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Com essa distinção entre a palavra e a coisa real, entre a lin-
guagem e a pessoa que fala, com a materialização posterior da
linguagem por meio da escrita – símbolo da sua existência, inde-
pendente e orgânica –, sai o homem das primeiras fases de sua
infância para iniciar aquela outra a que, para entendermos, cha-
maremos de um garoto.
O período anterior de desenvolvimento humano, o de bebê,
foi principalmente uma época da vida em si mesma, do viver por
viver, da exteriorização do interno: esse outro período, o do garo-
to, vai ser não só o de viver, mas o de aprender, o de interiorizar o
exterior. (Capítulo III, pp. 68 e 69)
Nessa época, a evolução e a cultura do ser humano revestem a
forma de ensino, respondendo não só à essência do homem mes-
mo, mas, principalmente a leis claras, constantes, marcadas pela
própria natureza das coisas, leis às quais sujeito e objeto estão, de
igual modo, submetidos. A cultura não depende agora do caráter
com que a lei geral e eterna se manifesta, particularmente, no ho-
mem: depende mais da maneira peculiar de expressar-se, em cada
um dos objetos exteriores, a lei que imperará, por sua vez, sobre o
sujeito e o objeto, segundo condições fixas e determinadas – cujo
fundamento está fora do sujeito.
Para que isso seja possível, entretanto, são necessários conheci-
mento e estudo, reflexão e consciência. E essa é a obra da escola,
no sentido mais amplo da palavra. É, pois, a escola o lugar onde o
homem adquire o conhecimento essencial dos objetos exteriores
segundo as leis particulares de cada um deles e as leis gerais do
mundo. Mediante o estudo do externo, do particular, do variado,
vai até o interior, universal e único. O garoto se converte em aluno.
Nesse período da vida desvela-se para o menino a escola, seja fora
de casa, no seio mesmo da família e tendo o pai por mestre. Ao
falar de escola, não queremos nos referir exclusivamente aos esta-
belecimentos que levam esse nome, mas, em geral, à transmissão
Friedrich Fröbel_fev2010.pmd 21/10/2010, 09:1880