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uma concepção sociológica vinculada ao pressuposto iluminista
da racionalidade humana como instrumento de racionalização da
ordem social, do qual o marxismo é um crítico-tributário. A cul-
minância dessa pedagogia socialista vai se dar na constituição de
Florestan como um verdadeiro “tribuno do povo”, que, como na
conceituação de Lênin, é capaz de reagir contra toda e qualquer
manifestação de arbitrariedade e opressão, aproveitando todo e
qualquer espaço para a exposição das convicções socialistas e das
reivindicações democráticas.
O mesmo Lênin que Florestan Fernandes (1995a, p. 102) defi-
niu como um “publicista de partido”, mas que, como ele, se opõe
à “profissionalização” da atividade revolucionária – isto é, não
deseja ser um simples “ventríloquo” do operariado –, sabendo
que sua tarefa é irradiar, o máximo que puder, o marxismo como
teoria e prática de transformação do mundo. Não é por acaso,
segundo Silveira (1987), que a partir do trabalho mais profundo
com a herança leninista, o pensador paulista passará a se referir
como um publicista que “não se vê no mundo de Alice” (Fernandes,
1986b, p. 62). Longe de “uma fantástica casa de espelhos”, ele se
percebe dentro de “um universo histórico agreste, duro e cruel”,
dedicando-se a publicações explicitamente vinculadas ao socialismo
revolucionário
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– ultrapassando, inclusive, as fronteiras do país.
Nos anos de 1970, Florestan [...] debateu, por intermédio de artigos em
revistas, jornais, livros e palestras, a situação da América Latina, as lutas
de libertação na África, a situação da União Soviética, Albânia, Polônia, a
socialdemocracia na Europa, as ditaduras fascistas de Franco, na Es-
panha, e de Salazar, em Portugal, e muitos outros temas correlatos,
sempre sob o crivo do marxismo. Assumiu o combate aos problemas
do capitalismo com coragem e abnegação (Sereza, 2005, p. 115).
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Florestan é responsável pela publicação, no final da década de 1970, de O Estado e a
revolução (Lênin, 1979a) e Que Fazer? (Lênin, 1979b), assim como pela organização de
uma antologia dedicada a Lênin (Fernandes, 1978b). No mesmo período, lança, entre
outros, os seguintes livros: Da guerrilha ao socialismo: a revolução cubana (1979b);
Movimento socialista e partidos políticos (1980a); O que é revolução (1984b); e a anto-
logia Marx/Engels – História (1989a), cuja primeira edição é de 1983.
FLORESTAN FERNANDES_fev2010.pmd 21/10/2010, 08:0874