acordo com
alguns padrões.
Padrão da ocultação: refere-se à ausência de fatos reais na produção da imprensa. Tal
ausência não se trata de desconhecimento e nem mesmo da omissão diante do real.
Segundo o autor, é um deliberado silêncio sobre determinados fatos da realidade. Esse
padrão opera nos antecedentes, nas decisões de planejamento da edição, da
programação ou da pauta. “A concepção predominante mesmo quando não explícita
entre empresários e empregados de órgãos de comunicação sobre o tema é a de que
existem fatos jornalísticos e fatos não-jornalísticos” (ABRAMO, 2003, p. 26).
Padrão da fragmentação: eliminados os fatos “não-jornalísticos”, o “resto” da
realidade é apresentado não como uma realidade, com suas estruturas e interconexões,
sua dinâmica e seus movimentos e processos próprios. Tal padrão implica, segundo o
autor, em duas operações básicas: a seleção de aspectos ou particularidades do fato
e a descontextualização
Padrão da inversão: fragmentado o fato em aspectos particulares, todos eles
descontextualizados, ocorre o padrão da inversão, através do reordenamento das
partes, da substituição de uma parte por outras e prossegue, assim, com a destruição da
realidade original e a criação artificial da outra realidade. De acordo com Abramo
(2003), esse padrão opera tanto no planejamento como na coleta dos dados, mas
5
Mesmo considerando as diferenciações existentes entre os termos, neste trabalho, as expressões “destinatário”,
“receptor”, “telespectador”, “co-enunciador” e “público” são tomadas como sinônimos, sempre considerando o
papel ativo desse (no sentido Bakhtiniano) no processo de formulação/circulação dos sentidos produzidos pelas
matérias de CT&I.
36
impera, sobretudo, na apresentação da matéria. Há, segundo o autor, várias formas de
inversão. A) inversão da relevância dos aspectos, em que o assunto secundário é
tomado como principal e vice-versa. B) inversão da forma pelo conteúdo: em que a
matéria passa a ser mais importante que o fato que ele representa. C) inversão da
versão pelo fato, em que não é o fato em si que passa a importar, mas a versão que
dele tem o órgão de imprensa (seja essa versão originada do próprio órgão de
imprensa, seja adotada ou aceita de alguém como das fontes). D) inversão da
opinião pela informação: é a substituição, inteira ou parcialmente, a informação pela
opinião. Não se trata de dizer que, além da informação, a empresa de comunicação
apresenta também a opinião, “o que seria justo, louvável e desejável, mas sim que o
órgão da imprensa apresenta a opinião no, lugar da informação, e com a agravante de
fazer passar a opinião pela informação (p. 31).
Padrão da indução: em que, submetido, ora mais, ora menos, mas sistemática e
constantemente, aos demais padrões de manipulação, o público é induzido a ver o
mundo não como ele é, mas sim como querem que ele o veja.
O telejornalismo e o radiojornalismo, em particular, operam, de acordo com o autor, ainda
mais um padrão de manipulação, além dos quatros anteriores. Trata-se do padrão global ou
padrão específico do jornalismo de televisão e rádio. A expressão “global” é empregada no
sentido de total, completo, do problema à solução. As matérias de rádio e televisão dividem o
relato da notícia em três momentos básicos, como se fossem três atos de um espetáculo, de
um jogo de cena.
a) O Primeiro Momento, ou Primeiro Ato, é o da exposição do fato. O fato é apresentado sob
os ângulos menos racionais e mais emocionais, mais espetaculares e mais sensacionalistas.
b) O Segundo Momento, ou Segundo Ato, é o da sociedade fala. As imagens e os sons
mostram detalhes e particularidades, principalmente de personagens envolvidos. Eles
apresentam seus testemunhos, suas dores e alegrias, seus apoios e críticas, suas queixas e
propostas.
c) O Terceiro Momento, ou o Terceiro Ato, é o da autoridade resolve. Se se trata de um fato
“natural” (incêndio, tempestade, enchente), a autoridade (do papa ou do presidente da
República ao guarda, nessa ordem) anuncia as providências, isto é, as soluções já tomadas ou
prestes a serem tomadas (idem).
1.5.4) Recepção: Grupos Focais
Este trabalho também realizou um Estudo de Recepção de matérias telejornalísticas de CT&I
que compõem parte do corpus do trabalho. De acordo com Jensen (1995, p. 139), uma
definição sumária das metodologias de Recepção pode se referir a uma análise comparativa
entre o discurso da mídia e os discursos das audiências, em que os resultados são
interpretados levando-se em conta os contextos de ambos.
Seguindo tal definição, ao adotar o Estudo de Recepção como uma das etapas do
desenvolvimento deste trabalho, buscou-se uma comparação entre os discursos das matérias
sobre CT&I dos telejornais e a compreensão desses discursos pelos telespectadores.
O procedimento metodológico empregado nesta etapa foi o de Grupos Focais (focus group,
em inglês). “Grupos Focais são um tipo de pesquisa qualitativa que tem como objetivo
37
perceber os aspectos valorativos e normativos que são referência de um grupo em particular.
São na verdade uma entrevista coletiva que busca identificar tendências” (COSTA, 2005, p.
181).
A técnica de Grupos Focais foi iniciada em 1941, nos Estados Unidos, quando Paul
Lazarsfeld assumiu o Office of Radio Research da Universidade de Columbia e a empregou
para fazer avaliações de audiência de programas de rádio. “O ´focus group´, ao fornecer um
grande número de informações para serem organizadas e analisadas, como instrumento por
excelência da pesquisa qualitativa, está sendo considerado um método privilegiado para obter
respostas para questões específicas de pesquisa em Ciências Sociais (ALVES, 2000, p. 16).
O emprego dessa técnica justifica-se pela possibilidade de analisar como as matérias sobre
CT&I dos telejornais são recebidas, compreendidas e quais repercussões geram junto a um
público diversificado. “Sem dúvida, os Grupos Focais oferecem uma maior possibilidade de
contrapontos, quando imagens desencadeiam idéias espontâneas e sem censuras quando os
participantes se manifestam, contestam e colocam suas indagações em discussão” (idem, p.
15-16).
Segundo Alves (ibidem, p.16-17), o Grupo Focal, além do público-alvo, que deve variar entre
seis e 12 participantes, requer um moderador e um relator. O moderador conduz a reunião e
atua como facilitador das discussões. O relator tem a função de numerar as falas, o que facilita
a análise dos dados posteriormente
6
. Foram realizadas duas gravações das discussões dos
grupos em fitas K-7 (gravador pequeno para não inibir os participantes).
Foram organizados dois Grupos Focais. Um deles com graduandos de Comunicação Social
Jornalismo, do 3º ano, futuros formadores de opinião, profissionais que trabalharão nas etapas
de seleção, produção e edição de matérias jornalísticas no geral. Entre esses assuntos, os
temas ligados à área de CT&I estarão presentes. Desse modo, torna-se relevante avaliar os
pontos de vista dos futuros jornalistas sobre essa área em particular. A princípio, a escolha dos
integrantes do grupo seria feita a partir do critério de amostra sistemática com base na lista de
chamada dos alunos do 3º ano, num total de doze alunos. “A amostragem sistemática é uma
variação da amostragem aleatória simples. Sua aplicação requer que a população seja
ordenada de modo tal que cada um dos elementos possa ser unicamente identificado pela
posição” (GIL, 1999, p.102). No entanto, como a sala era composta por 19 alunos, dos quais
apenas 12 estavam presentes no dia da aplicação do Grupo Focal, todos os alunos da sala,
presentes no início da aula, compuseram o grupo analisado.
O outro Grupo Focal é formado por pessoas com profissões, faixas etárias e níveis
socioeconômicos diversos funcionários de uma empresa multinacional (KS Pistões). Nesse
caso, foi empregado o critério de amostra por acessibilidade, que, segundo Gil (1999, p. 104)
aplica-se bem em estudos exploratórios ou qualitativos, onde não se requer alto índice de
precisão. “Constitui o menos rigoroso de todos os tipos de amostragem. Por isso mesmo é
destituída de qualquer rigor estatístico. O pesquisador seleciona os elementos a que tem
acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo”. Para a seleção
dos integrantes desse grupo, levou-se em conta as variáveis grau de escolaridade e função
desempenhada na empresa. A descrição detalhada do encontro com os Grupos Focais e dos
perfis dos integrantes encontra-se no capítulo V.
6
Ambas as funções (mediadora e relatora) foram exercidas pela pesquisadora.
38
As reuniões aconteceram em lugares neutros, como a própria Faculdade, no caso do grupo de
universitários de Jornalismo. Com o grupo de funcionários da empresa, a reunião aconteceu
em uma chácara, fora do local de trabalho, para evitar interferências e garantir o envolvimento
dos funcionários nas discussões. No caso do grupo de alunos, a reunião ocorreu numa sexta-
feira à noite (no horário de aula) e com o grupo de funcionários, em um domingo, durante o
dia.
1.6) Seleção e tratamento do material
O corpus da pesquisa é formado por matérias (dos diversos gêneros jornalísticos), dos
programas Jornal da Band, Jornal Nacional, Jornal da Record, Jornal da Cultura e SBT
Brasil, que tratam de CT&I, distribuído em dois períodos: maio de 2005 e maio de 2006.
Para a seleção dos programas foi empregada a técnica de amostra estratificada. Como o
objetivo foi analisar a cobertura da mídia televisiva nas questões de CT&I, foram
selecionadas datas em que, a priori, não estava prevista a ocorrência de eventos que pudessem
influenciar o assunto, ou seja, foram escolhidas semanas típicas de cada ano estudado.
A amostra estratificada foi composta por quatro semanas e dias intercalados de gravação dos
telejornais, divididos em dois meses (maio de 2005 e maio de 2006). Durante o mês de maio
de 2005 foram gravadas a segunda e a quarta semanas do mês. Sendo que, na segunda
semana, foram gravados os quatro telejornais (Jornal da Record, Jornal da Band, Jornal
Nacional e Jornal da Cultura) na segunda-feira, na quarta-feira e na sexta-feira. Na quarta
semana foram gravados os telejornais na terça-feira, na quinta-feira e no sábado, sem
considerar os intervalos comerciais.
Em maio de 2006 foram gravados, na íntegra, os telejornais Jornal da Record, Jornal da
Band, SBT Brasil, Jornal Nacional e Jornal da Cultura, sem considerar os intervalos
comerciais, na primeira e na terceira semanas do mês. É importante ressaltar que, em maio de
2006, o Jornal da Cultura não era apresentado aos sábados, portanto, no dia 06 de maio,
apenas quatro telejornais foram gravados. Na primeira semana, foram gravados os cinco
telejornais na terça-feira, na quinta-feira e no sábado (este último, como dito acima, com
exceção do Jornal da Cultura). Na terceira semana do mês, os telejornais da segunda-feira, da
quarta-feira e da sexta-feira foram gravados.
Quadros das amostras dos telejornais
2005
Maio/2005 Segunda-feira
Quarta-feira Sexta-feira
2ª semana do mês 9/5 11/5 13/5
Terça-feira Quinta-feira Sábado
4ª semana do mês 24/5 26/5 28/5
2006
Maio/2006 Terça-feira Quinta-feira Sábado
1ª semana do mês 2/5 4/5 6/5
Segunda-feira
Quarta-feira Sexta-feira
3ª semana do mês 15/5 17/5 19/5
Ao todo, foram 53 edições dos cinco telejornais pesquisados, num total de 44 matérias de
CT&I sendo 30 matérias em 2005 e 14 em 2006. Depois da gravação, as matérias dos
telejornais foram separadas por “editorias”, ou seja, foram identificados os assuntos principais
39
das matérias, para melhor organizar a pesquisa. Todos os telejornais gravados foram
transcritos (as matérias e demais elementos jornalísticos e técnicos). “A finalidade da
transcrição é gerar um conjunto de dados que se preste a uma análise cuidadosa e a uma
codificação” (ROSE, 2002, p. 348). Foram transcritos os assuntos de cada matéria (retrancas)
e o tempo dedicado a cada notícia. No entanto, foram transcritas na íntegra, exclusivamente,
as matérias de CT&I. É preciso levar em consideração que “diferentes orientações teóricas
levariam a diferentes escolhas sobre como selecionar e transcrever” (idem, p. 349). Esta
transcrição minuciosa avaliou todos os elementos que compõem a notícia televisiva sobre
CT&I exibida pelos telejornais
7
.
Foram identificadas e selecionadas para análise, as matérias que têm foco central em uma
pesquisa científica, um processo ou produto, ou ainda que trate da discussão de algum tema
científico. Também foram consideradas matérias de CT&I aquelas que, mesmo tendo como
foco central um assunto de outra editoria, oferecem uma explicação científica para o fato,
caracterizadas não apenas pela presença da fonte especialista, mas que se baseiam em
conceitos/processos científicos para explicar determinado fenômeno ou fato.
Para identificação e seleção das matérias de CT&I dos telejornais adotou-se o critério de
definição dos termos Ciência, Tecnologia, Inovação, Invenção e Políticas de C&T nas
matérias. Para a seleção criteriosa das matérias empregou-se as definições identificadas por
Martínez (1998):
Ciência: sistema organizado de conhecimentos referentes à natureza, à sociedade e ao
pensamento. (...) Eventualmente, a Ciência pode ser aplicada à produção ou à distribuição de
bens e serviços, mas somente de forma indireta e imediata. (...) em sentido mais amplo, a
Ciência não é neutra, alheia aos valores ou não normativa, mas, de forma semelhante a outras
formas de organizar a realidade e disponibilizar informação, a Ciência é gerada em contextos
históricos e sociais que implantam seus valores e interesses sociais em sua estrutura.
Tecnologia: é o conjunto de conhecimentos e métodos para o desenho, produção e
distribuição de bens e serviços (...). É, segundo ele, um sistema de conhecimentos técnicos.
Inovação: trata-se da introdução de uma técnica, produto ou processo de produção ou serviço
novos. É um processo que, com freqüência, é seguido de ampla difusão. Há três tipos de
Inovação: de produto, de processo e organizativa. Para Nicolsky (2001), a Inovação é uma
atividade econômica, executada no ambiente da produção, e que se destina a dar mais
competitividade a uma tecnologia, ou descoberta tecnológica, de um produto ou processo,
ampliando a sua parcela de mercado e, assim, agregando valor econômico e lucratividade.
Invenção: trata-se da descoberta ou desenho de um produto, processo ou sistema novo. A
Invenção é uma contribuição discernível e pontual ao conhecimento técnico, à mudança
tecnológica, ainda que não seja a única forma na qual a Tecnologia muda. A Invenção,
segundo Martinez (idem), é uma etapa do desenvolvimento tecnológico na qual uma idéia tem
avançado suficientemente para desenhar planos, construir um modelo de trabalho ou de
alguma forma determinar a factibilidade técnica.
7
No anexo IV (página 43) há um modelo da classificação das matérias dos telejornais por editorias e no anexo
III (página 26) há exemplos das transcrições feitas nos telejornais.
40
Política de Ciência e Tecnologia: conjunto de instrumentos e mecanismos, normas e
decisões, que perseguem o desenvolvimento científico e tecnológico a médio e longo prazos
normalmente dentro do marco de objetivos globais de desenvolvimento econômico e social.
Os instrumentos e mecanismos podem ser: institucionais, legais, financeiros, fiscais, de
pressupostos, de produtividade, comerciais, regionais e de integração.
Para classificar as matérias de CT&I entre as Áreas do Conhecimento levou-se em conta,
primordialmente, o critério do instituto responsável pela pesquisa. Quando o instituto
responsável pela pesquisa estava ausente na matéria, a classificação foi feita a partir do
critério de origem, dentro das Áreas do Conhecimento, da pesquisa, do produto ou do
processo que é assunto central da matéria.
A intenção inicial era comparar a cobertura de CT&I nos telejornais em dois períodos sem a
ocorrência de eventos que pudessem influenciar a cobertura jornalística, em dois anos
distintos. No entanto, na amostra de 2006 dois eventos imprevisíveis tiveram destaque na
cobertura dos telejornais estudados. Na primeira semana de maio de 2006, houve a
privatização, pelo governo boliviano, das reservas de petróleo e gás natural daquele país e
todos os telejornais estudados destacaram as repercussões que tal medida poderiam gerar no
Brasil.
Na terceira semana de maio de 2006, o Estado de São Paulo foi marcado por ondas de
violência nas cidades e de rebeliões nos presídios. Novamente os telejornais deram ampla
cobertura à crise de segurança em São Paulo. Alguns, como o Jornal Nacional e o Jornal da
Cultura, veicularam edições especiais sobre o assunto.
Assim, a amostra da pesquisa contou com dois períodos bem distintos quanto à cobertura de
CT&I. Em maio de 2005 nenhum assunto específico de CT&I ou de outra editoria influenciou
a programação. Já em 2006, dois eventos imprevistos interferiram nas pautas dos telejornais,
o que ocasionou uma queda drástica do número de matérias de CT&I, em particular de um
ano para o outro: foram 30 matérias na amostra de 2005 e 14 na de 2006. Este fato gerou
outras possibilidades de análise, pois verificou-se comparativamente a cobertura de CT&I dos
telejornais em um período típico com um período atípico.
1.7) Etapas e corpus da pesquisa
Pelo fato de ter como proposta um estudo amplo, que engloba as mensagens das matérias e a
recepção junto a um público selecionado, foram empregados, neste trabalho, em diferentes
etapas da pesquisa, vários procedimentos metodológicos, que se mostraram mais eficazes para
cada uma das fases.
Houve, de início, a descrição das matérias de CT&I selecionadas para o estudo. Para Gil
(1999), as pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características
de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre
variáveis. Este procedimento mostrou-se fundamental para selecionar as características das
matérias, que foram empregadas, posteriormente, na Análise de Discurso. A descrição, que foi
realizada a partir de categorias descritivas já expostas anteriormente, abordou o formato
8
, a
linguagem, o conteúdo e os recursos empregados em cada matéria.
8
Aronchi de Souza (2004, p. 46) conclui que o termo formato é a nomenclatura apropriada para identificar a
forma e o tipo da produção de um gênero de programa de televisão.
41
Em seguida, passou-se à etapa de Análise de Discurso das matérias sobre CT&I. O tempo e o
espaço dedicados às matérias dentro de cada programa também foram considerados. É
importante salientar que os elementos sonoros, visuais e verbais compõem o discurso da
matéria e, por isso, foram analisados em relação uns com os outros, levando-se em conta que
nenhum deles pode ser ignorado.
As matérias sobre CT&I dos programas foram comparadas entre si. São avaliações quanto à
linguagem, à forma de abordagem, ao tempo dedicado a CT&I dentro do telejornal, ao
tratamento dos assuntos, aos recursos empregados e ao conteúdo como um todo e não de
julgamentos entre matéria “melhor” e “pior”, nem de avaliações quantitativas de matérias que
foram ou deixaram de ser publicadas em cada programa em comparação com os outros. O
objetivo de tal comparação foi investigar a função educativa desempenhada pelas matérias no
sentido destas contribuírem (ou não) para a Compreensão Pública da Ciência, objetivo central
deste estudo. Com as análises das matérias finalizadas, o estudo teve prosseguimento com o
Estudo de Recepção, através dos Grupos Focais.
Foram realizadas, também, considerações finais específicas em cada um dos capítulos de
análise. As conclusões da tese, que incorporam as hipóteses e respondem aos objetivos da
propostos, constam da parte “Conclusões”, no final deste estudo.
42
CAPÍTULO II:
MÍDIA, CIÊNCIA E EDUCAÇÃO
Apresentação
O segundo capítulo contextualiza os estudos e as pesquisas da subárea de Compreensão
Pública da Ciência dentro do Campo da Comunicação, apresenta seus principais conceitos, o
enfoque das pesquisas sobre esse assunto, assim como enfatiza a função educativa da mídia na
abordagem de assuntos de CT&I.
2.1) O Campo da Comunicação
As análises de pesquisadores sobre a questão da fronteira do Campo da Comunicação
contribuem para elucidar os espaços que ocupam as pesquisas e os estudos de Comunicação,
bem como salientam as divergências existentes entre acadêmicos para a delimitação do
Campo. Newcomb (2001) procura identificar caminhos que levam à delimitação das
fronteiras do Campo da Comunicação, através de trabalhos importantes e inovadores. Para o
autor, é preciso delimitar o caminho entre questões definidas pelas pesquisas anteriormente
desenvolvidas e questões definidas por aquelas que controlam as indústrias, as tecnologias e
as aplicações das pesquisas.
De acordo com Newcomb (idem), a questão da “abertura de caminhos” na pesquisa depende
de, ou sugere, indagações certas sobre as mudanças no caminho dos estudos em Comunicação
e as implicações materiais e conceituais delas resultantes. Isso nem sempre significa, para ele,
que a abertura de caminhos na pesquisa está totalmente dependente do trabalho mais recente.
Preferivelmente, isso freqüentemente indica uma apropriação e uma nova aplicação de
trabalhos prévios que parecem ter um significado inesperado.
Por outro lado, Jensen (2001) argumenta que a noção de pesquisa “em fermentação”, “na
dianteira” ou “em abertura de caminhos” é controversa. Segundo ele, não há um consenso
sobre a existência da Área ou do Campo da Comunicação. Para Jensen (idem), esta polêmica
liga-se a premissas teóricas e políticas. Para o autor, o resultado final do complexo
desenvolvimento histórico é um Campo que está a ponto de no ápice se tornar uma
disciplina. No centro do Campo estão as diversas tecnologias de mídia, suas instituições
sociais e linguagens características.
Jensen (ibidem) argumenta que a abertura de caminhos não está localizada em nenhum debate
teórico específico, nem na pesquisa socialmente oficializada, como aceita tradicionalmente.
Para ele, a abertura de caminhos pode ser encontrada na interface do Campo da Comunicação
com outras disciplinas e departamentos e outras instituições sociais fora da academia. Para o
autor, a pesquisa em Mídia e Comunicação não deveria se tornar nem uma disciplina, nem um
campo, nem um departamento, mas uma faculdade com certo número de departamentos e
outros componentes.
Para Jensen (ibidem), a Faculdade de Mídia, Comunicação e Cultura contribuiria para uma
aproximação mais completa e modernizada ao estudo das culturas humanas, um treinamento
mais diferenciado de uma profissão em expansão e uma reconsideração de que formas de
cultura e comunicação deveriam ser preservadas para o futuro em museus e arquivos.
Partindo do pressuposto de que qualquer campo do conhecimento surge como conseqüência
das demandas coletivas, como resultado de um processo destinado a compreender e controlar
43
os fenômenos sociais emergentes, Marques de Melo (2001) considera a Comunicação como
um campo do conhecimento, enquadrado no bloco das Ciências Aplicadas. De acordo com o
autor, o Campo da Comunicação conforma um conglomerado de disciplinas, composto por
cinco segmentos da atividade intelectual: Artes, Humanidades, Tecnologias, Ciências Sociais
e Conhecimento Midiático.
Na América Latina, especificamente, o Campo da Comunicação estabeleceu-se na década de
70, representando a ampliação da disciplina de Jornalismo e passou, segundo Marques de
Melo (2001), pelas seguintes etapas para sua consolidação: legitimação empírica, assimilação
universitária e reconhecimento acadêmico. Segundo o autor, a marca distintiva de todas as
elaborações científicas da América Latina no campo da Comunicação é o hibridismo teórico e
a superposição metodológica, plasmando uma singular investigação mestiça, representativa da
fisionomia cultural latino-americana.
De acordo com Marques de Melo (idem), tal perfil se caracteriza pelos cruzamentos de
tradições européias, heranças meso-sul-americanas (pré e pós-colombianas), costumes
africanos, inovações de modernas matrizes norte-americanas, além de muitas contribuições
introduzidas pelos distintos grupos étnicos que navegaram pelos oceanos durante as recentes
sagas migratórias internacionais. De acordo com o autor, as gerações que integram as
pesquisas da Escola Latino-Americana de Comunicação são: grupo dos pioneiros (anos 50 e
60), grupo dos inovadores (a partir da década de 70) e grupo dos renovadores (a partir dos
anos 80).
Marques de Melo (ibidem) avalia que a Escola Latino-Americana de Comunicação se impôs
como uma corrente de pensamento reconhecida internacionalmente. No entanto, o autor
ressalta o risco que a Escola Latino-Americana de Comunicação corre de ser tragada pela
espiral do esquecimento em seu próprio território. Trata-se, de acordo com ele, de fenômeno
típico das sociedades periféricas.
O autor acredita que, no entanto, o bloqueio vem se rompendo pouco a pouco, através de
iniciativas de produtos impressos e digitalizados que evidenciam a riqueza das idéias
comunicacionais gestadas na América Latina. Segundo Marques de Melo (ibidem), elas
tendem a repercutir sobre os novos contingentes que se preparam para investir no universo
midiático. Uma das conclusões do autor é a necessidade de se privilegiar, na América Latina,
as próprias idéias latino-americanas. E de compreendê-las como parte de um acervo analítico
de processos cognitivos cuja hegemonia política persiste ancorada nos países hegemônicos da
Europa ou da América do Norte, mas que só possuem vigência cultural no cotidiano daqueles
contingentes, metropolitanos ou periféricos, que se defrontam com o fluxo regular dos
produtos midiáticos.
Outro pesquisador que contribui para o entendimento do Campo da Comunicação, suas
pesquisas e práticas, é Rogers (1999). Ele argumenta que o Campo da Comunicação está
dividido em duas subdisciplinas que não dialogam entre si Comunicação de Massa e
Comunicação Interpessoal. Para o autor, três tipos de evidências indicam a distância entre as
duas subdisciplinas do Campo da Comunicação: a) a baixa intensidade de ocorrência de
citação recíproca (cruzada) em revistas científicas das duas subdisciplinas, b) a especialização
similar das associações profissionais dos pesquisadores, c) a separação organizacional de
muitos programas de doutorado em universidades dos Estados Unidos dentro de Comunicação
Massiva ou Comunicação Interpessoal.
44
Em relação à citação recíproca em revistas especializadas, Rogers (idem) conclui, através de
pesquisas estatísticas em revistas científicas das duas subdisciplinas, que pesquisadores da
Comunicação Interpessoal e da Comunicação Massiva raramente citam uns aos outros em
seus artigos publicados. Pesquisadores de Comunicação geralmente ignoram a literatura da
outra subdisciplina da Comunicação.
Sobre os programas de doutorado, segundo Rogers (ibidem), o resultado da especialização dos
programas de doutorado em Comunicação é que a maior parte dos pesquisadores é
amplamente desconhecida na outra subdisciplina. De acordo com o autor, os pesquisadores
não compreendem as teorias da outra subdisciplina e não se sentem confortáveis ao ler artigos
científicos, livros ou papers da outra subdisciplina.
Quanto às pesquisas e estudos acadêmicos de Comunicação, o autor acredita na existência de
etnocentrismo de disciplinas, o que é incentivado pelo sistema das universidades. De acordo
com ele, essa divisão dos estudos de Comunicação em duas subdisciplinas gera três
disfunções (distorções da realidade): 1) A Teoria da Comunicação não se torna integrada, 2)
A comunicação humana não pode ser entendida por apenas uma das duas subdisciplinas, 3)
As novas tecnologias são interativas, necessitando de novas formas de compreensão da
realidade.
A primeira tentativa de mapear o Campo da Comunicação é do final da década de 70. Os
autores Blake & Haroldsen (1977) propuseram uma taxonomia para o Campo da
Comunicação. É preciso, no entanto, considerar as limitações da obra, intrínsecas à época em
que foi elaborada, pois, nas últimas décadas, com o advento de novos meios de Comunicação
como a Internet, e da sofisticação dos já existentes, novas classificações são necessárias. Da
mesma forma, tanto no plano acadêmico como na prática profissional, os modelos têm sido
revistos tendo a evolução dos meios de comunicação como um dos principais protagonistas.
Esse percurso não diminui o valor do trabalho de Blake & Haroldsen, que recupera os
principais conceitos e pesquisadores de Comunicação em diferentes épocas.
2.2) A Compreensão Pública da Ciência no Campo da Comunicação
Tomando como base a obra de Blake & Haroldsen (1977) buscou-se a configuração da
subárea da Compreensão Pública da Ciência no âmbito acadêmico, através da presença de
estudos e pesquisas em associações científicas nacionais e internacionais, cursos de pós-
graduação e periódicos especializados.
A pesquisa realizada pela autora tem como premissa que a subárea da Compreensão Pública
da Ciência pertence à área de Comunicação Midiática (comunicação realizada,
fundamentalmente, através de algum suporte técnico-tecnológico de Comunicação
9
) que, por
sua vez, pertence ao Campo da Comunicação:
9
A área de Comunicação Midiática refere-se, na perspectiva da Compreensão Pública da Ciência, a todas as
formas de comunicação de CT&I que se realizam através de suporte midiático (TV, Internet, jornal, revista,
rádio etc.) para um público de massa, caracterizado como heterogêneo. Outras modalidades de comunicação de
CT&I, realizado de forma presencial, como congressos, aulas, peças de teatro ou museus de ciência, por
exemplo, mesmo empregando aparatos de mídia, são caracterizados, a partir do público receptor, como
comunicação interpessoal ou grupal.
45
A pesquisa, de caráter exploratório, foi realizada no primeiro semestre de 2003, via Internet.
A opção pelas buscas na Web deveu-se à facilidade de acesso às informações. Além disso,
grande parte das universidades, das associações científicas e dos periódicos possui sites na
Internet. No entanto, é importante considerar as limitações das pesquisas na rede, pois muitos
trabalhos acadêmicos ainda não estão disponíveis on line.
2.2.1) Associações Científicas
As buscas nos sites das associações científicas internacionais do Campo da Comunicação
detectaram, em algumas delas, a presença de grupos de trabalho específicos ou mesmo de
assuntos relacionados (identificados como especialidades da subárea da Compreensão Pública
da Ciência).
Na International Communication Association (ICA)
10
não há, dentro das Divisions and
Interest Groups, nenhum grupo de trabalho específico de Compreensão Pública da Ciência ou
algum outro semelhante. A associação possui, no entanto, uma divisão específica para Health
Communication (Comunicação para Saúde), caracterizada como uma especialidade da
subárea de Compreensão Pública da Ciência.
Na International Association of Mass Communication Research (IAMCR)
11
também não
uma divisão específica para a subárea de Compreensão Pública da Ciência.
Já na Association for Education in Journalism and Mass Communication (AEJMC)
12
, um
grupo específico de Comunicação Científica (Science Communication Interest Group),
descrito da seguinte forma: O grupo de interesse em Comunicação Científica inclui papers
com tópicos relacionados à comunicação científica, riscos do desenvolvimento, informação
sobre saúde, médica e técnica (...)”.
A Asociación Catalana de Comunicación Científica (ACCC)
13
reúne comunicadores,
jornalistas especializados em Ciência, divulgadores e editores no âmbito da Catalunha.
A Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación (ALAIC)
14
divide os
papers apresentados em seus encontros em 21 GT´s (Grupos de Trabalho). Dentre eles, o GT
10 é de Comunicação e Saúde, uma especialidade da Compreensão Pública da Ciência.
10
http:// www.icahdq.org
11
http://www.iamcr.net
12
http://www.aejmc.org
13
http://www.acccnet.net
14
http://www.alaic.net
Campo da Comunicação
Área de Comunicação Midiática
Subárea de Compreensão Pública da Ciência
46
A Rede de Popularização da Ciência & Tecnologia para a América Latina e o Caribe (Red
Pop)
15
é uma rede interativa que agrupa centros e programas de popularização da Ciência &
Tecnologia e que funciona mediante mecanismos regionais de cooperação que favorecem o
intercâmbio, a capacitação e o aproveitamento de recursos entre seus membros.
Em nível nacional, a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação
(Intercom)
16
disponibiliza os trabalhos de Comunicação apresentados em seus encontros
anuais em forma de Núcleos de Pesquisa, que abarcam algumas seções temáticas. O Núcleo
de Comunicação Científica e Ambiental, segundo informações do site, é onde são
apresentados os trabalhos das seguintes seções temáticas: Divulgação Científica;
Comunicação para a Saúde; Comunicação Rural e Comunicação Ambiental. A Intercom
destaca a Comunicação Científica como uma das grandes temáticas abordadas nos trabalhos
acadêmicos de Comunicação no Brasil.
A Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós)
17
apresenta, no site, os Grupos de Trabalho existentes na Associação. Não há, na Compós, um
grupo de trabalho que trate de Compreensão Pública da Ciência especificamente. Alguns dos
trabalhos relacionados a essa subárea são apresentados no Grupo de Trabalho de Jornalismo.
A Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC)
18
foi criada em 1977 e reúne
pesquisadores, jornalistas científicos, assessores de imprensa de centros e institutos de
pesquisa. É a maior entidade nacional nessa especialidade. Os congressos da ABJC são
realizados bienalmente.
A Associação Brasileira de Divulgação Científica (Abradic)
19
reúne divulgadores científicos,
jornalistas, comunicadores, cientistas e pesquisadores que se interessam pela divulgação do
conhecimento científico. A sede funciona no Núcleo José Reis da ECA/USP. Além de
publicações, a Abradic realiza eventos e cursos de Divulgação Científica.
É importante salientar que a ausência de grupos de trabalho específicos não significa para
nenhuma das associações analisadas que não haja trabalhos sobre Compreensão Pública da
Ciência inseridos em outros grupos. A existência ou não de grupos de trabalho específicos de
Compreensão Pública da Ciência reflete, entretanto, o reconhecimento e o investimento (ou
não) das associações científicas nos estudos sobre o assunto, assim como a consolidação da
subárea.
Em relação ao apoio governamental às pesquisas da subárea de Compreensão Pública da
Ciência, nota-se que há um crescente investimento no País. O CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico) concede anualmente, desde 1978, o Prêmio José
Reis de Divulgação para aqueles que tenham contribuído para tornar a Ciência, a Tecnologia
e a pesquisa conhecidas do público leigo, atuando nos meios de comunicação.
Além disso, as instituições financiadoras de pesquisa concedem, regularmente, bolsas de
estudo de Mestrado e Doutorado em algumas instituições que possuem linhas de pesquisa
relacionadas à subárea.
15
http://www.redpop.org
16
http://www.intercom.org.br
17
http://www.compos.org.br
18
http://www.abjc.org.br
19
http://www.eca.usp.br/nucleos/njr/abradic/
47
A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) criou, em 2000, o
Programa de Bolsas de Jornalismo Científico que consiste na concessão de bolsas de iniciação
científica, mestrado e doutorado para alunos de cursos de especialização em Jornalismo
Científico e que atuam como estagiários em assessorias de comunicação de instituições de
pesquisa ou em veículos de comunicação destinados a Divulgação Científica.
2.2.2) Cursos de Pós-Graduação
A pesquisa no site do Directory of Science Communication Courses & Programs in the
United States, publicado pela School of Journalism and Mass Communication University of
Wisconsin-Madison
20
, forneceu indicação de todos os programas de pós-graduação em
Compreensão Pública da Ciência nos Estados Unidos. São 50 programas vigentes, nas
diversas especialidades e em todos os níveis de pós-graduação. A quase totalidade dos cursos
encontra-se em faculdades e programas de Jornalismo. São as seguintes instituições:
Cursos de pós-graduação em Compreensão Pública da Ciência nos EUA
Arizona State University University of Minnesota-Twin Cities
Northern Arizona University
Missouri School of Journalism, University
of Missouri-Columbia
California State University, Northridge New Jersey Institute of Technology
Humboldt State University University of New Mexico
University of California - Berkeley Clarkson University
University of California Santa Cruz Colgate University
Colorado State University Columbia University
University of Colorado - Boulder Cornell University
University of Hartford New York University
Florida Institute of Technology Syracuse University
DePaul University University of North Carolina at Chapel
Hill
Northwestern University Bowling Green State University
University of Illinois at Urbana-
Champaign
Miami University
Indiana University School of Journalism Ohio State University
Purdue University University of Oklahoma
Iowa State University Temple University
University of Iowa Lehigh University
Loyola University University of Tennessee-Knoxville
Loyola College in Maryland Vanderbilt University
The Johns Hopkins University Texas A&M University
University of Maryland Brigham Young University
Boston University University of Washington
Emerson College/Tufts University School
of Medicine
Western Washington University
Massachusetts Institute of Technology Marquette University
Michigan Technological University University of Wisconsin-Madison
20
http://www.casw.org/booklet.htm
48
Na Europa, as informações sobre os cursos de pós-graduação apareceram através das
pesquisas com as palavras-chave: “divulgación científica”, “vulgarización científica”,
“alfabetización científica” e “comunicación científica”, em espanhol, e “science
communication” e “public understanding of science”, em inglês. Nesses países, as
informações estão mais dispersas e, devido ao fato de serem muitos países e com grande
variedade de idiomas e dialetos, esta pesquisa não foi realizada de forma exaustiva.
Pode-se considerar que, para um levantamento completo e mais detalhado dos programas e
cursos de Compreensão Pública da Ciência da Europa, seria necessária uma pesquisa mais
minuciosa. Entre os cursos de pós-graduação encontrados na Europa nas línguas inglesa e
espanhola estão:
Universitat Pompeu Fabra (Espanha)
21
.
Scuola Internazionale Superiore di Studi Avanzati - Máster in Comunicazione della
Scienza (Itália)
22
.
Queens University Belfast (Irlanda) / Armagh Campus Postgraduate Science
Communication
23
.
Universidad de Salamanca (Espanha)
24
.
University of Edinburgh Postgraduate Science Communication (Inglaterra).
25
University of the West of England (Inglaterra) MSc Science Communication.
26
Dublin City University - (Irlanda) - MSc in Science Communication.
27
Imperial College of Science, Technology & Medicine (Inglaterra) MSc. Science
Communication e MSc. Science Media Production.
28
No Brasil, há cursos específicos que tratam de especialidades da Compreensão Pública da
Ciência
29
. São eles:
Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) / Unicamp: Curso de
Especialização em Jornalismo Científico.
Núcleo José Reis de Divulgação Científica (NJR) / USP: Curso de Especialização em
Divulgação Científica.
Universidade de Taubaté (Unitau): Curso de Especialização em Jornalismo Científico.
Há também cursos de pós-graduação em Comunicação Social que possuem linhas de pesquisa
e/ou disciplinas sobre o assunto. São eles:
21
http://www.upf.edu
22
http://mcs.sissa.it
23
http://www.qub.ac.uk
24
http://www.usal.es
25
http://www.ed.ac.uk
26
http://www.uwe.ac.uk
27
http://www.dcu.ie
28
http:// www3.imperial.ac.uk
29
Este resultado faz parte de um trabalho maior realizado pelos seguintes pesquisadores: Graça Caldas, Cidoval
de Souza, Audre Cristina Alberguini e Augusto Diniz, ao longo de 2004, com apoio institucional da Associação
Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC). Ver nas referências bibliográficas: CALDAS, Graça et al.O desafio
da formação em jornalismo científico, 2005.
49
Cursos Lato Sensu (Especialização)
PUC-SP: Programa de Especialização em Comunicação Jornalística: Jornalismo,
Educação e Ciência.
PUC-Campinas: Programa de Especialização em Jornalismo e Segmentação Editorial.
Universidade Anhembi Morumbi: Curso de Especialização em Jornalismo Esportivo.
Cursos Stricto Sensu (Mestrado e Doutorado)
Universidade de São Paulo (ECA/USP):
a) Programa de Pós-Graduação em Informação e Documentação (Mestrado e Doutorado)
30
.
b) Programa de Pós-Graduação em Jornalismo (Mestrado e Doutorado).
Universidade Metodista de São Paulo (UMESP): Programa de Pós-Graduação em
Comunicação Social (Mestrado e Doutorado).
Universidade de Marília (Unimar): Pós-Graduação em Comunicação (Mestrado).
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS): Programa de Pós-Graduação em
Comunicação & Informação (Mestrado e Doutorado).
Universidade do Estado de São Paulo (UNESP): Programa de Pós-Graduação em
Comunicação (Mestrado).
Em relação às demais áreas do conhecimento (entende-se aqui os cursos de pós-graduação do
Ps com exceção dos cursos da área de Comunicação Social) foram encontradas atividades
de Compreensão Pública da Ciência, Divulgação Científica ou Jornalismo Científico em
quatro cursos Lato Sensu e dez Stricto Sensu (seis de mestrado e doutorado M/D, e quatro
somente de mestrado M). São os seguintes cursos:
Cursos Lato Sensu (Especialização)
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) / Instituto Oswaldo Cruz (IOC) / Casa Oswaldo Cruz:
a) Curso de Especialização em Comunicação e Saúde.
b) Curso de Pós-Graduação em Educação Científica em Biologia e Saúde Atualização,
Aperfeiçoamento, Especialização.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP):
a) Programa de Pós-Graduação em História da Ciência
Universidade Federal da Bahia (UFBA):
a) Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva.
Cursos Stricto Sensu (Mestrado e Doutorado)
Universidade Estadual de São Paulo (Unesp)
a) Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência (M/D)
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
a) Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local (M)
Universidade Federal de Viçosa (UFV)
a) Curso de Pós-Graduação em Extensão Rural (M)
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Curso de Pós-Graduação em Extensão Rural (M) - Departamento de Educação Agrícola e
Extensão Rural
Universidade de Brasília (UnB)
a) Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (M/D)
30
Este curso, mesmo com o nome “Informação e Documentação” está inserido, nesta pesquisa, dentro dos cursos
de Comunicação, porque está respeitando a estrutura definida pela USP, já que faz parte da ECA (Escola de
Comunicações e Artes).
50
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
a) Instituto de Geociências Departamento de Geociências Aplicadas à Educação (M/D)
Universidade Federal da Bahia (UFBA)
a) Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências Inst. de
Física. (M)
Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq USP)
a) Curso de Pós-Graduação em Ecologia de Agrossistemas Interunidades (M/D)
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) em convênio com a
Universidade Federal Fluminense (UFF)
a) Pós-Graduação em Ciências da Informação (M/D)
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
a) Programa de Pós-Graduação em Gestão do Conhecimento (M/D)
2.2.3) Periódicos
O principal periódico na subárea de Compreensão Pública da Ciência em nível internacional é
Science Communication: An Interdisciplinary Social Science Journal
31
. De periodicidade
quadrimestral, a publicação é ligada à Faculdade de Jornalismo da Universidade de Maryland
(EUA). De acordo com o site da Editora Sage, onde o periódico é editado, Science
Communication reúne pesquisadores internacionais em torno de três partes gerais e inter-
relacionadas: Comunicação dentro das comunidades científicas; Comunicação das
informações científicas e tecnológicas para o público; Políticas de Comunicação de Ciência e
Tecnologia. No Brasil, os artigos completos da Science Communication são disponibilizados,
na íntegra, somente a partir do site dos Periódicos Capes
32
.
Outro periódico de relevância da subárea de Compreensão Pública da Ciência é a revista
Quark
33
, que trata de Ciência, Medicina, Comunicação e Cultura, ligada à Universidade
Pombeu Fabra, da Espanha.
A literatura brasileira sobre Compreensão Pública da Ciência ainda é escassa, embora venha
crescendo substancialmente nos últimos anos, como resultado da produção acadêmica. No
entanto, apesar das pesquisas e das obras sobre esta subárea serem relativamente recentes no
Brasil, a atividade de divulgação tem sido alavancada nas últimas décadas pelo avanço e
valorização social da própria Ciência e, como conseqüência disso, da ampliação dos espaços
nos meios de comunicação para os assuntos relacionados a CT&I.
José Reis é considerado o primeiro jornalista científico do Brasil. A Associação Brasileira de
Jornalismo Científico (ABJC) foi criada em 1977 e a primeira tese de doutorado sobre
Jornalismo Científico foi defendida em 1984, na USP, por Wilson da Costa Bueno.
Esse cenário, aliado a outros indicadores, tais como poucos cursos/programas de pós-
graduação em Compreensão Pública da Ciência no Brasil e o baixíssimo número de
periódicos especializados em Compreensão Pública da Ciência no País, mostra como essa
subárea da Comunicação ainda tem muito a ser explorada e desenvolvida em âmbito nacional.
Outro fato importante relacionado às pesquisas sobre Compreensão Pública da Ciência no
Brasil é que um bom número de trabalhos é realizado fora do Campo da Comunicação. Ou
31
http://www.sagepub.com/journal.aspx?pid=144
32
http://www.periodicos.capes.gov.br
33
http://www.imim.es/quark
51
seja, outras áreas do conhecimento como Lingüística, Física, Biologia, Educação, Medicina,
Ciências Sociais, História, entre outras, têm estudado a Divulgação Científica (especialidade
da subárea de Compreensão Pública da Ciência) como objeto de estudo.
Em nível internacional, entretanto, o grande número de cursos de pós-graduação e a ampla
literatura existente sobre Compreensão Pública da Ciência dão provas de que essa subárea
está muito bem consolidada e estruturada.
2.2.4) Uma Taxonomia para a subárea de Compreensãoblica da Ciência
As buscas revelaram um amplo desenvolvimento da subárea de Compreensão Pública da
Ciência no mundo. No Brasil, a revisão bibliográfica aponta que diversas pesquisas de pós-
graduação vêm sendo realizadas tanto no programa da Umesp como em outros tendo a
Compreensão Pública da Ciência como objeto de estudo.
De forma exploratória, para sistematizar as informações encontradas, os dados referentes à
subárea e às especialidades foram divididos nos seguintes tópicos (sempre quando
encontrados), com os quais foi possível traçar uma proposta de Taxonomia para a subárea de
Compreensão Pública da Ciência.
Denominações: as nomenclaturas utilizadas nas línguas: portuguesa, inglesa e espanhola
para designar o assunto.
Conceito: os principais conceitos relacionados ao assunto, quando estes foram
encontrados na bibliografia pesquisada. Caso não tenha sido encontrado o conceito, este foi
sugerido, de forma não sistematizada, baseado nas pesquisas realizadas. Estes conceitos
provisórios servirão para nortear o leitor, bem como para propor o desenvolvimento de futuras
pesquisas e para a complementação desta.
Macrodescritores: no caso das especialidades, foi sistematizada a relação dos principais
assuntos tratados pelos pesquisadores.
A Subárea da Compreensão Pública da Ciência
Subárea:
Comunicação Pública da Ciência e Compreensão Pública da Ciência
34
Denominações: Science Communication
35
(Estados Unidos), Public Engagement, Scientific
Literacy, Public Communication of Science ou Public Understanding of Science (Reino
Unido, principalmente) Comunicación Científica (Espanha e América Latina).
Conceito: Comunicação, ao público em geral e leigo, dos avanços e processos que envolvem
a Ciência, neste caso, tendo a mídia como suporte.
34
Nesta tese, optou-se pelo uso da denominação “Compreensão Pública da Ciência”, tendo em vista a relevância
da função educativa das matérias sobre CT&I nos telejornais e do papel do receptor, enquanto que a
denominação “Comunicação Pública da Ciência” refere-se à produção e veiculação de mensagens.
35
No Brasil, o termo Science Communication (Comunicação Científica) tem outro significado. Trata-se da
comunicação do cientista para seus pares.
52
Especialidades:
36
Divulgação Científica, Alfabetização, Popularização ou Vulgarização Científica
Denominações: Science Communication (também é empregado este termo em Inglês),
Divulgación Científica, Vulgarización Científica, Alfabetización Científica (Espanhol).
Conceito: A divulgação científica pode ser interpretada de forma geral como o processo pelo
qual se faz chegar a um público não especializado e amplo o saber produzido por especialistas
de uma disciplina científica.
Macrodescritores: relação cientista-sociedade-comunicadores, ética e Divulgação Científica,
processos, linguagens, suportes, veículos de Divulgação Científica, Divulgação Científica e
Educação.
Ciência e Mídia
Denominações: Media Science, Media Coverage of Science (inglês), Ciência y Mídia.
Conceito: Envolve estudos da relação dos veículos de comunicação com a cobertura de
Ciência e Tecnologia.
Macrodescritores: a mídia em relação a fatos científicos, uso da mídia como suporte à
divulgação, a Ciência nos meios de comunicação.
Comunicação para a Saúde
Denominações: Health Communication, Communicación para la Salud.
Conceito: Comunicação, para públicos leigos, de fatos e processos que envolvem as Ciências
médicas e da vida, a relação destas Ciências com a sociedade e dos especialistas com o
público em geral.
Macrodescritores: programas de saúde, riscos, informações médicas, relação médico-
paciente, realizados através dos meios de comunicação.
Comunicação Rural
Denominações: Agricultural Communication, Comunicación Agrícola, Comunicación Rural.
Conceito: Comunicação através da mídia para públicos leigos de processos e produtos que
envolvem as questões científicas ligadas ao campo.
Macrodescritores: comunicação e agronegócios, mídia e agricultura, produção rural e mídia.
Políticas de Comunicação de Ciência e Tecnologia
Denominações: Communication Science Policy, Políticas de Comunicación de Ciência y
Tecnologia.
Conceito: Programas e projetos de comunicação aos diversos públicos envolvidos com a
instituição científica (universidades, laboratórios, empresas) dos conhecimentos gerados por
ela, através da mídia.
Macrodescritores: assessorias de comunicação e Divulgação Científica, programas de
Divulgação Científica de instituições científicas.
36
É importante ressaltar que as especialidades não são estanques. Os trabalhos acadêmicos desenvolvidos dentro
da subárea de Compreensão Pública da Ciência podem estar inseridos em mais de uma especialidade
concomitantemente, dependendo do objeto e dos objetivos de cada estudo. Esta tese, em diversos momentos,
adota as denominações “Divulgação Científica no Telejornalismo” como sinônimo de “Jornalismo Científico nos
telejornais”.
53
Divulgação das Políticas de Ciência e Tecnologia
Denominações: Science Policy Communication, Divulgación de las Políticas de Ciência y
Tecnologia.
Conceito: Divulgação, para diversos públicos, através da mídia, das políticas científicas no
âmbito do poder público (governamental e partidário), dos institutos públicos de pesquisa e
dos laboratórios de pesquisa.
Macrodescritores: divulgação e discussão, nos meios de comunicação, das políticas de
CT&I; mídia e políticas públicas de CT&I.
Comunicação Ambiental
Denominações: Envirommental Communication, Comunicación Ambiental.
Conceito: Comunicação, para públicos leigos através da mídia, dos processos que envolvem a
relação homem-natureza; meio ambiente, meios de comunicação e Ciência.
Macrodescritores: mídia e sustentabilidade, Ciências ambientais e mídia, meio ambiente e
mídia, Divulgação Científica e educação ambiental.
Jornalismo Científico
Denominações: Scientific Journalism, Periodismo Científico.
Conceito: Divulgação, para o público não especializado, de assuntos ligados a CT&I nos
meios de comunicação, por meio de notícias, reportagens, entrevistas ou artigos.
Macrodescritores: relação jornalistas-cientistas, ética no Jornalismo Científico, Jornalismo e
alfabetização científica, Jornalismo Científico nos diferentes suportes de mídia (impressos,
rádio, TV e Internet).
Diagrama representativo da subárea e suas especialidades
Compreensão Pública da Ciência
Divulgação Científica
Ciência e Mídia
Comunicação para a Saúde
Comunicação Rural
Políticas de
Comunicação de C&T
Divulgação das Políticas de C&T
Comunicação Ambiental
Jornalismo Cien
tífico
54
Em relação aos estudos acadêmicos sobre a inter-relação Comunicação-Ciência, Sousa (2004,
p. 20-25) avaliou os trabalhos brasileiros e encontrou, dentro de perspectivas diferenciadas de
trabalhos, um núcleo comum de interesses, resumido da seguinte forma:
a) interesse da mídia por assuntos de Ciência e Tecnologia trata-se de mensurar, a partir
de levantamentos em jornais, revistas, meio eletrônicos, a presença da C&T na mídia, e
também de apontar fontes, temas de maior interesse, mensuração do status (lugar ocupado) e
comparações entre veículos de mesma natureza;
b) tratamento discursivo refere-se à discussão sobre o discurso da mídia a respeito da
C&T;
c) modelo de déficit (ou formação) presença de falas destacando a necessidade de se
preparar melhor os divulgadores de Ciência e, na outra ponta, os cientistas para se
relacionarem melhor com a mídia;
d) a relação custo-benefício outra referência bastante comum nos estudos sobre
Comunicação e Ciência, segundo o autor, é a afirmação dos benefícios que a primeira
proporciona à segunda e vice-versa;
e) a dimensão pedagógica são os trabalhos que chamam a atenção para aspectos como
alfabetização científica, transmissão de valores, consciência e prática da excelência,
conhecimento e fortalecimento da cultura científica nacional, educação objetiva, criativa e
participativa, entre outros;
f) tipo ideal trata-se da proposição de “saídas”, “sugestões”, “recomendações”, “modelos”,
na visão dos diversos autores, capazes de contribuir para a redução, de um lado, das tensões
entre divulgadores e cientistas, e, de outro, do fosso entre Ciência e Público;
g) relação Ciência, Tecnologia e Sociedade refere-se ao lugar da Comunicação,
particularmente a midiática, no processo de construção dos conhecimentos e da técnica, e,
principalmente, na sua apropriação pela sociedade;
h) a dimensão ética segundo o autor, essa dimensão está sempre contemplada nos
trabalhos, porém não de forma claramente definida.
2.3) Conceitos e problemática
2.3.1) Conceitos de CT&I
Ao longo do tempo, tem havido grande dificuldade, por parte de pensadores, em definir o
conceito de Ciência e de conhecimento científico. Não há unanimidade entre os autores sobre
a concepção de Ciência e esta muda com o próprio desenvolvimento da Ciência. Os Estudos
Sociais da Ciência (ESC) reúnem uma gama de disciplinas que, de formas distintas, tentam
dar explicações sobre o “fazer científico”. Diferentes concepções do que é Ciência têm sido
oferecidas pelas grandes matrizes disciplinares que tratam do assunto: a Filosofia da Ciência,
a História, a Sociologia do Conhecimento e a Sociologia da Ciência. As diferenças de
posicionamentos levam em conta o valor que é dado à Ciência enquanto produção de
conhecimento.
Para a Filosofia da Ciência, a demarcação do que é e do que não é Ciência tem sido o
interesse principal. A resposta dada pela Filosofia é de que a Ciência é mutável com o passar
do tempo. Pensadores dessa corrente têm como foco de atenção a forma como a Ciência foi
concebida e operacionalizada com o objetivo de submetê-la à medição estatística. Para isso,
pesquisadores desenvolveram, ao longo do tempo, critérios de delimitação do conhecimento
científico que consideravam a distinção do conhecimento científico de outros tipos de
conhecimento. Entre os critérios tomados como base para a delimitação da Ciência estão: os
resultados próprios da Ciência, a metodologia, o princípio da verificação, o princípio da
55
falseabilidade. No entanto, apesar dos esforços, nenhum dos critérios é capaz de satisfazer, de
forma absoluta, a todos os casos. Woolgar (1991), contestando tais critérios, avalia que o
conhecimento científico não é o resultado da aplicação de regras de decisão pré-existentes a
hipóteses particulares ou generalizações.
A História analisa o processo de desenvolvimento da Ciência ao longo do tempo para
procurar defini-la. Nesse aspecto, segundo a corrente histórica, a organização da Ciência
passou por três etapas: Amateurs (Amadores) (entre 1600 e 1800), período em que a Ciência
era realizada fora de universidades, de instituições governamentais e do governo. A Ciência,
naquela época, era desenvolvida por profissionais economicamente independentes;
Acadêmica (de 1800-1940) época em que se passou a dar maior atenção à formação técnica
dos pesquisadores. Essa época foi marcada pelo ingresso e desenvolvimento das atividades
científicas nas universidades; Profissional, que corresponde à etapa atual (depois de 1940),
caracterizada pelo aumento gradual dos esforços dos cientistas em dar aplicabilidade e
utilidade ao conhecimento científico e da inserção dos pesquisadores em grandes grupos. De
acordo com Woolgar (1991), a partir de então, o trabalho científico se organiza
progressivamente segundo padrões disciplinares especializados. Além disso, a preparação de
novos membros da comunidade científica converte-se em parte das obrigações dos cientistas.
Dentro da perspectiva da História, a partir dos anos 60 proliferaram estudos quantitativos que
procuravam demarcar a especialidade do conhecimento científico. Um dos pioneiros desta
tendência é Solla Price (1980). As análises quantitativas do autor basearam-se nos artigos
publicados em revistas científicas. A Ciência, para Solla Price (1980), pode ser definida como
sendo os trabalhos que tenham resultado em publicações em revistas indexadas. Os artigos
científicos são fontes seguras de investigação para o autor, devendo isso aos critérios
metodológicos de avaliação dos artigos.
Através do aumento exponencial das publicações que tem sido constante durante vários
séculos, o autor avaliou que, em todos os campos do conhecimento e em quase todos os
países, o número de publicações científicas tem duplicado a cada dez ou quinze anos. A partir
daí, afere que cada um desses artigos produz a média de uma citação por ano e que cada novo
artigo refere-se a mais ou menos doze citações. Sendo assim, ele avalia que, a cada dez anos,
há uma duplicação da Ciência.
Em relação à Tecnologia, Solla Price (idem) a considera como inter-relacionada à Ciência e
admite que ambas se desenvolvem ao mesmo ritmo. Ele define Tecnologia como aquela
investigação cujo produto principal é uma máquina, um medicamento, um produto ou um
processo de qualquer tipo, e não um artigo. Com uma taxa de crescimento similar a da
Ciência, a Tecnologia se desenvolve, segundo ele, na maioria das vezes, como a Ciência, a
partir da acumulação de conhecimentos. No entanto, essa não pode ser mensurada através dos
artigos científicos. A análise da Tecnologia pode ser feita através das patentes.
Solla Price (ibidem) faz uma diferenciação entre Ciência e Tecnologia a partir das
publicações. Enquanto na Ciência há um incentivo à publicação de artigos em revistas
especializadas, na Tecnologia procura-se, ao máximo, ocultar o processo de desenvolvimento,
devido à concorrência para obter um novo produto ou processo antes dos outros.
Algumas críticas podem ser feitas à metodologia utilizada por Solla Price (ibidem) e também
às suas conclusões. A definição de Ciência que ele utiliza (os artigos publicados em revistas
indexadas) deixa de fora muitos outros trabalhos que, por diversos motivos, não alcançaram
56
estas revistas. Outro aspecto que pode ser contestado refere-se ao vínculo do crescimento da
Ciência ao aumento do número de publicações. A mesma observação pode ser feita para a
Tecnologia, já que nem todo produto ou processo tecnológico resulta em patentes. Este
método pode avaliar quantitativamente um aumento da produção científica, mas, de modo
algum, pode fornecer dados sobre o que isso representa em termos de avanço no
conhecimento ou mesmo de desenvolvimento qualitativo da Ciência e de investimento nas
pesquisas.
Os pensadores da Sociologia do Conhecimento, por outro lado, acreditam que há uma certa
variedade do que é Ciência diante do contexto social em que esta é gerada. Woolgar (1991)
explica que a maior especialização e diferenciação da Ciência têm exigido um aumento do
controle (tanto interno quanto externo) das organizações sociais. De acordo com o autor, tem
havido um grande investimento na Ciência e grandes gastos em equipamentos e técnicas
especializadas para possibilitar o trabalho em equipe. O cientista agora pertence a uma
complexa rede social.
Para alguns pesquisadores da Sociologia da Ciência, a preocupação tem sido em como a
Ciência, enquanto instituição social em rápido crescimento, se auto-organiza e auto-regula.
Tem-se prestado atenção especial na relação existente entre os produtores do conhecimento e
seus contextos: suas relações sociais, a natureza do sistema de financiamento, a
competitividade e, especialmente, o sistema de normas segundo a qual guiam-se as ações dos
cientistas.A sociologia da ciência originalmente teve como foco a estrutura institucional da
ciência, para, mais tarde, abordar os grupos de pesquisa e as interações no laboratório,
incluindo o próprio conhecimento científico dentro de seu objeto de estudo (DAGNINO &
THOMAS, 2002, p. 09).
Bucci (2000), dentro desta perspectiva, avalia que, atualmente, o desenvolvimento científico
não é mais público ele foi privatizado nas grandes corporações, incorporado pela atividade
econômica na condição de um fator estratégico para o lucro de longo prazo. “Vale dizer: a
Ciência foi privatizada na sociedade contemporânea” (p. 196).
A Ciência e a Tecnologia relacionam-se mutuamente, de modo que uma depende da outra
para o próprio desenvolvimento de cada uma delas. De acordo com Solla Price (1980), a
Ciência sem a Tecnologia é estéril e, em diversos casos em que a sociedade decidiu pagar pela
Tecnologia, que dava maior retorno econômico imediato, e desprezar a Ciência, a Tecnologia
entrou em coma.
Segundo Bunge (1980, p. 31) a diferença entre Ciência (básica e aplicada) e Tecnologia é que,
enquanto a Ciência se propõe a descobrir leis que possam explicar a realidade em sua
totalidade, a Tecnologia se propõe a controlar determinados setores da realidade, com a ajuda
de todos os tipos de conhecimento, especialmente os científicos.
A Ciência, para Martínez (1998), é um sistema organizado de conhecimentos referentes à
natureza, à sociedade e ao pensamento. Eventualmente, a Ciência pode ser aplicada à
produção ou à distribuição de bens e serviços, mas somente de forma indireta e imediata. Em
sentido mais amplo, segundo o autor, a Ciência não é neutra, alheia aos valores ou não-
normativa, mas, de forma semelhante a outras formas de organizar a realidade e disponibilizar
informação, a Ciência é gerada em contextos históricos e sociais que implantam seus valores e
interesses sociais em sua estrutura.
57
Martínez (idem) afirma que Ciência e Tecnologia se encontram extraordinariamente inter-
relacionadas. Por um lado, segundo ele, há uma crescente “cientificação da produção”. Por
outro, a Ciência e o conhecimento científico, freqüentemente, requerem soluções técnicas
para seus problemas e materialização de suas descobertas.
Para o autor, Tecnologia é o conjunto de conhecimentos e métodos para o desenho, a
produção e a distribuição de bens e serviços. É, segundo ele, um sistema de conhecimentos
técnicos.
A Inovação, para Martínez (ibidem), trata-se da introdução de uma técnica, produto ou
processo de produção ou serviço novos. Para ele, é um processo que, com freqüência, é
seguido de um processo de difusão. Existem, para Martínez, três tipos de Inovação: de
produto, de processo e organizativa (no âmbito das empresas).
A Invenção trata-se da descoberta ou desenho de um produto, processo ou sistema novo. A
Invenção, para Martínez (ibidem), é uma contribuição discernível e pontual ao conhecimento
técnico, à mudança tecnológica, ainda que não seja a única forma na qual a Tecnologia muda.
A Invenção, segundo ele, é uma etapa do desenvolvimento tecnológico na qual uma idéia tem
avançado suficientemente para desenhar planos, construir um modelo de trabalho ou de
alguma forma determinar a factibilidade técnica.
2.3.2) Conceitos de Compreensão Pública da Ciência
Conforme proposto na Taxonomia elaborada para a subárea de Compreensão Pública da
Ciência, essa compreende as seguintes especialidades: Divulgação Científica, Alfabetização
Científica, Popularização Científica ou Vulgarização Científica; Ciência e Mídia;
Comunicação para a Saúde; Comunicação Rural; Políticas de Comunicação de C&T;
Divulgação das Políticas de C&T; Comunicação Ambiental e Jornalismo Científico. Tais
especialidades, ao longo da história, ora se convergem, ora se distanciam. Em diversos
momentos, cada uma dessas especialidades apresenta um corpus conceitual bem delimitado,
em outros, no entanto, algumas são tomadas como sinônimo de outras, ou como parte de um
mesmo conceito.
A partir dos objetivos centrais deste trabalho (investigar a contribuição das matérias
jornalísticas de CT&I dos telejornais brasileiros para a Compreensão Pública da Ciência), a
ênfase será dada às concepções de Divulgação Científica (que entrelaçam também as de
Difusão Científica e Disseminação Científica) e Jornalismo Científico.
O desenvolvimento da Divulgação Científica antecede e abarca, em determinadas
conceituações, o conceito de Jornalismo Científico. Não há um consenso entre pesquisadores
sobre o surgimento da Divulgação Científica. As diferentes perspectivas sobre o surgimento
desta atividade são reflexos da diversidade de concepções existentes. Enquanto para alguns
estudiosos a Divulgação Científica é intrínseca à própria produção da Ciência e acompanha o
desenvolvimento desta (MACEDO, 2002; MASSARANI & MOREIRA, 2004), para outros,
no entanto, essa atividade surgiu, mais precisamente, no século XVII, quando começou a
surgir a Ciência Moderna e o conhecimento dos sistemas do mundo passou a fazer parte da
educação das pessoas (REIS, 2001; CALVO HERNANDO, 2006).
As primeiras iniciativas eram de cientistas, que publicavam suas idéias e teorias em livros,
conferências e em demonstrações de experimentos, mas para um público restrito. Segundo
Macedo (2002), o surgimento dos primeiros periódicos científicos no século XVI coexistia
58
com a divulgação para o grande público, através de livros de divulgação, conferências
públicas e outros. Reis (2001), no entanto, questiona sobre o alcance daquele público.
Representativo desse esforço de espalhar a ciência seria o livro de Bernier le Bovier
de Fontenelle "Entretiens sur la pluralitè des mondes", publicado em 1686. (...)
Poderíamos então considerar Fontenelle como popularizador da ciência se ele escrevia
apenas para a aristocracia, que era a classe interessada nesse tipo de conhecimento, e
manifestava até a convicção de que o conhecimento científico devia constituir o
privilégio da elite? (Reis, 2001, on line).
Os periódicos específicos de Divulgação Científica para um público mais amplo (não-
cientistas) surgiram, em nível internacional, no século XIX. Um dos mais antigos, o Scientific
American, fundado em 1845 e editado no formato de jornal, era voltado a aspectos
econômicos da Ciência e da Tecnologia, para um público formado por grandes industriais,
comerciantes e fazendeiros potencialmente interessados por inovações tecnológicas
(MACEDO, 2002, p. 91).
Em países da América Latina e da Ásia, a Divulgação Científica começou de maneira
incipiente no século XVIII, segundo Massarani & Moreira (2004), quando intelectuais se
convenceram de que a Ciência tem relação direta com a condição econômica dos países.
Dessa forma, foram criados veículos, como jornais e revistas, para a difusão e a discussão da
Ciência. No entanto, eram iniciativas dispersas e com público muito reduzido.
No Brasil, os primeiros periódicos específicos de Divulgação Científica surgiram apenas no
século XX. Nos anos 80 são lançadas as primeiras revistas de Divulgação Científica para o
público não-especializado: Ciência Hoje (em 1982) e Ciência Ilustrada (1981-1984).
(MACEDO, 2002).
Há alguns entraves epistemológicos que geram visões diferenciadas sobre a origem da
Divulgação Científica para o grande público. Macedo (2002) chama a atenção de que a
história da Divulgação Científica é pontuada por conflitos e desigualdades, que estão ligados
ao próprio projeto da Ciência e dos cientistas e às funções e estratégias que a divulgação
assume em diferentes momentos.
Alguns autores caracterizam as atividades realizadas nos séculos XVII e XVIII por cientistas
e pensadores como Disseminação Científica e Difusão Científica (e não Divulgação
Científica), já que o público de tais obras era formado por cientistas, letrados, aristocratas.
Para contribuir para a elucidação do surgimento da Divulgação da Ciência para o público em
geral, Calvo Hernando (2006), busca nas concepções de Pasquali, os conceitos e as
diferenciações entre Difusão Científica, Disseminação Científica e Divulgação Científica.
A Difusão Científica é, segundo o autor, missão do cientista de transmitir ao público os
conhecimentos de sua área.La diseminación científica es la transmisión, por parte del
investigador, de informaciones científicas y tecnológicas para sus pares o especialistas en el
mismo sector de la ciencia, en lenguaje” (CALVO HERNANDO, 2006).
A Disseminação Científica trata-se, por outro lado, do envio de mensagens elaboradas em
linguagens especializadas, para públicos selecionados e restritos. Consiste na comunicação
interpares, do cientista para os próprios cientistas.
59
A Divulgação Científica, segundo ele, compreende todo tipo de atividade de ampliação e
atualização do conhecimento. “La divulgación nace en el momento en que la comunicación de
un hecho científico deja de estar reservada exclusivamente a los propios miembros de la
comunidad investigadora o a las minorías que dominan el poder, la cultura o la economia
(CALVO HERNANDO, 2006b). Refere-se ao envio de mensagens elaboradas mediante a
transcodificação da linguagem técnica para uma linguagem compreensível pelo público
amplo. Segundo o autor, na Divulgação Científica, a mensagem é dirigida a um público muito
amplo, com conhecimentos bem distintos sobre Ciência.
Leitão e Albagli (1997, p. 18) defendem que Difusão Científica se refere “a todo e qualquer
processo ou recurso usado para a comunicação de informação científica e tecnológica”. Já a
Divulgação Científica, para esses autores, é definida como o uso de recursos e processos
técnicos para a comunicação de informação científica e tecnológica para o público em geral.
Ela também é tomada, por estes autores, como sinônimo de vulgarização científica.
Posição distinta apresenta Bueno (1984), para o qual o conceito de Difusão Científica
incorpora a Divulgação Científica e o Jornalismo Científico. A Difusão, segundo o autor,
pode ocorrer em dois níveis: 1) para especialistas (que ele chama de Disseminação Científica)
e a difusão para o público em geral (que denomina de Divulgação Científica).
Para Bueno (idem, p. 15-16), Disseminação Científica pressupõe a transferência de
informações científicas e tecnológicas, transcritas em códigos especializados, a um público
formado por especialistas. De acordo com o autor, a disseminação comporta dois níveis: 1) a
disseminação intrapares (entre especialistas de uma mesma área do conhecimento) e 2)
disseminação extrapares (para especialistas de outras áreas do conhecimento).
A Divulgação Científica, para Bueno (ibidem, p. 18-19), compreende a utilização de recursos,
técnicas e processos para a veiculação de informações científicas e tecnológicas ao público
em geral. O Jornalismo Científico, na visão de Bueno, é um segmento da Divulgação
Científica.
Epstein (2002) caracteriza a comunicação primária ou disseminação como aquela que ocorre
entre os próprios cientistas (interpares) e a comunicação secundária ou divulgação como
aquela que se realiza entre os cientistas e o público leigo (diretamente ou pela mediação dos
divulgadores científicos). Para o autor, tais atividades apresentam diferenças, mas não são
estanques, se interpenetram.
Ao analisar o histórico da Divulgação Científica, Massarani & Moreira (2004) observaram
fases distintas, cujas finalidades e características refletem o contexto e os interesses de cada
época. A forma tradicional de abordagem da Divulgação Científica é o “modelo do déficit”,
caracterizado pela diferenciação entre os produtos do conhecimento, detentores do “saber” e
os consumidores, caracterizados como os que não têm o conhecimento.
Segundo Massarani & Moreira (idem), esse modelo está relacionado a uma visão
unidirecional da Divulgação Científica, em que a informação flui de indivíduos dotados para
uma massa carente de conhecimentos. Segundo os autores, só recentemente as análises da
fronteira difusa e das inter-relações entre essas duas categorias têm sido consideradas. Para
Macedo (2002), tal modelo vem sendo atualmente muito criticado devido aos fracassos
observados, mas continua vigorando, e, mesmo com as críticas que lhe vêm sendo feitas, não
foi radicalmente transformado.
60
Hilgartner (1990) faz crítica semelhante ao modelo de divulgação do conhecimento para o
grande público. O autor avalia que a visão culturalmente dominante de popularização da
Ciência é enraizada na noção de um conhecimento científico puro e genuíno com o qual o
conhecimento popularizado é contrastado. É assumido, segundo ele, um modelo de dois
estágios: primeiro, os cientistas desenvolvem um conhecimento científico genuíno,
subseqüentemente, os divulgadores relatam tais conhecimentos para o público.
Essa visão, para Hilgartner (idem), sugere que as diferenças entre o conhecimento genuíno e a
Ciência popularizada devem ser causadas por distorção” ou degradação” da verdade
original. Para o autor, essa visão encara a popularização do conhecimento, na melhor das
hipóteses, como uma atividade educacional de simplificação da Ciência para não especialistas
e, na pior, como poluição”, “distorção do conhecimento. Segundo o autor, essa visão
apresenta problemas conceituais por ser extremamente simplicadora do processo de
comunicação. Essa visão dominante, segundo Hilgartner (ibidem), serve aos cientistas (e a
outros que derivam sua autoridade do conhecimento especializado) como um recurso no
discurso público, fornecendo um repertório de dispositivos retóricos para interpretar a Ciência
para leigos, e uma ferramenta poderosa para sustentar a hierarquia social dos especialistas.
Miller (2004) também avalia os limites do modelo tradicional de divulgação e chama a
atenção de que os documentos oficiais europeus que tratam da relação Ciência-Sociedade
enfatizam que os cientistas devem [grifo do autor] se comunicar melhor com o público, assim
como os meios de comunicação. A demanda, segundo o autor, é por uma comunicação que
permita o diálogo e o debate, ao seja, deveria ser bidirecional, que, por um lado, possibilite ao
público entender os argumentos científicos e, por outro, que os cientistas escutem as
considerações e preocupações do público (o que não é relevante para o modelo de déficit).
A substituição dos cientistas na Divulgação Científica por comunicadores científicos
profissionais, principalmente jornalistas, acontece, majoritariamente, como efeito da Segunda
Guerra Mundial. (Meadows, 1997). Até então, as experiências em Jornalismo Científico eram
realizadas, em sua maioria, pelos próprios cientistas com acesso aos meios de comunicação
37
.
Para o autor (idem), a popularização da Ciência na Segunda Guerra Mundial foi maior que na
Primeira, porque o impacto da Ciência foi resultado de uma maior complexidade dessa. “A
necessidade de explicar o que obviamente iria converter-se em importantes e constantes
pontos de interesse, destacou-se o imprescindível que era contar com correspondentes
especializados. Também indicou a necessidade de aumentar a cobertura popular da Ciência”
(ibidem, p. 43).
Segundo Meadows (op. cit, 1997), uma análise da imprensa dos Estados Unidos, realizada em
1951, mostrou que dois terços dos editores entrevistados haviam pelo menos duplicado o
espaço dedicado à Ciência naquela década. “Este crescimento e a utilização de pessoal
especializado foi estimulado ainda mais por dois acontecimentos que se iniciaram nos anos
cinqüenta: o primeiro foi a conquista do espaço e o segundo a expansão acelerada da
televisão” (idem, p. 43). A Divulgação Científica pela televisão, no entanto, segundo
Massarani & Moreira (2004), ficou restrita, por décadas, aos países desenvolvidos. Somente a
37
O Jornalismo Científico surgiu no século XVII, na Inglaterra. Henry Oldenburg, secretário da Royal Society,
criou a publicação Philosophical Trasactions, em março de 1665 (BURKETT, 1990). “Oldenburg estabeleceu
precedentes de cientistas funcionando como editores de periódicos da sociedade científica e para publicações em
vernáculo. Esses conceitos fortaleceram a pesquisa científica na Europa”. (p. 28).
61
partir dos anos 80, acompanhando uma expansão mundial da Divulgação Científica, é que ela
ganha as programações televisivas dos demais países.
A televisão começa a despertar interesse por assuntos científicos impulsionada por áreas que
proporcionam imagens atrativas. Esta tendência influenciou no reconhecimento do papel do
divulgador científico. “O alto custo da produção de programas televisivos também confirmou
o papel dominante do comunicador científico profissional, posto que só ele tinha tempo e a
formação necessários” (MEADOWS, op. cit., p. 44).
Para Carvalho (2003, p. 17), a Divulgação Científica é uma reconstrução do discurso, uma
adaptação, uma simplificação e uma explicação da informação científica, a partir de meios,
formatos e linguagens adequados ao público em geral. Nessa perspectiva, a atividade de
Divulgação Científica é tida como de responsabilidade tanto de cientistas e pesquisadores,
como de profissionais de Comunicação, como jornalistas, publicitários e relações-públicas.
No entanto, a atividade de Divulgação Científica no contexto do Jornalismo (denominada
Jornalismo Científico), realizada por jornalistas profissionais, tem adquirido relevância face
às funções informativa e mediadora entre os fatos e a sociedade, exercida pelo Jornalismo.
O Jornalismo Científico, de acordo com Reis (1984), procura transmitir ao público, por meio
de notícias, reportagens, entrevistas e artigos, o sentido e o sabor do conhecimento científico,
assim como suas crescentes implicações sociais. Para o autor, o Jornalismo Científico tem um
papel informativo e formativo. “Contribui ele para preencher lacunas escolares e para
atualizar o cidadão. Serve, desse modo, de apoio à sociedade a compreendê-la em seu mais
puro sentido. E essa compreensão é fundamental, pois a pesquisa é financiada, direta ou
indiretamente, pela sociedade” (p. 29).
De acordo com Thiollent (1984, p. 307), Jornalismo Científico é o conjunto das atividades
jornalísticas que se dedica a assuntos científicos e tecnológicos e que se direciona para o
grande público não-especializado, por meio de diversas mídias: rádio, televisão, jornais
especializados e outras publicações de divulgação.
O Jornalismo Científico, para Oliveira (2002), não se restringe à cobertura de assuntos
específicos de CT&I. Para a autora, o conhecimento científico pode ser utilizado para
compreender melhor qualquer fato. “Se há uma enchente, por exemplo, assunto que costuma
ser divulgado na editoria de cidade ou na de geral, o jornalista pode conversar com
meteorologistas para entender o fenômeno natural” (p. 47).
Miller (2004) destaca que os jornalistas científicos deveriam refletir sobre a relação da
Ciência com a sociedade e do papel que eles próprios desempenham. Esse aspecto passa pela
questão da formação do profissional. Caldas (2004) avalia que a divulgação competente da
Ciência exige profissionais altamente capacitados e conscientes das relações de poder que
envolvem o setor. Para isso, precisam investir tempo em sua própria formação para poderem
cumprir seu papel social de intérpretes da sociedade na área de C&T, e não apenas de seus
meros divulgadores” (Caldas, 2004, p. 75).
A necessidade de uma sólida formação do jornalista especializado em Ciência é um dos
tópicos que influenciam a qualidade do Jornalismo Científico. Conforme mapeamento
realizado em 2004 (CALDAS et al., 2005) nas universidades brasileiras, em todas as áreas do
conhecimento, verificou-se nos cursos de graduação em Jornalismo um número limitado e
ultrapassado de bibliografia nas disciplinas que tratam de Jornalismo Científico. Em nível de
62
pós-graduação, o que se ressalta é a pouca oferta de cursos para profissionais que buscam
especialização na área.
Na atualidade, a qualidade da informação é um dos pontos mais relevantes e problemáticos
das discussões e análises sobre Jornalismo Científico. Para Bueno (2004), a qualidade da
informação deve ser mantida por dois motivos. Um deles é que a comunidade da Ciência não
costuma tolerar muito as imprecisões, visto que cientistas ou pesquisadores, enquanto fontes,
poderão ser mal avaliados pelos seus próprios pares. O outro é a reação negativa da
comunidade científica que, por se sentirem lesadas por uma má cobertura midiática pode
fechar-se para novas oportunidades de divulgação. “Algumas fontes científicas, sentindo-se
lesadas por uma matéria inadequada, chegam a fechar, definitivamente, as portas à imprensa,
o que pode significar um entrave à circulação de informações especializadas, visto que, para
alguns assuntos, as fontes no Brasil não são tão pródigas” (p. 54).
O posicionamento do jornalista deve superar o de um simples tradutor do discurso científico e
abarcar as funções social e de mediação exercidas pelo Jornalismo. Bueno (2004) considera
que a relação entre jornalista e fonte especializada deve ser de respeito, mas não de
submissão. A figura do jornalista ´esponja´, que, servilmente, se propõe a repetir, sem
contextualizar ou confrontar, as falas e opiniões dos cientistas ou pesquisadores está
definitivamente fora do tempo” (p. 55).
Caldas (2004, p. 77) tece críticas à atuação de jornalistas, pois considera que enquanto os
jornalistas não entenderem que não podem mais atuar como meros tradutores da informação
para o público em geral e reconhecerem que não existe informação neutra, o cenário não se
modificará.
Da mesma forma, a diversidade de fontes e a técnica jornalística de ouvir o outro lado devem
ser respeitadas também no Jornalismo Científico. “A discussão sobre temas complexos como
clonagem, pesquisa agropecuária, desenvolvimento sustentável passa, obrigatoriamente, pela
sociedade civil. Logo, é indispensável resgatar a participação dos atores sociais como fontes”
(BUENO, op. cit., p. 55-56).
A popularização do conhecimento científico passa, irremediavelmente, pela questão da
linguagem, já que os esforços para tornar acessível ao maior número de pessoas o
conhecimento especializado requer, para alguns, a tradução do discurso científico
(ALTHIER-REVUZ, 1999). Enquanto para outros trata-se da reformulação do discurso
científico (ORLANDI, 2001). Para outros, refere-se à formulação de um novo discurso
(ZAMBONI, 2001), que carrega as marcas do discurso científico e também do discurso
jornalístico.
2.4) A Compreensão Pública da Ciência, a Sociedade e a Mídia
O interesse de pesquisadores em descobrir quem é o público do noticiário científico teve
início na década de 50
38
. Krieghbaum (1967, p. 161-162), um dos primeiros a estudar e
pesquisar a popularização da Ciência, cita uma pesquisa feita em 1957, nos Estados Unidos,
pelo Centro de Pesquisas da Universidade de Michigan, para a National Association of
38
É oportuno lembrar que uma das primeiras pesquisas sobre o público avaliou que, entre 130 jornais veiculados
de 1939 a 1950 nos Estados Unidos, os assuntos de ciências, invenções, saúde e segurança despertavam mais
interesse do público que notícias de acidentes, governos nacional e local, recreação, esportes, arte, música e
literatura (BURKETT, 1990, p. 37).
63
Science Writers, em que foram entrevistados 1919 adultos norte-americanos. Desse total,
75,6% tinham conseguido se lembrar de alguma notícia sobre Ciência ou Medicina.
De acordo com a pesquisa, (idem, p. 68), 36,6% das pessoas entrevistadas se lembraram de
matérias sobre Ciência publicadas em jornais, 21,5% na televisão, 20,5% em revistas, 8,3%
em rádios e 48,2 não se lembraram de nenhuma matéria sobre Ciência. No caso de notícias
sobre Medicina, a pesquisa revelou que 60,2% das pessoas se lembraram de matérias de
jornais, 25% da televisão, 19,2% de revistas, 7,4% de rádio e 31,4% não se recordavam de
nenhuma matéria sobre Medicina.
A preocupação com a percepção que o público tem da Ciência e da Tecnologia começou, no
entanto, na década de 70. Nos Estados Unidos, a National Science Foundation (NSF) foi uma
das instituições pioneiras a medir a percepção do público.Entre os 15 volumes do Science
and Engineering Indicators, 14 contêm um capítulo dedicado à compreensão e às atitudes do
público em relação à C&T” (FAPESP, 2004, p. 4). Na década de 80, novos estudos foram
desenvolvidos, entre eles, com base em pesquisas de opinião, tendo como foco as tensões
entre as instituições de pesquisa e a sociedade.
No dia 15 de novembro de 1985, o jornal francês Okapi, de periodicidade mensal, voltado ao
público de 10 a 15 anos, publicou um questionário, com questões fechadas, intitulado
“Ciência, o que é isso para você?”. Dos mais de 6 mil questionários respondidos, Delacôte
(1987) selecionou 3.060 (os questionários que retornaram ao jornal até 31 de dezembro
daquele ano). Diante da pergunta, “Onde você encontra a maior parte das informações sobre
descobertas científicas?”, o pesquisador constatou que sete, em cada dez adolescentes,
obtinham a maior parte do conhecimento científico vindos da televisão. Outros meios,
segundo ele, foram: revistas especializadas (39%), livros (30%), museus (26%). Somente 25%
mencionaram a escola. Os menos citados foram histórias em quadrinhos e rádio (5%).
Uma outra edição do Science and Engineering Indicators, da NSF, de 1996, avaliou que o
nível de compreensão pública de conceitos básicos de Ciência é, recorrentemente, associado à
educação formal, mas enfatizou que os americanos recebiam a maior parte das informações
sobre Ciência de programas de televisão e de jornais. No ano de 1995, segundo o estudo, os
americanos assistiram, em média, a 409 horas de programas televisivos de notícias, dos quais
80 horas de programas sobre Ciência (TRUMBO, 2000).
Clifford, Gunter & McAller (1995) desenvolveram uma pesquisa, nos Estados Unidos, com
111 crianças (55, com idades entre 8 e 9 anos, e 56, com idades entre 14 e 15 anos) sobre a
percepção de dois programas televisivos temáticos sobre Ciência (Body Matters e Erasmus
Microman) a partir de questionários. O objetivo do estudo foi verificar a compreensão dos
conteúdos científicos pelas crianças e avaliar o acréscimo de conhecimento proporcionado por
tais programas. Os pesquisadores concluíram que as crianças das faixas etárias estudadas
avaliam a Ciência como algo desejável e benéfico. A opinião das crianças é de que a Ciência
deveria estar no horário nobre da televisão e não estar restrita a poucos canais ou apenas
apresentada em programas escolares. De acordo com o estudo, as crianças acreditam que
programas televisivos temáticos de Ciência podem comunicar importantes informações sobre
Ciência. Os pesquisadores concluíram, também, que as crianças podem aprender com tais
programas.
Wynne et al. (2005) desenvolveram, em 1996, um estudo sobre a percepção pública da
Ciência no Reino Unido através de observação participante, entrevistas em grupos e
64
estruturadas com um grupo de pessoas que herdaram um gene que faz elevar os níveis de
colesterol no sangue. Entre as conclusões a que os pesquisadores chegaram está a de que as
pessoas não usam, assimilam ou vivenciam a Ciência separadamente de outros elementos de
conhecimentos, julgamentos ou recomendações. Quase sempre, uma situação prática requer
um conhecimento suplementar para tornar a compreensão da Ciência válida e útil em um
contexto específico.
Outra conclusão do estudo é que o grau de organização coletiva ou individual do público é
uma variável social importante. Uma implicação disso é que as instituições científicas e
determinadas políticas que querem integrar a Ciência à vida do público leigo devem estar
organizadas de forma a entender e se relacionar melhor com a hierarquização das
preocupações e os conhecimentos do público, em vez de querer impor uma estrutura científica
de compreensão, como se essa, por si só, fosse adequada.
A pesquisa também concluiu que as pessoas julgam se podem ou não usar e confiar no
conhecimento de especialistas, em parte, comparando-o a elementos de seu próprio
conhecimento já testados e fruto de experiência direta. Outro apontamento do estudo é que as
pessoas vivenciam o conhecimento indiretamente, como parte de sua experiência concreta e
de sua posição em processos institucionais específicos.
De acordo com os autores (WYNNE et al., 2005), a compreensão ou não do público em
relação à Ciência não está baseada na capacidade intelectual mas em fatores sócio-
institucionais que têm a ver com o acesso, a confiança e a negociação sociais. No estudo,
concluiu-se que as pessoas podem parecer que estão indiferentes ao conhecimento científico
ou que são incapazes de digeri-lo, ao rejeitarem a hierarquização das preocupações dos
cientistas. A pesquisa mostrou também que a indiferença do público em relação às
informações científicas está quase sempre baseada na opinião de que elas não são úteis ou de
que não combinam com a experiência pessoal ou pública.
A edição de dezembro de 2001 do Eurobarômetro (setor de pesquisa de opinião pública da
União Européia), intitulado: Europeus, ciência e tecnologia, (SEMIR, 2003), apresenta as
principais fontes de informação (não excludentes entre si) sobre temas científicos para os
cidadãos dos países membros da União Européia são: televisão (60,3 %), jornal impresso (37
%), rádio (27,3 %), escola e universidade (22,3 %), revistas científicas (20,1 %) e Internet
(16,7 %).
León (2004) avaliou os telejornais de horário nobre (prime time) de redes públicas e privadas
de maiores audiências em cinco países europeus: França, Itália, Alemanha, Inglaterra e
Espanha, na semana de 22 a 28 de setembro de 2003. De acordo com o pesquisador, em geral,
a duração média das informações sobre Ciência e Tecnologia nos noticiários é, em geral,
insuficiente para contextualizar adequadamente os assuntos abordados.
Segundo o autor (idem), a Ciência e a Tecnologia não recebem atenção equivalente a outros
assuntos; o que contrasta com o interesse dos cidadãos pelo tema. Para o autor, somente as
matérias de maior duração lograram dar uma explicação suficiente para levar ao espectador
idéias precisas sobre o tema. O estudo salienta a importância de se aumentar a quantidade e a
qualidade das informações sobre Ciência e Tecnologia, “ainda que isto não pareça fácil no
contexto do atual mercado televisivo” (p. 79).
65
Na edição de 2006 do Science and Engineering Indicators, do NSF, no capítulo 7, intitulado
Science and Technology: Public Attitudes and Understanding, concluiu-se que os americanos
e os cidadãos de outros países continuam a obter a maioria das informações sobre C&T
através da televisão (como apontou o mesmo relatório dez anos antes). Entretanto, a Internet
configura-se como a fonte principal de informações especializadas. Segundo o estudo, a
maioria de americanos reconhece e aprecia os benefícios da C&T. Ainda de acordo com o
estudo, a maioria dos americanos não compreende os processos científicos e pode,
conseqüentemente, faltar uma ferramenta valiosa para avaliar a validez de várias
reivindicações que encontram na vida diária (NATIONAL SCIENCE FOUNDATION, 2006).
Seguindo a tendência do surgimento e expansão das novas mídias, as pesquisas acadêmicas,
nos últimos anos, também têm sido influenciadas significativamente pelo avanço da Internet
como fonte de informação em CT&I.
Através de pesquisas em três bases de dados sobre estudos acadêmicos na Europa Science
Citation Index Expanded (SCI-Expanded), Social Sciences, Citation Index (SSCI) e Arts &
Humanities Citation Index (A&HCI) Koolstra, Bos & Vermeulen (2006) averiguaram que,
na Europa, foram desenvolvidas, entre 1945 e 1960, 1.205 pesquisas sobre televisão e
nenhuma sobre Internet (já que esta última ainda não havia sido desenvolvida). Na Europa, de
1961 a 1970, foram concluídas 2.448 pesquisas sobre televisão e apenas uma sobre Internet.
De 1971 a 1980, 4.015 pesquisas foram sobre televisão e quatro sobre Internet. De 1981 a
1990 foram encontradas 4.956 pesquisas sobre televisão e 29 sobre Internet. A partir da
década de 90, entretanto, as pesquisas sobre Internet superam as pesquisas sobre televisão na
Europa. De 1991 a 2000 foram desenvolvidas 8.118 sobre TV e 13.208 sobre Internet. De
2000 a 2005 foram elaboradas 4.704 sobre televisão e 21.221 sobre Internet (cerca de quatro
vezes mais).
O total de pesquisas sobre as duas mídias na Europa de 1945 a 2005 também indica a
superação da televisão pela Internet: 25.446 sobre a primeira e 34.463 sobre a segunda
39
(KOOLSTRA, BOS & VERMEULEN, 2006).
À guisa dessas tendências, os pesquisadores acreditam no potencial da televisão para a
Divulgação Científica. Eles avaliaram que a televisão ainda deveria ser considerada o mais
importante meio para a Divulgação Científica por três motivos: 1) as pessoas usam mais
freqüentemente a televisão que a Internet; 2) a televisão é mais efetiva na comunicação de
mensagens para o público que a Internet; 3) as pessoas confiam mais na televisão que na
Internet na divulgação de informações sobre pesquisas (KOOLSTRA, BOS &
VERMEULEN, 2006).
39
O que se observa nos últimos anos, no entanto, é que, mesmo com características específicas de produção e
veiculação de mensagens, existem diversas possibilidades de se realizar a convergência entre a televisão (em
particular o telejornalismo) e a Internet, para a Divulgação Científica. Entre as experiências, destacam-se a
disponibilização de matérias telejornalísticas e documentários em sites e portais diversos, além da iniciativa de
fazer referências a sites nas próprias matérias exibidas pela TV. Na edição do dia 09 de maio de 2005, do Jornal
da Cultura (na matéria “Tratamento para endometriose”), por exemplo, a apresentadora Mônica Teixeira indicou
o endereço eletrônico em que o artigo científico, com o resultado da pesquisa, estava disponível. Em âmbito
internacional especificamente, o site TV Ciência on line” (endereço eletrônico: <http://www.tvciencia.pt>), de
Portugal, produz e veicula um telejornal diário, na Internet, específico de divulgação de CT&I. Nesse caso, as
matérias também podem ser produzidas pelo público e enviadas à equipe de Jornalismo, que as disponibilizam
no próprio site. Tal projeto é co-financiado pela União Européia FEDER, com apoio do Programa Operacional
Sociedade do Conhecimento e co-participação do Instituto de Investigação Científica Tropical.
66
Na América Latina, as pesquisas não estão tão desenvolvidas, no entanto, houve algumas
experiências no México, no Panamá, em Cuba e na Colômbia (FAPESP, 2004, p. 5). No
Brasil, a primeira pesquisa é de 1987, elaborada pelo Instituto Gallup, a pedido do CNPq, por
intermédio do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast). O estudo: O que o brasileiro
pensa sobre a Ciência e a Tecnologia teve como objetivo constituir indicadores e referências
na área de C&T a partir da imagem pública da Ciência. Em 1992, o Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT) desenvolveu a pesquisa nacional: O que o brasileiro pensa de ecologia,
sobre as opiniões e atitudes da população sobre o meio ambiente (idem, p. 5).
Mais recentemente, em 2001, a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) e a Rede
Ibero-Americana de Indicadores de Ciência e Tecnologia (Ricyt) do Programa
Iberoamericano Ciência y Tecnologia para el Desarrollo (Cyted), tomaram a iniciativa de
desenvolver estudos na América Latina com a finalidade de avaliar os fenômenos implicados
nos processos de Percepção Pública da Ciência (ibidem, p. 5).
Como parte desses estudos, a pesquisa comparativa, a partir de entrevistas em quatro países
Brasil, Argentina, Uruguai e Espanha apontou dados sobre a percepção pública da Ciência e
da Tecnologia. Em relação à freqüência de consumo de informação científica por meio de
algumas fontes de informação: jornais, televisão e revistas especializadas em Divulgação
Científica, o resultado tanto do Brasil como da Argentina, revelou que, em jornais, o consumo
é de 53,4% e televisão 64% da amostra pesquisada. Os dados do Uruguai apresentam perfil
mais equilibrado nas mesmas categorias. Para as revistas de Divulgação Científica, em todos
os países analisados, o consumo tem características fundamentalmente esporádicas (VOGT &
POLINO, 2003, p. 139 e 141).
De acordo com os autores (VOGT & POLINO, 2003), apesar do pouco hábito de consumo, os
entrevistados sentem que a oferta de notícias sobre Ciência e Tecnologia nos jornais é
“escassa” (81%). Notadamente, sobre a televisão, a grande maioria (85%) acha que os
noticiários têm “escassa” informação sobre Ciência e 14% se mostram contrários a essa
afirmação. Em relação aos “programas especiais” sobre Ciência, 66% dos entrevistados
consideram que a informação é “suficiente”, e 20% que é “escassa” (idem, p. 141-143).
2.5) A Compreensão Pública da Ciência, a Mídia e a Educação
O alcance dos meios de comunicação na atualidade vem chamando a atenção de
pesquisadores para a influência [e participação direta] desses no processo educativo
(BACCEGA, 1997, 2001; CITELLI, 2000; FUSARI, 1993; KAPLÚN, 1998, 1999; MORÁN
COSTAS, 1989; OROZCO, 1997, 2000; SIERRA, 2000; SOARES, 1999) .
Atualmente, as transformações que estão ocorrendo na sociedade exigem um repensar
sobre as formas de organização social, de aquisição de informações e de construção do
conhecimento. A escola, como um dos principais ambientes de convivência social,
também é afetada pelos discursos provenientes da mídia (ALBERGUINI, 2002, p.
29).
A mídia, nos dias de hoje, está amplamente difundida na vida das pessoas e faz parte do
processo educativo muito antes até do próprio ensino formal. “Já não se trata mais, portanto,
de discutir se devemos ou não utilizar os meios de comunicação no processo educacional ou
de procurar estratégias de educação para os meios. Trata-se de constatar que, educadores
primeiro, são eles que estão construindo a cidadania” (BACCEGA, 2003, p. 37).
67
Sobre isso, Caldas (2006, p. 128) avalia que a escola é um agente social fundamental para
interpretar o mundo, mão não único. “Não podemos, portanto, abrir mão de discutir, na sala
de aula, o fenômeno da mídia, especialmente a televisão, mas partir dela para a compreensão
crítica do mundo”.
Nesse aspecto, considerando a programação televisiva de modo geral, (da qual os assuntos de
CT&I fazem parte), diversas pesquisas apontam que crianças e jovens permanecem
diariamente mais tempo assistindo televisão do que na escola (LIVINGSTONE, HOLDEN &
BOVILL, 2002; GROEBEL, 2002; FEILITZEN, 2002). Esse fato, por si só, já é suficiente
para que a mídia seja analisada como um componente do processo educativo.
Um estudo realizado pela Unesco nos anos de 1996 e 1997 com cerca de 5 mil alunos de 12
anos de idade, de 23 países do mundo, inclusive o Brasil, apontou que 93% das crianças da
amostra tinham acesso a um aparelho de TV. Em todos os países tomados em conjunto, as
crianças de 12 anos passavam uma média de três horas diárias em frente à TV. Isso
corresponde a 50% a mais do tempo gasto com qualquer outra das atividades pesquisadas,
como lição de casa, ajudar a família, brincar, ficar com os amigos, ler, ouvir rádio, ouvir fitas
ou CD’s e usar o computador (GROEBEL, 2002, p. 70-71).
Calvo Hernando (2004), um dos maiores defensores da função educativa dos meios de
comunicação (em especial, das matérias de divulgação de Ciência), observa que o ensino
formal convive com a escola paralela” dos meios de comunicação, cujas técnicas,
apresentações e conteúdos são radicalmente diferentes dos da escola e exercem influência
considerável na inteligência, na afetividade, na personalidade moral e na escala de valores das
pessoas.
É preciso considerar que, nem sempre, o cunho educativo seja admitido como função ou
proposição dos meios de comunicação. Não se iludam cientistas e empresários com a
imprensa. Ela não é uma instituição educacional, nem tem por missão única e exclusiva a
disseminação de informações, no sentido bruto dessa palavra (LEITE, 2001, p. 08).
No entanto, tais conteúdos circulam pela sociedade e contribuem para a disseminação de
determinadas visões de mundo. Calvo Hernando (2004) salienta que, por sua influência sobre
o indivíduo e a sociedade, os meios de comunicação têm desempenhado, ainda que não
tenham isso como proposta, uma certa função educativa e formativa, nem sempre de caráter
positivo, pela própria natureza dos meios.
Ao investigar os estudos e as práticas de convergência da Comunicação com a Educação,
Soares (1999), identificou quatro áreas. Uma delas, a área de educação para a comunicação,
engloba reflexões em torno da relação entre os pólos vivos do processo de comunicação,
assim como programas de formação de receptores autônomos e críticos frente aos meios,
denominadas: educação para os meios, leitura crítica dos meios, recepção ativa, educação para
a comunicação e educação para recepção. Outra área é a da mediação tecnológica na
educação, que compreende os procedimentos e as reflexões em torno da presença e dos
múltiplos usos das tecnologias da informação na educação. O autor identificou também a área
de gestão comunicativa, voltada para o planejamento, execução e realização dos processos e
procedimentos que se articulam no âmbito da Comunicação/ Cultura/Educação, criando
ecossistemas comunicacionais. Além da área de reflexão epistemológica, que abarca o
conjunto de estudos sobre a inter-relação Comunicação-Educação enquanto fenômeno cultural
emergente.
68
A aproximação da Comunicação com a Educação não se limita, entretanto, ao ambiente
educativo formal, visto que os meios de comunicação participam da vida em sociedade e
influenciam [de forma positiva ou não] valores e atitudes sociais. Além de permear os
discursos de alunos e professores no ambiente escolar, as mensagens dos meios de
comunicação também são responsáveis por um modo específico de educação das pessoas que
não se encontram na instituição escolar.
Os meios de comunicação oferecem informações caracterizadas como uma das modalidades
da educação informal. Silva (2000) faz a distinção entre as modalidades formal, não-formal e
informal de educação. De acordo com o autor, a educação formal compreende as instituições
e meios de formação e ensino-aprendizagem enquadrados pela estrutura educativa graduada,
hierarquizada e oficializada de determinado país. A educação não-formal compreende o
conjunto de instituições e meios educativos de natureza intencional e com objetivos definidos,
mas que não faz parte do sistema formal. A educação informal compreende o conjunto de
processos e fatores que geram efeitos educativos sem estarem expressamente configurados
para tal fim. A educação informal é a que se promove sem mediação pedagógica explícita.
Fayard (2003) avalia que, historicamente, é possível identificar três componentes relacionados
aos objetivos da Comunicação Pública da Ciência. Em primeiro lugar, o político, pois a
produção do conhecimento especializado requer uma organização específica que isola o
mundo da produção científica da sociedade como um todo e a comunicação pretende
reconstruir a comunidade recriando laços entre a Ciência e a sociedade. O segundo, de acordo
com Fayard (idem), é o componente cognitivo tornar os conteúdos científicos
compreensíveis a não especialistas, através de ferramentas e mecanismos de comunicação. O
terceiro é o que ele chama de criativo, referente ao estímulo da inteligência e à capacidade das
audiências não-especializadas, permitindo que usem e adaptem o conhecimento científico à
vida cotidiana.
Relatório divulgado pelo Centro Interamericano de Periodismo Educativo y Científico para
la Prensa (CIMPEC), de 1976, aponta que a educação se estende por toda a vida das pessoas
e deve abarcar muitos e complexos fatores, por isso a escola não pode assumir, sozinha, as
funções educativas da sociedade, precisando atuar em conjunto com outras instituições, entre
elas os meios de comunicação.
Laetsch (1987) avalia que a Divulgação Científica é, de modo geral, um elemento da cultura e
tem como função ajudar as pessoas a compreenderem a si próprias, o ambiente em que vivem
e a relação entre os dois, além de satisfazer a curiosidade. Ademais, a curiosidade de
compreender Ciência é, para o autor, motivo suficiente para se promover a Divulgação
Científica.
Para alguns pesquisadores (TORRALES AGUIRRE, 1989; CALVO HERNANDO, 2004;
MARQUES DE MELO, 1982; REIS, 1984, 2001), o caráter educativo é intrínseco ao
Jornalismo Científico. Torrales Aguirre (1989, p. 95), afirma que o “Jornalismo Educativo e
Científico” faz parte da educação informal ou cósmica, pois “atua ao lado ou paralelamente ao
subsistema de Educação Formal ou escolarizada.
A escola é um dos espaços, por excelência, para o contato das pessoas com o conhecimento
científico. No entanto, os livros didáticos e os conteúdos programáticos não são as únicas
fontes de informação sobre CT&I, tendo em vista a presença dos meios de comunicação na
69
vida das pessoas e do espaço ainda que insuficiente que esses destinam a assuntos de
Ciência.
A defesa da função educativa do Jornalismo Científico, porém, não é unanimidade entre os
estudiosos. Beltrão (1982, apud CARLI, 1988, p. 22) defende que cabe ao jornalista informar
e orientar, pois, ao transmitir a mensagem científica, ele apenas adverte a sociedade. Para o
autor, “educar compete ao mestre, ao professor, aos líderes da comunidade que, de posse da
informação daquela informação, a encaminham ao intercâmbio de opiniões”.
Segundo Roqueplo (1974), ainda que divulgadores (vulgarisateurs) defendam certa
complementaridade entre os papéis pedagógicos da divulgação científica e do ensino formal,
os divulgadores, segundo o autor, são perfeitamente conscientes do fato de que a condição de
possibilidade desta complementaridade reside nas características do próprio modelo de
ensino, o que conduz o autor, por um lado, a uma crítica do ensino e, por outro, a uma
investigação positiva sobre quais deveriam ser as tarefas da escola e a divulgação.
Por outro lado, autores que se detiveram em analisar as funções da Divulgação Científica, no
geral, e do Jornalismo Científico, em particular, destacam, entre outros, o caráter educativo
das mensagens.
Já na década de 80, Marques de Melo (1982, p. 21) defendia o papel do Jornalismo Científico
como uma atividade principalmente educativa; deve ser dirigido à grande massa da população
e não apenas à sua elite; deve promover a popularização do conhecimento que está sendo
produzido nas universidades e centros de pesquisa, de modo a contribuir para a superação dos
muitos problemas que o povo enfrenta; deve utilizar uma linguagem capaz de permitir o
entendimento das informações pelo cidadão comum; deve gerar o desejo do conhecimento
permanente; despertando interesse pelos processos científicos e não pelos fatos isolados e
suas personagens; deve discutir a política científica, conscientizando a população que paga
impostos, a participar das decisões sobre a alocação de recursos que significam o
estabelecimento de prioridades na produção do saber e deve realizar um trabalho de iniciação
dos jovens ao mundo do conhecimento e de educação continuada dos adultos.
O Jornalismo Científico, para Calvo Hernando (2006b), ao divulgar o conhecimento para a
sociedade, é uma fonte de ensino e aprendizagem que busca tornar compreensíveis, para um
público amplo, as investigações científicas e tecnológicas.
De acordo com Bueno (1984) há seis funções básicas do Jornalismo Científico. São elas:
informativa, educativa, social, cultural, econômica e político-ideológica.
1) A função informativa é intrínseca à atividade jornalística, da qual o Jornalismo Científico é
uma especialização. Nesse aspecto, segundo ele, diante de uma demanda do público por
informações das áreas de Ciência e Tecnologia, os jornalistas científicos devem atender às
expectativas sociais.
2) A função educativa reside no princípio de que os jornalistas devem ter em mente que a
mídia pode ser a única forma de que parcela da população dispõe para obter informações
referentes a C&T. Daí, a responsabilidade do profissional que exerce a função de informar,
formar e conscientizar o público sobre as questões e repercussões da ciência e
tecnologia”(p.34).
70
3) A função social refere-se à intermediação exercida pelo jornalista científico entre os
produtores de Ciência e a sociedade. Além disso, leva em conta a discussão sobre os impactos
da C&T na sociedade.
4) A função cultural trata-se da tomada de posicionamento crítico do público, em relação à
informação divulgada e aos seus efeitos nas diferentes culturas. Para Bueno, o Jornalismo
Científico deve posicionar-se contra a ideologia modernizante difundida pelos meios de
comunicação, responsável pela adoção de inovações tecnológicas de impacto negativo em
sociedades subdesenvolvidas.
5) A função econômica refere-se à relação entre o desenvolvimento da Ciência (e sua
divulgação) e o setor produtivo.
6) A função político-ideológica refere-se ao relacionamento do jornalista científico com a
sociedade, ao divulgar os fatos que beneficiam a coletividade, impedindo o favorecimento de
interesses de países ou grupos hegemônicos em detrimento dos direitos dos cidadãos. “Os
compromissos político-ideológicos da ciência e da tecnologia devem estar presentes na
consciência do jornalista científico, evitando que ele funcione como mero reprodutor” (p. 40).
2.6) A Ciência na TV brasileira
Pretto (1993) identifica que a divulgação científica no Brasil começa, de forma incipiente, a
ganhar espaço a partir do início da década de 70, com a veiculação, no programa Fantástico,
da Rede Globo de Televisão, de matérias produzidas por correspondentes e que tratavam da
Ciência e da Tecnologia produzidas nos países desenvolvidos, especialmente nos Estados
Unidos.
O início da produção e veiculação de programas específicos de Divulgação Científica na
televisão brasileira, no entanto, data do final dos anos 70. Em outubro de 1979, estreou o
primeiro programa desse tipo o Nossa Ciência, na TV Educativa do Rio de Janeiro. Foram
dez programas, monotemáticos, produzidos e veiculados em horário nobre, às sextas-feiras à
noite. A proposta era divulgar a produção dos institutos de pesquisa do Rio de Janeiro
(JURBERG, 2001).
Depois desse, outros programas surgiram no início da década de 80, tais como: Estação
Ciência (Rede Manchete), Academia Amazônia (TV Cultura), Tome Ciência, Eco Realidade
(Fundação Roquete Pinto) e Globo Ciência (Rede Globo), o único daquela época (foi lançado
em 1984) que se mantém até hoje (idem).
Sobre as experiências de divulgação científica pela televisão, Pretto (op.cit) chama a atenção
de que, mesmo em se tratando de produções de significativa qualidade técnica e científica, as
emissoras as veiculam em horários secundários na programação das redes. É interessante
observar também que todas estas iniciativas são subvencionadas por dinheiro público. Nos
casos das emissoras estatais, os recursos vêm diretamente do orçamento da União, e das redes
privadas (Globo e Manchete), da Fundação Banco do Brasil (idem, p. 97).
Atualmente, no âmbito das emissoras nacionais de canal aberto, há alguns poucos programas
específicos ou que apresentam características de Divulgação Científica. A Rede Globo
veicula, semanalmente, o Globo Ciência. A partir de cenas do dia-a-dia, o programa
desmistifica a Ciência relacionando-a com a vida das pessoas. Fixa os conceitos básicos e,
sistematicamente, difunde informações úteis, de orientação e esclarecimento ao público. O
71
programa tem veiculação semanal com reprises. Outros programas da emissora que também
trazem informações sobre Ciência são o Globo Ecologia, com ênfase nas questões ambientais,
e o Globo Rural, voltado a temas agropecuários.
A TV Cultura de São Paulo
40
produz e veicula, semanalmente e com reprises, o Ver Ciência.
O programa exibe documentários internacionais sobre os mais diferentes temas ligados à
Ciência e à Tecnologia. São produções dos cinco continentes de países com realidades muito
diferentes. A apresentadora, no estúdio, desenvolve os assuntos e estimula o debate com
auxílio de cientistas, pesquisadores e professores convidados, que analisam o documentário
mostrando a importância do tema para a vida diária e o contexto das informações na realidade
científica brasileira. Além dele, outro programa da emissora que trata, entre outras
abordagens, de assuntos ligados a CT&I, é o Repórter Eco, voltado às questões ambientais.
Siqueira (1999) investigou o tratamento de mito dado à Ciência pelo discurso televisivo do
programa Fantástico, da Rede Globo. A autora buscou refletir sobre o impacto que tal forma
de veiculação da Ciência pode trazer para a sociedade contemporânea. Siqueira avaliou que o
discurso empregado pelo programa para tratar de Ciência embasa-se em mitos, rituais e
simbolismos. Segundo ela, o impacto que essas representações de Ciência podem ter sobre a
sociedade situa-se no plano do imaginário social e é profundamente relevante na construção
de uma consciência social.
Barata Fernandes (2006) identificou 105 notícias divulgadas sobre aids no programa
Fantástico (caracterizado pela Rede Globo no formato “Jornalismo”) entre 1983 e 1992, das
quais 26 priorizaram os aspectos científicos da enfermidade encontros científicos,
descobertas e avanços na prevenção, diagnóstico e tratamento. Rondelli (2004) também
investigou as matérias de Ciência no programa Fantástico. A pesquisadora realizou uma
análise de discurso sobre as reportagens de Ciência do programa.
A importância da Compreensão Pública da Ciência é um fato incontestável na atualidade e a
cobertura da mídia reflete essa tendência. Mesmo com a pouca expressividade de programas
de Divulgação Científica na televisão no Brasil, principalmente de produção nacional, é
possível avaliar que o telejornalismo tem aberto espaço para temas científicos. “Não é raro
vermos pesquisadores dividindo, por alguns minutos, as bancadas dos apresentadores de
telejornais para comentar e dar a versão científica para ocorrências” (CARVALHO, 2003, p.
127).
2.7) Considerações finais do capítulo
As pesquisas realizadas nos sites das associações científicas do Campo da Comunicação, nos
cursos des-graduação e periódicos especializados revelaram um amplo desenvolvimento da
subárea de Comunicação [ou Compreensão] Pública da Ciência no mundo.
No Brasil, os dados apontam que diversas pesquisas de pós-graduação vêm sendo realizadas
tanto nos programas de pós-graduação em Comunicação, do qual se destacam os trabalhos da
Universidade Metodista de São Paulo, quanto em outras áreas do conhecimento que têm a
Ciência nos meios de comunicação como objeto de estudo.
A partir da confluência e análise de todos os dados coletados e compilados, pela autora, na
pesquisa, foi possível traçar uma proposta de taxonomia para a subárea. Para o
40
A TV Cultura também veicula séries de curta duração, com um número definido de episódios.
72
desenvolvimento da proposta foram avaliados todos os conceitos disponibilizados por cada
um dos tópicos selecionados e, assim, organizadas as especialidades relacionadas.
A análise da bibliografia (de livros e, principalmente, de artigos científicos), em nível
internacional, mostra que a Compreensão Pública da Ciência é preocupação de pesquisadores,
governos e instituições ligadas à pesquisa.
Na América Latina, e em particular no Brasil, cada vez mais o assunto desperta o interesse de
pesquisadores. Sobre a prática do Jornalismo Científico e da Divulgação Científica através da
mídia, também é possível notar, nos últimos anos, o surgimento de veículos de comunicação
específicos, como revistas e sites. Observa-se, também, a ampliação dos espaços nos meios de
comunicação já existentes para tratar do assunto.
73
CAPÍTULO III:
CIÊNCIA E EDUCAÇÃO NO TELEJORNALISMO
Apresentação
O terceiro capítulo traça um panorama atual do telejornalismo brasileiro de canal aberto e o
espaço ocupado por estes na programação das emissoras. Apresenta, também, uma revisão de
literatura sobre telejornalismo focada no objetivo central da tese (analisar a contribuição das
matérias sobre CT&I dos telejornais para a Compreensão Pública da Ciência). Além disso,
aborda a função educativa, atribuída a esses programas por pesquisadores e profissionais.
3.1) O telejornalismo no Brasil
O telejornalismo chegou ao Brasil em 1950 com a própria implantação da televisão
41
. O
primeiro programa telejornalístico chamava-se Imagens do Dia e durou cerca de dois anos
(SQUIRRA, 1993). Passados pouco mais de 56 anos, constata-se que o telejornalismo
brasileiro ocupa, cada vez mais, lugar estratégico. “Na grade da programação das emissoras,
os telejornais, produtos de informação de maior impacto na sociedade contemporânea,
vendem credibilidade e atraem investimentos” (BECKER, 2006, p. 69). Atualmente, são oito
emissoras nacionais transmitidas em VHF (Very High Frequency): Rede Globo, Rede
Bandeirantes, Rede Record, Rede Cultura de Televisão, TVE Brasil, Sistema Brasileiro de
Televisão (SBT), TV Gazeta e Rede TV!. Todas elas veiculam telejornais no mínimo três (TV
Gazeta) e, no máximo catorze (Rede Globo) programas (incluindo os de esportes). A partir de
levantamento realizado em janeiro de 2007, é possível identificar o espaço dado ao
Jornalismo nas emissoras de canal aberto nacionais
42
.
3.1.1) Rede Globo
43
A grade telejornalística da emissora conta com sete programas diários de segunda à sexta-
feira, assim como os flashes diários, tanto os de rede nacional (Globo Notícia, com duas
edições distintas, de aproximadamente três ou quatro minutos cada) como os de emissoras
afiliadas, com caráter local/regional. Além deles, a emissora classifica como Jornalismo os
semanais Globo Repórter (veiculado às sextas-feiras, das 22h05 às 23h05) e Fantástico
(veiculado aos domingos, das 20h30 às 22h50) e o diário Globo Rural (de segunda à sexta-
feira, das 6h15 às 6h30 e aos domingos, das 8h05 às 9h). São veiculados, ainda, programas
específicos de esportes o Esporte Espetacular (veiculado aos domingos, das 9h30 às
12h30), o Auto Esporte (também veiculado aos domingos, das 9h às 9h30) e o Globo Esporte
(de segunda a sábado, das 12h45 às 13h15).
O Jornalismo da emissora tem início às 6h15 (com o Globo Rural) e vai até às 0h35 (Jornal
da Globo, na segunda-feira). De segunda à sexta-feira, a Rede Globo veicula, diariamente, em
média, quatro horas e 41 minutos de programação jornalística (considerando os intervalos
comerciais). Somando-se os programas esportivos, essa conta sobe cinco horas e 11 minutos
diários. Excepcionalmente, às sextas-feiras, esse tempo aumenta em uma hora, por causa do
Globo Repórter. Aos sábados, são veiculadas duas horas e 18 minutos de programação
41
Sobre a história do telejornalismo brasileiro, ver Mattos (2000), Bucci (2000), Squirra (1993).
42
É preciso considerar que o telejornalismo pode estar presente em programas com outras temáticas, como
cultura, por exemplo. No entanto, neste levantamento, foram selecionados os programas classificados pelas
próprias emissoras, nos respectivos sites, especificamente, nos formatos “Jornalismo” e “Esportes”, nas semanas
de 7 a 13 e 14 a 20 de janeiro de 2007. Para um estudo específico do esporte na programação televisiva, ver em
referências bibliográficas: CAMARGO, Vera Regina T. de. O telejornalismo e o esporte-espetáculo, 1998.
43
http://redeglobo.globo.com
74
jornalística (ou duas horas e 48 minutos ao se contar a programação esportiva) e aos
domingos são veiculadas três horas e 18 minutos (somando-se os programas esportivos
Esporte Espetacular e Auto Esporte resulta-se em quatro horas e 48 minutos). São os
seguintes telejornais produzidos e veiculados pela Rede Globo:
Tabela da grade de programação telejornalística da Rede Globo de Televisão
Telejornal Veiculação (dia/s da semana e horário) Duração (com os
intervalos)
Jornal Nacional Segunda à sexta (das 20h15 às 20h50) e
aos sábados (das 20h15 às 20h55)
35 minutos de segunda à
sexta e 40 minutos aos
sábados
Jornal da Globo Segunda (das 0h05 às 0h35), terça (das
23h55 às 0h30), quarta e quinta (23h30 às
0h05) e sexta-feira (das 23h55 à 0h25)
35 minutos de terça à
quinta-feira e 30 minutos
de segunda e sexta-feira
Jornal Hoje Segunda a sábado (das 13h15 às 13h45) 30 minutos
Bom Dia Brasil Segunda à sexta-feira (das 7h15 às 8h05) 50 minutos
Bom Dia Praça
44
Segunda à sexta-feira (das 6h30 às 7h15) 45 minutos
Globo Rural Segunda à sexta-feira (das 6h15 às 6h30)
e domingos (das 8h05 às 9h)
15 minutos (de segunda à
sexta) e 55 minutos (aos
domingos)
Globo Notícia Segunda à sexta-feira (das 9h22 às 9h25 e
das 17h37 às 17h41), aos sábados (das
16h25 às 16h28) e aos domingos (das
16h49 às 16h52)
Varia de 3 a 4 minutos
por edição
Praça TV 1ª edição Segunda a sábado (das 12h às 12h45) 45 minutos
Praça TV 2ª edição Segunda a sábado (das 19h às 19h20) 20 minutos
Fantástico Domingo (das 20h30 às 22h50) 2 horas e 20 minutos
Globo Repórter Sexta-feira (das 22h05 às 23h05) 1 hora
Auto Esporte Domingo (das 9h às 9h30) 30 minutos
Globo Esporte Segunda a sábado (das 12h45 às 13h15) 30 minutos
Esporte Espetacular Domingos (das 9h30 às 12h30) 1 hora
ALBERGUINI, Audre Cristina. (2007) Tabela construída pela autora a partir dos dados disponibilizados no site.
44
Bom Dia Praça e Praça TV são os nomes que a emissora dá aos noticiários regionais (Bom Dia São Paulo e
Bom Dia Rio, por exemplo) e locais (SP TV e RJ TV, por exemplo).
75
3.1.2) Rede Bandeirantes
45
A Rede Bandeirantese no ar, durante a semana, quatro telejornais de alcance nacional. São
eles: Jornal da Band, Brasil Urgente, Jornal da Noite e Primeiro Jornal. Juntos,
considerando os intervalos comerciais, eles somam três horas e 15 minutos de programação
jornalística diária. Somando os diários esportivos (Esporte Total e Esporte Total 2ª edição),
essa soma resulta em quatro horas. Aos sábados, o total é de uma hora e 15 minutos.
Considerando-se a programação telejornalística esportiva dos sábados, a soma sobe para três
horas e 20 minutos. Aos domingos, é apresentada uma hora de programação jornalística e,
tomando-se a programação jornalística especializada em esportes (Esporte Interativo e Show
do Esporte), o total é de quatro horas e 30 minutos. Além dos programas em rede, há a
programação regional que contempla Jornalismo.
Tabela da grade de programação telejornalística da Rede Bandeirantes
Telejornal Veiculação (dia/s da semana e
horário)
Duração (com os
intervalos)
Jornal da Band Segunda à sexta-feira (das 19h20
às 20h15) e aos sábados (das
19h50 às 20h40)
55 minutos
Brasil Urgente Segunda à sexta-feira (das 18h15
às 19h20) e aos sábados (das
19h25 às 19h50)
1 hora e 5 minutos
Canal Livre Domingo (das 22h30 às 23h30) 1 hora
Jornal da Noite Terça à quinta-feira (das 0h30 às
1h15) e segunda e sexta-feira (das
0h45 às 1h30)
45 minutos
Primeiro Jornal Segunda à sexta-feira (das 8h30 às
9h)
30 minutos
Esporte Total Segunda à sexta-feira (das 12h às
12h30)
30 minutos
Esporte Total - 2ª edição
Segunda à sexta-feira (das 18h às
18h15)
15 minutos
Esporte Interativo Sábado (das 17h20 às 19h25),
Domingo (das 12h às 14h)
1 hora e 5 minutos aos
sábados e 2 horas aos
domingos
Show do Esporte Domingo (das 21h às 22h30) 1 hora e 30 minutos
ALBERGUINI, Audre Cristina. (2007) Tabela construída pela autora a partir dos dados disponibilizados no site.
45
http://www.band.com.br
76
3.1.3) Rede Record
46
A Rede Record veicula, diariamente, de segunda a sábado, sete programas telejornalísticos
(Jornal da Record, SP no ar, SP Record 1ª edição, SP Record 2ª edição, Jornal 24 horas,
Tudo a Ver 2ª edição e Fala Brasil). Ao todo, esses somam quatro horas e 10 minutos de
programação jornalística diária (considerando-se os intervalos comerciais). Às segundas-
feiras, acrescenta-se uma hora a essa programação, com a veiculação do Repórter Record.
Levando-se em conta também a programação telejornalística específica de esportes durante a
semana, o total é de cinco horas e 30 minutos diários. Aos sábados, a soma da programação
jornalística é de uma hora e 45 minutos. Aos domingos, são três horas de programação
jornalística e três horas e 45 minutos considerando-se o programa esportivo.
Tabela da grade de programação telejornalística da Rede Record
Telejornal Veiculação (dia/s da semana e
horário)
Duração (com os
intervalos)
Jornal da Record Segunda à sexta-feira (das 20h às
20h30) e sábado (das 19h45 às
20h15)
30 minutos
Repórter Record Segundas-feiras (das 23h à meia
noite)
1 hora
SP no ar Segunda à sexta-feira (das 7h às
7h45)
45 minutos
SP Record 1ª edição Segunda à sexta-feira (das 14h às
14h40)
40 minutos
SP Record 2ª edição Segunda à sexta-feira (das 19h30
às 20h) e sábado (das 19h15 às
19h45)
30 minutos
Jornal 24 horas Segunda à sexta-feira (das 0h45 às
1h15)
30 minutos
Tudo a Ver 2ª edição Segunda à sexta-feira (21h15 às
22h) e sábado (das 21h30 às 22h)
45 minutos
Domingo Espetacular Domingo (das 18h às 21h) 3 horas
Fala Brasil Segunda à sexta-feira (das 7h45 às
9h15)
30 minutos
Terceiro Tempo Domingo (das 23h15 às 1h) 45 minutos
Esporte Record Segunda à sexta-feira (das 11h40
às 12h15)
35 minutos
Debate Bola Segunda à sexta-feira (das 12h15
às 13h)
45 minutos
ALBERGUINI, Audre Cristina. (2007) Tabela construída pela autora a partir dos dados disponibilizados no site.
46
http://www.rederecord.com.br
77
3.1.4) Rede Cultura de Televisão
47
A Rede Cultura apresenta quatro telejornais diários de segunda à sexta-feira, num total de
duas horas e 50 minutos por dia de Jornalismo. Um desses telejornais não é produzido pela
emissora. Trata-se de uma retransmissão (legendada) do telejornal francês Le Journal TV 5.
Além dos diários, há os semanais Conexão Roberto D´ Ávila e Roda Viva (programas de
entrevistas que a emissora classifica como telejornalístico), Observatório da Imprensa (que
consta no site, mas não era apresentado na semana pesquisada), Opinião Nacional
(apresentado três vezes por semana) e os semanais específicos de esportes Cartão Verde e
Grandes Momentos do Esporte (que também não consta na programação da semana
investigada). Aos sábados são apresentados dois telejornais, no total de uma hora. Aos
domingos são apresentadas três horas de Jornalismo na emissora.
Tabela da grade de programação telejornalística da TV Cultura
Telejornal Veiculação (dia/s da
semana e horário)
Duração (com os
intervalos)
Jornal da Cultura Segunda à sexta-feira (das
22h às 22h40) e aos sábados
e domingos (das 22h às
22h30)
30 minutos
Cultura Meio Dia Segunda à sexta-feira (das
12h às 13h)
1 hora
Cultura Noite Segunda à sexta-feira (das
19h às 19h50)
50 minutos
Opinião Nacional Terça, quarta e sexta-feira
(das 0h40 às 1h15)
30 minutos
Le Journal TV 5 Segunda à sexta-feira (das
6h30 às 7h)
30 minutos
Balanço Social Sábado (das 8h30 às 9h) e
domingo (das 20h às 20h30)
30 minutos
Conexão Roberto D´Ávila Quarta-feira (das 23h40 às
0h40)
1 hora
Repórter Eco Domingo (das 16h30 às 17h) 30 minutos
Roda Viva Segunda-feira (das 22h40 à
0h10) e Domingo (das 2h às
3h30)
1 hora e 30 minutos
Observatório da Imprensa Não consta da programação
da semana
Cartão Verde Segunda-feira (das 21h às
22h)
1 hora
Grandes Momentos do
Esporte
Não consta da programação
da semana
ALBERGUINI, Audre Cristina. (2007) Tabela construída pela autora a partir dos dados disponibilizados no site.
47
http:// www.tvcultura.com.br
78
3.1.5) TVE Brasil
48
A TVE Brasil veicula cinco telejornais diários de segunda à sexta-feira, somando três horas e
cinco minutos de Jornalismo. Aos domingos, apresenta um telejornal de esportes de uma hora
e 30 minutos de duração. Além disso, retransmite, ao longo da semana, três programas
produzidos pela Rede Cultura: Repórter Eco (veiculado também aos sábados), Conexão
Roberto D´Ávila e Observatório da Imprensa.
Tabela da grade de programação telejornalística da TVE Brasil
Telejornal Veiculação (dia/s da semana e
horário)
Duração (com os
intervalos)
Repórter Nacional Segunda à sexta-feira (das 8h às 9h) 1 hora
Jornal Visual Segunda à sexta-feira (das 12h25 às
12h30)
5 minutos
Notícias do Rio Segunda à sexta-feira (das 12h30 às
13h)
30 minutos
Edição Nacional Segunda à sexta-feira (das 22h às
22h45)
45 minutos
Espaço Público Segunda à sexta-feira (das 22h às
22h45)
45 minutos
Esportvisão Domingo (das 21h às 22h30) 1 hora e 30 minutos
Repórter Eco Quarta-feira (das 19h30 às 20h) e
Sábado (das 13h30 às 14h)
30 minutos
Conexão Roberto D´Ávila Sexta-feira (das 22h30 às 23h30) 1 hora
Observatório da Imprensa Não consta da programação da semana
ALBERGUINI, Audre Cristina. (2007) Tabela construída pela autora a partir dos dados disponibilizados no site.
3.1.6) Sistema Brasileiro de Televisão (SBT)
49
O SBT possui quatro telejornais em sua grade diária de programação (de segunda à sexta-
feira): Jornal da Massa, Jornal do SBT Edição da Manhã, Jornal do SBT Edição da Noite
e SBT Brasil (o único apresentado também aos sábados). Diariamente são apresentadas entre
duas horas e cinco minutos e duas horas e 35 minutos de Jornalismo. Às quartas-feiras, há
também o SBT Repórter. Aos sábados, apenas o SBT Brasil é veiculado e aos domingos
nenhum telejornal é veiculado.
Tabela da grade de programação telejornalística do SBT
Telejornal Veiculação (dia/s da semana e horário) Duração (com os
intervalos)
SBT Brasil Segunda a sábado (das 21h30 às 22h05) 35 minutos
Jornal do SBTEd. Manhã
Segunda à sexta-feira (das 6h às 7h) 1 hora
Jornal do SBTEd. Noite Segunda, terça, quinta e sexta-feira (da
0h05h à 0h35/ quarta-feira das 23h45 às
0h45)
30 minutos / 1h
Jornal da Massa Segunda à sexta-feira (das 18h30 às 19h) 30 minutos
SBT Repórter Quarta-feira (das 22h45 às 23h45) 1 hora
ALBERGUINI, Audre Cristina. (2007) Tabela construída pela autora a partir de acompanhamento da programação da emissora
48
http://www.tvebrasil.com.br
49
O SBT não divulga, no site ou para os meios de comunicação, sua programação. Por isso, para identificar os
programas foi realizado o acompanhamento da programação durante as semanas selecionadas.
79
3.1.7) TV Gazeta
50
A TV Gazeta apresenta três telejornais diários de segunda à sexta-feira (um deles possui duas
edições), totalizando duas horas e 16 minutos de Jornalismo diariamente, incluindo uma hora
do telejornal específico de esportes. Aos sábados é veiculado apenas um telejornal com
duração de 30 minutos. Aos domingos, no entanto, nenhum telejornal é veiculado.
Tabela da grade de programação telejornalística da TV Gazeta
Telejornal Veiculação (dia/s da semana e
horário)
Duração (com os
intervalos)
Gazeta News Segunda à sexta-feira (das 11h às
11h10 e das 17h54 às 18h)
10 minutos / 6 minutos
Jornal da Gazeta Segunda à sexta-feira (das 19h às
20h) e sábado (das 19h30 às 20h)
1 hora (segunda à sexta-feira)
e 30 minutos (sábado)
Gazeta Esportiva Segunda à sexta-feira (das 18h às
19h)
1 hora
ALBERGUINI, Audre Cristina. (2007) Tabela construída pela autora a partir dos dados disponibilizados no site.
3.1.8) Rede TV!
51
A Rede TV! apresenta quatro telejornais diários de segunda à sexta-feira no total de duas
horas e 20 minutos (às sextas-feiras o tempo é de duas horas e 10 minutos). Aos sábados,
contando o programa específico de esportes, são transmitidos três telejornais, no total de duas
horas e 20 minutos de Jornalismo, mas aos domingos não é divulgado nenhum telejornal.
Tabela da grade de programação telejornalística da Rede TV!
Telejornal Veiculação (dia/s da
semana e horário)
Duração (com os
intervalos)
Rede TV! News Segunda a sábado (das 21h10
às 22h05)
55 minutos
Leitura Dinâmica Segunda e terça (das 23h35
às 0h05), quarta e quinta-
feira (das 23h35 à 0h05)
sexta (0h10 à 0h30)
30 minutos / 20 minutos
(sexta-feira)
TV Esporte Notícias Segunda à sexta-feira (das
11h45 às 12h10) e sábado
(das 14h às 14h30)
25 minutos
Rede TV! Esporte Segunda à sexta-feira (das
18h10 às 18h40)
30 minutos
Top Sports Sábado (das 12h às 13h) 1 hora
ALBERGUINI, Audre Cristina. (2007) Tabela construída pela autora a partir dos dados disponibilizados no site.
50
http:// www.tvgazeta.com.br
51
http://www.redetv.com.br
80
3.2) O telejornal e as matérias sobre CT&I
O interesse de pesquisadores no telejornalismo brasileiro tem possibilitado valiosas
contribuições para o melhor entendimento do assunto. Neste estudo, em particular, optou-se
pela análise de algumas das características das matérias telejornalísticas que se mostraram
relevantes para a análise da divulgação de CT&I. A partir desse pressuposto, o telejornal foi
analisado em relação a três aspectos: 1) critérios de escolha dos assuntos (valores-notícia), 2)
o caráter sensacionalista e espetacular das matérias apontados por estudiosos e 3) o papel
educativo das matérias sobre CT&I dos telejornais.
Os valores-notícia em telejornalismo
Diversos pesquisadores (LAGE, 2001; KOVACK & ROSENSTIEL, 2003; WOLF, 2003;
ERBOLATO, 1991; CHAPARRO, 1994; KUNCZIK, 2002) contribuíram para a identificação
de valores-notícia em Jornalismo. Entre os principais critérios sistematizados, de modo geral,
pelos autores, estão: novidade, proximidade geográfica do fato, oportunidade, raridade,
interesse pessoal e econômico do assunto, conflito, humor, progresso, impacto social
provocado pelo fato, importância do assunto e identificação humana.
Silva (2005, p. 96) define noticiabilidade (newsworthiness) como todo e qualquer fator
potencialmente capaz de agir no processo da produção da notícia, desde características do
fato, julgamentos pessoais do jornalista, cultura profissional da categoria, condições
favorecedoras ou limitantes da empresa de mídia, qualidade do material, relação com as
fontes e com o público, fatores éticos e também circunstâncias históricas, políticas,
econômicas e sociais. Trata-se, segundo a autora, de um conjunto de elementos por meio dos
quais a empresa jornalística controla e administra a quantidade e o tipo de acontecimentos e o
conjunto de elementos intrínsecos que demonstram a aptidão ou o potencial de um evento
para ser transformado em notícia. Para a autora, os critérios de noticiabilidade em Jornalismo
baseiam-se em três instâncias:
1) critérios de noticiabilidade na origem do fato, considerando os atributos intrínsecos ao
fato.
2) critérios de seleção no tratamento dos fatos, centrando-se na seleção hierárquica dos
fatos e levando-se em conta fatores inseridos dentro da empresa jornalística, tais como prazo
de fechamento, qualidade do material apurado e infra-estrutura disponível.
3) critérios na visão dos fatos, a partir de fundamentos éticos, filosóficos e epistemológicos
do Jornalismo, como verdade, objetividade, interesse público, imparcialidade, que orientam as
ações e intenções de jornalistas e da empresa de mídia.
A partir dessa conceituação, Silva (2005, p. 104) propõe um conjunto de valores-notícias para
operacionalizar análises de acontecimentos noticiáveis/noticiados. São eles: impacto,
proeminência (das pessoas envolvidas no fato), conflito, entretenimento/curiosidade,
polêmica, conhecimento/cultura, raridade, proximidade, surpresa, governo (interesses e
medidas governamentais), tragédia/drama, justiça (julgamentos, denúncias, apreensões).
No caso do telejornalismo, os critérios de seleção dos fatos para serem noticiados nos
telejornais também refletem diversos interesses, tendo em vista que os meios de comunicação
são empresas que precisam vender seus produtos e, no caso do Jornalismo, as notícias são os
produtos (MEDINA, 1988). Um dos critérios mais polêmicos de seleção das notícias refere-se
aos interesses corporativos das empresas jornalísticas em detrimento do interesse público. “O
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horizonte de decisões empresariais e as estratégias de cobertura jornalística têm de levar em
conta os interesses corporativos em escala transnacional, particularmente os interesses da
mídia americana” (ARBEX Jr, 2001, p. 99).
A seleção de fatos que se tornarão notícias nos telejornais, segundo Arbex Jr (idem), obedece
aos critérios estipulados pela própria empresa jornalística nas relações que estabelece com as
diversas esferas sociais de que faz parte.
´Fatos´ e ´notícias´ não existem por si só, como entidades “naturais”. Ao contrário,
são assim designados por alguém (por exemplo, por um editor), por motivos
(culturais, sociais, econômicos, políticos) que nem sempre são óbvios. Mas essa
operação fica oculta sob o manto mistificador da suposta ´objetividade jornalística´
(ARBEX Jr, 2001, p. 103).
A empresa jornalística, para Baccega (2003, p. 26), desempenha uma “mediação
organizativa”, que leva em consideração o público receptor procurando selecionar o que há
de mais conveniente tanto para os interesses da empresa quanto para o perfil médio do
público.
Se é verdade que o receptor (enunciatário/enunciador) mobiliza seu universo cultural
para interpretar o que aparece nos meios de comunicação, seja de que gênero for,
também é verdade que temos de levar em conta em nossas reflexões a mediação, o
filtro que antecede o que ele está vendo, ouvindo ou lendo: a mediação no campo da
produção. Ele só interpretará aquilo que chegou ao seu conhecimento. E aquilo que
chegou ao seu conhecimento foi escolhido, no âmbito da produção, levando em conta
vários aspectos, sobretudo a orientação da empresa detentora daquela mídia
(BACCEGA, 2003, p. 26).
As escolhas dos jornalistas e as rotinas produtivas das equipes dos telejornais também
incorporam os valores-notícias. “Não se pode entender os critérios de seleção só como uma
escolha subjetiva do jornalista, mas como um componente complexo que se desenrola ao
longo do processo produtivo. Critérios esses que estão relacionados com a própria
noticiabilidade do fato” (VIZEU, 2006, p. 21).
A noticiabilidade de um fato é constantemente negociada entre a equipe de produção de
produção do telejornal. “O editor-chefe negocia com a sub-chefia de reportagem e com os
editores de texto os fatos que podem ser noticiáveis (VIZEU, 2006, p. 21-22).
Algumas características atribuídas ao fato também fazem parte dos critérios utilizados para
determinar se um fato é ou não notícia no telejornal. Temer (2003, p. 42) avalia que os
critérios de noticiabilidade perpassam a seleção de fatos pelo interesse público que despertam,
pela carga emocional ou pelo aspecto hilariante. Com isso, a notícia passa a ser narrada com
uma certa interpretação e até dramatização”.
Para Marcondes Filho (2002), tais critérios levam em conta o caráter sensacional que o fato
pode proporcionar. “Há, naturalmente, um consenso no meio jornalístico que o fato tem de ter
algo de espetacular ou sensacional, tem de trazer emoção e testemunho” (p. 107).
A escolha dos fatos atende, ainda, ao aspecto da espetacularidade. Escolhem-se fatos que
possam ser, eles próprios, verdadeiros espetáculos de imagens, de emoções construídas, de
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resgate de sentimentos às vezes ocultados pelo público e que encontram espaço, desse modo,
para se expandir (BACCEGA, 2003, p. 25).
Para Marcondes Filho (1994), no telejornal a informação pura e simples já não é tão
importante, mas é a encenação da informação que toma o lugar principal. Valem mais os
efeitos de choque, de impacto, de êxtase, de tensão desenvolvidos em estúdio do que os
desdobramentos políticos ocorridos no local da ação (idem, p. 49-50).
A carga emotiva atribuída ao fato também é um dos critérios para a seleção de notícias nos
telejornais. Para Orozco Gómez (2005, p. 30), a apelação emotiva é um recurso televisivo
resultante da combinação de suas possibilidades técnicas de imediatismo, de provisão de
imagens e de ênfase discursiva que permitem à TV fazer associações audiovisuais que não
obedecem a uma lógica tradicional de narração oral ou escrita, mas que conduzem a outros
tipos de padrões, de acordo com o que alguns teóricos da comunicação denominariam de
“racionalidade eletrônica”.
Em relação às matérias específicas sobre Ciência, Tecnologia e Inovação, Burkett (1990)
avalia alguns critérios relevantes de seleção de fatos para a publicação nos meio de
comunicação.
1. Senso de oportunidade: ocorre quando acontecimentos considerados “velhos” (num
passado próximo ou distante) para serem noticiados, voltam a despertar interesse porque um
fato do presente tem ligação com aquele do passado. Dessa forma, o fato atual proporciona
um “gancho noticioso” para que a história perdure. Para o autor, o senso de oportunidade na
reportagem científica significa mais do que simplesmente imediatismo. Pode acontecer hoje
um evento que requeira uma olhada nas notícias de ontem.
2. “Timing”: este critério está intimamente relacionado com o senso de oportunidade e refere-
se à ocorrência de algum evento estranho à Ciência. O autor cita o exemplo de publicar no
Natal uma matéria baseada em uma nova pesquisa sobre melancolia natalina.
3. Impacto: ocorre quando a notícia afeta amplamente o público. De acordo com o autor, uma
história científica trivial pode vir a ser publicada em todo o mundo quando os redatores e
editores percebem que irá interessar um grande segmento de seus leitores. Para Burkett (idem,
p. 51), uma doença mortal ou debilitante pode não merecer atenção especial tanto da Ciência
quanto dos veículos de comunicação quando o número de pessoas afligidas por ela é pequeno
demais para chamar a atenção dos jornalistas ou daqueles que distribuem as verbas de
pesquisa.
4. Significado: o significado de alguma coisa para a Ciência precisa ser mostrado a partir do
significado que este tem para o público, o que pode fazer com que uma matéria seja
publicada. O autor exemplifica com a descoberta de um novo fenômeno, tal como um buraco
negro, ou a confirmação de algum evento ou fenômeno predito por uma das grandes teorias,
tal como ondas de gravidade. Tais acontecimentos estimulam a imaginação embora não
afetem diretamente a vida das pessoas.
5. Pioneirismo: pioneirismo e singularidade, segundo o autor, trazem em si a novidade, o furo
noticioso. Ser o primeiro em uma descoberta ou teoria é o objetivo da pesquisa. Os primeiros
são notícia.
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6. Interesse humano: segundo o autor, este critério é encontrado em matérias que apelam às
emoções. O interesse humano, de acordo com Burkett (1990), está presente em matérias sobre
pessoas, mas também sobre animais. Relacionado à história de interesse humano está o perfil
de personalidades e, inclusive, de histórias de cientistas.
7. Cientistas célebres: uma parte do perfil de personalidade é a entrevista de uma celebridade
ou autoridade. Poucos cientistas, segundo o autor, são tão reconhecidos pelo nome ou pelo
rosto quanto os atores ou outras pessoas consideradas celebridades. Por outro lado, há um
grande número de cientistas cujos escritórios e/ou realizações projetam status e poder. Tais
pessoas merecem atenção por seus pontos de vista e pela sua compreensão das representações
do poder.
8. Proximidade: quanto mais perto o público está do local de um evento, mais provável que o
público e os editores considerem o fato de interesse noticioso. Esse aspecto contribui para
tornar as relações entre cientistas e jornalistas muito sensíveis. Primeiro porque a significação
da proximidade pode superar a significação (a importância) para a Ciência. Segundo porque a
ocorrência de um evento especial pode testar ou afiar as habilidades do jornalista. Quando
uma organização científica ou médica local, estadual ou nacional se reúne numa cidade, os
veículos locais irão relatar a reunião. Isso leva jornalistas das mais variadas origens,
experiências e habilidades ao contato com cientistas especializados. Quanto maior um
veículo, menos o valor noticioso se prende apenas à proximidade. Uma terceira conseqüência
da localização é que os jornalistas procuram os cientistas locais para explicar o trabalho de
outros cientistas e comentar assuntos envolvendo Ciência, Tecnologia e Inovação.
9. Variedade e equilíbrio: a variedade e o equilíbrio entre os assuntos, segundo o autor, são
fatores fortes que determinam o conteúdo dos jornais, revistas e transmissões noticiosas,
porque cada um deles está limitado seja pelo tempo, seja pelo espaço ou por ambos. De
acordo com Burkett (1990), o material científico pode ser empurrado para fora pela política.
Uma matéria sobre astronomia será equilibrada com uma matéria sobre Medicina mais
provavelmente do que com outra história sobre uma das Ciências Físicas.
10. Conflito: para o autor, conflito é um componente de seleção de notícias. O conflito pode
ser pessoal ou estar oculto nos interesses dos envolvidos e emergir a partir dos objetivos da
pesquisa e dos testes. Pode envolver, também, aspectos mais amplos, como a ética e as
normas públicas.
11. Necessidade de sobrevivência: são matérias ou temas que tratam de aspectos fundamentais
de sobrevivência, como alimentação e moradia, transporte básico, saúde, e segurança pessoal,
sexo, e algum nível de contato social.
12. Necessidades culturais: matérias que tratam do “estilo de vida” ou das necessidades
culturais despertam interesse do público, depois que as necessidades de sobrevivência são
satisfeitas. Os temas nessas áreas incluem, segundo o autor, as melhores escolhas nutricionais,
melhorias nas condições de trabalho ou escolha de carreira. O sexo e a sexualidade podem, da
mesma forma, ser examinados em termos de qualidade.
13. Necessidade de conhecimento: trata-se da satisfação da curiosidade em torno da própria
sociedade. Para o autor, essa necessidade pode estar ligada, no que se refere à Ciência e à
Tecnologia, a possibilidade de crescimento em áreas pessoais e econômicas ou a
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desenvolvimento oferecendo novas possibilidades de carreira. Podem ser encaradas como
entretenimento apenas de modo marginal, embora as pessoas apreciem a variedade.
Para Weingart (1998) a reputação da pesquisa científica (e da Ciência) é um dos critérios de
seleção das notícias de CT&I nos meios de comunicação: a reputação da Ciência algumas
vezes compete com (e em outras orienta) sua proeminência na mídia.
Tomando como base os telejornais nacionais de horário nobre de canal aberto (Jornal da
Band, Jornal Nacional, Jornal da Record, Jornal da Cultura e SBT Brasil), a partir das
amostras estratificadas selecionadas para análise (maio de 2005 e maio de 2006), é possível
identificar, nas matérias sobre CT&I, os critérios de seleção apontados por Burkett (1990),
Weingart (1998) e Silva (2005).
É importante ressaltar que tais critérios não definem per se a escolha das matérias para
veiculação nos telejornais, visto que outros critérios interpõem-se entre o fato e o público (já
descritos acima), mas apontam características das matérias capazes de atrair a atenção das
equipes dos telejornais, tendo em vista os interesses das empresas jornalísticas e dos públicos
de tais programas.
Os critérios de seleção dos fatos não são excludentes entre si, ou seja, uma matéria pode
despertar o interesse da equipe de Jornalismo de determinada emissora por diversos motivos
simultaneamente. No entanto, para sistematizar as informações, optou-se por identificar o
critério principal em cada matéria. É importante frisar, ainda, que tal classificação não esgota
as possibilidades de interesse das matérias sobre CT&I nos telejornais.
Dessa forma, a partir das contribuições Burkett (1990) e de Weingart (1998), além da
sistematização proposta por Silva (2005) para o Jornalismo em geral que pode ser adaptada
ao telejornalismo e aplicadas às matérias veiculadas pelos telejornais brasileiros de horário
nobre, referentes às amostras de maio de 2005 e 2006 desta tese (no total de 44 matérias), é
possível aferir que:
Das 12 matérias veiculadas pelo Jornal da Band, três delas tinham o interesse humano
como critério principal de noticiabilidade, uma a proximidade, uma o conflito de
interesses, uma a necessidade de sobrevivência, três as necessidades de conhecimento,
duas o entretenimento /a curiosidade despertada pelo assunto e uma a raridade.
No caso do Jornal Nacional, das 11 matérias levadas ao ar, uma delas tinha o senso de
oportunidade como critério central de noticiabilidade, duas o interesse humano, uma o
conflito, duas a necessidade de sobrevivência, quatro a necessidade de conhecimento e
uma os investimentos do governo.
Já no Jornal da Cultura, das 11 matérias veiculadas, uma delas tinha o pioneirismo como
critério principal de noticiabilidade, quatro delas o interesse humano, uma a
personagem, uma delas a proximidade, uma a variedade, uma o conflito, uma a
necessidade de sobrevivência e uma a necessidade de conhecimento.
No Jornal da Record, das sete matérias telejornalísticas sobre CT&I veiculadas, duas
delas tinham o interesse humano como principal fator de noticiabilidade, uma delas a
proximidade, uma o conflito de interesses, uma a necessidade de sobrevivência, uma a
necessidade de conhecimento e uma os interesses/investimentos do governo.
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Das três matérias sobre CT&I exibidas pelo SBT Brasil, uma delas tinha o senso de
oportunidade de divulgação como principal fator de noticiabilidade e duas delas a
necessidade de conhecimento despertada pelo assunto.
Na tabela abaixo, estão classificadas as matérias veiculadas pelos telejornais (em quantidade)
a partir dos respectivos critérios de noticiabilidade dos fatos, conforme classificações de
Burkett (1990), Weingart (1998) e Silva (2005).
Critérios de noticiabilidade das matérias sobre CT&I dos telejornais
Telejornal/
Critérios de
noticiabilidade
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal
da
Record
Jornal da
Cultura
SBT
Brasil
Senso de oportunidade
1 1
“Timing”
Impacto
Significado
Pioneirismo
1
Interesse humano
3 2 2 4
Personagens célebres
1
Proximidade
1 1 1
Variedade e equilíbrio
1
Conflito
1 1 1 1
Necessidade de
sobrevivência
1 2 1 1
Necessidades culturais
Necessidade de
conhecimento
3 4 1 1 2
Entretenimento/Curiosidade
2
Raridade
1
Tragédia/drama
Justiça
Governo
1 1
Surpresa
Reputação da Ciência e dos
cientistas
Outros
Sensacionalismo, manipulação e espetacularização dos fatos
Um ponto polêmico apontado por estudiosos que diz respeito à notícia da televisão é a
espetacularização dos fatos. Debord (1997, p. 23) avalia que, no espetáculo, uma parte do
mundo se representa diante do mundo e lhe é superior.
Para Rezende (2000, p. 35), nas emissoras comerciais de TV, a programação adota um caráter
primordialmente diversional que afeta, inclusive, as produções telejornalísticas. “Motivada
por essa ideologia do entreter para conquistar maiores níveis de audiência e faturamento, a
televisão privilegia a forma do espetáculo” (p. 35).
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Os critérios normalmente utilizados para determinar se um fato é ou não notícia, segundo
Marcondes Filho (2002), baseiam-se no caráter espetacular ou sensacional do fato, ou seja,
tem de trazer emoção e testemunho. Além disso, para o autor, as notícias, na televisão,
estruturam-se em torno de clichês, sob a responsabilidade de jornalistas. “E jornalistas, como
todas as pessoas, selecionam os fatos novos e os classificam a partir de seus próprios
estereótipos, assim, eles se tornam atores privilegiados na manutenção de idéias, verdadeiros
agentes conservadores da cultura” (p. 109).
Em relação a esse assunto, Kehl (1995), afirma que o discurso televisivo estabelece uma
relação imaginária, regida pela lógica da realização de desejos. Para a autora, “o discurso
televisivo vem assumindo um papel importante demais na mediação da relação das pessoas
com o real, vem substituindo de forma crescente outras dimensões da experiência” (p. 179).
Rocco (1999) fala do magnetismo, da atração que a televisão provoca nas pessoas e de como
o veículo produz simulações da realidade. “Tais simulacros são tão próximos da realidade
sensível que, por vezes, custamos a perceber se a realidade objetiva é aquela, do lado de fora,
ou a que se vê do lado de dentro do vidro do vídeo” (p. 241).
O formato espetacular representa, para Rezende (2000), a fórmula mágica para prender a
atenção do público. Essa espetacularização do fato, para o autor, deriva-se da seleção de
imagens de impacto, que muitas vezes, se sobrepõe, em importância à informação.
O espetáculo destina-se basicamente à contemplação, combinando, na produção
telejornalística, uma forma que privilegia o aproveitamento de imagens atraentes
muitas vezes desconsiderando o seu real valor jornalístico com um conjunto de
notícias constituído essencialmente de fait divers. (REZENDE, 2000, p. 25).
Siqueira (1999) admite que a técnica e a tecnologia colaboram para a criação dessa estética
espetacularizada da televisão. “Câmera lenta, imagens aceleradas,“fade in/out” (cena que
escurece ou que começa escura e depois se ilumina), planos e a utilização de efeitos animados
por desenhistas ou por computação gráfica são alguns dos recursos técnicos dos quais a TV
dispõe” (p. 63).
A espetacularização da programação da televisão tem como objetivo principal atrair públicos
diversos. Com isso, a TV desconsidera qualquer individualidade de seu público. Trata as
pessoas como iguais, como tendo todas os mesmos interesses, as mesmas dificuldades e
sonhos. Gilder (1996) critica a padronização dos gostos imposta ao público pela televisão.
A TV desafia o mais óbvio fato sobre seus clientes sua prodigiosa e florescente
diversidade. As pessoas executam dezenas de milhares de trabalhos diferentes;
dedicam-se a um sem número de hobbies; lêem centenas de milhares de publicações
diferentes. A TV ignora a realidade de que as pessoas não são inerentemente passivas;
dada uma chance, elas respondem e interagem. As pessoas têm pouco em comum,
exceto seus interesses lascivos e seus medos e ansiedades mórbidos. Tendo
necessariamente por alvo esse mínimo denominador comum, a televisão piora a cada
ano (GILDER, 1996, p. 13).
O caráter sensacionalista da programação também é salientado por Bourdieu (1997). “A
televisão convida à dramatização, no duplo sentido: põe em cena, em imagens, um
acontecimento e exagera-lhe a importância, a gravidade, e o caráter dramático, trágico” (p. 5).
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Ao relacionar televisão com poder, Ianni (2002) ressalta o potencial da televisão de interferir
na realidade e modificá-la. “Muitas vezes, [a televisão] transforma a realidade, seja em algo
encantado seja em algo escatológico, em geral virtualizando a realidade, em tal escala que o
real aparece como forma espúria do virtual” (p. 56).
Sobre o telejornalismo, em particular, Sodré (1983, p. 61), avalia que, apesar de trazer uma
imagem concreta, não fornece uma reprodução fiel da realidade. Para ele, uma reportagem de
TV, com transmissão direta, é o resultado de vários pontos de vista:
1) do realizador, que controla e seleciona as imagens num monitor;
2) do produtor, que poderá efetuar cortes arbitrários;
3) do cameraman, que seleciona os ângulos de filmagem;
4) de todos aqueles capazes de intervir no processo da transmissão.
De acordo com o autor (idem, 1983), a televisão não dá ao espectador a liberdade de escolher
o essencial ou o acidental, ou seja, aquilo que ele deseja ver em grandes ou pequenos planos.
Dessa forma, o veículo impõe ao receptor a sua maneira especial de ver o real. Segundo o
autor, os efeitos de montagem e dramatização, que também contribuem para tornar mais
interessante a mensagem, ajudam por outro lado a deformar a realidade comunicada.
É claro que a exposição do fato pelo critério do espetacular e do sensacional não é privilégio
apenas dos programas telejornalísticos, mas identifica uma característica difundida pelo
Jornalismo, de forma geral, como base da atualidade, interesse e novidade para a elaboração
das notícias, mencionada até pelos manuais de redação das empresas de comunicação.
Para Marcondes Filho (2002), há um consenso no meio jornalístico que o fato tem de ter algo
de espetacular ou sensacional, tem de trazer emoção e testemunho. “É uma regra elementar,
mas que diz muito pouco, principalmente porque a definição e tautológica, pois o sensacional
ou espetacular é algo que provoca emoções” (p. 107).
Quem concorda com essa visão é Arbex Jr. (2001). Para ele, o pesquisador de mídia deve
levar em conta que fatos e notícias não existem por si só, como entidades “naturais”. “Mas
que são assim designados por alguém (por exemplo, por um editor), por motivos (culturais,
sociais, econômicos, políticos) que nem sempre são óbvios. Mas essa operação fica oculta sob
o manto mistificador da suposta ‘objetividade jornalística’” (p. 103).
Kerckhove (1997, p. 38-39) avalia que “perceber a nossa cultura televisiva implica conhecer a
razão e a forma como a televisão nos fascina para além do nosso consciente”. Ao participar de
uma experiência que avaliava as reações fisiológicas de uma pessoa diante de imagens
televisivas (no caso, peças publicitárias), o pesquisador constatou que a televisão fala
inicialmente ao corpo e não à mente, ou seja, ativa as sensações, os desejos, os sentimentos, e
depois, a razão. Outra conclusão que obteve com a experiência é que, como a TV fala
primeiro às emoções, a maior parte do processamento da informação é realizada na própria
televisão.
De fato, o simples acompanhamento da programação de um canal aberto de televisão mostra
que muitas críticas têm fundamento. No entanto, as próprias características técnicas
intrínsecas ao veículo impõem uma forma de recepção diferente dos demais meios. O que
Santiago (1999) chama a atenção é que pesquisadores devem separar, em suas críticas à
televisão, aquilo que é um produto de qualidade ruim das características negativas do veículo.
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No caso dos meios de comunicação de massa, a confusão entre o que merece repúdio
(o produto) e o que é mero instrumento de comunicação (o veículo) advém do fato de
que, ao se analisar e privilegiar o modo de produção da mercadoria cultural e não o
modo de produção da recepção daquela mercadoria, desclassifica-se a priori o veículo
quando a má qualidade pode se referir (e muitas vezes é o caso) apenas ao produto.
Mais importante e desolador: ao se desclassificar o produto, desclassifica-se também e
a priori o “leitor” (SANTIAGO, 1999, p. 150).
Em relação à superficialidade da televisão, para Squirra (1990, p. 55) a visão de que a
televisão é superficial e anticultural é equivocada, pois é preciso, segundo ele, levar em conta
as especificidades do meio quanto a suas funções, estilos, objetivos e importância. Para o
autor, o aprofundamento do telejornalismo não pode ser comparado ao da imprensa escrita, no
entanto, “o conteúdo não perde em quantidade de informações”.
Ribeiro (2004) tem posição semelhante à de Squirra. Para Ribeiro, é muito mais interessante e
enriquecedor superar a denúncia em relação à televisão e poder compreender o que melhor ela
pode trazer.
Da mesma forma, diversos pesquisadores salientam as potencialidades da televisão,
principalmente quanto ao poder de disseminar a cultura e de facilitar a propagação de
conteúdos educativos em lugares distantes dos grandes centros econômicos e produtivos do
País, no caso da televisão enquanto veículo.
É preciso deixar de lado esta bobagem de encarar a televisão como um
eletrodoméstico nocivo. Ela é hoje no Brasil uma ferramenta insubstituível se
quisermos recuperar o atraso educacional no qual vivemos. Para termos cidadãos mais
preparados, precisamos antes ter os professores, e para formarmos uma geração de
professores capacitados em número suficiente para dar um bom ensino básico a toda
uma geração de brasileiros, caso haja interesse, levará no mínimo vinte anos. A
televisão, com sua incrível penetração, poderia catalisar este processo, principalmente
no que diz respeito à atualização, reciclagem e aprimoramento dos professores. Uma
professora que dá aula no interior do Pará, sem nenhum acesso ao conhecimento
relativo a sua área de atuação, poderia, ao invés disto, estar em contato com as
melhores pedagogas do país (MEIRELLES, 1999, p. 267).
O papel educativo das matérias sobre CT&I dos telejornais
Não um consenso entre os próprios pesquisadores e entre os profissionais de telejornalismo
quanto à função educativa desempenhada por tais programas. Enquanto muitos pesquisadores
denunciam a espetacularização e o sensacionalismo vigentes na programação telejornalística
(o que pode inviabilizar a função educativa das matérias), outros buscam uma ponderação
entre as potencialidades do veículo e os usos (e abusos) que as emissoras comerciais fazem do
meio de comunicação, como mostrado acima.
Um dos pontos da polêmica sobre a função educativa das matérias telejornalísticas que tratam
de CT&I, especificamente, é a forma com que tais programas promovem os assuntos. “Os
telejornais estão no meio do caminho entre o rigor e o pouco caso em relação à ciência
(FRANCO, apud NUNES, 2006, p.10).
Em relação à abordagem de assuntos de CT&I, discute-se sobre o pouco aprofundamento das
matérias relativamente à densidade dos assuntos científicos. “Não existem verdades absolutas
na ciência, somente verdades momentâneas e esse aspecto é deixado de lado muitas vezes”
(idem).
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Meyer (2002), por outro lado, defende que é possível a elaboração de matérias mais
aprofundadas a partir da adoção da metodologia da Ciência ao trabalho jornalístico, conceito
denominado pelo autor de Jornalismo de Precisão. Trata-se, segundo ele, da incorporação do
método, da objetividade e dos ideais científicos no processo de produção de conteúdos para os
meios de comunicação.
A abordagem dos assuntos sobre CT&I baseia-se, em grande parte, no público do telejornal e
nas possibilidades de percepção sobre as questões científicas. Uma pesquisa qualitativa feita
no início de 2004, para consumo interno da Rede Globo, em que a emissora, entre outras
coisas, queria saber até que ponto alguns temas complexos abordados pelo jornal haviam sido
compreendidos pelo grande público, revelou a dificuldade de compreensão de assuntos de
CT&I pelo público em geral. Bonner, editor-chefe do programa, comenta sobre os resultados
da pesquisa (DEU, 2004):
O resultado [da pesquisa] foi frustrante mas, ao mesmo tempo, produtivo: na série
sobre transgênicos, embora tenhamos usado formas didáticas para tratar do tema, a
percepção foi muito baixa. O espectador tende a buscar respostas objetivas para os
assuntos e, nesse caso, o que ficou foi a polêmica existente sobre a questão de
organismos modificados. A constatação do insucesso em atingir o objetivo nos serviu
para buscar entender por que o didatismo usado não foi suficiente”, diz o jornalista
(DEU, 2004, p. 50).
As análises das matérias sobre CT&I dos telejornais brasileiros de canal aberto do horário
nobre (capítulos 4 e 5) comprovaram que tais críticas têm fundamento. No entanto, há
características específicas que possibilitam uma abordagem mais contextualizada do assunto.
De fato, a discussão sobre a função educativa das matérias de CT&I dos telejornais não é
recente. Krieghbaum (1967) já apontava, na década de 60, o não-reconhecimento da função
educativa das matérias por jornalistas que divulgavam CT&I. A opinião de Krieghbaum
(idem), no entanto, difere da tendência vigente na época, reconhecendo o papel educativo da
mídia na cobertura de CT&I.
Artigos de revistas e documentários de televisão voltaram-se para o noticiário
científico nos últimos anos, da mesma forma que alguns diários metropolitanos
estabeleceram páginas semanais sobre ciência. Quando qualquer um desses três
veículos de comunicação tem tempo e espaço, pode aprofundar-se e desenvolver a
ciência em profundidade e assim contribuir os três tanto para a educação como
para o informe do público em geral (KRIEGHBAUM, 1967, p. 31) (grifo
nosso).
Mais recentemente, essa discussão tem sido promovida principalmente por estudiosos da
inter-relação Comunicação-Educação, que focam suas análises no uso dos meios de
comunicação na sala de aula. Tais pesquisadores defendem a qualidade da programação
telejornalística e a função educativa dos telejornais na sociedade.
No campo dos meios audiovisuais, a educação ganhou muito com numerosas
experiências de emissão aberta, principalmente no campo do telejornalismo e do
documentário. Material de bom nível sobre saúde, meio ambiente, geografia, história,
cultura erudita ou popular, literatura brasileira, entre outros domínios da difusão
científica, têm sido exibidos (SOARES, 1996, p. 26).
90
As opiniões de profissionais do telejornalismo mostram que há um reconhecimento da
importância de CT&I para a sociedade e de que os telejornais não podem ignorar tais
assuntos.
É impossível a gente falar do mundo moderno sem ciência e tecnologia. Não tem
nenhuma atividade em que a ciência e a tecnologia não permeiem. Nós temos uma
preocupação. Se você olhar o telejornal, você não vai ver essa presença diariamente.
Mas você tem uma presença de assuntos de interesse que tem tecnologia lá. Não tem
como não ter. Se você pensar na ciência da informática, uma ciência do nosso tempo,
que está aí a todo momento, temos uma preocupação com isso. Faz parte da seqüência
evolutiva. Não tem como você virar as costas para isso (MINEIRO, 2005)
52
.
No caso do Jornal Nacional, o editor-chefe e apresentador do programa, Willian Bonner,
avalia que, entre os assuntos de CT&I, são noticiados os fatos novos e o que é passível de
aplicação imediata ou que é importante para a conquista de algo como um medicamento ou
determinado bem econômico em futuro próximo. “Se fizéssemos uma análise de tudo que foi
ao ar nos últimos anos, certamente temas ligados à saúde seriam a maioria; ou temas de
interesse circunstancial, como na crise de energia, as matérias sobre pesquisas em como
poupá-la ou fontes alternativas” (DEU, 2004, p. 50).
Não há um senso comum entre profissionais sobre a função educativa exercida por tais
programas e, em particular, pelas matérias telejornalísticas. De um lado, jornalistas admitem
que a educação não é responsabilidade da televisão, por falta de clareza do papel formal e
não-formal da educação.
Nós não temos nenhuma responsabilidade com a educação. Não constitui papel da
televisão educar. O que nós não podemos fazer é deseducar, como a TV está
deseducando. Nós temos que inverter esse papel. Eu acho que a discussão sobre o
papel da televisão na educação está na contramão. (...) Nosso papel é esse: transmitir
um conjunto de informações para que o público possa formar uma consciência crítica.
Esse é o papel do jornalista da televisão (MINEIRO, 2005).
Por outro lado, alguns profissionais acreditam que, ao informar, o telejornal cumpre certa
função educativa. A mídia ajuda a educar quando não é só o reflexo de seu tempo, mas
também a reflexão sobre ele. (...) Assim, informando e ajudando a refletir, a mídia ajuda a
educar, sim” (BARBEIRO, apud COSTA, 2005, p. 197).
3.3) Considerações finais do capítulo
Nesse capítulo foi possível observar que o telejornalismo ocupa cada vez mais espaço na
grade de programação das emissoras de canal aberto de alcance nacional. Ao longo da
semana, são veiculadas, diariamente, uma média de duas horas e cinco minutos (pelo SBT) a
cinco horas e 11 minutos (pela Rede Globo), considerando os intervalos comerciais.
Verificou-se também que não há um consenso entre pesquisadores e profissionais sobre a
função educativa dos telejornais, provavelmente por falta de um discernimento entre as
modalidades formal e informal da Educação. No caso de matérias de CT&I, especificamente,
mostrou-se interessante notar que a importância do assunto é reconhecida por profissionais do
telejornalismo. Além disso, foi possível classificar as matérias investigadas nesta tese, a partir
dos vários critérios de noticiabilidade identificados por pesquisadores.
52
MINEIRO, Luiz Gonzaga. Em entrevista à autora. Ribeirão Preto (SP), 28 de setembro de 2005.
91
CAPÍTULO IV:
A COMPREENSÃO PÚBLICA DA CIÊNCIA
NO TELEJORNALISMO
Apresentação
No quarto capítulo são descritas e analisadas as matérias de CT&I dos telejornais
selecionados. Na amostra de maio de 2005 foram veiculadas 30 matérias pelos quatro
telejornais (Jornal da Band, Jornal Nacional, Jornal da Record e Jornal da Cultura) e na
amostra de 2006 foram ao ar 14 matérias sobre CT&I entre os quatro telejornais estudados,
com o acréscimo do telejornal SBT Brasil.
A Concepção de Compreensão Pública no Telejornalismo
A concepção de Compreensão Pública da Ciência adotada nesta tese foi elaborada ao longo
dos processos que envolveram a elaboração dos procedimentos metodológicos e a análise
das contribuições de pesquisadores e estudiosos apresentados nos capítulos anteriores.
Considera-se que a Compreensão Pública da Ciência não é um mero conceito-chave que
pode, simplesmente, ser aplicado às matérias telejornalísticas e, dessa forma, é impossível
limitar-se, a priori, a uma única concepção. A Compreensão Pública da Ciência é tomada,
neste contexto, como uma função do Jornalismo, no geral, e do telejornalismo, em
particular. Diz respeito a uma ampla diversidade de características constitutivas do processo
comunicacional que envolve as matérias jornalísticas sobre CT&I. Vale ressaltar que tais
características não são inerentes às matérias, mas trata-se de escolhas (conscientes e não-
conscientes) sobre o que abordar (e o que deixar de abordar) e a forma como o assunto é
tratado.
Procurou-se, no presente capítulo, avaliar a Compreensão Pública da Ciência no
telejornalismo brasileiro, a partir dos sentidos criados pelas matérias sobre CT&I,
tomando como base a relação entre a descrição (de algumas características das matérias) e
a Análise de Discurso. Em seguida, no capítulo 5, a análise da mensagem é estendida para a
recepção, tendo como foco o público do telejornal.
Nas análises desenvolvidas nas matérias, parte-se do princípio que a Compreensão Pública da
Ciência no telejornalismo não é única, pois leva em conta o processo de seleção e produção
das matérias, o público visado (seus níveis socioculturais e educativos, seus interesses, a
aproximação maior ou menor com o assunto de CT&I etc), as condições específicas de
recepção das matérias (como dito anteriormente, a recepção das mensagens da televisão se
no ambiente privado), entre outros. Com isso, não é possível elaborar uma matéria
telejornalística ideal sobre CT&I, adequada a todos os telespectadores e a todos os
assuntos. Mas, o que se observou, ao longo deste estudo, é que as matérias apresentam
possibilidades (e potencialidades) maiores ou menores para uma abordagem mais
contextualizada do assunto e capazes de proporcionar a compreensão dos fatos, processos e
produtos ligados à Ciência, à Tecnologia e à Inovação por um público não-especializado,
objetivo principal da Divulgação Científica.
Dessa forma, pode-se aferir que, neste trabalho, a concepção de Compreensão Pública da
Ciência diz respeito ao conjunto de elementos que compõem a matéria e que podem
contribuir, em maior ou menor grau, para o entendimento do assunto pelo público em
92
geral (que, no caso do telejornalismo brasileiro de alcance nacional e de canal aberto, é
caracterizado como amplo, diversificado e heterogêneo em relação aos níveis sociocultural e
educativo).
Tais elementos, já apresentados na Metodologia (capítulo 1), são os critérios empregados
para analisar as contribuições das matérias telejornalísticas sobre CT&I para a
Compreensão Pública da Ciência. Esses podem ser resumidos da seguinte forma:
1) formato da matéria;
2) as relações entre as fontes e as posições discursivas ocupadas por fontes, apresentadores e
repórteres no jogo dialógico das matérias;
3) abordagem do assunto (o que inclui: conteúdo apresentado, linguagem empregada, inserção
de conceitos de CT&I);
4) imagens que compõem as matérias;
5) elementos visuais (tais como desenhos, mapas, esquemas, entre outros).
Além disso, o espaço ocupado, a quantidade, o tempo de duração e a relação entre as matérias
de CT&I e os demais assuntos apresentados pelos telejornais também criam sentidos
específicos à Compreensão Pública da Ciência e, por isso, devem ser considerados,
juntamente com os dados quantitativos, que fornecem uma visão mais abrangente da presença
da Ciência, da Tecnologia e da Inovação nos telejornais.
A apresentação da descrição e da análise das matérias neste capítulo é feita tomando por base
os dias que compõem a amostra. Como na TV a descrição das matérias envolve imagens e
sons, que interferem no conteúdo e na compreensão pública, esta tese não incorporou ao texto
a transcrição das matérias, embora isso tenha sido feito para proceder à descrição e à análise
(conforme Metodologia). No verso da capa encontra-se, em áudio e imagem, a íntegra das 44
matérias analisadas. Por outro lado, como pode ser observado no anexo III (página 26), foi
disponibilizada uma transcrição integral de cada um dos telejornais para entendimento dos
modelos. Além disso, no caso dos Grupos Focais, foram também transcritas integralmente as
matérias analisadas (ver anexo II, página 18). Em cada dia da amostra, as análises são
sistematicamente organizadas nos seguintes tópicos:
Principais acontecimentos noticiados pelos telejornais: resumo das principais matérias
veiculadas pelos telejornais estudados e apresentação das editorias presentes em cada
um deles. A intenção deste item é descrever em que situação nacional e internacional
CT&I aparece e, com quais acontecimentos, CT&I divide espaço nos telejornais
investigados.
Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I: comparação entre o tempo
total dos telejornais (excetuando-se os intervalos comerciais) e o tempo total das
matérias de CT&I de cada edição. Neste item, o objetivo é identificar o tempo das
matérias de CT&I em cada edição e compará-lo com o do restante do telejornal.
As matérias de CT&I dos telejornais: apresentação das matérias selecionadas para o
estudo, bem como o tempo de duração de cada uma delas.
A edição das matérias de CT&I dos telejornais: apresentação das análises Descritiva e
de Discurso de cada uma das matérias.
93
Comparação entre as matérias
53
: as comparações referem-se à análise do desempenho
da função educativa de cada matéria. Sempre que um assunto foi tratado em mais de
uma matéria, estas foram comparadas entre si, para verificar as diferenças de
conteúdo, linguagem, abordagem e formatos.
No final da amostra de 2005 e no final na de 2006 estão as análises quantitativas das matérias,
quanto à presença e à edição de CT&I nos telejornais. Além disso, no final das análises estão
os resultados das análises quantitativas dos dois anos das amostras, comparativamente entre
eles.
A partir das análises quantitativas e qualitativas, e tendo como base a contribuição das
matérias à Compreensão Pública da Ciência objetivo central deste estudo, são apresentadas,
também, as considerações finais do capítulo.
53
Quando, em uma noite, houve a apresentação de apenas uma matéria de CT&I, este item foi suprimido, e a
análise da função educativa foi apresentada no tópico anterior, na própria análise da matéria.
94
4.1) A Ciência nos telejornais
Dia 09 de maio de 2005
Principais acontecimentos noticiados pelos telejornais
Avaliando-se os assuntos apresentados nos telejornais é possível classificá-los em editorias
54
.
Em relação às editorias, essas estão presentes da seguinte forma nos respectivos telejornais:
Jornal da Band: Cultura, Economia, Esportes, História, Internacional, Polícia/Justiça,
Política, Previsão do Tempo, Reportagem Especial e Saúde Pública. A editoria de CT&I não
está presente nesta edição.
Jornal Nacional: Cidades, Cultura, Economia, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça,
Política e Previsão do Tempo. A editoria de CT&I não está presente nesta edição.
Jornal da Record: Cidades, Cultura, Economia, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça,
Política, Previsão do Tempo e Saúde Pública. A editoria de CT&I não está presente nesta
edição.
Jornal da Cultura: Comportamento, CT&I, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça, Política,
Previsão do Tempo e Saúde Pública. A editoria de CT&I apresentou duas matérias. Trata-se
de uma reportagem sobre um tratamento para endometriose e uma nota simples, também
conhecida como nota pelada, sobre motores bicombustíveis para caminhões.
Entre os assuntos abordados pelos telejornais no dia 09 de maio de 2005 na editoria de
Política destacou-se a ocorrência, em Brasília, da Cúpula Países Árabes América Latina.
Também houve destaque para o encontro, na reunião, de Lula com os presidentes da
Argentina e da Venezuela. Além disso, o governo Federal anunciou uma série de medidas
para melhorar a situação de índios do Mato Grosso do Sul. Entre elas, a criação da Comissão
Interministerial. Outra notícia referiu-se à investigação, pelo Ministério Público, de que o
governo do Estado de Goiás e a prefeitura de Goiânia financiaram a marcha de MST a
Brasília.
Na editoria de Polícia houve referência ao laudo que identificou a presença do pesticida
organoclorado, um veneno usado para combater pragas em lavoura, na pizza envenenada que
contaminou nove pessoas na cidade de Petrolândia (SC). A mulher suspeita do crime foi
presa. Ainda entre as notícias policiais, a de que oito funcionários da Febem foram presos por
facilitar a entrada de celulares e armas, teve ampla cobertura dos telejornais.
Em Saúde Pública, mereceu destaque a morte de um aposentado na fila de uma clínica de um
posto de saúde no Rio de Janeiro. Sobre Esportes, destaque para o Campeonato Brasileiro de
Futebol. No plano Internacional, entre outros assuntos, foi noticiada a parada militar em
Moscou (Rússia) pela comemoração dos 60 anos do fim da Segunda Guerra Mundial.
54
Normalmente, a separação dos assuntos por editoria é feita pela mídia impressa, no entanto, empregou-se tal
classificação neste trabalho para facilitar a caracterização dos diversos assuntos dos telejornais. No anexo IV
(página 43) há uma demonstração do procedimento de classificação dos assuntos, a partir do exemplo de um
telejornal.
95
De forma esquematizada, observa-se a presença das editorias de cada um dos telejornais a
partir da tabela a seguir:
Principais editorias
Jornal da Band Jornal Nacional Jornal da Record Jornal da Cultura
==
55
Cidades Cidades ==
== == == Comportamento
Cultura Cultura Cultura ==
== == == CT&I
Economia Economia Economia ==
Esportes Esportes Esportes Esportes
Internacional Internacional Internacional Internacional
Polícia/Justiça Polícia/Justiça Polícia/Justiça Polícia/Justiça
Política Política Política Política
Previsão do Tempo Previsão do Tempo Previsão do Tempo Previsão do Tempo
Reportagem especial == == ==
Saúde Pública == Saúde Pública Saúde Pública
Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I
Nesse dia, somente o Jornal da Cultura apresentou matérias sobre o assunto estudado. O
telejornal durou 31 minutos e 44 segundos
56
. Desse tempo, 3 minutos e 11 segundos foram de
matérias de CT&I.
Telejornal
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal
da Cultura
Total
Geral
Tempo
total
34’14”
(6 blocos)
34’15”
(6 blocos)
39’06”
(5 blocos)
31’44”
(5 blocos)
2h 19’19”
Tempo
CT&I
*** *** *** 3’11” 3’11”
% Tempo
de CT&I
*** *** *** 9,89% 2,58%
As matérias de CT&I dos telejornais
Dos telejornais de horário nobre, selecionados para a pesquisa, apenas o Jornal da Cultura
apresentou matérias de CT&I no dia 09 de maio de 2005. Trata-se de uma reportagem sobre
um novo tratamento para a endometriose e uma nota sobre motores bicombustíveis para
caminhões e ônibus. As duas matérias da área de CT&I foram concentradas em um único
bloco do telejornal.
A reportagem teve duração de 2 minutos e 56 segundos. Já a nota simples durou 15 segundos.
Dessa forma, entre os telejornais estudados, CT&I, naquele dia, esteve presente em 3 minutos
e 11 segundos da programação. Ambas localizam-se no último bloco (de um total de cinco
blocos), sendo, respectivamente, a penúltima e a última matérias exibidas.
55
Este símbolo (==) indica a ausência da editoria na edição do telejornal.
56
A contagem do tempo de cada telejornal não considera o tempo dos intervalos comerciais.
96
Matérias de CT&I
Jornal da Band Jornal Nacional Jornal da
Record
Jornal da Cultura
***
57
*** *** Tratamento para
58
endometriose
*** *** *** Motores
bicombustíveis para
caminhões e ônibus.
(nota)
A edição da Ciência nos telejornais
Telejornal: Jornal da Cultura
Matéria: Tratamento para endometriose (CD-Rom 1, página 07)
59
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem é sobre um novo tratamento para endometriose. Tem abordagem
interpretativa/analítica, já que, além de apresentar o novo tratamento, a matéria descreve o
caso de uma paciente e, com isso, mostra vários aspectos ligados à doença. Há fontes
testemunhais e especialistas ouvidas nesta matéria. Trata-se de uma matéria nacional,
realizada por duas universidades públicas da região Sudeste, do Estado de São Paulo (USP e
Unicamp). As informações do cientista corroboram as informações da jornalista e também das
demais fontes. É uma matéria em que a Ciência é assunto principal. A abordagem científica
ocorre de forma contextualizada. A Ciência é apresentada de forma elogiativa. As imagens
auxiliam na compreensão do conteúdo. Há demonstração do processo científico com imagens
e palavras. A matéria contém esquemas e desenhos como elementos ilustrativos. Tais
ilustrações contribuem para a apreensão do conteúdo científico da matéria.
Análise
A reportagem trata de uma pesquisa que acaba de ser concluída em um grupo selecionado de
pacientes (83 mulheres). O discurso da matéria, que entrelaça os vários discursos (da
apresentadora, de cada uma das fontes e da repórter) interpõe um ordenamento discursivo
bem diferenciado que, em alguns momentos se inter-relacionam, mas que carregam marcas
ora de um discurso científico ora de um discurso emotivo e sensitivo, ora dos discursos
jornalísticos. Todos estes discursos, ao se relacionarem, constroem, na aproximação e na
contraposição, um novo discurso, o de divulgação científica.
A primeira parte da matéria é composta pelo discurso da apresentadora Mônica Teixeira, em
que há o anúncio da matéria. Na fala da apresentadora, o discurso é caracterizado como de
divulgação científica, mas está vinculado às informações e conceitos que têm origem no
57
Este símbolo (***) indica, neste trabalho, a inexistência de matérias de CT&I na edição do telejornal.
58
Os nomes das matérias foram criados levando-se em conta seus assuntos principais.
59
Esta indicação está presente em todas as matérias analisadas e refere-se à localização de cada uma delas no
CD-Rom 1 (amostra 2005) e no CD-Rom 2 (amostra 2006), que ilustram este trabalho. Neles estão as matérias
conforme foram veiculadas pelos telejornais. Basta inserir o CD-Rom no computador que o programa abre
automaticamente. Para mudar de página, basta usar o mouse ou as setas do teclado do computador. Para assistir
às matérias, basta ligar a caixa de som e clicar no botão play no menu logo abaixo da imagem.
97
discurso científico. Expressões como “comprovar cientificamente”, “eficácia” e “doença
crônica” não são explicados nem na fala da apresentadora nem na de outras fontes. No caso
específico de “doença crônica”, a expressão teve como objetivo explicar /conceituar a doença
endometriose. No entanto, apenas substituiu-se um termo técnico por outro proveniente do
jargão científico.
Além da linguagem verbal, a expressão facial e o ritmo da fala da apresentadora impõem
urgência, seriedade, gravidade e emoções vinculadas negativamente à experiência humana
relacionadas à doença (confirmada pelas expressões “doença crônica que provoca dores”,
“pode levar à infertilidade” e “uma em cada 15 mulheres sofrem de endometriose”). Esse foi
o recurso empregado na matéria para chamar a atenção do telespectador. A força do discurso
da apresentadora recai mais sobre a doença (que atrai a atenção do telespectador, mas que não
é o “gancho”, o assunto principal da matéria) do que sobre o novo tratamento, que será
abordado em outros momentos da reportagem. Ao final, a fala da apresentadora busca,
através da contraposição da carga negativa atribuída à doença, o lado positivo e benéfico
trazido pela Ciência (explicitado na expressão: “os resultados do novo tratamento são
animadores”). Desse modo, a Ciência, na fala da apresentadora, representa o recurso capaz de
minimizar a dor e trazer esperança às mulheres portadoras de endometriose que podem sofrer
de infertilidade. A expressividade (verbal e não-verbal) caracteriza a força, tanto negativa,
atribuída à doença, quanto positiva, representada pela Ciência enquanto avanço no tratamento.
Já na segunda parte da matéria observa-se o entrelaçamento dos discursos da repórter e da
paciente que recebeu o tratamento. A paciente é a principal fonte da matéria, a partir da qual
ocorre a contextualização. No caso da repórter, as falas e as imagens tentam uma aproximação
com a fonte, buscam criar uma intimidade repórter - fonte/paciente justificada até pelo próprio
assunto da matéria (doença que afeta o corpo, a vida íntima da paciente e que gera
conseqüências físicas, emocionais e sociais significativas).
Ao analisar revistas nacionais de divulgação científica, Zamboni (2001) observou que uma
das formas de atrair a atenção do público, empregada pelos jornalistas, é usar recursos
literários, como a narrativa. “À medida que vai encadeando os acontecimentos, o narrador vai
se constituindo como um participante ativo da narrativa, que manifesta suas impressões com
enunciações retóricas que põem em ação a figuração literária (ZAMBONI, 2001, p. 114).
Pode-se observar, na reportagem, o uso deste recurso (bastante usado em telejornalismo) de
iniciar a reportagem com os fatos que antecederam o fato principal, como uma forma de
contextualizá-lo.
Isso pode ser verificado logo na primeira fala da repórter: “Foram dez anos de sofrimento.
Sílvia chegava a desmaiar de tanta dor. Todo mês ela ficava internada por causa das cólicas
menstruais”. O sentido enfatizado nesta fala é o de que havia, por parte da repórter, um
conhecimento prévio sobre o problema, jogando com a relação temporal estabelecida entre o
“dez anos atrás” e o “hoje” da matéria, revelado pela repórter e complementado pela
fonte/paciente. A posição discursiva da repórter é a de jornalista-testemunha. Da mesma
forma, é mostrado um lado da doença ligado às sensações, aos transtornos ocasionados no
dia-a-dia, aos sentimentos de quem sofre da doença.
Na terceira parte da matéria há o diálogo entre a repórter e o cientista. O discurso da repórter,
que até então se aproximava do discurso da fonte/paciente, passa para uma aproximação com
o discurso científico, que se vincula às imagens não mais da paciente falando ou caminhando,
mas de um ambiente que remete à Ciência: o do laboratório do pesquisador, das imagens de
98
órgão afetados pela doença (realçado pelas expressões: “A endometriose acontece quando o
endométrio, o tecido que reveste a parte interna do útero, cresce em outros órgãos...”). A
partir daí, cria-se o ambiente para a inserção da fonte especializada: um dos cientistas
envolvidos na pesquisa. Com isso, são estabelecidos, no terceiro momento, os discursos da
repórter e do cientista.
Nos diálogos da jornalista com a fonte especializada não se observa o mesmo efeito de
intimidade que foi gerado anteriormente com a fonte/paciente. Mas desenvolve-se um
processo de contextualização do processo científico. Com isso, o discurso sobre a doença
passa para os aspectos médicos, anatômicos e fisiológicos causados no corpo das pacientes.
Tanto jornalista como pesquisador falam da fonte-paciente (que representa as mulheres
portadoras de endometriose), mas que não está presente na cena. Repórter e fonte/pesquisador
lançam mão de conceitos científicos, mesclando o discurso científico da fonte/pesquisador
com o discurso científico-jornalístico atribuído à repórter.
Para explicar a nova técnica é feita a comparação entre o método até então usado para
tratamento da endometriose e o diferencial oferecido pelo método recém-criado. Nesse
momento do discurso entram as explicações, tanto do método antigo (da doença afetando os
órgãos e de fotografias de cirurgias) quanto do novo tratamento (com imagens de
computador, desenhos com indicações do modo de funcionamento do novo tratamento). Cabe
à jornalista, imbuída do discurso científico-jornalístico, e à fonte/pesquisador, revelar todos os
conceitos científicos da matéria. Dessa forma, mesmo cabendo à fonte/paciente um papel
central enquanto ponto inicial do desenvolvimento dos discursos, o assunto principal é
revelado, apresentado e concluído nas falas da repórter e da fonte/pesquisador.
Quarta parte: entram em cena, novamente, os discursos da repórter/testemunha e da
fonte/paciente empregados como um recurso emocional tanto por parte da fonte como por
parte da repórter. A repórter avalia que os resultados do novo tratamento “surpreenderam”,
enquanto a fonte/paciente afirma não ter mais dores. Nesse contexto, aparece outra fonte, que
pode ser identificada como testemunha. Trata-se do marido da paciente, também
corroborando o discurso emocional (“Ah, mudou tudo. Nós podemos sair, viajar, passear.
Estamos levando uma vida excelente”). Nesse momento do discurso é dado o aval. O
resultado do sucesso do novo tratamento é comprovado a partir dos discursos das fontes
especialista (pesquisador), paciente (mulher submetida ao tratamento) e testemunha (marido
da paciente), juntamente com o discurso da jornalista.
A quinta e última parte é composta pelo discurso da apresentadora, na nota pé, que retoma o
mesmo tom (racional e técnico), característico do conhecimento científico, para
complementar as informações sobre a pesquisa. Trata-se da contextualização da Ciência
(produzida no Brasil) com as pesquisas mundiais. Isso é feito de duas formas. Uma delas é
apresentando, de forma resumida, a metodologia empregada para o desenvolvimento da
pesquisa. Outro é com a informação de que a matéria foi publicada em uma revista científica
internacional. Com isso, a apresentadora dá um outro aval de credibilidade à pesquisa: o
estudo segue padrões do método científico, é reconhecida entre os pacientes e também na
comunidade acadêmica. É a disputa entre a reputação da Ciência e a proeminência
proporcionada pela mídia a que Weingart (1998) faz referência. A reputação na Ciência é um
produto para a mídia, é apenas uma entre outras condições para que a Ciência se torne notícia.
Neste caso, a reputação da publicação científica é usada, na matéria, como mais um elemento
para tornar o assunto atrativo.
99
Nesse momento, alguns recursos característicos do Jornal da Cultura são apresentados. Um
deles é mencionar o site da revista em que o artigo foi publicado. Outro é oferecer o endereço
eletrônico na tela da televisão. Nota-se a interação midiática proposta na reportagem: ao
telespectador é sugerido buscar mais informações sobre o assunto, em outro meio de
comunicação, em outras fontes de informação.
Esses recursos ampliam a função educativa do Jornalismo, já que a matéria incentiva a
pesquisa em outros meios por parte dos telespectadores. Além disso, cria o sentido de que o
assunto não foi esgotado com a matéria. A reportagem deixa explícita a sua própria
incompletude: admite-se que não é possível oferecer todas as informações sobre o assunto em
uma matéria. Ainda assim, propõe uma forma de resolver, para o telespectador, a insuficiência
de informação identificada na própria matéria. Tal procedimento abre espaço para uma
melhor compreensão do assunto, caso o público tenha interesse.
Da mesma forma, rompe-se com o “padrão global de manipulação” destacado por Abramo
(2003) nas matérias telejornalísticas. Segundo ele, o telejornalismo transmite as informações
com um sentido de completude, criando a sensação de que o assunto pode ser concluído com
a matéria. Ao propor novas pesquisas e fontes de informações sobre o assunto, o telejornal
ressalta que há outras fontes, mais específicas, com informações complementares,
proporcionando um conhecimento maior sobre o assunto. Pode-se notar, a partir daí, o
reconhecimento, por parte do telejornal, dos limites técnicos e informativos do meio
televisivo nos padrões correntes nos telejornais.
Em relação aos diversos discursos dessa matéria sobre CT&I, o que se pode observar é que os
discursos da repórter oscilam de acordo com as referências das fontes. Enquanto nos discursos
da apresentadora sobressaem os aspectos técnico-científicos da pesquisa e da doença, no caso
da repórter, quando se aproximava da fonte/paciente seu discurso fazia referência aos aspectos
emotivos, que eram abandonados quando o interlocutor era a fonte/pesquisador.
O conteúdo pôde ser bem trabalhado. Entre os facilitadores da compreensão dos conceitos e
processos científicos da reportagem destacam-se: 1) a aproximação da Ciência às vivências
das pessoas, do público. Ao mostrar os problemas enfrentados pela fonte-paciente, a matéria
revelou outras nuances do problema que vão além da simples referência feita pela fonte-
pesquisador, mesmo porque, a humanização do fato é um dos recursos empregados pelo
Jornalismo como um todo para tornar o assunto mais atrativo ao público; 2) o conteúdo
científico foi contextualizado junto ao público receptor desta pesquisa. A Ciência não foi
abordada somente nos laboratórios, mas adquiriu significado para os beneficiários deste
conhecimento, o que facilita a empatia do público com o assunto; 3) as imagens,
principalmente, quando acompanhadas de explicação da fonte-pesquisador tomam o sentido
de conceituação e de explicação do processo científico. Além disso, a fonte-pesquisador
chama o telespectador à participação do jogo dialógico: fonte-pesquisador se dispõe a
explicar, de forma clara e didática, como atua o novo tratamento no corpo feminino,
convocando, com isso, o público a prestar atenção, a compartilhar com ele a compreensão da
descoberta realizada pela equipe.
Por outro lado, uma lacuna importante não foi preenchida na matéria.Trata-se de revelar ao
público receptor interessado pela nova descoberta quando, como, onde e por qual preço o
novo tratamento estará disponível. Apesar das tentativas [bem-sucedidas] de contextualizar a
Ciência na vida das pessoas, algumas respostas básicas do Jornalismo informativo não foram
apresentadas. Na nota pé, quando a apresentadora poderia oferecer essas informações, utiliza
100
esse tempo para complementar os aspectos científico-acadêmicos da pesquisa, suplantando
informações básicas para que o público possa decidir pela incorporação efetiva do novo
tratamento em suas vidas. Esse mecanismo joga com o que Orlandi (2002), analisa como
“constitutivas das formas do silêncio”, ou seja, não só o que é dito tem relevância, mas o que
deixa de ser dito adquire significado no discurso. O que não é dito também informa sobre algo
que deixa de ser abordado, já que o dizer e o não-dizer fazem parte de escolhas que resultam
na matéria jornalística final.
Telejornal: Jornal da Cultura
Matéria: Motores bicombustíveis para caminhões e ônibus (CD-Rom 1,
página 08)
Formato: Nota simples
Descrição
A nota simples sobre motores bicombustíveis para caminhões e ônibus possui abordagem
descritiva, pois apenas anuncia a novidade. Não há fontes nem indicação da origem da
pesquisa, nem da instituição responsável. A Inovação é o assunto principal. A abordagem da
Inovação se dá forma fragmentada. Na matéria não é usado nenhum recurso de linguagem
significativo. A Inovação é apresentada de forma elogiativa. Como se trata de uma nota
simples, não há imagens (de VT) sobre o processo científico. A matéria não emprega nenhum
elemento ilustrativo.
Análise
Ao se avaliar os critérios para a apuração e divulgação de um fato de interesse jornalístico é
possível constatar, na nota que tem como foco o lançamento de motores bicombustíveis para
caminhões e ônibus, a ausência de elementos essenciais para que a matéria seja minimamente
compreendida pelo telespectador. Essas ausências, ou silêncios, constituem um determinado
tipo de discurso jornalístico por tudo que não é dito, caracterizado como Orlandi (2002) como
a política do silêncio e que acarreta importantes ruídos no processo de comunicação. Não se
trata de censura, como algo que não pode ser dito, interdição ou proibição, mas refere-se ao
silêncio de usar palavras que apagam outras: a matéria foi ao ar, há um discurso de divulgação
científica, no entanto, este “produz sentidos que apagam outros sentidos” (silêncio
constitutivo).
Entre os critérios que pautam o trabalho jornalístico destaca-se, entre os mais importantes, a
referência a fontes. Uma das principais formas de mediação do jornalista com o fato se dá
através das fontes. As fontes (pessoas e documentos) municiam o jornalista com dados e
opiniões. Nessa nota há total ausência de fontes, mesmo que indiretamente, apenas como
menção. Dessa forma, cria-se o efeito de que o apresentador detém todas as informações
acerca do fato e de que ele, sozinho, é o responsável pela criação (ao dispensar as informações
de fontes), e não apenas pela divulgação, desta informação.
Outra ausência refere-se à opção de omitir informações básicas que poderiam remeter o
assunto a algum contexto. Entre as informações negligenciadas na matéria, que
possibilitariam uma melhor compreensão do assunto, estão: 1) quem desenvolveu esta
Tecnologia; 2) como o motor foi criado; 3) onde e em quais circunstâncias foi desenvolvido;
4) desde quando este novo motor foi desenvolvido e quando estará disponível no mercado; 5)
quais as expectativas para o emprego desta Tecnologia; 6) quais as vantagens e as
desvantagens deste novo motor, entre outras.
101
Outra ausência marcante dessa nota refere-se ao uso de expressões vagas e com pouca carga
informativa, que tentam encobrir a supressão (e substituem) de dados e depoimentos da
matéria. São elas: “olha”, “depois do sucesso”, “vem aí”. Essas expressões, embreantes de
tempo e de espaço (MAINGUENEAU, 2001), são os pontos escolhidos pelo telejornal para
chamar a atenção do telespectador, tendo em vista que, por se tratar de uma nota, não há
imagens correspondentes ao assunto. Entre os efeitos de sentido criados por estas expressões
estão: redundância (por que pedir para o telespectador olhar se já se presume que ele esteja
olhando para a televisão ?), sensacionalismo (“depois do sucesso”. Que tipo de sucesso? Por
que sucesso?), descontextualização (“vem aí”. Onde?, será no Brasil?, no exterior? Quando?)
e imprecisa (“os custos podem cair significativamente”. Os custos de quê? Quanto? Em
comparação a quê ?).
Há um julgamento na nota que a torna opinativa e tendenciosa. Ao afirmar que os novos
motores bicombustíveis de ônibus e caminhões vão diminuir a poluição e os custos, o
apresentador julga que essa Inovação é benéfica, sem se amparar em qualquer dado ou
informação especializada. Esse julgamento também apresenta lacunas de informação. São
elas, por exemplo: como e por quê diminuirá a poluição?; os custos de quê cairão?; qual a
conseqüência disso para a população, para a economia, para o país e para os profissionais
envolvidos diretamente no transporte de cargas e pessoas? Além disso, a expressão facial e o
ritmo da fala do apresentador também colaboram para impor uma característica positiva ao
que é noticiado.
Esse aspecto adquire maior relevância ao considerar que a televisão é apontada por
pesquisadores como o veículo de comunicação de maior influência e penetração social. Além
disso, outro agravante, conforme Arbex Jr (2001, p. 98-99), é que a televisão não é mera
“observadora” ou “repórter”, mas tem o poder de interferir nos acontecimentos.
Alguns termos técnicos são tratados como conhecidos pelo público e, por isso, para o
telejornal, não necessitam explicação. São eles: "bicombustível”, “motor flexível”,
“biodiesel”. Seguindo a construção dessa nota, nada foi explicado sobre a “poluição causada
por veículos pesados” citada na nota. A explicação desta sentença poderia ajudar na
contextualização da nota e oferecer dados que reforçariam a importância da nova Tecnologia.
Ao avaliar as funções sociais desempenhadas pela reportagem de Ciência e Tecnologia
propostas por Bueno (1984): informativa, educativa, social, cultural, econômica e político-
ideológica, pode-se afirmar que a função informativa não foi cumprida, pois as informações
divulgadas geram dúvidas e não esclarecimentos sobre a Tecnologia. No caso das funções
educativa e social estas também não foram realizadas, visto que a nota não elucidou questões
relevantes para a compreensão do fato e inclusão dos resultados da pesquisa na vida das
pessoas. No caso das funções econômica e político-ideológicas, ao tratar essa nova Inovação
de maneira tendenciosa, a nota incentiva os telespectadores a encararem os motores
bicombustíveis para caminhões e ônibus como algo bom econômica, ambiental e socialmente.
O que não seria nada condenável, é importante enfatizar, se essas conclusões fossem baseadas
em versões e dados de fontes e não apenas respaldadas em recursos de voz, de expressões
faciais, de termos pouco informativos e de julgamentos do apresentador.
Caldas (2004) avalia que a valorização de CT&I como estratégico passa pela inserção cada
vez mais freqüente de temas científicos nos telejornais brasileiros e programas especiais que
buscam desenvolver uma cultura científica na população brasileira. No entanto, o uso que as
emissoras fazem desse espaço, precisa ser melhor investigado. As falhas e ausências de
102
elementos essenciais à compreensão dos assuntos nesta matéria revelam que essa presença
não é suficiente para o entendimento do assunto. Prova disso, é que a matéria não empregou
imagens, elementos gráficos ou textuais para explicar melhor os fatos. Da mesma forma, a
abordagem restringe-se à descrição/informação, sem contextualização dos fatos e/ou
avaliação de impactos, bem como os desdobramentos para a economia, para a sociedade,
entre outros.
A ausência de imagens também diminui o valor jornalístico desta matéria, pois, além de não
se ter a comprovação de fontes, também não há imagens para subsidiar as informações do
apresentador. Squirra (1990, p.97) avalia que, além da importância do assunto, em
telejornalismo, o tempo (maior ou menor dedicado à notícia) depende da qualidade das
imagens. “A qualidade das imagens tem forte peso na televisão. Se a imagem é boa,
seguramente vai ser aproveitada”. Analisando esta matéria, em particular, ao considerar a
importância do assunto, a ausência de imagens foi fator relevante na determinação do formato
matéria no caso uma simples nota, ao invés de uma nota coberta ou mesmo uma
reportagem.
Comparações entre as matérias: a função educativa
Entre as duas matérias veiculadas pelo Jornal da Cultura há elementos jornalísticos e de
conteúdo contrastantes. Na reportagem intitulada: “Tratamento para endometriose”, verificou-
se que o conteúdo foi bem trabalhado para a compreensão dos telespectadores. Entre os
facilitadores da divulgação dos conceitos e processos científicos da reportagem destacam-se
alguns aspectos positivos:
a) aproximação da Ciência às vivências das pessoas, do público;
b) contextualização social da pesquisa;
c) as imagens, que auxiliam na conceituação e na explicação do processo científico;
d) mostra outras fontes de informação sobre a pesquisa para complementação da matéria;
e) cita a relevância (social, acadêmica) da pesquisa.
Pode-se aferir, portanto, que a matéria desempenhou a função educativa, sem ignorar, é claro,
as lacunas destacadas na análise.
Por outro lado, na nota denominada “Motores bicombustíveis para caminhões e ônibus”,
constatou-se que não foram fornecidas informações essenciais para que o público
compreendesse adequadamente o assunto. Entre os elementos que corroboraram para isso
estão os seguintes aspectos negativos:
a) uso de termos vagos e imprecisos;
b) pouco tempo destinado ao tratamento do assunto a nota dura 15 segundos;
c) ausência de imagens;
d) ausência de fontes testemunhais ou especialistas;
e) falta de contextualização do assunto;
f) falta de explicação do processo científico/tecnológico envolvido.
Com isso, a nota pouco contribuiu para a compreensão do público sobre o assunto ligado à
Inovação apresentada. Sendo assim, a função educativa não foi devidamente trabalhada nesta
nota simples. Ao se comparar as duas matérias de CT&I veiculadas pelo Jornal da Cultura,
nota-se que, mesmo em um mesmo telejornal, não há um padrão de tratamento e
aprofundamento do conteúdo, de abordagem de CT&I ou de presença de fontes especialistas.
103
Dia 11 de maio de 2005
Principais acontecimentos noticiados pelos telejornais
As editorias, nesse dia, estão presentes da seguinte forma nos telejornais:
Jornal da Band: Clima, CT&I, Economia, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça, Política,
Previsão do Tempo e Trabalho/Emprego. A editoria de CT&I apresentou, nesta edição, duas
matérias. Uma nota coberta sobre um protetor solar de geleiras e uma reportagem sobre o
Banco Nacional de Tumores.
Jornal Nacional: CT&I, Economia, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça, Política, Previsão
do Tempo, Religião e Trabalho/Emprego. A editoria de CT&I apresentou uma matéria: uma
nota coberta sobre a reconstituição do rosto de Tutankamon.
Jornal da Record: CT&I, Economia, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça, Política,
Previsão do Tempo e Saúde Pública. A editoria de CT&I apresentou duas matérias, sendo
duas reportagens, uma sobre o Banco Nacional de Tumores e outra sobre um estudo do
economista Márcio Pochmann.
Jornal da Cultura: CT&I, Economia, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça, Política,
Previsão do Tempo, Saúde Pública e Trabalho/Emprego. A editoria de CT&I apresentou duas
matérias. Uma reportagem sobre infertilidade masculina e uma nota coberta sobre a
reconstituição do rosto de Tutankamon.
Na editoria de Política, os telejornais deram enfoque aos ataques do então ministro da
coordenação política do governo Lula, Aldo Rebelo, que disse que o partido do governo
precisava de mais apoio no Congresso. Além disso, houve a divulgação do documento final
da Cúpula dos países árabes e sul-americanos.
Na editoria de Polícia houve destaque para a notícia de que a justiça do Paraná ficaria com a
guarda do bebê vendido pela mãe para uma família norte-americana. Além disso, foram
noticiados o fim da rebelião no presídio de Presidente Prudente e a fuga de internos da Febem
do Tatuapé, em São Paulo.
Todos os telejornais selecionados anunciaram o fim do casamento do jogador Ronaldo com a
modelo Daniela Cicarelli. Entre os assuntos internacionais foi notícia o alarme falso de
terrorismo ocasionado por um avião que invadiu o espaço aéreo norte-americano. Ainda nessa
editoria, destaque para o depoimento do ator Macauly Calkin a favor do cantor Michael
Jackson, acusado de abuso sexual de menores.
De forma esquematizada, é possível observar a presença das editorias de cada um dos
telejornais a partir da tabela da próxima página:
104
Principais editorias
Jornal da Band Jornal Nacional Jornal da
Record
Jornal da Cultura
Clima == == ==
CT&I CT&I CT&I CT&I
Economia Economia Economia Economia
Esportes Esportes Esportes Esportes
Internacional Internacional Internacional Internacional
Polícia/Justiça Polícia/Justiça Polícia/Justiça
Polícia/Justiça
Política Política Política Política
Previsão do Tempo
Previsão do Tempo Previsão do
Tempo
Previsão do Tempo
== Religião == ==
== == Saúde Pública Saúde Pública
Trabalho/Emprego Trabalho/Emprego == Trabalho/Emprego
Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I
O Jornal da Band teve duração de 33 minutos e 55 segundos. Desse tempo, 2 minutos e 33
segundos foram dedicados a CT&I. O Jornal Nacional durou 26 minutos e 17 segundos e
CT&I ocupou 21 segundos da programação. O Jornal da Record foi apresentado em 36
minutos e 17 segundos, dos quais 4 minutos e 24 segundos foram dedicados a CT&I. O
Jornal da Cultura, por sua vez, durou 25 minutos e 39 segundos, sendo que 3 minutos e 30
segundos deste tempo foram de matérias de CT&I.
Telejornal
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal
da Cultura
Total
Geral
Tempo total
33’55”
(6 blocos)
26’17”
(5 blocos)
36’17”
(5 blocos)
25’39”
(5 blocos)
2h 02’08”
Tempo
CT&I
2’33” 21” 4’24” 3’30” 10’48”
% Tempo de
CT&I
6,94% 0,80% 11,72% 12,99% 8,58%
As matérias de CT&I dos telejornais
Todos os telejornais estudados apresentaram matérias de CT&I nesse dia. Ao todo, foram sete
matérias. No Jornal da Band foram duas matérias: uma nota coberta e uma reportagem. A
reportagem tratou da inauguração do primeiro Banco Nacional de Tumores e teve duração de
1 minuto e 39 segundos. A nota coberta, de 54 segundos, foi sobre a invenção de um suíço
para evitar o derretimento da neve em sua estação de esqui, nos Alpes. No total, foram 2
minutos e 33 segundos dedicados a CT&I no Jornal da Band. As duas matérias da área de
CT&I foram distribuídas em mais de um bloco do telejornal.
O Jornal Nacional foi o que dedicou menos tempo a CT&I entre os telejornais estudados.
Teve somente uma nota coberta, de 21 segundos, sobre a reconstituição do rosto do faraó
Tutankamon.
O Jornal da Record apresentou duas reportagens sobre CT&I. Em uma delas, noticiou a
inauguração do Banco Nacional de Tumores, reportagem de 1 minuto e 46 segundos, e em
105
outra, de 2 minutos e 38 segundos, tratou de um estudo do economista Márcio Pochmann que
contesta os números do governo Federal em investimentos sociais. As duas matérias da área
de CT&I, que somam 4 minutos e 24 segundos, foram distribuídas em mais de um bloco do
telejornal.
O Jornal da Cultura tratou do assunto em duas matérias, que totalizaram 3 minutos e 30
segundos: uma reportagem e uma nota coberta. A reportagem, de 3 minutos e 7 segundos,
abordou a causa e o tratamento para casos de infertilidade masculina. A nota coberta, de 23
segundos, mostrou o trabalho de reconstituição do rosto de Tutankamon, o mesmo assunto
tratado pelo Jornal Nacional. Nesta edição, as matérias da área de CT&I foram concentradas
em um único bloco do telejornal.
Matérias de CT&I
Jornal da Band Jornal Nacional Jornal da
Record
Jornal da Cultura
Protetor solar de
geleiras.
Nota coberta (nc)
Reconstituição do
rosto de
Tutankamon (nc)
Banco
Nacional de
Tumores
Infertilidade
masculina
Banco Nacional de
Tumores
*** Estudo Márcio
Pochmann
Reconstituição do
rosto de
Tutankamon (nc)
A edição da Ciência nos telejornais
Telejornal: Jornal da Band
Matéria: Protetor solar de geleiras (CD-Rom 1, página 09)
Formato: Nota coberta
Descrição
A nota coberta sobre o protetor solar de geleiras tem abordagem predominantemente
descritiva, já que apresenta a novidade com pouco aprofundamento. Trata-se de uma matéria
internacional, de agência de notícia. É uma matéria em que a Invenção é assunto principal. A
abordagem científica ocorre de forma fragmentada. A Invenção é apresentada de forma
elogiativa. O ambiente (das imagens) colabora para a apreensão do conteúdo. A Invenção
nesta nota coberta é incorporada ao ambiente natural. As imagens auxiliam na compreensão
do conteúdo científico envolvido. Há demonstração da Invenção com imagens e palavras. A
matéria não apresenta nenhum elemento ilustrativo.
Análise
A nota intitulada “Protetor solar de geleiras” atrai a atenção do telespectador pela
originalidade da Invenção: cobrir, com um tecido sintético, as pistas de uma estação de esqui
para evitar que o gelo derreta. Temer (2003) aponta como um dos critérios de noticiabilidade
de alguns telejornais, a “seleção de fatos apenas pelo interesse público que despertam, pela
carga emocional ou pelo aspecto hilariante”.
Esta característica pode ser notada pela própria expressão facial e pelo tom de voz irônico
com que Carlos Nascimento apresenta a matéria. A imagem do inventor criada pelo
apresentador Carlos Nascimento é de desconfiança, de descrédito. É a força impressa no
106
discurso do apresentador. Para Bakhtin (1997), a entonação é um dos recursos empregados
pelo locutor para expressar a relação emotivo-valorativa que ele possui com o objeto do
discurso, neste caso, o inventor, caracterizado, pelo apresentador, como alguém que não
transmite confiança por seu invento.
O apresentador lança para a apresentadora Mariana Ferrão, a dúvida se realmente a Invenção
obterá resultados positivos. O diálogo passa, então, a ser estabelecido entre os apresentadores:
Nascimento desempenha o papel discursivo do telespectador. Ele procura representar as
dúvidas de quem assiste (expresso na pergunta: “Mariana Ferrão, será que está nova invenção,
estranhíssima, vai funcionar?”).
Por outro lado, Mariana Ferrão ocupa o papel discursivo da jornalista-especialista. Ela dá as
explicações de como a invenção funciona, contextualiza o assunto e apresenta as limitações
da descoberta. As imagens, de agência de notícia, são explicativas do produto final criado
pelo inventor suíço. No final da nota é mencionado o problema do derretimento das geleiras,
ocasionado pelo aumento da temperatura do planeta e pelo buraco da camada de ozônio. O
assunto, grave e urgente, que envolve riscos ambientais e de sobrevivência de espécies, só é
mencionado, sem qualquer explicação ou relação de causa e efeito entre o problema ambiental
e a “solução” encontrada pelo suíço.
Ao invocar a versão de ambientalistas, que não são ouvidos nem identificados, cria-se o efeito
de subentendido (DUCROT, 1981): a apresentadora leva em conta que o telespectador sabe
do problema ambiental e, por isso, não considera necessário abordá-lo.
Enquanto o gancho da matéria recaiu sobre a originalidade e estranheza da invenção, a causa
que desencadeou a invenção (aquecimento global) foi tratada superficialmente. Por se tratar
de uma nota coberta não há entrevistas com o inventor ou mesmo com as pessoas
beneficiadas. A origem internacional da informação e o conteúdo pouco contextualizado
tornam a nota coberta meramente descritiva.
O papel educativo que o assunto poderia despertar, principalmente relacionando as pessoas ao
meio ambiente, foi suprimido das imagens e também dos discursos dos apresentadores.
Mesmo distante da realidade brasileira (o Brasil tem características ambientais diferentes da
Suíça), o tema da nota poderia contemplar entrevistas com especialistas sobre as causas do
problema, mencionado por Mariana Ferrão, do derretimento das geleiras e do
alcance/limitação da invenção suíça.
Telejornal: Jornal da Band
Matéria: Banco Nacional de Tumores (CD-Rom 1, página 10)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem do Jornal da Band sobre o Banco Nacional de Tumores tem abordagem
interpretativa/analítica, pois a matéria mostra a contribuição social do Banco e relaciona os
benefícios do Banco a outras esferas da sociedade. Há fontes especialista e oficial na matéria.
A origem da pesquisa é nacional, da região Sudeste (Rio de Janeiro), realizada por um
instituto público. Tecnologia é o assunto principal, cuja abordagem acontece de forma
contextualizada. A Tecnologia é apresentada de forma elogiativa e é incorporada ao ambiente
de produção e ao ambiente de recepção desta. As imagens auxiliam no processo científico
107
envolvido. Há demonstração do processo científico com palavras e imagens. A matéria
empregou apenas a vinheta como elemento ilustrativo que não exerceu grande influência na
compreensão dos processos científicos envolvidos na matéria.
Análise
A reportagem do Jornal da Band sobre a inauguração do Banco Nacional de Tumores teve
como “gancho” um acontecimento do dia; trata-se de uma matéria “quente”. A urgência e a
importância da matéria são ressaltadas tanto pelo assunto (câncer, doença grave, que provoca
mortes) e também pelos números apresentados pela repórter (“Os médicos calculam: O Brasil
deve registrar 468 mil novos casos de câncer este ano”). Ao apresentar tais números, o
telespectador, logo no início da matéria, passa a ser envolvido: 468 mil pessoas, até então
sadias, irão contrair a doença nos próximos sete meses. Ao apresentar a extensão da doença, o
telejornal buscou tornar a matéria atrativa, por tratar de assunto importante e grave para o
público.
A matéria pressupõe que o telespectador já saiba que nem todos os casos de câncer serão
resolvidos, e que muitas pessoas morrerão em conseqüência da doença. O Banco Nacional de
Tumores surge como uma medida amenizadora, uma ferramenta benéfica desenvolvida pela
Ciência (“O Banco Nacional de Tumores pode ajudar a responder a essa e outras perguntas”).
O Banco é mostrado como uma forma de, ao se conhecer melhor os tipos de câncer, melhorar
o tratamento de cada paciente e, com isso, melhorar suas condições de vida. Na matéria, a
Ciência não é retratada como solução para os casos de câncer, mas como um auxílio ao
tratamento.
Esta matéria conta com duas fontes, uma oficial e uma especialista: o diretor e o chefe de
pesquisas do Inca. Isso pode ser explicado pelo fato de a reportagem ter como foco um evento
institucional. Dessa forma, por não se tratar de uma pesquisa aplicada, não se pôde vincular,
até àquele momento, a inauguração do Banco Nacional de Tumores às opiniões das pessoas,
dos pacientes que poderão, futuramente, ser beneficiados. No entanto, as imagens de pessoas,
pacientes de câncer sendo atendidos no hospital, preenchem, em parte, essa lacuna. Com isso,
procurou-se vincular a Ciência à vida das pessoas não por intermédio das falas de pacientes
ou testemunhos, mas com a inserção de imagens dos pacientes (que serão influenciados pela
inauguração do Banco Nacional de Tumores). Tais imagens também constroem sentidos, já
que estas também são discursos, como afirma Pinto (1999), para o qual as imagens também
possuem interdiscursividade. As imagens de pessoas doentes nos hospitais são amplamente
divulgadas nos telejornais, em matérias de CT&I e também nas de saúde pública. Portanto,
são imagens familiares ao público e, ao serem mostradas nessa matéria, mesmo sem o
discurso verbal dos pacientes, criam o sentido de já-conhecido.
Os discursos tanto da repórter (como por exemplo: “Além de obter informações importantes,
será possível cruzar dados sobre o paciente e a reação ao tratamento”) como de uma das
fontes especializadas (“A gente acredita na oncologia, que daqui a dez anos, dois pacientes
com câncer de pulmão vão ter tratamentos diferentes”) também cumprem essa função.
Relacionar as futuras aplicações e os benefícios de se criar um Banco Nacional de Tumores
foi outra forma encontrada na reportagem para torná-la atrativa ao telespectador. Desse
objetivo derivam-se outros, que podem ser encarados como conseqüências da necessidade de
mostrar a utilidade do Banco Nacional de Tumores.
Uma delas é a linguagem com poucos termos técnicos tanto nos discursos do apresentador,
como nos da repórter e das fontes especializadas. As exceções são os termos “oncologia”,
108
usado por uma das fontes, e “perfil genético” citado pela repórter. Com isso, a interação com
o público é facilitada.
Outra é através do emprego de imagens do local em que as amostras serão guardadas,
juntamente com a demonstração do trabalho dos cientistas no laboratório e com a
apresentação e a indicação feitas pela repórter (“Aqui serão guardadas amostras dos tipos
mais freqüentes da doença no Brasil. Câncer de mama, próstata, pulmão, esôfago, cabeça e
pescoço”). Dessa forma, imagem e enunciados compõem um discurso e atuam em
consonância para que o telespectador compreenda o que é, como funciona e qual a finalidade
de um Banco Nacional de Tumores, além das perspectivas futuras para a saúde da população
a partir daí.
Um outro elemento essencial constitutivo dessa matéria é o enfoque às perspectivas futuras
que poderão advir com os estudos desenvolvidos pelo Banco Nacional de Tumores. Esse
aspecto pode ser observado tanto no discurso das fontes (“A nossa idéia é que nós deixemos
de ser meramente importadores de tecnologias desenvolvidas lá fora e passemos a
desenvolver a nossa própria tecnologia”, ou, ainda, “A gente acredita na Oncologia, que daqui
a dez anos, dois pacientes com câncer de pulmão vão ter tratamentos diferentes”) como no
discurso da repórter (“Com o estudo das amostras, os pesquisadores querem aprimorar o
tratamento e até desenvolver novos remédios para combater a doença” e também: “Nesta
primeira fase, serão coletadas amostras apenas aqui no Rio. Mas dentro de cinco anos haverá
centros médicos habilitados em todas as regiões do país. Para retratar com mais precisão o
perfil genético do brasileiro”).
Nota-se, na conclusão dessa matéria, nos discursos da fonte e da repórter, um tom de
esperança, que remete aos doentes de câncer e à Ciência, já que esta oferece um novo
instrumento que, no futuro, poderá melhorar o tratamento de tais doenças. A matéria joga, ao
longo de todo o discurso de divulgação científica, com a relação temporal: hoje-amanhã,
presente-futuro. Isso pode ser comprovado pelo uso de embreantes (MAINGUENEAU, 2001)
de tempo (“daqui dez anos”, “dentro de cinco anos”) e embreantes de espaço (“aqui no Rio”,
“lá fora” e “em todas as regiões do país”). Trata-se da Ciência e da Tecnologia trabalhando
em prol de um futuro melhor para os pacientes de câncer.
Telejornal: Jornal Nacional
Matéria: Reconstituição do rosto de Tutankamon (CD-Rom 1, página 11)
Formato: Nota coberta
Descrição
A nota coberta sobre a reconstituição do rosto de Tutankamon tem abordagem descritiva, pois
a matéria apenas apresenta a pesquisa sem ressaltar as suas contribuições. Não há fontes e a
apresentadora apenas cita “cientistas”, que não são ouvidos. A origem da pesquisa é
internacional (do Egito), realizada por uma instituição pública. As imagens são provenientes
de agência internacional de notícias. A Ciência é o assunto principal e a abordagem desta
acontece de forma fragmentada, apresentada de forma elogiativa. O ambiente colabora para a
apreensão do conteúdo. A imagem da Ciência é incorporada ao ambiente de produção, mas é
desarticulada do ambiente de recepção. As imagens auxiliam no processo científico
envolvido. Há demonstração do processo científico com palavras e imagens.
109
Análise
Esta nota coberta sobre a reconstituição do rosto de Tutankamon é de origem internacional
das áreas de História e Arqueologia, o que possibilitaria um bom aproveitamento levando-se
em conta a função educativa que o assunto pode despertar, já que no ensino formal o Antigo
Egito faz parte do conteúdo didático. No entanto, não é o que acontece. A duração reduzida, a
ausência de fontes e a não contextualização do assunto tornam a matéria simplesmente
factual: fala-se de um acontecimento científico sem mencionar as personagens envolvidas
(isso fica diluído na expressão “cientistas”), sem explicar como o trabalho é feito e sem
revelar qual a sua importância, que fica subentendida para os que conseguem relacionar o fato
ao contexto social mais amplo. A matéria cria o sentido de que o público é conhecedor da
história do Antigo Egito. Mesmo tratando-se de um tema de CT&I, esta nota não apresenta
nenhuma preocupação com a explicação do processo científico envolvido e mesmo com as
repercussões que esse trabalho pode ter.
A matéria trata de um tema histórico sem historicidade. Isso corrobora a visão de Orlandi
(2002), para a qual, na televisão, não há espaço para interpretação, para a profundidade
(verticalidade) da rede de relações de que o assunto faz parte porque simula, porém na
horizontalidade, na superficialidade. É o que se pode observar nesta nota, que simula uma
historicidade ao dar espaço no telejornal para a abordagem do assunto, mas não cria sentidos
que podem levar o telespectador a relacionar o fato, a notícia, ao contexto histórico do
assunto.
Essa formatação põe em evidência o que diversos autores chamam de espetacularização do
fato no telejornalismo. Segundo Marcondes Filho (2002, p. 107), o fato, para ser notícia, tem
de ter algo de espetacular ou sensacional, tem de trazer emoção e testemunho. Da mesma
forma, o critério de seleção da notícia a partir de imagens atraentes defendido por inúmeros
pesquisadores e profissionais da área foi suplantado pelo poder de atração do assunto em si.
Mesmo sem imagens fortes, atraentes, sensacionais, a matéria é espetacularizada também por
aquilo que deixa de informar, pois cria uma expectativa que não é preenchida pelo conteúdo.
Ao considerar a enunciação da nota, pode-se avaliar que o uso da expressão “cientistas
recriaram” é a única ligação da nota com a Ciência. Da mesma forma, os cientistas não foram
apresentados, não foram ouvidos, não tiveram voz na matéria. Ao começar a nota com a
palavra “cientistas” presume-se que a Ciência, para o telejornal, é valorizada, pois é
responsável por chamar a atenção do público para o assunto. Ao mesmo tempo, essa matéria
(des) considera, (des) valoriza o papel da Ciência na sociedade, por apresentar os
representantes da Ciência como anônimos, como não-pessoas (a relação que o enunciador
estabelece com uma terceira pessoa da qual ele fala mas que não tem discurso), conforme
afirma Maingueneau (2001).
A nota responde às questões do lead da estrutura da pirâmide invertida do Jornalismo
informativo (o que?, quem?, como?, quando?, onde? e por quê?). Isso não garante, contudo, a
contextualização do assunto.
As imagens, de agência de notícias, colaboram para a apreensão do conteúdo, mas não há
demonstração de como o trabalho foi feito. Dessa forma, caso o telespectador não saiba como
funcionam “imagens de tomografias”, terá o entendimento comprometido. Novamente, a
matéria cria o sentido de já compreensão do processo científico que envolve o tema. A
matéria coloca o telespectador na posição de conhecedor do processo.
110
Nesta nota também não houve a preocupação com a inserção da Ciência ao ambiente social
mais amplo. Ou seja, a nota não informou qual a contribuição que esta pesquisa trará aos
estudos sobre o Antigo Egito. Por se tratar de uma pesquisa aplicada, a matéria poderia
contemplar esse aspecto do trabalho.
Telejornal: Jornal da Record
Matéria: Banco Nacional de Tumores (CD-Rom 1, página 12)
Formato: Reportagem / Ver análise Grupos Focais, capítulo V, página 262
Descrição
A reportagem do Jornal da Record sobre o Banco Nacional de Tumores tem abordagem
interpretativa/analítica, já que relaciona a inauguração do Banco aos aspectos científicos e
sociais em que este está inserido. Trata-se de uma pesquisa nacional, da Região Sudeste (Rio
de Janeiro), realizada por um instituto público. Na matéria há apenas uma fonte especialista.
A Tecnologia é o assunto principal da reportagem, que é abordada de forma contextualizada e
apresentada de maneira elogiativa. O ambiente mostrado auxilia na compreensão do conteúdo.
A Tecnologia é mostrada incorporada ao ambiente de produção. As imagens auxiliam na
compreensão do processo científico envolvido. Há demonstração do processo científico com
palavras e imagens. O único elemento ilustrativo usado é a vinheta. Esta não interfere
significativamente na apreensão do conteúdo científico.
Análise
Esta reportagem busca tornar o assunto atrativo a partir do emprego de alguns recursos, entre
eles está o de relacionar, na abertura, a inauguração do Banco aos benefícios que trará à
sociedade (“O centro vai armazenar amostras para, no futuro, traçar o perfil genético do
brasileiro. Assim será possível um tratamento diferenciado para cada paciente com câncer”).
Um outro recurso que facilita a atração e a compreensão por parte do telespectador é explicar
(com palavras e imagens) o processo que envolve o trabalho científico, desde a coleta de
amostras de tumores até o trabalho de pesquisa (“Inicialmente, vão ser coletadas amostras de
tumores de grande incidência como os de pulmão, mama e próstata”. “Nesta primeira fase as
amostras vão ser recolhidas apenas aqui no Rio...”. “A segunda fase é o trabalho dos
pesquisadores do Inca...”).
Outra forma de tornar o assunto relevante para o público é chamar a atenção para a gravidade
e extensão do câncer na sociedade brasileira (“Só em 2005, o Ministério da Saúde estima que
vão ser registrados, no Brasil, 467 mil novos casos de câncer, doença que mata a cada ano
mais de 130 mil brasileiros”).
Outro recurso que facilita a compreensão é a demonstração, pelo repórter, do processo que
envolve a coleta de amostras. Diz o repórter: “Cada freezer como este tem capacidade para
armazenar até 48 mil amostras a uma temperatura de até 80 graus negativos”.
Ao relacionar o Banco Nacional de Tumores recém-inaugurado com outros centros parecidos
em outros países e mencionar o que é feito no Brasil em clínicas particulares, destaca-se, na
matéria, a importância do assunto a partir de dados sobre as melhorias que serão geradas com
o novo Banco (“No Brasil, algumas clínicas particulares fazem uma parte deste trabalho. Mas
essa é a primeira vez na América Latina que todas as informações vão ser centralizadas num
único Banco”). Ocorre, neste trecho, a motivação pelo assunto na mídia a partir da reputação
111
da Ciência: o pioneirismo do Banco Nacional de Tumores na América Latina contribui para a
seleção desta matéria pelo telejornal, ou seja, a reputação da Ciência é usada como um critério
de noticiabilidade (proeminência) da matéria (Weingart, 1998).
Ao longo de todo o discurso da matéria do apresentador, do repórter e da fonte está
presente a perspectiva (benéfica) para o futuro tanto das pesquisas sobre câncer como do
próprio Banco Nacional de Tumores (“O resultado vai orientar o tratamento mais adequado
que também promete ser o mais eficiente”. “Talvez essa seja a oncologia da próxima década.
É para isso que a gente tá se preparando”. “... e a forma de tratar o câncer de acordo com cada
paciente”. “É um avanço, né”).
A esperança no futuro promissor evidencia a função conativa da linguagem salientada por
Jakobson (1995), caracterizada como a que pretende influenciar o comportamento do
receptor. Nesse caso, além de informar sobre o Banco de Tumores (função referencial), os
discursos criaram o efeito de persuadir o receptor a ter esperança em novos tratamentos para o
câncer a partir do desenvolvimento (futuro) de novas pesquisas que poderão advir com o
Centro.
Sobre isso Weingart (1998) chama a atenção de que a percepção pública da Ciência vem da
mídia. Ao receber a cobertura da mídia, com a esperança em torno de novos tratamentos para
o câncer, apoiados, sobretudo nos discursos da matéria, as pesquisas do Banco Nacional de
Tumores recebem a chancela social, dos telespectadores.
Por outro lado, a matéria utiliza (sem explicação por imagens e/ou palavras) alguns termos
científicos (“Os pesquisadores vão guardar também o DNA de todo o histórico do paciente”.
“Centros de coleta vão ser instalados em todas as regiões do Brasil, o que vai ajudar a definir
o perfil genético”), que dificultam a apreensão do conteúdo da matéria, já que considera que o
público já compreenda tais expressões, o que pode não acontecer. No entanto, o tom emotivo
da matéria (porque é relacionada a sentimentos/percepções humanas de doença, morte, dor e
esperança) tenta preencher as lacunas de entendimento que a não-compreensão dos termos
técnico/científicos pode ocasionar.
A valorização de fatores emotivos na matéria garante a atenção do público, bem como a
aceitação e o apoio ao Banco de Tumores, no entanto, não garante a real compreensão da
produção e circulação do conhecimento científico. Nesse aspecto, Orlandi (2001, p. 23)
afirma que, dependendo de como a Ciência é apresenta à sociedade, haverá maior ou menor
participação social na produção do saber necessário para a vida social. Com isso, pode-se
aferir que, criar um consenso social sobre a importância do Banco Nacional de Tumores não
significa a apreensão, por parte do público, do processo de funcionamento da Ciência, a partir
da matéria jornalística.
Telejornal: Jornal da Record
Matéria: Estudo Márcio Pochmann (CD-Rom 1, página 13)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem tem abordagem predominantemente descritiva, já que são apenas divulgados os
resultados da pesquisa, sem qualquer relação com os aspectos sociais ou as conseqüências da
pesquisa. Há apenas uma fonte especialista. Outra fonte, oficial, aparece apenas no discurso
112
do apresentador, na nota pé da matéria, como discurso indireto. Trata-se de uma pesquisa
nacional, da região Sudeste (Campinas/SP), realizada por uma universidade pública
(Unicamp). O cientista fala do local de trabalho e ocupa posição discursiva principal (e única)
na matéria. O discurso do cientista corrobora o discurso do repórter. O discurso da fonte
oficial (relatado pelo apresentador) se contrapõe ao discurso do cientista. A Ciência é o
assunto principal da matéria. Esta é abordada de forma fragmentada. A linguagem
predominante é especializada (com o uso de termos técnicos da área econômica). A Ciência é
apresentada de forma equilibrada (nem depreciativa nem elogiativa). A Ciência é apresentada
de forma articulada com o ambiente de produção, mas desarticulada do ambiente de recepção
desta. As imagens auxiliam na compreensão do processo científico envolvido. Há
demonstração do processo científico com imagens e palavras. A matéria conta com tabelas,
que auxiliam na compreensão do conteúdo científico envolvido.
Análise
O foco central dessa reportagem são os resultados da pesquisa. Trata-se de um estudo sobre os
investimentos do governo Federal na área social. Nota-se uma valorização do pesquisador e
da instituição à qual este pesquisador está vinculado como caráter identificador da Ciência.
Desde a abertura, o apresentador faz referência à autoria da pesquisa: trata-se de um estudo
desenvolvido pelo economista Márcio Pochmann, da Unicamp. Na matéria, pesquisador e
instituição de pesquisa (no caso uma universidade estadual) proporcionam credibilidade aos
resultados. Além disso, o repórter também é identificado por nome: o apresentador anuncia
que a reportagem é de Celso Teixeira (o que são acontece em todas as matérias do telejornal,
nem mesmo nas de CT&I). Com isso, identificam-se os autores dos discursos que irão se
entrelaçar na matéria (o âncora Bóris Casoy já é conhecido, mas seu nome aparece também
com créditos no início do telejornal, como é usual).
As pessoas responsáveis pelas enunciações são identificadas. Esse cuidado pode ter sido
tomado inclusive pela polêmica do estudo: o objeto da pesquisa científica entra na esfera
político-partidária. A Ciência, nesta matéria, não é mostrada isenta de outros valores e
interesses sociais. A prova disso é que o pesquisador é apresentado (depois da exposição dos
resultados da pesquisa) de forma a inseri-lo no contexto político. A
posição/preferência/atuação política do pesquisador foi exposta na matéria, como citação
indireta do repórter. Diz o repórter: “Pochmann, que foi secretário, justamente, de programas
sociais da ex-prefeita Martha Suplicy, do PT, diz que a sua posição política em relação ao
governo Lula não interferiu no estudo”.
A matéria mostra que o pesquisador tem posições políticas e que ele foi questionado se suas
escolhas pessoais interferiram no estudo. Trata-se de uma forma diferente, comparada com as
encontradas nos demais telejornais estudados, de se inserir o contexto social e político do
pesquisador ao tratar de um assunto técnico-científico. A matéria dá destaque às posições
pessoais do pesquisador e coloca essa informação no conjunto de formulação dos sentidos da
matéria, formato pouco comum nos telejornais.
Além disso, as posições políticas do pesquisador são mostradas como um dos fatores
motivadores da pesquisa e um dos critérios de credibilidade da pesquisa e do pesquisador: a
matéria faz inferência (DUCROT, 1981) de que o fato de ter sido “secretário, justamente, de
programas sociais da ex-prefeita Martha Suplicy, do PT” (e o governo Federal também ser do
PT), não impede a atuação do pesquisador na esfera pública e que tal atuação é possível e isso
não interfere nos resultados da pesquisa, de acordo com o próprio pesquisador e que é
corroborado pelo discurso do repórter. O discurso do pesquisador entre em cena para justificar
113
a pesquisa como científica como parte de seus interesses enquanto pesquisador e não como
parte de suas posições políticas. Diz o pesquisador: “É um estudo acadêmico. É interesse do
estudioso, certamente, saber em que medida as políticas que estão sendo feitas colaboram ou
não para o enfrentamento da exclusão social no Brasil”.
Ao apresentar os resultados da pesquisa, o repórter já anuncia, logo no início, que são cálculos
matemáticos. Ele caracteriza a pesquisa como “uma verdadeira sopa de números”. Com isso,
cria-se o efeito de sentido de que é preciso uma atenção especial do telespectador para a
compreensão do assunto, porque haverá, na matéria, a exposição de muitos números de forma
misturada, como uma sopa. Esse recurso pode atrair a atenção do público, mas, por outro
lado, gerar um obstáculo à apreensão dos resultados e da própria pesquisa.
O resultado é apresentado com a ajuda de tabelas. No entanto, é preciso notar que o excesso
de dados, números interfere de compreensão da pesquisa. De acordo com Carvalho (2003, p.
23), o excesso de preocupação com didática, em vez de estimular, pode deixar o público
enfadado. Segundo a autora, não é necessário contar tudo, explicar todos os pormenores,
pois, muitos detalhes, dependendo de como forem contados, podem acabar confundindo em
vez de explicar. Nota-se na explicação do repórter uma preocupação com a didática em
detrimento do poder de atração da matéria.
Ademais, o uso de recursos gráficos e visuais pode contribuir para a compreensão do assunto,
mas pode representar também um excesso de didatismo que torna a explicação dos resultados
da pesquisa pouco interessante. De acordo com Carvalho (idem, p. 23), do lado dos que
produzem a matéria, não é preciso conhecer a fundo as ferramentas da comunicação, apenas é
preciso saber usá-las com criatividade e coerência dentro da proposta de divulgar Ciência.
Isso é corroborado pelo uso de termos técnicos da área de Economia como por exemplo “per
capta. O próprio objeto da pesquisa: “o orçamento social” não é explicado, definido ou
exemplificado em nenhum momento da matéria. Com a não contextualização da pesquisa com
as demais esferas da sociedade e da vida das pessoas, a compreensão da matéria também pode
ser prejudicada, pois cria efeitos de sentido de distanciamento da pesquisa, da Ciência em
relação à sociedade.
Na conclusão da matéria, feita pelo apresentador, é exposto, em discurso indireto, o
posicionamento do governo Federal diante dos resultados da pesquisa. Diz o apresentador
quando trata da justificativa do governo Federal para contestar tais números: “O Secretário de
Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, defendeu os números oficiais e
criticou o trabalho do economista. Segundo Lisboa, o economista usou o IGP para fazer a
correção inflacionária dos investimentos enquanto o governo usou o IPCA. Somente em 2002,
o IGP foi mais de 10 pontos percentuais superior ao IPCA”.
O discurso do apresentador é permeado de termos técnicos que dificultam a compreensão pelo
público não-especializado. Com isso, dilui-se a força do discurso da fonte oficial. Enquanto o
pesquisador defende os números e é identificado na matéria (a ele é atribuída a pesquisa, ele
aparece na tela e seu discurso é inserido no discurso da matéria), a fonte oficial, que apresenta
posição contrária aos números da pesquisa, é apresentada apenas no discurso do apresentador.
O discurso da fonte oficial é indireto: o Secretário de Política Econômica do Ministério da
Fazenda, Marcos Lisboa, não aparece na televisão; seu discurso constitui-se na formulação do
apresentador e, além disso, o conteúdo desse discurso é técnico, desconhecido do público
leigo.
114
Telejornal: Jornal da Cultura
Matéria: Infertilidade masculina (CD-Rom 1, página 14)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem sobre infertilidade tem abordagem interpretativa/analítica, já que apresenta não
só o tratamento, mas mostra a principal causa do problema e acompanha os resultados do
tratamento a partir de um exemplo. Há fontes testemunhais e especialistas na matéria. Trata-se
de uma pesquisa nacional, realizada por uma universidade pública da região Sudeste, do
Estado de São Paulo (Unicamp). Os cientistas falam do local de trabalho. As informações dos
cientistas corroboram as informações da jornalista e também das demais fontes. É uma
matéria em que a Ciência é assunto principal. A abordagem científica ocorre de forma
contextualizada. A Ciência é apresentada de forma elogiativa. A Ciência é incorporada aos
ambientes social e de recepção. As imagens auxiliam na compreensão do conteúdo. Há
demonstração do processo científico com imagens e palavras. A matéria contém esquemas e
desenhos como elementos ilustrativos. Tais ilustrações contribuem para a apreensão do
conteúdo científico da matéria.
Análise
Esta reportagem abordou o tema da infertilidade masculina sob a ótica das fontes
testemunhais. Como exemplo, foi apresentada a história de um casal que tentou, por três anos,
ter filho, e que somente obteve sucesso após a realização da cirurgia no marido. Essa é uma
forma interessante de tratar de assuntos de CT&I em telejornalismo. Ao relacionar o problema
(e a solução proposta pela Ciência) à vida de pessoas comuns, a matéria torna-se mais humana
e atrativa, cativante para o público. Sobre o tema, em particular, torna-se relevante a
identificação de Bueno (2004, p. 55-56) para o qual a discussão sobre temas complexos passa,
obrigatoriamente, pela sociedade civil. Assim, é indispensável resgatar a participação dos
atores sociais como fontes.
A Ciência é inserida nessa matéria para tratar de um assunto considerado polêmico, já que põe
em cena o preconceito de muitos homens em lidar com a própria infertilidade e a relutância
em buscar, na Ciência, a solução para o problema (“A infertilidade masculina tem tratamento,
mas basta o homem deixar de lado o preconceito e procurar um médico”).
A infertilidade masculina, na matéria, não é tratada como assunto proibido, mas, por outro
lado, a própria matéria a encara como um assunto polêmico na sociedade, em especial entre os
homens brasileiros. É quase um assunto proibido, vetado, evitado, disfarçado (não na matéria,
mas na vida dos homens). Dessa forma, os discursos da matéria (das fontes testemunhais,
especialistas, da repórter e do apresentador) criam o sentido de romper o tabu, o preconceito
em torno do assunto. A matéria procura derrubar o silêncio produzido socialmente. Ocorre o
que Orlandi (2001) chama de transferência, de deslizamento de sentidos e que produz outros
efeitos: o não-dito não é destruído, apagado socialmente, mas é incorporado ao discurso da
matéria. O não-dito tem espaço no que é dito sobre o assunto: a infertilidade masculina
continua sendo um tema polêmico, mas a matéria mostra que a Ciência pode resolver o
problema se tal preconceito e o receio de procurar um médico forem superados.
Os discursos dessa matéria valorizam a harmonia que a Ciência trouxe à família, como uma
gratificação para os homens e suas famílias por estes terem tratado o problema da
infertilidade: a matéria mostra que vale a pena o homem recorrer à Ciência, ao tratamento
115
médico enfrentando os preconceitos que cercam o assunto e poder, assim, ter filhos. Entre
os recursos empregados para isso, destacam-se o som (música infantil), as imagens das
brincadeiras da criança que passa a mão na barriga da mãe grávida dos pais brincando
com o filho, do ambiente doméstico e os discursos do filho e dos pais. Repórter: “Se você
tivesse procurado médico antes seria tudo mais fácil?”. “Com certeza”, responde o marido. A
repórter também relaciona o discurso jornalístico (de entrevistar) ao discurso infantil de
poucas palavras e alguns gestos da criança de dois anos (“Onde está o nenê da mamãe?”. “Tá
aqui? Na barriga?”).
Ao inserir o discurso da criança, reforçado pelas imagens lúdicas da criança brincando em
casa e pelas perguntas da repórter, cria-se uma cenografia, que definirá o tom próprio que
legitima o próprio discurso buscando o convencimento do co-enunciador (MAINGUENEAU,
2001). Na matéria, a cenografia tem a função de convencer os homens inférteis a procurarem
ajuda médica. A cenografia possibilita, ainda, a inserção de um assunto paralelo ao tratamento
da infertilidade masculina: a alegria familiar proporcionada pela presença de filhos. As
perguntas à criança não inseriram nenhuma informação nova ao tratamento (“Onde está o
nenê da mamãe?”, “Na barriga?”). A criança é apenas a prova de que o tratamento é eficaz: o
menino é um produto final do tratamento médico contra a infertilidade masculina. Repórter:
“Hoje, Davi tem quase dois anos de idade. É uma criança saudável, comunicativa. Ele nasceu
de parto natural e já está sendo preparado para receber o primeiro irmãozinho”. A matéria
ressalta que as crianças trazem felicidade aos casais e que o tratamento é eficaz. O ambiente
familiar tem a função de convencer os homens a procurarem ajuda médica porque o
tratamento pode trazer felicidade. Este é o lugar consignado ao público (masculino) pela
cenografia da matéria.
Do lado das fontes especializadas foram ouvidos dois médicos: um andrologista e um
urologista. Eles fornecem a definição sobre a principal doença causadora da infertilidade
masculina (varicocele), a partir da comparação dessa com as varizes das mulheres; explicam
as principais formas de resolver cientificamente a infertilidade masculina e a cirurgia que trata
da varicocele. A fonte testemunhal/paciente o marido que se submeteu à cirurgia confirma
o sucesso do tratamento. Diz ele: “Levou umas duas horas e no mesmo dia eu saí e voltei para
casa. E esse tratamento, essa cirurgia que eu fiz, foi definitiva. Resolveu o problema e agora a
Cristiane tá grávida de novo”.
Imagens em microscópio de fertilização in vitro, visualização, na tela do computador, de
espermograma e reproduções do aparelho reprodutor masculino com indicações do
especialista são as imagens que vinculam a doença e os tratamentos desenvolvidos pela
Ciência e que são fundamentais para a apreensão do conteúdo da matéria.
No final da matéria, a necessidade de os homens romperem o preconceito de procurar um
médico que foi o discurso gerador da matéria desde o início é reafirmada no discurso do
especialista (“O homem tem realmente que perder esse medo, esse receio, e procurar auxílio
médico porque, muitas vezes, está ao seu alcance e é de fácil resolução”).
A matéria busca criar o sentido de adesão ao tratamento e salienta a ação do Ato
Perlocucionário (AUSTIN apud KOCH, 1995) no e do discurso, como aquele que pretende
produzir mudanças no comportamento do telespectador, no caso, homens que sofrem de
infertilidade e não procuram auxílio médico.
116
Estão em evidência, também, as funções referencial (informação sobre o problema e sobre o
tratamento) e conativa (a matéria tenta convencer os homens com infertilidade a procurarem
auxílio na Ciência, na medicina), apresentadas por Jakobson (1995).
Além disso, os discursos da matéria jogam com a posição discursiva dos homens com
infertilidade (PINTO, 1999), ou seja, a posição que os discursos da matéria atribuem ao
receptor, a imagem que fazem dele, como pessoas preconceituosas quanto à abordagem do
assunto da infertilidade. Tanto é assim, que a matéria precisa recorrer ao convencimento de
que é preciso superar o preconceito.
Ao terminar a reportagem com música infantil e a imagem do filho do casal, também há a
reafirmação de que vale a pena, de que é importante e de que o tratamento pode trazer
felicidade a uma família, comprovado pelo nascimento de Davi, uma criança “saudável” e
“comunicativa”, conforme descreveu a repórter.
Telejornal: Jornal da Cultura
Matéria: Reconstituição do rosto de Tutankamon (CD-Rom 1, página 15)
Formato: Nota coberta
Descrição
A nota coberta sobre a reconstituição do rosto de Tutankamon apresentada pelo Jornal da
Cultura tem abordagem interpretativa/analítica, pois a matéria apresenta a pesquisa e a
relaciona com alguns conhecimentos prévios sobre Tutankamon. Não há fontes ouvidas na
matéria. O apresentador cita “Doutor Zaimer Hawer, secretário geral do Conselho Supremo
de Antigüidades do Egito”, sua imagem aparece na tela, dando entrevista a vários repórteres,
mas esse não é ouvido na matéria. Seu discurso aparece de forma indireta nas palavras do
apresentador. A origem da pesquisa é internacional (do Egito), realizada por uma instituição
pública. As imagens são de agência internacional de notícias. A Ciência é o assunto principal
e a abordagem acontece de forma contextualizada. A Ciência é apresentada de forma
elogiativa. O ambiente (das imagens) colabora para a apreensão do conteúdo. A Ciência é
incorporada ao ambiente de produção, mas é desarticulada do ambiente de recepção. As
imagens auxiliam no processo científico envolvido. Há demonstração do processo científico
com palavras e imagens. A matéria empregou esquemas e desenhos como elementos
ilustrativos. Estes auxiliam na compreensão do conteúdo científico.
Análise
Nessa nota coberta o apresentador chama a atenção do público ao atribuir um caráter
misterioso ao assunto (“Já que estamos falando de coisas misteriosas, um mistério milenar
está sendo revelado”). Sobre isso, segundo Orlandi (2001), do ponto de vista do discurso, a
relação entre as palavras e as coisas, entre a linguagem e o real, não é direta, mas mediada
pelo imaginário. A criação de um ambiente, de um cenário de mistério é empregada como um
fator de facilitação para a comunicação do assunto científico.
A Ciência é responsável, na matéria, por desvendar o mistério. Mas, logo no início, essa
forma de atrair o público pelo lado obscuro do assunto é transferida para o conteúdo da
matéria, que apresenta elementos que comprometem a compreensão e, por isso, caracteriza-se
como um ponto de dispersão da nota coberta. “Com um elemento coletado no sarcófago da
múmia do faraó Tutankamon, cientistas reconstituem a face do chamado Rei Menino do
117
Egito”. O “elemento”, que seria a chave para o entendimento do trabalho científico é oculto,
obscuro, misterioso, como algo sobrenatural.
Os discursos dessa nota coberta podem ser, notadamente, divididos em dois, mas que não são
estanques; entrecruzam-se, se relacionam e constroem o discurso da divulgação. Pode-se
concordar com Foucault (2000, p. 33) para o qual os acontecimentos discursivos não devem
ser isolados, fechados em sim mesmos, mas devem ser descritos a partir de jogos de relações.
Um dos discursos é o da descoberta. É o discurso da novidade trazida pela Ciência. Esse
discurso contempla as informações que explicam como o trabalho de reconstituição do rosto
do faraó foi feito (“Mil e setecentas imagens de alta resolução ajudaram a modelar a cabeça
do faraó em três dimensões”. “Também a máscara mortuária e esculturas de Tutankamon
ajudam na reconstituição”). Neste discurso também foram apresentados os especialistas
responsáveis pela pesquisa. Por se tratar de uma nota coberta e por ser de origem
internacional, a nota coberta não apresenta sonora, a voz do especialista/cientista. No entanto,
essa lacuna é preenchida com imagens do cientista concedendo entrevista e também com o
discurso, indireto, de um especialista envolvido no projeto (“O trabalho está a cargo de três
equipes do Museu Egípcio no Cairo”. “O doutor Zaimer Hawer, secretário geral do Conselho
Supremo de Antigüidades do Egito, explica que com base na varredura eletrônica das imagens
foi feito um molde plástico do crânio e depois foi coberto com cerâmica para esculpir o rosto.
Em seguida, acrescentaram olhos de vidro, a face, os lábios e o cabelo”).
Outro discurso é o da contextualização histórica. Neste aspecto são oferecidas informações
sobre quem foi o faraó, onde e quando ele viveu (“Ele morreu há mais ou menos 30 séculos
entre 17 e 19 anos, não se sabe muito bem”). O final da matéria agrega e relaciona (como
causa e efeito) os dois discursos, revelando como as circunstâncias da descoberta do túmulo
do faraó (discurso histórico, de contextualização) possibilitaram o desenvolvimento da
pesquisa (discurso da descoberta). (“O túmulo do faraó Tutankamon foi encontrado em 1922,
pelo egiptólogo inglês Haward Carter, na margem direita do Rio Nilo, no Egito. Ao contrário
de outros túmulos de faraós encontrados no Egito até hoje, o de Tutankamon não havia sido
violado por ladrões, por isso, os cientistas podem se apoiar em muitos detalhes para
reconstituir o rosto desse faraó menino”). Nesse trecho, a posição que a matéria reserva à
Ciência é de interação, de reciprocidade: a pesquisa só foi possível porque algumas
circunstâncias históricas foram favoráveis. Com isso, a Ciência não é mostrada como um fato
isolado, um acontecimento exterior à sociedade, às pessoas, à história, mas como constitutiva
da e na relação com essas esferas.
A matéria emprega diversas marcações temporais de passado-presente que podem dificultar a
compreensão da matéria: 1) um passado recente de emprego da tecnologia para reconstituição
do rosto do faraó, 2) um presente que resgata um passado do trabalho recém concluído dos
cientistas, 3) um passado referente ao nascimento do faraó (trata-se do passado mais
longínquo da matéria), 4) um passado que revela a data em que a múmia do faraó foi
encontrada e 5) um presente que só é possível graças à circunstância do passado (forma com
que a múmia foi encontrada). Sobre isso, corrobora a posição de Orlandi (2001b, p. 182) que
defende que a mídia produz uma memória horizontal dos fatos. Segundo a autora, na
televisão, um fato é interpretado por outro disponível na própria matéria, já que não há espaço
para interpretação. As datas, as informações fragmentadas que tentam recompor a história do
faraó e do Antigo Egito acabam por criar sentidos que não se transformam em conhecimento,
porque só simulam uma historicidade sem elo discursivo e mesmo de processo histórico-
científico que envolve, preenche tais datas/acontecimentos.
118
Comparações entre as matérias: a função educativa
Dois assuntos apareceram, nesse dia, em mais de um telejornal
60
: a) a matéria intitulada
“Banco Nacional de Tumores” foi veiculada no Jornal da Band e no Jornal da Record, em
ambos no gênero reportagem e b) a nota coberta “Reconstituição do rosto de Tutankamon”
que foi abordada, no gênero nota coberta, pelo Jornal Nacional e pelo Jornal da Cultura.
A reportagem do Jornal da Band sobre o Banco Nacional de Tumores possui características
que a tornam interessante e fácil de ser compreendida pelo público:
a) linguagem com poucos termos técnicos tanto nos discursos do apresentador, como nos da
repórter e das fontes especializadas;
b) imagens do local em que as amostras serão guardadas;
c) demonstração do trabalho dos cientistas no laboratório;
d) enfoque nas perspectivas futuras que poderão advir com os estudos desenvolvidos pelo
Banco Nacional de Tumores.
A reportagem do Jornal da Record sobre o mesmo assunto emprega recursos parecidos com
os utilizados na reportagem do Jornal da Band. Em relação ao Jornal da Record, destacam-se
os seguintes elementos:
a) relaciona a inauguração aos benefícios que o Banco trará à sociedade;
b) explicação (com palavras e imagens) das etapas do trabalho científico;
c) demonstração, pelo repórter, do processo que envolve a coleta de amostras;
d) relaciona o Banco Nacional de Tumores recém-inaugurado com outros centros parecidos
em outros países e relativiza o que é feito no Brasil em clínicas particulares;
e) mostra a perspectiva (benéfica) para o futuro tanto das pesquisas sobre câncer como do
próprio Banco Nacional de Tumores.
Por outro lado, utiliza (sem explicação por imagens e/ou palavras) alguns termos científicos, o
que dificulta a apreensão do conteúdo da matéria. No entanto, o tom emotivo da matéria
(porque se relaciona a sentimentos/percepções humanas de doença, morte, dor e esperança)
tenta preencher as lacunas de entendimento que a falta de compreensão dos termos
técnico/científicos pode ocasionar. Nota-se uma ênfase maior, na matéria do Jornal da
Record, do apelo emocional, o que pode garantir uma maior atenção do público, mas não a
compreensão do processo científico envolvido no Banco de Tumores.
A nota coberta sobre a reconstituição do rosto de Tutankamon do Jornal Nacional possui
características negativas que a tornam simplesmente factual, com pouca possibilidade de
aprofundamento, contextualização. São elas:
a) tempo de duração reduzido;
b) ausência de fonte;
c) descontextualização do assunto;
d) ausência de explicação do processo científico envolvido e mesmo das repercussões que
esse trabalho pode ter.
60
As matérias sobre o mesmo assunto foram analisadas individual e comparativamente sobre a contribuição para
a Compreensão Pública da Ciência.
119
Pode-se aferir que a nota coberta do Jornal Nacional não oferece elementos para que o
telespectador relacione o fato ao contexto histórico do assunto. A matéria é fácil de ser
compreendida, no entanto, a ausência de informações sobre o contexto histórico e o processo
científico dificulta a compreensão da Ciência e da Tecnologia envolvidas.
A nota coberta sobre o mesmo assunto veiculada pelo Jornal da Cultura também apresenta
características negativas que comprometem a compreensão do assunto. São elas:
a) não explicação de termos essenciais para o entendimento do trabalho;
b) emprego de diversas marcações temporais de passado-presente que podem dificultar a
compreensão da matéria;
c) citação de datas e informações fragmentadas que tentam recompor a história do faraó e do
Antigo Egito;
d) ausência de fontes.
Com isso, mesmo sendo um pouco mais contextualizada que a matéria do Jornal Nacional,
tais contextos estão desvinculados da história e, por isso, contribuem pouco para o processo
elucidativo do telespectador e para a função educativa.
Na nota coberta sobre o protetor solar de geleiras, do Jornal da Band, é possível avaliar que a
matéria é meramente factual. Deixa de interpretar a Invenção como decorrência dos
problemas ambientais e também sociais. Além disso, não há entrevistas com fontes
especialistas que, no caso, poderiam explicar o porquê na Invenção. Assim, o papel educativo
que o assunto poderia despertar, principalmente relacionado à relação das pessoas com o meio
ambiente, foi suprimido.
A reportagem do Jornal da Record sobre o estudo do economista Márcio Pochmann explicita
as posições políticas do pesquisador. É uma forma diferente (comparando-se aos demais
telejornais estudados) de inserir a posição política do pesquisador ao tratar de um assunto de
CT&I. A matéria também fornece tabelas e gráficos que auxiliam na compreensão do assunto.
No entanto, algumas características negativas dificultam o interesse pela matéria e chegam a
atrapalhar a percepção pública sobre o tema abordado:
a) excesso de dados e números que interferem de compreensão da pesquisa;
b) desvinculação da pesquisa à vida das pessoas;
c) uso de linguagem técnica (da área econômica);
d) poucas fontes (no caso, ausência do discurso direto da fonte oficial).
A reportagem do Jornal da Cultura sobre infertilidade masculina possui elementos
jornalísticos que buscam o esclarecimento do público e a conseqüente mudança de atitude
diante de um problema de saúde (no caso de homens que, por preconceito, deixam de
consultar um médico e de tratar da infertilidade), o que deve ser considerado positivo no
processo de produção de notícias.
Um deles é o ambiente (a cenografia) em que se desenvolve a matéria: o ambiente familiar
tem a função de convencer os homens a procurarem ajuda médica porque o tratamento pode
trazer felicidade.
Outro é mostrar o lado humano (ligado às emoções) das famílias que passam pelo problema.
120
Outro elemento é o uso de imagens (esquemas, desenhos, imagens computadorizadas) que
explicam sobre a doença e os tratamentos desenvolvidos pela Ciência. A explicação do
tratamento em uma linguagem simples, sem uso de termos técnicos, também facilita a
compreensão.
Dia 13 de maio de 2005
Principais acontecimentos noticiados pelos telejornais
As editorias, nesse dia, estão presentes da seguinte forma nos telejornais:
Jornal da Band: CT&I, Cultura, Editorial, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça, Política,
Previsão do Tempo, Religião e Reportagem Especial. A editoria de CT&I apresentou, nesta
edição, três reportagens. Uma sobre a inauguração do laboratório antivírus, uma sobre
Previsão do Tempo e uma sobre uma pesquisa do IBGE sobre poluição das cidades.
Jornal Nacional: Comportamento, Cultura, Economia, Esportes, Internacional,
Polícia/Justiça, Política, Previsão do Tempo, Religião e Saúde Pública. A editoria de CT&I
apresentou duas reportagens: uma sobre o aparelho que engana o cérebro para não sentir dor e
outra sobre a pesquisa do IBGE sobre poluição das cidades.
Jornal da Record: CT&I, Economia, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça, Política,
Previsão do Tempo e Saúde Pública. A editoria de CT&I apresentou uma reportagem sobre a
pesquisa do IBGE sobre poluição das cidades.
Jornal da Cultura: Cidades, Cultura, Economia, Internacional, Polícia/Justiça, Política,
Previsão do Tempo e Religião. Não houve a editoria de CT&I nesta edição do telejornal.
Na editoria de Política houve destaque para a decisão da Justiça Eleitoral de tornar inelegíveis
Rosinha e Anthony Garotinho. Na área de Polícia/Justiça foi noticiado que um homem foi
encontrado morto dentro do quartel do Exército no Rio de Janeiro. Outro assunto foi sobre o
tráfego de drogas sintéticas entre jovens de São Paulo.
Na área de Cultura houve destaque para Lígia Fagundes Telles, que ganhou prêmio de
literatura. Na editoria Internacional tiveram destaque a bomba que explodiu em frente à sede
da Petrobras na Bolívia, o militar chileno que assumiu participação no desaparecimento de
mais de 500 pessoas na ditadura de Pinochet e o início do processo de beatificação do papa
João Paulo II.
É possível visualizar uma síntese da presença das editorias de cada um dos telejornais a partir
da tabela da página seguinte:
1
21
Principais editorias
Jornal da Band Jornal Nacional Jornal da Record Jornal da Cultura
== == == Cidades
== Comportamento == ==
Cultura Cultura == Cultura
CT&I CT&I CT&I ==
== Economia Economia Economia
Editorial == == ==
Esportes Esportes Esportes ==
Internacional Internacional Internacional Internacional
Polícia/Justiça Polícia/Justiça Polícia/Justiça Polícia/Justiça
Política Política Política Política
Previsão do Tempo Previsão do Tempo Previsão do Tempo Previsão do Tempo
Religião Religião == Religião
Report. Especial == == ==
== Saúde pública Saúde pública ==
Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I
O Jornal da Band teve duração de 36 minutos e 56 segundos, dos quais 5 minutos e 6
segundos foram dedicados a CT&I. No caso do Jornal Nacional, este durou 36 minutos e 1
segundo, dos quais 4 minutos e 4 segundos dedicados a CT&I. O Jornal da Record teve 34
minutos e 17 segundos de programação jornalística, das quais 1 minuto e 41 segundos sobre
CT&I. O Jornal da Cultura teve 29 minutos e 58 segundos. Deste tempo, nenhuma matéria
foi dedicada a CT&I.
Telejornal
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal
da Cultura
Total
Geral
Tempo
total
36’50”
(7 blocos)
36’01”
(4 blocos)
34’17”
(5 blocos)
29’58”
(5 blocos)
2h 17’05”
Tempo
CT&I
5’06” 4’04” 1’41” *** 10’51”
% Tempo
de CT&I
13,86% 11,22% 4,12% *** 7,66%
As matérias de CT&I dos telejornais
O Jornal da Band, o Jornal Nacional e o Jornal da Record publicaram matérias de CT&I
nesse dia. No caso do Jornal da Band foram três matérias. Uma matéria de 1 minuto e 25
segundos sobre a inauguração, prevista para julho, do primeiro laboratório antivírus de
computador da América Latina, criado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo
e por uma empresa de segurança em informática. A outra matéria, de 45 segundos
61
, é de
Previsão do Tempo, mas há explicação científica, feita por Mariana Ferrão, do fenômeno
climático El Niño, o que justifica a seleção desta matéria como parte do corpus de análise
61
Este tempo refere-se apenas ao tempo da explicação científica da matéria, que antecede a previsão do tempo.
A parte referente à previsão do tempo (apresentada depois da explicação científica) não foi incluída no tempo
dedicado a CT&I porque, como aconteceu com as demais previsões do tempo apresentadas (por esse e pelos
outros telejornais) não houve nenhuma referência a CT&I. Dessa forma, obedeceu-se ao critério adotado neste
trabalho para os demais telejornais estudados.
122
entre as de CT&I. A última, de 2 minutos e 56 segundos, trata da divulgação de uma pesquisa
do IBGE sobre os problemas ambientais do país. As três matérias da área de CT&I somam 5
minutos e 6 segundos e foram distribuídas em mais de um bloco do telejornal.
No Jornal Nacional foram divulgadas duas matérias. Uma reportagem, de 1 minuto e 54
segundos, que trata da relação entre arte e Ciência abordando o tema da dor e enfatizou um
aparelho que engana o cérebro para não sentir dor. A outra, de 2 minutos e 10 segundos,
também abordou a pesquisa do IBGE sobre poluição ambiental no Brasil. Nessa edição do
Jornal Nacional, as duas matérias da área de CT&I, que totalizaram 4 minutos e 4 segundos,
foram distribuídas em mais de um bloco do telejornal.
No Jornal da Record foi divulgada uma matéria, de 1 minuto e 41 segundos, sobre a mesma
pesquisa do IBGE.
Matérias de CT&I
Jornal da Band Jornal Nacional Jornal da
Record
Jornal da Cultura
Laboratório
antivírus
Aparelho que
engana o cérebro
para não sentir dor
Poluição das
cidades
pesquisa IBGE
***
Previsão do Tempo
Poluição das cidades
pesquisa IBGE
*** ***
Poluição das
cidades pesquisa
IBGE
*** *** ***
A edição da Ciência nos telejornais
Telejornal: Jornal da Band
Matéria: Laboratório antivírus (CD-Rom 1, página 16)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem do Jornal da Band sobre o laboratório antivírus tem abordagem descritiva, já
que a matéria mostra tão-somente os resultados do trabalho final do laboratório. Não
explicações sobre as repercussões do desenvolvimento da Tecnologia. Apenas são citados
alguns números sobre a ocorrência de vírus de computador no Brasil. Há fonte especialista e
fonte ligada à empresa. A origem da pesquisa é nacional, da Região Sudeste (Estado de São
Paulo), realizada por um instituto público em parceria com uma empresa privada. O cientista
fala do laboratório e apresenta posição discursiva principal em relação às outras fontes. O
discurso do cientista corrobora o discurso da jornalista e também da outra fonte. Nesta
reportagem, Tecnologia é o assunto principal. A abordagem da Tecnologia se dá de forma
fragmentada e é apresentada de forma elogiativa. A Tecnologia é incorporada ao ambiente de
produção desta. As imagens auxiliam na compreensão do processo científico envolvido, no
entanto, não há demonstração do processo científico envolvido.
123
Análise
O Laboratório Antivírus de Computador estava para ser inaugurado quando a reportagem foi
ao ar. O lado positivo da implantação deste centro é o foco central, ressaltado ao longo de
toda a matéria, seja por destacar o que esse trará de bom, seja por oposição aos problemas que
contribuirá para solucionar.
Já na abertura, a matéria ressalta os benefícios do laboratório. O apresentador destaca, em
primeiro lugar, que se trata do primeiro do gênero na América Latina. Com isso, fica patente
que o pioneirismo trará uma diferenciação ao mercado brasileiro em relação aos outros
mercados latino-americanos. Em seguida, o apresentador informa as instituições responsáveis
pela iniciativa um centro de pesquisa e tecnologia (Instituto de Pesquisas Tecnológicas de
São Paulo IPT) e uma empresa privada da área de segurança em informática (cujo nome não
foi divulgado), ou seja, dois segmentos, um da área de pesquisa e outra do mercado, se unem
para solucionar problemas de vírus de computadores. A credibilidade dessa união é ressaltada
na apresentação. Depois disso, são destacados os reais objetivos do laboratório (“Além de
evitar prejuízos para os usuários, as vacinas contra vírus ajudam a combater os crimes
virtuais”). O pioneirismo do Centro e a credibilidade da equipe de pesquisa são as referências
da reputação da pesquisa tecnológica, empregada como um chamariz para a proeminência do
assunto na mídia, conforme atesta Weingart (1998).
A repórter inicia seu discurso com o exemplo de uma empresa atingida pelos ataques de vírus.
Para ressaltar os benefícios do novo laboratório foram destacados os prejuízos da empresa
com os vírus. A repórter descreveu os problemas e o investimento que a empresa foi obrigada
a fazer para se proteger (“Especializada no desenvolvimento de programas para computador,
esta empresa gastou 200 mil reais em um sistema de segurança. Mas, antes de conseguir
bloquear os cerca de seiscentos vírus que recebe todos os dias por e-mail enfrentou
problemas”). Este discurso é complementado pela fonte oficial da empresa, o diretor, que
avalia os prejuízos, ligados à produtividade e ao setor financeiro da empresa (“Homens
parados, horas paradas, ter que fazer todo o serviço novamente”).
A retomada do discurso da repórter mostra um panorama geral do número de vírus de
computador que são criados por dia no mundo. No entanto, não são apresentadas as fontes
responsáveis por tais números (“A estimativa é de que entre vinte e trinta vírus sejam criados
diariamente no mundo”). Ela não diz quem é que fez tais estimativas. É uma informação vaga,
sem credibilidade e de difícil verificação sem pesquisa. A solução para o problema dos vírus é
apontada, pela repórter, com o trabalho do novo laboratório. De todos os problemas e
prejuízos ocasionados pelos vírus, a solução, ou um auxílio para a resolução de tais
transtornos, está no laboratório antivírus (“Mas, a partir de julho, usuários e empresas que
tenham problemas com esses ataques poderão recorrer gratuitamente ao laboratório
antivírus”). Em oposição, novamente, aos gastos e perdas de produtividade das empresas,
estão os benefícios do laboratório, já que o auxílio prestado não acarretará em custos para o
cliente, para a empresa.
O discurso de uma das fontes da empresa de segurança em informática envolvida no projeto
também salienta a importância do laboratório ao tratar do panorama nacional em relação à
existência e atuação dos vírus. (Presidente da empresa: “A maior quantidade de hackers ativos
do mundo está no Brasil. É um ambiente propício para a propagação de vírus e para o
nascimento de novos vírus”).
124
Pode-se notar diversas ausências nesta matéria, que a tornam fragmentada, sem
contextualização, tais como as que dizem respeito aos investimentos necessários para a
implantação de tal laboratório, a forma de contato do público/cliente/sociedade com tal
laboratório, o desenvolvimento das vacinas e da rotina de trabalho da equipe do laboratório.
São informações relevantes, pois, como se trata do único laboratório desses da América
Latina, presume-se que o planejamento, o desenvolvimento e a implantação, e mesmo os
recursos humanos, requerem certo investimento, além de mão-de-obra qualificada. Nada
disso, no entanto, foi abordado na matéria. Somente os resultados finais, para as empresas,
foram descritos.
Nenhum pesquisador ou técnico do IPT ou da empresa foi ouvido para explicar o modo de
funcionamento do laboratório. Tendo em vista que a posição discursiva que o locutor atribui
ao seu interlocutor também produz sentidos, ao não ouvir tais fontes, a matéria cria o sentido
de que o trabalho da equipe tem pouca relevância: o que importa são as aplicações, os ganhos
(principalmente econômicos) para a sociedade, para as empresas.
Por outro lado, as imagens de pessoas trabalhando em salas com computadores e a
apresentação (palestra), para um público determinado, do novo laboratório, mostram a
personalização da pesquisa, o envolvimento e o trabalho da equipe, o que revela que há
realmente pessoas especializadas no projeto.
A repórter salienta outros benefícios para as empresas advindos com a implantação do
laboratório (“Além de identificar problemas e criar vacinas, o laboratório, que funcionará num
espaço como esse, fará pesquisa sobre novos vírus e combaterá o crime digital”).
Em seguida, para complementar o discurso da repórter e, com exemplos, explicar o que é
crime digital, insere-se o discurso da fonte especializada, pesquisador do IPT: Diz ele:
“Quando alguém quer pegar alguma informação da sua máquina, por exemplo, uma senha de
banco, primeiro ele implanta um vírus em sua máquina”.
Por fim, a repórter explica, de forma sucinta, o prazo de desenvolvimento das vacinas (“As
vacinas serão desenvolvidas em um prazo máximo de duas horas). Nota-se, novamente, o fio
condutor da matéria relacionando a Tecnologia com a produtividade. Não importa como serão
desenvolvidas as vacinas, mas sim quanto tempo uma empresa precisará esperar para ter a
vacina contra os vírus.
Pode-se observar nessa matéria a prioridade dada às vantagens econômicas possibilitadas pela
nova Tecnologia desenvolvida. Com isso, a matéria atribui ao telespectador a posição
discursiva de consumidor, preocupado em resolver um problema que traz conseqüências
econômicas negativas. A visão do telespectador como cidadão curioso pelo processo de
criação da Tecnologia é relegada a segundo plano, pois o desenvolvimento das pesquisas,
enquanto avanço no conhecimento, não recebe o mesmo destaque, seja no espaço e no tempo
da matéria seja no discurso das fontes especializadas, de pesquisadores envolvidos nos
trabalhos do laboratório.
Outra característica marcante da matéria, que permeia o tom dos discursos, é a dualidade
(bem contra o mal) criada, entre as tecnologias do laboratório e os vírus. A Tecnologia
representa o bem a economia de tempo, de dinheiro das empresas, o aumento da
produtividade e os vírus que ocasionam os prejuízos e devem ser destruídos representam o
mal. O sentido criado em relação à Tecnologia é de benefício, devoção (o recurso será
125
gratuito às empresas), empenho (trabalho que envolve uma equipe de profissionais/técnicos
mostrados nas imagens): é a Tecnologia, quase como uma heroína, defendendo pessoas e
empresas contra os vírus (e contra os hackers vilões que criam as armas destrutivas
representadas pelos vírus de computador).
Telejornal: Jornal da Band
Matéria: Previsão do Tempo (CD-Rom 1, página 17)
Formato: Nota simples
Descrição
Esta nota simples sobre Previsão do Tempo não conta com imagens externas, pois foi toda
transmitida do estúdio do telejornal. A abordagem é descritiva apenas indica como funciona
o fenômeno climático. Não há fontes nesta matéria. A Ciência ocupa posição secundária, já
que se trata de Previsão do Tempo. A abordagem da Ciência se dá de forma contextualizada.
A Ciência não é apresentada de forma elogiativa nem depreciativa, mas equilibrada. As
imagens auxiliam na apreensão do conteúdo. As imagens da Ciência encontram-se
desarticuladas do ambiente de produção e do ambiente de recepção. A nota simples utiliza
mapas em chroma key
62
como elemento ilustrativo, que auxiliam na compreensão do processo
científico.
Análise
Esta nota simples de Previsão do Tempo não é como a dos outros telejornais que compõem a
amostra investigada. A diferenciação acontece porque a repórter responsável pelas
informações meteorológicas inseriu explicações científicas sobre o fenômeno El Niño, que
atuava no clima do planeta. Não é apresentada nenhuma pesquisa científica ou qualquer
novidade tecnológica na nota. O gancho da matéria é a Previsão do Tempo. No entanto, outras
intercorrências que afetam as temperaturas do planeta sugeriram um maior esclarecimento, o
que foi bem aproveitado. O El Niño não foi apenas citado, mas sua atuação foi considerada a
responsável pelas alterações do clima (como aumento de chuvas) naquele período.
No início, o apresentador já anuncia que o El Niño é o responsável pelas mudanças do clima.
O El Niño é tomado como o causador da mudança do clima no planeta. Outras causas,
inclusive por ação humana, foram ocultadas na matéria. O assunto é mostrado desprovido de
contexto. O El Niño é o vilão, o causador da mudança do clima. A nota desenvolve-se a partir
do diálogo estabelecido entre apresentador e repórter, no estúdio. Diz ele: “Fazia tempo que a
gente não ouvia falar do El Niño, mas o fenômeno caracterizado pelo aquecimento das águas
do Oceano Pacífico está de volta, Mariana, e vai provocar muita chuva no extremo sul do
Brasil neste fim de semana agora?”.
Chama a atenção nesta matéria as posições enunciativas, caracterizadas por Pinto (1999)
como “as diferentes maneiras de construir a representação de uma determinada prática social
ou área de conhecimento propostas pelos sujeitos que aparecem nos textos e que são
assumidas ou não pelos participantes do evento comunicativo em curso”. A partir do diálogo
representado entre apresentador e repórter, a matéria se relaciona com o público e com o
conhecimento técnico-científico. O apresentador representa o público-telespectador, que ora
62
“É o recorte de imagens, para superposição ou adição de quadros no vídeo, através de uma chave de cores. Em
geral, o apresentador realiza a gravação de chamadas ou de notas em um fundo azul. Através de um programa de
computador essa cor é recortada da imagem, que é sobreposta em outro quadro” (COUTINHO, 2006, p. 109).
126
é tomado com pouco conhecimento no assunto ora com conhecimento sobre termos
científicos. A repórter representa o cientista e também a professora.
A partir da posição discursiva ocupada pelo apresentador, a matéria constrói o sentido do
telespectador como pessoa leiga no assunto. É o apresentador (que joga com o papel de um
telespectador interessado e curioso, mas desprovido de conhecimento científico) que indaga a
repórter, incitando-a a fornecer as explicações científicas. Essa característica pode ser notada
logo no início, quando ele pergunta a ela sobre as condições do clima no extremo sul do
Brasil no final de semana.
A repórter, em seguida, confirma a afirmação do apresentador Carlos Nascimento, responde
sua pergunta e dá a Previsão do Tempo, que é o assunto principal. É o que Bakhtin (1997)
chama em um diálogo de fundo aperceptivo de compreensão responsiva. Ao tomar o
apresentador no papel discursivo de telespectador, a repórter procura adequar seu discurso à
idéia que ela faz desse público (segundo Bakhtin, o grau de informação que o receptor (ou
coenunciador) tem da situação, seus conhecimentos especializados na área de determinada
comunicação cultural, suas opiniões e suas convicções, seus preconceitos do ponto de vista do
emissor (ou enunciador), suas simpatias e antipatias etc.) procurando a compreensão do
discurso.
Ao aprovar a suposição do apresentador/telespectador, ela o acolhe porque ele participou com
uma atitude responsiva ativa. Diz ela: “É isso mesmo Nascimento. Nas últimas semanas, a
temperatura da água na superfície do Oceano Pacífico subiu. Agora está dois e três graus
Celsius acima do normal, Nascimento”.
Ainda no papel discursivo do telespectador, o apresentador questiona se um aumento de dois
ou três graus na temperatura do oceano não é pouco, já que pode parecer pouco para um não-
especialista.
Ela explica que parece pouco, mas não é. Nota-se, a partir de então, que a repórter joga o
papel discursivo de um especialista. É importante notar o tom didático, quase professoral, que
a explicação carrega. Adinolfi (2005), ao avaliar os discursos de matérias de divulgação
científica em revistas, avalia que um dos papéis desempenhados por jornalistas nas matérias
de CT&I das revistas é o que oscila entre o papel da Ciência e o do público (no caso, os
leitores das revistas), identificando-se ora com um, ora com outro.
[o repórter] analisa, interpreta, acrescenta... e também se identifica com o leitor ao
revelar indignação, surpresa incredulidade. Ou seja, ora o divulgador se identifica com
os cientistas (ao contar, por exemplo, a história da medicina em tom professoral), ora
com o leitor (ao partilhar seu espanto com os avanços da medicina) (ADINOLFI,
2005, p. 90).
A preocupação da repórter, neste trecho, não é com a fidelidade dos termos, mas com o
entendimento do processo por qualquer pessoa, não importando seu grau de conhecimento ou
familiaridade com o assunto. “O didatismo da divulgação científica é uma tentativa de
contrastar com a relação pedagógica clássica, mais severa, autorizada, institucionalizada, em
que a mediação é apagada” (ADINOLFI, 2005, p. 104). Diz a repórter: “Parece pouco, mas
vamos fazer uma comparação simples. Ferver água numa xicrinha de café, por exemplo, é
muito mais fácil e rápido do que numa panela grande para fazer arroz. Imagina a quantidade
de energia necessária para esquentar todo o oceano. É esse calor fora do normal que tem
favorecido a formação de áreas de instabilidade no extremo sul do Brasil. Vamos ao mapa”.
127
Ao comparar o aquecimento das águas do Oceano Pacífico com a energia dispensada para
esquentar água numa xicrinha e numa panela grande, a repórter tornou a explicação acessível
a qualquer pessoa. O que o apresentador/telespectador achava que era pouco, descobriu que
era preciso uma enorme quantidade de energia, de calor para provocar tal mudança.
Depois de compreender a atuação do El Niño, mesmo sem a explicação/definição do que é
esse fenômeno, a matéria deixa mais claro como ele atua o que é essencial para a
compreensão das mudanças no clima.
Ainda no papel de educadora, a repórter aproveita o didatismo da explicação e chama seus
telespectadores a prestarem atenção no mapa em chroma key (que poderia ser comparado a
uma lousa na escola, mas com o recurso de animação/movimento). O mapa (e o discurso que
é gerado a partir das imagens apresentadas) tem funções (JAKOBSON, 1995) referencial (de
complementar a informação) e, sobretudo, fática, como uma forma de manter o contato, de
atrair a atenção para a explicação, como algo novo, interessante, além do discurso verbal, do
diálogo entre apresentador e repórter e dos recursos não-verbais (entonação, ritmo, expressões
corporal e facial dos interlocutores) apresentados até então.
A repórter joga com uma suposta co-participação do telespectador para o entendimento da
explicação, reforçada pela atenção que deve ser dispensada às imagens do mapa. No entanto,
não há descoberta a ser feita na matéria, representada por um conhecimento científico
produzido por um especialista e mediado por um jornalista: o jornalista tem o conhecimento
do cientista e transmite tal informação ao público. Cria-se a dicotomia entre a repórter que já
sabe (e que não fica sabendo por um conhecimento externo a ela) e o público (que não sabe).
Com as imagens do mapa, não há explicações nem definições do que são áreas de
instabilidade ou frente fria. A repórter faz tais inferências e pressupõe que o telespectador
domine tais conceitos, o que só acontecerá para quem tiver uma formação específica na área.
Somente um especialista saberá olhar para o mapa e notar se se trata de uma frente fria ou de
uma área de instabilidade. As imagens do mapa não esclarecem essa diferença. São termos
técnicos e visões que requerem um conhecimento adquirido. Para suprir essa lacuna de
entendimento, a repórter explica como são formadas as áreas de instabilidade (“Aqui no mapa
dá para ver muitas nuvens no Rio Grande do Sul, apesar de parecer, isso não é uma frente fria.
São áreas de instabilidade que se formam em conseqüência do calor, da umidade e de
correntes de vento que passam a mais de dez quilômetros do chão. Por enquanto essas nuvens
vão provocar bastante chuva só na fronteira do Brasil com o Uruguai”).
Pode-se observar uma abordagem diferente das matérias diárias de Previsão do Tempo dos
telejornais. Muito mais que simplesmente a previsão da ocorrência de chuvas, essa nota
ofereceu novas informações em um assunto que todos os telejornais estudados só abordaram
de forma técnica, desprezando o conhecimento científico responsável por tais
dados/previsões. Ao comparar um fenômeno climático a instrumentos e processos do dia-a-
dia das pessoas (como esquentar água), a nota pode criar o sentido de que há Ciência na vida
cotidiana das pessoas e que é possível relacionar os fatores e aprender com isso.
Ao reproduzir um suposto diálogo entre repórter (na posição discursiva de especialista) e
apresentador (que representa o telespectador), a matéria simula uma aproximação entre o
conhecimento científico e o público, mas não o realiza concretamente. Se, de acordo com
Pinto (1999), o lugar atribuído ao co-enunciador também é indicativo do ideológico de um
discurso, nota-se que a Ciência é apresentada ao telespectador como algo distante, de
128
conhecimento apenas de algumas pessoas, especialistas. Ao público (e ao apresentador) só
resta ser depositário desse conhecimento. Sobre isso, Foucault (2002, p. 36-37) avalia que
uma das formas de se controlar os discursos é determinar as condições de funcionamento
deste discurso, “de impor aos indivíduos que os pronunciam certo número de regras e assim
de não permitir que todo mundo tenha acesso a eles”. Nesta matéria, nota-se que a repórter, e
só ela, domina o discurso e o conhecimento científico. O telespectador apenas recebe tal
conhecimento e isso fica evidente pela atuação do apresentador representando essa imagem de
telespectador.
Ao ocupar a posição discursiva de especialista, a repórter, divulgadora científica,
simplesmente transportou o discurso da Ciência para o público, sem reelaborá-lo. Segundo
Orlandi (2001, p. 24), quando o trabalho de divulgação científica não é “bem feito” resulta
apenas em “transporte” de um sentido de um discurso para o outro, o que gera perda e resulta
em caricatura. A caricatura criada na matéria gira em torno da posição discursiva da repórter:
ela abandona a posição discursiva e as funções atribuídas a uma jornalista, divulgadora
científica, e se faz passar por cientista e por professora.
Telejornal: Jornal da Band
Matéria: Poluição das cidades pesquisa IBGE (CD-Rom 1, página 18)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem do Jornal da Band, que trata de uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) sobre poluição das cidades, tem abordagem descritiva, já que apenas
são apresentadas as condições de poluição das cidades, a partir dos resultados da pesquisa.
Não há fontes especialistas. Há somente fonte testemunhal. A origem da pesquisa é nacional,
realizada em todo o país, por um instituto público. Ciência é o assunto principal, apresentada
de forma fragmentada e desarticulada do ambiente de produção e de recepção. As imagens
auxiliam na compreensão do processo científico envolvido, mas não há demonstração do
processo.
Análise
A reportagem que aborda uma pesquisa do IBGE sobre poluição das cidades brasileiras tem o
foco exclusivo nos resultados da pesquisa e não no processo de construção e análise dos
dados. É dada prioridade aos números e aos problemas ambientais das regiões e cidades
brasileiras.
O foco nos resultados pode ser observado logo na abertura (“A gente não sabia, mas a fumaça
das queimadas é a principal causa da poluição do ar no Brasil. A constatação é de uma
pesquisa do IBGE sobre os problemas ambientais do país. Pernambuco, por exemplo, tem o
maior número de casas sem esgoto. O Rio de Janeiro, o índice mais alto de contaminação da
água”). O apresentador usa uma expressão que iguala o nível de informação que ele tem a
respeito do assunto com a que o público tem. Ao dizer que “a gente não sabia”, ele ressalta
que o virá depois é novidade, tanto para ele como para os receptores. Além disso, ele compara
seu grau de conhecimento do assunto com o de seus telespectadores, gerando uma
aproximação com o público. A matéria é construída jogando com a posição discursiva de que
apresentador e telespectadores não sabem dos resultados da pesquisa, que a matéria trata de
abordar. É a matéria que supre a falta de conhecimento do apresentador e do público sobre a
pesquisa do IBGE.
129
Não há, nessa reportagem, nenhuma preocupação com os procedimentos metodológicos
empregados pelo IBGE. O discurso da matéria não considera relevante o modo como os dados
foram levantados e trabalhados. Nada foi dito sobre isso. Também não foram ouvidos
técnicos, pesquisadores responsáveis pela pesquisa. A matéria não apresenta fontes
especialistas.
Mesmo tratando-se de um instituto de pesquisa governamental, amplamente conhecido, o
telejornal deve considerar que, além da credibilidade, outros fatores estão em jogo, pois,
dependendo da amostra, dos objetivos da pesquisa e da coleta e análise dos dados, o alcance e
até mesmo os próprios números dos resultados variam. Mas a matéria desconsidera tais
elementos. A matéria levou em conta o critério de reputação da Ciência (do IBGE), conforme
afirma Weingart (1998), como fator de noticiabilidade e desprezou as especificidades da
pesquisa. Isso pode acarretar distorções na apreensão dos resultados, visto que pode levar o
público a certas interpretações que os dados do levantamento não foram possíveis de suscitar.
Neste caso, o principal aspecto silenciado é a forma de obtenção dos dados: os dados da
pesquisa do IBGE foram alcançados a partir de questionário enviado às prefeituras, ou seja, é
a visão oficial das administrações municipais e não de pesquisadores/técnicos do IBGE, o que
pode mudar substancialmente os resultados da pesquisa. No entanto, essa ressalva não foi
feita na matéria.
São os silêncios apontados por Orlandi (2002) e a ação dos padrões de manipulação da grande
imprensa defendidos por Abramo (2003). Nesse caso, está presente, sobretudo, o padrão da
fragmentação, em que os fatos não são apresentados como uma realidade, com suas estruturas
e interconexões, sua dinâmica e seus movimentos e processos próprios, suas causas, suas
condições e conseqüências. A pesquisa do IBGE, ao ser apropriada pelo discurso da
divulgação, perde sua contextualização, sua estrutura e se torna fragmentada. A matéria torna-
se incapaz de transmitir a pesquisa em sua essência, no que ela realmente se propôs e naquilo
que ela obteve a partir daí.
Ao longo da matéria, a repórter lança mão dos resultados e aponta os principais problemas
ambientais do país, segundo o levantamento. As imagens ajudam a transmitir tais
informações, já que mostram, a partir de algumas imagens de arquivos, a ocorrência de tais
problemas.
Há apenas uma fonte, testemunhal, nessa reportagem, cujo discurso resume-se aos
enunciados: “Óleo, óleo, óleo, poluição” e “Vai quase até a ponta daquela ilha de rede para
matar duas tainhas”. A repetição das palavras proporcionou ênfase e extensão à situação de
degradação. Nota-se o uso de enunciados dependentes do ambiente, como aquele que não tem
sentido sem a presença de imagens que o expliquem (MAINGUENEAU, 2001). A fonte
testemunhal falou e mostrou a amplitude do problema e a câmera registrou. Esse
procedimento oferece maior credibilidade ao que é dito.
Não foram ouvidos pesquisadores da área ambiental, organizações não-governamentais
ambientalistas, empresas poluidoras (já que a matéria aponta que a maior contaminação dos
rios no Rio de Janeiro deve-se à exploração de petróleo e a Petrobras não foi procurada) ou
fontes oficiais.
Essa escassez de fonte torna a matéria fraca. Cria-se o efeito de que os resultados da pesquisa
são suficientes. As outras visões, que poderiam explicar, combater ou corroborar tais
130
indicadores, não foram considerados. Para suprir a ausência de tais fontes, a matéria emprega
imagens de impacto, porque mostram rios poluídos, favelas sem saneamento, erosão,
poluição. Não se busca a interpretação dos dados, a análise da situação por especialistas no
assunto.
Como não disponibiliza tais recursos, a matéria é construída com longos discursos da repórter.
Esses discursos, cobertos pelas imagens de impacto, tentam dar conta dos principais
resultados apontados pela pesquisa do IBGE. O resultado disso são informações densas, o que
é cansativo para o telespectador, já que a repórter procura resumir toda uma pesquisa somente
no seu discurso.
Uma discussão mais analítica vem do diálogo entre o apresentador e o comentarista Joelmir
Betting. Eles tentam suprir as carências de informação e de fontes da matéria com comentário,
o que é uma tentativa louvável, mas as versões provenientes dos “outros lados da questão”
não podem ser suprimidos. A qualidade e a credibilidade da informação ficam comprometidas
ao se supervalorizar a visão de um comentarista em detrimento de fontes especialistas e
oficiais. Observa-se, com isso, a necessidade de equilíbrio entre informação e opinião nas
matérias. Não se pode negar o papel relevante do comentarista no sentido de interpretação e
contextualização dos fatos apresentados. No entanto, torna-se necessário, nessa matéria em
particular, uma melhor apresentação da informação, com outras fontes que podem contribuir
com outros pontos de vista.
O comentário de Betting tem os seguintes objetivos: 1) ressaltar que a situação da poluição é
mesmo séria. 2) Mostrar o que o governo Federal está fazendo para tentar diminuir tais
problemas e, com isso, ressaltar que “nem tudo está perdido, pois algumas coisas estão sendo
feitas”. Ele ocupa a posição discursiva da fonte oficial, governamental, ausente na matéria. 3)
Relacionar os problemas ambientais com algumas conseqüências sociais, de saúde pública e
saneamento. Neste trecho, o comentarista ocupa a posição discursiva do especialista, de
representante de organizações da sociedade civil.
Com a substituição de fontes por comentários procura-se criar um consenso em torno do fato.
É o comentarista quem finaliza a matéria. Ele dá a última palavra. Ele explica, em caráter
opinativo e pessoal, o que deveria ser explicado por fontes com autoridade. Neste caso, a
reputação e a proeminência (visibilidade) do comentarista são os critérios escolhidos pela
matéria para dar a chancela à matéria em nome das fontes. Ele é autorizado pelo telejornal a
dar a explicação em nome das fontes. Isso não deixa de ser uma forma de manipulação da
informação. Essa substituição caracteriza o que Abramo (2003) chama de padrão de inversão
da opinião pela informação, em que pode ocorrer manipulação da informação a partir da troca
de informação por opinião.
Telejornal: Jornal Nacional
Matéria: Aparelho que engana o cérebro para não sentir dor (CD-Rom 1,
página 19)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem do Jornal Nacional sobre o aparelho que engana o cérebro para não sentir dor
possui abordagem interpretativa/analítica, já que mostra, além do funcionamento dos
aparelhos, as funções sociais da Tecnologia. Há fontes testemunhais e especialistas ouvidas
131
nesta matéria. Trata-se de uma matéria nacional, sobre um congresso realizado em São Paulo
e também sobre um novo equipamento, uma nova Tecnologia em específico, para diminuir a
dor, apresentada nesse congresso. O discurso do cientista corrobora os discursos do jornalista
e também das demais fontes. O cientista aparece na matéria no próprio congresso. A
abordagem científica ocorre de forma contextualizada. A Tecnologia é apresentada de forma
elogiativa e é incorporada aos ambientes social e de recepção, mas desarticulada do ambiente
de produção. As imagens auxiliam na compreensão do conteúdo científico envolvido. Há
demonstração do processo tecnológico com imagens e palavras. A matéria apresenta
esquemas e vinheta como elementos ilustrativos. Estes auxiliam na compreensão do conteúdo
científico envolvido.
Análise
A reportagem desenvolve três assuntos a partir de um só: a dor. Portanto, o foco central da
matéria são três assuntos. Um deles é o Congresso em São Paulo, que reúne pesquisadores
para tratar do problema da dor. O outro é a mostra, que acontece no congresso, de pintura de
pacientes que sofrem de dor. Outro ainda é o aparelho, em exposição, que diminui a dor. O
foco da matéria, portanto, pode ser resumido da seguinte forma: a arte dividindo espaço com a
Ciência (no caso do evento) e com a Tecnologia (o aparelho para diminuir a dor). Esse
“gancho” da matéria pode ser observado na abertura. Diz a apresentadora, auxiliada por
vinheta do corpo humano e do cérebro computadorizados: “Um congresso em São Paulo está
expondo o esforço da Ciência para diminuir o sofrimento de quem sente dor. Num mesmo
ambiente é possível ver com vistas da Tecnologia e obras de arte”. Com a palavra “esforço”, a
apresentadora salienta a preocupação da Ciência, e o envolvimento de pesquisadores, com os
problemas humanos, como a dor, que aflige o corpo e a mente das pessoas.
Os três assuntos se intercalam e se entrecruzam, formando um único discurso. O jogo
dialógico tem início com a apresentação, do repórter, da experiência da fonte testemunhal,
que teve o dedo amputado em um acidente e passou a sentir dores fortíssimas. A intensidade
de suas dores é realçada com o relato (“Chegando a ficar praticamente em coma dois dias
devido a tanta dor”).
Depois disso, o repórter fala de vários tipos de dor que intitulam as pinturas da exposição (“A
vertigem da dor transposta para a tela. Dor emocional, dor de parto, dor de quem enfrentou 26
cirurgias para se livrar de um câncer e ainda a dor crônica, aquela que não deixa em paz um
minuto, caso em que a dor é a própria doença”). O repórter salienta as funções expressiva
(traz a carga emocional do emissor) e poética (a escolha das palavras para descrever a mostra,
aliada às imagens das obras de arte) (JAKOBSON, 1995).
A razão da existência da exposição, o lado racional da explicação, vem com o discurso da
coordenadora da mostra (“A maior dificuldade delas é contar o que estão sentindo. Quando
elas conseguem expressar isso sai um pouquinho daquela carga emocional”).
A reportagem deixa claro que Ciência e arte, portanto, razão e emoção, ocupam o mesmo
plano de importância na matéria e no congresso (Repórter: “A arte caminhando ao lado da
Ciência. Essa exposição, com trabalhos de 35 pacientes, faz parte do Congresso da Dor,
promovido pela Universidade de São Paulo. Oitocentos médicos e pesquisadores trocam
informações sobre remédios e terapias. Da milenar acupuntura às técnicas mais avançadas
como a que utiliza esse neuroestimulador instalado no cérebro do paciente”). Na matéria, a
visão que os pacientes têm sobre suas dores tem a mesma relevância que o empenho dos
pesquisadores e médicos na busca da solução para tais dores. Na reportagem, o evento em si
132
não é tão importante quanto o que ele representa na relação Ciência, Tecnologia e arte. Prova
disso é que pouco foi dito sobre o local do evento e sobre os palestrantes do congresso.
Poucas informações bastaram, entre elas, a instituição responsável pelo evento, o número de
participantes e o objetivo do encontro.
Em seguida, começa a ser desenvolvido o assunto ligado à Tecnologia. É apresentado um
novo aparelho para diminuir a dor. O repórter descreve o equipamento e como ele funciona.
(“O aparelho começou a ser testado há 15 anos na Faculdade de Medicina da USP e hoje é
usado por 40 pessoas. Uma espécie de marcapasso implantado no tórax envia impulsos
elétricos ao eletrodo na cabeça, sem provocar danos à estrutura do cérebro”). A comparação
do aparelho novo com um outro aparelho já difundido (marcapasso) facilita a compreensão do
assunto científico. Para Carvalho (2003, p. 21), esses recursos tornam a matéria mais atrativa
para o público. Para a autora, no telejornalismo, é preciso manter o rigor da apuração, mas é
importante que a notícia seja sedutora, e, para isso, são usados metáforas ou instrumentos
criativos, como dramatizações, simulações etc.
A fonte especialista (que também é o organizador do congresso) explica como é o acesso das
pessoas ao equipamento (“Dos doentes previamente selecionados, 80% deverão se beneficiar
com essa forma de tratamento”). O repórter complementa a informação sobre o público-alvo a
que se destina o aparelho (“O aparelho só é indicado pra quem não conseguiu alívio com os
tratamentos convencionais”).
O final da matéria é dado pela fonte testemunhal. O paciente que teve o dedo amputado é um
dos beneficiários da nova Tecnologia. Cabe a ele, na matéria, explicar como o equipamento
funciona e os resultados obtidos. Diz ele: “Ele manda o estímulo, confunde o cérebro pra não
sentir o estímulo de dor e volta praticamente toda a atividade quase que normal. A vida
mudou assim da água para o vinho”.
Nota-se, nessa explicação, que coube à fonte testemunhal uma explicação técnica. Com isso,
fica ressaltada a credibilidade da fonte testemunhal: ela é capaz de explicar um processo
científico que de fez parte, como beneficiária. Além disso, cria efeitos de sentido de que a
fonte testemunhal, não especializada, é capaz de apreender o discurso científico e reelaborá-
lo.
O tom emocional e expressivo que é dado à matéria, graças à inserção de arte no próprio
congresso científico, e a relevância dada a isso na reportagem, criam o sentido de que a
Ciência, a Tecnologia e os pesquisadores abrigam um lado humano, sensível, emotivo. Tanto
que Ciência, Tecnologia e obras de arte compõem o próprio congresso. A Ciência e a
Tecnologia na matéria não se opõem às emoções, mas os sentimentos são preocupações de
pesquisadores e médicos, que buscam aliviar a dor e melhorar a qualidade de vida das
pessoas.
É possível aferir que o tom emocional e a expressividade dos discursos (em sua combinação
do verbal e do não-verbal) acarretam em uma valorização do caráter emocional da Ciência e
daqueles envolvidos no trabalho científico. No caso dessa matéria, o foco central é a relação
da Ciência com a expressão dos sentimentos humanos (dor, sofrimento). O tom emocional faz
parte do próprio congresso (que insere exposição de obras de pacientes que sofrem com
dores). É uma forma diferente de abordagem dos assuntos de CT&I em comparação às outras
matérias estudadas, proporcionada, sobretudo, pelo próprio assunto (e que os discursos
corroboram). A inovação na abordagem surge como resultado da originalidade do Congresso
133
e não a partir do discurso de divulgação científica. Por outro lado, essa forma de abordagem
pode, conforme afirma Orozco Gómez (2005), aumentar a legitimação da matéria, transferida,
no caso, para uma adesão, um consenso para a própria Ciência.
Telejornal: Jornal Nacional
Matéria: Poluição das cidades pesquisa IBGE (CD-Rom 1, página 20)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem do Jornal Nacional que trata da pesquisa do IBGE sobre poluição das cidades
brasileiras apresenta abordagem interpretativa/analítica, pois busca exemplos na realidade
para dar credibilidade e veracidade aos dados da pesquisa. Há fontes testemunhal e oficiais
(do IBGE). Há também a citação (no discurso do apresentador) de uma fonte oficial, ligada ao
governo Federal. Um das fontes oficiais do IBGE também é cientista (apresentada como
socióloga do IBGE), no entanto, seu discurso é representativo do instituto de pesquisa,
portanto caracteriza-se como fonte oficial. Trata-se de uma matéria nacional, realizada em
todo o país, por um instituto público de pesquisa. É uma matéria em que a Ciência é assunto
principal. A abordagem científica ocorre de forma contextualizada. A Ciência é incorporada
ao ambiente natural, social e de recepção, mas é desarticulada do ambiente de produção desta.
As imagens auxiliam na compreensão do conteúdo científico envolvido. Há demonstração da
Ciência com imagens e palavras. A matéria apresenta esquema, mapas e vinheta como
elementos ilustrativos. Estes auxiliam na compreensão do conteúdo científico envolvido.
Análise
No caso do Jornal Nacional, a reportagem sobre a pesquisa do IBGE que aponta os principais
problemas ambientais do Brasil tem foco central nos resultados. Na abertura, o apresentador
apenas faz o anúncio da pesquisa. A vinheta, do planeta Terra, dá a indicação de que se trata
de um assunto da área ambiental (“Um estudo divulgado hoje pelo IBGE descobriu quais são
as principais causas de poluição dos rios e do ar no Brasil”). Na abertura ainda não são
oferecidos os dados e números obtidos pelo IBGE.
O discurso do repórter, por outro lado, tem início com os resultados do levantamento (A água
encanada passa a um quilômetro da casa de dona Maria. E esta é uma situação comum em 116
municípios do Brasil que não têm rede de água tratada). No entanto, para inserir os números,
o repórter usa o recurso da humanização, a partir do exemplo de uma pessoa que sofre com o
problema, no caso, a falta de saneamento básico. A humanização, neste caso, não representa
contextualização do assunto. A personagem é tomada na matéria como um exemplo, um caso
entre tantos outros, mas as causas políticas, econômicas que desencadeiam tal situação não
são apresentadas. A matéria não aborda (por isso silencia, oculta) o contexto que leva à
degradação social e ambiental no geral, e em particular, na história de vida da personagem.
Dessa forma, a realidade fica fragmentada e os discursos tornam-se fatalistas, como se não
fosse possível mudar a vida das pessoas e como se a poluição ambiental que afeta essa
sociedade não tivesse causas também sociais.
A opção na matéria foi detalhar apenas alguns dos resultados da pesquisa. Pode-se notar,
claramente, uma enumeração deles. O primeiro problema apresentado é o do saneamento
básico. A partir de cada um dos itens apontados na pesquisa, entram em cena os discursos do
repórter e das fontes, além dos números oficiais do IBGE.
134
A situação vivida por dona Maria ilustra na matéria a realidade dos municípios que não têm
tratamento de água. A fonte testemunhal, além da vivência, colabora com o caráter humano
ela enfrenta as dificuldades de quem não tem água encanada em casa. Não são somente
números, há pessoas que são atingidas por tais problemas. Diz o repórter: “O esgoto a céu
aberto foi apontado como a mudança do meio ambiente que mais afeta a população”. Neste
anunciado, fica patente a relação que a matéria buscou fazer entre os dados da pesquisa com a
sociedade.
Outra aproximação entre os dados do IBGE e os problemas sociais pode ser avaliada no
trecho em que o repórter identifica que a própria pesquisa aponta a relação entre problemas
ambientais e de saúde pública (“Num lugar como este, em que faltam água tratada e coleta de
esgoto, as crianças correm um sério risco. Números do IBGE mostram que existe uma relação
direta entre a ausência de saneamento básico e as altas taxas de mortalidade infantil”).
Com a ajuda de esquemas, o repórter apresenta dados do IBGE sobre o índice de mortalidade
infantil em domicílios com e sem saneamento básico (“Nas casas que têm água e esgoto, para
cada grupo de mil crianças, 26 morrem antes de completar cinco anos. A taxa sobe para 45
para cada grupo de mil nas casas que não tem saneamento”). Além dos dados oficiais, há o
discurso da fonte oficial do IBGE, coordenador da pesquisa, que avalia tal relação (“O
saneamento básico é um dos principais itens que explicam os diferenciais de mortalidade
infantil e das crianças em geral”).
Depois da falta de saneamento, a matéria destacou a poluição dos rios como item detectado na
pesquisa. “O levantamento aponta que 38% dos municípios brasileiros têm águas poluídas.
No Estado do Rio, a poluição atinge 77% das cidades”. Para explicar a causa do problema, a
matéria contou com a análise de uma fonte especialista, mas também ligada ao IBGE,
portanto, caracteriza-se como fonte oficial. Diz a socióloga do IBGE: “A principal causa de
poluição de corpos d’água, apontada pela imensa maioria dos prefeitos, foi a poluição por
esgoto doméstico”.
Outro problema ambiental detalhado na reportagem são as queimadas. Diz o repórter: “As
queimadas foram apontadas como a principal causa para a poluição do ar. E a pesquisa revela
novos focos de desmatamento no país”. A matéria mostra dois problemas que estão
interligados, mas não explica a relação. Na reportagem, queimadas e desmatamento são
postos lado a lado como problemas ambientais, quando, na realidade, a degradação do meio
ambiente é a conseqüência final decorrente de problemas sociais, econômicos e políticos.
Novamente, os problemas ambientais são tomados de forma descontextualizada.
Com a ajuda de mapas, a matéria mostra a ocorrência da devastação, a partir dos dados da
pesquisa. Diz o repórter: “Esse é o mapa das cidades brasileiras que declararam mudança da
paisagem provocada pela derrubada de árvores. Os focos mais recentes aparecem na
Amazônia e no Cerrado”. Em seguida, o encerramento compara os dados da pesquisa com
uma Tecnologia já empregada para detectar desmatamento os satélites. Nesta comparação, a
pesquisa, segundo a reportagem, apresenta benefícios porque superou, foi mais eficiente, que
o satélite. (Repórter: “Mais uma agressão ao meio ambiente que até então não tinha sido
captada pelo sensor de calor instalado nos satélites”).
É na nota pé da matéria que o apresentador, com a vinheta do planeta Terra, mostra o outro
lado da reportagem o da fonte oficial, do governo Federal. No entanto, essa visão não é dada
com o discurso direto. Não há imagens dessas pessoas. Diz o apresentador, sobre as medidas
135
que o governo tomará para resolver a situação: “O Ministério do Meio Ambiente declarou que
vai treinar todas as pessoas envolvidas com questões ambientais nos municípios. E o governo
vai enviar à Câmara dos Deputados um projeto de lei para estabelecer como União, Estados e
municípios devem conduzir programas contra a poluição”.
Esse discurso do apresentador, até mesmo por se apresentar na nota pé, cria o sentido de
finalização, de resolução dos problemas, como se, a partir de tais providências, todos os
problemas ambientais anteriormente descritos pelo repórter, comprovados por fonte
testemunhal e analisados por especialista/fonte oficial do IBGE serão resolvidos. Nenhum
questionamento foi feito às fontes oficiais sobre os resultados da pesquisa e a situação atual
do meio ambiente mesmo com os investimentos governamentais. Cria o sentido de que, com
os resultados da pesquisa, tudo será resolvido. Além disso, ao afirmar que “O Ministério do
Meio Ambiente declarou”. A reportagem dilui o poder da informação, porque é impessoal.
Não se atribui a ninguém tal declaração, mas a um ministério que engloba muitas pessoas.
A reportagem relaciona os problemas ambientais aos de saúde pública. Com isso, tornou o
assunto mais amplo e criou o sentido de gravidade, urgência, pois não são problemas
ambientais que terão conseqüências apenas ambientais, mas a saúde e a própria vida das
pessoas correm risco. No entanto, as causas que levam à degradação ambiental não são
abordadas. A fragmentação do discurso, ao considerar uma parte pelo todo, sem
contextualizar o fato, é uma das características do discurso televisivo. Segundo Orlandi
(2001b, p. 182), na televisão uma formulação discursiva se transforma em várias outras sem
que se toque no domínio da constituição, onde um sentido poderia vir a ser outro, na sua
historicidade. Com essa não-historicidade do fato, com esse deslocamento do contexto, o
meio ambiente pode ser visto como um problema, que gera outros problemas para o homem,
para a saúde. Cria-se, com isso, o sentido de que os problemas ambientais precisam ser
resolvidos porque geram problemas sociais, de saúde. Nada é dito sobre os fatores sociais que
ocasionam os problemas ambientais.
Nessa reportagem, é possível observar alguns dos mecanismos de sedução e do uso do
estereótipo na informação da televisão apontados por Ferrés (1998, p. 159). Um deles é o da
fragmentação seletiva, em que a matéria foca, seletivamente, a atenção dos espectadores nas
dimensões isoladas da realidade que tem interesse em destacar, marginalizando
acontecimentos ou dimensões dos acontecimentos que não se adequam aos interesses
ideológicos ou comerciais do meio. É o que acontece com a sobreposição dos problemas
ambientais como causadores dos problemas de saúde, sem contextualização das causas que
levaram à degradação ambiental.
Outro mecanismo de sedução é o do conforto interpretativo em que, ao reduzir a realidade, a
matéria “ajuda o telespectador a fazer uma interpretação da realidade fácil e de acordo com as
suas expectativas. A este efeito de tipo cognitivo acrescenta-se a vantagem psicológica da
aparência de controle sobre uma realidade que deixa de ser uma ameaça ou um mistério”.
Nota-se este parâmetro a partir da conclusão (na nota pé), que utiliza o discurso indireto de
um ministério sem atribuir a fala a ninguém a resolução do problema.
136
Telejornal: Jornal da Record
Matéria: Poluição das cidades pesquisa IBGE (CD-Rom 1, página 21)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem do Jornal da Record sobre poluição das cidades tem abordagem
interpretativa/analítica, já que ela mostra os problemas ambientais e dá exemplos que ilustram
e contextualizam os dados da pesquisa. Não há fonte especialista. Há apenas uma fonte
testemunhal. A pesquisa é de origem nacional, realizada em todos os Estados por um instituto
público. A Ciência é o assunto principal da reportagem, apresentada de forma
contextualizada. A Ciência é incorporada ao ambiente natural, ao ambiente social e ao
ambiente de recepção, mas é desarticulada do ambiente de produção. As imagens auxiliam na
compreensão do processo científico envolvido. Há demonstração, com palavras e imagens, do
processo científico. Mapas foram os elementos ilustrativos empregados nesta reportagem.
Estes auxiliam na compreensão do processo científico.
Análise
A reportagem do Jornal da Record tem como gancho, como foco, a pesquisa. Na abertura,
não são apresentados os resultados do levantamento nem números. O apresentador ressalta a
pesquisa. É a reputação da pesquisa (e do instituto responsável) o incentivo para a abordagem
na mídia (WEINGART, 1998). O apresentador valorizou o ineditismo da pesquisa e o
enfoque desta, que se diferencia das demais por um aspecto: é a visão das prefeituras a
respeito dos problemas ambientais com que estas convivem (“Uma pesquisa divulgada hoje
pelo IBGE mostra as condições do meio ambiente em todos os municípios brasileiros. O
estudo, inédito, considerou os dados do ponto de vista de cada prefeitura”).
O discurso do repórter insere um maior detalhamento sobre a pesquisa. Ele começa com o
problema que norteou o trabalho do IBGE (“Num país com oito milhões e meio de
quilômetros quadrados, como localizar áreas de degradação ambiental?”). A imagem
panorâmica de uma grande cidade frisa a dificuldade em se obter informações sobre o
assunto, devido à extensão territorial do Brasil.
Em seguida, o repórter detalhou a metodologia empregada pelo instituto. O repórter explicou
como o IBGE realizou o levantamento de dados. Diz ele: “O IBGE resolveu perguntar. Em
2002, enviou para 5560 prefeituras da época, questionário sobre o assunto”. Depois disso, o
repórter salientou o resultado obtido com a aplicação dos questionários. Diz ele: “A
primeira surpresa foi que apenas três municípios não responderam. Os dados serão uma
espécie de guia para políticas públicas federais e estaduais, visando reforçar as condições dos
municípios para lidar com os problemas de meio ambiente. Outra surpresa foi detectar áreas
de desmatamento não identificadas por satélite”.
A continuação da matéria ocorre com a explanação dos resultados da pesquisa. Com a ajuda
de mapas e imagens de arquivo de degradação ambiental, o repórter salienta apenas os
principais resultados (“Elas estão na floresta amazônica, atingindo Estados de Pará, Amapá,
Roraima e Amazonas e no cerrado, no oeste da Bahia. Mas ainda sob a ótica dos prefeitos, é o
esgoto a céu aberto o problema ambiental que mais atinge os cidadãos. Deslizamento de
encostas, inundações, secas e erosão são desastres ambientais mais comuns e já atingiram
41% dos municípios brasileiros. O Estado do Rio de Janeiro lidera o ranking de contaminação
da água. Segundo a pesquisa, 77% das cidades possuem rios e enseadas poluídos. A
137
exploração de petróleo é um dos fatores mais poluentes e a Baía da Guanabara é um dos
maiores exemplos. Quem vive por aqui tem saudades de outras épocas”). Para dar
credibilidade à matéria, o repórter utiliza enunciados dependentes do ambiente
(MAINGUENEAU, 2001), em que o discurso verbal é construído a partir da imagem.
A confirmação da degradação é feita por uma fonte testemunhal, um portuário aposentado.
(“Vi muita coisa bonita, um mar verdinho, clarinho. Agora a diferença é enorme, né”). Não há
fontes especialistas nesta matéria. Não foram ouvidos especialistas da área ambiental nem
qualquer outro pesquisador. Também não foi ouvida nenhuma fonte ligada a empresas ou
organizações não-governamentais. Fontes oficiais, do governo Federal, também estão
ausentes nesta matéria.
A matéria valorizou a pesquisa em detrimento dos resultados obtidos. O impacto dos números
e dos problemas ambientais perdeu espaço pela iniciativa do IBGE em coletar tais dados junto
às prefeituras e pela realização da pesquisa. A Ciência em si e o procedimento científico de
levantamento dos dados foram priorizados na matéria.
Nessa reportagem buscou-se produzir sentidos no discurso da divulgação apoiando-se na
estrutura de desenvolvimento do discurso e no processo de produção do trabalho científico,
com o objetivo de manter, segundo Orlandi (2001, p. 24), os efeitos de cientificidade.
Esse efeito de cientificidade na matéria televisiva resulta na representação fragmentada da
realidade, inerente à televisão enquanto veículo de comunicação. Para Sousa (2005, p. 100-
101), a mídia não é uma simples retransmissora das representações da Ciência, “mas constrói
as suas próprias representações da realidade, de acordo com seus novos interesses, da mesma
maneira que a Ciência o faz. Apenas usa instrumentos diferentes, diferentes abordagens e
formas diferentes de representação”.
A matéria omite as contradições, os erros, as falhas e as limitações inerentes ao trabalho
científico. Ao silenciar, cria-se o sentido de que essas intercorrências não existem. A Ciência
e os cientistas são tomados como perfeitos, porque a pesquisa obteve resultados a ponto de ser
noticiada pelo telejornal. Segundo Foucault (2002), as disciplinas são feitas de erros e de
verdades, “erros que não são resíduos ou corpos estranhos, mas têm funções positivas, uma
eficácia histórica, um papel muitas vezes indissociável daquele das verdades”.
É preciso salientar que reproduzir os métodos do trabalho científico no discurso de divulgação
não garante, todavia, a compreensão e a análise crítica da pesquisa e dos resultados obtidos.
No entanto, comparações com outras pesquisas já desenvolvidas anteriormente ampliam a
visibilidade sobre o fato, porque possibilitam associações de dados para a composição de uma
realidade mais complexa, do que a simplesmente apontada pela pesquisa recém-concluída.
Por outro lado, é preciso ponderar que Ciência e Jornalismo possuem graus distintos de
precisão de informações e não se pode esperar, das matérias de divulgação no telejornal, a
mesma densidade de um trabalho científico. Embora cientistas e jornalistas busquem a
precisão no processo de divulgação da informação, existem graus variáveis de
densidade/aprofundamento do conteúdo justamente em função das diferentes naturezas de
suas formações e dos veículos em que a informação é divulgada.
138
Comparações entre as matérias: a função educativa
Ao avaliar a função educativa da reportagem do Jornal da Band sobre o “Laboratório
antivírus”, observam-se alguns elementos que evidenciam a valorização do caráter benéfico
da Ciência e da Tecnologia. São eles:
a) ênfase nas vantagens econômicas possibilitadas pela nova Tecnologia desenvolvida;
b) a Tecnologia proporciona economia de tempo, de dinheiro e aumento da produtividade
das empresas;
c) a matéria contextualiza a importância do laboratório ao informar como as empresas são
afetadas pelos vírus.
Dessa forma, pode-se aferir que a matéria possibilitou, a partir das análises realizadas, a
compreensão do público sobre o assunto.
No caso da nota do Jornal da Band sobre “Previsão do Tempo”, busca-se uma aproximação
com o público a partir de informações e referências, do senso comum, conhecidas pelo
público. Isso é feito pela explicação da atuação do fenômeno “El Niño” através de analogia
com o processo de ferver água em uma xicrinha e em uma panela grande para fazer arroz. A
familiaridade do público com esse procedimento contribui, significativamente, para facilitar a
compreensão do fenômeno climático. Para isso também colaboram o tom didático empregado
pela repórter e a posição discursiva do apresentador (que se coloca como leigo no assunto e
interessado pela explicação como um telespectador).
A reportagem do Jornal Nacional sobre “Aparelho que engana o cérebro para não sentir dor”
teve como característica marcante a relação da Ciência com a arte. Com isso, os benefícios da
Tecnologia foram ressaltados pela valorização do caráter emocional, sentimental dos
pacientes: na matéria, CT&I tem tanta importância quanto a arte, as sensações e os
sentimentos dos pacientes. Assim, a reportagem torna-se mais humanizada, além de
possibilitar a aproximação de CT&I e da arte à vida dos telespectadores.
Os três telejornais (Jornal da Band, Jornal Nacional e Jornal da Record) veicularam
reportagens sobre “Poluição das cidades pesquisa do IBGE”. Ao se comparar as três
matérias, nota-se que a do Jornal da Record foi a única que informou suficientemente a
metodologia da pesquisa empregada pelo IBGE, o que, neste caso, é fundamental para se
compreender os resultados: os dados colhidos são resultado de questionários respondidos
pelas prefeituras sobre os problemas ambientais percebidos pelos próprios órgãos municipais.
No caso das matérias do Jornal da Band e do Jornal Nacional, os assuntos principais foram
os resultados obtidos pela pesquisa. Essas duas pouco informaram sobre o procedimento de
coleta dos dados pelo IBGE.
Na reportagem do Jornal da Band, há poucas fontes, o que enfraquece a força dos argumentos
da matéria. Para suprir a ausência de fontes, a matéria emprega imagens de impacto,
mostrando rios poluídos, favelas sem saneamento, erosão, poluição. Não se busca a
interpretação dos dados, a análise da situação por especialistas no assunto.
A matéria do Jornal Nacional relaciona os problemas ambientais ao social de saúde pública.
Com isso, a matéria tornou o assunto mais amplo e criou o sentido de gravidade e urgência,
pois não são problemas ambientais que terão conseqüências apenas ambientais, mas para a
vida das pessoas. No entanto, as causas que levam à degradação ambiental não são abordadas.
139
Na reportagem do Jornal da Record não há fontes especialistas e oficiais, do governo Federal.
A matéria valorizou a Ciência e o procedimento científico de levantamento dos dados, em
relação aos resultados. Outro recurso empregado foi o de comparar a pesquisa com outras
desenvolvidas anteriormente, o que facilita a compreensão, porque possibilita associações de
dados.
Dia 24 de maio de 2005
Principais acontecimentos noticiados pelos telejornais
Nesse dia, estão presentes as seguintes editorias nos respectivos telejornais:
Jornal da Band: CT&I, Economia, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça, Política, Previsão
do Tempo, Segurança e Trabalho/Emprego. A editoria de CT&I apresentou, nesta edição,
uma nota coberta sobre a descoberta de um novo planeta.
Jornal Nacional: Cidades, CT&I, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça, Política, Previsão
do Tempo e Trabalho/Emprego. A editoria de CT&I apresentou três matérias: uma
reportagem sobre uma nova técnica para desobstruir artérias, uma nota coberta sobre a
descoberta de um novo planeta e uma nota simples sobre um projeto de lei sobre pesquisa
com células-tronco embrionárias.
Jornal da Record: Cidades, CT&I, Economia, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça,
Política, Previsão do Tempo, Segurança e Trabalho/Emprego. A editoria de CT&I apresentou,
nesta edição, duas matérias: uma reportagem sobre uma pesquisa da Unesco que trata de
violência e uma nota sobre o projeto de lei sobre pesquisas com células-tronco embrionárias.
Jornal da Cultura: Cidades, CT&I, Internacional, Polícia/Justiça, Política, Previsão do Tempo
e Saúde Pública. Foram exibidas três matérias da editoria de CT&I nesta edição do telejornal.
Duas notas simples: uma sobre a devastação da Amazônia e outra sobre a pesquisa da Unesco
sobre violência. Além de uma reportagem sobre veículos especiais para pessoas com
dificuldades de locomoção.
Na editoria de Polícia/Justiça os telejornais estudados deram espaço para a suspensão, por
quinze dias, pelo Ministério Público, de concurso para agentes penitenciários por suspeita de
fraude; vários candidatos foram presos. Também houve espaço para o início, no Rio de
Janeiro, do julgamento do traficante Elias Maluco, acusado da morte do jornalista Tim Lopes.
Ainda sobre esse assunto, foi divulgado que o governador de Rondônia entregou fitas ao
Ministério da Justiça que mostram deputados pedindo propina. A polícia fez reconstituição do
enforcamento de Amauri Veras (estilista), morto em setembro de 2004.
Entre os assuntos de Política o destaque é para as seguintes notícias: Maurício Marinho em
depoimento na Polícia Federal, que durou oito horas, inocentou Roberto Jefferson de esquema
de corrupção no governo”, Lula, na Coréia do Sul, fechou sete acordos comerciais e se
esquivou de responder a perguntas sobre corrupção”, Palocci disse que povo quer ver as
investigações apuradas.
140
Na editoria de Economia, foi noticiado o leilão de móveis, eletrodomésticos e equipamentos
do Banco Santos.
No plano internacional, as manifestações em La Paz pela nacionalização das reservas de gás e
a informação de que um site da Internet divulga que Zarkawi está ferido tiveram destaque.
A presença das editorias em cada um dos telejornais pode ser constatada na tabela abaixo:
Principais editorias
Jornal da Band Jornal Nacional Jornal da Record
Jornal da
Cultura
== Cidades Cidades Cidades
CT&I CT&I CT&I CT&I
Economia == Economia ==
Esportes Esportes Esportes ==
Internacional Internacional Internacional Internacional
Polícia/Justiça Polícia/Justiça Polícia/Justiça Polícia/Justiça
Política Política Política Política
Previsão do Tempo
Previsão do Tempo Previsão do Tempo
Previsão do
Tempo
== == == Saúde pública
Segurança == Segurança ==
Trabalho/Emprego Trabalho/Emprego Trabalho/Emprego ==
Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I
O Jornal da Band teve duração de 35 minutos e 11 segundos, dos quais 30 segundos foram
dedicados a CT&I. O Jornal Nacional, nesse dia, durou 32 minutos e 33 segundos destes, 2
minutos e 38 segundos dedicados a CT&I. O Jornal da Record, por sua vez, teve 33 minutos
e 39 segundos de programação jornalística. Deste tempo, 3 minutos e 10 segundos trataram de
CT&I. O Jornal da Cultura durou 33 minutos e 17 segundos, dos quais 3 minutos e 50
segundos destinados a CT&I.
Telejornal
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal
da Cultura
Total
Geral
Tempo
total
35’11”
(6 blocos)
32’33”
(5 blocos)
33’39”
(4 blocos)
33’17”
(5 blocos)
2h 14’ 40”
Tempo
CT&I
30” 2’38 3’10” 3’50” 10’ 08”
% Tempo
de CT&I
0,85% 7,36% 9,28% 10,55% 7,50%
Todos os telejornais estudados apresentaram matérias de CT&I nesse dia. O Jornal da Band
publicou uma nota, de 30 segundos, sobre a descoberta de um planeta, feita por uma
astrônoma amadora da Nova Zelândia.
O Jornal Nacional divulgou três matérias uma reportagem e duas notas. A matéria, de 1
minuto e 42 segundos, trata de uma Tecnologia desenvolvida nos Estados Unidos para
desobstruir artérias do corpo. Uma das notas, com 16 segundos, também trata da descoberta
141
do planeta. A outra, de Política Científica, com duração de 40 segundos, trata do projeto de lei
norte-americano sobre pesquisas com células-tronco. Nesta edição do Jornal Nacional, as três
matérias da área de CT&I somam 2 minutos e 38 segundos e foram concentradas em um
único bloco do telejornal.
O Jornal da Record publicou uma nota, de 30 segundos, também sobre o projeto de lei sobre
pesquisas com células-tronco nos Estados Unidos e uma reportagem, de 2 minutos e 40
segundos, sobre a pesquisa da Unesco sobre violência urbana. As duas matérias da edição
somam 3 minutos e 10 segundos e foram distribuídas em mais de um bloco do telejornal.
O Jornal da Cultura, por sua vez, divulgou duas notas e uma matéria sobre CT&I. Uma das
notas, de 29 segundos, trata de uma pesquisa que prevê os danos caso seja mantido, na
Amazônia, o ritmo atual de devastação. A outra nota, de 35 segundos, trata da pesquisa da
Unesco abordando a violência urbana. A matéria, de 2 minutos e 46 segundos, trata do
desenvolvimento de veículos de locomoção para deficientes. As três matérias da área de
CT&I desta edição somam 3 minutos e 50 segundos e foram pulverizadas no telejornal.
Matérias de CT&I
Jornal da Band
Jornal Nacional Jornal da
Record
Jornal da Cultura
Descoberta de
novo planeta (nc)
Nova técnica para
desobstruir artérias
Mapa da violência
pesquisa Unesco
Devastação da Ama-
zônia (nota)
*** Descoberta de novo
planeta (nc)
Projeto de lei
sobre pesquisas
com células-
tronco
embrionárias (nc)
Veículos especiais para
pessoas com dificul-
dades de locomoção
*** Projeto de lei sobre
pesquisa com
células-tronco
embrionárias (nota)
*** Mapa da violência
pesquisa Unesco (nota)
A edição da Ciência nos telejornais
Telejornal: Jornal da Band
Matéria: Descoberta de novo planeta (CD-Rom 1, página 22)
Formato: Nota coberta
Ver análise Grupos Focais, capítulo V, página 260
Descrição
A nota coberta sobre a descoberta de um novo planeta, por uma astrônoma amadora, tem
abordagem interpretativa/analítica, já que a repórter mostra as condições em que o planeta foi
descoberto. Não há fontes ouvidas nesta matéria. A origem da pesquisa é internacional (Nova
Zelândia), mas não há nenhuma indicação da instituição a qual a astrônoma está vinculada.
As imagens são de agência internacional de notícias. A Ciência é o assunto principal. A
abordagem se dá forma contextualizada. Para isso, é usado do recurso da analogia. A Ciência
é apresentada de forma elogiativa. O ambiente da nota coberta não influencia
significativamente na apreensão do conteúdo. A Ciência é apresentada como articulada ao
ambiente de produção. As imagens auxiliam na compreensão do conteúdo científico
142
envolvido. Há demonstração do processo científico com palavras e imagens. A matéria não
emprega nenhum elemento ilustrativo.
Análise
O foco central da nota coberta é a descoberta de um novo planeta por uma astrônoma amadora
da Nova Zelândia. Na abertura ocorre uma certa ambigüidade na informação do apresentador.
Diz ele: “Pela primeira vez na história, uma astrônoma amadora ajudou a descobrir um novo
planeta na Via Láctea”. A dúvida recai sobre o pioneirismo: não se sabe se é a primeira vez
que uma mulher ajuda a descobrir um novo planeta, se é a primeira vez que uma astrônoma
amadora faz isso ou se realmente são as duas coisas uma astrônoma amadora descobre um
novo planeta. Mesmo com o impacto da expressão “pela primeira vez na história”, a
inexatidão diminui o caráter informativo da nota, já que, logo no início, pode ser criado um
empecilho à compreensão da matéria.
A expressão facial e o tom de voz que transmitem certa ironia, como se o apresentador
achasse o assunto leve, engraçado, cria o sentido de incredulidade no trabalho da astrônoma.
Ao estabelecer um diálogo com a repórter, no próprio estúdio, ele põe à prova, testa a
descoberta da astrônoma. O apresentador tenta diminuir a importância da descoberta lançando
à repórter a seguinte pergunta, para que ela confirme: “Mariana Ferrão, foram noites e noites
olhando as estrelas, né?”. Com isso, o apresentador (representando o telespectador) a desafia,
enquanto pertencente ao gênero feminino (como a astrônoma amadora) e também como
jornalista-especialista (ela deve responder às suas dúvidas, mesmo não sendo cientista).
Além da posição discursiva do telespectador, o apresentador, como homem, diante de duas
mulheres (a astrônoma e a repórter) joga com a desconfiança sobre o profissionalismo das
duas, tanto do trabalho da astrônoma (ela ficou só olhando para as estrelas) e para a repórter:
explicou que realmente a astrônoma trabalhou e não ficou contemplando as estrelas.
(Repórter: “Falando assim parece fácil, não é? Mas foram noites e noites comparando milhões
de estrelas”). Na relação entre os gêneros, nota-se a reprodução do estigma contra a mulher-
jornalista com papel discursivo de especialista e também contra a própria cientista, por ser
mulher, considerada amadora.
Trazer à luz quem cria a imagem da mulher na ciência é um desafio para quem busca
a transformação observando que a idéia de uma mulher cientista é um subproduto
sexista que distingue o cientista da cientista.
Os meios de comunicação, chamados a contribuir com a transformação, veiculam as
imagens circulantes na cultura. A impessoalidade do tratamento dos assuntos da
ciência, herança da ciência moderna, e veiculada pela mídia, vem contribuindo para o
distanciamento do humano nas peças de divulgação da ciência.
Nossa informação permanece organizada culturalmente, através dos meios de
comunicação construindo a idéia que temos do que seja ciência, ou de quem são seus
autores, mantendo dentro da própria cultura, seja no discurso do cientista seja no do
senso comum (CRUZ, 2005, p. 14).
O foco central da matéria (a descoberta de um novo planeta por uma astrônoma amadora)
acaba subvertido pelo tom que o apresentador impõe à matéria. Nunes (2001) afirma que as
descobertas científicas são acontecimentos característicos das Ciências. Dessa forma, pode-se
aferir que a matéria apropria-se de um acontecimento da Ciência, mas transforma as dúvidas
do apresentador sobre o trabalho da cientista amadora na tônica da matéria.
143
A matéria não explica qual o grau de amadorismo e o que significa uma astrônoma amadora
no contexto da Nova Zelândia, ou sequer considerou os conhecimentos da mulher para que tal
descoberta fosse efetuada. Além disso, o apresentador, ao afirmar que ela “ajudou a
descobrir”, faz inferência (DUCROT, 1981) de que outras pessoas, possivelmente homens ou
não-amadores como ela, foram os responsáveis, porque ela “somente” ajudou. No entanto,
tanto a astrônoma amadora como os cientistas que a ajudaram são anônimos na matéria, o que
Maingueneau (2001) chama de “não-pessoa”.
Dessa forma, pela ausência de fontes especialistas (que também é a personagem principal) a
matéria joga com uma presença-ausência do discurso científico que atravessa o próprio
discurso da divulgação: fala-se sobre uma pesquisadora que não é mostrada e que não tem
voz. As informações científicas não são apoiadas em fontes explícitas (especialistas ou
mesmo em trabalhos científicos), mas nos conhecimentos da jornalista divulgadora científica,
que se apresenta de forma caricatural como cientista. O discurso da descoberta (do novo
planeta) fica submetido ao discurso sobre a pesquisadora não-pessoa.
A repórter ocupa a posição discursiva de especialista no assunto. Ela, auxiliada pelas imagens
de agência de notícia (esta não identificada), explica a seriedade do trabalho da astrônoma. A
repórter empregou o discurso indireto de astrônomos (implicitamente, estes sim profissionais
ou mesmo do sexo masculino, já que ela usa a expressão “astrônomos” de forma genérica, no
plural e no masculino), para atestar a importância da descoberta da astrônoma. Diz a repórter,
finalizando a nota coberta: “A descoberta foi feita na Nova Zelândia. De acordo com os
astrônomos, a chance era de uma em um milhão. Era preciso esperar o alinhamento perfeito
entre duas estrelas até que uma refletisse a luz do novo planeta, que tem mil vezes o tamanho
da Terra”.
Telejornal: Jornal Nacional
Matéria: Técnica para desobstruir artérias (CD-Rom 1, página 23)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem sobre a técnica desenvolvida pelos norte-americanos para desobstruir artérias
apresenta abordagem interpretativa/analítica, já que apresenta a Tecnologia e seu uso em um
determinado paciente. Há fontes testemunhal e especialista nessa matéria. No entanto, apenas
a fonte especialista fala. Por outro lado, a fonte testemunhal é o fio condutor da matéria é a
partir dela que a história se desenvolve. Trata-se de uma Tecnologia internacional, dos
Estados Unidos, mas não há indicação da instituição responsável. O cientista ocupa posição
discursiva secundária em relação à fonte testemunhal. O discurso do cientista corrobora o
discurso do jornalista. É uma matéria em que a Tecnologia é assunto principal. A abordagem
científica ocorre de forma contextualizada. Nesta reportagem são usados os recursos de
linguagem da exemplificação e da definição. A Tecnologia nesta reportagem é incorporada ao
ambiente social e de recepção desta, mas é desarticulada do ambiente de produção. As
imagens auxiliam na compreensão do conteúdo científico envolvido. Há demonstração da
Tecnologia com imagens e palavras. A matéria apresenta desenhos e vinheta como elementos
ilustrativos. Estes auxiliam na compreensão do conteúdo científico envolvido.
Análise
A técnica criada pelos norte-americanos para prevenir infartos é o foco central desta
reportagem realizada nos Estados Unidos. Os benefícios e a novidade do novo procedimento
144
são a tônica da matéria. Na abertura, o apresentador, com o auxílio de uma vinheta do corpo
humano computadorizado, que representa modernidade e Tecnologia, já anuncia a novidade e
seus benefícios imediatos. Diz ele: “Médicos americanos criaram uma técnica revolucionária
para desobstruir artérias do corpo humano. Uma nova forma de prevenir infartos”. Na
expressividade do discurso do apresentador, em sua expressão facial e no uso da expressão
“técnica revolucionária”, fica explícito o tom de otimismo em relação à Tecnologia e à
matéria.
O discurso do repórter tem início com o anúncio do número de americanos que têm
entupimento das artérias, mas não cita qual a fonte das pesquisas que chegou a esse número
(“Doze milhões de americanos sofrem de entupimento das artérias”).
O tom humanizado da reportagem é dado pela individualização, pela apresentação e
acompanhamento da vida de um desses americanos. Diz o repórter, com a imagem da
personagem: “Bill Mac Caren era um deles. Agora ele consegue andar normalmente. Antes do
tratamento, mal conseguia dar alguns passos”. O problema da personagem-paciente já foi
resolvido com o novo tratamento. A matéria cria expectativa no telespectador para saber qual
foi o tratamento que possibilitou a recuperação da personagem-paciente.
Em seguida, tem início a reconstituição da história de vida da personagem-paciente. Com o
respaldo da imagem da fonte especialista no local de trabalho, analisando os exames médicos,
o repórter informa quais eram as condições de saúde da personagem-paciente antes do
tratamento. Diz ele: “O médico mostra o raio X da perna esquerda de Bill. A artéria estava
totalmente bloqueada por placas de gordura, o que provocava dores muito fortes”. A
expectativa ainda é mantida. Sabe-se, por enquanto, que há um novo tratamento para pessoas
com artérias entupidas e que ele alcança bons resultados. Somente isso.
Depois, são feitas descrições sobre os tratamentos convencionais para a personagem-paciente
(um homem com sobrepeso) e os principais problemas de tais procedimentos. (“No
tratamento tradicional, Bill teria que passar por uma angioplastia. Um balão seria introduzido
na artéria, abrindo espaço entre as placas para que o sangue voltasse a correr. O tratamento,
segundo os médicos, pode causar lesões na parede da artéria. Além disso, ela pode voltar a se
fechar alguns meses depois”). As ilustrações esquemas do tratamento tradicional auxiliam
na descrição de seu funcionamento.
A partir de então, com base na descrição dos procedimentos para a realização do novo
tratamento e na contraposição aos métodos convencionais, o repórter ressalta os benefícios da
nova técnica (“Com a nova técnica os médicos usam um equipamento parecido com uma
minifuradeira. Este aparelho aqui, um pouco mais grosso que uma agulha de injeção. Quando
o médico liga, ele começa a girar a oito mil rotações por minuto, destruindo as placas de
gordura. Uma lâmina minúscula corta as placas que são puxadas para dentro de uma espécie
de reservatório e retirada do organismo. O procedimento é feito com anestesia local e dura 15
minutos). Ao mostrar o aparelho, e chamar a atenção para ele (“este aparelho aqui”), o
repórter sintetiza e materializa a idéia que até então estava sendo mantida em suspense o
novo tratamento. O repórter emprega enunciados dependentes do ambiente
(MAINGUENEAU, 2001), que sinalizam a presença do repórter no local onde a Tecnologia
foi desenvolvida. Por caber na mão do repórter e também por ressaltar a rapidez com que a
técnica é realizada, ele salienta o caráter simples, benéfico e eficiente do tratamento. As
ilustrações de esquemas auxiliam na compreensão do funcionamento da nova técnica.
145
A credibilidade do novo tratamento é reforçada pela presença do repórter no hospital, nas
imagens da cirurgia, nos resultados comprovados na personagem-paciente, que é mostrado
caminhando na rua (Repórter: “Bill voltou a andar dois dias depois”) e também no discurso,
indireto, da fonte especializada o médico que tratou a personagem-paciente com a nova
técnica (Repórter: “O doutor James Makinzi explica que a diferença dessa técnica para o
tratamento tradicional é que ela permite retirar completamente a placa de gordura, fazendo a
artéria voltar a funcionar como nova”).
No final, o discurso do repórter afasta-se da fonte testemunhal e amplia o foco, novamente,
para a sociedade norte-americana, da mesma forma como seu discurso foi iniciado (“No fim
do ano, os médicos pretendem começar a usar a nova técnica em artérias do coração. O
entupimento delas é a principal causa dos infartos). É somente a partir desse momento que o
assunto principal, anunciado na abertura da matéria, é abordado.
O principal recurso utilizado para prender a atenção do telespectador nessa matéria é a
reconstrução da história. Volta-se ao passado, recontando a vida da personagem para inserir
novos elementos num passado mais recente (o novo tratamento) e, no presente: avaliar as
mudanças ocorridas na vida da personagem. Na regressão, são inseridos os procedimentos
técnicos e científicos referentes ao assunto, os depoimentos (da própria personagem-paciente
e do especialista). No entanto, a personagem não ilustra o foco central da matéria. Pode-se
aferir que a matéria pode ter a compreensão dificultada porque anuncia que a técnica é para
prevenir infartos, mas, até o momento, a prevenção de infartos ainda não teve início.
Na conclusão da matéria é explicado que, somente a partir do final do ano, os médicos
pretendem usar a técnica para desobstruir artérias do coração. Pode-se observar o que Abramo
(2003) designou de padrão de inversão por relevância de aspectos. Uma informação que ainda
não foi comprovada, por se tratar de um projeto futuro até então (a prevenção de infartos pela
nova técnica), é anunciada na abertura e adquire relevância (é o “gancho” da matéria) em
detrimento da técnica já comprovada (desobstrução de artérias do corpo), que é a informação
a partir da qual os discursos se desenrolam.
Sobre isso, Zamboni (2001, p. 121) avalia que a atitude de cautela que caracteriza a
enunciação do cientista na conclusão e avaliação de sua pesquisa é transmudada [na
divulgação científica] para uma atitude de assertividade no texto jornalístico, que fere o
próprio cerne do fazer científico, na medida em que esvazia a dimensão de provisoriedade
inerente à construção de fatos científicos”.
Telejornal: Jornal Nacional
Matéria: Descoberta de novo planeta (CD-Rom 1, página 24)
Formato: Nota coberta
Descrição
A nota coberta do Jornal Nacional sobre a descoberta de um planeta tem abordagem
descritiva, pois a matéria simplesmente noticia a descoberta, sem qualquer contextualização.
Não há fontes ouvidas na matéria. A apresentadora apenas cita “astrônomos amadores”, mas
estes não são ouvidos nem mostrados. A origem da pesquisa é internacional (Nova Zelândia)
e não há informação sobre a instituição responsável. As imagens são de agência internacional
de notícias. A Ciência é o assunto principal e a abordagem se dá forma fragmentada, sem as
devidas explicações. Usam-se os recursos de linguagem da analogia e da definição. A
linguagem predominante é confusa e complexa, porque usa dimensões e medidas pouco
146
conhecidas pelo público não especializado (tais como “anos-luz e tamanho mil vezes maior
que a Terra). A Ciência é apresentada de forma elogiativa e articulada ao ambiente de
produção desta, mas desarticulada do ambiente social. As imagens auxiliam na compreensão
do conteúdo científico envolvido. Há demonstração do processo científico com palavras e
imagens. A matéria emprega a vinheta como elemento ilustrativo. Esse não influencia
significativamente na apreensão do conteúdo científico envolvido.
Análise
A nota coberta teve como foco central o planeta suas dimensões e a comparação deste
com a Terra. O trabalho de pesquisa, os pesquisadores envolvidos (cientistas ou amadores) e a
importância desta descoberta não tiveram espaço no discurso da apresentadora.
Sobre as imagens, mesmo não demonstrando o processo científico envolvido, são imagens
atrativas sobre o planeta (até mesmo a vinheta é um planeta). Além das imagens, os números
surpreendem pela dimensão que tomam ao se comparar com as medidas que os não
especialistas no assunto estão habituados. Diz a apresentadora: “Astrônomos amadores da
Nova Zelândia descobriram um novo planeta na Via Láctea, 15 mil anos-luz distante da
Terra”. Diz ela: “O planeta é mil vezes maior que a Terra e um dos mais distantes já
descobertos”. A distância de 15 mil anos-luz não pode ser visualizada pelos sentidos humanos
e nem mesmo o tamanho mil vezes maior que a Terra. Para tornar tais números mais
facilmente compreendidos, a matéria poderia usar analogias que comparassem a diferença de
tamanho entre um planeta e outro, caso a preocupação da matéria tivesse sido com o
entendimento público e não com o impacto dos números. Pelo uso de termos e dimensões de
conhecimento restrito ao público que possui familiaridade com astronomia ou por
especialistas na área, o discurso dessa matéria exerce o que Foucault (2002) chama de
controle. Os que não são “iniciados” no assunto não compreendem. Cria-se, dessa forma, o
sentido de distanciamento entre a Ciência e o público leigo. Além disso, o próprio assunto
(distância de 15 anos-luz) já remete ao distanciamento.
Há nessa nota uma confusão com o uso de termos empregados para identificar/qualificar os
pesquisadores responsáveis pela descoberta do planeta. No início, a apresentadora diz que
“astrônomos amadores descobriram um novo planeta” e, no final, diz que “os cientistas fazem
parte de uma equipe internacional”. Portanto, nota-se uma indiferenciação no uso de termos
(como sinônimos): cientistas são amadores e amadores também são chamados de cientistas. O
termo “amador” também não foi esclarecido. O que significa um astrônomo amador? É aquele
que tem um telescópio em casa e usa para olhar para o céu? É aquele que não está vinculado a
uma instituição de pesquisa? É aquele que não possui formação
científica/acadêmica/universitária? A matéria não esclarece.
Na nota coberta não há nenhuma fonte. Mesmo tratando-se de uma descoberta internacional e
as imagens serem provenientes de agência de notícias (isto não é creditado na matéria), há
pesquisadores brasileiros na área de astronomia que poderiam avaliar a repercussão, a
importância e o impacto na comunidade científica da descoberta de um novo planeta, até
mesmo porque o Brasil participa do projeto internacional da estação espacial. Portanto, há um
interesse, até governamental, no incremento e incentivo às pesquisas na área de astronomia.
Com essa ausência, cria-se o sentido de que não há relação dessa descoberta com a sociedade.
Além disso, a nota coberta não deu importância ao processo de pesquisa, de trabalho
metódico que levou à descoberta. No final da nota há imagens dos pesquisadores em
telescópio e o seguinte discurso da apresentadora: “Os cientistas neozelandeses fazem parte
147
de uma equipe internacional”. As imagens dos cientistas colaboram para a compreensão de
que houve um trabalho que desencadeou a descoberta, que não se deu ao acaso. No entanto, as
informações relevantes para dar credibilidade ao trabalho de pesquisa foram ocultadas, como
por exemplo: como se deu o trabalho, quais os equipamentos usados, o tempo de trabalho
investido, quantas pessoas se envolveram no projeto. Com isso, a relevância para o público do
trabalho científico fica comprometida, pois cabe a cada um dos receptores avaliar se o
empenho e o investimento foram grandes ou não.
A nota coberta produz sentidos de distanciamento do público, da vida social. Isso pode ser
observado no uso de dimensões estranhas à realidade e ao ocultar a relevância social da
descoberta. Esse distanciamento pode ser transferido para a Ciência e para o trabalho
científico.
Pode observar, nessa nota coberta, a pouca preocupação com o caráter elucidativo do assunto.
As imagens são interessantes e isso, para o telejornal, basta para atrair a atenção do
telespectador. Qualquer aproximação com a realidade desse público foi negligenciada. Nota-
se a preponderância da imagem em relação ao conteúdo (o que não quer dizer discurso verbal,
mas qualidade da informação como um todo).
Telejornal: Jornal Nacional
Matéria: Projeto de lei sobre pesquisa com células-tronco embrionárias
(CD-Rom 1, página 25)
Formato: Nota simples
Descrição
A nota simples sobre um projeto de lei norte-americano sobre pesquisas com células-tronco
embrionárias possui abordagem descritiva, pois não relaciona o projeto de lei às outras
instâncias da sociedade nem mesmo à Ciência. A matéria trata de política científica e não de
uma pesquisa em específico. A origem da informação é internacional (Estados Unidos). A
linguagem predominante é clara, mas complexa, já que termos científicos não são explicados.
A matéria emprega a vinheta como único elemento ilustrativo. Este não exerce forte
influência sobre a compreensão do conteúdo científico envolvido na matéria.
Análise
Esta nota simples, de origem internacional, trata de política científica. Não há imagens nem
fontes ouvidas. A atualidade e a polêmica em torno do assunto são os focos centrais. O
assunto é complexo e a nota não o explicou (manteve oculto). A linguagem se torna complexa
e presume que o telespectador tenha conhecimento sobre um assunto específico e mais: que
saiba da situação das pesquisas sobre células-tronco embrionárias nos Estados Unidos e no
mundo. A matéria sugere uma posição, ao telespectador, de conhecedor do assunto.
O termo “células-tronco embrionárias” foi apenas citado, mas é em torno dele que é gerada
toda a polêmica. Ao omiti-lo, desloca-se o sentido da controvérsia (social, cultural, política e
ideológica) das pesquisas com células-tronco embrionárias para a disputa entre os deputados
norte-americanos e o presidente da República. O confronto de interesses e pontos de vista é o
critério empregado para a seleção do assunto como notícia. A nota deu destaque ao projeto de
lei, às relações entre os grupos de poder em detrimento do conteúdo de tal projeto de lei.
148
Sobre as pesquisas, de forma genérica e superficial, foram anunciados, na nota, apenas o
aumento do financiamento e o fim dos limites às pesquisas. Diz o apresentador: “A Câmara
dos Deputados americana acaba de aprovar uma lei que aumenta o financiamento e retira
limites para a pesquisa com células-tronco embrionárias”. Ao comparar a nova lei com a
situação atual sem explicá-las, cria-se o pressuposto de que o telespectador já saiba qual a
situação das pesquisas naquele país. Nada foi dito sobre a atual situação das pesquisas sobre
células-tronco nos Estados Unidos ou mesmo no Brasil e no mundo, como forma de se
avaliar, de forma mais abrangente e comparativa, a situação e o desenvolvimento de tal
pesquisa.
O apresentador foi amparado por uma vinheta do corpo humano computadorizado, que
ressalta a relação da Ciência com a Tecnologia (da informática) com o avanço do
conhecimento. Trata-se de uma forma diferenciada de visualizar o corpo humano, que
também gera sentidos. É a interferência da Tecnologia no corpo humano, diferente das
imagens tradicionais, com desenhos que ilustram os órgãos.
Em relação às fontes, não foi ouvido nenhum pesquisador dos Estados Unidos para analisar a
nova lei. No Brasil, também não foi ouvido nenhum pesquisador, o que poderia ter sido feito,
já que uma fonte especialista poderia analisar as repercussões para a Ciência como um todo
caso a lei norte-americana fosse aprovada ou reprovada. A nota desprezou a dimensão o
impacto na Ciência caso um país, como os Estados Unidos, um dos maiores investidores
mundiais em pesquisa, aprove tal lei.
Sem descrever ao certo o conteúdo do projeto de lei, o apresentador reforça, no final da nota,
a disputa de interesses e o processo pelo qual o projeto passará até se tornar lei (“O texto, que
teve o apoio de democratas e de republicanos, ainda vai passar pelo Senado e depois segue
para sanção do presidente Bush, mas ele já avisou que vai vetar a lei”). No entanto, o trecho
final da nota descreve a posição irreversível do presidente Bush. A nota é finalizada de forma
condenatória. O apresentador afirma que, mesmo com o fato de republicanos e democratas
terem assinado o texto, o presidente da República já avisou que vetará, portanto, de nada
adiantou tal projeto e a situação das pesquisas com células-tronco embrionárias nos Estados
Unidos continuará a mesma. No entanto, essa “mesma” situação não foi descrita na nota.
Com as ausências de informações da nota não há como o telespectador avaliar se o projeto de
lei trará benefícios às pesquisas, a quem as pesquisas beneficiariam, quais os motivos que as
limitam e o porquê da posição contrária do presidente Bush. Tais informações, descritas de
maneira fragmentada não contribuem nem mesmo para a atualização das informações sobre as
pesquisas com células-tronco, a menos que o telespectador tenha conhecimentos mais
aprofundados sobre o assunto.
Telejornal: Jornal da Record
Matéria: Mapa da violência pesquisa Unesco (CD-Rom 1, página 26)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem sobre a pesquisa da Unesco tem abordagem predominantemente
interpretativa/analítica, pois busca os fatores responsáveis pelos números apontados pela
pesquisa. Na matéria, há fontes especialista, oficial, independente e testemunhal. A origem da
pesquisa é nacional, da Região Sudeste (Estado de São Paulo), mas a instituição responsável
pelo estudo é internacional (Unesco). O cientista ocupa posição discursiva secundária em
149
relação a outras fontes. O discurso do cientista corrobora o discurso do jornalista e também
das demais fontes. Nesta reportagem, a Ciência é o assunto principal, que é apresentada de
maneira contextualizada e incorporada ao ambiente social, mas é desarticulada do ambiente
de produção. As imagens auxiliam na compreensão do conteúdo científico da matéria,
entretanto, não há demonstração do processo científico envolvido. A matéria não apresenta
elemento ilustrativo. Há apenas caracteres que indicam o número de homicídios.
Análise
A reportagem que trata da pesquisa da Unesco sobre violência no Estado de São Paulo tem
três eixos principais como foco de desenvolvimento: a) os resultados da pesquisa, b) os
fatores que justificam os números da pesquisa e c) os casos que exemplificam a violência no
Estado.
Na abertura, o apresentador já anuncia o resultado da pesquisa da Unesco (“Pela primeira vez,
o mapa da violência elaborado pela Unesco pesquisou só um Estado brasileiro e trouxe uma
boa notícia: a tendência é de queda dos homicídios em São Paulo nos últimos cinco anos”). A
expressividade do apresentador e o uso de termos como “boa notícia” revelam o tom otimista
de seu discurso.
O discurso do repórter tem início com a apresentação dos números resultantes da pesquisa a
partir de uma comparação (quase que por equivalência de números) entre os mortos da guerra
do Iraque e as mortes ocasionadas pela violência em São Paulo (“A guerra no Iraque mata, a
cada ano, 15.500 pessoas, pouco mais que a média do Estado de São Paulo nos últimos dez
anos: 13.620 pessoas”). Disso, pode-se aferir que o repórter compara a situação de
insegurança no Estado de São Paulo a de um país em guerra, pelo número de vítimas fatais.
Essa comparação (entre a violência em São Paulo e as mortes de um país em guerra), que tem
caráter negativo, contrapõe-se ao tom do discurso do apresentador. A comparação exige do
telespectador um certo cálculo: a matéria presume que o público saiba o que, em matemática,
significa “média dos últimos dez anos”, caso contrário, a compreensão será prejudicada.
A partir de então o tom do discurso do repórter torna-se também positivo. Essa carga positiva
é representada pelos resultados da pesquisa: foi a pesquisa da Unesco a responsável por
divulgar os dados positivos de queda da violência. O repórter apresenta os resultados da
pesquisa, descrevendo-a e apontando um aspecto positivo, comparativamente em relação aos
números da violência (“Uma pesquisa da Unesco revela que até 99, os assassinatos cresciam
8% ao ano. Mas a tendência se inverteu. Os homicídios vêm caindo 5% ao ano. Como toda
vitória, essa tem seus pares”). Ao empregar o termo “vitória”, o repórter salienta o caráter de
luta, de guerra, provavelmente contra a violência.
Sobre a fonte especialista é informado (pelo repórter) que o conteúdo do discurso será
esclarecedor sobre um dos motivos da redução da violência (os fatores que levam aos
números da pesquisa o segundo eixo da matéria), mas isso não acontece, já que o discurso
do especialista mostra-se inconclusivo. (Repórter: “O coordenador da pesquisa, Júlio Jacobo,
destaca a mobilização da sociedade”). (Fonte especialista: “Não sei determinar quantos por
cento do êxito de São Paulo nestes cinco anos foi pela pressão social”).
Em relação às causas da diminuição da violência, o repórter complementa, a partir dos dados
levantados na pesquisa (“A queda da violência é atribuída também à melhoria do
policiamento, às iniciativas municipais, como a Lei Seca e a políticas de inclusão social, como
a abertura das escolas nos finais de semana”).
150
O repórter fornece maior detalhamento sobre os resultados da pesquisa (“A pesquisa mostra
que os jovens são as maiores vítimas da violência. Morrem três vezes mais jovens na faixa de
20 e 24 anos do que na faixa dos 40 aos 49 anos”).
O discurso de uma fonte oficial (Saulo de Castro Abreu Filho, Secretário de Segurança de
São Paulo) avalia a situação dos jovens em relação ao crime, de forma genérica e não-
individualizada (“Esse jovem que morre, que o estudo mostra, é o mesmo que mata. Se você
pegar os 136 mil presos que têm no Estado de São Paulo, é tudo de 18 a 23 anos”). Pode-se
observar que o encadeamento da edição do discurso da fonte oficial é confuso (o jovem
primeiro morre e depois mata ou então, possivelmente, é claro, ele mata e, por isso, é preso),
pouco esclarecedor (não acrescenta novas informações à pesquisa), acusatório (porque
generaliza o perfil dos detentos no Estado de São Paulo) e não apresenta nenhuma medida
oficial de reversão da situação, o que se espera de uma fonte que representa o poder
governamental.
Em seguida, tem início o terceiro eixo que compõe a matéria, a que mostra casos de violência
a partir da vivência de pessoas, como vítimas ou testemunhas. Diz o repórter: “Dona Vilma
não viu a pesquisa, mas conhece bem o problema. Tinha uma filha de 18 anos que sonhava ser
atriz”. “Controlava os horários da filha que, aos domingos, ia até uma praça, ponto de
encontro de jovens”. O depoimento da fonte testemunhal é caracterizado pela emoção, o que,
até então, não era observado em relação à descrição dos números da pesquisa (Diz ela: “Uma
frase que ela me pedia constantemente: ‘Mãe, tem duas mil pessoas, porque a senhora acha
que se tiver um tiro vai bater em mim’”).
Para contar a experiência da família com a violência que envolve jovens de São Paulo, o
repórter reconstrói a histórica do crime (“Um carro atropelou um rapaz e o irmão dele foi
tomar satisfação. Deu seis tiros”). Este exemplo contradiz a informação da fonte oficial.
Nesse caso, a vítima (a moça que morreu) não estava envolvida em crime, não foi presa
anteriormente.
Uma fonte independente, membro de uma organização não-governamental, revela as
circunstâncias de ocorrência do crime no Estado, também de forma genérica e generalizante.
(“Aqui em São Paulo, mais da metade dos homicídios, assim como em grandes cidades
brasileiras, são motivados por motivos fúteis”). Dessa vez, o discurso da fonte independente
corrobora o discurso da fonte testemunhal e mostra-se neutro diante da informação da fonte
oficial.
O repórter volta, então, à reconstituição do crime (“Bárbara foi morta por uma bala perdida. O
atirador de vinte anos está preso. O que a irmã dela pede para conter a violência não é
diferente do que sugere o diretor da Unesco no Brasil”). Uma outra fonte testemunhal tem seu
discurso comparado ao da fonte oficial da Unesco. Os dois discursos são comparados. Diz a
fonte oficial: “Desarmamento já”. Em seguida, diz a fonte testemunhal: “Dar um jeito de
ninguém comprar arma. Porque a pessoa vai em qualquer lugar e compra uma arma”. A
função emotiva da linguagem (JAKOBSON, 1995) presente no discurso do repórter quando
se refere às fontes testemunhais, e também no discurso de uma das fontes testemunhais,
desliza para o discurso da fonte oficial da Unesco. Isso fica evidente na própria comparação
estabelecida pelo repórter entre os discursos da fonte oficial e da fonte testemunhal. Neste
momento, a matéria joga com o sentido de que a solução para a violência no Estado de São
Paulo está no desarmamento.
151
A matéria é encerrada com uma análise política do apresentador sobre os investimentos do
governo Federal em segurança (“Candidato à sucessão de Lula, o governador tucano, Geraldo
Alckmin, tem dado especial ênfase a dois setores considerados calcanhar de Aquiles de sua
gestão. Segurança pública e Febem. Aliás, dois assuntos que se confundem. Apesar desse
progresso, a segurança pública em São Paulo não é das melhores e é um descalabro em todo
país, sob a quase completa omissão das autoridades”). A opinião do âncora se sobrepõe aos
demais discursos apresentados na matéria.
Uma das maneiras encontradas pelos veículos de comunicação de construir relações
de credibilidade com o público foi apostar na criação de “âncoras” que apresentam os
telejornais e na de jornalistas que demonstram grande autonomia (em alguns casos,
apenas aparente, em outros, real) para manifestar suas opiniões, em matérias assinadas
(ARBEX Jr, 2001, p. 134).
Segundo Machado (2000, p. 107), trata-se da “autoridade de um âncora onisciente, onividente
e onipresente, uma espécie de voz consensual que se intromete nos relatos e os fecha com um
comentário de tipo editorial”. A multiplicidade de pontos de vista, de discursos é articulada
(porque o comentário faz parte da matéria) e, ao mesmo tempo desarticulada (porque o
discurso do apresentador tem força de conclusão. É dele a palavra final e o suposto consenso
sobre a situação). Nesse aspecto, Weingart (1998) chama a atenção para o fato de a mídia
criar o consenso sobre a Ciência.
Telejornal: Jornal da Record
Matéria: Projeto de lei sobre pesquisas com células-tronco embrionárias
(CD-Rom 1, página 27)
Formato: Nota coberta
Descrição
A nota coberta sobre o projeto de lei norte-americano de pesquisas com células-tronco tem
abordagem descritiva, já que somente apresenta as versões oficiais sobre tal projeto de lei.
Não há fonte especialista nesta matéria. Há apenas a imagem, sem tradução, do discurso do
presidente norte-americano. A nota coberta é de origem internacional, dos Estados Unidos. As
imagens são de agência internacional de notícias. O assunto principal da matéria é política
científica. A abordagem do assunto se dá de forma fragmentada. A linguagem predominante
é clara, mas complexa, pois apresenta termos científicos não explicados. Nessa nota coberta, o
ambiente colabora para a apreensão do conteúdo. Por outro lado, a Ciência é desarticulada do
ambiente de produção e do ambiente de recepção desta. Não há demonstração do processo
científico envolvido e não se utiliza nenhum elemento ilustrativo.
Análise
A nota coberta do Jornal da Record sobre o projeto de lei norte-americano tem como foco a
política científica que envolve as pesquisas com células-tronco embrionárias. O apresentador
anuncia o assunto principal logo no início da matéria: é sua primeira fala (“Deputados
americanos aprovam projeto que reduz a restrição a pesquisas com células-tronco”).
Depois disso, com a imagem do presidente Bush durante pronunciamento, o discurso do
apresentador divide-se em três momentos, inter-relacionados. Um deles refere-se ao ponto de
152
vista do próprio presidente, contrário ao projeto de lei (“Antes mesmo da aprovação, o
presidente George W. Bush condenou o projeto”).
Em seguida, há a justificativa do presidente para a recusa de tal projeto (“Ele afirmou que o
uso de embriões nessas pesquisas é equivalente a um aborto”). A alegação do presidente,
destacada na matéria, é de impacto, porque relaciona as pesquisas com algo controverso, não
aceito em alguns Estados norte-americanos e também no Brasil: a prática de aborto. A
justificativa, forte e polêmica, do presidente, opõe-se à visão dos que defendem as pesquisas
com células-tronco embrionárias, apresentada no final da nota coberta.
O segundo momento trata do projeto de lei propriamente dito. O apresentador ressalta as
circunstâncias em que esse foi aprovado pela Câmara (“O projeto que Bush ameaçou vetar foi
aprovado por 238 a favor e 194 contra”). No entanto, omite o seu conteúdo. Ao descrever o
resultado final da votação do projeto na Câmara e ocultar o conteúdo deste, cria-se o sentido
de que a questão política é mais relevante, porque exige maior enfoque que a questão
científica, já que o conteúdo trata do desenvolvimento, da prática da pesquisa. Pode-se
observar que o critério de noticiabilidade (TEMER, 2003) empregado nesta matéria é o
conflito, a oposição que se estabelece entre o presidente da República norte-americano e os
deputados.
O terceiro momento que compõe este discurso resume os principais motivos a favor do
projeto de lei. No entanto, ao relacionar as pesquisas com células-tronco embrionárias ao
tratamento de doenças sem cura, mas sem especificar quais são tais doenças, diminui-se o
peso da informação, ao apresentá-las de forma genérica (“Os partidários da iniciativa
destacaram que a pesquisa ajudará no desenvolvimento de novos tratamentos para muitas
doenças consideradas sem cura”). Com a oposição entre a visão do presidente da República e
dos partidários das pesquisas, a matéria reproduz a polêmica a partir da seguinte questão, que
pode ser resumida das visões expressas na nota: é possível aprovar uma lei que retira limites
para pesquisas com células-tronco embrionárias, que poderão ajudar no tratamento e no
combate a muitas doenças (que não se sabe exatamente quais são, já que a matéria não
esclarece) às custas da realização do aborto?
Essa visão dicotômica, dual, surge principalmente porque a nota coberta não possibilita uma
análise mais detalhada do assunto, pois não conta com pontos de vista (fontes especialistas, de
entidades, de organizações não-governamentais) que reforçam, ponderam e justificam tais
posições.
A nota não explica o porquê de o presidente Bush comparar essas pesquisas ao aborto. No
entanto, é preciso considerar a autoridade de um presidente da República e, portanto, o valor
dado ao seu discurso, além de seu poder de veto do projeto, o que acaba por decidir sobre a
aprovação do projeto de lei. Além disso, há imagens do presidente durante discurso, o que
ressalta a força de sua posição.
O anonimato das fontes que compõem os “partidários do projeto” contribui para que se
diminua o valor do discurso e, portanto, das justificativas. Trata-se de uma personalidade
mundial com posição contrária a pessoas, que são tratadas na matéria como não-pessoas
(MAINGUENEAU, 2001), já que se fala delas, mas não possuem voz, nem são mostradas em
imagens. Quem são os partidários do projeto de lei das pesquisas com células-tronco
embrionárias? Estes são anônimos na nota. O desequilíbrio de forças, entre o presidente da
República dos Estados Unidos e um grupo de partidários sem nome, colabora para a
153
justificativa do presidente. As imagens do presidente também reforçam seus argumentos, já
que não há imagens dos partidários ou de fontes a favor do projeto de lei.
Não há explicação científica sobre a ocorrência ou não de aborto. A matéria não esclarece e
nem oferece subsídios (a partir de fontes especialistas) para que o público compreenda os
posicionamentos contra e a favor, a partir das informações embasadas cientificamente.
O discurso do apresentador, que reproduz a visão a favor do projeto de lei, não rebate as
críticas do presidente norte-americano sobre sua acusação de ocorrência de aborto, por isso, a
carga emocional recai no argumento do presidente e torna-se mais forte, mais coerente e
sensato. Ocorre, nesta nota coberta, de forma contundente, o padrão de manipulação por
ocultação defendido por Abramo (2003). Ao ocultar, ao silenciar, o discurso das fontes, a
favor das pesquisas com células-tronco embrionárias e, ao evidenciar, por exposição, os
argumentos, a imagem e a força política e argumentativa do presidente da República, a
matéria mostra-se tendenciosa, parcial.
Telejornal: Jornal da Cultura
Matéria: Devastação da Amazônia (CD-Rom 1, página 28)
Formato: Nota simples
Descrição
A nota simples sobre a devastação da Amazônia possui abordagem descritiva, pois apenas
noticia o resultado da pesquisa. Não há fontes ouvidas nesta matéria. Há indicação, genérica,
da origem da pesquisa. Trata-se de uma pesquisa realizada por “cientistas do Instituto de
Pesquisa Ambiental da Amazônia” (Inpa), que fica na região norte do País, no Pará. Ciência é
o assunto principal e a abordagem desta se dá forma fragmentada. A linguagem predominante
é clara, mas complexa, pois alguns termos técnicos mencionados na matéria não são
explicados. A Ciência é apresentada desarticulada dos ambientes de produção e de recepção.
Como se trata de uma nota simples, não há imagens. A matéria não emprega nenhum
elemento ilustrativo.
Análise
Na nota simples sobre a devastação da Amazônia, o apresentador, no início, joga com a
representação dos cientistas do Inpa como capazes de prever o futuro (“Os cientistas do
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia conseguiram prever o que vai acontecer caso a
devastação continue no ritmo atual”). Ao empregar a expressão “prever o que vai acontecer”
cria-se o sentido de que o cientista tem características extra-humanas, capaz de prever o
futuro. O início desta nota não relaciona a previsão do desmatamento feita pelos cientistas à
determinada pesquisa científica. Cria-se o sentido de que os cientistas têm superpoderes.
A partir de então, são apresentados os números da devastação ainda sem nenhuma referência à
pesquisa científica. “Entre agosto de 2003 e agosto de 2004, 26 mil quilômetros foram
destruídos, o segundo maior desmatamento da história”. Esses números são lançados como
parte da previsão “esotérica”. Ao ocultar a pesquisa desenvolvida pela equipe de
pesquisadores do Inpa, transfere-se para a Ciência, e para a própria representação dos
cientistas, esse caráter oculto, de forças ocultas.
Esses sentidos são reforçados pela ausência de imagens, tanto da Amazônia devastada como
dos cientistas durante a pesquisa. A ausência de fontes (testemunhais, especialistas, oficiais e
154
independentes) torna essa informação parcial, pois a pesquisa aponta números da devastação,
mas tais números, não contextualizados, possuem causas, reflexos e opções políticas e
econômicas. Mas nada disso é mostrado na matéria. A representação da pesquisa científica na
nota é fatalista. A pesquisa, por si só, condena a Amazônia ao fim. Outras partes não foram
ouvidas. Outras pesquisas, que poderiam complementar tal cenário, não foram incorporadas.
Pela ausência de imagens dos cientistas (e também de discurso verbal), os cientistas são
tratados como não-pessoas na matéria (MAINGUENEAU, 2001): fala-se deles, mas estes não
são mostrados, inseridos nos contextos enunciativos da matéria.
A não-especificação mínima dos procedimentos metodológicos da pesquisa é outra
característica desta nota que contribui para a imagem supra-real dos cientistas. A nota não
informa quais foram os métodos de pesquisa, os instrumentos técnicos para que se chegasse à
conclusão de que, se nada for feito para reverter o grau de desmatamento da Amazônia, ela
ficará parecida com uma savana. É como se os cientistas retirassem suas conclusões de uma
bola de cristal.
Por fim, o apresentador informa que se trata de um estudo. No entanto, sem nenhuma
descrição (“As conclusões são desanimadoras, conclusões do estudo”). Essa informação,
desarticulada das demais informações da nota, dilui-se na ausência de referências ao estudo e,
por outro lado, nas demais informações resultantes das previsões dos cientistas.
A matéria termina com as previsões fatalistas. Para isso, o apresentador emprega uma
linguagem complexa, específica de técnicos e cientistas. Diz o apresentador: “Daqui a 45 anos
vai ocorrer um cenário de seca na Amazônia por ação do homem, pelo efeito estufa e pelo
fenômeno El Niño. Ela poderá ser transformada, a Amazônia, numa imensa Savana”. A
expressão “ação do homem” não identifica quais são essas ações e a quais homens a pesquisa
se refere. A escolha de termos genéricos resulta na diluição do impacto da informação. O
termo “efeito estufa” também aparece de forma descontextualizada na nota, porque seu
significado não é explicado, nem sequer suas causas e a relação deste com o problema
ambiental na Amazônia. O mesmo ocorre com o fenômeno El Niño, cuja relação com a
Amazônia, não é descrita na nota.
A Amazônia é representada como um lugar distante, cujos problemas também estão distantes,
pois se localiza longe dos centros urbanos. A savana também é algo desconhecido, distante da
realidade brasileira. Ao comparar a Amazônia, um ecossistema mostrado pelos meios de
comunicação, mas pouco vivenciado pelos brasileiros (porque não faz parte do dia-a-dia e
está localizada próxima das pessoas), com a savana, que não existe no Brasil e não há
referência nenhuma no país de tal ecossistema, a explicação se torna vazia, inócua, já que se
compara algo pouco conhecido a algo quase (ou totalmente) desconhecido. Torna-se
necessário, no processo de divulgação científica, aproximar os conceitos, os procedimentos e
os pesquisadores da realidade das pessoas, respeitando-se, é claro, os limites de tais
comparações, para que a matéria se torne atrativa e interessante. Pelas ausências desta matéria
é possível aferir que não houve preocupação por tornar a Ciência compreensível e próxima do
público.
155
Telejornal: Jornal da Cultura
Matéria: Veículos especiais para pessoas com dificuldades de locomoção
(CD-Rom 1, página 29)
Formato: Reportagem
Ver análise Grupos Focais, capítulo V, página 257
Descrição
A reportagem sobre veículos especiais para pessoas com dificuldades de locomoção tem
abordagem investigativa/analítica, já que a matéria aborda os aspectos sociais da Invenção
apresentada. Há fonte especialista (o inventor) e fontes testemunhais. A origem da Invenção é
nacional, da Região Sudeste (cidade de São Paulo). O cientista ocupa posição discursiva
principal em relação às outras fontes. O discurso do cientista corrobora o discurso do
jornalista e também das demais fontes. Nesta reportagem, a Invenção é o assunto principal,
que é apresentada de maneira contextualizada e elogiativa. A invenção é incorporada aos
ambientes social, de produção e de recepção. As imagens auxiliam na compreensão do
conteúdo científico da matéria. Há demonstração do processo científico com palavras e
imagens. A matéria não apresenta elemento ilustrativo.
Análise
O foco da matéria gira em torno de uma personagem principal, Rubens Sérgio Ribeiro, que se
dedica a desenvolver veículos de locomoção para deficientes físicos, tomados na matéria
como “pessoas com dificuldades de locomoção”. A abertura da matéria enfatiza o caráter
humano, os traços de personalidade e as invenções que garantem a noticiabilidade da matéria.
Diz o apresentador: “Ele se formou em Direito, mas por causa de uma poliomielite ele se
especializou em criar veículos especiais para pessoas com dificuldades de locomoção. O
prazer dele é compartilhar a felicidade das pessoas que usam suas invenções”.
A abertura ressalta que a própria personagem apresenta dificuldade de locomoção e é a isso
que se deve sua função de inventor. Dessa forma, a posição que o inventor ocupa na matéria é
também a de fonte testemunhal. Isso é ressaltado pelas imagens que o mostram caminhando
com dificuldade e se locomovendo em um de seus veículos. A personagem se identifica com
os deficientes físicos, como pertencente ao grupo de pessoas que também necessitam de tais
veículos. A matéria deixa implícito que o fato de ser deficiente foi condição sine qua non para
sua atuação como inventor.
O repórter apresenta a personagem, Rubens Sérgio da Silva, caracterizando-o como um
inventor e comparando-o ao “Professor Pardal”. (personagem da literatura infantil e de
desenhos animados da Walt Disney, que representa o inventor, aquele que faz experiências
mirabolantes, o cientista). (Repórter: “Rubens Sérgio Ribeiro é uma espécie de Professor
Pardal especializado em criar máquinas transportadoras de pessoas com dificuldades de
locomoção”). Com isso, nota-se a inserção de um outro discurso (o dos desenhos animados e
da literatura infantil norte-americanos) para constituir o discurso sobre a personagem,
caracterizando o que Bakhtin (1997) chama de interdiscursidade, nesse caso, empregada para
tratar da figura do inventor.
O tom do discurso do repórter vale enfatizar que ele se apresenta como videorrepórter (já
que ele acumula as funções de câmera e de repórter) é tom otimista em relação ao inventor e
às suas invenções. O ethos (MAINGUENEAU, 2001), ou seja, a imagem de si que o repórter
156
tenta impingir ao seu discurso, é de otimismo, de confiança no trabalho do inventor, de
crédito no trabalho daquele que “transforma histórias com início triste em finais felizes”.
O discurso da matéria é desenvolvido a partir da história de vida da personagem. Isso pode ser
comprovado pelo discurso do repórter, corroborado pelo discurso da própria personagem. Diz
o repórter: “Hoje você vai conhecer a história de um homem que pega histórias com início
triste e terminam felizes. Não é isso?”. A personagem concorda: “Tento fazer um final feliz”.
Nota-se, ao longo da matéria, a construção, pelos discursos do repórter e da personagem, do
tom otimista, esperançoso e humanizado às invenções: os veículos de locomoção mudaram
(para melhor) a vida das pessoas atendidas.
É importante ressaltar a posição discursiva ocupada pelo telespectador nesta matéria: o
repórter, diferentemente das demais matérias estudadas, é tratado por “você”. Com isso, cria-
se o efeito de sentido de que a matéria é direcionada do repórter diretamente para o
telespectador em sua individualidade. A matéria estabelece, explicitamente, o diálogo EU
(repórter) VOCÊ (telespectador). Esse recurso tem função eminentemente fática
(JAKOBSON, 1995), pois atrai a atenção do público. A matéria atribui ao telespectador a
posição discursiva de quem não conhece a personagem e não é beneficiado por suas
invenções (que pode ser notado na expressão: “Hoje você vai conhecer a história”), mas que
tais informações serão reveladas na e pela matéria.
É em torno da figura e das ações da personagem que se inserem (e se constituem) os discursos
das fontes testemunhais: são pessoas com dificuldades de locomoção, clientes da personagem.
Essas fontes elogiam o trabalho do inventor e ressaltam os benefícios dos veículos para suas
vidas. Uma das fontes diz: “Qualquer porta-mala cabe esse veículo. Você pode ir pra praia,
pra praça, pro metrô. Eu vim pra cá de metrô”. Outra fonte assinala: “A gente chorou aqui no
Seo Sérgio. Meu pai, lembra o tamanho do abraço que meu pai deu? Meu filho conseguiu
pegar metrô sozinho. Foi emocionante”.
É possível observar que a matéria se constitui no meio da história de vida da personagem
principal e também no meio de outras histórias de vida a de seus clientes. Isso pode ser
notado, inclusive, no discurso da personagem, que faz referência às histórias de sua vida e da
de seus clientes. Diz a: “São histórias muito emocionantes. Muito bonitas. Muito
emocionantes. São histórias da minha vida”. Ele deixa claro que sua história de vida é
constituída com as de seus clientes.
A partir dos discursos da e sobre a personagem é que são expostos os resultados de sua
invenção: o gancho da matéria não são os veículos, os inventos em si, mas a ação do inventor
em ajudar, a partir da criação dos veículos, pessoas com dificuldades de locomoção como ele.
Prova disso, é que a matéria oculta, não considera o equipamento em si, a forma como eles
foram desenvolvidos: os produtos finais (os veículos) são mostrados em relação a seu inventor
e aos usos que são feitos deles. Com isso, cria-se o efeito de sentido de utilidade, praticidade e
benefício social da Tecnologia criada, bem como salienta o papel social do inventor. A
personagem tem como profissão inventar tais veículos, que terá uma utilidade prática na vida
dos clientes, mas com conseqüências emocionais para cada pessoa atendida, que, por sua vez,
geram conseqüências para a vida da própria personagem: ele faz as pessoas se sentirem felizes
e se sente emocionado, feliz por poder ajudar as pessoas com dificuldade de locomoção.
O discurso da matéria apresenta a figura do inventor de forma contraditória, mas positiva: ele
é humano (porque tem dificuldade de locomoção, sente as dificuldades dos deficientes físicos,
157
sente empatia por eles e tenta ajudá-los) e também não-humano (porque é comparado a uma
personagem de desenho animado: um pato que usa óculos, trabalha em seu laboratório e cria
equipamentos mirabolantes).
Telejornal: Jornal da Cultura
Matéria: Mapa da violência pesquisa Unesco (CD-Rom 1, página 30)
Formato: Reportagem
Descrição
A nota simples sobre a pesquisa da Unesco sobre mortes por armas de fogo envolvendo
jovens de São Paulo possui abordagem descritiva, pois apenas anuncia os resultados da
pesquisa. Não há fontes ouvidas nesta matéria. A pesquisa foi realizada no âmbito do Estado
de São Paulo, mas realizada por uma instituição internacional (Unesco), ligada à Organização
das Nações Unidas (ONU). Ciência é o assunto principal. A abordagem da Ciência se dá
forma fragmentada. A conclusão da notícia é dada pelo jornalista Renato Lombardi, que faz
um comentário sobre os investimentos do Estado em segurança. A Ciência é apresentada
desarticulada do ambiente de produção e de recepção. A matéria não emprega nenhum
elemento ilustrativo.
Análise
Esta nota simples do Jornal da Cultura tem como foco a pesquisa da Unesco. São destacados
os resultados, a atualidade da divulgação e algumas informações básicas sobre a metodologia
(somente é descrita a metodologia essencial para a compreensão dos dados da pesquisa). Diz
o apresentador: “Nós voltamos aqui com a informação de que as mortes por armas de fogo
envolvendo jovens de idades entre 15 e 24 anos em São Paulo é o destaque da pesquisa
divulgada hoje pela Organização das Nações Unidas. O documento elaborado pela Unesco
traz aí números de crimes praticados entre 1993 e 2003, durante dez anos, na capital e
também na região metropolitana e no interior de São Paulo. Já nos últimos cinco anos, houve
uma queda de 18,5% nos homicídios. Renato, por que então os homicídios caíram nos últimos
cinco anos? Aumentou a segurança?”. O emprego de termos como “nós voltamos aqui” e
“traz aí” reforçam o uso de enunciados dependente do ambiente (MAINGUENEAU, 2001),
mesmo que esses “aqui” e “aí” não sejam definidos: não se sabe onde é esse “aí” a que o
apresentador faz referência. O uso de tais termos tem função fática, de chamar a atenção do
público e de dar atualidade à notícia.
A matéria não contou com fontes especialistas no assunto, oficiais e nem dos pesquisadores
responsáveis pelo estudo. Para tentar preencher essa lacuna, a matéria foi complementada por
um comentário do jornalista Renato Lombardi, com duração de 2 minutos e 26 segundos, que
abordou os investimentos estaduais em segurança pública, que podem ser os responsáveis pela
queda do número de homicídios no Estado de São Paulo. Na análise do jornalista, que não é
alvo de investigação desta pesquisa, os aspectos políticos da questão são abordados.
A ausência de fontes ligadas ao estudo e a inexistência de imagens da pesquisa, dos cientistas
envolvidos, dos criminosos, entre outras, reforçam a irrelevância dada às fontes nesta nota. A
Ciência mostra-se desarticulada dos ambientes de produção e de recepção, pois somente os
números, os resultados interessam. As pessoas (não-pessoas porque não são mostradas)
envolvidas na pesquisa e as instituições relacionadas à questão não tiveram espaço nesta nota.
O assunto é tratado como se não tivesse qualquer relação com a sociedade, o que torna a
158
matéria insuficiente para a compreensão, já que aborda um assunto grave de conseqüências
diretas para a sociedade.
Comparações entre as matérias: a função educativa
A nota coberta do Jornal da Band sobre a descoberta de um novo planeta por uma astrônoma
amadora apresenta características que dificultam a compreensão do assunto. Uma delas
refere-se ao tamanho reduzido da matéria, 30 segundos, insuficiente para oferecer
informações complexas sobre o planeta recém-descoberto. Outra é a inexatidão no uso de
termos, que diminui o caráter informativo da nota coberta (não se sabe se é a primeira vez que
uma mulher ajuda a descobrir um novo planeta, se é a primeira vez que uma astrônoma
amadora faz isso ou se realmente são as duas coisas uma astrônoma amadora descobre um
novo planeta). Além disso, faltam fontes especialistas ou mesmo trabalhos científicos: as
informações são provenientes da jornalista divulgadora científica.
No caso da nota coberta do Jornal Nacional sobre a mesma descoberta, o foco central foi o
planeta e a comparação desse com a Terra. A pesquisa e os pesquisadores envolvidos não
tiveram muito espaço no discurso da apresentadora. Entre os pontos que facilitam a
compreensão da matéria estão: uso de imagens atrativas do planeta e números que
surpreendem. Esta última característica, no entanto, acaba por dificultar a compreensão, por
não ter sido feita nenhuma comparação com dimensões a que o público não-especialista é
familiarizado. Isso causa um distanciamento entre o conhecimento de especialistas e o público
leigo. Entre os pontos negativos da nota coberta destaca-se a confusão com o uso de termos
empregados para identificar/qualificar os pesquisadores responsáveis pela descoberta do
planeta, o que acaba por confundir o público quanto à qualificação dos envolvidos no trabalho
científico.
A ausência de fontes também provoca o sentido de distanciamento do assunto com a realidade
social, pois não são mostradas e não há, na matéria, discurso de pessoas que possam falar
sobre o assunto. Além disso, a nota coberta não deu importância ao processo de pesquisa, de
trabalho metódico que levou à descoberta. Esta matéria produz sentidos de distanciamento do
público, da vida social. Esse distanciamento pode, na nota coberta, ser transferido para a
Ciência e para o trabalho científico que são os assuntos da matéria. Pode-se observar nesta
nota coberta a pouca preocupação com o caráter elucidativo do assunto.
A reportagem do Jornal Nacional sobre uma nova técnica criada pelos norte-americanos para
prevenir infartos, intitulada “Nova técnica para desobstruir artérias”, emprega principalmente
o recurso da humanização (a partir da história de vida de um paciente tratado com a nova
técnica) para facilitar a compreensão do processo científico. Os benefícios e a novidade do
novo procedimento são a tônica da matéria. Outro recurso empregado na matéria são as
comparações (e efeitos) dos tratamentos convencionais com o novo tratamento. Além disso,
há a presença do repórter no local onde a Tecnologia foi desenvolvida, o que dá maior
credibilidade ao assunto. O novo equipamento é simples, mostrado na mão do repórter, o que
salienta o caráter benéfico e eficiente do tratamento. As ilustrações de esquemas também
auxiliam na compreensão do funcionamento da nova técnica. Os resultados também são
comprovados na vida da personagem-paciente, o que atesta o sucesso do tratamento.
A nota simples do Jornal Nacional que trata do “projeto de lei sobre pesquisas com células-
tronco embrionárias”, apresenta elementos negativos que dificultam a compreensão do
assunto:
159
a) ausência de fontes e de imagens, o que diminui a força do discurso do apresentador;
b) não explicou a polêmica em torno do assunto apenas citou que há uma polêmica;
c) uso de linguagem complexa;
d) presume que o telespectador tenha conhecimento sobre a situação das pesquisas sobre
células-tronco embrionárias nos Estados Unidos e no mundo;
e) descontextualização do assunto.
Por outro lado, um aspecto positivo foi o uso de vinheta do corpo humano computadorizado,
que ressalta a relação da Ciência com a Tecnologia (da informática).
No caso do Jornal da Record, o mesmo assunto foi tratado em uma nota coberta. O
diferencial proporcionado pela inserção de imagens torna o assunto mais atrativo para o
público. O foco da nota coberta foi a aprovação, pela Câmara dos Deputados norte-americana,
de pesquisas com células-tronco embrionárias. A nota emprega principalmente o recurso do
impacto das declarações atribuídas ao presidente norte-americano para atrair a atenção do
público. Há também imagens do presidente Bush durante o pronunciamento. Além disso, a
nota coberta inseriu informações sobre o projeto de lei (as circunstâncias em que esse foi
aprovado pela Câmara). Na nota também são informados os benefícios que podem advir com
as pesquisas com células-tronco embrionárias. No entanto, ao não especificar quais são as
doenças sem cura que as pesquisas podem contribuir com novos tratamentos, diminui-se o
impacto da informação, ao apresentá-las de forma genérica.
O discurso do apresentador enfatiza a visão a favor do projeto de lei. Na nota não se rebate as
críticas do presidente norte-americano sobre sua acusação de ocorrência de aborto, por isso, a
carga emocional recai no argumento do presidente e torna-se mais forte.
A reportagem do Jornal da Record sobre a pesquisa da Unesco sobre violência no Estado de
São Paulo tem três eixos principais como foco de desenvolvimento: 1) os resultados da
pesquisa; 2) os fatores que justificam os números da pesquisa e 3) os casos que exemplificam
a violência no Estado. Os números resultantes da pesquisa são comparados (quase que por
equivalência de números) com os mortos da guerra do Iraque. A comparação exige do
telespectador um certo cálculo: a matéria presume que o público saiba o que, em matemática,
significa “média dos últimos dez anos”, caso contrário, a compreensão será prejudicada. A
matéria apresenta maior detalhamento sobre os resultados da pesquisa e mostra casos de
violência a partir da vivência de pessoas, como vítimas ou testemunhas. Uma característica
negativa desta reportagem são os depoimentos, às vezes confuso e contraditório, das fontes.
O Jornal da Cultura tratou da pesquisa da Unesco em uma nota simples, portanto sem o
emprego de imagens e de entrevistas. A nota trata dos resultados da pesquisa e de algumas
informações básicas sobre a metodologia da pesquisa. A nota foi complementada por um
comentário do jornalista Renato Lombardi, com duração de 2 minutos e 26 segundos, que
abordou os investimentos estaduais em Segurança Pública, que podem ser os responsáveis
pela queda do número de homicídios no Estado de São Paulo. O assunto é tratado como se
não tivesse qualquer relação com a sociedade, o que torna a matéria descontextualizada e
insuficiente para abordar de um assunto grave de conseqüências diretas para a sociedade.
A reportagem, intitulada “Veículos especiais para pessoas com dificuldades de locomoção”,
também do Jornal da Cultura, apresenta os seguintes elementos positivos que facilitam a
compreensão:
a) humanização da invenção, a partir de um personagem central (o inventor);
160
b) linguagem simples;
c) emprego da Tecnologia na vida das pessoas;
d) relação de utilidade social da invenção.
Na nota simples sobre a devastação da Amazônia, também do Jornal da Cultura, há ausência
de imagens e de entrevistas, o que dificulta a compreensão. Além disso, aponta números da
devastação, mas sem contextualização. A representação da pesquisa científica na nota é
fatalista. A pesquisa, por si só, condena a Amazônia ao fim. Fontes testemunhais, da
sociedade civil organizada e oficiais não foram ouvidas. Outras pesquisas, que poderiam
complementar tal cenário, não foram incorporadas. A não-especificação dos procedimentos
metodológicos da pesquisa é outra característica desta nota que contribui para a construção de
uma imagem supra-real dos cientistas. A nota não informa quais foram os métodos da
pesquisa, os instrumentos técnicos para que se chegasse à conclusão de que, se nada for feito
para se reverter o grau de desmatamento da Amazônia, ela estará como uma savana daqui a 45
anos.
A Amazônia é representada como um lugar distante, cujos problemas também estão
distanciados, pois essa se localiza longe dos centros urbanos. A savana também é algo
desconhecido, distante da realidade brasileira. Ao comparar a Amazônia, um ecossistema
mostrado pelos meios de comunicação mas pouco vivenciado pelos brasileiros (porque não
faz parte do dia-a-dia), com a savana, que não existe no Brasil e não há referência nenhuma
no País de tal ecossistema, a explicação se torna vazia, inócua, já que se compara algo pouco
conhecido a algo quase (ou totalmente) desconhecido.
Dia 26 de maio de 2005
Principais acontecimentos noticiados pelos telejornais
As editorias que estiveram presentes nesse dia nos telejornais são:
Jornal da Band: Agricultura, Cidades, CT&I, Economia, Esportes, Educação, Internacional,
Polícia/Justiça, Política, Previsão do Tempo, Religião e Trabalho/Emprego. A editoria de
CT&I apresentou, nesta edição, duas reportagens. Uma sobre o tornado de Indaiatuba (SP) e
outra sobre o uso de células-tronco para tratar de pacientes com trombose.
Jornal Nacional: Cidades, CT&I, Internacional, Polícia/Justiça, Política, Previsão do Tempo e
Religião. A editoria de CT&I apresentou uma nota sobre uma pesquisa da FAO sobre a oferta
de alimentos.
Jornal da Record: Cidades, Internacional, Polícia/Justiça, Política, Previsão do Tempo e
Religião. Não houve matérias da editoria de CT&I nesta edição.
Jornal da Cultura: Cidades, CT&I, Cultura, Economia, Internacional, Polícia/Justiça, Política,
Previsão do Tempo e Religião. Foram exibidas duas matérias da editoria de CT&I nesta
edição do telejornal. Uma reportagem sobre uma pesquisa do IBGE de acesso das brasileiras à
mamografia e uma nota simples sobre terapias alternativas contra o câncer.
No dia 26 de maio de 2005, quinta-feira, foi comemorado o dia de Corpus Christi, portanto,
feriado nacional. Nessa data, os telejornais selecionados abordaram as celebrações da data
161
pelas cidades brasileiras. Sobre Cidades, houve ampla repercussão dos estragos causados
pelas chuvas dos últimos dias em diversos Estados brasileiros. Na editoria de Política, os
telejornais trataram da visita do presidente Lula ao Japão. Na editoria de Polícia foi noticiado
o acidente em que homens morreram com a queda de um muro e o assalto a um hotel de luxo
em São Paulo.
Na editoria Internacional houve destaque para o encontro do presidente norte-americano com
o presidente da Autoridade Palestina. Trégua de um dia nas manifestações populares em La
Paz, na Bolívia.
A presença das editorias nos telejornais pode ser observada na seguinte tabela:
Principais editorias
Jornal da Band Jornal Nacional Jornal da
Record
Jornal da Cultura
Agricultura == == ==
Cidades Cidades Cidades Cidades
CT&I CT&I == CT&I
== == == Cultura
Economia == == Economia
Educação == == ==
Internacional Internacional Internacional Internacional
Polícia/Justiça Polícia/Justiça Polícia/Justiça Polícia/Justiça
Política Política Política Política
Previsão do Tempo
Previsão do Tempo
Previsão do
Tempo
Previsão do Tempo
Religião Religião Religião Religião
Trabalho / emprego
== == ==
Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I
O Jornal da Band teve duração de 37 minutos e 45 segundos. Desse total, 4 minutos e 4
segundos foram dedicados a matérias sobre CT&I. O Jornal Nacional durou 31 minutos e 3
segundos, dos quais 31 segundos foram sobre CT&I. O Jornal da Record não apresentou
matérias de CT&I. O Jornal da Cultura, nesse dia, durou 29 minutos e 54 segundos. Deste
tempo, 2 minutos e 20 segundos foram sobre CT&I.
Telejornal
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal
da Cultura
Total
Geral
Tempo
total
37’45”
(6 blocos)
31’03”
(5 blocos)
38’18”
(5 blocos)
29’54”
(5 blocos)
2h 17’
Tempo
CT&I
4’04” 31” *** 2’20” 6’55”
% Tempo
de CT&I
10,78% 1% *** 7,45% 5,45%
162
As matérias de CT&I dos telejornais
O Jornal da Band, o Jornal Nacional e o Jornal da Cultura divulgaram matérias sobre CT&I
nesse dia. O Jornal da Band abordou a ocorrência de tornados no Brasil em uma matéria de 2
minutos e 16 segundos. Além disso, houve outra matéria, de 1 minuto e 48 segundos, sobre o
uso de células-tronco para tratar de trombose. As matérias de CT&I desta edição somam 4
minutos e 4 segundos e foram distribuídas em mais de um bloco do telejornal.
No Jornal Nacional foi divulgada uma nota, de 31 segundos, de um alerta da Organização das
Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação sobre o aquecimento global e a queda na
produção de alimentos em muitos países.
No Jornal da Cultura foram ao ar duas matérias. Uma reportagem, de 1 minuto e 52
segundos, que trata de uma pesquisa do IBGE sobre o acesso à saúde, no caso, o número de
brasileiras que realizam exame de mamografia e uma nota, de 28 segundos, sobre a não
comprovação da validade de terapias alternativas no tratamento do câncer. As duas matérias
desta edição somam 2 minutos e 20 segundos e foram concentradas em um único bloco do
telejornal.
Matérias de CT&I
Jornal da Band Jornal Nacional Jornal da
Record
Jornal da Cultura
Tornado de
Indaiatuba
A FAO e a oferta de
alimentos (nota)
*** A
s brasileiras e a
mamografia - IBGE
Células-tronco para
tratar trombose
*** ***
Terapias alternativas
contra o câncer
(nota)
A edição da Ciência nos telejornais
Telejornal: Jornal da Band
Matéria: Tornado de Indaiatuba (CD-Rom 1, página 31)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem sobre a ocorrência de tornado em Indaiatuba (SP) tem abordagem
interpretativa/analítica, em que se busca a explicação científica para o fenômeno. Há apenas
fonte especialista nesta matéria. A origem da pesquisa é nacional, realizada por um instituto
público de pesquisa da região Sudeste (Estado de São Paulo). O cientista fala do laboratório e
ocupa posição principal na matéria. O discurso do cientista corrobora o discurso da repórter.
A Ciência não é o assunto principal da matéria. A linguagem predominante é clara, mas
complexa, porque alguns termos específicos da linguagem técnico-científica não são
explicados. O ambiente não exerce influência importante sobre a apreensão do conteúdo nesta
reportagem. A Ciência é incorporada ao ambiente natural. Há mapas na matéria como
elementos ilustrativos que auxiliam na compreensão do conteúdo científico.
Análise
A ocorrência de tornados no Brasil é o foco desta reportagem. A atualidade do assunto
justifica-se pela devastação que o fenômeno ocasionou na cidade de Indaiatuba, no interior de
São Paulo. Nota-se, nesta matéria, que os discursos do apresentador e da repórter da Previsão
163
do Tempo, no estúdio, tentam reproduzir um suposto diálogo entre o telespectador
(representado pelo apresentador) e a jornalista com conhecimento no assunto.
O apresentador ocupa a posição discursiva do telespectador leigo no assunto. Ele joga com a
idéia de fazer parte do grupo de telespectadores. Para Zamboni (2001, p. 113) o tom de
deslumbramento, espanto, surpresa” sobre o que se está anunciando, em divulgação
científica, suscita no público o convite para experimentar as mesmas emoções de
deslumbramento vivenciadas pelo enunciador ao tomar conhecimento do tópico científico em
questão.
O apresentador se posiciona como um telespectador, mas com poder de dialogar diretamente
com a jornalista. Isso pode ser comprovado por seu enunciado inicial (“Vamos ver se a gente
entende. Eu vou conversar agora com Mariana Ferrão”). O apresentador admite que tanto ele
quanto os telespectadores não entendem do assunto e é a jornalista especializada no assunto
quem irá esclarecer. Com a expressão “vamos ver se a gente entende”, pressupõe que tanto ele
quanto seus telespectadores não sabem do assunto e que tentarão entender. Ele lança como
que um desafio ao público e a ele mesmo.
Ao tratar do discurso da divulgação científica, Authier-Revuz (1999) avalia que as formas
pelas quais um discurso coloca um exterior a si mesmo e, por conseguinte, delimita um
interior, permite o acesso à imagem que um discurso constrói de si mesmo. “Concretamente, é
especificar do qual (is) outro (s) um discurso escolheu distanciar-se, dando-lhe (s) lugar,
mostrado, em si mesmo; e sobre que modo funciona a relação a este (s) outro (s) mostrado
(s)”. É possível observar que o discurso do apresentador coloca, no discurso da divulgação
científica de que faz parte, a Ciência como algo que não é de conhecimento do público
telespectador, distante, a ser desvendado com a ajuda da repórter: trata-se de um exterior ao
apresentador e ao público (porque não é conhecido por estes), ressaltado pela expressão
“vamos ver se a gente entende”.
Em seguida, o apresentador questiona a repórter. Não é o cientista o entrevistado, mas a
jornalista, que ocupa o papel discursivo de jornalista-especialista. O discurso do apresentador
joga com o casuísmo das datas coincidentes entre um ano e outro de ocorrência do tornado.
(Apresentador: “Mariana, foi o segundo ano consecutivo em que nós tivemos tornados no
interior paulista. Ano passado no dia 24 e neste ano no dia 24 de maio. É um pouco demais
para ser apenas coincidência, não é? Será que o Brasil entrou na rota internacional dos
tornados?”).
A partir dessa observação, a repórter afirma que não há consenso entre os cientistas de que as
explicações científicas para o problema ainda não podem ser dadas. Diz ela: “Isso é
exatamente o que se perguntam neste momento os cientistas de todo Brasil e também dos
Estados Unidos. Eu conversei hoje com o professor Ernani Nascimento, da Universidade
Federal do Paraná. Ele disse que trocou e-mails com pesquisadores do principal centro de
monitoramento de tempestades nos Estados Unidos e eles, mesmo acostumados com a
temporada de tornados, se surpreenderam com as imagens do interior de São Paulo. O que
mais impressionou os cientistas foram os minitornados ao redor do grande funil que devastou
Indaiatuba”.
A repórter-especialista também se insere no grupo dos pesquisadores (do Brasil e do exterior)
que estão surpresos com o fato. Ela participa do jogo dialógico com um cientista, que, por sua
vez, dialoga com outros cientistas. A repórter-especialista faz parte da comunidade científica
164
a partir de seu discurso, é a porta-voz dos cientistas nesta matéria. Ela dialoga com cientistas e
informa, para o apresentador e para o telespectador, a posição da comunidade científica, com
a qual ela se identifica (a partir da linguagem que usa e do papel discursivo que ocupa na
matéria).
Depois disso, a jornalista-especialista transmite algumas informações técnicas, mas claras,
que ela obteve do cientista brasileiro que, por sua vez, obteve dos cientistas, de forma
genérica, dos Estados Unidos, em discurso indireto. Diz ela: “Segundo eles, os chamados
vórtices múltiplos indicam que as rajadas de vento ultrapassaram 140 quilômetros por hora
inicialmente calculados e podem ter chegado a 250, o que torna este o tornado mais intenso
que até hoje atingiu o hemisfério sul”.
Em seguida, há a inserção do discurso de uma outra fonte especialista, dessa vez Osmar Pinto
Jr., professor do Inpe, que também reflete o consenso de que ainda não há explicação para a
ocorrência de tornados no Brasil. Diz ele: “Tivemos vinte mil raios no Estado de São Paulo
num dia de maio. Uma situação recorde. Nunca foi observado. A grande questão é saber se
essa situação extrema possa ser um indicativo de que essas condições possam se repetir nos
próximos anos ou se essa tenha sido apenas uma situação marginal e que não venha se
repetir”.
A jornalista-especialista faz, então, um balanço histórico dos tornados no país e suas
conseqüências. Fica evidente a interdiscursividade no Jornalismo: uma matéria faz referência,
insere, no seu discurso, parte do discurso de outra matéria (de outro discurso) já veiculada, a
partir da contextualização histórica. Para isso, ela compara as características propícias do
Brasil com os Estados Unidos (“A temporada de tornados no Brasil já tem mais de uma
década. Nos anos 90, pelo menos seis atingiram o sul e o Sudeste do país. Em janeiro deste
ano [2005], dois tornados destelharam casas em Criciúma, em Santa Catarina. Nenhum lugar
do mundo está a salvo de tornados. Mas os moinhos de vento são mais freqüentes na região
central dos Estados Unidos. E as condições atmosféricas no Brasil são semelhantes às do
chamado vale dos tornados americano”).
Com a ajuda de mapas, em chroma key, a jornalista-especialista compara as condições
atmosféricas dos Estados Unidos e do Brasil, com discurso didático. Ela se posiciona, na
matéria, como conhecedora do assunto, já que seu discurso não é atribuído a nenhuma fonte
especializada. Diz ela: “Lá, o ar quente e úmido do Golfo do México encontra-se com o ar
seco e muito frio que vem do Canadá. E sob o Sul e o Sudeste brasileiros, massas de ar frio e
seco, vindos da Argentina, encontram umidade e calor trazidos por ventos que sopram da
Amazônia”.
Ainda no papel discursivo de apresentador-telespectador, Nascimento joga com a intimidade
com o público, ao empregar no discurso com a jornalista-especialista o termo “nossos
telespectadores”. Diz ele: “Bom, tudo o que eu posso desejar é que nenhum dos nossos
telespectadores more bem ali naquele ponto que você mostrou Mariana. Ventos de 250
quilômetros por hora. Isso é uma barbaridade”. De acordo com Azevedo (2003, p. 84-85), o
apresentador “estabelece um clima de conversação com o público usando um tom informal.
Recursos técnicos como o ‘teleprompter’ permitem que o apresentador leia o texto na lente da
câmera, dando a impressão de que está olhando para o telespectador”. Para Rezende (2000, p.
88), o apresentador pode falar diretamente para a pessoa que acompanha o telejornal, em casa,
como se falasse de improviso, tal qual ocorre em uma relação interpessoal. Dessa maneira,
segundo ele, fortalece-se a função fática da linguagem e o telejornalismo quebra a sensação de
165
unidirecionalidade na comunicação. Segundo o autor, o telespectador reage a esse tratamento
pretensamente personalizado, agindo como um interlocutor de um diálogo.
Esse caráter intimista, protetor (porque preocupado com o bem-estar e a segurança do “seu
público”), informal e de compartilhar com o público suas emoções, fica patente nas
expressões faciais e no tom de voz, assim como no uso de expressões “tudo o que eu posso
desejar” e “isso é uma barbaridade”. Esse discurso do apresentador atribui ao enunciado uma
determinada força para manter a proximidade com o público. Nesse trecho do discurso do
apresentador, nota-se a ênfase ao seu desejo de que os seus telespectadores estejam seguros.
A resposta concordante da jornalista-especialista ainda joga com a posição discursiva do
cientista. A jornalista-especialista confirma com o apresentador, inserindo uma nova
informação técnica, sem contextualizá-la, o que a torna vazia, com pouca carga informativa.
Diz ela: “É um tornado de categoria F2, Nascimento, uma tempestade muita intensa de fato”.
Nesta matéria fica evidente a função fática da linguagem, apontada por Jakobson (1995). O
apresentador procura manter a atenção do público e atraí-lo a partir do uso de expressões que
fazem com que esse público se sinta acolhido, pertencente ao grupo (do qual o apresentador
também faz parte) dos que não são especialistas no assunto e dos que se preocupam com o
bem-estar uns dos outros (o discurso do apresentador cria o sentido de que se preocupa com o
bem-estar de seu público).
De acordo com Temer (2003, p. 41) ao cumprir a função fática, “o discurso da TV se
estabelece como um contato permanente entre o emissor e o receptor/telespectador. Soma-se a
isso a recepção quase sempre doméstica dessa mensagem”. No caso desta matéria, a forma
com que o público recebe a matéria também colabora para a sensação de pertencimento a
determinado grupo e de familiaridade com o apresentador.
Telejornal: Jornal da Band
Matéria: Células-tronco para tratar trombose (CD-Rom 1, página 32)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem apresenta uma pesquisa sobre o uso de células-tronco para tratar a trombose. A
abordagem é interpretativa/analítica, pois mostra as repercussões sociais da pesquisa. Há
fontes especialista e testemunhal. A origem da pesquisa é nacional, da Região Sudeste (Estado
de São Paulo), mas o nome da instituição (um hospital) não é divulgado. O cientista fala do
local de trabalho e ocupa posição principal na matéria. O discurso do cientista corrobora os
discursos do jornalista e da outra fonte. Nessa reportagem, Ciência é o assunto principal. A
abordagem da Ciência ocorre de forma contextualizada. A linguagem empregada é clara e
complexa, já que emprega termos científicos sem explicá-los. A Ciência é apresentada de
forma elogiativa. O ambiente colabora para a apreensão do conteúdo. A Ciência é incorporada
ao ambiente social e de recepção, mas é desarticulada do ambiente de produção desta. Não há
demonstração do processo científico envolvido no assunto da reportagem. A matéria conta
com desenhos e vinheta como elementos ilustrativos. Estes auxiliam na compreensão do
conteúdo científico.
166
Análise
A experiência de uso de células-tronco para tratar da trombose é o foco desta matéria. Diz o
apresentador, com a ajuda de vinheta de uma espinha dorsal com as palavras “células-tronco”.
“Pela primeira vez, uma equipe médica combate a trombose com células-tronco. A
experiência de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, vai além. A meta é usar a terapia
celular para tratar também doenças cardíacas”. O apresentador anuncia a nova técnica como
se ela já tivesse obtido sucesso, como se o uso de células-tronco já fosse, comprovadamente,
eficaz no tratamento da trombose. No entanto, no decorrer da matéria, nos discursos do
repórter e das fontes especialista e testemunhal, observa-se que se trata de uma pesquisa, de
um tratamento experimental e que os resultados ainda não foram concluídos.
Essa expectativa em torno dos resultados do tratamento da trombose com células-tronco é
criada pelo apresentador e reforçada pelo repórter. Nota-se, nesse trecho do discurso, a
preponderância da função fática da linguagem (JAKOBSON, 1995), que transfere para a
Ciência a esperança para melhorar o tratamento contra a trombose. O discurso do repórter tem
início com a descrição do procedimento realizado em um paciente, a fonte testemunhal (“Três
bilhões e milhões de células-tronco foram implantadas na perna de Ramão. Elas foram
retiradas da própria medula do paciente e colocadas nestes pontinhos que ainda estão
marcados na perna dele”).
Somente no final da descrição do caso da fonte-paciente o repórter esclarece que ainda não há
resultados finais do tratamento. Ele informa que a intenção é que o tratamento tenha êxito (“A
idéia é que células-tronco se transformem em artérias, ajudem Ramão a combater a trombose
e a evitar a amputação”).
A confirmação de que se trata de uma pesquisa ainda em andamento é inserida no discurso da
fonte testemunhal (“É realmente revolucionário. Dando certo pra mim, portas vão se abrir”).
O paciente é um dos beneficiários da pesquisa e seu discurso também dá credibilidade à
experiência. Como afirma Bueno (2004, p. 55-56) “no jornalismo científico, as fontes, para
repercutir descobertas, inovações ou as novas Tecnologias (pautas recorrentes na mídia), não
devem se limitar aos especialistas porque a Ciência e a Tecnologia não podem ser pensadas
como campos de interesse apenas de cientistas, pesquisadores ou técnicos”.
Em seguida, o repórter contextualiza a produção da pesquisa, que se mostra ainda em
andamento. (“Os médicos pioneiros são de uma equipe deste hospital de São José do Rio
Preto, interior de São Paulo. Com a inauguração do novo ambulatório, Rio Preto também
passa a integrar uma rede de pesquisadores que estudam a utilização de células-tronco no
combate de doenças cardíacas”).
Uma fonte oficial, de forma genérica e não identificada, atribuída ao Ministério da Saúde,
avalia, no discurso do repórter, a importância da pesquisa (Repórter: “Segundo o Ministério
da Saúde, o projeto que está sendo desenvolvido aqui no Brasil é único no mundo pela
quantidade de pacientes e pelo número de centros médicos envolvidos. Este de São José do
Rio Preto é um dos trinta e três espalhados por todo o Brasil”).
Nesse trecho também é explicitada, de forma resumida, a metodologia da pesquisa. Diz o
repórter: “Os 1200 pacientes serão divididos em dois grupos. Uma parte desses pacientes será
submetida à terapia celular e a outra parte ao tratamento tradicional. Ao final do estudo, os
médicos esperam responder se as células-tronco são eficientes no tratamento das doenças
cardiovasculares”.
167
A fonte especializada conclui a matéria com um discurso técnico-científico, que descreve um
processo da pesquisa que, pelo uso de termos técnicos e pela ausência de elementos
ilustrativos, torna-se pouco informativo. Portanto, a conclusão da matéria é vaga, porque de
difícil compreensão pelo público leigo. (“No músculo debilitado, ela vai fazer músculo, certo?
Se você tem um coração debilitado que precisa de artéria, ela faz artéria. Então ela faz
músculo e artéria. Isso faz uma restauração no miocárdio, na área lesada”).
Ao concluir a matéria com o discurso técnico-científico, pressupõe-se, na matéria, que o
telespectador entende do assunto, de que compreenda os termos da linguagem especializada, o
que nem sempre acontece, o que pode comprometer a compreensão da matéria pelo público
em geral. Mas é preciso ressaltar que, ao finalizar a matéria com o discurso do cientista, cria-
se o consenso para Ciência a partir da exposição do assunto na mídia (WEINGART, 1998), já
que é o cientista quem dá a última palavra, quem finaliza, de forma positiva, e cria o sentido
de esperança de melhorias no tratamento da trombose no futuro, com o desenvolvimento das
pesquisas.
Pode-se observar o padrão de manipulação de inversão por relevância de aspecto, destacado
por Abramo (2003), já que a matéria anuncia que uma equipe, pela primeira vez, combate a
trombose com células-tronco. Ao longo da matéria, nota-se que se trata de uma experiência e
que os resultados não são conclusivos. Com isso, dá-se maior relevância a um possível e
esperado resultado do que ao procedimento de pesquisa este sim já concretizado. Com isso,
a matéria também se torna sensacionalista (porque anuncia algo que ainda não existe).
Telejornal: Jornal Nacional
Matéria: A FAO e a oferta de alimentos (CD-Rom 1, página 33)
Formato: Nota simples
Descrição
A nota simples sobre uma pesquisa da FAO (Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e Alimentação) possui abordagem descritiva, pois apenas apresenta o resultado
obtido pela pesquisa. Não há fontes ouvidas nesta matéria. A origem da pesquisa é
internacional. Ciência é o assunto principal e a abordagem desta se dá forma fragmentada. Na
matéria, é usada a definição para explicar conceitos científicos. A linguagem predominante é
clara, mas complexa, já que alguns termos científicos não são explicados. A Ciência é
apresentada de forma equilibrada (nem elogiada e nem depreciada) e desarticulada do
ambiente de produção e de recepção. A matéria não emprega nenhum elemento ilustrativo.
Análise
O foco desta nota simples do Jornal Nacional é o resultado da pesquisa da FAO. Essa
informação central constitui o primeiro enunciado do apresentador. Diz ele: “A FAO
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação alertou hoje que o
aquecimento global deve diminuir a oferta de alimentos em muitos países e aumentar o
número de famintos no mundo, especialmente na África”.
A matéria não conta com o auxílio de vinheta ou outro elemento ilustrativo. A ausência de
imagens pode dificultar a compreensão do assunto, principalmente ao se considerar a
importância da imagem para a televisão e para o telejornalismo. A ausência (a ocultação) de
imagens sobre o assunto revela escolhas e critérios de seleção do telejornal que fazem parte
do processo de constituição da matéria jornalística de divulgação científica. De acordo com
168
Temer (2003, p. 47), “o processo de elaboração do material jornalístico envolve muitas
variáveis, que começam pela própria maneira de perceber a realidade ao redor, passam pelos
critérios de seleção dos fatos que devem ser veiculados, até à escolha dos recursos ‘de
ilustração’ que podem ser utilizados na divulgação da informação”. Trata-se de forma uma
específica de tratar o assunto, de dar relevância maior ou menor dentro do telejornal à Ciência
e também é uma forma específica de posicionar o telespectador, ao optar por não
disponibilizar determinadas informações a respeito do assunto.
Soma-se a isso a ausência de fontes, que caracteriza o resultado da pesquisa divulgada como o
único discurso autorizado da matéria. Não há outros posicionamentos, outros pontos de vista.
A pesquisa, considerada aqui como a instituição FAO e seus representantes, no discurso do
apresentador, faz um alerta, dá um aviso, antecipa um problema, cuja solução não é
apresentada. A representação da Ciência e da instituição científica na nota é a de conhecedora
de uma situação que a faz prever um futuro de seca e fome. É a Ciência detentora do poder de
conhecer um futuro e de “pregar”, divulgar, disseminar, alertar e avisar as pessoas sobre o que
está por vir. A posição discursiva atribuída à Ciência é a de detentora de um conhecimento, de
uma informação sobre o futuro.
Outro fator que colabora para a imagem construída da Ciência é a ausência, na nota, dos
procedimentos metodológicos da pesquisa. Cria-se, com isso, o sentido de previsão, pois não
está explícito o caminho percorrido pelos pesquisadores (também ocultos na matéria) para se
chegar a tais resultados.
A expressão facial, o tom de voz e a escolha de palavras como “alerta” e “deve” criam, em
relação à pesquisa (aos resultados e à instituição responsável), o sentido de seriedade,
urgência e de previsibilidade de uma situação negativa. Trata-se da função expressiva da
linguagem a que Jakobson (1995) faz referência.
Depois do alerta, entra em cena a explicação. Diz o apresentador: “A poluição do ar cria o
chamado efeito estufa, que aumenta as temperaturas médias do planeta. Segundo estudo da
FAO, o calor poderá reduzir em 11% as terras irrigadas por chuvas nos países mais pobres e
isso afetaria a produção de cereais”. Chama a atenção a relação direta de causa-e-efeito criado
entre os enunciados: a poluição do ar causa o efeito estufa, que aumenta as temperaturas do
planeta, o que aumenta o calor, diminui as chuvas e compromete a produção de alimentos,
causando fome nas populações mais pobres. Tais relações, complexas, têm a compreensão
dificultada pela ausência de imagens e de fontes especialistas e testemunhais, para analisar a
situação e possibilitar analogias com o cotidiano das pessoas.
Além disso, o termo técnico “efeito-estufa” não é definido e sua causa permanece anônima na
nota. Não basta dizer que a poluição do ar ocasiona o efeito estufa, é preciso explicar como
esse fenômeno acontece e qual a relação disso com os hábitos das populações.
Mesmo com o “alerta” da FAO, a matéria não oferece subsídios para que as pessoas possam
reavaliar suas ações, mudar seus comportamentos, porque a nota é insuficiente para
proporcionar uma compreensão de como as ações humanas/sociais influenciam no meio
ambiente que, por sua vez, acabam refletindo na sociedade, com conseqüências mais graves,
como a nota ressaltou, para os países mais pobres. Sem a compreensão, o conhecimento dos
processos, a reflexão e a mudança de atitudes ficam comprometidos.
169
Telejornal: Jornal da Cultura
Matéria: As brasileiras e a mamografia IBGE (CD-Rom 1, página 34)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem sobre o acesso das brasileiras ao exame de mamografia tem abordagem
interpretativa/analítica, pois exemplos de pessoas que ilustram os números apontados pela
pesquisa.Há fontes oficial e testemunhal, mas não há fonte especialista. A origem da pesquisa
é nacional, realizada em todas as regiões do país, por um instituto público de pesquisa. Na
reportagem, a Ciência é o assunto principal apresentada de maneira contextualizada. São
usados os recursos de analogia e exemplificação. A linguagem predominante é clara e
simplificada. O ambiente colabora para a apreensão do conteúdo. A Ciência é incorporada aos
ambientes social e de recepção, mas é desarticulada do ambiente de produção. As imagens
auxiliam na compreensão do conteúdo científico da matéria, entretanto, não há demonstração
do processo científico envolvido. A matéria não apresenta elementos ilustrativos.
Análise
Os dados do IBGE sobre o acesso das brasileiras ao exame de mamografia foram o gancho
para a matéria que teve como foco principal o caso do Estado em que o maior número de
mulheres nunca fez o exame. Portanto, os dados quantitativos da pesquisa embasaram uma
realidade específica de saúde pública (a pesquisa é nacional, mas o foco da matéria é o Estado
do Tocantins). O apresentador lança os resultados mais gerais obtidos pelo IBGE, mas já
especifica que a matéria aborda o caso de um Estado (“Quase metade das brasileiras com 50
anos ou mais nunca fez mamografia, o exame que serve para prevenir o câncer de mama. A
pesquisa do IBGE sobre o acesso à saúde, divulgada ontem, acrescenta que o Tocantins é o
Estado brasileiro que tem o menor índice de mulheres que fizeram o exame”).
O repórter compara os números médios de acesso ao exame no Brasil e no Estado do
Tocantins (“O levantamento revelou que no Tocantins 78% das mulheres entrevistadas nunca
fizeram o exame, índice bem mais alto que a média nacional. No Brasil, metade das
entrevistadas disse já ter feito a mamografia”). A matéria não informa qual foi a metodologia
do IBGE para obter tais resultados, mas, a partir do discurso do repórter, pode-se aferir que a
pesquisa contemplou entrevistas com mulheres.
Em seguida, o repórter aborda a importância de se realizar o exame de mamografia. Para isso,
relata um caso específico de uma mulher que desenvolveu câncer de mama, descoberto em
estágio avançado. A mulher, fonte testemunhal, nunca havia feito a mamografia (Repórter:
“Dona Camila Siqueira, de 72 anos, luta contra o câncer de mama. Descobriu a doença em
estágio avançado e há meses faz quimioterapia. Ela jamais havia ido ao médico em busca de
prevenção”). O discurso do repórter sobre a mulher, fonte testemunhal, joga com o sentido de
alertar sobre as conseqüências de não se realizar o exame. A humanização, nesta matéria, é
empregada como um contra-exemplo, ou seja, um exemplo que não deve ser seguido,
segundo o próprio discurso do repórter.
A pergunta que ele faz à mulher ressalta o caráter de aviso (“Se tivesse ido no médico antes
não tinha dado esse problema?”). Em seguida, ela concorda com ele (“Pois é, não tinha
acontecido”). Nota-se o caráter de advertência no discurso do repórter: ela está sofrendo as
conseqüências por não ter feito o exame. No discurso, realçado pela expressão facial da
170
mulher, que olha para baixo e não encara nem a câmera nem o repórter, há o reconhecimento
da culpa.
O repórter afirmar que há, no Estado, equipamentos, para a realização de exames gratuitos,
mas as mulheres não procuram pelo serviço de saúde (“Neste hospital público de Palmas, por
mês, são disponibilizados 150 exames, de graça, e dificilmente todos são realizados, por falta
de pacientes”). Não há fonte oficial que confirme tal afirmação: as mulheres não querem fazer
o exame.
Por outro lado, o repórter admite, na matéria, que há falta de equipamentos. “Mas, no
Tocantins, a mamografia é feita em apenas três cidades”. Esse enunciado contrapõe-se ao que
foi dito antes, já que o repórter havia informado que o problema é que as mulheres não
procuravam atendimento médico. Em seguida, ele fornece um número baixíssimo de
equipamentos (são apenas três mamógrafos para atender a todas as mulheres do Estado) que
fica pouco aparente por causa da informação anterior.
A explicação da fonte oficial vem corroborar essa visão. Na matéria, enfatiza-se a causa do
baixo numere de exames identificado na pesquisa é a “cultura das mulheres” e não um
problema político, de saúde pública. Não há pesquisas que remetam a tal observação. Não há
análise de nenhuma fonte especializada que avalie que se trata de um problema cultural e não
político e de saúde pública, de acesso aos serviços.
A fonte oficial ocupa a posição discursiva da fonte especialista e fornece explicações para o
problema (sem se basear em conhecimento científico). Diz o repórter: “Para a coordenadora
de Ações da Secretaria Estadual da Saúde, o problema no Estado seria cultural, porque ainda
existe muita resistência em freqüentar um médico”.
O problema da falta de equipamentos mais uma vez é tratado apenas como um detalhe, um
acréscimo que beneficiaria as mulheres (Repórter: “A coordenadora reconhece que se
existissem mais aparelhos em outros municípios, um maior número de pessoas poderiam ser
atendidas). A matéria subverte a ordem de importância dos fatos e se posiciona a favor de
uma opinião oficial, com conteúdo pretensa e falsamente científico, porque não se baseia em
pesquisas, para explicar e justificar o baixo número de mulheres que realiza exame de
mamografia no Estado do Tocantins.
O discurso final da fonte oficial reconhece que a falta de equipamentos existe (“Nós temos,
inclusive, projetos de trazer mais mamógrafos para que a gente possa estar disseminando a
oferta do exame para a população do Tocantins”). Seu discurso joga com o sentido de
resolução do problema pelo Estado: o “projeto de trazer mais mamógrafos para o Estado”
resolveria o problema. No entanto, como há uma oposição entre a causa do problema
mostrado pela matéria e a resolução proposta pela fonte oficial, a matéria mostra-se
contraditória (é oferecida uma solução de acesso a equipamentos para um problema,
supostamente cultural).
Na nota pé, o discurso da apresentadora transfere para a esfera mais geral, tentando corroborar
a informação do repórter sobre a importância do exame de mamografia e o auto-exame (“Os
especialistas recomendam que mulheres entre 40 e 70 anos de idade façam mamografia de
ano em ano para detectar o mais cedo possível o câncer de mama. Além da mamografia, os
médicos também recomendam o auto-exame dos seios”). Novamente, é reforçado o sentido de
que a decisão de realizar ou não o exame é das mulheres. Não importa em quais condições de
171
acesso ao exame, os “especialistas”, os “médicos”, de forma genérica e não especificada,
portanto não-pessoas (MAINGUENEAU, 2001), recomendam o exame. Cria-se o sentido de
apagamento do sujeito especialista, pois a matéria remete o discurso a pessoas não
identificadas.
O final da matéria não complementa nenhuma informação sobre o “gancho”, o foco central,
no caso, a questão políticas públicas, de saúde pública do Estado do Tocantins, caracterizando
a política do silêncio de que fala Orlandi (2001), em que um assunto não é abordado porque
faz parte da própria constituição da matéria ocultar tal enfoque.
Telejornal: Jornal da Cultura
Matéria: Terapias alternativas contra o câncer (CD-Rom 1, página 35)
Formato: Nota simples
Descrição
A nota simples sobre o uso de terapias alternativas contra o câncer possui abordagem
descritiva, pois apenas é porta-voz do discurso de um cientista. Não há fontes ouvidas nesta
matéria, no entanto, a matéria trata da visão do oncologista Girard Nunes, do Hospital do
Câncer de São Paulo, contra o uso de terapias alternativas no tratamento da doença. A
pesquisa é nacional, feita por um instituto público de pesquisa do Estado de São Paulo. A
matéria não trata da pesquisa, mas cita um periódico científico internacional em que o artigo
sobre o assunto foi publicado. Ciência é o assunto principal. A abordagem da Ciência se dá
forma fragmentada. A linguagem predominante é clara e simplificada. Em relação ao
ambiente da matéria, esse não contribui para a apreensão do conteúdo. A Ciência é
apresentada desarticulada do ambiente de produção e de recepção. A matéria não emprega
nenhum elemento ilustrativo.
Análise
Esta nota simples tem como foco central a visão de uma fonte especialista sobre terapias
alternativas. A autoridade do pesquisador é a referência do discurso do apresentador. Diz o
apresentador, no início: “Ainda sobre saúde, o oncologista dr. Girard Nunes, do Hospital do
Câncer de São Paulo, disse há pouco que não há comprovação de que as chamadas terapias
alternativas sejam eficazes contra o câncer”. Com a expressão “disse há pouco” a matéria cria
a relação espaço-temporal de atualidade. A oportunidade para a divulgação da nota (critério
de noticiabilidade) surge com a matéria anterior, também sobre a área de saúde, mais
especificamente, sobre a realização de exame de mamografia (para detecção de câncer) pelas
brasileiras (objeto de análise anterior).
Na nota ressalta-se a visão de um cientista (fonte) sobre o uso de terapias alternativas para
combater o câncer. Sobre isso, Durant (2005) salienta que, ao tratar da Ciência a partir da
representação de uma personagem corre-se o risco de distorcer o entendimento do processo de
desenvolvimento do processo de produção da Ciência, visto que pode criar a impressão para o
público de que o segredo do sucesso na Ciência reside nas qualidades extraordinárias dos
cientistas individualmente e, segundo o autor, esse público pode estar especialmente mal
equipado para corrigir esses vieses de produção.
Mesmo chamando a atenção para o fato de que o assunto surgiu a partir da abordagem da
matéria anterior, a nota é um outro discurso, sobre um outro assunto. Esse novo assunto não
apresenta qualquer contextualização. Nada foi dito sobre a adoção, pela população, no Brasil
ou em qualquer outro lugar, de medicamentos “alternativos” no combate ao câncer. Nota-se,
172
portanto, uma falta de contextualização do assunto, reforçada pela ausência de fontes, de
pesquisas sobre o uso de tais terapias e de imagens.
Há, em seguida, a citação, descontextualizada, de um artigo publicado no periódico Cancer
em que cientistas rebatem as conclusões de um outro estudo, de cientistas cubanos. Diz o
apresentador: “Num artigo publicado na revista Cancer, os cientistas concluíram que
cartilagem de tubarão não cura doença como disseram há pouco tempo os cientistas de Cuba”.
Nada foi explicado sobre como foi realizada e quais os resultados da pesquisa divulgada pelo
periódico. Além disso, nada foi informado sobre os métodos e os resultados da pesquisa de
Cuba. Pode-se observar uma parcialidade a favor da pesquisa divulgada no periódico
científico e contra os pesquisadores cubanos, sem ouvi-los, nem explicar o conteúdo da
pesquisa.
A chancela é dada pelo crivo da credibilidade do periódico científico (os cientistas
publicaram, enquanto que os cubanos só divulgaram, não foi informado como). Além disso,
os cientistas que publicaram no periódico são anônimos na nota, são não-pessoas conforme
designação de Maingueneau (2001). Já os outros não. Mesmo sem terem os nomes e a
instituição de pesquisa informados, a nota os caracteriza como “cientistas cubanos”. A nota
faz uma diferenciação parcial dos cientistas cubanos e de suas pesquisas, sem contextualizar
esta última.
Em seguida, como não foram ouvidos os pesquisadores (tanto os que publicaram quanto os
cubanos), é inserido o discurso do especialista brasileiro, no discurso indireto do apresentador.
É esta fonte a responsável por frisar, corroborar o ponto de vista dos cientistas que
publicaram, contra os cubanos, mesmo sem apresentar nenhuma pesquisa. O discurso do
apresentador põe em cena os pesquisadores que publicaram e o cientista brasileiro de um lado,
amparados em uma pesquisa não mencionada na opinião do brasileiro, contra uma pesquisa
cubana. A matéria é condenatória e, por isso, parcial. Diz o apresentador: “O médico Girard
Nunes disse que nem babosa, nem própolis, nem florais de Bach curam câncer. E mais. Disse
que cartilagem pode inclusive agravar o estado do paciente”. Nesta parte final, a matéria,
empregando o discurso indireto, faz inferência (DUCROT, 1981) de que as terapias
alternativas fazem mal ao paciente.
Comparações entre as matérias: a função educativa
A reportagem do Jornal da Band intitulada “Tornado de Indaiatuba” utiliza os seguintes
elementos positivos para torná-la interessante e atrair o público:
a) o apresentador estabelece um diálogo com a repórter no estúdio, o que torna a apresentação
da matéria mais informal, se comparada com a forma tradicional de apresentação;
b) o apresentador posiciona-se discursivamente como um de seus telespectadores, como parte
do grupo de pessoas que não sabe do assunto e que está interessado;
c) o apresentador cria intimidade com o público ao mostrar-se preocupado com o bem-estar e
a segurança dos telespectadores;
d) a repórter é responsável por colher as informações junto aos cientistas e reelaborá-las para
o público em geral, empregando poucos termos técnicos;
e) uso de mapas para ilustrar a ocorrência do fenômeno;
f) comparação entre a realidade brasileira e norte-americana quanto aos tornados.
173
Com isso, pôde ser comprovado que a matéria pode contribuir para um melhor esclarecimento
do assunto junto ao público em geral.
A reportagem sobre “Células-tronco para tratar trombose”, também do Jornal da Band, atrai a
atenção do público ao tratar de um assunto de saúde e inserir fonte testemunhal que passa por
um novo tratamento. Por outro lado, a explicação científica sobre a pesquisa com células-
tronco foi dificultada pelo uso de termos técnicos (tanto pelo repórter quanto pela fonte
especialista). Além disso, logo na abertura, é anunciado o combate à trombose, mas, ao longo
da matéria, descobre-se que se trata de uma pesquisa ainda em andamento. Para atrair a
atenção do público, a matéria antecipa um resultado que não é confirmado pelas fontes na
própria reportagem, o que a torna sensacionalista, uma vez que anuncia resultados que ainda
não foi confirmado pela pesquisa e, por isso, apresenta pouca contribuição à compreensão do
público.
A nota simples do Jornal Nacional sobre “A FAO e a oferta de alimentos” foi insuficiente
para esclarecer o público sobre as formas como as ações humanas interferem nos fenômenos
naturais e acabam por influenciar as populações, ou seja, a nota não contextualizou o assunto,
apenas informou o resultado da pesquisa. Além disso, não conta com elementos ilustrativos e
imagens que poderiam facilitar a compreensão do assunto. O uso de termos técnicos sem
explicação, como “efeito-estufa” também dificulta o entendimento.
A reportagem do Jornal da Cultura sobre “As brasileiras e a mamografia IBGE” apresentou
recursos que contribuem positivamente para a Compreensão Pública da Ciência. São eles:
a) humanização do assunto, a partir da relação das mulheres com o exame de mamografia;
b) os dados da pesquisa são empregados como subsídio dos exemplos;
c) tom educativo da apresentadora, que busca adesão das mulheres para a realização do
exame;
d) mostra os benefícios do exame para a saúde das mulheres.
Um aspecto negativo da matéria, no entanto, foram as explicações das fontes oficiais para o
baixo número de realização de exames no Estado do Tocantins. A fonte oficial, corroborada
pelo discurso do repórter, atribui a baixa adesão das mulheres ao exame como um problema
“cultural” das mulheres (sem qualquer pesquisa). No entanto, a mesma fonte admite a
necessidade de compra de novos equipamentos para o Estado, o que denota uma contradição.
A nota simples do Jornal da Cultura sobre “Terapias alternativas contra o câncer” não foi
contextualizada. Além disso, a ausência de fontes e a pouca explicação sobre as pesquisas em
relação ao uso de tais terapias, além da ausência de imagens sobre o assunto, contribuem para
o pouco potencial elucidativo do assunto na matéria. A nota faz um alerta, mas não
proporciona a explicação, por exemplo, do porquê a cartilagem de tubarão pode agravar o
estado do paciente.
174
Dia 28 de maio de 2005
Principais acontecimentos noticiados pelos telejornais
Neste dia apareceram as seguintes editorias nos respectivos telejornais:
Jornal da Band: Cidades, Economia, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça, Política,
Previsão do Tempo e Trabalho/Emprego. A editoria de CT&I, nesta edição, não esteve
presente.
Jornal Nacional: Agricultura, Cultura, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça, Política e
Previsão do Tempo. Não houve matérias da editoria de CT&I nesta edição do telejornal.
Jornal da Record: Cidades, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça, Política e Previsão do
Tempo. A editoria de CT&I não esteve presente nesta edição do telejornal.
Jornal da Cultura: Cidades, CT&I, Cultura, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça, Política e
Previsão do Tempo. Foi exibida uma reportagem da editoria de CT&I: uma pesquisa do IBGE
do acesso das brasileiras ao exame Papanicolau.
No dia 28 de maio de 2005, sábado, os telejornais noticiaram a volta do presidente Lula do
Japão. Além disso, na editoria de Política, a abertura da CPI dos Correios foi destaque. Na
editoria de Cidades, houve a cobertura da Parada Gay em São Paulo, além das chuvas na
cidade.
No cenário internacional foram divulgados os seguintes assuntos: assassinato de um refém
japonês no Iraque, a caricatura que Fidel fez de Bush, a pane no relógio mais famoso do
mundo, o “Big Ben, a manifestação dos camponeses da Bolívia, a votação da Constituição
Européia nos territórios ultramarinos da França, os preparativos para as eleições do Líbano,
além da notícia de que o cineasta Oliver Stone foi preso por dirigir bêbado e por porte de
drogas nos Estados Unidos.
Já na editoria de Polícia/Justiça os destaque foram para o fim do seqüestro da mãe do jogador
Marinho, a notícia de que uma policial assassinada no Rio de Janeiro, em frente ao filho, a
condenação do traficante Elias Maluco, a prisão de oitenta pessoas acusadas de fraudar
concursos públicos e a acusação de que policiais militares lideram grupo de extermínio em
Fortaleza.
A visualização das editorias nos telejornais investigados pode ser feita a partir da tabela da
página seguinte:
175
Principais editorias
Jornal da Band Jornal Nacional Jornal da
Record
Jornal da Cultura
== Agricultura == ==
Cidades == Cidades Cidades
== == == CT&I
== Cultura == Cultura
Economia == == ==
Esportes Esportes Esportes Esportes
Internacional Internacional Internacional Internacional
Polícia/Justiça Polícia/Justiça Polícia/Justiça Polícia/Justiça
Política Política Política Política
Previsão do Tempo
Previsão do Tempo Previsão do
Tempo
Previsão do Tempo
== Saúde pública == ==
Trabalho/Emprego
Trabalho/Emprego == ==
Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I
O Jornal da Cultura foi o único, entre os telejornais estudados, a dedicar espaço a CT&I
nesse dia. O telejornal durou 24 minutos e 20 segundos. Deste tempo, 2 minutos e 32
segundos foram sobre CT&I.
Telejornal
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal
da Cultura
Total
Geral
Tempo
total
36’34”
(6 blocos)
29’43”
(5 blocos)
36’02”
(5 blocos)
24’20”
(3 blocos)
2h 06’ 39”
Tempo
CT&I
*** *** *** 2’32” 2’32”
% Tempo
de CT&I
*** *** *** 9,59% 1,83%
As matérias de CT&I dos telejornais
A reportagem Jornal da Cultura trata da pesquisa divulgada naquela semana, pelo IBGE,
sobre a saúde do brasileiro. O tema desenvolvido é sobre o número de mulheres que não
realizam o exame Papanicolau.
Matérias de CT&I
Jornal da Band Jornal Nacional Jornal da
Record
Jornal da Cultura
*** *** ***
As brasileiras e o
exame papanicolau
IBGE
176
A edição da Ciência nos telejornais
Telejornal: Jornal da Cultura
Matéria: As brasileiras e o exame papanicolau IBGE (CD-Rom 1, pág. 36)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem sobre o acesso das brasileiras ao exame Papanicolau tem abordagem
interpretativa/analítica, pois a matéria ilustra com casos e contextualiza os números da
pesquisa. Nessa matéria há fontes especialista e testemunhal. A origem da pesquisa é
nacional, realizada em todas as regiões do país, por um instituto público de pesquisa (IBGE).
O cientista, que aparece na matéria no local de trabalho (consultório), ocupa posição
discursiva secundária em relação à outra fonte. O discurso do cientista corrobora o discurso
do jornalista e também da outra fonte. A Ciência é o assunto principal, apresentada de
maneira contextualizada. São usados os recursos de definição, analogia e exemplificação. A
linguagem predominante é clara e simplificada. O ambiente colabora para a apreensão do
conteúdo. A Ciência é incorporada aos ambientes social e de recepção, mas é desarticulada do
ambiente de produção. As imagens auxiliam na compreensão do conteúdo científico da
matéria, entretanto, não há demonstração do processo científico envolvido. A reportagem não
conta com nenhum elemento ilustrativo.
Análise
Esta reportagem trata de uma pesquisa do IBGE sobre o número de brasileiras que realizam o
exame preventivo de câncer de útero (Papanicolau). No entanto, os números do IBGE apenas
ilustram o foco principal da matéria: a importância de as mulheres realizarem o exame
Papanicolau, para detecção do câncer de colo de útero.
A abertura anuncia a pesquisa do IBGE, apresenta o resultado dessa e insere o gancho da
matéria: a importância do exame (“Vamos falar de saúde. O IBGE, Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, divulgou, nesta semana, uma pesquisa que procurou traçar um raio X
da saúde da população brasileira. No caso das mulheres, a pesquisa constatou que uma em
cada 5 mulheres brasileiras com mais de 24 anos nunca fez o Papanicolau. Este exame é feito
para prevenir o câncer de colo de útero. Uma doença que se for diagnosticada no início tem
cem por cento de possibilidade de cura”). No discurso, a apresentadora põe em cena um
suposto diálogo com o telespectador. Com a expressão “vamos falar de saúde”, além da
função metalingüística, evidencia-se a função fática, de cativar a atenção do público supondo
que ele está sendo convidado para uma conversa, um diálogo.
Em seguida, a repórter, que não aparece na tela nenhuma vez na matéria, pergunta para
mulheres na rua quando foi a última vez que fizeram o exame; as respostas foram variadas. O
discurso da repórter tem tom educativo e de incentivo à realização do exame. Para isso, a
repórter, sem o auxílio de ilustrações e só com imagens de mulheres na rua, na multidão
define o exame e informa qual a sua importância (“O Papanicolau é o principal exame
preventivo contra o câncer de colo de útero. A doença atinge 20 em cada 100 mil mulheres
brasileiras e mata pelo menos um quarto delas por ano”). O tom da matéria é o da prevenção:
as mulheres devem se prevenir do câncer de colo de útero (que mata muitas mulheres todos os
anos) realizando o exame Papanicolau.
177
A fonte especialista corrobora o discurso da repórter ao recomendar a realização do exame.
Diz a especialista: “O Papanicolau é indicado uma vez por ano e a colposcopia se houver uma
alteração do Papanicolau”. Em seguida, a repórter pergunta: “A partir de que idade as
mulheres devem se preocupar com esses exames?”. A fonte especialista responde: “A partir
do início da atividade sexual, principalmente entre 25 e 60 anos”. O outro exame
recomendado pela especialista (colposcopia) não é explicado.
Observa-se uma sobreposição do caráter educativo da matéria ao caráter de divulgação dos
dados da pesquisa. A reportagem tem como “gancho” os dados do IBGE sobre acesso de
mulheres a exames médicos ginecológicos, suplantado pelo assunto de educação em saúde, de
conscientização das mulheres a buscarem atendimento médico. Ocorre, com isso, um
silenciamento das razões que justificam, explicam e fundamental os números da pesquisa, ou
seja, o dito incorpora o não-dito (ORLANDI, 2002) do discurso: ao mudar o foco da matéria,
esta deixa de informar, e por isso oculta, aspectos levantados pela própria pesquisa. A matéria
contribui, sim, para a compreensão do público quanto à importância do exame, mas, por outro
lado, trata muito pouco tanto da metodologia da pesquisa quanto dos aspectos sociais,
econômicos e culturais que explicam os resultados do estudo.
Como o tom da matéria é de prevenção, o discurso da repórter volta-se para os benefícios de
se realizar o exame, como a detecção precoce da doença. Diz ela: “Se a doença for
diagnosticada no início, a chance de cura é de cem por cento”. O resultado da pesquisa, já
informado na abertura, é repetido pela repórter. Diz ela: “Mesmo assim, de acordo com o
IBGE, pelo menos uma em cada cinco mulheres brasileiras com mais de 24 anos nunca fez o
Papanicolau”.
Em seguida, a repórter insere a fonte testemunhal, uma mulher que não realiza o exame há
oito anos mas que sabe da importância e que recomenda às filhas que o façam. O discurso da
fonte testemunhal não é empregado para ilustrar como um exemplo a não ser seguido, mas
para conscientizar as mulheres a procurarem o médico. Fica subentendido que não basta saber
da importância do exame (como a fonte testemunhal sabe), é preciso realizá-lo
periodicamente.
A fonte especialista expõe os sintomas do câncer de colo de útero (“Se ela não fez exame
nenhum e aí o câncer já tem sintomas são: sangramento e dor”). A matéria é concluída com o
discurso da fonte especialista, que reforça a importância e recomenda a realização do exame
pelas mulheres (“Do estágio inicial ao aparecimento de sintomas são cerca de 15 anos, então é
tempo suficiente para se fazer o diagnóstico”).
178
4.2) Análise Quantitativa: Conclusões Parciais – 2005
Neste tópico são apresentados os resultados parciais das análises quantitativas dos dados da
pesquisa, referentes à amostra de maio de 2005. É importante lembrar que o critério de
seleção dos itens constantes nas análises quantitativas levou em conta os principais dados
resultantes da Análise Descritiva, tendo como base as categorias quantificáveis, o que justifica
a seleção de alguns itens. As demais informações, não quantificadas, constam das análises
qualitativas.
A presença de CT&I nos telejornais
Na amostra de maio de 2005 foram divulgadas, pelos quatro telejornais estudados, 30
matérias de CT&I. O Jornal da Cultura apresentou dez matérias de CT&I, o maior da
amostra. Em segundo lugar está o Jornal da Band, que divulgou oito matérias sobre o assunto
investigado. O terceiro lugar é ocupado pelo Jornal Nacional, com sete matérias exibidas. Em
último lugar está o Jornal da Record, com cinco matérias sobre CT&I divulgadas.
Quantidade de matérias de CT&I por telejornal e total
Telejornal Total de matérias de CT&I
Jornal da Cultura 10
Jornal da Band 08
Jornal Nacional 07
Jornal da Record 05
Total 30
Tempo de duração das matérias de CT&I por telejornal
Em relação ao tempo das matérias de CT&I na amostra de 2005, o telejornal que mais
dedicou tempo para o assunto foi o Jornal da Cultura, com 15 minutos e 23 segundos das
programações jornalísticas dos dias 9, 11, 13, 24, 26 e 28 de maio. Em segundo lugar está o
Jornal da Band, com 12 minutos e 13 segundos. O Jornal da Record está em terceiro lugar,
em que CT&I ocupou 9 minutos e 15 segundos da programação jornalística. Em último lugar
está o Jornal Nacional, que dedicou 7 minutos e 34 segundos para tratar de CT&I. Ao todo,
na amostra de 2005, CT&I ocupou 44 minutos e 25 segundos das programações dos
telejornais investigados
63
.
Tempo das matérias de CT&I em cada telejornal e tempo total
Telejornal Tempo (em
minutos e
segundos)
Jornal da Cultura 15’23”
Jornal da Band 12’13”
Jornal da Record 9’15”
Jornal Nacional 7’34”
Total 44’25”
63
Este tempo corresponde ao tempo das matérias. Não foram consideradas nem analisadas as eventuais
chamadas da escalada do telejornal e as chamadas de bloco.
179
Matérias de CT&I e Gêneros Jornalísticos
Dos gêneros jornalísticos das matérias de CT&I dos telejornais investigados, o Jornal da
Band divulgou, na amostra de 2005, uma nota, duas notas cobertas e cinco reportagem. O
Jornal Nacional veiculou duas notas, duas notas cobertas e três reportagens. O Jornal da
Record pôs no ar uma nota coberta, quatro reportagens e nenhuma nota simples. Já o Jornal
da Cultura divulgou quatro notas, uma nota coberta e cinco reportagens. Ao todo, CT&I
esteve presente em sete notas, seis notas cobertas e dezessete reportagens na amostra de maio
de 2005.
As matérias de CT&I e os gêneros jornalísticos
Telejornal Nota Nota coberta Reportagem
Jornal da Band 01 02 05
Jornal Nacional 02 02 03
Jornal da Record - 01 04
Jornal da Cultura 04 01 05
Total 07 06 17
Produção das imagens das matérias
Entre as matérias de CT&I veiculadas pelo Jornal da Band, cinco apresentam imagens
produzidas pela equipe de Jornalismo da própria emissora, duas possuem imagens
provenientes de agências internacionais de notícias e uma não possui imagens (nota simples).
No caso do Jornal Nacional, quatro matérias têm imagens produzidas pela própria emissora,
uma traz imagens de agência internacional de notícias e em duas não há imagens. No Jornal
da Record, quatro matérias possuem imagens produzidas/captadas pela emissora e uma é de
agência internacional de notícias. No caso do Jornal da Cultura, cinco matérias possuem
imagens produzidas pela própria emissora, uma apresenta imagens de agência internacional
de notícias e em quatro matérias não há imagens, porque são notas simples.
Produção das imagens das matérias por telejornal e total
Telejornal Produzida pelo
telejornal
Produzida por
agência
Sem imagens
Jornal da Band 05 02 01
Jornal Nacional 04 01 02
Jornal da Record 04 01 -
Jornal da Cultura 05 01 04
Total 18 05 07
180
Matérias de CT&I e Áreas do Conhecimento
64
Como já foi explicitado na metodologia deste estudo, a classificação das matérias de CT&I
por Áreas do Conhecimento levou em conta o critério do instituto responsável pela pesquisa.
Isso justifica a grande presença das Ciências Exatas e da Terra, quando se avalia a quantidade
de matérias resultantes de pesquisas divulgadas pelo IBGE. Mesmo tendo como objeto de
pesquisa assunto diversos, como mortes por armas de fogo, acesso à saúde e investimentos
públicos em esportes por exemplo, a análise feita pelo IBGE é estatística, numérica e
geográfica. Portanto, as matérias sobre pesquisas do IBGE são das áreas de Ciências Exatas e
da Terra. Quando o instituto responsável pela pesquisa estava ausente na matéria, a
classificação foi feita a partir do critério de origem, dentro das Áreas do Conhecimento, da
pesquisa, do produto ou do processo que é assunto central da matéria.
Das matérias de CT&I divulgadas pelo Jornal da Band, duas são das áreas de Ciências
Biológicas, Ambientais e da Saúde; quatro delas são das áreas de Ciências Exatas e da Terra;
uma é de Tecnologia e uma é sobre Invenção.
No caso do Jornal Nacional, das sete matérias de CT&I, uma faz parte das áreas de Ciências
Biológicas, Ambientais e da Saúde; três são das áreas de Ciências Exatas e da Terra; uma da
área de Ciências Humanas; uma de Tecnologia e uma de Políticas de C&T.
O Jornal da Record apresentou uma matéria das áreas de Ciências Biológicas, Ambientais e
da Saúde; três da área de Ciências Exatas e da Terra e uma de Políticas de C&T.
O Jornal da Cultura exibiu quatro matérias das áreas de Ciências Biológicas, Ambientais e da
Saúde; três das áreas de Ciências Exatas e da Terra; uma de Ciências Humanas; uma de
Inovação e uma Invenção.
As matérias de CT&I por telejornal e
Áreas do Conhecimento
Telejornal Ciências
Biológicas,
Ambientais
e da Saúde
Ciências
Exatas e
da Terra
Ciências
Huma-
nas
Tecno-
logia
Inova-
ção
Inven-
ção
Políticas
de C&T
Jornal da
Band
02 04 - 01 - 01 -
Jornal
Nacional
01 03 01 01 - - 01
Jornal da
Record
01 03 - - - - 01
Jornal da
Cultura
04 03 01 - 01 01 -
Total 08 13 02 02 01 02 02
64
A separação por áreas do conhecimento seguiu a constituição dos “Diretórios dos Grupos de Pesquisa no
Brasil”, elaborado pelo CNPq, disponíveis no site: <http://www.cnpq.br>. No entanto, neste trabalho, foram
feitas algumas junções/adaptações.
181
Origem geográfica da pesquisa por telejornal
O Jornal da Band veiculou, nas edições que compõem a amostra de 2005, cinco matérias em
que CT&I é de origem nacional, duas de origem internacional e uma em que a nacionalidade
da pesquisa não foi mencionada. O Jornal Nacional veiculou duas matérias cujas pesquisas
têm origem nacional e cinco que têm origem internacional. O Jornal da Record pôs no ar
quatro matérias de CT&I cuja pesquisa tem origem nacional e uma de origem internacional. O
Jornal da Cultura veiculou oito matérias sobre pesquisas de origem nacional, uma de origem
internacional e uma de procedência não mencionada.
Origem geográfica da pesquisa por telejornal e total
Telejornal Nacional Internacional Nacional e
Internacional
Não
mencionado
Jornal da Band 05 02 - 01
Jornal Nacional 02 05 - -
Jornal da Record 04 01 - -
Jornal da Cultura 08 01 - 01
Total 19 09 - 02
Origem geográfica da pesquisa nacional
Das cinco pesquisas nacionais divulgadas pelo Jornal da Band, quatro delas são da Região
Sudeste e uma foi realizada em todo o Brasil pelo IBGE. No caso do Jornal Nacional, das
duas pesquisas nacionais divulgadas, uma é da Região Sudeste e uma foi realizada no País
todo. O Jornal da Record veiculou quatro matérias nacionais, sendo que três delas são da
Região Sudeste e uma de todas as regiões. O Jornal da Cultura veiculou oito matérias de
pesquisas nacionais: uma da Região Norte, cinco da Região Sudeste e duas realizadas em
vel nacional pelo IBGE.
Origem geográfica da pesquisa nacional
Telejornal Norte
Nordeste Centro-
Oeste
Sul
Sudeste
Em
todas as
regiões
Não
mencio-
nado
Jornal da Band - - - - 04 01 -
Jornal Nacional - - - - 01 01 -
Jornal da Record - - - - 03 01 -
Jornal da Cultura
01 - - - 05 02 -
Total
01 - - - 13 05 -
182
Origem institucional da pesquisa por telejornal
Sobre a origem institucional da pesquisa, o Jornal da Band publicou quatro matérias em que
as pesquisas são desenvolvidas por institutos públicos, uma resultante de parceria público-
privada (no caso, um instituto de pesquisa público e uma empresa) e três em que a origem
não foi mencionada. O Jornal Nacional veiculou duas matérias de institutos públicos de
pesquisa, uma de universidade, uma de instituição internacional (ligada à Organização das
Nações Unidas ONU) e três em que a instituição não foi apresentada. O Jornal da Record
pôs no ar duas matérias sobre CT&I produzidas por institutos públicos de pesquisa, uma de
universidade, uma de instituição internacional (também ligada à ONU) e uma em que a
instituição não foi divulgada. O Jornal da Cultura, por sua vez, veiculou quatro pesquisas de
institutos públicos, duas pesquisas de universidades, uma de instituição internacional (ligada à
ONU) e três de instituições não mencionadas.
Origem institucional da pesquisa por telejornal e total
Telejornal Instituto
público
de
pesquisa
Instituto
privado de
pesquisa
Univer-
sidade
Indús-
tria
Inst.
Intern.
Parceria
Público-
Privada
Não
menci-
onado
Jornal da Band
04 - - - - 01 03
Jornal Nacional
02 - 01 - 01 - 03
Jornal da
Record
02 - 01 - 01 - 01
Jornal da
Cultura
04 - 02 - 01 - 03
Total 12 - 04 - 03 01 10
183
Dia 02 de maio de 2006
Principais acontecimentos noticiados pelos telejornais
Nesse dia, apareceram as seguintes editorias nos respectivos telejornais:
Jornal da Band: Cidades, CT&I, Economia, Internacional, Meio Ambiente, Polícia/Justiça,
Política, Previsão do Tempo e Trabalho/Emprego. A editoria de CT&I, nesta edição, publicou
uma reportagem sobre uma pesquisa que constata que quem trabalha sentado vive menos do
que quem trabalha em movimento.
Jornal Nacional: Economia, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça, Política, Previsão do
Tempo e Saúde Pública. Não houve matérias da editoria de CT&I nesta edição do telejornal.
Jornal da Record: Economia, Internacional, Meio Ambiente, Polícia/Justiça, Política,
Previsão do Tempo, Saúde Pública e Série Especial. A editoria de CT&I não esteve presente
nesta edição do telejornal.
Jornal da Cultura: Cidades, Cultura, Economia, Internacional, Meio Ambiente, Política,
Previsão do Tempo e Saúde Pública. Não houve matéria de CT&I na edição do telejornal.
SBT Brasil: Cidades, Comportamento, Economia, Esportes, Internacional, Meio Ambiente,
Polícia/Justiça, Política, Previsão do Tempo e Saúde Pública. Não houve matéria de CT&I na
edição do telejornal.
O assunto principal noticiado pelos telejornais no dia 02 de maio foi a nacionalização das
reservas de gás natural e petróleo na Bolívia, ocorrida no dia anterior, e as repercussões na
Bolívia, no Brasil (com os posicionamentos de especialistas, políticos e da população) e em
outros países dependentes do gás boliviano.
Além disso, houve ampla cobertura para o julgamento, marcado para o próximo dia, do
jornalista Pimenta Neves, acusado de matar sua ex-namorada, Sandra Gomide. Na editoria de
Cidades, destaque para o último dia de prazo para a regularização dos títulos de eleitor e que
ocasionou filas nos cartórios eleitorais de todo o país.
Na editoria de Política teve repercussão o terceiro dia da greve de fome do ex-governador do
Rio de Janeiro, Antony Garotinho, marcada pela manifestação contrária de funcionários
públicos estaduais. O incêndio na reserva de Ilha Grande, entre os Estados do Paraná e Mato
Grosso do Sul, também foi notícia.
No plano internacional, o ex-primeiro ministro da Itália, Sílvio Berlusconi, renuncia ao cargo,
depois da derrota nas eleições.
A tabela da próxima página possibilita uma melhor visualização das editorias de cada um dos
telejornais investigados:
184
Principais editorias
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT Brasil
Cidades == == Cidades Cidades
== == == == Comportamento
CT&I == == == ==
== == == Cultura ==
Economia Economia Economia Economia Economia
== Esportes == == Esportes
Internacional Internacional Internacional Internacional Internacional
Meio
Ambiente
== == Meio
Ambiente
Meio Ambiente
Polícia/Justiça
Polícia/Justiça Polícia/Justiça == Polícia/Justiça
Política Política Política Política Política
Previsão do
Tempo
Previsão do
Tempo
Previsão do
Tempo
Previsão do
Tempo
Previsão do
Tempo
== Saúde pública == Saúde pública Saúde pública
== == Série especial == ==
Trabalho /
emprego
== == == ==
Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I
Os telejornais divulgaram 2 horas, 26 minutos e 13 segundos de Jornalismo nesse dia. No
entanto, apenas o Jornal da Band apresentou matéria da área de CT&I. O telejornal durou 35
minutos e 37 segundos, dos quais 2 minutos e 3 segundos foram sobre CT&I.
Telejornal
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal
da Cultura
SBT
Brasil
Total
Geral
Tempo
total
35’37”
(6 blocos)
29’17”
(5 blocos)
21’55”
(5 blocos)
27’36”
(4 blocos)
31’53”
(5 blocos)
2h 26’13”
Tempo
CT&I
2’03” *** *** *** *** 2’03”
% Tempo
de CT&I
*** *** *** *** 1,39%
As matérias de CT&I dos telejornais
Entre os telejornais estudados, apenas um deles divulgou matéria da área de CT&I. Nesse dia,
o Jornal da Band pôs no ar uma reportagem de 2 minutos e 3 segundos sobre uma pesquisa
britânica que concluiu que pessoas que trabalham sentadas vivem, em média, 12 anos menos
do que aquelas que trabalham em pé ou têm uma rotina movimentada.
Matérias de CT&I
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT Brasil
Quem trabalha
sentado vive
menos
*** *** *** ***
185
A edição da Ciência nos telejornais
Telejornal: Jornal da Band
Matéria: Quem trabalha sentado vive menos (CD-Rom 2, página 07)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem sobre a pesquisa que conclui que quem trabalha sentado vive menos tem
abordagem interpretativa/analítica. A origem da pesquisa é internacional. Esta reportagem
apresenta fontes testemunhal e especialista. Mas, no caso das fontes, estas não fazem parte da
pesquisa, ou seja, buscou-se, na matéria, fontes nacionais que pudessem contribuir com
testemunho e conhecimento científico para um resultado de uma pesquisa internacional; as
fontes da matéria não participaram da pesquisa e as fontes envolvidas na pesquisa não foram
ouvidas. Além disso, não há identificação da origem da fonte especializada nacional, o
especialista é denominado apenas como médico. A pesquisa é realizada na Inglaterra, pela
Universidade de Cambridge, mas a ambientação da matéria ocorre em São Paulo (não há
imagens da Inglaterra). O médico brasileiro fala do seu lugar de trabalho. Ele está vestido de
jaleco, sentado em sua mesa. Há uma concordância entre os discursos das fontes, da repórter e
do apresentador. A informação do cientista corrobora a informação do jornalista. A Ciência
aparece na matéria de forma fragmentada. Além da ausência de fontes envolvidas na pesquisa,
não há explicações da metodologia nem outros dados que possibilitem uma avaliação, por
parte do público, da relevância, dos limites e da relativização dos resultados. Entre os recursos
de linguagem, a matéria usa principalmente exemplos e comparações/analogias para
desenvolver a matéria. Sobre a linguagem na matéria, esta se caracteriza pela clareza e pela
simplificação.
A Ciência é apresentada de forma equilibrada (nem elogiada e nem depreciada). A conclusão
da matéria é feita pelos apresentadores, que se mostram espantados com o resultado, mas
também crédulos, e até preocupado, no caso do Boechat: “Doze anos menos quem trabalha
sentado. Pelo amor de Deus”, tanto que comentam sobre a possibilidade de mudarem seus
comportamentos para que não sejam afetados pelo resultado da pesquisa (trabalhar sentado e
viver menos devido à forma de apresentar o telejornal, sentados). Diz Boechat: “Joelmir, é
melhor a gente ficar de pé para apresentar o jornal”. Mas não há tom de negatividade nas
palavras dos apresentadores, que brincam com a possibilidade, ou não, de mudança na
apresentação do telejornal, chamando a atenção para um aspecto pessoal de um deles. Joelmir
Betting não aceita apresentar do jornal de pé porque, naquele dia, estaria de calça jeans,
escondida atrás da bancada o que não combina com a roupa que é mostrada pelas câmeras
(terno e gravata). Diz ele: “Não, eu tô de calça jeans, não vai dar”. Apesar de não apresentar
imagens do processo de produção da pesquisa, os ambientes escolhidos para representar as
rotinas de trabalho de quem trabalha se movimentando (no caso, os trabalhadores da obra) e
de quem trabalha sentado (no caso, os profissionais de escritório) colaboram para a apreensão
do conteúdo. A Ciência, na matéria, a partir das imagens apresentadas, é incorporada ao
ambiente social, mas é desarticulada do ambiente de produção desta. Não há demonstração do
processo científico. As imagens, desta forma, não auxiliam na compreensão do processo
científico envolvido no assunto. Não há emprego de nenhum elemento ilustrativo nesta
matéria.
186
Análise
A matéria trata de uma pesquisa desenvolvida na Inglaterra e que compara o condicionamento
físico de pessoas que têm trabalho movimentado com aquelas que trabalham sentadas.Uma
característica marcante desta reportagem é a menção a uma pesquisa internacional e a
adequação desta à realidade nacional. A pesquisa foi desenvolvida pela Universidade de
Cambridge, na Inglaterra, mas não foram ouvidos trabalhadores ingleses nem os
pesquisadores responsáveis pela pesquisa, o que poderia sugerir distorções dos resultados
(possivelmente, trabalhadores brasileiros e ingleses têm rotinas de trabalho, dietas e hábitos
de vida que influenciariam nos resultados da pesquisa, porém, essas ressalvas não são feitas).
Além disso, não há na matéria nenhuma explicação sobre a metodologia empregada no
estudo, o que dificulta a compreensão da relação entre a realização da pesquisa e a realidade
das pessoas. Perguntas como: quantas pessoas foram estudadas?, em que período? Ou mesmo
trabalhadores de que área e de que país (es)? poderiam contribuir para relativizar o alcance
dos resultados.
Esta matéria é caracterizada jornalisticamente como fria, já que não há uma data que explicite
quando a pesquisa foi concluída e quando foi divulgada. A pesquisa serviu mais como um
gancho”, um mote para a abordagem de outro assunto, esse sim ainda mais atemporal: o
condicionamento físico, comparando pessoas que trabalham sentadas com as que exercem
trabalho “pesado”. Esse caráter atemporal do assunto pode ser observado na relação de
continuidade e perenidade que a repórter estabelece com o assunto: “Para quem trabalha
muito tempo sentado, há dois conselhos médicos que atravessam gerações e sempre dão
resultados para melhorar a expectativa de vida”. Com a expressão “conselhos que atravessam
gerações”, a jornalista ressalta que o assunto que será tratado em seguida não é novidade.
O que se pode notar é que há dois discursos nesta matéria, com conteúdos distintos. Um deles
é o discurso sobre a pesquisa britânica, sobre a qual é feita a abertura da matéria. Foram a
pesquisa e os pesquisadores que deram credibilidade à matéria. A partir daí, com o aval e o
amparo da Ciência, a repórter transita pela realidade brasileira e abandona os dados e os
resultados da pesquisa citada anteriormente na matéria, constituindo um outro discurso, sobre
a importância dos exercícios físicos, esse menos atrelado aos conceitos científicos. Com isso,
outras fontes são ouvidas, tanto testemunhais trabalhadores braçais e de escritório como
especialista um médico que não agrega nova informação sobre a pesquisa (e nem poderia,
já que ele não participou de sua elaboração).
Sobre a fonte especialista, além de pouco espaço dado ao pesquisador, no caso, identificado
apenas como médico (apenas oito segundos, numa matéria de dois minutos e três segundos),
seu discurso não trouxe nenhuma informação nova que pudesse aumentar a compreensão
sobre a pesquisa ou sobre a relação: trabalhar sentado viver menos (Disse ele: “A pessoa
que tem pouca atividade física ela não pode comer da mesma maneira que alguém que tem
muita atividade física”).
Dessa forma, a pouca valorização da fonte especialista foi suprida pela repórter com
discursos generalizantes, que representam um suposto consenso da comunidade acadêmica,
ou seja, sempre que precisou da chancela de um especialista, a repórter recorreu a
simplificações como: “Para quem trabalha muito tempo sentado, há dois conselhos médicos
que atravessam gerações e sempre dão resultados para melhorar a expectativa de vida”; “A
segunda recomendação dos médicos é a alimentação balanceada”; “Sendo assim, segundo os
estudiosos de Cambridge, dá até para comparar uma obra a uma academia”. Tais discursos
187
jogam com o que Maingueneau (2001) designa de não-pessoa: fala-se de um “terceiro” (o
especialista) sem que este tenha espaço enquanto participante do discurso.
Esse segundo discurso da matéria (o do condicionamento físico) não incorpora o discurso da
pesquisa britânica. O anúncio de abertura matéria é quase que completamente abandonado ao
longo do seu desenvolvimento. A única expressão que, de forma vaga, relaciona os
pesquisadores ao que é dito, é a comparação de uma construção a uma academia, mesmo
assim, tratando-se de um conteúdo que não faz ligação com o resultado da pesquisa. A
encenação (MAINGUENEAU, 2001) criada nesta matéria está na dualidade trabalho braçal
versus trabalho de escritório com pouco esforço físico.
Dia 04 de maio de 2006
Principais acontecimentos noticiados pelos telejornais
Foram as seguintes editorias presentes nesse dia nos respectivos telejornais:
Jornal da Band: Clima, Economia, Esportes, Internacional, Meio Ambiente, Polícia/Justiça,
Política, Previsão do Tempo, Segurança e Trabalho/Emprego. A editoria de CT&I, nesta
edição, não apresentou nenhuma matéria.
Jornal Nacional: CT&I, Economia, Educação, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça,
Política, Previsão do Tempo e Trabalho/Emprego. Houve uma reportagem, nesta edição, da
editoria de CT&I, sobre uma pesquisa do IBGE que trata dos investimentos dos Estados em
esportes.
Jornal da Record: Clima, Cultura, Internacional, Polícia/Justiça, Política, Previsão do Tempo
e Série Especial. A editoria de CT&I não esteve presente nesta edição do telejornal.
Jornal da Cultura: CT&I, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça, Política, Previsão do
Tempo e Trabalho/Emprego. O telejornal veiculou uma nota coberta, de CT&I, sobre uma
mulher grávida aos 63 anos.
SBT Brasil: Cidades, Cultura, Economia, Esportes, Internacional, Meio Ambiente,
Polícia/Justiça, Previsão do Tempo, Segurança e Trabalho/Emprego. Não houve matéria de
CT&I na edição do telejornal.
A “crise” do gás natural da Bolívia continuava sendo a principal pauta dos telejornais do dia
04 de maio. Nesse contexto, houve o encontro em Puerto Iguazu, na Argentina, dos
presidentes do Brasil, da Bolívia, da Venezuela e da Argentina para discutir a questão
energética.
Na editoria de Polícia/Justiça, destaque para a prisão de 45 pessoas envolvidas na chamada
Operação Sanguessuga, envolvendo parlamentares e empresários, referente à fraude em
licitações de ambulâncias. Além disso, o resultado do julgamento do jornalista Pimenta Neves
teve ampla cobertura. A posse do presidente do Tribunal Superior Eleitoral e seu discurso
sobre impunidade aos acusados de corrupção tiveram espaço nos telejornais.
Na editoria de Cidades, destaque para a peregrinação de fiéis, em Salvador, para ver a
imagem de Irmã Dulce, que diziam estar estampada numa flor. Em nível Internacional, a OIT
188
(Organização Internacional do Trabalho) divulgou relatório (sobre o qual nada é dito, por esse
motivo essa matéria não consta da editoria de CT&I) sobre a queda do trabalho infantil em
todo o mundo, inclusive no Brasil.
A visualização das editorias dos telejornais pode ser feita a partir da seguinte tabela:
Principais editorias
Jornal da Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT Brasil
Cidades == == == Cidades
Clima == Clima == ==
== CT&I == CT&I ==
== == Cultura == Cultura
Economia Economia == == Economia
== Educação == == ==
Esportes Esportes == Esportes Esportes
Internacional Internacional Internacional Internacional Internacional
M. ambiente == == == Meio ambiente
Polícia / Justiça Polícia /Justiça Polícia / Justiça Polícia/ Justiça Polícia / Justiça
Política Política Política Política ==
Previsão do
Tempo
Previsão do
Tempo
Previsão do
Tempo
Previsão do
Tempo
Previsão do
Tempo
Segurança == == == Segurança
== == Série especial == ==
Trabalho /
emprego
Trabalho/
emprego
==
Trabalho /
emprego
Trabalho /
emprego
Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I
O Jornal Nacional teve duração de 29 minutos e 30 segundos, dos quais, 1 minuto e 41
segundos dedicados a CT&I. O Jornal da Cultura teve 26 minutos e 25 segundos de
programação jornalística. Desse tempo, 41 segundos foram sobre CT&I. Os demais
telejornais investigados não apresentaram matéria de CT&I neste dia.
Telejornal
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal
da Cultura
SBT
Brasil
Total
Geral
Tempo
total
42’40”
(7 blocos)
29’30”
(5 blocos)
22’26”
(5 blocos)
26’25”
(4 blocos)
29’51”
(5 blocos)
2h 30’ 52”
Tempo
CT&I
*** 1’41” *** 41” *** 2’22”
% Tempo
de CT&I
*** 4,81% *** 1,56% *** 1,47%
189
As matérias de CT&I dos telejornais
Dentre os telejornais investigados nesse dia, dois deles apresentaram matérias da área de
CT&I. O Jornal Nacional apresentou uma reportagem de 1 minuto e 45 segundos, sobre uma
pesquisa do IBGE sobre o investimento dos Estados em esportes. O Jornal da Cultura
divulgou uma nota coberta, com duração de 41 segundos, sobre uma britânica grávida ao 63
anos graças a tratamentos de fertilização.
Matérias de CT&I
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT Brasil
*** Investimento
dos Estados em
esportes: IBGE
***
Grávida de 63
anos (nc)
***
A edição da Ciência nos telejornais
Telejornal: Jornal Nacional
Matéria: Investimento dos Estados em esportes: pesquisa IBGE (CD-Rom
2, página 08)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem sobre o investimento dos Estados em esportes abordou o assunto de maneira
interpretativa/analítica, a partir de exemplos que ilustram os dados da pesquisa do IBGE.
Nesta matéria há apenas fontes testemunhais. Não há entrevistas com especialistas
responsáveis pela pesquisa ou analistas da questão, nem entrevistas com fontes oficiais. A
origem da pesquisa é nacional, realizada em todos os Estados. A pesquisa científica é o
assunto principal da matéria, responsável pela credibilidade da denúncia mostrada ao longo da
matéria pelo repórter.
A abordagem da Ciência acontece de forma contextualizada. Analogia e exemplos são os
recursos empregados na matéria para tornar o assunto interessante. A linguagem é clara e
simplificada, no entanto, diferentemente das demais matérias estudadas, o repórter insere
alguns termos específicos da linguagem oral, mas que não comprometem o entendimento do
assunto. Esses termos podem ser identificados nos seguintes trechos: “Essa escola no Rio é
considerada uma das três melhores do Estado, mas a situação do depósito de materiais
esportivos não é lá essas coisas”; “Essas bolas aqui, ó, foram emprestadas por alunos”; E
aqui na janela a gente encontrou, ó, esse papel, “Essa listinha aqui está aqui há dois anos”.
Tal característica já foi apontada por Carmo Roldão (2003) ao investigar a linguagem oral do
telejornalismo brasileiro. “(...) na construção da linguagem escrita, para ser falada na
divulgação dos fatos para a sociedade através da televisão, aplicam-se tanto características da
linguagem escrita, como características da linguagem oral, criando, assim, um padrão próprio
que incorpora os dois anteriores(CARMO ROLDÃO, 2003, p. 199-200). A Ciência não é
apresentada de forma elogiativa, nem depreciativa, mas equilibrada. As imagens da matéria
contribuem para a apreensão do conteúdo. Elas ilustram os dados da pesquisa com situações
reais das escolas. Por isso, a Ciência, na matéria, está incorporada ao ambiente social, mas
desarticulada do ambiente de produção. Não há imagens que demonstram o processo
científico envolvido, há elementos ilustrativos somente dos resultados da pesquisa. Como
190
elementos ilustrativos são usados: vinheta, que indica o mapa do Brasil em forma de gráfico,
além de gráfico sobre a porcentagem de investimento dos Estados em esportes. Estes
elementos auxiliam na compreensão dos resultados da pesquisa.
Análise
A denúncia apoiada nos dados da pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) é o foco da matéria sobre os investimentos dos Estados em esportes. Como se trata
de um estudo em nível nacional, a matéria procura, a partir de exemplos de escolas de
diferentes regiões do País, mostrar o ponto comum entre elas: o pequeno investimento dos
Estados em esportes. Uma escola, a primeira mostrada, é da região norte (da cidade de
Manaus), a outra da região Sudeste (Rio de Janeiro) e a última é da região sul (de Porto
Alegre). Em todas elas são mostradas as precariedades das estruturas e dos equipamentos de
esportes.
O tom da matéria é marcado pelo negativismo e pelo fatalismo (que dizem respeito aos
resultados obtidos na pesquisa e não ao estudo do IBGE em si), que entrelaçam imagens e
discursos ao longo de toda a matéria.
A interpretação negativista dos dados da pesquisa é feita pelos discursos da apresentadora, do
repórter e também na edição dos discursos dos entrevistados. Essa característica ficou patente,
entre outros pontos, no uso de adjetivos comparativos. A apresentadora, na abertura, informa:
“Depois de mostrar como são pequenos os investimentos dos municípios brasileiros em
esportes...”. Com isso, ela já deixa claro que os municípios investem pouco e lança um
desafio aos Estados, comparando-os com os municípios, que já foram mal avaliados pelo
IBGE. Em seu discurso fica subentendido que os municípios investem pouco. Será que os
Estados são diferentes? E o que a pesquisa do IBGE acaba de descobrir. Ela prossegue: “...o
IBGE revelou hoje quanto os Estados gastam”. A expressão facial séria da apresentadora
Fátima Bernardes também colabora para a construção desses sentidos na matéria. Ao citar e
comparar os dados da pesquisa com outra pesquisa já divulgada anteriormente, a matéria joga
com o dialogismo (BAKHTIN, 1997) entre os discursos de divulgação científica: uma
pesquisa já divulgada apóia e constitui a enunciação de uma outra matéria também de
divulgação científica.
No primeiro off , ao mostrar uma imagem desoladora de um campo de futebol com terra, sem
qualquer condição de infra-estrutura, com alunos jogando bola, é reforçado o tom negativista
da matéria. Essa imagem é composta por um discurso fatalista e desesperançoso da situação.
Diz o repórter: “Educação física é sonho impossível para esses alunos em Manaus”. O
fatalismo é explicado pela força com que o repórter joga com as palavras “sonho impossível”,
como algo que jamais será concretizado, como se a situação nunca pudesse ser mudada e,
fatalmente, os alunos nunca terão aulas de Educação Física. Isso é reforçado pela sonora do
aluno (que não teve nome divulgado), que afirma que gosta de jogar futebol e handbol, mas
que não tem campo para isso. Ou seja, o sonho do aluno afirmado pelo repórter e
confirmado pelo aluno não passa mesmo de um sonho, impossível de se realizar.
No segundo off da matéria há a apresentação dos dados da pesquisa e, nesse ponto, também,
não se despreza o uso de adjetivos e de imagens que colaboram para o caráter pessimista da
matéria. No trecho “De cada dez escolas estaduais do país, quatro eram assim há três anos e a
situação do norte era pior...”, a descrição “eram assim” remete às condições precárias do
campo de futebol mostrado anteriormente. Nota-se também que a matéria emprega
enunciados dependentes do ambiente (MAINGUENEAU, 2001) para construir o discurso e
191
dar credibilidade à informação (o repórter esteve nos locais e verificou as condições das
escolas). Já no trecho “a situação do norte era pior” faz inferência (DUCROT, 1981) de que a
média nacional é ruim e na região norte a situação é pior ainda. As imagens dos números da
pesquisa, com as porcentagens de escolas com e sem instalações esportivas, reforçam essa
posição. Na continuação desse discurso, o repórter salienta o pouco investimento dos Estados
com a palavra “só”, no trecho: “...Os governantes dos Estados gastaram com esportes em
2003 só 0,09% do total de despesas”. Em seguida, ele fala de uma escola do Rio de Janeiro
considerada uma das três melhores do Estado, mas que, mesmo com essa categoria, não
possui infra-estrutura para a prática de esportes: “Essa escola no Rio é considerada uma das
três melhores do Estado, mas a situação do depósito de materiais esportivos não é lá essas
coisas”. A expressão “não é lá essas coisas” remete também à denúncia de precariedade da
situação. A imagem que cobre esse trecho do off mostra o depósito em más condições de
armazenagem de materiais e reforça esse sentido.
A passagem, que mostra o repórter dentro do referido depósito de materiais esportivos,
também está repleta da carga negativa atribuída à matéria. Ao mostrar as bolas estragadas,
que não foram adquiridas pela escola mas emprestadas por alunos, o repórter enfatiza que,
além de não terem materiais esportivos em quantidade e qualidade suficientes, os que estão na
escola foram emprestados por alunos, o que não deveria acontecer, já que bolas não fazem
parte da lista de materiais que alunos devem comprar. Depois disso, foram mostradas
imagens, e reforçadas pelo discurso do repórter, que mostram os problemas encontrados nos
equipamentos, inclusive com comprometimento da segurança dos alunos.
O descaso é reforçado pela lista que um professor de Educação Física preparou, com os
materiais que devem ser adquiridos pela escola, lista essa que se encontra abandonada há dois
anos e que foi “descoberta” na vasculha feita pela equipe de reportagem no depósito. Isso é
composto também pela expressão facial de descrédito do repórter, no trecho: “E aqui na janela
a gente encontrou, ó, esse papel. É um levantamento de material esportivo feito por um
professor. Precisa de bola de handbol, basquete, futsal, voleibol. Essa listinha está aqui há
dois anos”. É possível notar o tom de investigação que o repórter impingiu ao seu discurso.
Ao mesmo tempo, o repórter emprega os pronomes e verbos na terceira pessoa do plural, o
que pode representar que ele e sua equipe de Jornalismo descobriram, encontraram ou mesmo
que ele compartilha com o público esta descoberta: trata-se de uma forma de aproximar o
telespectador da matéria e de criar a sensação no público de pertencimento à cena enunciativa
do discurso (o repórter fala para o público sobre seu ato de descobrir e inclui o público nessa
ação) e também coloca o telespectador na posição de descobridor daquelas informações e de
conhecedor daquele fato descoberto.
Os materiais e a infra-estrutura existentes na escola, como piscina e quadra de tênis, são
atribuídos à comunidade. Não há, no entanto, explicação de como essa iniciativa foi realizada,
o que poderia mostrar um outro lado da situação: a atuação de pessoas da comunidade em prol
da educação pública. Atuação essa incentivada até mesmo pela emissora, no caso o projeto
“Amigos da Escola”, criado pela Rede Globo, que prevê a participação de membros da
comunidade nas escolas.
Outro exemplo, no final da matéria, mostra, de forma descontextualizada e sem muitas
explicações, o que, na matéria, é “um projeto de caça-talentos na escola, em Porto Alegre, que
revelou Daiane dos Santos”. Nada mais é dito sobre o projeto. Nenhuma identificação com a
realidade da escola em que o projeto está inserido. Nenhuma fonte envolvida no projeto foi
ouvida. No final deste off, o repórter afirma que ainda faltam campeões, mas também não
192
explica por quê faltam campeões, se é por causa da falta de preparo ou por estes ainda não
terem sido descobertos.
O final da matéria é dado por um discurso de Daiane do Santos sobre a distribuição desigual
de verbas para o esporte, o que acaba por contrapor com o assunto abordado até então: na
matéria, a pesquisa do IBGE revelou que os Estados brasileiros investem pouco, de forma
geral, com uma situação pior dos Estados do Norte. No entanto, Daiane dos Santos encerra a
matéria tratando da situação diferenciada entre os Estados. A matéria é concluída sem um
consenso, com uma fala que desconstruiu o sentido do discurso da matéria desenvolvida até
então (“Uns Estados têm tanto e outros tão pouco”), mas nem a matéria e nem a pesquisa
divulgada na matéria mostraram que alguns Estados têm muita verba destinada aos esportes.
Além do tom de denúncia da matéria, outro ponto a ser destacado diz respeito à inserção das
fontes e aos sentidos gerados na matéria com os discursos das fontes. Não há fontes
especialistas nesta reportagem. Não foram ouvidos pesquisadores do IBGE responsáveis pela
pesquisa, profissionais, pesquisadores, professores de Educação Física ou mesmo de
Educação ou pesquisadores de Políticas Públicas. Além disso, não há fontes oficiais na
matéria. Essas duas categorias de fontes são extremamente importantes jornalisticamente no
caso desta matéria.
No caso das fontes especialistas, essas poderiam contribuir com informações sobre a
importância de se realizar atividades de Educação Física nas escolas e os prejuízos à educação
com o descaso dos governantes apontado na matéria. Já a fonte especialista do IBGE poderia
colaborar com informações sobre o alcance da pesquisa, além de dados e análises que não
constam do relatório oficial divulgado. No caso das fontes oficiais, ligadas a governos
estaduais, seriam importantes na matéria para que o tom de denúncia fosse ponderado,
levando-se em conta um dos critérios básicos de produção de matérias jornalísticas: ouvir o
outro lado envolvido no fato.
Para tentar suprir a falta de uma fonte especialista na matéria, o repórter recorreu ao
depoimento de Daiane dos Santos. No contexto da matéria, ela pode ser caracterizada como
uma fonte testemunhal (ela foi descoberta por um projeto de caça-talentos em escolas), mas
seu discurso é o de uma fonte especialista: ela ocupa a posição discursiva de uma fonte
especialista. Nota-se, com isso, o que Abramo (2003) chama de padrão de inversão da opinião
pela informação: Daiane dos Santos ocupa o espaço discursivo da fonte especialista.
Dessa forma, pode-se aferir que esta matéria abordou a Ciência com grande ênfase na
denúncia, caracterizada pelo tom negativista, pelo uso indiscriminado de adjetivos (que
também gera controvérsias em Jornalismo, porque torna o texto explicitamente opinativo) e
pela ausência de fontes especialistas e oficiais, o que acarreta em lacunas de informação.
No caso das fontes testemunhais também há lacunas. O repórter citou professores e a
comunidade, mas não foram ouvidos membros da escola ou da comunidade para comprovar
ou não a realidade mostrada na matéria.
O discurso do repórter para tratar dos alunos e as falas selecionadas dos alunos também cria
sentidos que colaboram para o denuncismo da matéria. Os alunos são tidos como vítimas
indefesas da situação, como incapazes de agir para reverter a situação (eles estão fadados a
não terem aulas de Educação Física). Além disso, são os alunos que têm “sonhos
impossíveis”, são eles que não têm instalações inadequadas, equipamentos de segurança e
193
materiais para a prática de esportes. A matéria até cita um lado ativo, colaborador dos alunos
(“Essas bolas aqui, ó, foram emprestadas por alunos”), mas isso não é destacado nas falas.
Quando os alunos aparecem na matéria, as imagens são de instalações precárias (campo de
futebol de terra) e, além do mais, são anônimos: seus nomes não são divulgados por escrito na
tela.
Telejornal: Jornal da Cultura
Matéria: Grávida de 63 anos (CD-Rom 2, página 09)
Formato: Nota coberta
Descrição
A nota coberta sobre uma britânica, de 63 anos, grávida de sete meses, tem abordagem do
assunto meramente descritiva, pois não há nenhuma explicação sobre o “gancho” da matéria:
a polêmica sobre a gravidez tardia na Inglaterra. Não foram ouvidas fontes nesta matéria, que
apenas mostra a imagem da mulher grávida concedendo entrevista, mas sem áudio, tradução
ou citação indireta de seu discurso. A notícia é de origem internacional. O tratamento de
fertilização (que não se trata de uma pesquisa nova) não é o assunto principal da matéria, mas
sim a questão da idade da mulher que foi submetida a esse tratamento. Também não há
indicação da instituição que realizou o procedimento. Nesta matéria, a Ciência é o assunto
principal. A abordagem do conteúdo é realizada de forma fragmentada. Para facilitar a
compreensão, é usado o recurso da analogia com outro caso de gravidez tardia. A linguagem
predominante é clara e simplificada. A Ciência não é abordada de forma elogiativa nem
depreciativa, mas equilibrada. A polêmica ocorre pela idade avançada da gestante. O
ambiente colabora para a apreensão do conteúdo, já que mostra a mulher, com 63 anos,
grávida. No entanto, o ambiente não colabora para a apreensão do conteúdo científico
envolvido. A Ciência, a partir das imagens, é incorporada ao ambiente social e totalmente
desvinculada do ambiente de produção. Não há nenhuma demonstração do processo científico
envolvido no assunto da nota coberta e não foi usado nenhum elemento ilustrativo.
Análise
A nota coberta sobre uma mulher grávida aos 63 anos é de origem internacional, mas,
diferentemente das outras matérias analisadas, não trata de alguma nova descoberta ou nova
técnica, mas da questão ética envolvendo um procedimento científico já bastante divulgado: o
tratamento de fertilidade. A questão ética levantada pela matéria diz respeito aos casos de
gravidez de mulheres com idades avançadas. Sobre isso, Candotti (2002, p. 17) avalia que a
divulgação científica possibilita um exercício de reflexão sobre os impactos sociais e culturais
da Ciência. “A circulação das idéias e dos resultados de pesquisas é fundamental para avaliar
o seu impacto social e cultural, como também para recuperar, por meio do livre debate e
confronto de idéias, os vínculos e valores culturais que a descoberta do novo, muitas vezes,
rompe ou fere”.
A nota coberta cita que há, na Inglaterra, uma polêmica ética envolvendo esses casos de
gravidez, mas não especifica os pontos de vista das pessoas, grupos ou entidades a respeito do
caso. Também não é exposta qual é essa polêmica. Com isso, ao ocultar a informação central,
o gancho (já que não é o procedimento de fertilização a pauta da matéria, mas a ética
envolvida), a própria questão ética pode ser transferida para a Ciência enquanto instituição ou
mesmo para os personagens-ocultos envolvidos nesse processo, já que não há, pelo menos na
matéria, um sujeito que atue de forma não-ética (não se sabe, a partir da matéria, se a falta de
194
ética é por parte dos cientistas que inventaram a técnica, das mulheres que se submetem ao
procedimento, dos médicos que realizaram o tratamento de fertilização).
Um ponto a ser destacado diz respeito à formação da mulher. Ela é uma cientista, uma
especialista em psiquiatria infantil. Esse quesito foi destacado antes mesmo de seu nome (
que tal apresentação foi citada logo na abertura da matéria). Pode-se notar um aspecto
relevante nessa menção: ela é cientista, conhecedora dos processos que envolvem o
desenvolvimento mental e psicológico das crianças e mesmo assim (desprezando esse
conhecimento), ou por causa disso (avaliando e ponderando cientificamente as
conseqüências), realizou o tratamento de fertilização em uma idade avançada.
Ao inserir, no discurso, a formação da mulher, caracterizando-a como uma cientista, pode-se
criar o efeito de que, como conhecedora do desenvolvimento humano, ela não vê grandes
problemas em gerar e criar um filho em idade avançada, mesmo com a polêmica alavancada
na sociedade. Outro efeito é o de que os cientistas (tanto ela quanto os médicos responsáveis
pelo tratamento) não estão preocupados com os aspectos éticos que cercam tal procedimento.
Ainda pode-se criar o efeito de que ela, cientista, agiu de forma discordante eticamente. De
qualquer forma, ao caracterizar a personagem-testemunha da matéria como personagem-
especialista, foram criados sentidos diferenciados dos que seriam suscitados caso esse atributo
fosse ocultado ou mesmo se a profissão da mulher não tivesse qualquer relação com a
atividade científica.
A ausência de fontes na matéria contribui para os efeitos difusos que podem ser criados. A
personagem da matéria é mostrada sorrindo, caminhando na rua, cercada de fotógrafos. Essa
imagem contrapõe-se ao problema ético que é imputado ao caso de que ela é protagonista: ela
é a mulher grávida com idade avançada (com o agravante de ser cientista) que se submeteu à
fertilização assistida e que, com isso, aumentou a polêmica sobre tal procedimento médico.
Ao mostrar a mulher sorrindo na rua, cercada de jornalistas, pode-se criar o efeito de que,
mesmo transgredindo o percurso natural da vida e abalando setores da sociedade britânica, ela
está feliz. Ou ainda: vale a pena não seguir as normas éticas defendidas por determinada
sociedade para satisfazer um desejo pessoal de busca pela felicidade, não importando as
visões discordantes. Além disso, ela estava sendo requisitada, procurada por jornalistas, sendo
fotografada. Por essa iniciativa, ela obteve projeção pública a tal ponto de ser mencionada em
uma matéria em outro país, no Brasil. Com isso, pode-se criar também o efeito de que, ao
fazer o que se quer, mesmo não seguindo as normas éticas impostas pela sociedade, é possível
ganhar notoriedade, fama, destaque social e ficar famosa. E a Ciência pode contribuir para
isso.
Vale ressaltar o erro de leitura cometido pelo apresentador que, pelo tom absurdo que tomou,
diminuiu, no final da nota coberta, a seriedade do assunto. Ao comparar o caso da britânica
com o de outra mulher, Heródoto Barbeiro a comparou a um homem. Disse ele: “No ano
passado, um homem de 66 anos bateu recorde mundial ao se tornar, perdão, uma mulher, ao
se tornar mãe, depois do tratamento de fertilização assistida”. Com isso, mesmo corrigindo
seu próprio erro, o discurso já havia sido formulado e esse contra-senso, que cerca o que foi
dito, compõe a matéria.
O apresentador faz uso de modalizações autonímicas que deixam sua marca no discurso e são
emblemáticas da posição discursiva que ele atribui a seu discurso no contexto da matéria,
assim como mostra a posição discursiva atribuída ao telespectador da matéria. As
modalizações autonímicas são comentários que o enunciador faz sobre sua própria
195
enunciação. (AUTHIER-REVUZ apud PAULIUKONIS, 2003). Ao proferir a palavra
“perdão” fica patente o reconhecimento do erro por parte do apresentador e também o respeito
dele para com os telespectadores. Foi mais que um pedido de desculpas. Foi um pedido de
perdão, de remissão da culpa.
Não se tratava simplesmente de um erro gramatical, de pronúncia ou mesmo de informação
técnica. Foi um equívoco que levou a uma idéia absurda e que envolveu até mesmo o
procedimento científico: a Ciência ainda não é capaz de fazer com que homens fiquem
“grávidos”, o que seria realmente uma grande descoberta científica, mas que, se isso
acontecesse, realmente ocasionaria uma polêmica. Portanto, foi diluído o impacto da própria
matéria, pois, mesmo com o erro, a matéria mostrou que a polêmica ética poderia realmente
ser maior se o que o apresentador disse fosse realmente verdadeiro: um homem “grávido”
graças à Ciência. Isso minimizou o impacto (inclusive da polêmica ética) do assunto.
Comparações entre as matérias: a função educativa
A reportagem do Jornal Nacional sobre “Investimento dos Estados em esportes: pesquisa
IBGE” faz uma interpretação negativista dos dados da pesquisa. Um ponto negativo para a
explanação da pesquisa refere-se à ausência de fontes especialistas na matéria. Nenhum
pesquisador responsável pela pesquisa foi ouvido.
Por outro lado, para facilitar a compreensão do assunto, a matéria emprega exemplos a
maior parte negativos de escolas em relação à infra-estrutura para a prática de Educação
Física. Outro recurso para atrair a atenção do público é mostrar imagens, em tom de denúncia
e de investigação por parte da equipe de reportagem, e a falta de investimentos
governamentais. A linguagem é simples, com alguns usos típicos da linguagem oral, o que
também facilita a aproximação com o público.
No caso da nota coberta do Jornal da Cultura sobre uma mulher grávida aos 63 anos, que
aborda a questão ética envolvendo o tratamento de fertilidade, não há uma contextualização
do assunto científico. Também não há explicação da polêmica gerada na Inglaterra com o
caso: a nota coberta apenas cita que há uma polêmica. A ausência de fontes também dificulta
a contextualização do assunto. Apenas a mulher grávida é mostrada, mas a imagem não a
vincula a algo negativo ou polêmico, já que ela é mostrada sorrindo e sendo entrevistada na
rua. Houve, ainda, um erro de informação dito pelo apresentador (prontamente corrigido por
ele próprio), que criou um sentido cômico à nota coberta e diminuiu o impacto da informação,
além de poder representar um ponto de dispersão do público.
Dia 06 de maio de 2006
Principais acontecimentos noticiados pelos telejornais
Nesse dia, aparecem as seguintes editorias nos respectivos telejornais:
Jornal da Band: Agropecuária, Cidades, Clima, Comportamento, CT&I, Esportes, História,
Polícia/Justiça, Política e Previsão do Tempo. A editoria de CT&I, nesta edição, apresentou
uma reportagem sobre ronco.
Jornal Nacional: Cultura, Economia, Esportes, História, Internacional, Polícia/Justiça,
Política e Previsão do Tempo. Não houve matéria, nesta edição, na editoria de CT&I.
196
Jornal da Record: Cidades, CT&I, Economia, Esportes, História, Internacional,
Polícia/Justiça, Política, Previsão do Tempo, Segurança e Trabalho/Emprego. A editoria de
CT&I veiculou, nesta edição do telejornal, uma reportagem sobre Tecnologias para
deficientes físicos.
O Jornal da Cultura, na época, não era apresentado aos sábados.
SBT Brasil: CT&I, Esportes, Polícia/Justiça, Política, Previsão do Tempo, Saúde Pública e
Segurança. Na editoria de CT&I, foi veiculada uma reportagem sobre Tecnologias na
educação.
As atenções dos telejornais para a nacionalização do gás da Bolívia já haviam diminuído
nesse dia. Na editoria de Polícia/Justiça, ainda havia análises sobre a decisão judicial do caso
Pimenta Neves, a prisão de uma quadrilha de traficantes no Rio Grande do Sul e também
sobre as prisões de parlamentares envolvidos no escândalo de licitações de ambulâncias
(Operação Sanguessuga). Na área Política, houve a repercussão da entrevista do ex-secretário
geral do PT, Sílvio Pereira, dada ao jornal O Globo, em que ele conta detalhes inéditos da
Operação Valerioduto, além das agendas de campanhas dos pré-candidatos à
presidência.Entre os demais assuntos noticiados, constaram as expectativas de venda de
produtos para o Dia das Mães e a comemoração de 150 anos de nascimento de Sigmund
Freud.
A melhor visualização das editorias dos telejornais pode ser feita a partir da tabela seguinte:
Principais editorias
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da Record Jornal
da Cultura
SBT Brasil
Agropecuária == == == ==
Cidades == Cidades == ==
Clima == == == ==
Comportamento
== == == ==
CT&I == CT&I == CT&I
== Cultura == == ==
== Economia Economia == ==
Esportes Esportes Esportes == Esportes
História História História == ==
== Internacional Internacional == ==
Polícia / Justiça
Polícia /
Justiça
Polícia / Justiça ==
Polícia /
Justiça
Política Política Política == Política
Previsão do
Tempo
Previsão
tempo
Previsão do Tempo == Previsão do
Tempo
== == == == Saúde
pública
== == Segurança == Segurança
== == Trabalho/Emprego == ==
197
Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I
O Jornal da Band teve duração de 25 minutos e 51 segundos, dos quais 2 minutos foram
dedicados a CT&I. O Jornal da Record, que apresentou 26 minutos e 12 segundos de
programação jornalística, dedicou 3 minutos e 49 segundos ao assunto investigado. O SBT
Brasil, que exibiu 21 minutos e 37 segundos de programação jornalística, teve 1 minuto e 44
segundos desse tempo, de matéria sobre CT&I. O Jornal Nacional não divulgou matéria sobre
CT&I e o Jornal da Cultura, em maio de 2006, não era apresentado aos sábados.
Telejornal
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal
da Cultura
SBT
Brasil
Total
Geral
Tempo
total
25’51”
(7 blocos)
29’41”
(5 blocos)
26’12”
(5 blocos)
O telejornal
não foi
apresentado
21’37”
(4 blocos)
1h43’21”
Tempo
CT&I
2’ *** 3’49” *** 1’44” 7’33”
% Tempo
de CT&I
7,84% *** 13,36% *** 6,64% 7,10%
As matérias de CT&I dos telejornais
Três telejornais divulgaram matérias da área de CT&I nesse dia. O Jornal da Band levou ao
ar uma reportagem de 2 minutos sobre uma pesquisa norte-americana que concluiu que o
ronco pode ser uma característica hereditária. O Jornal da Record divulgou uma reportagem,
de 3 minutos e 49 segundos, que trata das tecnologias disponíveis para facilitar a vida dos
portadores de deficiência física. O SBT Brasil levou ao ar uma reportagem sobre o uso das
tecnologias de comunicação no ensino formal, que durou 1 minuto e 44 segundos.
Matérias de CT&I
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT Brasil
Ronco *** Tecnologias
para
deficientes
físicos
***
Tecnologias na
educação
A edição da Ciência nos telejornais
Telejornal: Jornal da Band
Matéria: Ronco (CD-Rom 2, página 10)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem sobre ronco tem abordagem interpretativa/analítica. Nesta reportagem, há
fontes testemunhais e especialista. A origem da pesquisa é internacional, mas as fontes são
nacionais. Não há identificação da origem institucional da pesquisa nem da origem
institucional da fonte especialista, no caso, uma médica brasileira. A fonte especialista fala do
198
local de trabalho e tem posição secundária na matéria, diante do espaço ocupado por outras
fontes. O discurso da cientista corrobora o discurso das outras fontes e também o da repórter.
A Ciência é o assunto principal da matéria, no entanto, esta é abordada de forma fragmentada,
pois não é informada a metodologia, nem a instituição que realizou a pesquisa, e não há nem
mesmo entrevista com algum pesquisador responsável pelo estudo. Nesta matéria, é usado o
recurso da exemplificação para facilitar a compreensão do assunto. A linguagem
predominante é clara e simplificada. A Ciência é apresentada de forma equilibrada, nem
elogiativa e nem depreciativa, mas como mais um estudo sobre ronco. O ambiente colabora
para a apreensão do conteúdo. A Ciência, a partir das imagens, é desarticulada do ambiente de
produção e do ambiente de recepção, mas é incorporada ao ambiente social. A imagem auxilia
na compreensão do processo científico envolvido. Há demonstração do processo científico
com imagens e palavras. Os elementos ilustrativos usados na matéria foram: esquemas e
desenhos. Essas ilustrações auxiliam na compreensão do processo científico.
Análise
O assunto principal desta reportagem gira em torno de uma pesquisa realizada nos Estados
Unidos, que sugere que o ronco pode ser uma característica hereditária. Um das marcas
principais dos discursos dessa matéria é a cautela em relação aos resultados da pesquisa. Na
abertura, a cautela ocorre com o anúncio do gancho pela apresentadora, que relativiza os
resultados da pesquisa e os compara a diversas outras explicações para o ronco. A
apresentadora afirma que essa é mais uma pesquisa sobre o ronco (“Há muitas explicações
para o ronco e a mais recente diz que pode ser hereditário”). O uso do verbo “pode” também
suscita incerteza sobre o resultado alcançado pelo estudo. Sendo assim, a pesquisa, de acordo
com a matéria, não traz nenhuma comprovação, nenhuma certeza. É só mais uma explicação,
uma hipótese.
Depois da abertura, a matéria se desenrola com off e sonoras com pessoas imitando o barulho
de ronco, com depoimentos de pessoas que roncam, sobre o barulho que outras fazem quando
roncam, sobre as pessoas que dormem perto ou junto de quem ronca, imagem de pessoas
roncando. Foi gasto 1 minuto e 9 segundos (ao longo de toda a matéria) para abordar o
comportamento e a imagem social de pessoas que roncam. Isso, embora curioso, de nada
contribui para o esclarecimento do assunto principal da matéria. Tudo o que as fontes avaliam
sobre ronco e sobre pessoas que roncam não acrescenta qualquer informação à pesquisa, que é
o que de novo traz (ou deveria trazer) a matéria. Esses discursos tanto de fontes
testemunhais como da repórter contribuem para tornar o assunto mais ameno, engraçado até,
mas tira o foco do assunto principal: o assunto principal não é o ronco, mas sim uma pesquisa
que afirma que o ronco pode ser hereditário.
Depois disso, é inserido o assunto principal, que ocorre em explicações da repórter (um off e
uma passagem) e uma sonora com uma médica. Toda a explicação científica, inclusive com
elementos ilustrativos, dura 35 segundos (sem contar o tempo da abertura da matéria, 13
segundos, que concentra enunciados sobre a pesquisa e também sobre o comportamento de
quem ronca), pouco tempo comparado aos 2 minutos totais de duração da matéria.
Nesses trechos dedicados realmente ao assunto principal, a incerteza está presente de diversas
formas. Em primeiro lugar, há pouquíssima informação sobre a pesquisa e sobre a instituição
que a realizou. A única informação oferecida é de que se trata de uma pesquisa realizada nos
Estados Unidos. No entanto, algumas informações (jornalísticas) essenciais para a noção da
real dimensão e importância da pesquisa estão ausentes, como por exemplo: Qual a instituição
199
que a realizou? Quando? Com que metodologia? A ausência desses dados reduz
significativamente a credibilidade da pesquisa.
No discurso da repórter, ao relatar o pouco de informação sobre a pesquisa, há novamente a
incerteza dos resultados, através do uso do verbo “pode” (“Uma pesquisa realizada nos
Estados Unidos indicou que o ronco pode ser uma característica de família e que filhos de
pais que roncam têm chances três vezes maiores de sofrer com o mesmo problema”).
Em seguida, a fonte especializada da matéria, apresentada como médica especialista em
medicina do sono, não participou da pesquisa. Ela foi chamada para explicar uma pesquisa
sobre a qual não teve participação, com isso, seu discurso foi ponderado para as possíveis
conclusões a que a pesquisa pode ter chegado. Também não há certeza no discurso da médica
quando ela fala dos resultados da pesquisa norte-americana.
A fonte especializada não fez parte da pesquisa e isso reforça a cautela de seu discurso ao
falar da pesquisa, que fica patente com o uso da expressão condicional “se” e da expressão “a
gente poderia estar herdando”. Diz a médica: “Se isso realmente for provado aí com certeza,
como nós herdamos muitas coisas dos nossos pais a gente poderia estar herdando essa
susceptibilidade também”.
Há, novamente, cautela entre a explicação dada pela médica para o ronco e o resultado da
pesquisa. Diz a repórter: “Especialista em medicina do sono, esta médica explica que o mais
provável é que o ronco seja causado por degeneração dos músculos da faringe o que dificulta
a passagem do ar e leva a respiração a fazer todo aquele barulho”.
Os esquemas empregados na matéria, como elemento ilustrativo, esclarecem como o ronco é
produzido pelo corpo humano, mas não fazem referência à pesquisa que é o assunto
principal, mas sim à existência do ronco. Dessa forma, os esquemas estão a serviço da
matéria, mas não da pesquisa, do assunto principal desta.
Pode-se concluir que, nesta reportagem, o assunto principal, que é científico, é relegado a
segundo plano para o de comportamento, face ao tempo dedicado à Ciência e à explicação
científica, ao número de fontes (foram dez fontes testemunhais falando sobre ronco e sobre
pessoas que roncam e apenas uma fonte especializada que pouco tinha a dizer sobre a
pesquisa), ao aprofundamento dos conteúdos, dos conceitos e dos dados sobre a pesquisa e
seus resultados. Pode-se aferir que a pesquisa, bem pouco divulgada na matéria, serviu apenas
como mote para uma matéria de comportamento, sem informações novas, já que a única
novidade da reportagem é a pesquisa sobre a relação entre ronco e hereditariedade.
Telejornal: Jornal da Record
Matéria: Tecnologias para deficientes físicos (CD-Rom 2, página 11)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem sobre tecnologias para deficientes físicos tem abordagem
interpretativa/analítica, já que explica não apenas o uso da Tecnologia, mas as circunstâncias
sociais e econômicas em que tais equipamentos são empregados. Há fontes testemunhais e
especialistas na matéria. Uma das fontes especialistas, Rubens Ribeiro, é apresentado como
deficiente físico e empresário. Rubens Ribeiro é a mesma fonte da matéria “Veículos
200
especiais para pessoas com dificuldades de locomoção”, apresentada pelo Jornal da Cultura,
no dia 24 de maio de 2005. Ele desenvolve equipamentos de locomoção para deficientes
físicos. Outra fonte especialista é o empresário Rodrigo Rosso, que apresenta as isenções de
impostos a que os deficientes têm direito. A matéria não trata de Ciência ou do
desenvolvimento de um aparelho em específico, mas de como a Tecnologia pode facilitar a
vida dos portadores de deficiência.
O assunto é nacional e não há indicação de nenhuma origem institucional das tecnologias
desenvolvidas, com exceção do empresário e criador de equipamento, Rubens Ribeiro. Não há
indicação do local de onde fala o empresário, mas, de acordo com as imagens, é possível
concluir que se trata de uma feira de exposições, pois se pode identificar, em um ambiente
amplo e fechado, vários estandes e pessoas andando, inclusive deficientes físicos. O discurso
do empresário tem posição secundária diante das outras fontes da matéria, mas que colabora
com o discurso de outras fontes e também com as informações da repórter. O assunto
principal da reportagem é Tecnologia. Essa abordagem se dá de forma contextualizada, já que
mostra tanto a importância dos aparelhos, quanto o modo com que eles funcionam e são
usados.
O recurso de linguagem predominante é a exemplificação. A linguagem usada prima pela
clareza e simplificação. A imagem do ambiente colabora para a apreensão do conteúdo. A
Tecnologia, nesta reportagem, aparece incorporada ao ambiente social, desarticulada do
ambiente de produção. Em determinados momentos, como por exemplo, quando é explicado o
funcionamento dos aparelhos, a imagem auxilia na compreensão do processo científico
envolvido. Dessa forma, há demonstração do processo científico com palavras e imagens. Não
há, nesta matéria, nenhum elemento ilustrativo.
Análise
A descrição de algumas situações enfrentadas pelos deficientes físicos no dia-a-dia das
cidades brasileiras conduz o desenvolvimento desta reportagem, que tem como assunto
principal as Tecnologias desenvolvidas para e à disposição dos deficientes físicos. A matéria
joga com a dualidade obstáculos versus alternativas surgidas com a Tecnologia. Isso pode ser
observado logo na abertura. Diz a apresentadora: “A vida de milhões de brasileiros é feita de
obstáculos, são os portadores de deficiência física. Mas a Tecnologia e a criatividade são
capazes de reescrever histórias de vida”. A Tecnologia é mostrada aqui como um facilitador,
um instrumento benéfico, capaz de mudar (para melhor) a vida dos portadores de deficiência.
Em diversas circunstâncias, a repórter mostra as dificuldades por que passam os deficientes na
cidade. Esse discurso refere-se às questões sociais envolvidas no assunto. São os deficientes
inseridos na sociedade.
Em seguida, para dar maior credibilidade à matéria, lança-se mão de números. Para
demonstrar a dimensão do problema e o número de pessoas afetadas, é mostrado um
levantamento do número de deficientes no Brasil, assim como a quantidade de pessoas que se
tornam deficientes no Brasil a cada dia. No entanto, a fonte de tal levantamento não é
apontada, o que diminui a credibilidade que poderia ser alcançada caso fosse divulgada a
instituição responsável por tal levantamento. Ao mostrar que, diariamente, pessoas se tornam
deficientes, a matéria trabalha com a função fática, ao chamar a atenção das pessoas que,
eventualmente, podem se tornar, de um dia para o outro, deficientes físicos e, com isso,
poderão necessitar dos recursos apresentados na matéria.
201
A fonte especialista da matéria aparece na posição de um empresário mas que oferece
informações ligadas à legislação específica para deficientes no que tange à redução e isenção
de pagamento de impostos. As informações do empresário fazem parte do conjunto de
números que dão credibilidade pela exatidão que representam. Esses números são
incontestáveis e estão na lei. São os números relacionados à questão social dos portadores de
deficiência.
Depois disso, a repórter relaciona os números apresentados às expectativas e demandas dessas
pessoas (“Com informações e números tão reais, esses 15% dos brasileiros aguardam por
novidades. A grande aliada nesses casos é a Tecnologia”). Diante da quantidade de brasileiros
portadores de necessidades especiais, a Tecnologia é a responsável por trazer mudanças. De
acordo com a reportagem, a Tecnologia é aliada dos deficientes na busca de melhorias para
suas condições de vida.
As fontes testemunhais, deficientes físicos, dão caráter humanizado à matéria. Os discursos da
repórter, ao se referir às fontes testemunhais, é carregado de expressividade. O ethos da
repórter (MAINGUENEAU, 2001), caracterizado como o tom que o enunciador dá ao seu
discurso ligado às representações coletivas (de caráter e de corporalidade) é o de
sensibilização com os problemas dos deficientes e de reconhecimento das melhorias advindas
com a Tecnologia. Diz a repórter: “O passeio na praia pode ficar mais agradável com uma
cadeira que usa rodas especiais que não derrapam na areia”. “Uma cadeira de rodas movida a
bateria, que supera obstáculos, própria para o uso na cidade devolveu a Rogério o direito de ir
e vir. A cadeira o ajuda a recuperar práticas simples como a de ficar em pé”.
Os discursos das fontes testemunhais criam efeitos de sentido ligados à expressividade: eles
vencem obstáculos, seus sentimentos vão da emoção aos aspectos mais práticos ligados à
locomoção no dia-a-dia. Diz uma das fontes testemunhais: “Eu tenho liberdade, como eu tava
falando a pouco. Passeio com o meu menino no shopping, pego o metrô, faço meu tratamento
médico. Vou pra onde eu quiser”. As imagens mostram pessoas com deficiência física
praticando diversas atividades físicas, o que ressalta o caráter de vencer obstáculos, superar
limites impostos também pela sociedade. A Tecnologia vem, na matéria, contribuir para a
superação de tais limites.
A matéria ressalta o caráter social que envolve o desenvolvimento tecnológico. A Tecnologia
é mostrada como benéfica e útil. A matéria joga com o tom otimista quando trata da
Tecnologia e pessimista quando aborda os problemas sociais enfrentados pelos deficientes
físicos. Tal abordagem propicia a criação de efeitos de sentidos ligados ao envolvimento da
Tecnologia (e dos profissionais que desenvolvem tais produtos) com a vida das pessoas e, em
particular, das que requerem equipamentos especiais para a execução de tarefas rotineiras.
Na conclusão, ressalta-se a função expressiva ao abordar numa esfera mais ampla como a
Tecnologia é capaz de mudar a vida das pessoas com deficiência física. Diz uma fonte
testemunhal: “Muitas vezes a gente acha que a vida acabou e não é bem assim que acontece.
Muita gente que tá fora de uma cadeira de rodas até acha: a vida acabou, mas a vida não
acabou, a vida só começou”.
202
Telejornal: SBT Brasil
Matéria: Tecnologias na educação (CD-Rom 2, página 12)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem sobre Tecnologias na educação tem abordagem interpretativa/analítica, já que
buscou-se relacionar a influência das novas Tecnologias de Informação no processo educativo
formal. A matéria apresenta fontes testemunhais e especialista. Não se trata de uma
reportagem sobre pesquisa científica, mas de Tecnologia. O “gancho” é o uso das Tecnologias
de comunicação na educação formal, mais especificamente no Brasil (em São Paulo). A fonte
especialista é apresentada como gestor de negócios e possui posição discursiva secundária na
matéria frente às fontes testemunhais. Não se pode identificar o local de onde a fonte
especialista fala. Dá-se maior espaço e inserção no jogo dialógico às fontes testemunhais, no
caso crianças e adolescentes que usam as Tecnologias de Informação na escola. O discurso da
fonte especialista corrobora os discursos da repórter e também das outras fontes. A
Tecnologia é o assunto principal da reportagem.
A abordagem ocorre de forma contextualizada, já que apresenta o local onde a Tecnologia é
empregada, no caso, uma escola. No entanto, a matéria cita uma feira de Tecnologia para
educadores em São Paulo que não recebe nenhuma contextualização na matéria, nem com
palavras e nem com imagens. Nesta matéria é empregada a exemplificação como recurso de
linguagem. A linguagem tem a clareza e a simplificação como pontos fortes. A Tecnologia é
apresentada de forma elogiativa, como um diferencial e um benefício ao processo de ensino-
aprendizagem.
O ambiente, nesta reportagem, colabora para a apreensão do conteúdo. A Tecnologia é
incorporada ao ambiente de recepção, mas é desarticulada do ambiente de produção. As
imagens auxiliam na compreensão do uso das Tecnologias. Há demonstração com palavras e
imagens do uso que é feito das Tecnologias de Informação no processo educativo, entretanto,
não há demonstração do processo de desenvolvimento dessas tecnologias, já que não é este o
foco da matéria. Dos elementos ilustrativos, a matéria emprega a vinheta, no entanto, as
imagens de computador e de telão, mostradas na matéria, mesmo não se tratando de recursos
desenvolvidos pelo telejornal, mas apresentados, provavelmente, na feira mencionada na
matéria, também são importantes referências para a compreensão do conteúdo.
Análise
Esta reportagem tem como foco o uso das Tecnologias de Informação no processo de ensino
formal. São dois os ambientes em que os discursos se desenrolam. Um deles é uma feira para
educadores em São Paulo, que não recebeu nenhuma outra referência na matéria. O outro é
um colégio também de São Paulo.
O apresentador anuncia, na abertura da reportagem, que os tradicionais instrumentos
utilizados na educação estão sendo substituídos por outros na “era digital” e que, com isso,
aprender fica mais divertido e os alunos já estão familiarizados com a nova Tecnologia. Diz
ele: “Na era digital, estudar está mais divertido. Livros e apostilas estão sendo substituídos
por equipamentos de alta Tecnologia, um universo que a garotada trata com muita
intimidade”. O discurso do repórter deixa implícito que estudar sem os recursos digitais não é
tão divertido.
203
O desenvolvimento da reportagem baseia-se na troca dos materiais usados na escola até então
(como caderno, apostilas, lousa e giz) por novos (computadores, Internet, notebooks, telões de
alta resolução, simuladores de vôo). Ao longo de toda a matéria são construídos sentidos que
levam à comparação dos “velhos” métodos de ensino com os novos, com ampla vantagem
para esses últimos.
Essa substituição é tratada na matéria de forma positiva, mais agradável para o aluno e mais
eficiente para o aprendizado, pois proporciona maior interatividade em comparação aos
métodos tradicionais. O benefício ressaltado na matéria pode ser observado no seguinte trecho
da abertura: “Na era digital, estudar está mais divertido”. Em outro momento, a repórter
compara um equipamento tecnológico que pode ser empregado no processo de ensino a um
brinquedo de parque de diversões, comparando a educação com a brincadeira e o lazer. Diz
ela: “O simulador de vôo poderia estar num parque de diversões, mas o lugar dele é na sala de
aula. O aluno viaja no conhecimento”. Uma aluna afirma: “Aprende se divertindo. É muito
mais legal assim”. Pode-se aferir que a matéria constrói efeitos de sentido de que aprender
não é divertido.
Apenas o lado negativo do ensino tradicional é ressaltado, como no discurso da fonte
especialista (gestor de negócios). Diz ele: “O aluno tem a possibilidade de compreender,
contextualizar um determinado tema sem que haja a famosa decoreba”.
É importante salientar que tal comparação não surge com a reportagem, que reproduz uma
certa visão corrente na sociedade.
O fato é que, independentemente da época, linha filosófica, posição política, muitos
autores, em suas análises da instituição escolar, preocupam-se com a crítica ao seu
aspecto formalista, asséptico, distanciado da realidade do aluno, estéril e/ou
enfadonho. Ao fazê-lo, indicam que sempre houve a preocupação de que a escola
pudesse ser de alguma maneira um local de prazer, onde a criança passasse o seu
tempo naquele espaço, sentindo a satisfação de conhecer e de estar ali, vivenciando
seu processo de conhecimento (GUIMARÃES, 2001, p. 18).
Não há nenhuma indicação de que a fonte “gestor de negócios” seja especialista em educação,
professor ou que compreenda o processo de ensino-aprendizagem. Nota-se, nesse caso, uma
substituição de uma fonte especialista por outra fonte muito provavelmente ligada à área
comercial (como sugere a apresentação gestor de “negócios”). O gestor de negócios, a partir
do ambiente em que se insere, está na feira de Tecnologia para educadores. No entanto, seu
discurso traz um conteúdo de uma fonte especializada. Será realmente que os novos
instrumentos tecnológicos na educação revolucionam o processo de ensino? Será que os
métodos tradicionais são apenas baseados em decoreba? Ocorre, a partir dos discursos do
repórter e da fonte “gestor de negócios”, uma desqualificação da educação enquanto
construção do conhecimento.
Considerando-se que o processo de ensino é formado pelo educador e pelo educando em
processo de integração (FREIRE, 1997), esta matéria desconsidera um dos pólos. Não há
nenhuma entrevista com professor para avaliar a visão deste sobre tais equipamentos, para
saber se está preparado e sabe usá-los, levando-se em conta que muitos professores não
dominam as Tecnologias de Informação e, portanto, de nada adianta a escola disponibilizá-las
se o professor não souber usá-las de forma eficiente. Dessa forma, ao desprezar a figura do
professor (ele é citado na matéria apenas como um “apertador de botão”), a matéria também
desconsidera seu papel enquanto mediador entre o conhecimento e a realidade do aluno. A
204
Tecnologia, na matéria, substitui o professor, que faz parte do processo, dos instrumentos
antigos de ensino, em oposição à Tecnologia.
A ausência de fontes especialistas no assunto é um ponto a ser destacado nesta matéria. Ainda
sobre fontes especializadas, a matéria não traz o depoimento de algum professor que emprega
tais instrumentos, que seja a favor ou contra o uso desses. Também não há nenhuma fonte
oficial da escola que avalie a importância da aquisição e de uso dessa Tecnologia na escola,
bem como os motivos que levam um colégio a investir em tais equipamentos. Ao ocultar
(ORLANDI, 2002), a matéria desconsidera os aspectos políticos, econômicos e sociais que
envolvem a educação (pública ou privada) no país.
Não há também uma discussão mais ampla, e essencial, nessa matéria, que contextualize qual
o tipo de escola que têm adotado tais instrumentos. A matéria oculta se se trata de um colégio
público ou particular. De qualquer forma, fica implícito que tais equipamentos têm um custo
alto que apenas escolas particulares e mesmo assim nem todas elas podem adquiri-los. Com
isso, cria-se na matéria o sentido de que a escola no geral, tanto pública como privada, tem
usado equipamentos tecnológicos no ensino. A matéria despreza as deficiências e
precariedades do ensino público e trata o sistema de ensino de modo uniforme, como se fosse
homogêneo.
Mesmo na passagem em que a repórter avalia que nem todas as escolas usam esses
equipamentos, ela ressalta que a presença destes se torna cada vez mais obrigatória, como se
essa obrigação fosse suficiente para a adoção. Nenhuma menção é feita aos entraves
econômicos, políticos e sociais que impedem a tão propagada “inclusão digital” (“Parece
filme de ficção científica mas o futuro já chegou a algumas escolas do país e cada vez mais a
Tecnologia é presença obrigatória na educação de quem já nasceu na era digital”). O sentido
que se cria é de que a adoção ocorre de forma casual. Ela despreza os reais motivos que
impedem que escolas públicas tenham tais equipamentos, como se ter ou não esses
equipamentos dependesse tão-somente da vontade das escolas e de seus dirigentes. Ao afirmar
que o “futuro” já chegou em algumas escolas, a repórter deixa claro que outras ainda vivem
no passado, tendo em vista que o “futuro” da matéria é o tempo presente.
Em seguida, a repórter compara o giz a algo sujo, que suja a mão das crianças. Diz a repórter:
“Essa turminha desenha na lousa mas não se suja de giz. É normal. Aos 6, 7 anos todo mundo
aqui tem intimidade com o computador”. A comparação do giz com sujeira cria o sentido de
que, além de ultrapassado, um instrumento que há muito tempo é empregado pelo professor
para escrever na lousa e desenvolver sua aula, é sujo. Considerando o giz uma extensão da
mão do professor e meio de exteriorização de seu conhecimento e de suas idéias, ao comparar
o giz com sujeira e sugerir que, naturalmente, ele pode ser substituído pelo computador, que
não tem a atuação tão direta do professor, novamente o papel do professor é desprezado
diante das novas Tecnologias. Na matéria, o giz provoca sujeira, suja o aluno e, por isso, pode
ser abandonado e substituído pelo computador, esse sim limpo.
A repórter prossegue na sua comparação, dessa vez na hora do intervalo, em que as
brincadeiras tradicionais, caracterizadas como “velhas”, também dividem espaço com
“brincadeiras tecnológicas” (“Na hora do intervalo, além da bola e da velha brincadeira com
as figurinhas, sempre tem gente conectada na rede sem fio, que o colégio instalou até no pátio
do recreio”). Ressalta-se, com isso, a amplitude que a Tecnologia na escola pode tomar. Além
das aulas, a Tecnologia está presente no momento de lazer e recreação na escola: a
205
Tecnologia (benéfica) aproxima educação e lazer, representados na matéria como diferentes
já que a educação, na matéria, se distancia do lazer e da diversão.
No final da matéria, usa-se um exemplo de uma criança sorridente, que desenha, em uma
lousa digital, e expressa o amor que sente pela mãe. Com isso, a matéria é finalizada criando o
sentido de que, além de conhecimento, diversão e facilidades de aprendizado, a Tecnologia
aproxima as pessoas e não bloqueia os sentimentos.
Ao passar pelo padrão de ocultação da informação destacado por Abramo (2003), esta matéria
apresenta a Tecnologia desconectada da realidade social, por isso manipula a informação. De
acordo com Orlandi (2001), o discurso da televisão apresenta-se sem historicidade, sem
deixar espaço para a interpretação: os sentidos são formulados, mas não passa pela
constituição de novos sentidos.
Comparações entre as matérias: a função educativa
Na reportagem do Jornal da Band intitulada “Ronco”, o assunto principal, que é científico,
foi suplantado por um assunto de comportamento. A matéria pouco esclareceu sobre a
pesquisa que indicava que o ronco poderia ser hereditário. A pesquisa foi empregada apenas
como o ponto de partida para a matéria de comportamento, que apresentou poucas
informações novas e que pouco contribuiu para uma melhor compreensão das pesquisas sobre
sono e saúde humana.
Na reportagem do Jornal da Record sobre “Tecnologias para deficientes físicos” empregou-se
os seguintes recursos para tornar a matéria interessante para o público e de fácil compreensão:
a) apresentar (inclusive com imagens do cotidiano das cidades) os principais problemas
enfrentados pelos deficientes físicos;
b) mostrar a extensão do problema (com a ajuda de números ressaltados em caracteres na
tela);
c) relacionar as Tecnologias à vida das pessoas;
d) mostrar os benefícios da Tecnologia;
e) mostrar pessoas usando os produtos;
f) explicar como os produtos funcionam.
No caso da reportagem do SBT Brasil sobre “Tecnologias na Educação”, utilizou-se os
seguintes procedimentos para atrair a atenção do público:
a) uso de imagens da Tecnologia aplicada na educação;
b) depoimento de crianças interessadas e se divertindo com o uso dos equipamentos;
d) relaciona a educação ao lazer;
e) compara o ensino com e sem o uso de recursos tecnológicos.
Por outro lado, a matéria não valoriza instrumentos e métodos do ensino formal já
sedimentados e, além disso, não há fontes especialistas que poderiam avaliar as repercussões
do uso da Tecnologia no processo de ensino-aprendizagem. A matéria também não relativiza
o alcance que esses equipamentos têm nas escolas brasileiras: despreza os problemas dos
insuficientes investimentos públicos em educação para o emprego dessas Tecnologias (a
matéria mostra adolescentes usando laptops no recreio e não situa a escola como fazendo
parte do ensino privado, como se esse fato não fosse determinante para a adoção desse
equipamento face à situação do ensino público brasileiro). Com isso, a matéria tem o mérito
de mostrar que a Tecnologia pode e está presente no ensino, mas é parcial, ao ocultar outras
206
opiniões sobre o assunto e também pela falta de contextualização do assunto. É importante
ressaltar que a procedência de tais equipamentos e o processo de desenvolvimento dessas
Tecnologias também foram ocultados da matéria. Isso tudo posto, é possível avaliar que a
reportagem pouco contribui para a Compreensão Pública da Ciência. A matéria consegue, no
entanto, atualizar as informações sobre o assunto para o público em geral.
Dia 15 de maio de 2006
Principais acontecimentos noticiados pelos telejornais
Aparecem as seguintes editorias nos respectivos telejornais nesse dia:
Jornal da Band: Cidades, CT&I, Esportes e Segurança. A editoria de CT&I, nesta edição,
apresentou uma nota coberta sobre um carro movido a energia solar, desenvolvido no Irã.
Jornal Nacional: Esportes, Política, Previsão do Tempo e Segurança. Não houve matéria,
nesta edição, na editoria de CT&I.
Jornal da Record: Editorial, Esportes, Internacional, Política e Segurança. A editoria de CT&I
não veiculou matéria nesta edição do telejornal.
O Jornal da Cultura dedicou edição especial à editoria de Segurança.
SBT Brasil: Esportes e Segurança. Na editoria de CT&I, não foi veiculada nenhuma matéria.
Depois de um fim de semana de rebeliões em vários presídios do Estado de São Paulo e de
atentados a delegacias e policiais em várias cidades, os telejornais estudados dedicaram suas
edições exclusivamente ao assunto. Outro assunto que figurou nos telejornais foi a
divulgação, pelo técnico Parreira, dos jogadores da Seleção para a Copa do Mundo.
As editorias de cada telejornal podem ser visualizadas na tabela a seguir:
Principais editorias
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT Brasil
Cidades == == == ==
CT&I == == == ==
== == Editorial == ==
Esportes Esportes Esportes == Esportes
== == Internacional
== ==
== Política Política == ==
==
Previsão do
Tempo
== == ==
Segurança Segurança Segurança Segurança Segurança
207
Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I
No dia 15 de maio de 2006 foram divulgadas 2 horas, 51 minutos e 26 segundos de
programação jornalística entre os telejornais investigados. Desses, o Jornal da Band foi o
único a divulgar matéria de CT&I. Este telejornal teve duração de 34 minutos e 28 segundos.
Desse tempo, 41 segundos, apenas, foram dedicados a CT&I.
Telejornal
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal
da Cultura
SBT
Brasil
Total
Geral
Tempo
total
34’28”
(6 blocos)
42’10”
(4 blocos)
36’32”
(3 blocos)
36’47”
(5 blocos)
21’29”
(4 blocos)
2h 51’26”
Tempo
CT&I
41” *** *** *** *** 41”
% Tempo
de CT&I
1,20% *** *** *** *** 0,24%
As matérias de CT&I dos telejornais
Houve apenas uma matéria de CT&I, nesse dia, entre os telejornais estudados. Trata-se de
uma nota coberta, com duração de 41 segundos, veiculada no Jornal da Band. A matéria, da
área de Tecnologia, é sobre o projeto do primeiro carro movido a energia solar construído no
Oriente Médio, mais especificamente no Irã.
Matérias de CT&I
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT Brasil
Carro movido a
energia solar
do Irã (nc)
*** *** *** ***
A edição da Ciência nos telejornais
Telejornal: Jornal da Band
Matéria: Carro movido a energia solar do Irã (CD-Rom 2, página 13)
Formato: Nota coberta
Descrição
A nota coberta sobre o primeiro carro movido a energia solar do Oriente Médio tem
abordagem interpretativa/analítica, pois relaciona o desenvolvimento da Tecnologia às esferas
política e econômica daquele país. Não há fontes na nota coberta. A origem da pesquisa é
internacional, do Irã, realizada pela Universidade de Teerã. Nessa nota coberta, Tecnologia é
o assunto principal. A abordagem do assunto ocorre de forma contextualizada, já que
apresenta as características do carro e a forma como este foi desenvolvido. Definição foi o
recurso de linguagem empregado nesta matéria. A linguagem é clara e simplificada. A
Tecnologia é apresentada de forma elogiativa. O ambiente da nota coberta não causa impacto
significativo sobre a apreensão do conteúdo. A Tecnologia é incorporada ao ambiente social,
mas desarticulada do ambiente de produção. Não há demonstração do processo envolvido.
208
Vinheta do mapa do Irã foi o único elemento ilustrativo usado na matéria. Este elemento não
interfere significativamente na compreensão do conteúdo científico envolvido na matéria.
Análise
O foco principal desta nota coberta não é simplesmente o desenvolvimento de um carro
movido a energia solar projeto já desenvolvido em diversos outros países, inclusive no
Brasil. O gancho é a oposição entre o projeto do carro e as tendências econômicas e políticas
do Irã. Diz o apresentador: “Quando todos se preocupam com a ameaça de uma bomba
atômica, o Irã surpreende o mundo. O país, que também tem petróleo para dar e vender,
apresenta um projeto politicamente correto”. Naquele momento, o Irã desafiava a ONU
(Organização das Nações Unidas) e os Estados Unidos ao produzir e manter em seu país a
bomba atômica. A primeira oposição está nesse aspecto: um país que produz bomba atômica,
considerada politicamente incorreta, porque é capaz de destruir, provocar mortes e devastar o
meio ambiente, também é capaz de surpreender o mundo ao desenvolver um projeto de carro
politicamente correto, porque a energia solar é uma das menos poluentes e baratas entre todas
as formas de energia.
A opção econômica do Irã, que tem sua base na extração e venda de petróleo, energia não-
renovável, poluente e cara, também ocasiona outra dualidade entre o que se espera do Irã e o
projeto do carro. A matéria mostra outra oposição nesse feito: um país que tem suas riquezas
com base no petróleo desenvolve o projeto de um carro movido a energia solar, que dispensa
o petróleo.
Enquanto o discurso de apresentação trata dessa dualidade, o discurso em off trata das
circunstâncias em que o projeto foi feito e também da dimensão de tal projeto no Oriente
Médio. Diz o apresentador: “É o primeiro carro movido a energia solar construído no Oriente
Médio. O veículo, chamado de Gazal Iraniano, começou uma viagem de sete dias, da capital
Teerã à cidade de Sparran, no centro do país”. Mesmo sem contar com entrevistas, a matéria
procura contextualizar a pesquisa, anunciando a instituição responsável, no trecho: “Este será
o teste final para o protótipo desenvolvido por alunos de Mecânica da Universidade de
Teerã”. Além disso, os aspectos técnicos que envolveram o projeto (suas características
básicas e os recursos que este disponibiliza) também foram citados, de forma clara e objetiva
e sem demonstrações, mas com a imagem do carro parado e em movimento. Diz o
apresentador: “O veículo solar pesa 400 quilos e pode chegar a 100 quilômetros por hora.
Duas baterias foram instaladas no automóvel, para que a autonomia não seja afetada em dias
nublados”. A ausência das fontes especializadas nesta matéria foi suprida pelo detalhamento,
mesmo que sucinto, do apresentador. Tal explicação pôde esclarecer, com sucesso, diante do
pouco espaço e tempo dedicado à matéria, algumas das questões envolvidas no projeto do
carro.
Uma especificação maior sobre o projeto, nesse caso, poderia ser mesmo dispensada, já que
não se trata de uma pesquisa nova. Além disso, ao chamar a atenção para os aspectos políticos
e econômicos que envolvem o Irã e mostrar um outro lado do país e de seus pesquisadores,
não convencionalmente divulgado pelos meios de comunicação, esta matéria insere, breve e
claramente, dois assuntos polêmicos e atuais baseando-se em um assunto da área de CT&I.
A Tecnologia, nesta matéria, foi empregada para suscitar a abordagem diferenciada sobre o
Irã: ao mesmo tempo em que os iranianos usam CT&I para produzir a bomba atômica que é
sinônimo de guerra e destruição também é capaz de produzir veículos a partir de energia
“limpa”, segura, barata e, até então, alternativa. A visão da Ciência e dos cientistas/técnicos
209
nessa nota coberta é positiva, pois eles são capazes de produzir “Tecnologias boas,
politicamente corretas”, a guisa das polêmicas que envolvem os investimentos em pesquisa e
desenvolvimento da bomba atômica no país.
O telejornal relacionou, de forma clara e objetiva, dois assuntos pouco tratados até então nas
matérias de CT&I dos telejornais estudados (com exceção da reportagem “Estudo Márcio
Pochmann”, do Jornal da Record, de 11 de maio de 2005): CT&I e política. Os sentidos que
são criados a partir da matéria dizem respeito a uma visão menos “contaminada
politicamente” da Ciência e dos próprios cientistas no Irã: os estudantes de Mecânica da
Universidade de Teerã tiveram apoio institucional para a elaboração de um protótipo de um
carro movido a energia solar, o que segue na contramão do principal produto da economia do
país, o petróleo, que dá origem aos principais combustíveis dos veículos do mundo todo
(gasolina e diesel). A própria expressão facial do apresentador denota a surpresa (positiva)
com o projeto. A imagem do veículo na rua, funcionando, cercado de pessoas do povo
também cria sentidos que remetem ao apoio social, ao entusiasmo e à credibilidade depositada
pela população naquela Tecnologia.
Essa nota coberta evidencia a interdiscursividade (BAKHTIN, 1997) na mídia: os efeitos de
sentido são constituídos a partir do (no meio) do já-dito sobre o Irã. A matéria não exclui, não
silencia os discursos de representação do Irã, mas os incorpora. A nota coberta designa um
lugar para os outros discursos veiculados pela mídia sobre o Irã.
Dia 17 de maio de 2006
Principais acontecimentos noticiados pelos telejornais
Nesse dia, foram as seguintes editorias que constaram nos respectivos telejornais:
Jornal da Band: CT&I, Cultura, Economia, Esportes, Polícia/Justiça, Política, Previsão do
Tempo e Segurança. A editoria de CT&I, nesta edição, apresentou uma reportagem sobre
Tecnologias para prever tornados.
Jornal Nacional: CT&I, Economia, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça Política, Previsão
do Tempo e Segurança. Houve duas matérias, nesta edição, na editoria de CT&I: uma nota
simples sobre a conclusão do mapeamento do genoma humano e uma reportagem sobre uma
pesquisa do IBGE sobre segurança alimentar.
Jornal da Record: CT&I, Economia, Educação, Esportes, Internacional,
Polícia/Justiça,Política, Previsão do Tempo e Segurança. A editoria de CT&I veiculou
reportagem sobre a pesquisa do IBGE sobre segurança alimentar.
Jornal da Cultura: Cultura, Economia, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça, Política,
Previsão do Tempo e Segurança. Não houve matéria de CT&I na edição.
SBT Brasil: Cidades, CT&I, Comportamento, Cultura, Economia, Esportes, Internacional,
Polícia/Justiça, Política, Previsão do Tempo e Segurança. Na editoria de CT&I, foi veiculada
reportagem sobre a pesquisa do IBGE sobre segurança alimentar.
A crise da segurança no Estado de São Paulo e na capital e as repercussões do atentado ainda
foram os principais assuntos tratados pelos telejornais no dia 17 de maio, quarta-feira. No
210
entanto, além disso, outras pautas figuraram nos programas. Um deles foi sobre a Operação
Sanguessuga, de fraude de licitações de ambulâncias, da editoria de Polícia/Justiça
Na editoria de Esportes, destaque para os jogadores da Seleção Brasileira da Copa do Mundo.
Outro assunto foi a repercussão, no Festival de Cannes, do filme “Código da Vinci”.
A tabela abaixo mostra a presença das editorias em cada um dos telejornais:
Principais editorias
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT Brasil
CT&I CT&I CT&I == CT&I
== == == == Cidades
== == == == Comportamento
Cultura == == Cultura Cultura
Economia Economia Economia Economia Economia
== == Educação == ==
Esportes Esportes Esportes Esportes Esportes
== Internacional Internacional Internacional Internacional
Polícia/Justiça Polícia/Justiça
Polícia/Justiça Polícia/Justiça Polícia/Justiça
Política Política Política Política Política
Previsão do
Tempo
Previsão do
Tempo
Previsão do
Tempo
Previsão do
Tempo
Previsão do
Tempo
Segurança Segurança Segurança Segurança Segurança
Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I
O Jornal da Band teve duração de 31 minutos e 38 segundos. Desse tempo, 2 minutos e 34
segundos foram sobre CT&I. O Jornal Nacional durou 22 minutos e 47 segundos, dos quais 5
minutos e 16 segundos trataram de CT&I. O Jornal da Record foi exibido em 30 minutos e 30
segundos, dos quais 1 minuto e 39 segundos sobre CT&I. O Jornal da Cultura não apresentou
matérias de CT&I nesta edição. Já o SBT Brasil teve duração de 29 minutos e 4 segundos e,
desse tempo, 1 minuto e 41 segundos foram de matérias sobre CT&I.
Telejornal
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal
da Cultura
SBT
Brasil
Total
Geral
Tempo
total
31’38”
(6 blocos)
22’47”
(4 blocos)
30’30”
(4 blocos)
24’42”
(4 blocos)
29’04”
(4 blocos)
2h 18’41”
Tempo
CT&I
2’34” 5’16” 1’39” *** 1’41” 11’10”
% Tempo
de CT&I
7,46% 22,96% 4,59% *** 4,86% 8,02%
As matérias de CT&I dos telejornais
O dia 17 de maio, quarta-feira, foi o que apresentou o maior número (em quantidade) de
matérias de CT&I da amostra de 2006. Foram cinco ao todo. O Jornal da Band levou ao ar
uma reportagem de 2 minutos e 34 segundos sobre as Tecnologias desenvolvidas nos Estados
Unidos para prever tornados.
211
O Jornal Nacional publicou uma nota, de 39 segundos, sobre o final do seqüenciamento do
genoma humano e uma reportagem, de 4 minutos e 37 segundos, sobre uma pesquisa do
IBGE sobre segurança alimentar. As duas matérias de CT&I foram concentradas em um
mesmo bloco.
O Jornal da Record e o SBT Brasil também publicaram reportagem sobre a mesma pesquisa
do IBGE. No caso do Jornal da Record, a duração da matéria foi de 1 minuto e 39 segundos
enquanto que a do SBT Brasil durou 1 minuto e 41 segundos.
Matérias de CT&I
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT Brasil
Tecnologia
para prever
tornados
Conclusão do
estudo do
genoma humano
(nota)
Pesquisa
IBGE:
segurança
alimentar
***
Pesquisa IBGE:
segurança
alimentar
*** Pesquisa IBGE:
segurança
alimentar
*** *** ***
A edição da Ciência nos telejornais
Telejornal: Jornal da Band
Matéria: Tecnologia para prever tornados (CD-Rom 2, página 14)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem sobre Tecnologia para prever tornados tem abordagem interpretativa/analítica,
pois busca-se relacionar o trabalho da equipe de pesquisa ao fenômeno meteorológico que
afeta a sociedade norte-americana. Nessa matéria há fontes testemunhal e especialista. O
trabalho de pesquisa é realizado por um instituto público internacional, no caso, norte-
americana. A fonte especialista, o pesquisador, fala de seu local de trabalho e ocupa posição
discursiva secundária em relação à fonte testemunhal. O discurso do cientista corrobora o
discurso da repórter e também do da outra fonte. Nesta matéria, a Tecnologia é assunto
principal, abordada de forma contextualizada. O principal recurso de linguagem empregado é
a exemplificação. A linguagem predominante é clara e simplificada. A imagem colabora para
a apreensão do conteúdo. A Tecnologia é articulada ao ambiente de produção desta. A
imagem auxilia na compreensão do processo científico envolvido. Há também demonstração
do funcionamento do laboratório com imagens e palavras. A vinheta é o único elemento
ilustrativo usado na matéria. Ela não causa grande impacto na compreensão dos conceitos
científicos.
Análise
A matéria faz parte de uma série que tem como título “os caça-tornados”. A repórter, que na
época era responsável pela Previsão do Tempo, esteve nos Estados Unidos para explorar o
assunto. Nem todas as reportagens da série abordaram o assunto sob a perspectiva da Ciência
e da Tecnologia. Nesta matéria, especificamente, foi abordada a Tecnologia desenvolvida nos
Estados Unidos para prever tornados.
212
Na abertura, o apresentador procura criar um ambiente familiar na matéria, tentando
aproximar a repórter dos telespectadores. Para isso, o apresentador usa pronomes na primeira
pessoa do plural (a nossa editora do tempo, nos manda notícias) e também expressão pessoal
que cria expectativa e envolve o público (imaginem só). A expressão facial e o tom de voz do
apresentador também colaboram para a expectativa, a surpresa e a intimidade que se quer
criar na matéria. Além disso, o apresentador cria sentidos de representação da repórter como
uma “desbravadora”, “aventureira”: Depois de um tempo sumida, ela deu notícias dos Estados
Unidos para onde foi “caçar” tornados. O uso de termos “sempre à procura” e “para caçar
tornados” reforçam esse sentido. É possível observar que o uso desses termos tem função
fática (JAKOBSON, 1995), ao procurar chamar a atenção do (e envolver o) público para a
matéria.
Com a inserção do discurso da repórter têm início a descrição e a contextualização do modo
de vida em uma típica cidade norte-americana (“Esquilos brincando na grama, pássaros, casas
e pouquíssimos prédios. Esta é a calma Oklahoma, no meio oeste americano. Uma cidade de 1
milhão de habitantes onde é raro ver alguém na rua que não esteja dirigindo. Aqui não há
ônibus. Todo mundo usa carro, até para brincar ou regar o jardim”).
Contrastando com toda a paz e tranqüilidade está o fato de a cidade ser atingida por tornados.
O tornado é o problema; não é só um fenômeno da natureza, cria problemas porque acaba
com a paz dos moradores e destrói. Os tornados são descritos na matéria como forças
incontroláveis. Não são apenas forças da natureza e que existem muito antes do surgimento da
cidade. Não é a cidade que foi construída numa área susceptível a tornados. É o tornado que
passa e devasta a cidade. A representação da natureza, de um fenômeno natural, não é
mostrada como algo inserido na sociedade. Mesmo que as pessoas tenham que conviver com
os tornados, ele é um problema cujo aparecimento deve ser controlado, previsto. As pessoas
são suas vítimas.
Uma das vítimas é o homem entrevistado que tenta se prevenir das tempestades. A ele e a
todos os moradores da cidade só resta se prevenirem dos tornados (Repórter: “Jerry Coop
mora em Oklahoma desde que nasceu, há 72 anos, e conta que só há uma coisa capaz de
atrapalhar a rotina tranqüila do interior dos Estados Unidos onde o tempo parece não passar:
tempestades. E são muitas. Não existe lugar no mundo onde ocorram com tanta freqüência
quanto no chamado Tornado Valley, ou Vale dos Tornados. Uma enorme planície de 2.400
quilômetros que cruza o país de norte a sul. Até nos aeroportos o alerta está grudado nas
paredes. Os banheiros servem como abrigo no caso de um tornado. Mas é difícil encontrar
uma casa protegida. Jerry disse que tem lareira para enfrentar o inverno, mas nunca teve
dinheiro para construir um quarto à prova de tempestades”).
Resta ao homem a ajuda da Ciência e Tecnologia, que faz a Previsão do Tempo e indica a
possível aproximação de um tornado. Prossegue a repórter: “Ele se previne assistindo à
previsão do tempo na TV e as informações que vêm de Norman, uma cidade a pouco mais de
30 quilômetros de Oklahoma”. As pessoas estão sujeitas a danos materiais e físicos
ocasionados por um fenômeno da natureza. Não resta alternativa, a uma pessoa que não tenha
dinheiro, que não seja confiar na Ciência e na Tecnologia.
A partir daí o ambiente da matéria muda. A repórter é mostrada no Centro Nacional de
Tempestades Severas, onde as pesquisas sobre a ação de tornados, único meio de as pessoas
se prevenirem, são realizadas. A Tecnologia é mostrada, nesta matéria, intrinsecamente
213
relacionada às necessidades das pessoas e de extrema utilidade, já que a segurança e até a vida
das pessoas dependem das previsões do Centro.
A expressão facial e também o tom de voz mostram uma repórter tranqüila, segura quanto à
atuação dos pesquisadores: mesmo com o perigo representado pelos tornados, as pessoas
podem ficar seguras porque a equipe é capaz de prever o problema. Os equipamentos são
modernos; há supercomputadores que atendem todo o país e os técnicos, além de
especialistas, são apaixonados pelo assunto. Tudo isso dá credibilidade à Tecnologia. Por
esses motivos, a Tecnologia é eficaz e as pessoas podem ficar tranqüilas, seguras. Há o lado
racional (da Tecnologia) mas há também o lado humano do pesquisador, de dedicação ao
trabalho. Esses itens são valorizados na matéria como um acréscimo à Tecnologia em si, que
traz segurança a quem depende dela.
A explicação técnica dos equipamentos são dados com o objetivo de mostrar a grandiosidade
da infra-estrutura do local, mas não houve preocupação com o modo de funcionamento dos
equipamentos. Diz ela: “São 122 radares como este, espalhados pelo país, que enviam dados
em tempo real para supercomputadores”. A imagem da repórter junto aos equipamentos
contribuiu para a mostrar a presença dela junto à Tecnologia: ela viu e mostrou o tamanho dos
equipamentos. Também não se empregou qualquer ilustração para explicar como os radares
ou os supercomputadores funcionam: os enunciados dependentes do ambiente
(MAINGUENEAU, 2001) dão credibilidade à informação e a aproximam do telespectador.
O cientista é mostrado como alguém que, de testemunha, com o passar do tempo, passou a
especialista. Diz ela: “Em 1974, quando era adolescente, Daniel Macrot viveu uma das piores
temporadas de tornado na história. Hoje ele coordena o Centro de alerta do país e diz que
viver em Oklahoma é excitante”. Além disso, o pesquisador tem conhecimento, mas suas
emoções são realçadas, já que ele acha que viver em Oklahoma é excitante. Isso reforça o que
a repórter já havia dito sobre a paixão dos pesquisadores pelo trabalho e o entusiasmo com
que se dedicam a ele.
Por fim, a repórter pondera a atuação dos cientistas e o avanço da Tecnologia: o Centro tem
como função principal prever a ocorrência de tornados, o que faz com sucesso. No entanto, a
eficiência da Ciência esbarra no fenômeno imprevisível da natureza, sobre o qual o homem e
a Tecnologia não têm muito controle (“Aqui, mesmo com a ajuda da mais avançada
Tecnologia, o tempo é imprevisível”). Na conclusão da matéria, portanto, cria-se o efeito de
sentido de que mesmo benéfica, a Tecnologia apresenta limitações.
Telejornal: Jornal Nacional
Matéria: Conclusão do estudo do genoma humano (CD-Rom 2, página 15)
Formato: Nota simples
Descrição
A nota simples sobre a conclusão do estudo do genoma humano tem abordagem meramente
descritiva. Falou-se da pesquisa, mas não houve espaço ou imagens para tratar do processo de
desenvolvimento desse estudo. A pesquisa é de origem internacional, mas não há indicação
das instituições responsáveis. Ciência é o assunto principal dessa nota, abordada de forma
fragmentada. Não foram empregados recursos de linguagem de forma significativa. A
linguagem predominante é clara e complexa, permeada de termos científicos não explicados,
como genoma humano, seqüenciamento e cromossomo 1. A Ciência é apresentada de forma
214
elogiativa. Vinheta é o único elemento ilustrativo empregado na nota. Diante da ausência de
imagens, pode-se aferir que a vinheta auxilia na compreensão do conteúdo transmitido.
Análise
Nesta matéria, a Ciência é assunto principal. Trata-se da finalização de um estudo que durou
dez anos e envolveu 150 pesquisadores da Inglaterra e dos Estados Unidos. O discurso dessa
nota simples pode ser dividido em três. Um deles trata dos aspectos científicos ligados à
pesquisa, que se localiza logo no início da nota: “Cientistas de uma equipe internacional
terminaram o estudo do genoma humano ao completar a seqüência do cromossomo 1, o
último e o que concentra o maior número de informações genéticas”.
Esse primeiro discurso é caracterizado por uma linguagem complexa, permeada de palavras
do jargão científico (como genoma humano, seqüência do cromossomo 1 e informações
genéticas). Tais conceitos, ao serem empregados da matéria sem as definições, prejudicam a
compreensão, já que tais informações são o foco central do trabalho de pesquisa. Portanto,
qualquer lacuna nessa parte acarreta em perdas na receptibilidade da matéria como um todo.
O segundo discurso é o da perspectiva futura que o estudo pode alcançar. “Ele é associado a
350 doenças. Os dados desse estudo podem ser usados para ajudar em diagnósticos e em
tratamentos de vários tipos de câncer e de problemas neurológicos como o Mal de Alzheimer
e a Doença de Parkinson”.
Nota-se uma tentativa de aproximação com a realidade das pessoas ao falar das doenças que
podem ser diagnosticadas ou tratadas a partir da conclusão do seqüenciamento do genoma.
Com isso, a matéria chama a atenção do público. Se, até então, a matéria estava sendo pouco
compreendida pelo público e, portanto, era pouco atrativa, a partir de então, ela se mostra
interessante. A relevância da pesquisa, na matéria, não é dada pela pesquisa em si, mas pelos
benefícios que essa poderá trazer, posteriormente, mesmo sem que haja qualquer ligação com
os resultados já alcançados (já que o fim do seqüenciamento do genoma não significa o
diagnóstico e, muito menos, o tratamento de doenças).
O terceiro discurso, que finaliza a nota, aborda o resultado imediato e as circunstâncias de
desenvolvimento da pesquisa: qual a repercussão, quem, fez o quê, desde quando. Diz o
apresentador: “O estudo foi publicado hoje pela revista britânica Nature. A equipe de
pesquisa, formada por 150 cientistas americanos e britânicos, demorou dez anos para concluir
este estudo”. Essa parte da matéria busca, nos critérios técnicos da pesquisa, justificar sua
importância.
A nota simples mostra-se insuficiente para esclarecer minimamente o público sobre uma
pesquisa que trata de um assunto complexo: seqüenciamento do cromossomo 1 do genoma
humano. Levando-se em conta as ausências, os silêncios, o que a matéria deixou de dizer, o
não-dito (ORLANDI, 2002), a matéria cria efeitos de sentido de pouca importância do
assunto: ao não dizer, não considera relevante.
215
Telejornal: Jornal Nacional
Matéria: Pesquisa IBGE: segurança alimentar (CD-Rom 2, página 16)
Formato: Reportagem
Ver análise Grupos Focais, capítulo V, página 253
Descrição
A reportagem do Jornal Nacional, que trata do estudo IBGE sobre segurança alimentar,
apresenta abordagem interpretativa/analítica, pois busca casos que ilustram os dados da
pesquisa. A matéria possui fontes testemunhal, especialista e oficial. A origem da pesquisa é
nacional, realizada por um instituto de pesquisa público, governamental. A cientista apresenta
posição discursiva secundária na matéria em relação a outras fontes. Não há indicação, na
matéria, do local de onde fala a cientista. A informação da cientista corrobora as informações
do jornalista e também das outras fontes. Ciência é o assunto principal da reportagem. A
abordagem do assunto se dá de forma contextualizada. Empregam-se, nesta matéria, os
recursos de analogia, exemplificação e definição.
A linguagem é clara e simplificada. A apresentação da Ciência ocorre de forma elogiativa. De
modo geral, as imagens colaboram para a apreensão do conteúdo. No entanto, é preciso
salientar que imagens de textos de apresentação em power point e documentos ilegíveis na
tela de televisão prejudicam a compreensão da matéria em determinados momentos. Na
matéria, a Ciência é incorporada ao ambiente social, das pessoas que vivem em insegurança
alimentar. Há demonstração do processo de desenvolvimento da pesquisa com palavras e
imagens e essas imagens auxiliam na apreensão do conteúdo científico envolvido. A matéria
empregou diversos elementos ilustrativos: mapas, gráficos, tabelas e vinheta. Esses auxiliam
na compreensão dos conceitos científicos expostos.
Análise
A reportagem do Jornal Nacional que trata da pesquisa do IBGE sobre segurança alimentar
tem como base, fundamentalmente, a pesquisa científica. O conteúdo da matéria prioriza
detalhadamente não só os resultados, mas a metodologia, o processo de desenvolvimento da
pesquisa, os limites dessa e os conceitos empregados. Na abertura, a apresentadora antecipa o
gancho da matéria, que será seguido e desmembrado ao longo de toda a reportagem. Além
disso, a apresentadora mostrou os objetivos que nortearam a pesquisa do IBGE (“Uma
pesquisa divulgada hoje pelo IBGE mostrou a percepção dos brasileiros sobre o seu acesso
aos alimentos. O estudo também revelou o quanto os cidadãos se preocupam com a
possibilidade de ficar sem comida em casa”). A abertura não apresenta os resultados, em
números e porcentagens, da pesquisa, mas anuncia os objetivos alcançados pelo estudo do
IBGE. O uso da vinheta do mapa do Brasil em gráfico também revela que o assunto trata de
números, de dados estatísticos, matemáticos. Cria-se, com isso, um preparativo, um chamariz
para a matéria, sem que fosse alardeado qualquer efeito negativo com os resultados em si.
No discurso do repórter, a descrição da pesquisa começa com o anúncio das instituições
responsáveis (“O estudo do IBGE, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social,
é um complemento do PNAD, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio”) e do corpus
da pesquisa: quais períodos e qual a população da amostra (“Entre setembro e dezembro de
2004, os pesquisadores visitaram 52 milhões de domicílios em todos os Estados”). Essas
informações dão credibilidade à pesquisa, pois se sabe das instituições envolvidas (ambas
ligadas ao governo Federal) e também da abrangência dos dados, já que os pesquisadores
estiveram nas casas, ouviram as pessoas em todo o País.
216
Depois disso, é conceituado o principal conceito-chave da pesquisa. Tal conceito é essencial
para a compreensão da pesquisa e também da matéria. Nota-se a prevalência da função
metalingüística da linguagem juntamente, é claro, com a função referencial (JAKOBSON,
1995). Diz o repórter: “A pesquisa reuniu dados sobre um conceito que ainda não é muito
conhecido entre os brasileiros: segurança alimentar. O número de famílias que tem acesso ou
não à quantidade e à qualidade de comida necessária para o dia-a-dia e se há preocupação
com a possibilidade com a falta de alimentos”. Dessa forma, delimita-se qual o sentido que se
dá ao termo “segurança alimentar” com o qual a pesquisa trabalha.
Em seguida, o repórter retoma a explicação sobre o processo de levantamento de dados da
pesquisa, que faz parte da metodologia empregada. Nessa etapa, são descritas as perguntas
que os técnicos que visitaram os domicílios fizeram aos moradores (“Os técnicos ouviram
uma pessoa em cada residência. Fizeram quinze perguntas, entre elas: ‘Nos últimos três
meses, os moradores tiveram a preocupação de que os alimentos acabassem antes de poderem
comprar ou receber mais comida?’ e ‘Nos últimos três meses, os moradores deste domicílio
ficaram sem dinheiro para ter uma alimentação saudável e variada?’”). As ilustrações
gráficos com as perguntas da pesquisa contribuem para o acompanhamento por parte do
telespectador e para frisar o que pode não ter sido suficientemente percebido/entendido pelo
público.
O repórter mostra até mesmo que não houve consenso na adoção de tal metodologia e que
alguns pesquisadores questionaram a validade das perguntas. A matéria mostra, de modo
generalizado e sem especificar quais são ou quem são tais especialistas, que há embasamento
científico, que a pesquisa é válida, mesmo com as observações sobre alguns critérios técnicos
apontados por “certos especialistas”. O uso de não-pessoas (MAINGUENEAU, 2001) ao se
referir aos especialistas, já que se fala deles sem dar-lhes espaço, dilui-se o impacto das
informações, das opiniões desses “alguns especialistas”. Diz o repórter: “Alguns especialistas
consideraram as perguntas pouco objetivas, mas uma das coordenadoras da pesquisa explica”.
Sobre isso, o repórter mostra que há uma justificativa, por parte de uma das pesquisadoras
envolvidas. O discurso da fonte especialista, nesta matéria, é empregado para explicar a
metodologia da pesquisa e não para explicar os resultados ou para emitir opiniões sobre os
resultados. Diz a pesquisadora: “Essa escala mede exatamente isso: como as pessoas sentem
em relação ao seu acesso a uma alimentação de qualidade, em quantidade adequada para o
seu bem-estar, para a sua vida”.
Depois disso, o repórter aponta o resultado de outra pesquisa sobre o mesmo tema,
complementando-a, comparando-a e entrecruzando-a com outros resultados. Nessa parte da
matéria acontece o levantamento de dados/conhecimentos/informações já
disponibilizados sobre o assunto, a partir de outras pesquisas já desenvolvidas e
divulgadas (“O critério de fazer uma pesquisa com base na percepção dos próprios
entrevistados é diferente do que o IBGE adota em outros estudos, como a POF, Pesquisa de
Orçamento Familiar, divulgada em 2004. Na POF, os técnicos do IBGE passaram nove dias
visitando domicílios. Mediram altura e peso de cada entrevistado e investigaram a quantidade
de comida e bebida consumida na casa. Desta forma, teve-se um retrato do estado de nutrição
dos brasileiros: a conclusão: 4% da população estavam abaixo do peso ideal. Para
especialistas, o índice de até 5% é considerado normal em qualquer sociedade”). As imagens
de arquivo reforçam que se trata de uma outra pesquisa, que não é nova, que não faz parte dos
resultados recém divulgados, mas que é válida como “pano de fundo, como fundamentação
para se criar um panorama mais completo da questão alimentar no País. É possível observar,
217
neste trecho, o interdiscurso (BAKHTIN, 1997) ao se tratar de assuntos de CT&I: a matéria
contextualiza (e portanto, insere no discurso da matéria) outros discursos de divulgação.
Esse levantamento histórico de informações não se restringe a outras pesquisas do IBGE, mas
abarca outras instituições. Diz o repórter: “No mês passado, a Universidade de São Paulo
divulgou os resultados de outro levantamento feito em 2005, sobre a nutrição de crianças na
região de maior concentração de pobreza do Ps, norte de Minas e Estados do Nordeste,
exceto Maranhão. Os pesquisadores constataram que 6,6% das crianças estavam desnutridas.
Uma queda significativa em relação a 1975, quando a desnutrição alcançava praticamente a
metade das crianças”.
O repórter segue, então, para a exposição dos resultados da pesquisa. Diz ele: “Segundo o
IBGE, a pesquisa divulgada hoje traça um perfil sobre o acesso da população aos alimentos”.
Os gráficos em forma de “pizza” com os resultados da pesquisa dão credibilidade e
visibilidade aos dados. Seguem os resultados, com o acompanhamento do gráfico. “Dos 181
milhões de brasileiros, 109 milhões declararam viver em insegurança alimentar. Trinta e dois
milhões estão em situação de insegurança alimentar leve, isto é, tem instabilidade sócio-
econômica capaz de gerar preocupação com a falta de alimentos num futuro próximo. Vinte e
cinco milhões foram considerados em insegurança alimentar moderada, onde já houve uma
redução da qualidade da alimentar e quase 14 milhões de brasileiros vivem em insegurança
alimentar grave, quer dizer, já tiveram uma redução na quantidade de comida”. Para embasar
os dados obtidos na pesquisa, é destacado um exemplo.
Nesse momento, entra em cena uma fonte testemunhal. Ela dá o realismo e a humanização
diante de tantos números. Diz ele: “Como a família de Carla, que tem quatro filhos e espera
mais um. Esta semana, com a ajuda da sogra, tem comida na geladeira. Mas, e a partir daí?”.
A pergunta (que pode ser direcionada à fonte, mas também aos telespectadores) incita a uma
reflexão diante da ausência de perspectiva, da falta de comida, de esperança que vive a fonte
testemunhal, mas que é um exemplo do cotidiano dos brasileiros que vivem em insegurança
alimentar, constatados na pesquisa. A alternativa, que não representa solução para o caso, mas
apenas salienta a solução imediata encontrada pela fonte testemunhal (“Procurar uma ajuda de
alguma igreja, procurar um bico pra fazer de alguém”). O complemento a isso vem do
repórter, que constata, com a pergunta (frisada pelo tom de voz) que não há alternativa, não há
solução vista pela fonte a curto prazo (“Por que senão, se não fizer isso, não tem comida em
casa?”). O “não” como resposta surge como uma condenação, de que realmente não há
superação desta situação, e a expressão facial e de voz da fonte enfatizam isso.
Para justificar a metodologia empregada, a matéria mostra qual foi o modelo adotado (no
caso norte-americano). A partir de então, há a comparação entre os resultados obtidos, pela
mesma pesquisa, nos Estados Unidos e no Brasil. Nesse momento também é feita uma análise
(até com uso de expressão opinativa: “um número alto”) dos investimentos gastos em
programas assistenciais nos dois países. Diz o repórter: “A metodologia da pesquisa sobre
segurança alimentar usada pelo IBGE foi baseada no modelo americano. Em 2002, a pesquisa
encontrou 3,5% da população com insegurança alimentar, 36 milhões de americanos. Um
número alto para um país que gasta quase 42 bilhões de dólares ao ano com programas de
distribuição de alimentos”.
Por fim, são expostos outros resultados da pesquisa que recapitulam o que foi descrito
anteriormente (não foram acrescentados novos dados, mas apenas houve uma somatória dos
números de brasileiros que vivem em condições de insegurança leve, moderada e grave, já
218
apresentada na matéria). Os dados também servem para comparar a situação brasileira com a
norte-americana (Repórter: “Aqui no Brasil, segundo a pesquisa do IBGE, são quase 72
milhões de pessoas vivendo em insegurança alimentar, leve, moderada ou grave. Os gastos do
governo nos programas de transferência de renda em 2005 chegaram a 6 bilhões e meio de
reais”).
No final, o repórter dimensiona a pesquisa, ponderando seu alcance e os limites dos
resultados alcançados. Diz ele: “O presidente do IBGE explicou que a pesquisa, sobre
segurança alimentar, não é referência para saber quantos brasileiros passam fome”. A
credibilidade é complementada com o discurso da fonte oficial do IBGE, que delimita os
objetivos da pesquisa e ressalta que os objetivos estão atrelados aos resultados obtidos. Diz a
fonte oficial do IBGE: “A convivência com o risco da fome pode ser até muito maior do que a
fome propriamente dita, então, por isso mesmo, o tema é insegurança e não sobre fome no
meio da família”.
Em relação à duração (4 minutos e 37 segundos) e à forma de abordagem do assunto, está
matéria difere do padrão das matérias de CT&I dos telejornais estudados. Nota-se, na
estrutura desta reportagem, que tem como foco central na pesquisa e não nos resultados em
si uma fidelidade maior aos processos da Ciência. Com isso, ocorre uma adaptação do
formato de apresentação de um trabalho científico à forma de apresentação, estrutura e
recursos próprios do discurso jornalístico. O desenvolvimento da pesquisa, a metodologia, o
embasamento teórico e a inserção de fontes seguem a estrutura do trabalho científico adaptado
ao discurso jornalístico.
Ao comparar o texto científico com o de divulgação científica, Zamboni (2001, p. 17), avalia
que o primeiro apresenta uma estrutura rígida, que comporta partes claramente delimitadas,
seguindo um padrão que pode ser resumido no esquema: circunscrição do problema/material e
métodos / resultados / discussão e conclusão. De acordo com ela, ao passar para a divulgação
científica, esse esquema se subverte completamente. Nesta reportagem, em especial, observa-
se que foram mantidas as partes de um trabalho científico, diferentemente do que se costuma
usar em divulgação científica, seja no Jornalismo impresso, conforme constatou Zamboni
(2001), seja em telejornalismo, levando em conta as matérias que compõem o corpus deste
trabalho.
Isso não significa, no entanto, grandes mudanças na estrutura da matéria, nem superação do
padrão telejornalístico, mas essa pode mostrar que é possível o aprofundamento do assunto
em telejornalismo, em contraposição à visão de Orlandi (2001b) para a qual é impossível uma
abordagem contextualizada (historicizada) da representação dos acontecimentos na mídia.
Telejornal: Jornal da Record
Matéria: Pesquisa IBGE: segurança alimentar (CD-Rom 2, página 17)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem do Jornal da Record sobre a pesquisa do IBGE sobre segurança alimentar tem
abordagem interpretativa/analítica, já que parte de exemplos para embasar os números da
pesquisa. As fontes desta matéria são das categorias testemunhal e especialista. A origem da
pesquisa é nacional, realizada por um instituto público. Não há identificação do local de onde
fala o cientista, que ocupa posição discursiva secundária em relação à outra fonte da matéria.
219
O discurso do cientista corrobora tanto o discurso do jornalista quanto da fonte testemunhal.
Nesta matéria, Ciência é o assunto principal e a abordagem desta ocorre de forma
contextualizada. Para isso, são usados recursos como definição e exemplificação. A
linguagem é clara e simplificada. A Ciência não é apresentada nem de forma elogiativa nem
de forma depreciativa, mas equilibrada. O ambiente colabora para a apreensão do conteúdo.
Nesta reportagem, a Ciência está incorporada ao ambiente social e ao ambiente de produção
desta. Não há demonstração do processo científico envolvido, mas as imagens auxiliam na
compreensão do processo científico. A matéria não emprega nenhum elemento ilustrativo.
Análise
A reportagem do Jornal da Record sobre a pesquisa de segurança alimentar feita pelo IBGE
possui três discursos diferenciados, dois que se entrecruzam e outro (o da fonte especializada)
que destoa do andamento da matéria. Um deles é sobre os dados obtidos pelo IBGE na
pesquisa. O outro é o das fontes testemunhais: pessoas que vivem em insegurança alimentar.
O último é o da fonte especializada, que avalia como a situação deve ser revertida.
Na abertura, pode-se observar claramente o discurso do apresentador ligado aos dados da
pesquisa. Ele anuncia os resultados e não apresenta exemplificação ou especificação nesse
momento. A abertura é objetiva e genérica. Essa abertura pode ser comparada a um título e a
um subtítulo de uma reportagem de jornal impresso: apresenta o gancho da matéria
(“Levantamento do IBGE revela que a fome ronda quase 40% das famílias brasileiras. Os
dados são da pesquisa nacional domiciliar”).
Em seguida, inserem-se os discursos da repórter e das fontes testemunhais. Nesses discursos
há a história de vida de mulheres que não têm dinheiro para comer. O tom empregado pela
repórter é o de denúncia e o ethos (MAINGUENEAU, 2001), ou seja, a imagem de si
projetada pela repórter no discurso é de lamentação. Para isso, ela reconstrói, resumidamente,
o dia-a-dia de uma das mulheres (“O dinheiro que chega contado na casa da cearense
Francisca não é suficiente para abastecer a cozinha do essencial”) e a história de vida de outra
(A lavadeira Ana veio do sertão pra fugir da fome. Em São Paulo, a família cresceu. A filha
de Ana agora lamenta a fome da neta”). Ao usar a palavra “lamentação”, fica patente o
sentido de vítima que a repórter quis impingir às testemunhas.
No caso das fontes testemunhais, vítimas da situação, o tom dos discursos é de resignação em
alguns momentos (“Amanhece o dia que não tem dinheiro para comprar o pão”) e revolta em
outros (“Não como. Hoje eu estou com vontade de comer mexerica. Eu não como”).
As imagens mostram famílias em situação precária de moradia, com panelas, geladeiras e
armários vazios ou com pouca variedade de comida. A repórter encontra-se na casa dessas
pessoas. A força de seu discurso deve-se, em grande parte, às imagens, ao ambiente,
caracterizando o que Maingueneau (2001) assinala como a cenografia do discurso. Ela
denuncia, e confere credibilidade à denúncia, ao abrir armário e panela e verificar que,
realmente, falta comida. As perguntas da repórter às fontes testemunhais também colaboram
para criar o sentido de denúncia. Diz ela: “ quantos dias que ela não toma leite?” ; “Tudo
que a senhora ganha vai pra comida?”
Entrecruzando esses discursos, estão os dados obtidos pelo levantamento do IBGE. Não há
uma contextualização das metodologias empregadas. Só os resultados importam. Diz a
repórter: “Armários vazios, falta de comida em casa. Um levantamento feito pelo IBGE
mostra que quase 40% das famílias pesquisadas vivem hoje em situação de insegurança
220
alimentar no Brasil, ou seja, não tem acesso à quantidade e à qualidade suficientes de
alimentos”. “Casas chefiadas por mulheres, como dona Ana, engrossam a estatística”.
“Segundo o IBGE, 14 milhões de pessoas já tiveram a experiência da fome, que atinge um
número maior de negros, pardos e moradores das regiões norte e nordeste do país,
principalmente na área rural. Mulheres e crianças são as maiores vítimas. Quadro preocupante
que surge da pobreza e gera várias doenças, como a desnutrição”.
Também não há consulta a qualquer fonte oficial do IBGE. Nenhum pesquisador foi ouvido
na matéria. A fonte especialista, citada como pesquisadora da USP, não apresenta qualquer
explicação do fato, detalhamento das pesquisas ou proposta de solução para o problema. A ela
coube uma resposta ampla. A pesquisadora resume, em tom autoritário, frisado pelo uso das
expressões “não basta” e “é preciso”, algumas medidas que ela considera relevantes, no
entanto, seu discurso não tratou do assunto principal da pesquisa: pessoas que vivem em
situação de insegurança alimentar, fatores mais específicos que os que ela considerou. Disse
ela: “Não basta dar alimento. É preciso mudar a condição de moradia e o atendimento à
saúde”.
Caldas (2005, p. 89) avalia o papel dos meios de comunicação na interpretação da realidade
social. Para ela, a mídia apresenta um recorte “frágil e distorcido” da realidade. “O que
importa, na realidade, não é apenas o conteúdo, mas a forma como este conteúdo é repassado,
as fontes selecionadas para seu relato e sua interpretação, que terminam por reconstruir
sentidos, dando a ilusão da informação, do conhecimento”.
Telejornal: SBT Brasil
Matéria: Pesquisa IBGE: segurança alimentar (CD-Rom 2, página 18)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem do SBT Brasil que trata da pesquisa do IBGE sobre segurança alimentar tem
abordagem interpretativa/analítica, porque buscou casos que ilustrassem os dados da pesquisa.
Não há fonte especialista nesta matéria, apenas fontes testemunhais e oficial. A pesquisa é
nacional, realizada por um instituto público. Ciência é o assunto principal da matéria. A
abordagem da Ciência ocorre de forma contextualizada. A matéria emprega os recursos de
definição e exemplificação. A linguagem é clara e simplificada e a Ciência é apresentada de
forma elogiativa. O ambiente colabora para a apreensão do conteúdo. A Ciência é
incorporada, na matéria, ao ambiente social e de produção. As imagens auxiliam na apreensão
do conteúdo científico apresentado, no entanto, não há demonstração do processo científico
envolvido. A matéria emprega mapas como elementos ilustrativos. Estes auxiliam na
compreensão do conteúdo científico da matéria.
Análise
Nesta reportagem do SBT Brasil que trata da pesquisa do IBGE sobre segurança alimentar, os
resultados da pesquisa têm espaço principal, ilustrados pelos depoimentos de fontes
testemunhais. Já na abertura, o apresentador dá maior ênfase ao resultado da pesquisa
(“Catorze milhões de pessoas passam fome no Brasil. Essa triste, e já conhecida realidade, faz
parte de uma pesquisa inédita no País sobre segurança alimentar, divulgada hoje pelo IBGE”).
Além de anunciar o resultado e a referida pesquisa (bem como o instituto responsável), a
apresentação traz uma carga emotiva, opinativa, através do uso da expressão “triste e já
221
conhecida realidade”. Dessa forma, o apresentador já “prepara” o telespectador para os dados
negativos referentes à realidade social.
As fontes testemunhais (duas, nesta matéria) têm como função exemplificar e representar os
números da pesquisa. São elas que dão o caráter humano à matéria (Repórter: “Um pouco de
feijão que sobrou do domingo. Esta foi a única refeição hoje de Ana, do marido e dos três
filhos”). Sobre isso, diz a mulher: “Eu dou comida para as crianças. O que sobrar eu como. Se
não sobrar, eu não como”. A partir daí, a fonte testemunhal se transforma em número da
pesquisa (Repórter: “Ana é uma das faces de uma triste estatística”). Além de um número na
pesquisa, a fonte testemunhal é vítima de uma “triste” realidade.
A partir de então, a matéria volta-se para a pesquisa do IBGE (Repórter: “Esta é a primeira
pesquisa realizada pelo IBGE para mapear a fome no Brasil. Norte e Nordeste são as regiões
com os menores índices de segurança alimentar”). No que segue a fonte oficial (Rômulo Paes
de Souza, Secretário de Avaliação do Ministério do Desenvolvimento Social), cujo discurso é
empregado para dar credibilidade aos números e também para mostrar a importância da
pesquisa (“Nós temos agora uma linha de base. Uma linha que nos permitirá acompanhar a
situação das famílias brasileiras em relação à fome e a situação em cada Estado”).
Novamente, a repórter retoma os resultados da pesquisa (“Todos os dias, cerca de 14 milhões
de brasileiros convivem com o fantasma da fome. De acordo com a pesquisa, o Maranhão é o
Estado com o pior índice, 69,1% da população não tem alimentos na quantidade mínima”).
O enfoque principal desta matéria são os resultados finais da pesquisa, sem que os
procedimentos que levaram a tais resultados tenham sido considerados. Na exposição dos
dados, não houve qualquer menção à metodologia empregada pelo IBGE. A matéria também
não explicou/descreveu o significado de “insegurança alimentar”, essencial para a
compreensão dos resultados/alcance da pesquisa. Essa ausência fica ainda maior porque não
foi ouvido nenhum pesquisador do IBGE ou mesmo alguma outra fonte especialista no
assunto para comentar/analisar os dados.
Uma nova fonte testemunhal é inserida, também com o objetivo de ilustrar, exemplificar os
dados da pesquisa (Repórter: “É o caso de dona Aliete, mãe de quatro filhos. Hoje o almoço
da família foi peixe frito, que ela ganhou de um vizinho”). O discurso da fonte testemunhal é
emotivo, carregado de tristeza, fé (evoca sua sobrevivência à vontade de Deus) e de esperança
sobre sua própria situação (“Amanhã eu não sei, aí eu vou pensar no caso de Deus. Deus é
que vai dizer o que eu vou almoçar”).
A matéria é finalizada com o discurso do apresentador, que mostra outro resultado da
pesquisa, no entanto, com os dados positivos, no caso, do Estado com o menor número de
pessoas que vivem em insegurança alimentar (“O Estado com menor índice de fome é Santa
Catarina, onde 83% da população tem a mesa farta”). Ao sentenciar que a maior parte da
população do Estado de Santa Catarina tem “mesa farta”, o apresentador contrapõe todos os
dados negativos, os depoimentos emotivos e técnicos que tratam da fome (o contrário de mesa
farta).
É uma forma positiva de encerrar uma matéria que, além de tratar de assunto negativo,
(pobreza e fome), emprega expressões também com carga negativa (triste realidade, fantasma
da fome). Com esse contraponto, criam-se efeitos de sentidos que diluem o teor negativo da
matéria, já que há lugares em que as pessoas se alimentam bem.
222
As imagens colaboram para frisar a “triste e conhecida realidade” anunciada na abertura. São
imagens de mulheres mexendo panela de feijão (único alimento da refeição), de armários
semivazios e de favela que criam os sentidos pretendidos nesta matéria: mostrar o número de
pessoas que passam fome no Brasil. A cenografia e a expressividade dos discursos da
repórter, do apresentador e das fontes testemunhais dão o tom da matéria: de pessimismo,
lamentação e indignação quanto ao número de brasileiros que passam fome. Nesta matéria
nota-se a ênfase na função expressiva da linguagem (JAKOBSON, 1995) no discurso de
divulgação: aquele que expressa os sentimentos, as emoções de repórter, fontes e
apresentador.
Comparações entre as matérias: a função educativa
A reportagem do Jornal da Band sobre “Tecnologias para prever tornados” emprega os
seguintes recursos positivos para tornar a matéria interessante e facilitar a compreensão:
a) contextualiza o problema dos tornados em uma região de ocorrência dos fenômenos;
b) mostra o lado humano, de um norte-americano que depende, para sua segurança, do
trabalho do centro de pesquisas;
c) mostra imagens de arquivo da ocorrência de tornados;
d) a repórter é mostrada junto aos equipamentos;
e) mostra o cientista/técnico não só como um especialista, mas relata as motivações pessoais
que o levaram a seguir a carreira;
f) a Tecnologia é um aliado da segurança. A matéria mostra o lado benéfico do trabalho dos
cientistas e da Ciência para a vida das pessoas;
g) a matéria aproveitou como “gancho” a ocorrência de tornado no Brasil, mais
especificamente na cidade de Indaiatuba, no interior de São Paulo.
A nota do Jornal Nacional sobre a conclusão do genoma humano foi insuficiente para
esclarecer minimamente o público sobre o assunto. Além disso, não explicou o significado
dos termos complexos, como “seqüenciamento do cromossomo 1” e “genoma humano”. Por
se tratar de uma nota simples, não contou com o recurso de imagens ou elementos ilustrativos,
o que dificultou ainda mais a compreensão do assunto. Dessa forma, pode-se concluir que a
nota atualizou as informações do público ao informar a finalização do seqüenciamento do
genoma humano, além de salientar a contribuição de tal estudo, mas não foi capaz de
promover a compreensão do público para a Ciência envolvida.
A reportagem do Jornal Nacional que trata da “Pesquisa do IBGE sobre segurança alimentar”
diferenciou-se das matérias sobre o mesmo assunto do Jornal da Record e do SBT Brasil. Esta
matéria foi a mais extensa entre todas as matérias estudadas (4 minutos e 37 segundos). Além
disso, diferentemente das duas outras matérias veiculadas sobre o assunto, o foco central não
foram os resultados nem os exemplos de pessoas que sofrem do problema, mas a metodologia
do IBGE. Com isso, houve detalhamento pormenorizado dos itens da pesquisa. As entrevistas
com fontes especialista e oficial trataram também da pesquisa e não propriamente dos
resultados. Com isso, foi possível abordar com maior rigor as características específicas da
pesquisa do IBGE. Em contrapartida, o lado humano, do sofrimento dos que vivem em
insegurança alimentar, não teve o mesmo destaque.
No caso da reportagem do Jornal da Record, também sobre a pesquisa do IBGE sobre
segurança alimentar, é possível constatar a predominância do tom de denúncia da situação de
insegurança alimentar. A repórter visita casas e verifica que seus moradores não têm o que
223
comer. Há uma ênfase à história de vida das pessoas que vivem em insegurança alimentar. Os
procedimentos da pesquisa não tiveram o mesmo destaque, mas os resultados foram
divulgados. Mesmo sem tanto detalhamento da pesquisa e bem menor em extensão (1 minuto
e 39 segundos), que a reportagem do Jornal Nacional, a matéria possibilitou a compreensão
dos resultados da pesquisa e também do significado do termo “insegurança alimentar”.
A reportagem do SBT Brasil também sobre a pesquisa do IBGE teve duração equivalente (1
minuto e 41 segundos) e abordagem semelhante a do Jornal da Record. Assim como
aconteceu com a reportagem do Jornal da Record, no caso da reportagem do SBT Brasil, as
experiências e a história de vida de pessoas que vivem em insegurança alimentar foram
destacadas na matéria e, no caso da pesquisa, os resultados também foram priorizados, em
detrimento da metodologia empregada. Nesses casos, os números do IBGE foram empregados
para mostrar a dimensão do problema de insegurança alimentar, enquanto que os depoimentos
dos que passam fome mostram o lado humano da situação.
Dia 19 de maio de 2006
Principais acontecimentos noticiados pelos telejornais
Nesse dia, foram as seguintes editorias que constaram nos respectivos telejornais:
Jornal da Band: Comportamento, Cultura, Esportes, Internacional, Política, Previsão do
Tempo, Saúde, Segurança e Trabalho/Emprego. A editoria de CT&I, nesta edição, não
apresentou nenhuma matéria.
Jornal Nacional: Cidades, CT&I, Esportes, Internacional, Previsão do Tempo, Saúde e
Segurança. Houve uma reportagem, na editoria de CT&I, sobre o Diesel H-Bio.
Jornal da Record: Cultura, Economia, Esportes, Internacional, Política, Previsão do Tempo,
Saúde e Segurança. A editoria de CT&I não veiculou nenhuma matéria.
Jornal da Cultura: Cultura, Economia, Internacional, Política, Previsão do Tempo e
Segurança. Não houve matéria de CT&I na edição.
SBT Brasil: Cidades, CT&I, Cultura, Economia, Esportes, Internacional, Polícia/Justiça,
Política, Previsão do Tempo, Saúde e Segurança. Na editoria de CT&I, foi veiculada uma
reportagem sobre o Diesel H-Bio.
A questão da segurança no Estado de São Paulo, as mortes, os bloqueios de celulares perto de
alguns presídios no Estado e as repercussões dos ataques em vários setores foram os assuntos
principais dos telejornais investigados. Na editoria de Segurança ainda, a tropa brasileira que
partiu para a missão de paz no Haiti também teve destaque. Além disso, foi noticiada a morte
do alpinista brasileiro, Vítor Negretti, no Monte Everest.
Na editoria de Economia, o reajuste dos planos de saúde também foi notícia nos telejornais.
Outro assunto, da editoria Internacional, abordado, foi o pedido da ONU (Organização das
Nações Unidas) para que os Estados Unidos fechem o presídio de Guantánamo, em Cuba. Na
editoria de Esportes, os jogadores da Copa do Mundo de Futebol também foram assunto dos
telejornais naquele dia.
224
A visualização das editorias dos telejornais pode ser feita a partir da tabela seguinte:
Principais editorias
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT Brasil
== Cidades == == Cidades
Comportamento
== == == ==
== CT&I == == CT&I
Cultura == Cultura Cultura Cultura
== == Economia Economia Economia
Esportes Esportes Esportes == Esportes
Internacional Internacional Internacional
Internacional Internacional
== == == == Polícia / Justiça
Política == Política Política Política
Previsão do
Tempo
Previsão do
Tempo
Previsão do
Tempo
Previsão do
Tempo
Previsão do
Tempo
Saúde
(economia)
Saúde
(economia)
Saúde
(economia)
== Saúde
(economia)
Segurança Segurança Segurança Segurança Segurança
Trabalho /
emprego
== == == ==
Tempo total dos telejornais e tempo das matérias de CT&I
O Jornal Nacional durou 30 minutos e 56 segundos. Desse tempo, 1 minuto e 57 segundos
foram sobre CT&I. O SBT Brasil teve duração de 30 minutos e 23 segundos, dos quais 1
minuto e 17 segundos foram de matérias de CT&I. O Jornal da Band, o Jornal da Record e o
Jornal da Cultura não apresentaram matérias sobre o assunto.
Telejornal
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal
da Cultura
SBT
Brasil
Total
Geral
Tempo
total
30’02”
(6 blocos)
30’56”
(4 blocos)
29’52”
(4 blocos)
21’38”
(4 blocos)
30’23”
(4 blocos)
2h 22’51”
Tempo
CT&I
*** 1’57” *** *** 1’17” 3’14”
% Tempo
de CT&I
*** 5,14% *** *** 3,87% 2,20%
As matérias de CT&I dos telejornais
Dois dos telejornais investigados publicaram matérias da área de CT&I. As duas matérias
tratam do desenvolvimento de uma nova Tecnologia na produção de diesel pela Petrobras, a
partir do processamento de óleo vegetal. No Jornal Nacional, a reportagem teve duração de 1
minuto e 57 segundos. No SBT Brasil, ela ocupou 1 minuto e 17 segundos da programação do
telejornal.
225
Matérias de CT&I
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT Brasil
*** Diesel H-Bio *** *** Diesel H-Bio
A edição da Ciência nos telejornais
Telejornal: Jornal Nacional
Matéria: Diesel H-Bio (CD-Rom 2, página 19)
Formato: Reportagem
Descrição
A reportagem do Jornal Nacional sobre o Diesel H-Bio tem abordagem
interpretativa/analítica, já que há explicação de como foi desenvolvido e de como funciona o
novo diesel. Há fontes oficial e especialista. A pesquisa é de origem nacional, realizada por
uma empresa de economia mista (Petrobras). Não há identificação do local de onde fala o
cientista. O cientista tem posição discursiva secundária em relação à fonte oficial. O discurso
do cientista corrobora o discurso da outra fonte da matéria e também do jornalista. Esta
reportagem trata de Tecnologia, que é o assunto principal.
A abordagem da Tecnologia se dá de forma contextualizada, pois é mostrado o processo de
desenvolvimento do produto. Na matéria são usados analogia, definição e exemplificação
como recursos de linguagem. A linguagem predominante tem características de clareza e
simplificação. A Tecnologia é apresentada de forma elogiativa. A imagem do ambiente
colabora para a apreensão do conteúdo da matéria. A Tecnologia é incorporada ao ambiente
de produção desta. A imagem auxilia na compreensão do conteúdo científico envolvido no
assunto. Há demonstração, com imagens e palavras, do processo científico-tecnológico
envolvido. Nessa matéria, como elementos ilustrativos, foram usados esquemas e desenhos.
Tais elementos auxiliam na compreensão dos conceitos científicos apresentados.
Análise
O avanço tecnológico na produção de um novo diesel, que tem o óleo vegetal como matéria-
prima, é o foco da matéria. Na abertura, a apresentadora anunciou a empresa responsável pela
pesquisa, o produto resultante e resumiu suas principais vantagens: a econômica e a ambiental
(“A Petrobras anunciou uma nova Tecnologia no refino do óleo diesel, o H-Bio, que será
processado a partir do óleo vegetal, tem produção mais barata e polui menos”). As
características do produto e tais vantagens nortearam o desenvolvimento da matéria.
O repórter iniciou seu discurso com uma enunciação da descrição do processo que levou ao
desenvolvimento da Tecnologia (“Foi nessa mini-refinaria que os pesquisadores na Petrobras
passaram um ano trabalhando no projeto do diesel H-Bio, um produto que une agroindústria
ao setor de petróleo”). O local de trabalho dos pesquisadores (dito com palavras e mostrado
com imagens) contribui para criar o sentido de que houve um trabalho que envolveu pessoas
especializadas em um local específico para isso. O trabalho do pesquisador é visto de modo
concreto, real. Houve um esforço, e um tempo empreendido, para que a Tecnologia fosse
desenvolvida.
226
Em seguida, houve a comparação da produção do novo produto com o tradicional. Para isso,
foram usados esquemas ilustrativos com setas indicando os processos, além da explicação do
repórter (“Até agora o diesel recebia hidrogênio para diminuir o teor de enxofre, mas os
pesquisadores descobriram que injetando óleo de soja como matéria-prima no meio do
processo de refino, conseguiam produzir um diesel praticamente isento de enxofre, um ganho
para o meio ambiente O H-Bio é diferente do biodiesel, que também usa óleos vegetais, mas
no biodiesel, a mistura acontece apenas quando o combustível já está nas distribuidoras”).
Trata-se de uma parte técnica ligada ao produto que se tornou mais acessível, mais facilmente
compreendida com o uso de imagens. Para quebrar o tom didático-explicativo, o repórter
relaciona o produto com uma de suas vantagens já anunciadas no início: a ambiental.
Depois disso, outra vantagem do produto é explicada: a econômica. O repórter comparou o
rendimento na produção do novo diesel com o até então produzido, com destaque para a
qualidade similar dos tipos (“Um dos detalhes que mais chamaram a atenção dos
pesquisadores foi o rendimento do óleo vegetal no processo de mistura. Cem litros do produto
se transformam em 96 litros de diesel do H-Bio. Um produto que, segundo a Petrobras, é de
tão boa qualidade que vai poder ser usado, sem qualquer adaptação, nos veículos que hoje são
movidos a diesel de petróleo”).
A fonte especialista dá a dimensão global da pesquisa. Ele avalia o pioneirismo da Tecnologia
da Petrobras e, para isso, emprega uma medição da produção científica e tecnológica: o
patenteamento do produto (“Processar em conjunto, cargas minerais e de óleos vegetais em
unidade de refino não existe no mundo, é objeto de patente nossa, portanto, é inédito”). Nota-
se a seleção do critério de noticiabilidade do fato a partir da reputação da Ciência
(WEINGART, 1998): um dos fatores de proeminência da Ciência na mídia (nesta matéria em
específico) é um critério de importância (valorização) empregado pela Ciência enquanto
instituição.
Nesse aspecto, trata-se da inserção Ciência enquanto conjunto de valores, discursos e
formas de controle, segundo Foucault (2002), na dia televisiva caracterizada por Mariani
(1999) pelo discurso jornalístico, com sua própria “identidade.
O investimento da empresa na produção do novo produto e os projetos futuros também foram
destacados pelo repórter (“A expectativa da Petrobras é que em 2007 duas refinarias já
estejam produzindo 256 milhões de litros de diesel H-Bio por ano, o que corresponde a 10%
do óleo diesel que o Brasil importa hoje. Uma economia de 22 milhões e meio de dólares por
ano”).
No final, usando as palavras de uma fonte oficial (Paulo Roberto Costa Diretor de
abastecimento da Petrobrás), o repórter comparou o desenvolvimento da nova Tecnologia ao
desenvolvimento do álcool como combustível (“De acordo com o diretor de abastecimento da
Petrobras, essa é uma descoberta tão importante quanto à do álcool combustível há trinta
anos”). Para finalizar e dar crédito a sua comparação, a fonte oficial acima citada na matéria
também compara o novo diesel ao álcool (“O diesel vem do campo. Não só lá dos poços de
petróleo, como também vem do campo. Como nós já plantamos álcool, nós vamos plantar
diesel. Realmente uma revolução enorme”).
Pode-se observar nesta reportagem a preocupação com os vários aspectos ligados ao processo
tecnológico. Primeiramente, o trabalho de pesquisa, o investimento da empresa (de tempo e
em pesquisadores) que culminou com o desenvolvimento da Tecnologia. Depois disso, duas
227
vantagens que tornam o produto competitivo e viável tanto para a empresa como para o
consumidor e para o país a econômica e a ambiental, foram destacadas. Esse aspecto é o
responsável por relacionar um produto (que poderia não passar simplesmente de um teste, de
um projeto) ao contexto social: é interessante para a empresa produzir o novo diesel porque é
menos poluente que o tradicional, a qualidade se equipara ao outro, portanto é bom também
para o consumidor, além da economia que trará ao país com a redução das importações.
A explicação técnica no discurso do repórter contribuiu para facilitar a compreensão do
processo que envolve a produção de diesel. Além disso, ao contar com elementos ilustrativos,
a explicação tornou-se ainda mais simples. Dessa forma, pode-se aferir que, nesta matéria, ao
tratar de um assunto científico, não é necessário que a informação/explicação
técnica/científica fique a cargo da fonte especializada. O jornalista pode reformular
(ORLANDI, 2001), com sucesso, o discurso do especialista. Isso não significa, no entanto,
que as fontes especialista e oficial possam ser dispensadas na matéria. As opiniões sobre a
Tecnologia (embasadas em pesquisas, números e resultados) estão no discurso dessas fontes,
que tem autoridade de opinarem, pelo conhecimento e poder de decisão que possuem.
A fonte especialista, na matéria, não é responsável por transmitir informações técnicas de
produção ou do próprio produto. Ela dá a dimensão da Tecnologia em escala mundial. Ela tem
autoridade para dizer o que disse, porque conhece as Tecnologias vigentes e a prova de que o
produto é realmente novo está na geração de uma patente.
A fonte oficial, também com autoridade de discurso, avalia as perspectivas futuras da empresa
de produção do novo produto. Além disso, há também uma carga emotiva, de esperança,
confiança e estímulo para que este seja produzido em grande escala. Para isso, o diretor de
abastecimento da Petrobras usa a metáfora (recurso empregado na linguagem poética, mas
também emotiva, expressiva) de que o Brasil, além de “plantar” cana-de-açúcar, também vai
plantar diesel (“O diesel vem do campo. Não só lá dos poços de petróleo, como também vem
do campo. Como nós já plantamos álcool, nós vamos plantar diesel. Realmente uma
revolução enorme”). Na conclusão da matéria, a opinião final, o veredicto cria efeitos de
sentido que ressaltam a importância da Tecnologia.
Telejornal: SBT Brasil
Matéria: Diesel H-Bio (CD-Rom 2, página 20)
Formato: Reportagem
Ver análise Grupos Focais, capítulo V, página 265
Descrição
A reportagem sobre o Diesel H-Bio do SBT Brasil tem abordagem interpretativa/analítica,
pois a matéria mostra o processo que levou ao desenvolvimento da Tecnologia e compara o
novo produto com o diesel tradicional. Há fontes especialista e oficial. A pesquisa é de origem
nacional, realizada por uma indústria. O cientista fala do laboratório e tem posição discursiva
principal diante da outra fonte da matéria. O discurso do cientista corrobora o discurso do
jornalista e também do da outra fonte. Nesta reportagem, o assunto científico principal é
Tecnologia. A abordagem de CT&I ocorre de forma contextualizada. Para isso, são usados os
recursos de analogia, definição e exemplificação. A linguagem tem aspectos de clareza e
simplificação. A Tecnologia é apresentada de forma elogiativa. O ambiente colabora para a
apreensão do conteúdo. A Tecnologia, nesta matéria, está incorporada aos ambientes de
produção e de recepção. A imagem auxilia na compreensão do processo que envolve a
Tecnologia. Há demonstração do processo com imagens e palavras. Esquemas e desenhos são
228
elementos ilustrativos que auxiliam na compreensão dos conceitos apresentados na
reportagem.
Análise
Nesta reportagem do SBT Brasil sobre o Diesel H-Bio, o discurso sobre as vantagens
econômicas (para o consumidor, principalmente, para o país e para a Petrobras) é o foco
central. Na abertura, o apresentador ressalta a aplicação, para o consumidor, da nova
Tecnologia, além de apresentar o produto e frisar o pioneirismo do Brasil (“A partir do ano
que vem, o consumidor brasileiro vai ter mais uma opção de combustível. É o H-Bio, uma
mistura de óleo diesel com óleos vegetais. O Brasil é o primeiro país do mundo a desenvolver
essa Tecnologia”).
Depois de uma breve apresentação do processo que levou ao desenvolvimento do H-Bio (“O
novo combustível é resultado de um ano e meio de testes”), o repórter traça uma comparação
entre o novo combustível e outro projeto da empresa, o biocombustível. Entra em cena a
interdiscursividade (BAKHTIN, 1997), já que a partir da comparação com o biocombustível:
por semelhança e por contraposição, é construído o discurso de divulgação sobre o H-Bio.
Primeiro, em relação à infra-estrutura requerida por cada um deles. Diz ele: “Ao contrário do
biocombustível, que necessita de instalação de novas unidades de processamento, o H-Bio
pode ser produzido nas refinarias já existentes”, o que é reforçado pela fonte especialista, que
avalia, com carga emotiva, o benefício proporcionado pelo H-Bio. Diz ele: “É um grande ovo
de Colombo. Você não precisa fazer grandes investimentos adicionais porque você usa as
instalações já existentes”.
Ao comparar o desenvolvimento do H-Bio com “o ovo de Colombo”, é ressaltada a ênfase
dada à pesquisa. Da mesma forma, estão em evidência as funções expressiva (os
sentimentos/expectativas da fonte quanto à Tecnologia) e fática (já que essa comparação atrai
a atenção do telespectador pela grandiosidade demonstrada no discurso da fonte
especializada). Nenhuma informação nova é trazida pelo discurso da fonte especializada. Ele
disse, com outras palavras, o que o repórter já havia dito: o repórter já havia antecipado o
conteúdo da enunciação do especialista. Depois disso, a comparação é temporariamente
abandonada, para ser retomada no final da matéria.
Passa-se, então, para a explicação técnica, pelo repórter, da produção do novo diesel, em que
são resumidas as vantagens ambientais e de qualidade do produto. Nessa etapa, são
empregados recursos ilustrativos que contribuem para a compreensão do processo (“O óleo de
soja, o mesmo usado pelas donas-de-casa, é misturado ao óleo diesel e ao hidrogênio nos
tanques das refinarias. Da reação química sai um combustível menos poluente e de melhor
qualidade”). Ao inserir o óleo de soja, de uso cotidiano das pessoas, como ingrediente do
novo produto (“O óleo de soja, o mesmo usado pelas donas-de-casa”) a explicação também é
facilitada. Por outro lado, não há uma contextualização sobre qual diesel está sendo
comparado ao H-Bio. Será que o H-Bio é menos poluente e de melhor qualidade em
comparação ao diesel tradicional ou ao biocombustível? A matéria não esclarece.
A presença do repórter no laboratório de pesquisa traz atualidade, dinamicidade e
credibilidade ao discurso. Os benefícios para o consumidor conduzem o discurso. Diz ele: “A
previsão é que o H-Bio, também batizado de diesel verde, comece a chegar aos postos no final
de 2007. Os motores não vão precisar de modificação para receber o novo combustível.
Botando óleo de soja para rodar, o Brasil espera reduzir em 10 % a importação de óleo
229
diesel”. Ao usar a metáfora (óleo de soja para rodar) aproxima-se do público, cria-se o efeito
de sentido de utilidade, praticidade da Tecnologia.
O repórter retoma, finalmente, a comparação que estabeleceu no início entre o H-Bio e o
biocombustível. Diz ele: “Segundo a Petrobras, apesar das vantagens, o H-Bio não torna
ultrapassado o recém-criado programa de biocombustível”. Seu discurso é amparado na
conclusão dada pela fonte oficial, com autoridade para avalizar sobre a condução dos projetos.
Diz a fonte oficial: “Esses dois programas vão correr em paralelo”. Na matéria, o público
ocupa a posição discursiva de quem já conhece a Tecnologia do biocombustível
(subentendido) e, por isso, considera-se desnecessária a explicação/definição.
Observa-se, nessa comparação, a ausência de qualquer explicação, de retomada pelo menos
das características principais ou da definição do biocombustível. Criam-se sentidos, com
isso, que levam a uma comparação desigual entre as duas Tecnologias. Na matéria, o H-Bio é
melhor, apresenta mais vantagens que o biocombustível. A palavra “apesar”, com sentido
negativo, foi mal empregada no trecho em que a repórter salienta que o H-Bio tem vantagens
em relação ao biocombustível, mas sem apresentar qualquer informação sobre este último.
Mesmo assim, a fonte oficial conclui que o projeto do biocombustível, mesmo não sendo tão
bom como o projeto do H-Bio, não será abandonado.
A inserção de dois termos específicos, um desconhecido (H-Bio) e outro pouco conhecido
porque novo (biocombustível), sendo que este último não faz parte do foco central da matéria,
dificulta a compreensão do assunto, minimizada, por outro lado, pela visão do consumidor
diante da nova Tecnologia: o público ocupa a posição de consumidor.
O enfoque principal nesta reportagem é a visão do produto sob a perspectiva do consumidor.
Os benefícios econômicos (tanto para a empresa, que não precisa investir em infra-estrutura
para a produção, como para o consumidor, que terá uma alternativa de combustível sem
precisar gastar com alterações nos veículos) e a disponibilidade do produto para o
consumidor dessa nova Tecnologia sobrepõem-se, nessa matéria, aos aspectos tecnológicos
de pesquisa e desenvolvimento ou mesmo de benefícios para o País, trazidos pelo H-Bio. Os
próprios discursos das fontes especialista e oficial reforçam essa estrutura do discurso da
matéria: a fonte especialista fala da infra-estrutura para a produção e a fonte oficial da
Petrobras ressalta o andamento dos projetos do H-Bio e do biocombustível pela empresa. A
Tecnologia em si, enquanto avanço do conhecimento, e o pioneirismo do Brasil, bem como o
discurso do cientista, têm posição secundária.
Comparações entre as matérias: a função educativa
As reportagens sobre o “H-Bio” do Jornal Nacional e do SBT Brasil apresentaram
características semelhantes. Ambas as matérias são elucidativas quanto ao processo de
produção do novo combustível e também das vantagens deste em relação ao diesel
convencional. As matérias empregam os seguintes elementos positivos para facilitar a
compreensão do público: a) descrevem o processo de produção do H-Bio de forma
comparativa com a produção do diesel convencional, b) empregam linguagem simples; c)
usam elementos ilustrativos na explicação da produção do novo diesel, d) mostram os
pesquisadores no laboratório; e) apresentam as vantagens para o País e para o consumidor
final do novo produto. No caso específico do SBT Brasil, há também a explicação do
processo de produção com o uso de um produto conhecido do público – o óleo de cozinha.
230
4.3) Análise Quantitativa: Conclusões Parciais – 2006
Neste tópico são apresentados os resultados das análises quantitativas da amostra de maio de
2006.
A presença de CT&I nos telejornais
Na amostra de 2006 foram divulgadas, pelos cinco telejornais estudados, 14 matérias de
CT&I. O Jornal Nacional e o Jornal da Band apresentaram quatro matérias de CT&I cada.
Em seguida vem o SBT Brasil, com três matérias. O Jornal da Record divulgou duas matérias
sobre o assunto e, em último lugar, está o Jornal da Cultura, com apenas uma matéria de
CT&I divulgada.
Quantidade de matérias de CT&I por telejornal e total
Telejornal Total de matérias de CT&I
Jornal da Band 04
Jornal Nacional 04
SBT Brasil 03
Jornal da Record 02
Jornal da Cultura 01
Total 14
Tempo de duração das matérias de CT&I por telejornal
Em relação ao tempo das matérias de CT&I na amostra de 2006, o telejornal que mais
dedicou tempo para o assunto foi o Jornal Nacional, que ocupa o primeiro lugar, com oito
minutos e 54 segundos dedicados ao assunto. Em segundo lugar está o Jornal da Band, com
sete minutos e 21 segundos. O Jornal da Record está em terceiro lugar, com cinco minutos e
28 segundos. O SBT Brasil está em quarto lugar, com quatro minutos e 42 segundos
dedicados a CT&I e em último lugar está o Jornal da Cultura, com apenas 41 segundos.
Tempo das matérias de CT&I em cada telejornal e tempo total
Telejornal Tempo (em minutos e
segundos)
Jornal Nacional 8’54”
Jornal da Band 7’21”
Jornal da Record 5’28”
SBT Brasil 4’42”
Jornal da Cultura 41”
Total 27’06”
231
Matérias de CT&I e Gêneros Jornalísticos
Dos gêneros jornalísticos das matérias de CT&I dos telejornais investigados em 2006, o
Jornal da Band divulgou uma nota coberta e três reportagens. O Jornal Nacional veiculou
uma nota e três reportagens. O Jornal da Record pôs no ar duas reportagens e o Jornal da
Cultura divulgou somente uma nota coberta. Ao todo, CT&I esteve presente em uma nota
simples, duas notas cobertas e 11 reportagens na amostra de maio de 2006.
Matérias de CT&I e Gêneros Jornalísticos
Produção das imagens das matérias
Entre as matérias de CT&I veiculadas pelo Jornal da Band, três apresentam imagens
produzidas pela equipe de Jornalismo da própria emissora e uma possui imagens provenientes
de agência internacional de notícias. No caso do Jornal Nacional, três matérias m imagens
produzidas pela própria emissora e em uma não há imagens, por se tratar de uma nota
simples. No Jornal da Record, as duas matérias apresentam imagens produzidas pela
emissora. No caso do Jornal da Cultura, a única matéria de CT&I da amostra possui imagens
de agência internacional de notícias. Já no SBT Brasil, as três matérias têm imagens
produzidas pela equipe de Jornalismo da emissora.
Produção das imagens das matérias por telejornal e total
Telejornal Produzida pelo
telejornal
Produzida por
agência
Sem imagens
Jornal da Band 03 01 -
Jornal Nacional 03 - 01
Jornal da Record 02 - -
Jornal da Cultura - 01 -
SBT Brasil 03 - -
Total 11 02 01
Matérias de CT&I e Áreas do Conhecimento
O Jornal da Band, entre as matérias de CT&I veiculadas na amostra de 2006, duas são das
áreas de Ciências Biológicas, Ambientais e da Saúde e duas são de Tecnologia. No caso do
Jornal Nacional, das quatro matérias de CT&I, uma faz parte das áreas de Ciências
Biológicas, Ambientais e da Saúde; duas são das áreas de Ciências Exatas e da Terra e uma de
Tecnologia. O Jornal da Record apresentou uma matéria das áreas de Ciências Exatas e da
Terra e uma de Tecnologia. O Jornal da Cultura exibiu apenas uma matéria de Políticas de
CT&I. O SBT Brasil divulgou uma das áreas de Ciências Exatas e da Terra e duas de
Tecnologia.
Telejornal Nota Nota coberta Reportagem
Jornal da Band
- 01 03
Jornal Nacional
01 - 03
Jornal da Record
- - 02
Jornal da Cultura
- 01 -
SBT Brasil
- - 03
Total
01 02 11
232
As matérias de CT&I por telejornal e
Áreas do Conhecimento
Telejornal Ciências
Biológicas,
Ambientais
e da Saúde
Ciências
Exatas e
da Terra
Ciências
Humanas
Tecnologia
Inovação
Inven-
ção
Políti-
cas de
C&T
Jornal da
Band
02 - - 02 - - -
Jornal
Nacional
01 02 - 01 - - -
Jornal da
Record
- 01 - 01 - - -
Jornal da
Cultura
- - - _ - - 01
SBT Brasil - 01 - 02 - - -
Total
03 04 - 06 - - 01
Origem geográfica da pesquisa por telejornal
No Jornal da Band, as quatro matérias de CT&I da amostra de 2006 são de pesquisas de
origem internacional. O Jornal Nacional veiculou três matérias cujas pesquisas têm origem
nacional e uma tem origem internacional. O Jornal da Record pôs no ar duas matérias de
CT&I cujas pesquisas têm origem nacional. O Jornal da Cultura veiculou uma matéria sobre
CT&I de origem internacional. Já o SBT Brasil divulgou três matérias que tratam de pesquisas
nacionais.
Origem geográfica da pesquisa por telejornal e total
Telejornal Nacional Internacional Nacional e
Internacional
Não
mencionado
Jornal da Band - 04 - -
Jornal Nacional 03 01 - -
Jornal da Record 02 - - -
Jornal da Cultura - 01 - -
SBT Brasil
03 - - -
Total 08 06 - -
233
Origem geográfica da pesquisa nacional
Das matérias sobre pesquisas nacionais divulgadas pelos telejornais, no caso do Jornal
Nacional, duas delas foram desenvolvidas em todas as regiões do País e em uma delas não foi
mencionada a origem. No Jornal da Record, uma tratou de pesquisa desenvolvida em nível
nacional e em uma não se mencionou a origem. No caso do SBT Brasil, uma foi desenvolvida
em todas as regiões e em duas não foram informadas as origens.
Origem geográfica da pesquisa nacional
Telejornal Norte Nordeste
Centro-
Oeste
Sul Sudeste
Em todas
as regiões
Não
mencio-
nado
Jornal da Band - - - - - - -
Jornal Nacional - - - - - 02 01
Jornal da Record
- - - - - 01 01
Jornal da
Cultura
- - - - - - -
SBT Brasil - - - - - 01 02
Total
- - - - - 04 04
Origem institucional da pesquisa por telejornal
Das matérias de CT&I divulgadas pelo Jornal da Band na amostra de 2006, uma tratou de
pesquisa desenvolvida por instituto público, uma por universidade e em duas não foram
mencionadas as instituições responsáveis pela pesquisa. No caso do Jornal Nacional, duas
trataram de pesquisas desenvolvidas por institutos públicos, uma por indústria e em uma não
se mencionou a instituição. No Jornal da Record, uma matéria tratou de pesquisa
desenvolvida por instituto público e em uma não foi mencionada a instituição. No Jornal da
Cultura não se mencionou a origem da instituição responsável pela pesquisa. No caso do SBT
Brasil, uma matéria tratou de pesquisa desenvolvida por instituto público, uma por indústria e
em uma não foi mencionada a instituição responsável.
Origem institucional da pesquisa por telejornal e total
Telejornal Instituto
público de
pesquisa
Instituto
privado de
pesquisa
Univer-
sidade
Indús-
tria
ONG
Parceria
Público-
Privada
Não
mencio-
nado/Ou
tros
Jornal da Band 01 - 01 - - - 02
Jornal Nacional 02 - - 01 - - 01
Jornal da Record
01 - - - - - 01
Jornal da
Cultura
- - - - - - 01
SBT Brasil 01 - - 01 - - 01
Total 05 - 01 02 - - 06
234
4.4) Resultados Gerais
Análise Quantitativa: Comparações 2005 e 2006
Este tópico apresenta os resultados comparativos das análises quantitativas a partir das
amostras de 2005 e 2006.
A presença de CT&I nos telejornais
Houve diminuição significativa da quantidade de matérias de um ano para o outro
(comparando-se as amostras de maio de 2005 e maio de 2006). O Jornal da Band apresentou
o maior número de matérias da amostra totalizou 12 matérias de CT&I exibidas nos dois
anos de estudo. Na amostra de maio de 2005 foram divulgadas oito matérias pelo Jornal da
Band e na de 2006, quatro matérias uma queda de 50%. O Jornal Nacional veiculou, ao
todo, onze matérias. Foram sete na amostra de 2005 e quatro na de 2006 uma queda de
42,8% no número de matérias. O Jornal da Cultura também apresentou onze matérias ao
todo. Na amostra de 2005 foram veiculadas dez matérias e na de 2006 apenas uma uma
queda de 90%. O Jornal da Record divulgou sete matérias, sendo cinco na amostra de 2005 e
duas na de 2006 uma queda de 60% na quantidade de matérias. O SBT Brasil não era
veiculado em maio de 2005, por isso, a quantidade analisada refere-se somente à amostra de
2006, ou seja, três matérias.
Matérias de CT&I por telejornal e total
Telejornal 2005 2006 Total
Jornal da Band
08 04
12
Jornal Nacional
07 04
11
Jornal da Cultura
10 01
11
Jornal da Record
05 02
07
SBT Brasil
- 03
03
Total 30 14 44
Gráfico 1
0
5
10
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT Brasil
Quantidade de matérias CT&I
2005 e 2006
2005
2006
Fonte: ALBERGUINI, Audre Cristina (2007)
235
Tempo total dedicado a CT&I nos telejornais
(em minutos e segundos)
Em relação ao tempo (em minutos e segundos) dedicado a CT&I nos telejornais estudados,
observa-se que o Jornal da Band, assim como aconteceu com a quantidade de matérias, foi
também o que dedicou maior tempo a CT&I. Houve, comparativamente, uma diminuição no
tempo entre 2005 e 2006. Na amostra de 2005 foram dedicados 12 minutos e 13 segundos
enquanto na de 2006, sete minutos e 21 segundos uma queda de 39,84%. O Jornal Nacional
configura em segundo lugar, com 16 minutos e 28 segundos da programação jornalística
dedicada a CT&I. Diferentemente dos demais telejornais, o Jornal Nacional apresentou uma
aumento no tempo dedicado a CT&I entre 2005 e 2006. Esse aumento é devido à duração de
quatro minutos e 37 segundos da reportagem sobre segurança alimentar, do dia 17 de maio de
2006. Na amostra de 2005 foram sete minutos e 34 segundos, enquanto na de 2006 foram oito
minutos e 54 segundos dedicados ao assunto um aumento de 17,62%. O Jornal da Cultura
dedicou, ao todo, 16 minutos e 4 segundos para matérias de CT&I nos dois anos. Na amostra
de 2005 foram 15 minutos e 23 segundos e na de 2006, 41 segundos uma queda de 95,34%.
O Jornal da Record vem em seguida, com 14 minutos e 43 segundos dedicados a CT&I nos
dois anos. Na amostra de 2005, o Jornal da Record dedicou nove minutos e 15 segundos a
CT&I e na de 2006, cinco minutos e 28 segundos uma queda de 40,90%. Já no caso do SBT
Brasil não foi possível estabelecer comparação, visto que o telejornal não era apresentado em
maio de 2005. O SBT Brasil, na amostra de 2006, dedicou quatro minutos e 42 segundos a
CT&I. Juntos, em 2005, foram dedicados 44 minutos e 25 segundos para CT&I na amostra de
2005 e 27 minutos e seis segundos na de 2006 uma queda de 38,99%. Os dois períodos
estudados totalizaram uma hora, 11 minutos e 31 segundos de matérias sobre CT&I.
Tempo total dedicado a CT&I nos telejornais
Telejornal Tempo 2005
Tempo 2006 Tempo Total
Jornal da Band 12’13” 7’21” 19’34”
Jornal Nacional 7’34” 8’54” 16’28”
Jornal da Cultura 15’23” 41” 16’04”
Jornal da Record 9’15” 5’28” 14’43”
SBT Brasil - 4’42” 4’42”
Total 44’25” 27’06” 1h 11’31”
236
Gráfico 2
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
Tempo (em
segundos)
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT
Brasil
Telejornais
Tempo dedicado a CT&I nos telejornais
2005
2006
Fonte: ALBERGUINI, Audre Cristina (2007)
Gráfico 3
0
200
400
600
800
1000
1200
Tempo em
segundos
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT
Brasil
Telejornais
Tempo total dedicado a CT&I por telejornal
Fonte: ALBERGUINI, Audre Cristina (2007)
237
Matérias de CT&I e Gêneros Jornalísticos
Somando-se as amostras de 2005 e 2006, as matérias de CT&I foram disponibilizadas em
nove notas simples, sete notas cobertas e 28 reportagens, que predominam como gênero
jornalístico. No Jornal da Band foram veiculadas uma nota, três notas cobertas e oito
reportagens. No Jornal Nacional foram divulgadas três notas, duas notas cobertas e seis
reportagens. No Jornal da Record foram veiculadas uma nota coberta e seis reportagens. No
Jornal da Cultura foram veiculadas quatro notas, duas notas cobertas e cinco reportagens. No
SBT Brasil as três matérias de CT&I divulgadas na amostra de 2006 são reportagens.
Matérias de CT&I e Gêneros Jornalísticos (2005 e 2006)
Gráfico 4
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT Brasil
Matérias de CT&I e Gêneros
Jornalísticos
Nota simples
Nota coberta
Reportagem
Fonte: ALBERGUINI, Audre Cristina (2007)
Telejornal Nota Nota coberta Reportagem
Jornal da Band 01 03 08
Jornal Nacional 03 02 06
Jornal da Record - 01 06
Jornal da Cultura 04 02 05
SBT Brasil - - 03
Total 08 08 28
238
Produção das imagens das matérias por telejornal (2005 e 2006)
Sobre a produção das matérias, o Jornal da Band apresentou oito matérias cujas imagens
foram produzidas pela própria equipe de Jornalismo da emissora, três com imagens de
agências internacionais de notícias e uma que não possui imagens. O Jornal Nacional
veiculou sete matérias cujas imagens foram produzidas pela própria equipe de Jornalismo da
emissora, uma com imagens de agência internacional de notícias e três que não possuem
imagens. O Jornal da Record apresentou seis matérias cujas imagens foram produzidas pela
própria equipe de Jornalismo da emissora e uma com imagens de agência internacional de
notícias. O Jornal da Cultura veiculou cinco matérias cujas imagens foram produzidas pela
própria equipe de Jornalismo da emissora, duas com imagens de agências internacionais de
notícias e quatro que não possuem imagens. As três matérias produzidas pelo SBT Brasil
apresentaram imagens do próprio telejornal.
Produção das imagens das matérias por telejornal e total
(2005 e 2006)
Telejornal Produzida pelo
telejornal
Produzida por
agência
Não possui
imagens
Jornal da Band 08 03 01
Jornal Nacional 07 01 03
Jornal da Record 06 01 -
Jornal da Cultura 05 02 04
SBT Brasil 03 - -
Total 29 07 08
Gráfico 5
0
2
4
6
8
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT
Brasil
Produção de matérias por telejornal -
2005 e 2006
Produzida pelo
Telejornal
Agência de
Notícias
Sem imagens
Fonte: ALBERGUINI, Audre Cristina (2007)
239
Matérias de CT&I e Áreas do Conhecimento (2005 e 2006)
Em relação às Áreas de Conhecimento abordadas nas matérias de CT&I dos telejornais nas
duas amostras investigadas, observa-se que o Jornal da Band apresentou quatro matérias das
áreas de Ciências Biológicas, Ambientais e da Saúde; quatro das Ciências Exatas e da Terra;
três de Tecnologia e uma Invenção. O Jornal Nacional veiculou duas matérias das áreas de
Ciências Biológicas, Ambientais e da Saúde; cinco das Ciências Exatas e da Terra; uma das
Ciências Humanas; duas de Tecnologia e uma de Políticas de C&T. O Jornal da Record
divulgou uma matéria das áreas de Ciências Biológicas, Ambientais e da Saúde; quatro das
Ciências Exatas e da Terra; uma de Tecnologia e uma de Políticas de C&T. O Jornal da
Cultura apresentou quatro matérias das áreas de Ciências Biológicas, Ambientais e da Saúde;
três das Ciências Exatas e da Terra; uma das Ciências Humanas; uma de Inovação; uma de
Invenção e uma de Políticas de C&T. O SBT Brasil apresentou uma matéria das áreas de
Ciências Exatas e da Terra e duas de Tecnologia.
Matérias de CT&I e Áreas do Conhecimento (2005 e 2006)
Telejornal Ciências
Biológicas,
Ambientais
e da Saúde
Ciências
Exatas e
da Terra
Ciências
Humanas
Tecnologia
Inovação
Inven-
ção
Políticas
de C&T
Jornal da
Band
04 04 - 03 - 01 -
Jornal
Nacional
02 05 01 02 - - 01
Jornal da
Record
01 04 - 01 - - 01
Jornal da
Cultura
04 03 01 - 01 01 01
SBT Brasil - 01 - 02 - - -
Total
11 17 02 08 01 02 03
Gráfico 6
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
Ciências
Biológicas,
Ambientais
e da Saúde
Ciências
Exatas e
da Terra
Ciências
Humanas
Tecnologia Inovação Invenção Políticas de
C&T
Matérias de CT&I e Áreas do Conhecimento
Jornal da Band
Jornal Nacional
Jornal da Record
Jornal da Cultura
SBT Brasil
Fonte: ALBERGUINI, Audre Cristina (2007)
240
Origem geográfica da pesquisa por telejornal e total
Sobre a origem geográfica das pesquisas apresentadas nas matérias conclui-se que nas
amostras de 2005 e 2006, juntas, o Jornal da Band publicou cinco matérias sobre pesquisas de
origem nacional, seis de origem internacional e uma em que não se mencionou a origem da
pesquisa. O Jornal Nacional veiculou cinco matérias sobre pesquisas nacionais e seis sobre
internacionais. O Jornal da Record divulgou seis matérias de pesquisas realizadas no Brasil e
uma do exterior. O Jornal da Cultura, por sua vez, veiculou oito matérias de pesquisas
brasileiras, duas de pesquisas estrangeiras e em uma não foi mencionada a origem da
pesquisa. O SBT Brasil veiculou três matérias sobre pesquisas nacionais.
Origem geográfica da pesquisa por telejornal e total
Telejornal Nacional Internacional Nacional e
Internacional
Não
mencionado
Jornal da Band 05 06 - 01
Jornal Nacional 05 06 - -
Jornal da Record 06 01 - -
Jornal da Cultura 08 02 - 01
SBT Brasil 03 - - -
Total 27 15 -
02
Gráfico 7
0
2
4
6
8
Jornal da
Band
Jornal
Nacional
Jornal da
Record
Jornal da
Cultura
SBT
Brasil
Matérias de CT&I e origem geográfica da
pesquisa
Nacional
Internac.
Nac. e Internc.
Não menc.
Fonte: ALBERGUINI, Audre Cristina (2007)
241
Origem geográfica da pesquisa nacional (2005 e 2006)
Foram veiculadas,nas amostras de 2005 e 2006, 27 matérias sobre pesquisas nacionais, com
predomínio claro da Região Sudeste (dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro). O Jornal da
Band veiculou quatro matérias da Região Sudeste e uma realizada em todas as regiões do
País
65
. O Jornal Nacional divulgou uma matéria sobre pesquisas da Região Sudeste, três de
todas as regiões e uma em que não se mencionou a origem. O Jornal da Record divulgou três
matérias de pesquisas realizadas na Região Sudeste, duas de todas as regiões do Brasil e uma
em que a origem não foi mencionada. O Jornal da Cultura veiculou uma matéria de pesquisas
da Região Norte, cinco da Região Sudeste e duas de todas as regiões, realizada em nível
nacional. O SBT Brasil pôs no ar uma matéria sobre pesquisas realizadas em todo País e duas
de origem não citada.
Origem geográfica da pesquisa nacional (2005 e 2006)
Telejornal Norte
Nordeste
Centro-
Oeste
Sul
Sudeste
Em todas
as regiões
Não
mencio-
nado
Jornal da Band - - - - 04 01 -
Jornal Nacional - - - - 01 03 01
Jornal da Record - - - - 03 02 01
Jornal da Cultura 01 - - - 05 02 -
SBT Brasil - - - - - 01 02
Total
01 - - - 13 09 04
Gráfico 8
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
Norte Nordeste Centro-
Oeste
Sul Sudeste Todas as
regiões
Não menc.
Matérias de CT&I e origem da pesquisa
nacional (2005 e 2006)
Jornal da Band
Jornal Nacional
Jornal da Record
Jornal da Cultura
SBT Brasil
Fonte: ALBERGUINI, Audre Cristina (2007)
65
As matérias realizadas em todo o País referem-se às realizadas em âmbito nacional pelo IBGE.
242
Origem institucional da pesquisa por telejornal
Sobre a origem institucional das pesquisas divulgadas nas matérias nota-se uma prevalência
dos institutos públicos. Além disso, em muitas matérias não há informação sobre a origem da
pesquisa. O Jornal da Band veiculou cinco matérias de institutos públicos de pesquisa, uma
de universidade, uma proveniente de parceria público-privada e em cinco não foram
mencionadas as instituições responsáveis. O Jornal Nacional divulgou quatro matérias de
institutos públicos de pesquisa, uma de universidade, uma da indústria, uma de instituição
internacional (ligada à ONU) e em quatro não foram mencionadas as instituições
responsáveis. O Jornal da Record divulgou três matérias de institutos públicos de pesquisa,
uma de universidade, uma instituição internacional (ligada à ONU) e em duas não foram
mencionadas as instituições responsáveis. O Jornal da Cultura veiculou quatro matérias de
institutos públicos de pesquisa, duas de universidades, uma de instituição internacional (ligada
à ONU) e em quatro não foram mencionadas as instituições responsáveis. O SBT Brasil
publicou uma matéria de instituto público de pesquisa, uma da indústria e em uma não foi
mencionada a instituição responsável pela pesquisa.
Origem institucional da pesquisa por telejornal e total
Telejornal Instituto
público de
pesquisa
Instituto
privado de
pesquisa
Univer-
sidade
Indús-
tria
Inst.
Intern.
Parceria
Público-
Privada
Não
mencio-
nado
Jornal da Band 05 - 01 - - 01 05
Jornal Nacional 04 - 01 01 01 - 04
Jornal da Record
03 - 01 - 01 - 02
Jornal da
Cultura
04 - 02 - 01 - 04
SBT Brasil 01 - - 01 - - 01
Total 17 - 05 02 03 01 16
Gráfico 9
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
Instituto
Público de
Pesquisa
Instituto
Privado de
Pesquisa
Universidade Indústria Inst. Intern. Parceria
Público-
Privada
Não menc.
Matérias de CT&I e origem institucional da pesquisa
Jornal da Band
Jornal Nacional
Jornal da Record
Jornal da Cultura
SBT Brasil
Fonte: ALBERGUINI, Audre Cristina (2007)
243
Origem institucional da pesquisa nacional por telejornal e total
Das 27 matérias oriundas de pesquisas nacionais, o Jornal da Band divulgou uma matéria de
instituto público, uma de universidade, uma pesquisa resultado de parceria público-privada e
duas cujas instituições responsáveis não foram mencionadas. O Jornal Nacional divulgou três
matérias de institutos públicos, uma de universidade e uma de indústria. O Jornal da Record
divulgou quatro matérias de institutos públicos de pesquisa, uma de universidade e em uma
não foi mencionada a origem institucional. O Jornal da Cultura divulgou quatro matérias de
institutos públicos, duas de universidade e em duas não foi mencionada a origem institucional
da pesquisa (uma delas trata-se do inventor, que não tem vínculo com nenhuma instituição). O
SBT Brasil divulgou uma matéria de instituto público, uma de indústria e em uma não houve
referência à instituição responsável.
Origem institucional da pesquisa nacional por telejornal e total
Telejornal Instituto
público de
pesquisa
Instituto
privado de
pesquisa
Univer-
sidade
Indús-
tria
ONG
Parceria
Público-
Privada
Não
mencio-
nado
Jornal da Band 01 - 01 - - 01 02
Jornal Nacional 03 - 01 01 - - -
Jornal da Record 04 - 01 - - - 01
Jornal da Cultura 04 - 02 - - - 02
SBT Brasil 01 - - 01 - - 01
Total 13 - 05 02 - 01 06
Gráfico 10
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
Instituto
Público de
Pesquisa
Instituto
Privado de
Pesquisa
Universidade Indústria Ong Parceria
Público-
Privada
Não menc. /
Outros
Matérias de CT&I e origem institucional da pesquisa nacional
Jornal da Band
Jornal Nacional
Jornal da Record
Jornal da Cultura
SBT Brasil
Fonte: ALBERGUINI, Audre Cristina (2007)
244
4.5) Considerações finais do capítulo
66
A Ciência, a Tecnologia e a Inovação ocupam espaço nos telejornais de alcance nacional no
horário nobre. O assunto esteve presente em todos os telejornais pesquisados, mas não em
todas as edições estudadas. Em todos os dias da amostra foram encontradas, no mínimo, uma
e, no máximo, nove matérias sobre o assunto nos diferentes telejornais. Com isso, é possível
avaliar que tais programas reconhecem a importância do assunto. Nos quatro telejornais que
compuseram a amostra de 2005, em duas semanas típicas, foram veiculadas 30 matérias sobre
CT&I, no total de 44 minutos e 25 segundos.
Na amostra de 2006 provavelmente devido à ocorrência de dois eventos que interferiram na
programação dos cinco telejornais estudados (na primeira semana a privatização das reservas
de gás natural e petróleo da Bolívia e, na segunda, os atentados do crime organizado em São
Paulo) houve uma significativa queda na quantidade de matérias de CT&I e no tempo de
duração dessas matérias. Mesmo assim, o assunto não foi ignorado e 14 matérias, que
duraram 27 minutos e 06 segundos de CT&I, foram veiculadas.
A maior parte das matérias sobre CT&I das amostras está no formato reportagem, (são 8 notas
simples, 8 notas cobertas e 28 reportagens), o que revela, também, a relevância dada pelos
telejornais ao assunto, já que a reportagem é capaz de proporcionar uma abordagem mais
contextualizada, e não meramente descritiva do assunto (se bem que não é condição sine qua
non). Em grande parte das reportagens foram ouvidas fontes especialistas, o que mostra que o
cientista tem espaço e voz nas matérias de CT&I.
A pesquisa também demonstrou que há um investimento das empresas jornalísticas, em
relação à produção das matérias. A maior parte das matérias possui imagens produzidas pelas
próprias equipes de jornalismo das emissoras. Foram encontradas 29 matérias em que as
imagens são produzidas pela emissora, 7 em que há imagens de agências internacionais de
notícias e 8 que, por serem notas simples, não contam com imagens (somente há a imagens
do apresentador, que narra a matéria).
A quantificação dos dados também mostrou que a maior parte das matérias trata da
divulgação de CT&I produzida no Brasil. Foram veiculadas 27 matérias de origem nacional,
15 de origem internacional e apenas duas em que a origem da pesquisa não foi mencionada na
matéria.
Por outro lado, quando se avalia a origem geográfica das pesquisas brasileiras, nota-se o
predomínio das pesquisas realizadas na Região Sudeste do Brasil (sobretudo de São Paulo e
Rio de Janeiro). Foram encontradas 13 matérias da Região Sudeste. Em relação às outras
regiões, foi encontrada apenas uma matéria do Jornal da Cultura, que tratou de uma pesquisa
do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), localizado no Estado do Pará. Este
fato revela desequilíbrios na divulgação da pesquisa nacional: as pesquisas das regiões
Nordeste, Centro-Oeste e Sul estiveram ausentes/ocultas dos telejornais nacionais durante os
períodos de investigação. Também é significativo o número de matérias sobre pesquisas
realizadas em âmbito nacional (nove matérias). Este fato é justificado pela grande incidência
de matérias resultantes de pesquisas do IBGE, que têm caráter nacional.
66
Estas conclusões são referentes apenas ao capítulo IV. As conclusões finais da tese, com a retomada das
hipóteses, dos objetivos e das conclusões parciais dos demais capítulos, encontram-se no final do trabalho, no
item “Conclusões”.
245
Ao analisar as matérias de CT&I por Área do Conhecimento conclui-se que foram divulgadas,
em maior número, as áreas de Ciências Exatas e da Terra (com 17 matérias), seguidas das
áreas Biológicas, Ambientais e da Saúde (com 11 matérias), seguida de Tecnologia (com oito
matérias), de Políticas de C&T (com três matérias), de Invenção e das Ciências Humanas
(com duas matérias cada) e de Inovação (uma matéria).
Sobre a instituição responsável pelas pesquisas nota-se a preponderância dos institutos
públicos de pesquisa sobre as demais fontes produtoras de pesquisa. Foram veiculadas 17
matérias de CT&I em que as pesquisas foram desenvolvidas por institutos públicos (tanto
nacionais quanto internacionais), cinco matérias sobre pesquisas produzidas por universidades
(tanto nacionais quanto internacionais; no caso das matérias sobre pesquisas nacionais, as
universidades são públicas e da região Sudeste), duas matérias são provenientes de pesquisas
de indústria (no caso são as duas matérias do Diesel H-Bio, produzido pela Petrobras, uma
empresa de economia mista), três matérias de instituições internacionais e uma proveniente de
parceria entre o setor público (um instituto de pesquisa público) e o privado. Ao todo, 16
matérias não informaram a origem institucional da pesquisa o que revela a pouca atenção
dada, pelos telejornais estudados, às fontes institucionais das pesquisas.
No caso específico das 27 pesquisas nacionais, nota-se a predominância da divulgação das
pesquisas realizadas por institutos públicos de pesquisa (13 matérias) e de universidades
públicas cinco matérias (especificamente da USP e da Unicamp ambas do Estado de São
Paulo). Em seis matérias não se informou a origem institucional da pesquisa e, em menor
número, houve a divulgação de pesquisas realizadas por empresa (duas matérias, no caso, da
Petrobras) e uma proveniente da parceria público-privada (um instituto de pesquisa público e
uma empresa privada), o que demonstra a exígua participação da iniciativa privada na
divulgação científica dos telejornais.
Este estudo possibilitou análises relevantes sobre a abordagem das matérias de divulgação de
CT&I apresentadas pelos telejornais nacionais de horário nobre. A mais visível é que não há
um padrão de abordagem, de aprofundamento do assunto e de tempo dedicado às matérias de
CT&I por telejornal.
Os telejornais reconhecem a importância do assunto, divulgam matérias de CT&I, mas ainda
sem a mesma atenção às possibilidades de compreensão pública do assunto em todas as
matérias. Em uma mesma edição de um telejornal, como aconteceu com o Jornal da Cultura
do dia 09 de maio de 2005, por exemplo, são encontradas duas matérias com características
totalmente distintas: uma (“Tratamento para endometriose”) está no formato reportagem,
apresenta o assunto de forma contextualizada e com duração de 2 minutos e 56 segundos. A
outra (“Motores bicombustíveis para caminhões e ônibus”) está no formato de nota simples,
sem as informações essenciais para que a informação possa ser minimamente contextualizada
pelo público (dura apenas 15 segundos).
Foi possível observar também que os telejornais divulgam as matérias de CT&I de forma
parecida entre eles. Uma das semelhanças es no formato jornalístico adotado. Todos
apresentaram a maioria das matérias no formato de reportagem, mas pelo menos uma em nota
coberta. Não foi possível classificar cada um dos telejornais quanto ao tratamento desses
assuntos. Prova disso é que foram encontradas reportagens muito parecidas em mais de um
telejornal (como por exemplo as matérias sobre o Diesel H-Bio, divulgadas pelo Jornal
Nacional e pelo SBT Brasil no dia 19 de maio de 2006) na forma de abordagem, na linguagem
246
empregada, na contextualização e uso de fontes, enquanto que em outras matérias, dentro do
mesmo telejornal, mostram-se bem diferentes.
A abordagem do conteúdo, com uso de elementos ilustrativos em boa parte das reportagens,
foi outra característica semelhante entre os telejornais investigados. Esses recursos auxiliam
na compreensão do assunto, com exceção de matérias com emprego de muitos dados
numéricos e porcentagens, nas quais ficou comprovado que os elementos ilustrativos
reforçam a informação, mas não garantem a compreensão do assunto face à diversidade de
formação cultural dos telespectadores.
Quanto às fontes, também há um certo padrão entre os telejornais. Nas reportagens
empregam-se, na maioria das matérias, fontes especialistas, corroboradas por fontes
testemunhais ou oficiais. As fontes especialistas não têm suas posições contrastadas pelos
posicionamentos das outras fontes da matéria (na amostra, houve apenas uma matéria em que
a posição do cientista foi confrontada com a de outras fontes). Dependendo do assunto, as
fontes especialistas configuram como centrais na matéria e, em alguns casos, as fontes
especialistas têm papel secundário nos discursos em relação às fontes oficiais e,
principalmente, às testemunhais. A explicação do processo científico por especialistas é
facilitada quando estes fazem uso de desenhos, mapas, gráficos, esquemas, ilustrações. Como
foi analisada nos dados quantitativos, a origem das fontes também é recorrente nos
telejornais: a maioria das fontes especialistas é originária da região Sudeste e de institutos
públicos de pesquisa.
Algumas nuances na abordagem, no entanto, foram encontradas. No caso do Jornal da Band,
os apresentadores empregam um tom mais informal e intimista que os outros telejornais
investigados. Tais apresentadores falam sobre o telespectador e adotam, por vezes, a posição
discursiva de professores, preocupados com a explicação didática do assunto. Essa postura
tem como objetivo atrair a atenção do público para o telejornal e para o assunto e não acarreta
em prejuízos para a compreensão dos processos que envolvem os conteúdos de CT&I
apresentados.
Em outros momentos, tanto no Jornal da Band, como no Jornal da Cultura e no Jornal
Nacional, os apresentadores ocupam a posição discursiva de especialistas cientistas
conhecedores do assunto e tratam o assunto com linguagem técnica/científica, sem a
preocupação com a explicação de tais conceitos de modo mais simples. Tal posicionamento
discursivo acaba por criar empecilhos à compreensão de CT&I, visto que alguns termos
restritos da linguagem científica são tomados como de conhecimento do público em geral.
no caso do SBT Brasil e do Jornal da Record, os apresentadores, na maioria das vezes, não
empregam termos técnicos nem buscam um tom intimista com o receptor ao tratar de assuntos
de CT&I.
No caso do Jornal da Record, em particular, os comentários do âncora Boris Casoy
67
também
representaram um diferencial deste telejornal em relação aos demais. Casoy apresentou quatro
das seis edições da amostra de 2005. No período das amostras de 2006, ele já havia sido
substituído pelos apresentadores Celso Freitas e Adriana Araújo. Em quatro matérias de CT&I
apresentadas pelo âncora, três delas contaram com comentários no final das matérias.
67
Para um estudo aprofundado do papel do âncora no telejornalismo, ver na bibliografia: SQUIRRA, Sebastião
Carlos de M. Boris Casoy: o âncora no telejornalismo brasileiro, 1993.
247
Um dos comentários apareceu na matéria “Banco Nacional de Tumores”, veiculada no dia 11
de maio de 2005. O comentário foi de apoio à iniciativa de inauguração do Banco. Outro
comentário, também no dia 11 de maio de 2005, esteve presente na matéria “Estudo Márcio
Pochmann”. Este comentário teve como objetivo apresentar a posição oficial a respeito do
estudo de Pochmann. Como a matéria não havia mostrado a visão do governo Federal sobre a
pesquisa do economista (que trata dos investimentos públicos no setor social), Casoy
apresentou a versão do Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos
Lisboa, em discurso indireto. O terceiro comentário esteve presente no dia 24 de maio de
2005, na matéria Mapa da violência pesquisa Unesco”, no qual Casoy critica a situação da
segurança pública no Estado de São Paulo e no Brasil. Com características distintas, nenhum
dos comentários prejudicou a compreensão de CT&I. Além de apoiar os investimentos em
pesquisas (no caso do Banco Nacional de Tumores), os comentários tiveram a função de
complementar a informação da matéria (no caso da matéria “Estudo Márcio Pochmann”) e de
contextualizar os resultados da pesquisa (no caso da matéria sobre o “Mapa da violência
pesquisa Unesco”). Dessa forma, pode-se aferir que tais comentários contribuíram para a
compreensão dos assuntos de CT&I das matérias.
Nas análises, todas as matérias que tratam de Tecnologia ressaltam as características
positivas, ligadas ao avanço, aos benefícios sociais, econômicos, ambientais, entre outros. A
imagem da Ciência varia entre as formas elogiativa e equilibrada (nem elogiativa e nem
depreciativa).
No caso da Invenção, em particular, não há um padrão na imagem, mas nas duas matérias
houve a menção, sutil ou não, verbal ou não-verbal, ao caráter irreverente do inventor (tanto
no caso do “cobertor para geleiras”, na nota coberta do Jornal da Band na qual o inventor é
citado, mas não é mostrado, como no caso da reportagem do Jornal da Cultura sobre
“Veículos especiais para pessoas com dificuldades de locomoção”, em que o videorrepórter o
apresenta como “Professor Pardal”). Esse aspecto salienta alguns dos sentidos criados nas
matérias de divulgação científica, sobre a imagem do cientista, do pesquisador. Krieghbaum
(1967, p. 24) avalia que, algumas vezes, o cientista é mostrado como excêntrico e isso
“prejudica a concepção da imagem real do homem ou da mulher mas ajuda muito ao
jornalista ao lhe dar pretexto muitas vezes conveniente [para a divulgação da matéria]”. Essa
visão ainda permanece quase meio século depois, em prejuízo para a compreensão pública do
trabalho científico.
Os telejornais, de modo geral, empregaram diversos recursos para facilitar a compreensão dos
assuntos de CT&I das matérias. De acordo com as análises, o da humanização foi um dos
mais utilizados. A humanização consiste, basicamente, em revelar o assunto de CT&I a partir
da vivência de fontes testemunhais. Dessa forma, CT&I insere-se mais facilmente na vida das
pessoas e do público. A humanização também pode se dar a partir das fontes especialistas
cientistas (quando a matéria mostra as motivações pessoais que levaram o cientista a seguir a
carreira) ou inventores (que configuram como personagens centrais das matérias).
Outro recurso foi o de proporcionar a contextualização social da pesquisa, mostrando as
repercussões que CT&I pode ocasionar na sociedade, entre elas a vantagem econômica.
Algumas matérias também apontaram a relevância acadêmica da pesquisa e, no caso
específico do Jornal da Cultura, indicaram outras fontes de pesquisa (em sites) sobre a
informação científica. Alguns programas, ainda, relacionaram a pesquisa nacional com o que
é feito em outros países.
248
O emprego de linguagem com poucos termos técnicos tanto nos discursos do apresentador,
como nos da repórter e das fontes especializadas foi um dos recursos essenciais para tornar a
matéria mais facilmente compreensível pelo público. Além disso, o uso de analogias,
descrições de conceitos, comparações e exemplificações contribuíram, decisivamente, para a
explicação dos processos de CT&I. As análises mostraram que, explicar o conteúdo/processo
científico partindo de referências já conhecidas pelo público em geral, também colabora para
a compreensão da matéria.A analogia é um elemento essencial da linguagem de divulgação
científica. Ela torna concreto conceitos abstratos, dá ao leitor uma base de comparação etc. O
ideal é que sejam consideradas ilustrativas e não explanatórias” (VIEIRA, 1998, p. 21).
O uso das imagens mostrou-se essencial para a explicação de CT&I. O recurso das imagens
foi utilizado de diversas formas. Um delas foi mostrar imagens do local em que as pesquisas
eram feitas. Outra foi demonstrar o trabalho dos cientistas no laboratório. Este, em particular,
mostrou-se extremamente valioso, pois é capaz de reforçar conceitos, facilitar o entendimento
do assunto e atrair o público para o assunto. Outra, ainda, refere-se à explicação (com
palavras e imagens) das etapas do trabalho científico. Além disso, houve também a
demonstração, pelo repórter, do processo de pesquisa. As imagens também foram empregadas
para explica como os produtos funcionam e mostrar pessoas usando os produtos.
Por outro lado, diversas características das matérias prejudicaram a Compreensão Pública da
Ciência. A mais recorrente delas foi o emprego de termos científicos sem explicação por
imagens e/ou palavras ao longo da matéria. Sobre a linguagem ainda, diversas matérias
usaram termos vagos e imprecisos, informaram datas e informações fragmentadas, além de
usarem diversas marcações temporais de passado e presente que podem dificultar a
compreensão da matéria. Houve até um erro de informação dito pelo apresentador
(prontamente corrigido por ele próprio), que criou outro sentido e diminuiu o impacto da
informação.
Em relação ao tempo da matéria, algumas destinaram tempo insuficiente para o tratamento do
assunto enquanto outras se mostraram excessivamente extensas e com muitos dados
numéricos e porcentagens.
A ausência de fontes (testemunhais, especialistas ou oficiais) e de imagens sobre o processo
de pesquisa contribuíram para o caráter descontextualizado do assunto, além da falta de
explicação do trabalho de pesquisa envolvido em algumas matérias. Nesses casos não eram
fornecidas informações relevantes para o entendimento do assunto. Presumia-se que o
telespectador tivesse conhecimento sobre a situação das pesquisas no mundo. Soma-se a isso,
a desvinculação da pesquisa à vida das pessoas e o uso de comparações/analogias com lugares
distantes da realidade brasileira.
2
49
CAPÍTULO V:
A VISÃO DO PÚBLICO SOBRE AS MATÉRIAS DE
CT&I
Apresentação
O quinto capítulo apresenta a descrição e as análises do Estudo de Recepção, realizado através
da técnica de Grupos Focais. A dinâmica de Grupos Focais foi desenvolvida com dois grupos
separadamente. Um deles formado por estudantes do terceiro ano de Graduação em
Jornalismo. O outro foi realizado com pessoas de diferentes faixas etárias, níveis sócio-
econômico e educacional. Para isso, foi escolhida uma amostra de funcionários de uma
empresa, com diferentes cargos/funções e graus de instrução. Este capítulo divide-se em:
1) Descrição da pesquisa: detalhamento da seleção do material e do procedimento de
aplicação da pesquisa de recepção.
2) Perfis socioculturais dos grupos: resultado dos questionários aplicados, anonimamente, a
todos os integrantes dos grupos.
3) Identificação dos integrantes dos grupos: procedimento metodológico para identificar o
perfil dos integrantes dos grupos nos diálogos.
4) Análise de recepção, realizada em cada uma das matérias selecionadas, identificada
como: “O confronto de discursos”, dividida nas seguintes partes: 1) Discussões dos
Grupos Focais: transcrição dos discursos verbais dos grupos (divididos em: “Grupo de
estudantes de Jornalismo” e “Grupo de funcionários da empresa”); 2) Descrição e
Análise dos discursos dos grupos e das percepções sobre as matérias de CT&I
selecionadas; 3) Comparações: análise da autora versus análise dos Grupos Focais:
análise comparativa entre as discussões dos grupos e as análises da pesquisadora sobre a
matéria (que constam no capítulo IV, juntamente com as demais matérias investigadas).
5) Conclusões dos grupos sobre as matérias: avaliação, por parte dos grupos, das matérias,
de forma geral.
6) Considerações finais desta etapa da pesquisa.
5.1) Descrição da pesquisa
5.1.1) A pesquisa
Com o objetivo principal de avaliar as percepções dos telespectadores em relação às matérias
estudadas, realizou-se um Estudo de Recepção, empregando a técnica de Grupos Focais. Os
encontros com os grupos aconteceram no mês de agosto de 2006, depois que as análises das
matérias já haviam sido concluídas, para evitar interferência na avaliação dos Grupos Focais.
Depois das análises das 44 matérias, foram selecionadas cinco delas, uma de cada telejornal,
três de 2005 e duas de 2006. O critério para a seleção foi buscar a maior diversidade possível
de abordagens dos assuntos, de formatos telejornalísticos, de aprofundamento, de linguagens
e de áreas do conhecimento. São as seguintes matérias escolhidas para a análise dos grupos:
1) “Pesquisa IBGE: segurança alimentar”, do Jornal Nacional, do dia 17/05/06;
2) “Veículos especiais para pessoas com dificuldades de locomoção”, do Jornal da Cultura,
do dia 24/05/05;
3) “Descoberta de novo planeta”, do Jornal da Band, do dia 24/05/05;
4) “Banco Nacional de Tumores”, do Jornal da Record, do dia 11/05/05 e
250
5) Diesel H-Bio”, do SBT Brasil, do dia 19/05/06.
As matérias foram copiadas em uma única fita (VHS). É importante lembrar que somente as
matérias selecionadas foram assistidas pelos grupos. As demais matérias que compuseram os
telejornais foram desconsideradas. Dessa forma, é preciso salientar que houve um recorte dos
telejornais que altera a ordem da programação e pode produzir outros sentidos, diferentes
daqueles produzidos durante a recepção caseira dos programas telejornalísticos, pois os
integrantes do grupo não assistiram ao telejornal como um todo o que acontece em
condições normais de recepção para só então avaliar a percepção das matérias de CT&I.
Além disso, mesmo com as tentativas de se reduzir a formalidade dos ambientes, os
integrantes sabiam que precisavam prestar atenção às matérias porque depois iriam discutir
sobre elas. Tal processo também não se realiza em condições normais de recepção. No
entanto, este procedimento tornou-se necessário pela disponibilidade de tempo dos integrantes
dos grupos e pela necessidade de pesquisar o processo de cognição das matérias de CT&I
divulgadas pelos telejornais estudados.
5.1.2) Os grupos
5.1.2.1) Grupo de Estudantes de Jornalismo
O grupo de estudante cursa o 6º semestre do Curso de Comunicação Social Jornalismo, da
Universidade Paulista (UNIP), campus Campinas (SP), período noturno. A sala de aula é
composta por 19 alunos regularmente matriculados. Inicialmente, estava prevista a seleção de
12 alunos da sala de aula por amostra estratificada, a partir da lista de presença. No entanto,
como o número de alunos presentes no dia da aplicação da pesquisa contemplou o limite
proposto para um Grupo Focal, ou seja, 12 participantes, optou-se por aplicar o estudo com
todos os alunos presentes na sala. Posteriormente, quando o trabalho já havia começado,
outros quatro alunos entraram na sala de aula, mas foram orientados a não participarem das
discussões. Este encontro aconteceu no dia 25 de agosto de 2006, sexta-feira, das 21h30 às
22h20, período que compreende as duas últimas aulas da noite. Depois da apresentação da
pesquisa, os alunos responderam ao questionário sócio-econômico e então assistiram a cada
uma das matérias selecionadas. As discussões aconteciam nos intervalos entre uma matéria e
outra.
5.1.2.2) Grupo de Funcionários da Empresa
O grupo de funcionários é da empresa multinacional alemã KS Pistões, do ramo de
metalurgia, da área automotiva, com 1300 funcionários, situada na cidade de Nova Odessa
(SP), da Região Metropolitana de Campinas. Foram selecionados sete funcionários da
empresa, de diferentes faixas etárias, níveis sócio-econômicos, de escolaridade e funções,
além de uma pessoa que não compõe o quadro de funcionários: uma pessoa com primeiro
grau incompleto (dona-de-casa), com nível de escolaridade insuficiente para ser contratada
pela empresa. Esta inclusão teve por objetivo ampliar a diversidade de escolaridade, de
funções e de níveis socioculturais do grupo. Vale ressaltar que foram convidados, ainda,
outros dois funcionários da área gerencial, que aceitaram o convite, mas não compareceram
ao encontro. Isso, no entanto, não prejudicou a experiência, visto que os funcionários tinham
graus de escolaridade distintos e cargos com hierarquias também distintas.
O encontro com o grupo de funcionários aconteceu em Nova Odessa, em uma chácara, fora
do ambiente de trabalho, dia 27 de agosto de 2006, domingo, com início às 13h30 e término
às 14h30.
251
O tempo das discussões foi o mesmo para os dois grupos. Para ambos os grupos, foram
selecionadas as mesmas matérias, transmitidas na mesma ordem. No início e ao longo das
discussões, que foram gravadas em fitas K-7, para ambos os grupos, foram suscitadas, pela
pesquisadora/moderadora, as seguintes perguntas: “O que vocês entenderam da matéria?”,
“Acharam o tempo suficiente para tratar do assunto, por quê?”, “E a linguagem (os termos)
que eles usaram na matéria, vocês compreenderam?”, “Entenderam o processo científico
envolvido?”, “Ficou faltando algo na matéria, o quê?”, “Gostaram da matéria?”.
Especificamente para o grupo de alunos também foram feitas as seguintes indagações: “O que
acharam do formato telejornalístico da matéria?” e “O que acharam do emprego das fontes?”.
As perguntas eram feitas ao grupo e cada participante respondia voluntariamente, dessa
forma, algumas pessoas se destacaram mais que outras na discussão.
5.2) Perfis socioculturais dos grupos
5.2.1) Perfil do grupo de estudantes de Jornalismo
Antes de iniciar a apresentação das matérias e as discussões, os alunos responderam a um
questionário sociocultural, sem identificação, com o objetivo de traçar algumas características
do perfil do grupo, principalmente sobre o contato com os meios de comunicação e a
experiência prática em Jornalismo. O modelo do questionário aplicado encontra-se no anexo
V, página 50.
O perfil do grupo de alunos pode ser traçado da seguinte forma:
A faixa etária dos alunos varia entre 20 e 24 anos.
São sete mulheres e cinco homens.
Nenhum aluno possui outra graduação.
Os principais veículos para se informarem são: jornal, rádio, Internet, revista e TV.
Todos lêem jornal (is) entre três vezes por semana e diariamente.
Costumam assistir à TV entre 30 minutos e três horas por dia. Dois alunos não
assistem à televisão.
Onze alunos costumam ir ao cinema, entre uma vez por semana e uma vez por
bimestre.
A freqüência ao teatro é de sete alunos entre seis vezes ao mês (a pessoa informou,
no questionário, que pratica aulas de teatro) e uma vez por ano.
Todos lêem livros (no mínimo quatro livros por ano).
Cinco alunos praticam uma ou mais atividades esportivas (caminhada, natação, tênis,
capoeira, ciclismo, atletismo)
Cinco alunos praticam alguma atividade artística (teatro, dança, música, artesanato)
Cinco alunos três homens e duas mulheres já trabalham na área de Jornalismo,
distribuídos da seguinte forma
68
:
TV: dois alunos.
Rádio: dois alunos.
Assessoria de imprensa: dois alunos.
Revista: um aluno.
5.2.2) Perfil do grupo de funcionários da empresa
O questionário do grupo de funcionários foi respondido depois da apresentação das matérias.
Este procedimento foi adotado porque a maioria dos integrantes nunca havia participado de
68
O total final de alunos é maior que cinco porque alguns trabalham em mais de um veículo.
252
um debate e, por isso, buscou-se uma maior informalidade e maior proximidade entre os
integrantes do grupo a partir das discussões. Da mesma forma que para o grupo de alunos, o
questionário sociocultural, anônimo, respondido pelos funcionários, teve como objetivo,
traçar algumas características do grupo e analisar o contato destes com os meios de
comunicação.
O perfil do grupo de funcionários pode ser traçado da seguinte forma:
A faixa etária dos participantes varia entre 25 e 54 anos.
São quatro mulheres e quatro homens.
Os níveis de escolaridade do grupo variam de primeiro grau incompleto a pós-
graudação latu sensu.
Os principais veículos para se informarem são: jornal, rádio e TV.
Seis participantes lêem jornais da região (O Liberal e Todo Dia), de duas a cinco
vezes por semana.
Costumam assistir à TV entre uma e três horas por dia.
Todos assistem a telejornais. O Jornal Nacional é visto por todos os integrantes do
grupo. Além disso, dois participantes também assistem ao Jornal Regional (telejornal
da afiliada da Rede Globo na região de Campinas). A freqüência em que eles assistem
ao Jornal Nacional varia de duas a seis vezes por semana. Nenhum outro telejornal de
outra emissora foi citado pelos integrantes do grupo.
Quatro integrantes não vão ao cinema. O restante freqüenta pouco, de duas vezes ao
ano.
Cinco funcionários não lêem livros. O restante varia entre quatro ou cinco livros por
ano a raramente.
Quatro integrantes praticam uma ou mais atividades esportivas (caminhada,
musculação, jiu-jitsu, futebol).
5.3) Identificação dos integrantes dos grupos:
Para identificar o perfil de cada um dos integrantes do grupo de funcionários recorreu-se à
letra F, seguida de um número. Dessa forma, é possível, diante da variedade de funções e de
níveis educacionais dos funcionários, avaliar a opinião de cada um deles.
Grupo de funcionários:
F1: dona-de-casa de 54 anos com primeiro grau incompleto.
F2: funcionário de 54 anos, operador de máquinas, com primeiro grau completo.
F3: funcionário de 26 anos, operador de máquinas, com segundo grau incompleto.
F4: funcionária de 26 anos, ajudante de produção, com segundo grau completo.
F5: funcionário de 30 anos, inspetor, com segundo grau completo técnico em mecânica.
F6: funcionário de 32 anos, ajudante de produção, com segundo grau completo formado
pelo Telecurso 2000.
F7: funcionária de 27 anos, administradora de empresas, com nível superior completo.
F8: funcionária de 25 anos, administradora de empresas, com pós-graduação lato sensu
completa.
No caso do grupo de alunos, essa identificação não se mostrou possível, visto que todos
possuem o mesmo grau de instrução. Assim, para diferenciar os alunos ao longo da discussão,
adotou-se o critério de identificação pelo número seqüencial, em que cada um participa do
debate. Além, os alunos são diferenciados apenas por gênero, identificados por “aluno” ou
“aluna”, seguidos do número em que aparecem na discussão, como por exemplo aluno 1,
253
aluno 2, aluna 1, etc. O número correspondente ao aluno em uma discussão refere-se à
mesma pessoa nas outras discussões. Todas as respostas dos integrantes dos grupos foram
transcritas. Em algumas ocasiões, quando necessário, são transcritas, também, as questões
levantadas pela pesquisadora, identificada, no diálogo, como “Moderadora”.
5.4) O confronto de discursos
69
5.4.1) Matéria: Pesquisa IBGE: segurança alimentar
Telejornal: Jornal Nacional
Data: 17/05/06
Ver análise desta matéria no Capítulo IV, página 215
5.4.1) Discussões dos Grupos Focais
Este item apresenta as discussões de cada um dos Grupos Focais. Foram transcritas, na
íntegra, todas as participações dos integrantes dos grupos, seguindo a ordem em que estas se
sucederam no diálogo.
5.4.1.1) Grupo de estudantes de Jornalismo
Aluno 1: O assunto foi bem detalhado.
Aluno 2: Eles falaram, falaram e não falaram nada. Porque não deu pra entender se melhorou
ou piorou em relação à fome. Mostrou que em 1975 era 47% e que agora são 6% que passam
fome. E aí, teve uma redução dos que passam fome? É sobre insegurança alimentar. Foi a
única coisa que deu para entender. E das pessoas que estão passando fome, qual o interesse
dos especialistas, eles não se preocupam em falar disso ?
Aluna 1: Eu acho que essa não era a intenção da matéria mesmo discutir a fome, mas o medo
de passar fome e não a fome em si.
Aluno 3: O valor dos investimentos dos Estados Unidos e o investimento do Brasil é uma
diferença enorme.
Aluna 2: A quantidade aqui é o dobro. Aqui é o dobro e os investimentos lá são, nossa, muito
maiores.
Aluno 2: As imagens não ajudaram a compreender o conteúdo.
Aluna 3: Eu acho as imagens bem explicativas.
Aluno 1: Eles escolheram fontes importantes, do IBGE, são fontes oficiais e uma
pesquisadora da Unicamp.
Aluna 1: Eu discordo. Eu acho que usou só fontes oficiais.
Aluno 2: Talvez se tivesse mais fontes testemunhais, das pessoas que estão entrando na
insegurança.
Aluno 5: Eu acho que por ser uma abordagem teórica, eles se preocuparam mais com os
especialistas.
Aluna 1: Eu não acho que é teórico. É uma coisa prática que o brasileiro vive.
Aluno 3: Eles poderiam ter usado uma linguagem mais fácil. Eles deveriam ter resumido
mais. Está muito longa.
Aluno 4: Em televisão não pode voltar. Em jornal você pode voltar se não entendeu.
Aluna 1: Poderia ter feito uma matéria mais interpretativa, não só isso. Poderia contextualizar
mais.
69
Este item apresenta as transcrições das discussões dos integrantes dos dois Grupos Focais sobre cada uma das
cinco matérias selecionadas para o Estudo de Recepção. Além disso, apresenta a descrição e a análise
comparativa dos discursos dos integrantes dos grupos sobre tais matérias.
254
Aluna 1: Eles misturam muitos quadros. E não é só isso. O telejornal trata de outras coisas.
Eles deveriam fazer um especial durante a semana.
Aluno 3: A absorção do tema é incompatível com o veículo.
Aluno 4: Talvez para o público em geral ficou meio estranho. Faltou explicar que insegurança
é essa para o público em geral. Até para mostrar para as pessoas que realmente vivem em
insegurança alimentar o que sentem.
Aluno 1: A preocupação do jornalista em relação à insegurança foi com a gestão então ele
priorizou mais os dados do que mostrar se é positivo ou negativo essa pesquisa em relação à
questão dos investimentos sociais.
Aluno 4: Deveria ter uma suíte. Aí eu acho que daria. Primeiro a pesquisa, depois os
resultados.
5.4.1.2) Grupo de funcionários da empresa
F7: Eu achei muito longa e apresenta muitos números. É muito longa, para o povo, acho que
não consegue guardar isso.
F4: É verdade, é muito longa.
F7: Quando fala de números, percentuais, milhões.
F6: É complicada. Mistura percentual.
F2: Muito confuso. Você não vai saber.
F7: Quantos milhões de pessoas, se vai falar, e o percentual? É esse.
F5: Falta esclarecer muito a matéria. Detalhar. Talvez se colocasse por idade de crianças: de
zero a cinco anos. Por exemplo, de 1975 até hoje, tantos milhões de crianças. Hoje até essa
idade já conseguiu reduzir tanto. Eles detalharam muito. Abrangeu muito. E o vocabulário
também é difícil de entender.
Moderadora: E sobre segurança alimentar, deu pra entender o que é?
F2: Se você perguntar, fizer uma média, de quem tá passando fome, quantos vivem bem, você
não vai entender nada pela matéria.
F1: Não dá pra entender.
Mediadora: Se fosse pra resumir daria para entender alguma coisa?
F2: Por essa matéria não.
F6: Pelo que eu entendi de insegurança alimentar eu acho que é a insegurança quanto ao
emprego, ao desenvolvimento do país. As pessoas estão inseguras. Eu não sei se amanhã eu
vou estar trabalhando, se amanhã eu vou ter dinheiro para comer, se eu vou poder comprar
isso ou aquilo. O medo do futuro. O desemprego, essas coisas.
F5: Por isso é que a matéria ficou longa, né? Eu acho que a matéria poderia ser mais objetiva.
5.4.1.3) Descrição e análise comparativa das discussões dos grupos
Na reportagem sobre segurança alimentar, o foco das discussões girou em torno dos
problemas de compreensão do conteúdo da matéria. No início das discussões com os
estudantes de Jornalismo, o primeiro aluno a se manifestar já ressaltou que o grau de
detalhamento é a característica principal desta matéria. Disse ele: “O assunto foi bem
detalhado”. Trata-se de um lado positivo da matéria. Tal elogio pode ter sido feito pela
formalidade inicial do encontro. No entanto, em seguida, outro aluno quebra tal formalidade
e manifesta-se desfavorável à abordagem feita na reportagem. Disse ele: “Eles falaram,
falaram e não falaram nada”. Para este aluno, a matéria apresentou um discurso denso, mas
com pouco conteúdo.
No caso do grupo de funcionários da empresa, a discussão teve início com uma funcionária (a
que possui graduação em Administração), que argumentou que a extensão da matéria e o fato
dessa apresentar números representam empecilhos ao entendimento do assunto. Diz ela: “Eu
255
achei muito longa e apresenta muitos números. É muito longa, para o povo, acho que não
consegue guardar isso”.
Depois disso, foi consenso entre os telespectadores de ambos os grupos que o conteúdo foi
demasiadamente detalhado e que o excesso de números e porcentagens dificulta, e até mesmo
impede, a compreensão da matéria. Nota-se aí que o excesso de pormenores na TV pode ser
um fator negativo para a compreensão de assuntos que envolvem CT&I, em especial os que
possuem números, devido à diversidade cultural da audiência.
Em relação à pormenorização do assunto na matéria, há discordância na compreensão: ao
mesmo tempo em que os telespectadores admitiram que a matéria detalhou o assunto, alguns
deles ressaltaram que faltou uma melhor descrição, um maior detalhamento.
No entanto, ao observar as explicações para a falta de descrição na matéria, pode-se
comprovar que o nível de detalhamento sugerido pelos telespectadores não dizia respeito a um
aprofundamento do conteúdo da pesquisa nem dos resultados, mas à exemplificação de tais
resultados numa linguagem mais simples e acessível. Disse um funcionário: “Falta esclarecer
muito a matéria. Detalhar. Talvez se colocasse por idade de crianças: de zero a cinco anos.
Por exemplo, de 1975 até hoje, tantos milhões de crianças. Hoje até essa idade já conseguiu
reduzir tanto. Eles detalharam muito. Abrangeu muito. E o vocabulário também é difícil de
entender”. A sugestão do funcionário, também apontada por diversos autores, é que a matéria
de CT&I, para se aproximar do cotidiano das pessoas, precisa apresentar exemplos, analogias
e comparações que façam referência às vivências do público.
Para os funcionários, em especial para os de níveis mais baixos de escolaridade, a reportagem
empregou uma linguagem de difícil compreensão. Disse um funcionário. “Eles poderiam ter
usado uma linguagem mais fácil”.
Sobre a compreensão do conteúdo principal da matéria, um funcionário avaliou que não é
possível entender nem mesmo o foco central da matéria. Disse ele: “Se você perguntar, fizer
uma média, de quem tá passando fome, quantos vivem bem, você não vai entender nada pela
matéria”.
Outra observação dos grupos diz respeito ao tamanho da matéria. Uma das críticas refere-se
ao tamanho excessivo da reportagem, o que dificulta o entendimento. Disse uma funcionária:
“Eles deveriam ter resumido mais. Está muito longa”. Os alunos também criticaram o
tamanho a matéria. Disse um aluno, comparando o suporte televisivo com o suporte impresso:
“Em televisão não pode voltar. Em jornal você pode voltar se não entendeu”.
Ainda sobre o conteúdo, uma aluna criticou a abordagem da matéria, segundo ela, descritiva
demais. Disse a aluna: “Poderia ter feito uma matéria mais interpretativa, não só isso. Poderia
contextualizar mais”. Para a aluna, faltou contextualização, interpretação dos números.
5.4.1.4) Comparações: análise da autora versus análise dos Grupos Focais
Algumas características diferenciais da reportagem sobre segurança alimentar em relação às
demais matérias analisadas, entre as quais a duração mais extensa (4 minutos e 37 segundos) e
a forma de abordagem do assunto, não foram vistas como pontos positivos pelos integrantes
dos dois Grupos Focais. As críticas dos Grupos Focais dizem respeito, em especial, ao foco da
matéria: os grupos buscavam, principalmente, os resultados da pesquisa. No entanto, a
matéria era bem completa, pois apresentava todo o processo de pesquisa passando pela
256
metodologia, levantamento dos dados, até apresentar os resultados propriamente ditos. Apesar
disso, surpreendentemente, a audiência não compreendeu os objetivos.
Os telespectadores, acostumados a um padrão de notícias do telejornal, mostraram-se
frustrados porque não conseguiram extrair a essência da matéria. Prova disso foi a afirmação
de um dos funcionários de que poucos se lembrarão da matéria depois de um tempo. Diz ele:
“Se você for perguntar pra ele, pra ela ou pra mim, amanhã eu já não lembro mais nada.
Muito cheia de detalhes”.
A adaptação do formato de apresentação de um trabalho científico à forma de apresentação,
estrutura e recursos próprios do discurso jornalístico foi avaliada, de modo geral, pelos
receptores, como empecilhos à compreensão do conteúdo. Para os grupos, a linguagem é
difícil de ser entendida, além de usar muitos termos complexos, números e porcentagens. No
entanto, é preciso salientar que a matéria apresentou informações relevantes como o
desenvolvimento da pesquisa, a metodologia e o embasamento teórico com o emprego do
discurso jornalístico.
A estrutura desta reportagem não traz grandes mudanças ao padrão telejornalístico, embora
tenha sido constatado, pela análise, que esta matéria busca o aprofundamento do assunto, os
telespectadores a avaliaram como complicada, confusa e até mesmo que tal dificuldade parece
ser proposital, para impedir que as pessoas entendam o assunto e para garantir que a situação
(de insegurança alimentar) permaneça a mesma.
Em relação ao conteúdo, houve uma confusão na interpretação de alguns integrantes, que
reclamaram da incompreensão sobre o número de pessoas que passam fome. Não
conseguiram saber o número de pessoas que passam fome. Disse um aluno: “Eles falaram,
falaram e não falaram nada. Porque não deu pra entender se melhorou ou piorou em relação à
fome. Mostrou que em 1975 era 47% e que agora são 6% que passam fome. E aí, teve uma
redução dos que passam fome? É sobre insegurança alimentar. Foi a única coisa que deu para
entender. E das pessoas que estão passando fome, qual o interesse dos especialistas, eles não
se preocupam em falar disso ?”. É preciso ressaltar que, no final da reportagem, entretanto, o
presidente do IBGE esclarece que o objetivo da pesquisa não era levantar o número de
pessoas que passam fome, mas o número de pessoas que vivem em insegurança alimentar,
que são conceitos distintos não apreendidos pelos integrantes dos grupos. Os telespectadores
esperavam que a matéria mostrasse o número de pessoas que passam fome, mas a pesquisa
trata de pessoas que vivem em insegurança alimentar.
Sobre o conceito de insegurança alimentar, apresentado pelo repórter de forma confusa, já
alertando que se trata de um conceito novo, pouco conhecido dos brasileiros: “O número de
famílias que tem acesso ou não à quantidade e à qualidade de comida necessária para o dia-a-
dia e se há preocupação com a possibilidade com a falta de alimentos”, possivelmente houve
incompreensão e dúvidas sobre o significado dos termos. Enquanto a dona-de-casa e um
funcionário afirmaram que não deu pra entender o conceito de segurança alimentar, outro
funcionário [com segundo grau completo] mostra com suas próprias palavras ter apreendido o
conceito: “Pelo que eu entendi de insegurança alimentar eu acho que é a insegurança quanto
ao emprego, ao desenvolvimento do país. As pessoas estão inseguras. Eu não sei se amanhã
eu vou estar trabalhando, se amanhã eu vou ter dinheiro para comer, se eu vou poder comprar
isso ou aquilo. O medo do futuro. O desemprego, essas coisas”. Para um aluno, a matéria não
explicou o que é insegurança alimentar: “Talvez para o público em geral ficou meio estranho.
257
Faltou explicar que insegurança é essa para o público em geral. Até para mostrar para as
pessoas que realmente vivem em insegurança alimentar o que sentem”.
5.4.2) Matéria: Veículos especiais para pessoas com dificuldades de
locomoção
Telejornal: Jornal da Cultura
Data: 24/05/05
Ver análise desta matéria no Capítulo IV, página 155
5.4.2) Discussões dos Grupos Focais
5.4.2.1.1) Grupo de estudantes de Jornalismo
Aluna 1: Essa é o contrário, não ouviu especialistas.
Aluno 1: Teve um problema de edição que a imagem começa antes da fala.
Aluno 2: A imagem não tem estabilidade.
Mediadora: Isso atrapalha?
Aluna 2: Oh, e como atrapalha.
Aluno 3: Eles foram bem chocantes sem cair para o sensacionalismo.
Aluno 4: É bem emotivo. Falar que o pai chorou.
Aluno 5: É fácil de entender.
5.4.2.1.2) Grupo de funcionários da empresa
F7: Só trouxe uma informação. A matéria só traz uma informação. Uma pessoa que constrói
esses veículos para deficientes.
F5: A matéria é mais simples, mais objetiva, desde o início.
F1: Eu achei uma matéria maravilhosa. Para ajudar pessoas deficientes.
F6: Eu pensei o mesmo. Mostra que, dentro das dificuldades dele, ele mostrou que, mesmo a
pessoa sendo limitada nas capacidades, ela pode desenvolver coisas pra ela, gerar benefícios a
si mesmo e ajudar o próximo. Achei bem objetiva.
Moderadora: Ficou algo que não entenderam?
F1: Não
Moderadora: Acharam a matéria longa, 2 minutos e 46 segundos?
F1: A matéria foi curta e bem explicada.
F6: A matéria foi clara e dentro do conhecimento das pessoas.
F3: A matéria foi bem explicativa. A primeira matéria [sobre segurança alimentar] não tem
nada a ver. Se você sair daqui e perguntar pra ele ou pra mim, eu não vou lembrar nada.
F6: Sobre porcentuais, né (risos). Eu não entendo.
F3: Essa não. Essa já é uma coisa esclarecida. Agora a primeira, se você for perguntar pra ele,
pra ela ou pra mim, amanhã eu já não lembro mais nada. Muito cheia de detalhes.
F5: É uma coisa momentânea também, na hora você lembra, terminou a matéria, você não
lembra mais nada em relação à porcentagem.
Mediadora: E essa dá pra lembrar?
F5: Essa dá.
F6: E o tema dela também, mexe muito com as pessoas. É igual a um livro que você lê. Você
lê um livro e acha interessante, você vai lembrar dele. Agora você pega um livro que não tem
interesse, aquela coisa que você não gosta.
Mediadora: Por que a primeira não é interessante?
F3: Interessante é, mas não é todo mundo que vai entender a informação.
F7: É muita informação.
258
F6: O que deu pra entender ali, no meu ponto de vista, é que eles usaram um termo que fica
acima dos estudos da gente, acima do conhecimento da gente. Parece que eles usaram um
termo pra gente não entender mesmo, sabe?. Pra deixar como está mesmo. Muita coisa pra
gente entender. Com o nível de escolaridade que o povo brasileiro tem é uma coisa muito
difícil de entender.
5.4.2.2) Descrição e análise comparativa das discussões dos grupos
Com a apresentação da segunda matéria, os comentários dos dois grupos foram baseados nos
aspectos técnicos, jornalísticos e de conteúdo da matéria. Os alunos priorizaram os problemas
técnicos. Disse uma aluna: “Teve um problema de edição que a imagem começa antes da
fala”. Outro aluno complementou: “A imagem não tem estabilidade”. Na opinião deles, isso
atrapalha a compreensão da matéria. Esta matéria foi produzida e editada por um
videorrepórter e os movimentos de câmera diferem do padrão do telejornalismo, já que
algumas tomadas apresentam movimentos bruscos. Além disso, a linguagem empregada pelo
repórter é mais informal que a comumente usada nos telejornais, como exemplo, ele chama o
telespectador de “você”.
A aceitação da matéria sobre os veículos especiais para pessoas com dificuldades de
locomoção, em relação à abordagem e ao conteúdo, foi unânime. Entre os alunos, a matéria
mostrou-se fácil de entender. Os estudantes destacaram a característica emotiva como a
principal marca da matéria. Isso, para eles, não representou problema, já que ponderaram que,
mesmo emotiva, a matéria não foi sensacionalista. Disse um aluno: “Eles foram bem
chocantes sem cair para o sensacionalismo”. Outro aluno complementou: “É bem emotivo.
Falar que o pai chorou”.
A discussão desta matéria entre os funcionários começou com a funcionária graduada. Para
ela, a matéria é mais fácil de ser compreendida [comparada com a matéria anterior] porque
trata de um único assunto, traz uma informação só. Principalmente entre os que possuem grau
de escolaridade mais baixo, essa foi considerada a melhor matéria entre todas as assistidas.
Inclusive, depois que as discussões terminaram, esse foi o assunto do grupo. A dona-de-casa
disse: “Eu achei uma matéria maravilhosa. Para ajudar pessoas deficientes”. Outro
funcionário, este com segundo grau completo, concordou com a dona-de-casa. Disse ele: “Eu
pensei o mesmo. Mostra que, dentro das dificuldades dele, ele mostrou que, mesmo a pessoa
sendo limitada nas capacidades, ela pode desenvolver coisas pra ela, gerar benefícios a si
mesmo e ajudar o próximo. Achei bem objetiva”.
Nota-se, entre os funcionários, uma confusão entre os critérios jornalísticos e o próprio tema
da matéria: observou-se que, nesse caso, o critério para caracterizar a matéria como
“maravilhosa” é o assunto. Para a dona-de-casa e para um dos funcionários com segundo grau
completo, o assunto é interessante e a personagem faz algo bom socialmente,
conseqüentemente, a matéria é boa. No entanto, esta não é a única visão do grupo. Os
funcionários também puderam discernir características próprias da matéria. Inclusive na
última matéria assistida, a do H-Bio, os funcionários ponderaram as características positivas
desta matéria, levando em conta a comparação com as outras matérias. As críticas foram
conduzidas pela dona-de-casa, que havia achado a matéria “maravilhosa”. Disse ela, depois da
escolha da melhor matéria pelo grupo: “Talvez a de locomoção poderia também ter
acrescentado isso também. Ter mostrado as dificuldades que a pessoa tem para se locomover
e ele que está fazendo um trabalho para facilitar isso daí”. Tal acontecimento revela que, entre
os grupos investigados, o público constrói a opinião sobre as matérias de forma comparativa.
259
Os funcionários destacaram as seguintes características positivas da matéria: curta, bem-
explicada, clara e compreensível pela maioria dos telespectadores. Além disso, segundo um
funcionário, o assunto é interessante. Diz ele: “E o tema dela, também, mexe muito com as
pessoas. É igual a um livro que você lê. Você lê um livro e acha interessante, você vai lembrar
dele. Agora você pega um livro que não tem interesse, aquela coisa que você não gosta”.
Outro ponto destacado é que é possível lembrar da matéria depois de algum tempo.
A partir de então, as características desta matéria são comparadas com as da matéria anterior.
Para o participante com segundo grau incompleto, a dificuldade de se lembrar da matéria
sobre segurança alimentar depois de algum tempo, pelo excesso de detalhes, contrapõe-se ao
que ele achou dessa outra matéria, mais clara. Um dos funcionários com segundo grau
completo complementa que as informações sobre porcentagens são assimiladas
momentaneamente e depois esquecidas. Para ele, a matéria sobre segurança alimentar é
interessante, mas nem todo mundo irá entendê-la, pois há muita informação para a TV.
Para um dos funcionários com segundo grau completo, houve, na matéria sobre segurança
alimentar, o propósito, a intenção deliberada de impedir a compreensão por grande parte da
população, para que a situação de fome continue a mesma. Diz ele: “Parece que eles usaram
um termo pra gente não entender mesmo, sabe?. Pra deixar como está mesmo”. A frustração
por não ter compreendido a reportagem sobre segurança alimentar levantou a hipótese, por
ele, de que a matéria propositadamente foi mal construída, com o interesse de manipular a
opinião das pessoas sobre a situação da fome no País. Tal observação ressalta a dificuldade
que o telespectador médio possui para entender uma matéria telejornalística que tenta se
aprofundar um pouco mais no assunto, que procura tratar a notícia além do factual, de forma
contextualizada e realizando associações com outras notícias sobre o mesmo tema.
5.4.2.3) Comparações: análise da autora versus análise dos Grupos Focais
As discussões dos integrantes dos Grupos Focais geradas com a matéria sobre veículos
especiais para pessoas com dificuldades de locomoção tiveram alguns pontos em comum com
a análise feita sobre a reportagem. A relação, apontada na análise da reportagem, do invento
com uma utilidade prática na vida dos clientes, com conseqüências emocionais para clientes e
para o próprio inventor coincide com a opinião de um funcionário, para o qual, o inventor
“pode desenvolver coisas pra ela, gerar benefícios a si mesmo e ajudar o próximo”. O mesmo
ocorreu com os alunos, ao destacarem a característica emotiva da matéria, ficou ressaltada a
relação da Tecnologia com as emoções do inventor.
Sobre o foco central da matéria, identificado na análise como “a ação do inventor em ajudar, a
partir da criação dos veículos, pessoas com dificuldades de locomoção como ele”, também foi
compreendida da mesma forma pelos telespectadores participantes dos Grupos Focais. A
dona-de-casa resumiu, sem ser questionada, o foco da matéria: “Eu achei uma matéria
maravilhosa. Para ajudar pessoas deficientes”. A facilidade de compreensão do assunto
também constata que o foco central da matéria foi identificado. Para os funcionários, de modo
geral, a matéria é de fácil compreensão e o assunto é interessante. Esse posicionamento é
compartilhado pelo grupo de alunos, que concorda que a matéria é emotiva, mas não é
sensacionalista.
260
5.4.3) Matéria: Descoberta de novo planeta
Telejornal: Jornal da Band
Data: 24/05/05
Ver análise desta matéria no Capítulo IV, página 141
5.4.3.1) Discussões dos Grupos Focais
5.4.3.1.1) Grupo de estudantes de Jornalismo
Aluno 3: Acabou?
Aluno 2: Se você tiver ligado no telejornal você vai entender. Tem um preparativo para
chegar na nota.
Aluno 3: Você está assistindo aí fala olhar para as estrelas, chama a atenção.
Aluno 4: Senti falta de explicar. Eu simplesmente ouvi estrelas, fala da proximidade do
planeta. O processo científico não consegui assimilar.
Aluna 1: Passa por passar.
Aluno 2: É diferente.
Aluno 5: Nesse assunto merece mais tempo.
5.4.3.1.2) Grupo de funcionários da empresa
F5: Muito rápido. Você imagina que vai começar e o assunto já terminou.
F7: Fica todo mundo se perguntando. Não deu pra captar nada.
F6: Só deu pra entender que é uma nova descoberta.
F8: Agora as características do planeta descoberto, nada.
F7: Ele deixou a gente curioso para saber mais.
F8: Na hora de anunciar ele foi super claro. Mas, depois, foi muito curta.
F7: Deixou o suspense.
Moderadora: O que faltou?
F1: Faltou mais informações.
F8: Resumiram demais.
F6: O povo ficou vendo estrelas (risos).
F5: Dava a impressão que a matéria ia ser tão interessante.
F8: É, pronto, acabou (risos).
F5: Deu pra perceber que quando um não concorda os outros também não concordam.
5.4.3.2) Descrição e análise comparativa das discussões dos grupos
O tempo reduzido da matéria foi o foco central das discussões dos grupos. Para o grupo de
alunos, a nota coberta teve uma abertura interessante pelo próprio assunto: estrelas. No
entanto, foi consenso entre os estudantes de Jornalismo que a matéria foi muito breve e que
faltaram explicações, especialmente do processo científico envolvido.
Ainda para o grupo de alunos, a descoberta de um novo planeta mereceria maior destaque por
parte do telejornal. Segundo um dos alunos, o telejornal “passou por passar” a matéria sem
dar a devida atenção ao assunto científico.
O grupo de funcionários destacou a dificuldade de apreensão do conteúdo da matéria. Para um
dos funcionários, a única informação que foi possível assimilar é a de que se trata de uma
nova descoberta. A matéria foi muito resumida. Para eles, faltaram informações sobre as
261
características do novo planeta. Além disso, o grupo destacou que foi criada uma expectativa
em torno do assunto que a matéria não foi capaz de responder.
Para a funcionária com pós-graduação, a matéria teve uma abertura clara e interessante, mas,
em oposição, teve duração muito curta. Um dos funcionários, com segundo grau completo,
lamentou o tamanho reduzido e avalia que a matéria seria muito interessante. Este mesmo
funcionário chamou a atenção para o consenso que é criado no grupo. Diz ele: “Deu pra
perceber que quando um não concorda os outros também não concordam”.
Para ambos os grupos, o assunto da matéria é interessante e desperta a curiosidade de quem
assiste. No entanto, o tratamento dado pelo telejornal foi insuficiente, pelo pouco tempo
destinado ao assunto e pelas lacunas existentes, em especial sobre o processo científico
envolvido.
5.4.3.3) Comparações: análise da autora versus análise dos Grupos Focais
Ao se comparar as análises realizadas sobre a nota coberta que trata da descoberta de um novo
planeta com as avaliações feitas pelos Grupos Focais, nota-se que a relação conflituosa de
gênero, representada pelo apresentador (que em determinados momentos ocupa o
posicionamento de telespectador) de um lado, e por repórter e cientista de outro, não foi
percebida pelos integrantes dos grupos. Algumas hipóteses podem ser levantadas. Um delas
diz respeito ao tamanho reduzido da matéria, que, transmitida aos grupos uma única vez, pode
ter dificultado a percepção dos conflitos de gênero nos discursos da matéria. Outra hipótese
refere-se à negação de tal conflito. Trata-se de considerá-lo “natural”, comum, e, por isso, sem
necessidade de menção. De qualquer forma, a encenação dos discursos do apresentador e da
repórter e a forma como a “astrônoma amadora” é tratada na matéria cria sentidos, mesmo
que estes não tenham sido verbalizados pelo público-alvo desta pesquisa.
As discussões dos grupos, de modo geral, foram baseadas em duas características, também
notadas na análise da matéria. São elas: a) o tamanho reduzido da nota coberta e b) a ausência
de explicação, de descrição do processo científico envolvido na descoberta.
No caso do tamanho da matéria, ficou constatado na análise e também nas discussões dos
grupos que o pouco tempo dedicado à matéria dificulta a compreensão do assunto. Ao omitir
informações essenciais do acontecimento, ou seja, das circunstâncias em que se deu a
descoberta, a matéria apresentou lacunas. Os integrantes dos grupos ressaltaram, tanto pelas
palavras como pelas expressões e pelo tom de voz, a frustração e a decepção sobre a
abordagem dada pelo telejornal: eles disseram que o assunto é interessante e que a matéria
não deu o devido tempo para que se pudesse entender um pouco mais sobre o assunto.
Em relação à falta de explicação do processo científico envolvido na descoberta, item
ressaltado pelos grupos, foi constatada, na análise, a pouca contextualização da própria
descoberta. Também pôde ser avaliado que a matéria, ao não contar com fontes especialistas
ou com o discurso da astrônoma citada, dificultou a compreensão do processo científico
envolvido.
262
5.4.4) Matéria: Banco Nacional de Tumores
Telejornal: Jornal da Record
Data: 11/05/05
Ver análise desta matéria no Capítulo IV, página 110
5.4.4.1) Discussões dos Grupos Focais
5.4.4.1.1) Grupo de estudantes de Jornalismo
Aluno 1: Faltou um especialista falando. Faltaram fontes.
Aluno 2: Ficou vago.
Aluno 3: Linguagem é clara.
Aluno 4: Poderia ter pego pessoas com câncer.
Aluna 1: No final, ao invés do Boris poderia estar na boca de um especialista.
Aluno 5: Ele pegou autoridade do discurso.
Aluno 4: Poderia ter detalhado mais.
Aluno 5: É o tempo do telejornal.
Aluna 1: O especialista falou atropelando tudo. Ele poderia falar mais pausadamente. Isso é
gravado. Eles poderiam dar um toque para falar mais pausadamente e gravar de novo.
Aluno 5: É. Mais isso pode inibir o entrevistado.
Aluna 1: É. Mais se eu tô lá e não entendi eu não vou perguntar? É. Mais se eu tô lá
entrevistando e eu não entendi, imagina o telespectador.
5.4.4.1.2) Grupo de funcionários da empresa
F2: Essa é bem esclarecida. De todas foi a melhor.
Moderadora: Deu pra entender o processo envolvido?
F2: Sim. Vão pegar as células do paciente. Guardar num laboratório. Futuramente já tem.
F5: Serão separadas por classe. Câncer de próstata. Câncer de mama. Bem mais detalhada. E
não está tão longa. Os índices que eles colocaram, os percentuais.
Moderadora: Vocês entenderam os termos que eles usam?
F2: Ficou claro.
F6: Deu pra entender porque o povo brasileiro passa por esse problema. Muitas famílias
passam por esse problema. É um assunto que as pessoas acompanham de perto. Se não é na
família, é um conhecido, um colega, um parente. É um assunto que participa do dia-a-dia
nosso. É mais fácil entender.
F3: Todo mundo que vê isso passar na televisão a pessoa pára para ver, vai achar interessante.
Chama a atenção.
F6: Mostra uma coisa bonita também, que o governo está investindo.
5.4.4.2) Descrição e análise comparativa das discussões dos grupos
Na matéria sobre o Banco Nacional de Tumores as opiniões dos grupos foram discordantes,
inclusive entre os integrantes do mesmo grupo, no caso, os alunos. O grupo de alunos
salientou os pontos negativos e técnicos, enquanto que o grupo de funcionários destacou a
relevância do assunto e a qualidade da matéria.
Entre os alunos, a única característica positiva destacada foi a linguagem clara. Já em relação
aos pontos negativos foi salientada, sobretudo, a necessidade de maior quantidade e
diversidade de fontes, tanto especialistas como testemunhais. A nota pé da matéria, com o
comentário do âncora Boris Casoy, também foi criticado pelos estudantes. Para uma aluna, a
fala do âncora teria mais credibilidade se estivesse no discurso, “na boca”, como disse ela, de
263
um especialista. Para outro aluno, a interferência de Boris Casoy ocorre porque ele adquiriu
“autoridade do discurso”. Isso, durante a discussão, foi encarado (pelas palavras, mas também
pelas expressões faciais e tom de voz dos alunos) como algo negativo. A credibilidade do
apresentador foi vista como um fator prejudicial, porque substituiu uma fonte especialista na
matéria.
Para os estudantes, a matéria poderia ter sido mais detalhada. Para um aluno, a causa disso é o
“tempo do telejornal”, que não permite um aprofundamento maior do assunto. Além disso, os
alunos destacaram as posturas do repórter e do especialista, no caso deste último em relação à
expressão verbal. Para uma aluna, o especialista “atropelou tudo” na explicação. Para ela, a
sonora (entrevista) deveria ter sido regravada depois de o repórter pedir para o especialista
falar mais pausadamente. Sobre isso, outro aluno discordou, alegando que tal interferência do
repórter poderia constranger a fonte e inibi-la. No entanto, para a aluna, o repórter deveria
pensar no telespectador. Diz ela: “Mais se eu tô lá entrevistando e eu não entendi, imagina o
telespectador?”.
Curiosamente, para o grupo de funcionários, a matéria foi clara e compreensível. Um dos
funcionários a caracterizou como a melhor matéria exibida até então. Dois funcionários,
ambos com segundo grau completo, explicaram como o Banco de Tumores funcionará. Um
deles disse: “Vão pegar as células do paciente. Guardar num laboratório. Futuramente já tem”.
O outro complementou: “Serão separadas por classe. Câncer de próstata. Câncer de mama”.
A importância do assunto também foi destacada pelos funcionários. Para um deles, a matéria
é fácil de ser entendida porque é um assunto que faz parte do dia-a-dia das pessoas (“Deu pra
entender porque o povo brasileiro passa por esse problema. Muitas famílias passam por esse
problema. É um assunto que as pessoas acompanham de perto. Se não é na família, é um
conhecido, um colega, um parente”). Sobre isso, é importante salientar que, ao tratar de temas
familiares, da realidade do público, a atenção para com a matéria aumenta. Com isso,
aumenta-se também o esforço de compreender a Ciência, já que esta pode acarretar mudanças,
benéficas ou não.
O participante com segundo grau incompleto salientou que a matéria atrai pela relevância do
assunto. Diz ele: “Todo mundo que vê isso passar na televisão a pessoa pára para ver, vai
achar interessante. Chama a atenção”.
A própria importância da pesquisa também foi salientada por um dos funcionários. Para ele, a
matéria também é interessante porque mostra o investimento governamental em pesquisa
contra o câncer. Diz ele: “Mostra uma coisa bonita também, que o governo está investindo”.
5.4.4.3) Comparações: análise da autora versus análise dos Grupos Focais
As análises sobre a reportagem do Banco Nacional de Tumores são comprovadas pelas
observações feitas sobretudo pelo grupo de funcionários. Entre o grupo de alunos, a conversa
teve como foco os aspectos técnicos e jornalísticos da matéria. Nas discussões do grupo de
funcionários, pôde ser comprovado que o recurso empregado pelo telejornal de relacionar a
inauguração do Banco Nacional de Tumores aos benefícios que trará à sociedade atrai a
atenção e facilita a aceitação da sociedade. Diz o apresentador na abertura: “O centro vai
armazenar amostras para, no futuro, traçar o perfil genético do brasileiro. Assim será possível
um tratamento diferenciado para cada paciente com câncer”. A fonte da matéria também
destaca os benefícios. Diz a fonte: “O resultado vai orientar o tratamento mais adequado que
também promete ser o mais eficiente”. “Talvez essa seja a oncologia da próxima década. É
264
para isso que a gente tá se preparando”. “... e a forma de tratar o câncer de acordo com cada
paciente”. O apresentador, na nota pé, também destaca: “É um avanço, né?”. Foi possível
constatar, pelas discussões dos grupos, a aceitação do Banco de Tumores como benéfico, útil
à sociedade. Diz um funcionário: “Todo mundo que vê isso passar na televisão, (...) a pessoa
pára para ver, vai achar interessante. Chama a atenção”.
Na análise verificou-se que outra forma de tornar o assunto relevante para o público é chamar
a atenção para a gravidade e extensão do câncer na sociedade brasileira (“Só em 2005 o
Ministério da Saúde estima que vão ser registrados, no Brasil, 467 mil novos casos de câncer,
doença que mata a cada ano mais de 130 mil brasileiros”). Esse aspecto também foi ressaltado
pelo grupo de funcionários. Disse um funcionário: “Deu pra entender porque o povo brasileiro
passa por esse problema. Muitas famílias passam por esse problema. É um assunto que as
pessoas acompanham de perto. Se não é na família, é um conhecido, um colega, um parente.
É um assunto que participa do dia-a-dia nosso. É mais fácil entender”. Pode ser observado que
a identificação do público com o problema é um atrativo da matéria.
Ficou comprovado, na análise, que, ao relacionar o Banco de Tumores recém-inaugurado com
outros centros parecidos em outros países, e relativizar o que já é feito no Brasil em clínicas
particulares, destaca-se a importância do assunto. Sobre isso, um dos funcionários ressaltou:
“Mostra uma coisa bonita também, que o governo está investindo”.
Outro recurso constatado na análise da matéria e que facilita a motivação e a compreensão por
parte dos telespectadores dos Grupos Focais é explicar (com palavras e imagens) as etapas
(fases) do trabalho, desde a coleta de amostras de tumores até o trabalho de pesquisa
(“Inicialmente, vão ser coletadas amostras de tumores de grande incidência como os de
pulmão, mama e próstata”. “Nesta primeira fase as amostras vão ser recolhidas apenas aqui no
Rio...”. “A segunda fase é o trabalho dos pesquisadores do Inca...”). De acordo com os
funcionários, a matéria é clara.
Na análise defendeu-se que o caráter emotivo da matéria garante a atenção do público, bem
como a aceitação e o apoio ao Banco de Tumores. No entanto, não garante a real
compreensão da produção e circulação do conhecimento científico. Sobre isso, nas discussões
com o grupo de funcionários, foi questionado aos participantes se foi possível entender o
processo científico envolvido. Houve um instante de silêncio na sala e o funcionário com
primeiro grau completo explicou: “Sim. Vão pegar as células do paciente. Guardar num
laboratório. Futuramente já tem”. Outro funcionário, este com segundo grau completo,
destacou: “Serão separadas por classe. Câncer de próstata. Câncer de mama. Bem mais
detalhada”. Pelas explicações, nota-se que os procedimentos de coleta e armazenagem
explicitados na matéria foram compreendidos.
265
5.4.5) Matéria: Diesel H-Bio
Telejornal: SBT Brasil
Data: 19/05/06
Ver análise desta matéria no Capítulo IV, página 227
5.4.5.1) Discussões dos Grupos Focais
5.4.5.1.1) Grupo de estudantes de Jornalismo
Aluno 1: Faltou pé da matéria. Ficou incompleta.
Aluno 2: A matéria explicou tudo direitinho. Explicou a utilidade.
Aluna 1: Achei legal porque comparou essa nova Tecnologia com o biodiesel. Como faz, os
gastos para produzir essa nova Tecnologia.
Aluna 2: Contextualizou.
Aluno 3: Popularizou.
Aluno 4: Em relação às fontes como não está em uso ainda, o uso das fontes foi bom.
Aluno 5: Faltou comparação com o mercado. Quais as perspectivas para o mercado.
Aluno 6: Vai diminuir a importação, comparado com o outro.
Aluna 1: Mas acho que vai ser mais econômica pelo fato da Tecnologia.
Aluno 6: Não vai precisar de novas instalações nem mexer no motor do carro.
Aluno 5: Poderia ter comparado em relação aos preços.
Aluno 7: Talvez o grau de volátil, se ele é mais ou menos que o álcool, podia ter.
Aluno 7: Pode contratar esse aí.
5.4.5.1.2) Grupo de funcionários da empresa
F5: É interessante, mas não é abrangente. Pega mais para o motorista, para a pessoa que
depende da economia. Dependendo da classe, mulher, não iria se interessar pela matéria.
F2: Caminhoneiro, transportadora se interessam mais.
F6: É interessante. É mais barato e não prejudica o meio ambiente. Tem dois pontos
positivos aí.
F5: E nos carros não mexeria em nada. É de fácil entendimento. Óleo de soja, que as pessoas
usam em casa, mais nitrogênio ali, né. Quer dizer, é uma coisa fácil de gravar.
Moderadora: E quando compara o H-Bio e o biodiesel, não confunde?
F5: Não confunde não. Não porque ele colocou o óleo de soja como referência.
F6: Comparando o biodiesel com o H-Bio esse precisa de mais investimento, né?
F5: Não, o biodiesel é que precisa.
F6: Então, o biodiesel precisa de mais investimento.
F5: Outra coisa é que não vai precisar mexer em nada no carro.
F3: Ele acha que só o caminhoneiro vai se interessar. Eu acho que vai interessar para a
maioria porque hoje em dia a maioria tem carro. Quem vê a matéria vai ficar focado.
F8: A mais complicadinha de entender foi a primeira do Jornal Nacional [matéria sobre
segurança alimentar]
Moderadora: Qual foi a melhor?
F2: A dos deficientes.
F6: A dos deficientes.
F2: Talvez a de locomoção poderia também ter acrescentado isso também. Ter mostrado as
dificuldades que a pessoa tem para se locomover e ele que está fazendo um trabalho para
facilitar isso daí.
F3: Deveria ter divulgado as dificuldades que a pessoa tem e depois mostrar o trabalho.
F8: É para mostrar a diferença.
266
F2: Quando fala do metrô, mostra o rapaz, depois ele chega com o aparelho. Poderia ter
mostrado.
F1: As pessoas ficaram na dúvida como ele fazia para entrar no metrô.
F7: Como ele fazia antes e como ele fazia depois.
F2: O que chama mais a atenção é isso aí. Quando mostra o social todo mundo compreendeu,
porque aí você grava a matéria. É uma coisa mais sentimentalista.
F2: Toca mais a pessoa.
F3: Depois de seis meses, aquela de números ninguém vai lembrar, mas essa, todo mundo vai
lembrar.
F5: É como bula de remédio. A gente lê em casa e não entende nada. Uma pessoa chega e
explica para você “se você tomar esse remédio vai ser bom pra isso”. Você pega uma bula de
remédio para dor de cabeça e ela não fala que é bom pra dor de cabeça, usa um vocabulário
que você não entende nada, com termos bem técnicos. Uma pessoa chega para você e fala
“esse remédio é bom pra dor de cabeça”, não precisa mais nada. O objetivo daquele remédio é
pra isso. O cara escreve mil coisas lá que se você nunca viu não vai entender nada.
5.4.5.2) Descrição e análise comparativa das discussões dos grupos
Os dois grupos, de modo geral, tiveram percepções positivas sobre a matéria do Diesel H-Bio.
A discussão do grupo de alunos começou com um comentário negativo da matéria. Disse um
aluno: “Faltou pé da matéria. Ficou incompleta”. Este comentário suscitou posicionamentos
favoráveis à matéria. A partir de então, para os alunos, a matéria mostrou-se explicativa e
contextualizada. A reportagem, para os alunos, popularizou o assunto e fez bom uso das
fontes.
Um aluno destacou que faltou comparação com o mercado. Outro, no entanto, mostrou que a
matéria comparou com o mercado ao afirmar que o Diesel H-Bio diminuirá a importação,
comparado com o diesel convencional. Uma aluna salientou que a Tecnologia tornará mais
econômico o H-Bio. Outro aluno ressaltou que a economia também será possível porque não
serão necessárias novas instalações nem mexer no motor do carro.
Foram poucos os aspectos negativos levantados pelos alunos sobre esta matéria. Um dos
pontos diz respeito às informações sobre os preços. Para um dos alunos, a matéria poderia ter
comparado os preços dos tipos de diesel. Outro aluno afirmou que, talvez, a matéria pudesse
ter comparado o grau de volatilidade dos tipos de combustível. Para finalizar a discussão, um
aluno descreveu o grau de satisfação com a matéria (“Pode contratar esse aí”, referindo-se ao
repórter).
Entre os funcionários, as opiniões mudaram ao longo das discussões. No início, um
funcionário ressaltou que a matéria é interessante, mas não é abrangente, porque interessa a
homens que trabalham com veículos, como caminhoneiros, ou para transportadoras. No
entanto, depois de algum tempo de discussão sobre outros aspectos da matéria, o funcionário
com segundo grau incompleto discordou. Para ele, a matéria é atrativa para um público
amplo, porque interessa a todos que têm carro.
Os funcionários destacaram os pontos positivos do novo combustível. Disse um funcionário,
com segundo grau completo: “É interessante. É mais barato e não prejudica o meio ambiente.
Tem dois pontos positivos aí”. Outro funcionário, também com segundo grau completo,
completou: “E nos carros não mexeria em nada”. Em seguida, este mesmo funcionário avaliou
que a matéria é “de fácil entendimento”. Diz ele: “Óleo de soja, que as pessoas usam em casa,
mais nitrogênio ali, né. Quer dizer, é uma coisa fácil de gravar”.
267
Ao serem questionados se a comparação entre o H-Bio e o biodiesel gera confusão, os
funcionários concordaram que não, e um deles explicou que a matéria não confunde porque
“ele [o repórter] colocou o óleo de soja como referência”. Este exemplo confirma que a
proximidade da Ciência com a realidade do público, a partir de referências ao cotidiano,
facilita a compreensão de um processo científico ou de uma nova Tecnologia.
Em seguida, um funcionário, com segundo grau completo, procurou explicar o que entendeu
sobre a comparação entre o biodiesel e o H-Bio (“Comparando o biodiesel com o H-Bio esse
precisa de mais investimento, né?”). Outro funcionário acrescentou: “Não, o biodiesel é que
precisa”. O funcionário respondeu: “Então, o biodiesel precisa de mais investimento”. A
discordância entre os dois funcionários foi em relação ao entendimento da resposta de um e
não da incompreensão do processo científico por um deles. O outro complementou: “Outra
coisa é que não vai precisar mexer em nada no carro”.
5.4.5.3) Comparações: análise da autora versus análise dos Grupos Focais
Ao comparar as análises sobre a matéria do H-Bio (do SBT Brasil) com as discussões dos
Grupos Focais verifica-se que os integrantes dos dois grupos compreenderam o foco principal
da matéria: as vantagens, em especial a econômica, da nova Tecnologia. Prova disso foram as
observações de ambos os grupos. Disse um aluno: “Vai diminuir a importação, comparado
com o outro”. Uma aluna completou: “Mas acho que vai ser mais econômica pelo fato da
Tecnologia”. Para outro aluno: “Não vai precisar de novas instalações nem mexer no motor
do carro”. Tais aspectos também foram abordados pelos funcionários. Disse um funcionário:
“É interessante. É mais barato e não prejudica o meio ambiente. Tem dois pontos positivos
aí”. Outro funcionário complementou: “E nos carros não mexeria em nada”.
Quanto à compreensão do processo de produção do Diesel H-Bio na análise, foi avaliado que
os elementos ilustrativos atuam positivamente e, ao relacionar a descrição do processo de
produção do Diesel H-Bio (um produto novo, um nome desconhecido do público), ao óleo de
soja usado na cozinha algo do dia-a-dia das pessoas a explicação é facilitada. Sobre isso,
diz um funcionário: “É de fácil entendimento. Óleo de soja, que as pessoas usam em casa,
mais nitrogênio ali, né. Quer dizer, é uma coisa fácil de gravar”. Ao serem questionados sobre
o entendimento da comparação entre o biodiesel e o H-Bio, um funcionário ressaltou que não
há confusão entre os produtos porque o repórter “colocou o óleo de soja como referência”.
Na análise da matéria, realizada pela autora, constatou-se que o enfoque principal nesta
reportagem é a visão do produto sob a perspectiva do consumidor. Isso pôde ser comprovado
nos discursos dos telespectadores. Diz o funcionário com segundo grau incompleto: “Ele
[referindo-se a outro participante do grupo] acha que só o caminhoneiro vai se interessar. Eu
acho que vai interessar para a maioria, porque hoje em dia a maioria tem carro. Quem vê a
matéria vai ficar focado”.
5.5) Conclusões dos integrantes dos grupos sobre as matérias:
No grupo de alunos, a matéria que teve a melhor aceitação considerando-se os critérios
técnicos, jornalísticos e de conteúdo foi a do H-Bio, do SBT Brasil. A frase final de um
aluno, que foi corroborada pelos demais, ilustra a opinião do grupo: “Pode contratar esse aí”,
referindo-se à qualidade da informação veiculada pelo telejornal. Esta foi a matéria que gerou
também menos críticas entre o grupo de alunos.
No caso do grupo de funcionários da empresa, a matéria mais criticada foi, sem dúvida, a do
Jornal Nacional sobre segurança alimentar. As críticas sobre a matéria de segurança alimentar
268
repercutiram durante toda a discussão. Em diversos momentos, as matérias eram comparadas
à de segurança alimentar como um exemplo negativo. Concluiu a administradora de empresa
com pós-graduação: “A mais complicadinha de entender foi a primeira do Jornal Nacional”.
Esse fato torna-se mais relevante quando se avalia, pelas repostas dos questionários
socioculturais, que o telejornal assistido pelos integrantes do grupo é, de forma unânime, o
Jornal Nacional.
Isso não significa que as matérias do Jornal Nacional mantenham o mesmo padrão da de
segurança alimentar. No entanto, por se tratar de um telejornal a que o grupo está acostumado
a assistir (com linguagem e abordagem próprias do telejornal), era de se supor que a aceitação
dessa fosse maior.
A reportagem sobre o Banco de Tumores foi bem-aceita. No entanto, a mais elogiada e
comentada pelo grupo de funcionários foi sobre veículos especiais para pessoas com
dificuldades de locomoção, do Jornal da Cultura. As observações referiam-se ao conteúdo da
matéria e não à abordagem ou tratamento dado pelo telejornal. Prova disso é que, conforme
salientado pelos integrantes do grupo no final das discussões, a matéria poderia ter sido ainda
melhor se mostrasse também as dificuldades que as pessoas com deficiências físicas
enfrentam no dia-a-dia e como os veículos especiais mudaram tais situações. Mesmo assim, a
matéria mostrou-se interessante para os integrantes dos Grupos Focais.
Ainda sobre isso, alguns funcionários destacaram que, quando a matéria aborda uma questão
social de forma humanizada, torna-se mais atrativa e interessante. Em oposição a isso,
matérias que empregam muitos dados numéricos são difíceis de serem lembradas. Disse o
funcionário com primeiro grau completo: “O que chama mais a atenção é isso aí. Quando
mostra o social todo mundo compreendeu, porque aí você grava a matéria. É uma coisa mais
sentimentalista”. O funcionário com segundo grau incompleto concordou: “Depois de seis
meses, aquela de números ninguém vai lembrar, mas essa, todo mundo vai lembrar”. Cabe
ressaltar a valorização que o grupo de funcionários deu, no decorrer da discussão, à retenção
da matéria como critério de apreensão do conteúdo. Para eles, o fator “lembrança do assunto”
é indicativo de compreensão do assunto: se eles puderem se recordar da matéria depois de
algum tempo e puderem falar sobre o assunto é porque a matéria foi compreensível, já que
passou a fazer parte do repertório de informações de que dispõem.
5.6) Considerações finais do capítulo
A experiência de Grupos Focais mostrou-se relevante à pesquisa porque revelou opiniões
variadas sobre as matérias de CT&I investigadas neste estudo. Os telespectadores têm
interesse em matérias de CT&I. Independente do grau de instrução ou nível socioeconômico,
os receptores sabem discernir entre uma matéria telejornalística que consideram “clara”,
“objetiva” e outra que caracterizam como “confusa” e de “difícil entendimento”. Pôde-se
aferir que o público possui percepções diferenciadas entre as matérias, em particular, neste
estudo, sobre as de CT&I. A proposta deste Estudo de Recepção não foi esgotar as
possibilidades de percepções sobre o assunto, mas levantar diferentes formas de compreensão
do público sobre o assunto, observando o conteúdo, a linguagem, os recursos técnicos e
jornalísticos de algumas das matérias.
É importante salientar algumas peculiaridades do procedimento metodológico de Grupos
Focais, principalmente em relação aos discursos sobre a matéria. Os discursos apreendidos e
analisados nesta experiência não são uma simples soma dos discursos individuais, nem
tampouco da posição majoritária ou consensual. São discursos plurais, construídos no
269
movimento de vários discursos, muitas vezes suplantados por outros, discordantes ou não. São
os discursos criados na inter-relação que ocorre naquele determinado momento, com pessoas
com afinidades, expectativas e graus de intimidade variados. Esse acontecimento, único, gera
discursos que não se dão em condições “caseiras” de recepção. Mostrou-se inusitada a
surpresa de um funcionário ao se dar conta da dinâmica gerada no grupo. Disse ele: “Deu pra
perceber que quando um não concorda os outros também não concordam”.
Os dois grupos possuíam perfis socioeconômicos e educacionais distintos, o que garantiu a
diversidade dos discursos, mas não impediu a convergência em momentos específicos. Pela
própria formação, e influenciados pelo ambiente em que se encontravam, os integrantes do
grupo de estudantes de Jornalismo focaram, principalmente, os aspectos jornalísticos, técnicos
e de conteúdo das matérias, tendo como ponto de vista as necessidades do público.
Os alunos se colocaram na posição discursiva dos jornalistas formuladores daquelas
mensagens e preocupados com a recepção do público em geral. É importante lembrar que
alguns alunos já trabalham em veículos de mídia e têm, portanto, clareza sobre o processo de
produção jornalística e, portanto, maior familiaridade com a linguagem jornalística. As
discussões, em diversos momentos, basearam-se nas escolhas das equipes dos telejornais.
Como disse uma aluna: “Mais se eu tô lá entrevistando e eu não entendi, imagina o
telespectador”.
No caso do grupo de funcionários, os focos das discussões foram, principalmente, o conteúdo,
a possibilidade ou não de compreensão, a linguagem e o aprofundamento do assunto. No
entanto, a posição ocupada por eles variava entre a avaliação da própria recepção das
mensagens e uma possível recepção do “povo”, de forma genérica e não-especificada, como o
destinatário das matérias. Disse uma funcionária: “Eu achei muito longa e como apresenta
números, e muito longa, para o povo, acho que não consegue guardar isso”. Ou ainda segundo
um funcionário, para quem: “se você for perguntar pra ele, pra ela ou pra mim, amanhã eu já
não lembro mais nada. Muito cheia de detalhes”.
Ao se comparar a matéria mais rejeitada com a de maior aceitação por parte do público, pode-
se aferir que, quando a matéria aborda uma questão social de forma humanizada, torna-se
mais atrativa e interessante. Em contraposição a isso, matérias que empregam muitos dados
numéricos são difíceis de serem lembradas.
Foi consenso, entre os telespectadores de ambos os grupos de que o conteúdo
demasiadamente detalhado e de que o excesso de números e porcentagens na TV dificulta a
compreensão da matéria. Nota-se aí que o excesso de pormenores pode ser um fator negativo
para a compreensão de assuntos que envolvem CT&I no telejornalismo, em especial os que
possuem números.
Observou-se, principalmente entre os funcionários, que as discussões eram complementadas e
as opiniões sobre as matérias corroboradas ou contrapostas entre si. Constatou-se, com isso,
que o público deste Grupo Focal construía a opinião sobre as matérias de forma comparativa
entre elas.
A reportagem sobre segurança alimentar, do Jornal Nacional ressaltou a dificuldade que os
telespectadores dos Grupos Focais tiveram para entender uma matéria telejornalística que
tenta se aprofundar um pouco mais no assunto, que procura tratar a notícia além do factual de
forma mais contextualizada que as outras e realizando associações com outras notícias sobre o
270
mesmo tema. Por outro lado, ao tratar de temas familiares, da realidade do público, a atenção
e o interesse pela matéria aumentam. Com isso, aumentam-se também o esforço e a
possibilidade de compreendê-la.
Sobre o uso de elementos ilustrativos ocorreram duas posições contrastantes, segundo as
discussões dos telespectadores: na reportagem sobre segurança alimentar, os elementos
ilustrativos contribuíram para deixar a matéria confusa e complexa, pois essas ilustrações
traziam números e porcentagens. No caso da matéria do H-Bio, a explicação do processo de
produção do H-Bio com o auxílio de ilustrações tornou a matéria clara e fácil de ser
entendida, conforme o público a descreveu.
Ao tratar de uma novidade tecnológica, a matéria sobre o H-Bio obteve sucesso de
compreensão e aceitação do público, entre outros fatores destacados na análise, pelo fato de
relacionar a nova Tecnologia a algo já amplamente conhecido do público, o óleo de soja.
Pode-se aferir, com isso, que, ao aproximar CT&I da realidade do público, a partir de
referências ao cotidiano, a compreensão de um processo científico ou de uma Tecnologia
nova é facilitada.
271
CONCLUSÕES
Finalizar este trabalho é uma satisfação, mas também um desafio. Em primeiro lugar, porque
a riqueza dos dados obtidos na pesquisa indicou uma ampla abordagem de CT&I que
pesquisadores relutam em aceitar ao tratarem do telejornalismo, jogando tais conteúdos às
valas comuns do sensacionalismo e da espetacularização do fato, o que nem sempre ocorre,
como constatou esta pesquisa. Em segundo lugar, porque a carência de estudos sobre a
relação CT&I-televisão, revela uma área fecunda de possibilidades de análises criteriosas por
parte dos pesquisadores de Comunicação Social, face à importância que CT&I adquire a cada
dia na sociedade e, da mesma forma, do amplo acesso da televisão no Brasil. Em terceiro
lugar, porque as peculiaridades e nuances de CT&I nos telejornais, desveladas por este
trabalho, foram dando sentidos às análises realizadas, dificultando o simples recorte e a
descontextualização de todas elas para a transposição nesta parte final da tese.
A Ciência, a Tecnologia e a Inovação fazem parte de todos os aspectos da vida em sociedade,
gozam de grande influência social e têm sido um dos pilares do desenvolvimento do um país.
Prova disso, são os altos investimentos financeiros que recebem em todo o mundo. Os meios
de comunicação, dessa forma, refletem tais interesses.
A partir da revisão de literatura e das pesquisas exploratórias realizadas nos sites das
associações científicas do Campo da Comunicação, nos cursos de pós-graduação e periódicos
especializados (Capítulo 2), identifiquei a presença da subárea de Comunicação Pública da
Ciência nos trabalhos acadêmicos. No Brasil, diversas pesquisas de pós-graduação sobre
CT&I vêm sendo realizadas. Com relação às atividades de Jornalismo Científico e Divulgação
Científica na mídia brasileira, surgiram, nos últimos anos, novos veículos de comunicação
especializados, principalmente revistas e sites. A ampliação dos espaços na cobertura de
CT&I nos meios de comunicação também mostra tal tendência. A partir da confluência e
análise dos dados coletados e compilados na pesquisa exploratória, tracei uma proposta de
taxonomia para a subárea de Comunicação [ou Compreensão] Pública da Ciência, que abarca
as seguintes especialidades: Divulgação Científica, Alfabetização Científica, Popularização
Científica ou Vulgarização Científica; Ciência e Mídia; Comunicação para a Saúde;
Comunicação Rural; Políticas de Comunicação de C&T; Divulgação das Políticas de C&T;
Comunicação Ambiental e Jornalismo Científico.
A revisão de literatura (ainda no Capítulo 2) revela que muitos pesquisadores defendem a
função educativa como intrínseca ao Jornalismo Científico (TORRALES AGUIRRE, 1989;
CALVO HERNANDO, 2004; MARQUES DE MELO, 1982; REIS, 1984, 2001). O
depoimento de profissionais e a revisão de literatura sobre telejornalismo (e sobre a Ciência
nos telejornais Capítulo 3), por outro lado, mostram que alguns profissionais entendem que
cabe tão somente a professores a tarefa de educar (MINEIRO, 2005; LEITE, 2001). No
entanto, sobre isso, concordo com Calvo Hernando (2004) para o qual, os meios de
comunicação desempenham uma certa função educativa e formativa, ainda que estes não
tenham isso como proposta formal, pela própria natureza dos meios.
Quanto à Divulgação Científica nos telejornais brasileiros, especificamente, os resultados das
análises empreendidas nesta tese (Capítulo 4) mostram que CT&I está, sim, presente nos
telejornais brasileiros de horário nobre (das 19h15 às 22h) e que essa presença não é
constante, mas influenciada pela presença/ausência de eventos e pautas gerados pelas
assessorias de comunicação de organizações de CT&I que afetam a programação dos
telejornais.
272
O perfil geral das matérias que compõem a amostra dos telejornais investigados (Jornal da
Band, Jornal Nacional, Jornal da Record, Jornal da Cultura e SBT Brasil) revela importantes
características de CT&I em tais programas. As 44 matérias apresentadas pelos telejornais
sobre o assunto, nas amostras selecionadas (maio de 2005 e maio de 2006) apresentam
formatos variados. A maior parte delas (28 matérias), entretanto, está no formato de
reportagens, seguida por igual número de notas simples (8 matérias) e notas cobertas (8
matérias).
Da mesma forma, foi possível constatar que o formato da matéria não define, a priori, a
qualidade da informação, mas aponta o investimento da empresa jornalística na temática e
indica possibilidades de aprofundamento/contextualização do fato. A maior parte das matérias
classificadas como “contextualizadas” está no formato reportagem. As matérias
contextualizadas, de acordo com metodologia deste trabalho, são as que apresentam o
assunto/fato gerador da notícia, as pessoas envolvidas (tanto as pessoas afetadas pela CT&I
ou pelos resultados apresentados na pesquisa como as personagens responsáveis pelo
desenvolvimento de tal pesquisa, passando por fontes oficiais) e as possíveis conseqüências
do fato. No entanto, na amostra, foram encontradas reportagens que, pelo assunto abordado,
possuíam potencial para uma abordagem mais diversificada e contextualizada, porém, optou-
se por uma matéria mais superficial, descritiva. De outra forma, entre as notas cobertas, uma,
em especial, que tratou de um assunto internacional (“Carro movido a energia solar do Irã”,
do Jornal da Band, de 15 de maio de 2006) apresentou uma abordagem interpretativa do
assunto, referente ao contraste entre o desenvolvimento da pesquisa e a situação político-
econômica daquele país. Com isso, pode-se aferir que, mesmo em uma matéria curta, como
uma nota coberta de 41 segundos, é possível uma abordagem um pouco mais contextualizada
do assunto, mas essa não foi predominante nas matérias de CT&I estudadas.
A tendência das matérias de CT&I dos telejornais no período pesquisado foi de divulgar, em
maior número, pesquisas das áreas de Ciências Exatas e da Terra (17, das 44 matérias da
amostra) e das Ciências Biológicas, Ambientais e da Saúde (11 matérias). No caso das
Ciências Exatas, a grande quantidade de matérias é justificada pela constante divulgação, em
todos os telejornais investigados, de pesquisas realizadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). Além disso, as matérias da área da Saúde também configuram com
número representativo das matérias de CT&I dos telejornais, face ao interesse público pelo
assunto. Por outro lado, matérias da área de Humanas ainda recebem pouco espaço entre as
matérias de CT&I, o que contrasta com a iniciativa de diversos veículos impressos e on line
de divulgação, como por exemplo, a Revista Pesquisa Fapesp (também com versão on line
70
)
e o site Comciência
71
(do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp
Labjor), que, freqüentemente, investem na divulgação de pesquisas da área de Ciências
Humanas.
A maior parte das matérias (29) conta com imagens produzidas pelos próprios telejornais,
enquanto que apenas sete utilizaram imagens de agências internacionais de notícias e somente
oito matérias não contaram com imagens, pois são notas simples.
A maioria das matérias trata da divulgação de CT&I produzida no Brasil. Foram veiculadas
27 matérias de origem nacional (do total de 44 matérias veiculadas), 15 de origem
internacional e apenas duas em que a origem da pesquisa não foi mencionada na matéria. Essa
constatação difere da realidade encontrada por Bueno (1984), no início da década de 80 e
70
http://revistapesquisa.fapesp.br
71
http://www.comciencia.br
273
revela, pouco mais de duas décadas depois, mudanças importantes no panorama da produção
científica nacional e sua divulgação na mídia. Em sua tese de doutorado (a primeira tese
brasileira sobre Jornalismo Científico), o pesquisador salientou a dependência comunicacional
brasileira em relação às pesquisas científicas e tecnológicas produzidas nos países
desenvolvidos e divulgadas, no Brasil, por meio de agências internacionais de notícias com
sede naqueles países. (...) a difusão da ciência e da tecnologia, e especificamente o
Jornalismo Científico, mantém, coerentemente, o caráter dependente” (idem, p. 129).
Sobre a origem institucional das pesquisas nacionais divulgadas pelos telejornais, é
significativo o número de matérias que não mencionam a instituição responsável pela
pesquisa (dez matérias, do total de 27 sobre pesquisas nacionais), o que acarreta em
desprestígio às instituições de pesquisa e ausência desse elemento informativo na matéria. O
motivo pelo qual as instituições de origem não aparecem no processo de divulgação é algo
que pode ser pesquisado no futuro.
Outra característica que chama a atenção é a ausência completa da divulgação de pesquisas
realizadas por institutos de pesquisa e universidades privados. Uma das hipóteses para tal
cenário é a restrição que os telejornais fazem na divulgação de nomes de marcas e instituições
fora do âmbito público, para que não sejam feitas propagandas gratuitas de tais
empresas/marcas/produtos. Com isso, muitos resultados de pesquisas não chegam ao
conhecimento público.
Se, por um lado, a maior parte das matérias sobre CT&I são sobre pesquisas nacionais, a
localização das instituições responsáveis pela pesquisa revela, por outro, a disparidade
flagrante entre as regiões brasileiras. Com exceção das nove pesquisas realizadas pelo IBGE
em âmbito nacional, a quase totalidade das matérias trata da divulgação de pesquisas
realizadas, majoritariamente, por institutos públicos de pesquisa e universidades da região
Sudeste do País (principalmente Rio de Janeiro e São Paulo). No caso das universidades
públicas, há prevalência da divulgação de pesquisas da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) e da Universidade de São Paulo (USP). Tal concentração revela o descaso dos
telejornais investigados por pesquisas realizadas nas demais regiões brasileiras (apenas uma
matéria tratou de pesquisa realizada na região Norte, fora, portanto, do eixo Rio-São Paulo)
ou a falta de profissionalização das assessorias de comunicação dessas instituições.
O cientista/pesquisador aparece na maioria das reportagens sobre CT&I, o que mostra que
estes têm espaço e voz nas matérias telejornalísticas. Cabe a ele a explicação científica que
envolve a matéria. Em alguns casos, quando o discurso do cientista é auxiliado por imagens e
esquemas dos processos científicos, a explicação fica mais clara. Por outro lado, a
compreensão do processo científico envolvido é dificultada quando o cientista emprega
linguagem técnica/científica que não é explicada por ele ou em qualquer outro discurso de
outras fontes ao longo da matéria.
Os discursos de cientistas/pesquisadores são, em quase todas as matérias investigadas,
corroborados pelos discursos das fontes testemunhais, oficiais e dos repórteres e
apresentadores. Em apenas uma matéria (intitulada: “Estudo Márcio Pochmann”, do Jornal da
Record, do dia 11 de maio de 2005), o discurso da fonte especialista é confrontado pelo
discurso de uma fonte oficial. Os discursos das fontes testemunhais, em grande parte dos
casos, oferecem o tom humanizado. Um ponto positivo quanto aos discursos de tais fontes é
que, em algumas matérias, as fontes testemunhais (principalmente quando se refere a pessoas
que recebem novos tratamentos de saúde) fornecem explicações sobre o procedimento
274
científico que protagonizaram. Isso pôde ser observado na matéria “Aparelho que engana o
cérebro para não sentir dor, do Jornal Nacional, do dia 13 de maio de 2005, e na matéria
“Veículos especiais para pessoas com dificuldades de locomoção”, do Jornal da Cultura, do
dia 24 de maio de 2005.
Em relação à visão de CT&I apresentada nas matérias, foi possível avaliar que todas as
matérias que tratam de Tecnologia ressaltam as características positivas, ligadas ao avanço,
aos benefícios sociais, econômicos, ambientais, entre outros. A Ciência, na maioria das
matérias, é mostrada nas formas elogiativa e equilibrada (nem elogiativa e nem depreciativa).
Nos casos específicos das matérias sobre Invenções, nota-se que a imagem criada por
repórteres e apresentadores em torno da figura do inventor é caricatural. Na matéria sobre
“Veículos especiais para pessoas com dificuldades de locomoção” acima citada, o inventor,
personagem principal da matéria, é comparado ao Professor Pardal, personagem de desenho
animado e histórias em quadrinhos da Walt Disney, em prejuízo da imagem do cientista. No
caso da matéria do Jornal da Band, intitulada “Protetor solar de geleiras”, do dia 11 de maio
de 2005, a expressão facial e o tom de voz irônico do apresentador denunciam a desconfiança
e o descrédito no invento.
Há variações no tom dos discursos de alguns apresentadores. O caso mais marcante, entre os
telejornais investigados, é o do Jornal da Band, em que o apresentador Carlos Nascimento
emprega um tom mais intimista que os demais, procurando uma aproximação maior com o
telespectador, além de usar termos simples e de fácil compreensão pelo público em geral. Em
boa parte das matérias do Jornal da Band, o apresentador se coloca na posição discursiva de
telespectador, com o mesmo nível de conhecimento do assunto e, às vezes, de espanto com o
resultado da matéria, da mesma forma que o público. Outra apresentadora do Jornal da Band,
Mariana Ferrão, por vezes, emprega o tom didático para explicar os processos científicos e,
em outras vezes, posiciona-se discursivamente como uma cientista, utilizando a linguagem
técnica típica de especialistas. No Jornal da Cultura e no Jornal Nacional, os discursos dos
apresentadores variaram entre o uso de linguagem acessível ao público e o emprego de termos
específicos da linguagem técnica/científica sem qualquer explicação dos conceitos. Já nos
telejornais Jornal da Record e SBT Brasil, é recorrente o uso de termos claros e simples
utilizados pelos apresentadores.
No caso do Jornal da Record, em particular, os comentários do âncora Boris Casoy também
representaram um diferencial deste telejornal em relação aos demais. Além de apoiar os
investimentos em pesquisas (no caso do “Banco Nacional de Tumores”), os comentários
tiveram a função de complementar a informação da matéria (no caso da matéria “Estudo
Márcio Pochmann”) e de contextualizar os resultados da pesquisa (no caso da matéria sobre o
“Mapa da violência pesquisa Unesco”). Dessa forma, pode-se aferir que tais comentários
contribuíram para a compreensão dos assuntos de CT&I das matérias.
De modo geral, a linguagem empregada por repórteres explica os termos técnicos/científicos
da pesquisa científica que envolve a matéria característica do papel mediador (entre o fato e
a sociedade) exercido pelo jornalista. A posição discursiva dos repórteres oscila entre a de
cientista conhecedor do assunto (mais racional e fundamentada nos procedimentos da
pesquisa), professor, que explica de forma didática o processo que envolve a Ciência e
testemunha, (com traços de emotividade e sensibilidade, auxiliados, na maioria das vezes,
por imagens e elementos visuais como esquemas, desenhos e mapas e, em alguns poucos
casos, por músicas).
275
A experiência dos Grupos Focais (Capítulo 5) revelou que os telespectadores não são
passivos em relação aos conteúdos científicos dos programas telejornalísticos. De modo geral,
e independente dos níveis sócio-econômico e educativo, os receptores se interessam por
matérias sobre CT&I e sabem discernir e avaliar qualitativamente as matérias entre as que
consideram clara e objetiva das que julgam confusa, de difícil entendimento ou ainda das que
negligenciaram informações relevantes para a melhor abordagem do assunto.
Sobre a hipótese central deste trabalho de que a Divulgação Científica nos telejornais ocorre
de forma superficial, fragmentada e destituída de contexto as análises evidenciaram que as
matérias que tratam do assunto não possuem um padrão único de
aprofundamento/superficialidade e contextualização/descontextualização dos fatos.
Prova disso é que, dentro de um mesmo telejornal, CT&I aparece em diferentes formatos,
desde uma nota simples, que apenas apresenta o fato principal, sem qualquer
contextualização, até uma reportagem contextualizada, que vai muito além da mera
apresentação do fato, pormenorizando a metodologia, a aplicação e as repercussões da
pesquisa, inclusive com alusão ao artigo científico e à página na Internet onde o trabalho
científico completo pode ser acessado pelo público. Um exemplo desse contraste foi
verificado no Jornal da Cultura, do dia 09 de maio de 2005. A reportagem intitulada
“Tratamento para endometriose” foi abordada de uma forma contextualizada enquanto que a
nota simples intitulada “Motores bicombustíveis para caminhões e ônibus” não ofereceu
informações mínimas para que o público pudesse compreender o assunto e relacioná-lo à vida
cotidiana, tais como, o local em que a Inovação está sendo desenvolvida, quando tal motor
estará disponível, quais pesquisadores e de que instituição são responsáveis pelo novo
produto, quais as repercussões da adoção de tais motores, comparações entre os equipamentos
tradicionais e os novos, entre outras.
Sobre a hipótese de que os telejornais brasileiros dedicam pouco espaço e tempo para a
abordagem de assuntos relacionados a CT&I, diante da influência e alcance destes na
formação da opinião pública, verifiquei, nas amostras estudadas, que o tempo dedicado ao
assunto variou muito. Do total de 53 edições investigadas, 25 delas não apresentaram
nenhuma matéria de CT&I. A edição que dedicou mais tempo ao assunto foi o Jornal
Nacional do dia 17 de maio de 2006 (5 minutos e 16 segundos 22,96% do tempo da
edição). Nas 28 edições restantes, foram veiculadas entre uma e três matérias de CT&I
numa mesma edição. Essas informações comprovam a hipótese de que, mesmo presente,
CT&I ainda recebe, dos telejornais investigados, espaço e tempo não condizentes com a
importância que o assunto vem adquirindo na sociedade.
Em relação à hipótese de que programas telejornalísticos limitam-se a informar sobre CT&I,
facilitando a atualização e não a compreensão dos processos que envolvem o trabalho
científico, verifiquei que não é possível adotar tal generalização. A partir da aplicação do
Estudo de Recepção em dois Grupos Focais, foi possível avaliar que há matérias a partir das
quais o público compreende o processo envolvido, a utilização prática de determinado
conhecimento é capaz de reconhecer a importância da CT&I. Um exemplo disso ocorreu na
matéria do Banco Nacional de Tumores, do Jornal da Record, do dia 11 de maio de 2005.
Pelas explicações, foi possível constatar que os procedimentos de coleta e armazenagem
explicitados na matéria foram compreendidos pelos integrantes dos Grupos Focais, bem como
a relevância de tal centro de pesquisa.
276
Observei, ainda, que, independente do nível sócio-econômico-educativo, o público pode tecer
considerações relevantes sobre a abordagem do assunto e sobre a ausência de informações
relevantes para a compreensão. Um exemplo disso foi a observação da dona-de-casa com
primeiro grau incompleto sobre a matéria intitulada “Veículos especiais para pessoas com
dificuldades de locomoção”, do Jornal da Cultura, do dia 24 de maio de 2005. Mesmo
achando o assunto da matéria “maravilhoso”, a dona-de-casa ressaltou que a matéria poderia
ter mostrado as dificuldades que tais pessoas enfrentam no dia-a-dia das cidades, em lugar de
divulgar apenas os aspectos positivos.
Sobre isso, é contundente, para este estudo, a conclusão de Lins da Silva (1985, p. 135) para o
qual “qualquer trabalhador mesmo que não seja uma pessoa com sua consciência de classe
perfeitamente desenvolvida, é capaz de ser crítico diante da programação jornalística da
televisão, desde que disponha de mínimos elementos que complementem sua representação
do real”.
Um dos critérios a partir dos quais se pôde avaliar a compreensão do assunto foi a explicação
dada, nas palavras dos próprios integrantes do Grupo Focal, do assunto científico abordado.
Isso foi verificado nas discussões dos funcionários da empresa sobre a matéria do Jornal
Nacional, do dia 17 de maio de 2006, sobre segurança alimentar. Mesmo tendo sido criticada
pele quase totalidade dos integrantes de ambos os Grupos Focais, um funcionário, com
segundo grau completo, mostrou que entendeu o assunto principal da matéria. Disse ele: “Pelo
que eu entendi de insegurança alimentar eu acho que é a insegurança quanto ao emprego, ao
desenvolvimento do país. As pessoas estão inseguras. Eu não sei se amanhã eu vou estar
trabalhando, se amanhã eu vou ter dinheiro para comer, se eu vou poder comprar isso ou
aquilo. O medo do futuro. O desemprego, essas coisas”.
Outro critério foi a menção, surgida nos discursos do próprio Grupo Focal, da importância de
se relacionar o conteúdo da matéria à vida do telespectador, para que o assunto possa ser
lembrado posteriormente. O quesito “lembrança do assunto” revela, para os próprios
telespectadores, a possibilidade de a matéria ser incorporada a seus próprios discursos, depois
de compreendida, reelaborada e associada a outras informações, a ponto de torna-se um
assunto que pode ser discutido em conversas nas diferentes esferas da vida em sociedade.
Outras matérias, com maior humanização e poucos dados científicos, foram facilmente
compreendidas e aceitas pelos integrantes dos Grupos Focais, como é o caso da matéria do
Jornal da Cultura sobre veículos especiais para pessoas com dificuldades de locomoção, do
dia 24 de maio de 2005. No entanto, mesmo neste tipo de abordagem, foi criticada a pouca
contextualização social da Tecnologia, conforme observação realizada pela dona-de-casa, já
explicitada anteriormente. Com isso, foi possível constatar, também, que a diversidade de
abordagens das matérias de CT&I nos telejornais estudados gerou conclusões variadas sobre a
apropriação da informação veiculada e sobre a compreensão do público. As análises que
realizei mostraram, por outro lado, que algumas matérias ofereceram informações detalhadas
e claras sobre CT&I, algumas vezes não assimiladas pelo público. As razões para isso podem
ser verificadas em estudos futuros.
No que diz respeito à hipótese de que as notícias veiculadas não contribuem para o
esclarecimento do telespectador quanto aos conceitos de CT&I, nota-se, novamente, que há
diferenças claras entre as produções de diferentes matérias dentro de um mesmo telejornal.
Enquanto algumas delas empregam elementos gráficos/visuais e preocupam-se em explicar os
conceitos científicos/técnicos envolvidos na informação, outras consideram que o
277
telespectador já tenha domínio dos termos e conceitos estritos de CT&I, o que dificulta, e
muito, a compreensão da matéria pelo telespectador que não tenha conhecimento prévio do
assunto.
A hipótese de que a linguagem empregada pelos telejornais para o tratamento de assuntos de
Ciência, Tecnologia e Inovação é semelhante foi confirmada neste trabalho. Observou-se que,
predominantemente, a linguagem empregada é clara e simples. No entanto, foi possível
verificar algumas nuances em determinadas matérias. O Jornal Nacional, por exemplo,
apresentou a reportagem “Investimento dos Estados em esportes pesquisa IBGE” (do dia 04
de maio de 2006) em que o repórter usou expressões características da linguagem oral. O
mesmo telejornal, na nota simples “Conclusão do genoma humano”, (do dia 17 de maio de
2006), narrada por Willian Bonner, fez uso de termos específicos da linguagem científica sem
oferecer qualquer explicação de tais conceitos.
Em relação à hipótese de que a abordagem dos assuntos científicos varia e que as
diferenciações se dão em relação aos recursos de imagens empregados, ao grau de
relacionamento que é feito entre o conteúdo transmitido e a vida das pessoas (humanização
das matérias), bem como quanto ao tratamento (posições discursivas) que é dispensado ao
cientista/pesquisador enquanto fonte da informação, esta também foi confirmada. As análises
revelaram que as variações na abordagem dependem dos assuntos tratados e não do
telejornal em que a matéria é veiculada. Os telejornais variam na abordagem de CT&I de
matéria para matéria, mas essa característica é constante entre os telejornais investigados,
como dito anteriormente.
Um exemplo característico nesse aspecto foi a divulgação do lançamento, pela Petrobras, de
um novo tipo de combustível, que deu origem a matérias divulgadas pelo Jornal Nacional e
pelo SBT Brasil, no dia 19 de maio de 2006, intituladas “Diesel H-Bio. As duas matérias, do
mesmo assunto, em telejornais diferentes, mostraram-se muito semelhantes no uso de recursos
gráfico, na escolha dos ambientes das matérias (o repórter presente no laboratório) e na
explicação da Tecnologia desenvolvida em comparação com a tradicionalmente usada. Com
isso, verifica-se a importância das assessorias de imprensa de centros de pesquisa,
universidades, laboratórios de empresa públicas ou privadas no sentido de atuarem em
conjunto com jornalistas e cientistas para a divulgação de CT&I nos telejornais. Uma dessas
matérias, a veiculada no SBT Brasil, foi uma das selecionadas para as discussões dos Grupos
Focais. O resultado das discussões dos grupos comprovou o caráter benéfico dessa interação:
em ambos os grupos, a matéria do Diesel H-Bio foi elogiada e considerada de fácil
compreensão pela maioria dos integrantes dos Grupos Focais.
A hipótese de que a seleção de pautas de CT&I no noticiário televisivo possui estreita relação
com os trabalhos das assessorias de imprensa de universidades e centros de pesquisa públicos,
tornando-se até dependentes destas (processo designado por agenda setting) foi analisada a
partir da origem institucional das pesquisas nacionais divulgadas. Nos dois períodos da
amostra, foram divulgadas 27 pesquisas nacionais. Dessas, 13 matérias são sobre pesquisas
realizadas por institutos públicos de pesquisa e, em menor número, de pesquisas
desenvolvidas por universidades públicas (5 matérias). Das matérias nacionais ainda, em
cinco não se informou a origem institucional da pesquisa e em uma delas, a fonte não tem
origem institucional, pois se trata de um inventor. Em números bem reduzidos aparecem as
pesquisas desenvolvidas por empresas (duas matérias, no caso, da Petrobras) e uma
proveniente da parceria público-privada (um instituto de pesquisa público e uma empresa
privada).
278
Essa análise comprova a hipótese da grande dependência dos telejornais que são pautados, na
maioria das vezes, pelas assessorias de imprensa dos órgãos públicos na divulgação das
pesquisas nacionais. Os institutos públicos de pesquisa e as universidades públicas
representam a maioria das pesquisas divulgadas pelos telejornais no período estudado. Não se
pode esquecer, contudo, que este não é um caso isolado, já que reflete, em partes, os
investimentos que são feitos em pesquisas no País: o MCT (Ministério da Ciência e
Tecnologia), divulgou relatório, em 2002, sobre os investimentos nacionais em P&D
(Pesquisa e Desenvolvimento) e em C&T (Ciência & Tecnologia). De acordo com o
Ministério, em 2000, 60,2% dos dispêndios nesses setores foram feitos pelo governo e 39,8%
por empresas (MCT, 2002, p. 18-19). Essa distribuição não justifica, por outro lado, a
pouquíssima visibilidade das pesquisas desenvolvidas fora do âmbito dos institutos de
pesquisa e universidades públicos. Brito Cruz (2000), chama a atenção para a distorção das
atividades de pesquisa científica e tecnológica no Brasil: “em nosso país a quase totalidade da
atividade de pesquisa e desenvolvimento ocorre em ambiente acadêmico ou instituições
governamentais. Ao focalizar-se a atenção quase que exclusiva no componente acadêmico do
sistema, deixa-se de lado aquele que é o componente capaz de transformar ciência em riqueza,
que é o setor empresarial” (p. 6).
Essa distorção também pode ser constatada pela ínfima presença da Inovação nas matérias de
Divulgação Científica nos telejornais. A Inovação é uma atividade econômica, executada no
ambiente da produção, para agregar valor econômico e lucratividade a determinada
Tecnologia. Dessa forma, ao não divulgarem pesquisas (científicas e tecnológicas) do setor
privado, excluem-se as Inovações dos telejornais. Vale ressaltar que a Inovação apareceu na
amostra em uma única nota simples (intitulada: “Motores bicombustíveis para caminhões e
ônibus”, do Jornal da Cultura, do dia 09 de maio de 2005), ainda assim, sem citar a empresa
responsável pelo produto.
A hipótese de que as matérias de CT&I dos telejornais nacionais contam com recursos
audiovisuais avançados, tais como imagens computadorizadas, infográficos e esquemas que
facilitam a veiculação do que é dito, mas não garantem a contextualização e a compreensão
do assunto também foi comprovada. Tais recursos são amplamente usados nos programas e
auxiliam na transmissão das matérias. No entanto, as discussões dos Grupos Focais revelaram
que, dependendo do assunto, da explicação do processo científico e da metodologia
apresentados na matéria, os recursos visuais podem ajudar a destacar determinadas
informações, mas não resolvem o problema da dificuldade de compreensão, por parte do
público, de determinadas matérias de CT&I. Sobre isso, Trumbo (2000) avalia que, se a
Compreensão Pública da Ciência for um dos objetivos de uma comunicação eficaz da
Ciência, parece lógico concluir que parte deste esforço deve envolver a divulgação científica
visual. Para ele, um dos papéis do comunicador da ciência é esclarecer as palavras e as
imagens produzidas pelo cientista para fazer a mensagem compreendida mais prontamente
por uma audiência de não-especialistas. Este processo não é simples, neutro ou
necessariamente intuitivo.
Isso comprova a importância de se considerar a interdiscursividade no telejornalismo, ou seja,
a relação entre os vários discursos na matéria compõe um novo discurso, o discurso da
Divulgação Científica: se os discursos das fontes, do (a) apresentador (a), do (a) repórter não
estiverem comprometidos com a Compreensão Pública da Ciência, os recursos visuais não
serão capazes de preencher a lacuna de entendimento da matéria. Tais recursos mostraram-se
indispensáveis em determinadas matérias, e em nenhuma delas observou-se um uso aleatório,
desproposital ou banal. Entretanto, ressalta-se que, entre os obstáculos ao entendimento das
279
matérias de CT&I, apontados nas análises, está o uso de termos técnicos e pouco conhecidos
sem explicações, o que está diretamente ligado ao uso de tais recursos no movimento dos
discursos dos atores da matéria.
Características positivas e negativas
Todos os telejornais estudados apresentaram, em diferentes momentos, nas matérias de
divulgação de CT&I, características positivas e negativas quanto à Compreensão Pública da
Ciência, dependendo da matéria.
As características positivas das matérias de CT&I quanto à Compreensão Pública da Ciência
nos telejornais investigados são:
1) aproximação da Ciência às vivências das pessoas, do público;
2) contextualização social da pesquisa;
3) imagens que auxiliam na conceituação e na explicação do processo científico;
4) presença de outras fontes de informação sobre a pesquisa, caso o público se interesse em
saber mais;
5) mostra a relevância (social, acadêmica) da pesquisa;
6) linguagem com poucos termos técnicos tanto nos discursos do apresentador, como nos da
repórter e das fontes especializadas;
7) imagens do local em que as pesquisas são feitas;
8) demonstração do trabalho dos cientistas nos laboratórios;
9) enfoque às perspectivas futuras que poderão advir com as pesquisas;
10) explicação (com palavras e imagens) das etapas do trabalho científico;
11) demonstração, pelo repórter, do processo de pesquisa;
12) relaciona a pesquisa nacional com o que é feito em outros países;
13) aproximação com o público a partir de informações e referências já conhecidas;
14) ênfase às vantagens econômicas possibilitadas pela Tecnologia desenvolvida;
15) comparações entre as técnicas convencionais e a nova técnica;
16) humaniza a Invenção, a partir de um personagem central (o inventor);
17) apresenta a extensão social do problema que a Ciência e a Tecnologia contribuem para
resolver (com a ajuda de números ressaltados em caracteres na tela);
18) relaciona a Tecnologia à vida das pessoas;
19) mostra pessoas usando os produtos;
20) explica como os produtos funcionam;
21) mostra o cientista/técnico não só como um especialista, mas relata as motivações pessoais
que o levaram a seguir a carreira.
As características negativas das matérias de divulgação de CT&I dos telejornais estudados
que prejudicam a Compreensão Pública da Ciência são:
1) emprego de termos científicos (sem explicação por imagens e/ou palavras);
2) uso de termos vagos e imprecisos;
3) pouco tempo destinado ao tratamento do assunto;
4) ausência de imagens (no caso de notas simples);
5) ausência de fontes testemunhais ou especialistas;
6) falta de contextualização do assunto;
7) falta de explicação do processo científico/tecnológico envolvido;
8) não-explicação de termos essenciais para o entendimento do trabalho científico;
9) emprego de diversas marcações temporais de passado-presente que podem dificultar a
compreensão da matéria;
10) citação de datas e as informações fragmentadas;
280
11) excesso de dados e números;
12) desvinculação da pesquisa à vida das pessoas;
13) uso de linguagem técnica;
14) ausência de informações sobre o processo de pesquisa, de trabalho metódico que levou à
descoberta;
15) desvinculação/distanciamento social da pesquisa;
16) presume que o telespectador tenha conhecimento sobre a situação das pesquisas no
mundo;
17) cria uma imagem supra-real/irreal dos cientistas;
18) comparações/analogias com lugares distantes da realidade brasileira;
19) erro de informação dito pelo apresentador (prontamente corrigido por ele próprio), que
criou outro sentido e diminuiu o impacto da informação;
20) descontextualização do alcance social da Tecnologia;
21) matéria excessivamente extensa e com muitos dados numéricos e porcentagens;
22) matérias que não fornecem a origem institucional da pesquisa.
Sugestões
Em linhas gerais, a partir das análises realizadas, é possível traçar algumas sugestões de
abordagens de assuntos de CT&I nos telejornais brasileiros, para melhorar a Compreensão
Pública da Ciência. As propostas foram sistematizadas em dez tópicos, levando em conta as
deficiências encontradas e os recursos positivos existentes nos programas para facilitar a
compreensão do público dos assuntos relativos à Ciência, à Tecnologia e à Inovação. São
elas:
1) Considerando a necessidade de um tempo maior para a abordagem de assuntos complexos
nos telejornais, o formato reportagem é o mais apropriado que a nota simples e a nota
coberta. Além disso, é fundamental a contextualização do assunto, o que requer a
disponibilização das informações essenciais para a compreensão do processo científico e
não simplesmente a exposição do fator gerador da notícia;
2) Para despertar o interesse por assuntos de CT&I, é importante mostrar, nas matérias, a
relação do fato/conteúdo/processo/conhecimento científico e tecnológico com a vida das
pessoas. Um dos principais recursos empregados nesse sentido é a humanização: mostrar as
repercussões que estes podem ocasionar na sociedade a partir de fontes testemunhais.
3) A diversidade de fontes deve ser uma das metas do jornalista científico (assim como do
jornalista em geral) para que não seja criada uma imagem distorcida e parcial de assuntos
relacionados a CT&I.
4) Quanto a isso, vale ressaltar que a diversidade de fontes produtoras de Ciência e
Tecnologia, bem como de áreas do conhecimento também contribuem para visões mais
democráticas e abrangentes das práticas científicas.
5) A linguagem clara e simples deve ser um esforço de jornalistas e cientistas na prática da
Divulgação Científica, o que não significa, em absoluto, a pobreza vocabular e a
simplificação dos processos que envolvem CT&I, mas, sim, a busca pelo equilíbrio entre o
que é de conhecimento geral e o que é apresentado de novo.
6) As matérias sobre CT&I não precisam usar apenas termos de amplo conhecimento do
público em geral, afinal, o caráter educativo do Jornalismo Científico também se refere à
281
ampliação do vocabulário do telespectador. No entanto, é importante que termos
técnicos/científicos empregados nas matérias sejam explicados em linguagem mais
acessível. Para isso, recursos de linguagem como a definição, a exemplificação e a analogia
são essenciais.
7) Na TV, as imagens são ferramentas importantes para despertar a curiosidade e
facilitar o entendimento do público para o assunto, além de possibilitar a retenção de
determinados conteúdos. Dessa forma, empregar imagens elucidativas nas matérias
contribui, e muito, para uma melhor compreensão do assunto.
8) Da mesma forma, os recursos visuais, como desenhos, esquemas, mapas, entre outros,
auxiliam na explicação dos processos científicos. Tais explicações podem ser oferecidas por
todos os atores da matéria (apresentador, repórter, cientista, fontes testemunhais e oficiais).
9) As análises mostraram que simplesmente transpor a estrutura do discurso científico
para a estrutura da matéria do telejornal pode aumentar a precisão, mas não a
compreensão do assunto pelo público. Pelo contrário, o excesso de pormenores e
detalhamento pode, inclusive, criar reações de afastamento do público para a matéria. Pela
natureza da estrutura dos telejornais e do tempo dedicado às matérias, a Divulgação Científica
deve funcionar como uma porta de entrada na aquisição de novos conteúdos e despertar no
telespectador o interesse para buscar por mais informações sobre o tema/assunto apresentado
em outras fontes, seja em jornais, revistas, sites e até livros especializados. Tal comprovação
ressalta o papel fundamental do jornalista científico profissional, capaz de reformular os
conteúdos científicos para a estrutura das matérias de Divulgação Científica, caracterizada
como um outro discurso, o discurso da Divulgação Científica.
10) Ademais, as matérias sobre CT&I dos telejornais devem contribuir para visões mais
críticas da realidade social e da política científica adotada no País.
Por fim, vale ressaltar que este trabalho não teve como objetivo gerar conclusões
generalizantes sobre a presença de CT&I nos telejornais nacionais, face à amostra
selecionada. Da mesma forma, não se pretendeu elaborar modelos de abordagem do assunto.
Além disso, é preciso considerar que os efeitos das matérias de CT&I não são únicos, assim
como as expectativas do público. Conforme salienta Macedo (2002, p. 27), as leituras feitas
pelo público refletem as diversas demandas feitas pelos telespectadores à instituição televisão,
expectativas e visões diferentes da Ciência. Esta tese parte do pressuposto de que os meios de
comunicação no geral, e a televisão, em particular, geram informações que produzem sentidos
diversos, mas nem sempre permitem a compreensão dos conteúdos.
Na TV, as informações são recebidas por uma audiência ampla, heterogênea e constituem, em
muitos casos, uma das poucas fontes de acesso à informação sobre CT&I. Editores e
apresentadores de telejornais deixam claro que tais programas não têm como função principal
a educação. Não se pode ignorar, contudo, que a televisão e o telejornal, no Brasil, cumprem
essa função entre outras, face ao papel dos meios de comunicação na formação cultural das
pessoas, além de se considerar os baixos níveis de leitura do brasileiro.
Analisar, portanto, como tais matérias produzem sentidos e qual a contribuição que estas
podem dar à Compreensão Pública da Ciência possibilitou, em última instância, reflexões
sobre as limitações e os potenciais do veículo televisão e das mensagens veiculadas, assim
como o interesse e a visão crítica a respeito dos assuntos de CT&I. As emissoras, mesmo
282
reconhecendo a importância de CT&I, ainda oscilam entre uma abordagem contextualizada e
a simples descrição do fato principal.
A diversidade de abordagens deve ser considerada positiva para o tratamento das matérias de
CT&I. No entanto, nas pesquisas realizadas, verifiquei uma semelhança pouco criativa entre
as abordagens das matérias dos telejornais, o que corrobora, ainda mais, para a construção de
visões muito parecidas e pouco críticas sobre os fatos que envolvem o fazer científico, em
detrimento de uma formação mais ampla sobre o conhecimento científico e tecnológico.
Apontar problemas relacionados aos formatos, às linguagens e aos conteúdos pode servir de
pistas para melhorar a Divulgação Científica na televisão, assim como, de forma adaptada, em
outros veículos de comunicação.
283
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