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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Faculdade de Medicina
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde:
Infectologia e Medicina Tropical
EVOLUÇÃO PÓS-IMPLANTE DE
CARDIODESFIBRILADOR IMPLANTÁVEL EM
PACIENTES CHAGÁSICOS E NÃO-CHAGÁSICOS:
estudo comparativo
MARCO PAULO TOMAZ BARBOSA
Belo Horizonte
2009
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MARCO PAULO TOMAZ BARBOSA
EVOLUÇÃO PÓS IMPLANTE DE
CARDIODESFIBRILADOR IMPLANTÁVEL EM
PACIENTES CHAGÁSICOS E NÃO-CHAGÁSICOS:
estudo comparativo
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Saúde: Infectologia e
Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal de Minas Gerais como
requisito parcial à obtenção do grau de Mestre.
Área de concentração: Infectologia e Medicina
Tropical.
Linha de pesquisa: Fatores determinantes de
morbidade e prognóstico na cardiopatia chagásica
crônica.
Orientador: Prof. Antonio Luiz Pinho Ribeiro.
Coorientador: Prof. Manoel Otávio da Costa Rocha.
Belo Horizonte
Faculdade de Medicina - UFMG
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2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Reitor
Prof. Ronaldo Tadêu Pena
Pró-Reitor de Pós-Graduação
Profª. Elisabeth Ribeiro da Silva
Diretor da Faculdade de Medicina
Prof. Francisco José Penna
Chefe do Departamento de Clínica Médica
Prof. José Carlos Bruno da Silveira
Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde: Infectologia e
Medicina Tropical
Prof. Manoel Otávio da Costa Rocha (coordenador)
Prof. Vandack Alencar Nobre Júnior (subcoordenador)
Prof. Antônio Luiz Pinho Ribeiro
Prof. José Roberto Lambertucci
Prof. Ricardo de Amorim Corrêa
Jader Bernardo Camponizzi (representante discente)
Ao meu amor, minha noiva, Karla.
Compreensão incondicional nos momentos de ausência.
Paciência, carinho, luz.
Minha companheira, minha guia e melhor amiga.
Não só agradeço como dedico este trabalho a você.
Aos meus pais,
que me ensinaram a enfrentar a vida com honestidade,
trabalho, dignidade e a nunca desistir dos meus ideais.
Às minhas irmãs e meus sobrinhos,
pela compreensão, carinho e apoio.
À Prof. Graziela Chequer, eterna professora e preceptora.
Minha amiga e parceira. Apoio incondicional e estímulo constante.
Sempre me recebeu de portas abertas e abriu outras tantas.
Responsável maior pela minha paixão pela cardiologia, pela escola e pelo HC.
Há quase nove anos, um exemplo de vida, professora e médica.
Aos meus amigos.
Em especial, Munir, Clarinha, Lorenzo, Marcelo (Jalasca), Rodrigo (Grilo) e Juarez.
À instituição Hospital das Clínicas da UFMG,
local onde me formei, para onde voltei,
onde encontrei grandes amigos e sempre aprendo muito.
À instituição Hospital Odilon Behrens,
local que me ensinou a importância da medicina baseada em evidências.
E a todos os amigos que lá encontrei.
Aos pacientes, portadores do cardiodesfibrilador implantável.
Luta constante para manter coração e vida batendo no mesmo ritmo.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Antonio Luiz Pinho Ribeiro (Tom), mestre, orientador e, além de tudo, amigo,
pela inestimável colaboração, paciência, disponibilidade e oportunidade de crescimento.
Por ter me propiciado a oportunidade de avançar um degrau na vida acadêmica e científica.
Responsável maior por esta, ainda curta, fase da minha vida.
Ao Prof. Manoel Otávio da Costa Rocha, coorientador, pelo incentivo, apoio,
ensinamentos, correções, revisões e sugestões.
À Prof
a
. Maria do Carmo (Carminha), sempre disponível e disposta. Otimismo contagiante.
Ao único acadêmico, e meu primo, Alexandre, pelo trabalho com eficiência e entusiasmo.
Aos residentes de cardiologia, Alexandre, Luiza, Emerson e Gláucia, pelo grande apoio.
Aos funcionários do Laboratório de Marca-passo do Serviço de Cardiologia e Cirurgia
Cardiovascular, em especial: Elza, Meire e Edson, pela colaboração fundamental.
Aos médicos do Laboratório de Marca-passo do Serviço de Cardiologia e Cirurgia
Cardiovascular, em especial: Henrique Barroso Moreira e Leonor Garcia Rincon.
A todos os funcionários do Serviço de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular.
Aos preceptores da Residência de Cardiologia do HC-UFMG, pelo acolhimento,
aprendizado e apoio.
A verdade dividida
“A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.”
Carlos Drumond de Andrade, 1984
vii
RESUMO
A doença de Chagas é um dos principais problemas médico-sociais do Brasil. A
morte súbita é um dos fenômenos clínicos característicos da doença de Chagas desde suas
descrições iniciais. Mais de 50% da mortalidade nos pacientes com doença de Chagas são
atribuíveis à morte súbita cardíaca. O cardiodesfibrilador implantável (CDI) tornou-se a
principal estratégia terapêutica para prevenção de morte súbita. Contudo, a eficácia e a
segurança de se tratar o paciente chagásico com o CDI foi avaliada em poucos estudos
observacionais. O objetivo do presente trabalho foi comparar a evolução pós-implante do
CDI em chagásicos e não-chagásicos. Delineamento, população e métodos: estudo
observacional, longitudinal, retrospectivo. A população consistiu de pacientes chagásicos e
não-chagásicos com indicação de CDI para profilaxia secundária, atendidos em hospital
universitário de referência. Os desfechos analisados foram: terapia apropriada (choque
apropriado ou terapia antitaquicardia), terapia inapropriada, mortalidade geral, choque
inapropriado e sobrevida livre de eventos (terapia apropriada ou óbito). Resultados: foram
avaliados 136 pacientes, sendo 65 (54,6%) chagásicos, com tempo mediano de seguimento
de 266 dias (Q
1
=72,25 e Q
3
=465,75). A mediana da idade foi de 60 (50-67) anos e 96
pacientes (71%) eram do sexo masculino. Os dois grupos eram semelhantes quanto à
distribuição de sexo, idade, FEVE e tempo de seguimento. Observou-se terapia apropriada
deflagrada pelo CDI em 32 (62,7%) pacientes chagásicos e 19 (37,3%) não-chagásicos
(p=0,005). A cardiopatia chagásica aumentou em 2,7 vezes (IC 95% 1,3–5,6) o risco de o
paciente receber terapia apropriada. Os pacientes chagásicos com e sem disfunção
ventricular apresentaram a mesma taxa de terapia apropriada (p=0,65). Terapia
inapropriada ocorreu em apenas cinco (3,7%) casos e sem diferença entre os grupos
(p=0,23). Verificaram-se 16 óbitos (11,8%), sem diferença entre os grupos (p=0,82). Os
pacientes chagásicos apresentaram significantemente menos sobrevida livre de eventos
quando comparados aos não-chagásicos (p=0,004). A única variável independente
preditora de eventos foi ser portador de cardiopatia chagásica (p=0,01; HR=2,24; IC 95%=
1,2-4,2). Conclusões: a maior frequência de pacientes chagásicos com registro de terapia
apropriada e a diferença da sobrevida livre de eventos entre os grupos são consistentes com
a presença de um substrato arritmogênico mais grave na cardiopatia chagásica. O CDI
parece fornecer proteção efetiva aos pacientes chagásicos, constituindo procedimento
seguro, com baixa frequência de terapia inapropriada e complicações. A ausência de
diferença na taxa de terapia apropriada entre os chagásicos com e sem disfunção
ventricular sugere que a FEVE não deveria ser usada como critério preponderante e
decisivo de indicação do cardiodesfibrilador nesses pacientes. Considerando-se que a
doença de Chagas foi o único preditor independente de terapia apropriada e óbitos,
questiona-se a eticidade de se submeterem pacientes chagásicos com indicação de
prevenção secundária contra morte súbita a estudos randomizados nos quais um dos grupos
não venha a receber esse tratamento.
Palavras chave: Tripanossomíase americana. Doença de Chagas. Arritmia. Morte Súbita.
Cardiodesfibrilador Implantável.
viii
ABSTRACT
Chagas disease is a major medical and social problems of Brazil. Sudden death is
one of the clinical phenomena characteristic of Chagas disease since its initial descriptions.
More than 50% of mortality in patients with Chagas' disease is attributable to sudden
cardiac death. Implantable cardioverter-defibrillators (ICD) has become the main
therapeutic strategy for prevention of sudden death. However, the efficacy and safety of
treating the patient with Chagas CDI was evaluated in a few observational studies. The aim
of this study was to compare the outcome after ICD implantation in chagasic and non
Chagasic. Design, population and methods: observational, longitudinal study. The
population consisted of patients with and without Chagas indicating ICD for secondary
prophylaxis; treated at a university hospital. The outcomes analyzed were appropriate
therapy (appropriate shock therapy or pacing), inappropriate therapy, mortality, and
inappropriate shock-free survival (appropriate therapy or death). Results: We evaluated
136 patients, 65 (54.6%) patients, with median follow-up of 266 (Q1= 72,25 and Q3 =
465.75) days. The median age was 60 (50-67) years and 96 patients (71%) were male. The
two groups were similar regarding gender distribution, age, LVEF and follow up. There
was appropriate therapy triggered by the ICD in 32 (62.7%) patients with and 19 (37.3%)
non Chagasic patients (p = 0.005). Chagas' heart disease increased by 2.7 times (95% CI
1.3 - 5.6), the risk of patients receiving appropriate therapy. Chagas disease patients with
and without ventricular dysfunction showed the same rate of appropriate therapy (p =
0.65). Inappropriate therapy occurred in only five (3.7%) cases and no difference between
groups (p = 0.23). There were 16 deaths (11.8%) and no difference between groups (p =
0.82). Chagas disease patients had significantly lower event-free survival when compared
to non-Chagasic patients (p = 0.004). The only independent variable predictive of events
was to be patient with congenital heart disease (p = 0.01, HR = 2.24, CI 95% = 1,2-4,2).
Conclusions: The increased frequency of chronic Chagas record appropriate therapy and
the difference in event-free survival between the groups, are consistent with the presence
of an arrhythmogenic substrate worse in Chagas heart disease. The CDI appears to provide
effective protection to patients with Chagas disease, providing safe procedure with low
frequency of inappropriate therapy and complications. The lack of difference in the rate of
appropriate therapy, among Chagasic patients with and without ventricular dysfunction
suggests that LVEF should not be used as a criterion leading and decisive indication of the
defibrillator in these patients. Considering that Chagas disease was the only independent
predictor of appropriate therapy and death, questions the ethics of undergoing chagasic
patients with indication for secondary prevention of sudden death in randomized trials in
which one group will not receive this treatment .
Keys words: American Tripanossomíase. Chagas’ disease. Arrhythmia. Sudden Death.
Implantable cardioverter defibrillator. Shock.
ix
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ATP Estimulação antitaquicardia
AV Atrioventricular
AVAQ Anos de vida salvos ajustados pela qualidade
BAV Bloqueio atrioventricular
BAVT Bloqueio atrioventricular total
BB Betabloqueador
BCRD Bloqueio completo de ramo direito
BCRE Bloqueio completo do ramo esquerdo
BNP Peptídeo natriurético cerebral
BRD Bloqueio de ramo direito
BRE Bloqueio de ramo esquerdo
BVS Biblioteca Virtual em Saúde
CCC Cardiopatia chagásica crônica
CDI Cardiodesfibrilador implantável
CF Classe funcional
DDDR Dual Chamber Rate Adaptive Pacemaker
ECG Eletrocardiograma
ECG-AR Eletrocardiograma de alta resolução
ECO Ecodopplercardiograma
EEF Estudo eletrofisiológico
Et al. Et alter (e outro)
EUA Estados Unidos da América
FA Fibrilação atrial
FEVE Fração de ejeção do ventrículo esquerdo
FV Fibrilação ventricular
HBAE Hemibloqueio anterior esquerdo
HBPE Hemibloqueio posterior esquerdo
HC Hospital das Clínicas
HR Hazard ratio
x
IAM Infarto agudo do miocárdio
IC Insuficiência cardíaca
IC Intervalo de confiança
ICT
Msec
Indice cardiotorácico
Milisegundos
NBR Normas Brasileiras De Referência
NYHA New York Heart Association
OR Odds ratio
Q
1
Primeiro quartil
Q
3
Terceiro quartil
RR Risco relativo
RxT Estudo radiológico do toráx
SPSS Statistical package for social sciences
SUS Sistema Único de Saúde
T. cruzi Trypanosoma cruzi
TA Terapia apropriada
TI Terapia inapropriada
TNF-α Fator de necrose tumoral alfa
TVNS Taquicardia ventricular não-sustentada
TVS Taquicardia ventricular sustentada
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
VD Ventrículo direito
VVIR Ventricular Rate Modulated Pacing
xi
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráficos
GRÁFICO 1 Curvas de sobrevida em pacientes chagásicos e não-chagásicos.......... 53
GRÁFICO 2 Curvas de sobrevida livre de eventos em pacientes chagásicos e não-
chagásicos.............................................................................................................
54
Quadros
QUADRO 1 Estadiamento do comprometimento miocárdico na cardiopatia
chagásica crônica..................................................................................................
22
QUADRO 2 Estadiamento do comprometimento miocárdico na cardiopatia
chagásica crônica..................................................................................................
23
xii
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Características basais demográficas, clínicas, eletrocardiográficas e
ecocardiográficas da coorte de 136 pacientes que se submeteram a implante de
CDI no HC-UFMG, entre janeiro de 2007 e maio de 2009..................................
44
TABELA 2 Comparação das características basais: demográficas, clínicas,
eletrocardiográficas e ecocardiográficas entre pacientes chagásicos e não-
chagásicos submetidos a implante de CDI, no HC-UFMG, entre janeiro de
2007 e maio de 2009.............................................................................................
46
TABELA 3 Comparação do resultado do estudo eletrofisiológico entre pacientes
chagásicos e não-chagásicos submetidos a implante de CDI no HC-UFMG,
entre janeiro de 2007 e maio de 2009...................................................................
47
TABELA 4 Características dos 136 pacientes submetidos a implante de CDI no
HC-UFMG, entre janeiro de 2007 e maio de 2009, quanto ao tratamento com o
dispositivo.............................................................................................................
48
TABELA 5 Comparação do tipo e marca do cardiodesfibrilador implantável entre
chagásicos e não-chagásicos submetidos a implante de CDI no HC-UFMG,
entre janeiro de 2007 e maio de 2009...................................................................
49
TABELA 6 Comparação entre pacientes chagásicos e não-chagásicos quanto às
características do tratamento com o cardiodesfibrilador implantável...................
51
TABELA 7 Comparação dos pacientes chagásicos com disfunção ventricular e
sem disfunção ventricular, segundo as características do tratamento com o
cardiodesfibrilador implantável............................................................................
52
TABELA 8 Características dos 136 pacientes submetidos a implante de CDI,
segundo ocorrência do desfecho combinado (terapia apropriada ou óbito), no
HC-UFMG, entre janeiro de 2007 e maio de 2009...............................................
55
TABELA 9 Preditor do desfecho combinado (terapia apropriada ou óbito) após
análise multivariada entre pacientes chagásicos e não-chagásicos submetidos a
implante de CDI no HC-UFMG, entre janeiro de 2007 e maio de 2009..............
56
xiii
SUMÁRIO
1
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 15
2 REVISÃO DA LITERATURA............................................................................... 16
2.1 A doença de Chagas.............................................................................................. 16
2.2 A miocardiopatia chagásica.................................................................................. 17
2.3 A morte súbita e o cardiodesfibrilador implantável............................................. 24
2.4 O cardiodesfibrilador implantável e a doença de Chagas..................................... 30
3 OBJETIVOS............................................................................................................ 35
3.1 Geral...................................................................................................................... 35
3.2 Específicos............................................................................................................ 35
4 CASUÍSTICA E MÉTODOS.................................................................................. 36
4.1 Caracterização do estudo...................................................................................... 36
4.2 Pacientes................................................................................................................
37
4.2.1 Critérios de inclusão...........................................................................................
37
4.2.2 Critérios de exclusão.......................................................................................... 37
4.3 Métodos................................................................................................................. 37
4.3.1 Seguimento clínico............................................................................................. 37
4.3.2 Análise estatística............................................................................................... 39
4.3.3 Seleção das variáveis......................................................................................... 40
4.3.3.1 Definição das variáveis.................................................................................. 40
4.4 Normatização técnica............................................................................................ 41
4.5 Aspectos éticos..................................................................................................... 42
5 RESULTADOS........................................................................................................ 43
5.1 Características basais da coorte.............................................................................
43
5.2 Comparação entre pacientes chagásicos e não-chagásicos................................... 45
5.3 Características dos pacientes quanto ao tratamento com o cardiodesfibrilador…
47
1
Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortográficas.
xiv
5.4 Comparação entre pacientes chagásicos e não-chagásicos quanto ao tratamento
com o CDI...................................................................................................................
49
5.5 Comparação entre pacientes chagásicos com e sem disfunção ventricular
sistólica........................................................................................................................
51
5.6 Curvas de sobrevida entre pacientes chagásicos e não-chagásicos.......................
52
5.7 Preditores de eventos na coorte............................................................................. 54
6 DISCUSSÃO........................................................................................................... 57
7 LIMITAÇÕES DO ESTUDO.................................................................................. 64
8 IMPLICAÇÕES DO ESTUDO............................................................................... 65
9 CONCLUSÕES....................................................................................................... 66
10 PROPOSIÇÕES FUTURAS.................................................................................. 67
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 68
APÊNDICE E ANEXOS............................................................................................ 78
15
1 INTRODUÇÃO
A doença de Chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi (T.cruzi),
descoberta e descrita pelo médico brasileiro Carlos Chagas, em 1909
(1)
,
persiste como um
grave problema de saúde pública em nosso meio, acometendo cerca de quatro milhões de
brasileiros e 10 milhões de pessoas na América Latina
(2)
.
A morte súbita, na vigência de cardiopatia ou não, é um dos fenômenos
característicos da doença de Chagas, desde suas descrições iniciais
(1)
. Mais de 50% da
mortalidade nos pacientes com insuficiência cardíaca são atribuíveis à morte súbita
cardíaca
(3;4)
. Esse tipo de morte ocorre em cerca de 300.000 indivíduos por ano nos
Estados Unidos da América (EUA) e representa metade das mortes por doença
cardiovascular
(5)
. O mecanismo mais frequentemente envolvido na morte súbita nos
chagásicos é a arritmia ventricular maligna, ou seja, taquicardia ventricular sustentada
(TVS), degenerando-se em fibrilação ventricular (FV) ou mesmo a FV não precedida pela
TVS
(6)
.
Estudos de prevenção secundária incluíram pacientes pós-infarto agudo do
miocárdio (IAM) e com miocardiopatia dilatada. A prevenção secundária inclui pacientes
ressuscitados de parada cardíaca, com TVS com repercussão hemodinâmica ou com
síncope e TVS induzida no estudo eletrofisiológico. Esses estudos compararam a
amiodarona e o implante do cardiodesfibrilador e mostraram beneficio de sobrevida com o
cardiodesfibrilador implantável (CDI)
(7-11)
. As diretrizes do Sistema Único de Saúde
(SUS)
(12)
autorizam o implante do CDI na prevenção secundária em pacientes com morte
súbita cardíaca recuperada ou síncope com TVS/FV induzida no estudo eletrofisiológico ou
TVS espontânea e cardiopatia estrutural ou fração de ejeção do ventrículo esquerdo
(FEVE)35%
(12)
.
O CDI tornou-se, assim, a principal estratégia terapêutica para prevenção de morte
súbita em pacientes com pós-IAM ou com miocardiopatia dilatada. A eficácia e a
segurança de se tratar o paciente chagásico com o CDI foram avaliadas em poucos estudos
observacionais. Não pesquisa controlada e randomizada que tenha se aprofundado no
tema cardiopatia chagásica.
16
Dessa forma, o tratamento da arritmia ventricular no paciente chagásico com o
implante de CDI é essencialmente arbitrário, baseado em extrapolação e recomendações
destinadas a cardiopatias de outras etiologias.
O objetivo principal do estudo foi comparar a evolução pós-implante do CDI em
pacientes chagásicos e não-chagásicos.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 A doença de Chagas
A doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanossoma cruzi, endêmica na
América do Sul e América Central, onde existem 10 a 20 milhões de pessoas infectadas e
quase 100 a 120 milhões em risco de contrair a doença
(13)
.
É transmitida por meio das fezes de inseto hematófago da subfamília triatominae,
pincipalmente dos gêneros Triatoma, Panstrongylus e Rhodnius, e ocasionalmente através
da forma congênita, via hemotransfusão, transplante de órgãos contaminados e, raramente,
por via digestiva
(14)
.
Com as medidas de controle da doença, a prevalência e a incidência da doença de
Chagas vêm diminuindo progressivamente, mas esta ainda permanece como um grave
problema de saúde nos países da América Latina, onde se estimam 50.000 novos casos por
ano
(15)
e cerca de 21.000 mortes/ano relacionadas à doença
(16)
. No Brasil, existem cerca de
quatro milhões de pacientes infectados pelo Trypanossoma cruz
(14)
. Além da elevada
prevalência, a doença de Chagas afeta pacientes em sua fase de mais produtividade
intelectual e laborial e o tratamento é potencialmente muito caro, com importante
consequência econômica para a América Latina
(17;18)
.
17
Pacientes com a forma crônica indeterminada constituem a maioria das pessoas
infectadas e cerca de 40% deles podem persistir para sempre nessa situação clínica
(19)
. A
forma crônica indeterminada é definida por infecção confirmada por testes sorológicos ou
parasitológicos, ausência de sintomas, de anormalidades eletrocardiográficas e de
anormalidades radiológicas (compreendendo o coração, esôfago e cólon).
A evolução da forma indeterminada para formas crônicas clinicamente manifestas
subdivididas em formas cardíaca, digestiva, cardiodigestiva e nervosa geralmente ocorre
10 a 20 anos depois da fase aguda. Estudos epidemiológicos mostraram que 2-3% dos
pacientes irão evoluir a cada ano da forma indeterminada para a forma clínica da
doença
(18;19)
. No Brasil, aproximadamente 20 a 30% dos pacientes desenvolvem a forma
cardíaca, 5 a 8% desenvolvem megaesôfago e 4 a 6%, megacólon
(18;19)
.
2.2 A miocardiopatia chagásica
Além da sua maior frequência, a cardiomiopatia crônica é a forma clínica mais
importante da doença de Chagas, em virtude de sua alta morbidade e mortalidade e,
consequentemente, de seu impacto social e médico
(14;20)
. A cardiopatia chagásica crônica
(CCC) pode causar insuficiência cardíaca, arritmias de tipo e gravidades variáveis,
bloqueios de condução do estímulo elétrico, tromboembolismo, acidente vascular
isquêmico e morte súbita
(14;21)
.
A forma cardíaca é a principal causa de morte
(22)
.
A patogênese da CCC pode ser explicada pelos seguintes mecanismos: lesão direta
causada pelo microrganismo, autoimunidade induzida por antígenos do protozoário com
consequente destruição de miócitos, nglios simpáticos e parassimpáticos, doença
microvascular e mecanismos neurogênicos com disfunção parassimpática e, em menor
escala, simpática. Também estariam implicadas na patogênese as lesões inflamatórias
determinadas por eosinófilos, macrófagos e monócitos mediadas por óxido nítrico, fator de
necrose tumoral alfa (TNF- α) e outras citocinas e quimiocinas
(23)
.
A CCC é a miocardite mais comum em todo mundo
(24)
. É também a mais fibrosante
das miocardites conhecidas
(25)
, apresentando peculiaridades importantes e caracterizando-
se por intensidade variável de inflamação focal, composta de células linfomononucleares,
desarranjo estrutural, hipertrofia, dilatação e intensa fibrose reativa e reparativa
(25)
.
18
Um dos substratos arritmogênicos no pacientes com CCC são as lesões necróticas e
fibróticas provocadas pelo processo inflamatório do miocárdio. As lesões também se
associam à deficiência de fluxo sanguíneo, secundária às lesões microvasculares ou
alterações autonômicas que regulam a perfusão sanguínea do miocárdio lesado
(26)
. As
lesões ocasionadas pelo processo inflamatório causam diminuição nas junções
comunicantes intercelulares que, associadas às alterações dos potenciais elétricos,
comprometem a condução do estímulo entre as células.
Essas alterações geram desacoplamento elétrico, que resulta em condução lenta do
estímulo e bloqueio unidirecional. Estes, associados às áreas fibróticas, formam o circuito
de reentrada para a gênese das arritmias ventriculares
(27;28)
.
Na doença de Chagas, o eletrocardiograma tem importante valor no diagnóstico e
prognóstico. Entretanto, a sensibilidade do método na detecção do dano miocárdico não é
elevada. A ausência de alterações eletrocardiográficas não é indicador fidedigno da
ausência de acometimento cardíaco
(29)
.
Distúrbios de condução intraventricular e
atrioventricular são manifestações comuns da CCC e são geralmente relacionados à
disfunção ventricular sistólica e a arritmias ventriculares
(1)
. O bloqueio de ramo direito
(BRD) é a anormalidade eletrocardiográfica mais comum. É tipicamente associada ao
hemibloqueio anterior esquerdo (HBAE) e extrassístoles ventriculares. O bloqueio de ramo
esquerdo é menos comum e é associado a pior prognóstico
(30)
. O BRD é encontrado em 13
a 35% dos pacientes com cardiopatia. O bloqueio de ramo esquerdo (BRE) é 10 vezes
menos frequente do que o BRD
(31-33)
.
A duração do QRS é diretamente relacionada ao
tamanho do ventrículo esquerdo e inversamente relacionada à fração de ejeção ventricular
esquerda (FEVE)
(33)
.
A duração do QRS filtrado, obtido por meio do eletrocardiograma de
alta resolução, constitui um preditor independente de morte na cardiopatia chagásica
(34)
.
A atividade ectópica ventricular é também muito frequente na CCC.
Aproximadamente 15 a 55% dos indivíduos com sorologia positiva para Chagas
apresentam extrassístoles ventriculares
(14;31)
. Embora a presença de extrassístoles isoladas
seja comum, quanto mais numerosas estas sejam, polimórficas e complexas, mais grave é a
cardiopatia
(32)
.
19
Quando pacientes com alterações no eletrocardiograma em repouso e insuficiência
cardíaca são estudados pela eletrocardiografia dinâmica, praticamente todos eles (99%)
apresentam extrassístoles ventriculares, sendo que em 87% são encontradas extrassístoles
multiformes ou formas repetidas, como taquicardia ventricular não-sustentada (TVNS)
(35)
.
A TVNS confere fator prognóstico para mortalidade geral e morte súbita cardíaca em
pacientes com disfunção ventricular sistólica
(22;31;35;36)
. As arritmias ventriculares
complexas como extrassístoles ventriculares frequentes, polimórficas, pares e taquicardias
ventriculares não-sustentada e sustentada revelam a característica marcadamente arrítmica
dessa cardiopatia, que se traduz pelo risco elevado de morte súbita cardíaca
(14;22;37)
.
O acometimento do sinusal e do sistema de condução atrioventricular também é
muito frequente nos pacientes com doença de Chagas. A disfunção do sinusal é um dos
distúrbios mais comuns
(14;22;32)
.
A doença do sinusal pode se manifestar como
bradicardia sinusal, parada sinusal, bloqueio sinoatrial de segundo grau, ritmo juncional e
ritmo idioventricular acelerado. O bloqueio atrioventricular (BAV) de primeiro grau
constitui um dos distúrbios de condução atrioventricular (AV) mais encontrados, podendo
ser transitório ou definitivo
(14;22;32)
.
O bloqueio atrioventricular de segundo grau é menos
frequente, podendo se manifestar com ou sem o fenômeno de Wenckebach
(14;22;32)
. O
bloqueio atrioventricular de terceiro grau ou total pode acometer 10% dos pacientes, sendo
muito mais frequente que em qualquer outra cardiopatia
(38;39)
.
Os diversos tipos de
bloqueio atrioventricular incompleto podem se associar aos distúrbios de condução
intraventricular. Quando concomitantes, denotam lesão extensa e avançada do sistema de
condução, ocasionando alto risco de evolução para o bloqueio completo
(14;22;31;38-40)
.
O estudo radiológico do toráx (RxT) é importante exame complementar no
diagnóstico e acompanhamento dos pacientes com cardiopatia chagásica. O RxT, a partir
do índice cardiotorácico aumentado, pode sugerir disfunção ventricular esquerda
sistólica
(41)
e auxilia na condução clínica dos episódios de descompensação cardíaca. A
cardiomegalia é devida à combinação de hipertrofia e principalmente dilatação. Entretanto,
o RxT possui baixa sensibilidade na determinação de disfunção ventricular
(42)
.
Na forma
crônica cardíaca, os achados são semelhantes aos de outras miocardiopatias, observando-se
cardiomegalia, congestão pulmonar e derrame pleural.
20
A congestão pulmonar é achado frequente na miocardiopatia chagásica crônica dilatada,
embora se manisfeste com menos intensidade quando comparada a outras
miocardiopatias
(43-45)
. Além disso, a silhueta cardíaca aumentada possui valor prognóstico
independente significativo
(14;22;37;46)
.
O ecodopplercardiograma transtorácico tornou-se um importante instrumento no
diagnóstico e acompanhamento dos pacientes com doença de Chagas, em suas diversas
formas
(47)
. O eco é o melhor exame não-invasivo utilizado na avaliação da função cardíaca.
Além de ter custo relativamente baixo, apresenta elevado grau de confiabilidade
diagnóstica, sendo, portanto, elemento propedêutico de elevado valor na abordagem do
paciente chagásico. Ele fornece localização de alterações patogênicas e permite determinar
o estado evolutivo e o grau do comprometimento cardíaco.
Entre os vários parâmetros analisados, os mais importantes são: FEVE, diâmetro do
átrio esquerdo, diâmetro sistólico e diastólico do ventrículo esquerdo, função diastólica,
função ventricular do ventrículo direito, contratilidade global e segmentar do ventrículo
esquerdo, contratilidade global do ventrículo direito e aneurisma vorticilar ou de ponta do
ventrículo esquerdo
(14;21;48)
. A disfunção do ventrículo direito (VD) é mais evidente quando
há envolvimento concomitante e significativo da disfunção ventricular esquerda
(43;45;49)
e é
um preditor independente de mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca
chagásica
(43;48)
.
Na CCC, a disfunção diastólica é um marcador de doença grave
(50)
. O
volume atrial esquerdo também é um preditor independente de mortalidade em pacientes
chagásicos com FEVE deprimida e fornece informação prognóstica incremental aos dados
clínicos e ecocardiográficos convencionais que predizem sobrevida
(43;51)
. A disfunção
sistólica ventricular esquerda é o mais forte preditor de morbidade e mortalidade na
cardiopatia chagásica
(20;37;47;52)
. A disfunção ventricular sistólica esquerda leva a aumento
na mortalidade, tanto por progressão da insuficiência cardíaca quanto por morte súbita e
acidente vascular cerebral
(37;46;53;54)
.
A CCC apresenta curso evolutivo caracteristicamente lento e progressivo, embora
às vezes possa ter evolução rápida. As manifestações clínicas da cardiopatia chagásica
variam desde quadro assintomático a formas graves com insuficiência cardíaca, distúrbios
do ritmo e fenômenos tromboembólicos.
21
Quando sintomático, a CCC se apresenta sob a forma de três síndromes clínicas:
insuficiência cardíaca, arritmia cardíaca e tromboembolismo. A morte súbita
eventualmente constitui sua primeira manifestação
(1;55;56)
.
A insuficiência cardíaca chagásica inicialmente cursa com predomínio da disfunção
ventricular esquerda, apresentando dispneia e limitação funcional progressiva como
principal sintomatologia
(39)
. As crises de dispneia paroxística noturna são raras, mesmo em
casos de insuficiência cardíaca avançada
(39)
. Mesmo a dispneia em decúbito, em muitos
casos, é discreta ou até ausente. Não raro se observam doentes em insuficiência cardíaca
congestiva com acentuada estase hepática e grandes edemas, sem qualquer indício de
dispneia de decúbito
(45)
. À medida que a insuficiência cardíaca (IC) progride, notam-se
manifestações biventriculares, às vezes com manifestações de disfunção direita dominando
a apresentação clínica
(14;22;45;47;57)
.
Sinais de congestão crônica, cardiomegalia e fenômenos
tromboembólicos são as principais alterações patogênicas macroscópicas.
A CCC está classicamente associada à ocorrência de fenômenos
tromboembólicos
(53)
. Do ponto de vista clínico predominam os fenômenos
tromboembólicos que atingem o cérebro
(53)
. O aneurisma de ponta favorece a ocorrência de
fenômenos tromboembólicos, com tendência à formação de trombos, principalmente no
átrio direito e ventrículo esquerdo
(14;22;53;58;59;59)
, acontecendo em 20 a 47% dos casos
(58;60)
.
A FEVE deprimida também favorece o tromboembolismo
(53)
. A doença de Chagas parece
ser um preditor de acidente vascular cerebral isquêmico, independentemente da disfunção
sistólica ou de arritmias
(61-63)
.
Na sua forma dilatada, a CCC é a cardiopatia que mais frequentemente leva à morte
súbita, à remodelagem miocárdica e à mais grave falência ventricular, quando comparada a
outras cardiopatias
(64)
.
A morte súbita é responsável por 60 a 65% dos óbitos por doença de Chagas, a
insuficiência cardíaca por 25 a 30% e os fenômenos tromboembólicos por 10 a 15%
(56)
.
22
Essa ampla variedade de manifestações da CCC levou à elaboração de um sistema
de classificação baseado em evidências clínicas, radiológicas, eletrocardiográficas e
ecocardiográficas, destinado especialmente ao agrupamento dos pacientes segundo o grau
de comprometimento morfofuncional cardíaco e à realização de estudos visando avaliar os
possíveis determinantes de morbidade e prognósticos nos pacientes (QUADRO 1)
14
.
QUADRO 1
Classificação clínica da cardiopatia chagásica crônica (CCC)
Grupo
clínico
Características
Forma
crônica
indeterminada
Pacientes assintomáticos, sem alterações significativas ao exame físico,
eletrocardiograma, RX de tórax, esofagograma com pesquisa de
retenção e enema opaco de enchimento. Sem alterações significativas ao
ecocardiograma, teste de esforço e Holter.
CCC 1
Assintomático e sem alteração ao exame físico, ECG, Rx de Tórax,
esofagograma e enema opaco. Exames como o ecocardiograma, Holter
ou teste de esforço podem detectar anormalidade de variável gravidade.
CCC 2 Assintomático ou em classe funcional NYHA I, sem cardiomegalia, mas
alterações menores ao ECG, tais como baixa voltagem, bloqueio
divisional do ramo esquerdo, alterações inespecíficas no ST e onda T.
CCC 3 NYHA I ou NYHA II. Sem cardiomegalia, mas com consideráveis
alterações ao ECG: BCRD, arritmias ventriculares uniformes.
CCC 4 NYHA I ou NYHA II. Sem cardiomegalia, mas com alterações ao ECG
mais importantes: BCRD, BCRD + HBAE, BCRE, BAV GRAU OU
BAVT.
CCC 5 Manifestações clínicas, radiológicas e especialmente ecocardiográficas
de dilatação cardíaca. Assintomático ou com sintomas de IC.
Fonte: Adaptado
(14)
.
BCRD= bloqueio completo do ramo direito; BAV= Bloqueio atrioventricular; BAVT= bloqueio
atrioventricular total; BCRE= bloqueio completo do ramo esquerdo; CCC= cardiopatia chagásica crônica;
ECG= eletrocardiograma, FEVE= fração de ejeção do ventrículo esquerdo; HBAE= hemibloqueio anterior
esquerdo; NYHA= New York Heart Association.
23
Uma nova classificação para IC, considerando-se a função sistólica ventricular
esquerda obtida pela ecocardiografia, foi adotada pelo Consenso Brasileiro e pelo
Consenso Latino Americano de Insuficiência Cardíaca. Essa classificação mostrou-se de
muita utilidade quando aplicada à CCC, permitindo a identificação de subgrupos distintos
do ponto de vista prognóstico e terapêutico, conforme mostrado no QUADRO 2
20
.
QUADRO 2
Estadiamento do comprometimento miocárdico na cardiopatia chagásica crônica
ESTÁDIOS
ELETROCARDIOGRAMA
ECOCARDIOGRAMA
CARDÍACA
A ALTERADO NORMAL AUSENTE
B1 ALTERADO ALTERADO
FEVE > 45%
AUSENTE
B2 ALTERADO ALTERADO
FEVE <45%
AUSENTE
C ALTERADO ALTERADO COMPENSÁVEL
D ALTERADO ALTERADO REFRATÁRIA
Fonte: Adaptado
(20)
.
FEVE= Fração de ejeção do ventrículo esquerdo.
Além dessas classificações, foram elaborados escores de risco, com o objetivo de
identificar subgrupos distintos do ponto de vista prognóstico e terapêutico e selecionar os
pacientes com maior morbimortalidade para instituição de controle clínico e de medidas
terapêuticas apropriadas
(37;46;65)
.
O escore elaborado por Rassi Jr. e Rassi (2006)
(37)
divide os pacientes chagásicos
em baixo, médio e alto risco, de acordo com pontuação adquirida após a soma de fatores
prognósticos. Os fatores e as respectivas pontuações foram os seguintes: sexo masculino,
baixa voltagem ao ECG, 2 pontos; TVNS ao holter, alteração segmentar ou disfunção
global ao ecodopplercardiograma (ECO), 3 pontos; aumento do índice cardiotorácico
(ICT) ao Rx de tórax, classe funcional (CF) III ou IV da NYHA, 5 pontos. Os pacientes de
baixo risco (0-6 pontos) possuem mortalidade em 10 anos estimada em 10%; os de risco
24
intermediário (7-11 pontos) estimada em 44%; e os de alto risco (12-20 pontos), em 84%.
Esse escore foi validado em outras séries
(37;66)
.
2.3 A morte súbita e o cardiodesfibrilador implantável
A morte súbita é responsável por 60 a 65% dos óbitos por doença de Chagas
(56)
.
Cerca de 50% dos casos de morte súbita são assintomáticos antes do episódio fatal, porém,
a maioria dos pacientes apresenta comprometimento ventricular e, principalmente, do
sistema de condução
(67;68)
. Em populações de chagásicos com função ventricular deprimida
ao ecocardiograma, as arritmias ventriculares complexas constituem preditores
independentes do risco de evolução para o óbito
(69)
. A gravidade das arritmias ventriculares
tende a se correlacionar com o grau de disfunção ventricular
(56;68)
. Entretanto, é comum
que pacientes chagásicos com arritmias ventriculares malignas, como TVS e FV,
apresentem função ventricular esquerda preservada
(6;70-73)
. Episódios de arritmias
ventriculares malignas são muito mais frequentes em pacientes com cardiopatia chagásica
do que naqueles com outras formas de cardiopatia
(72)
.
O mecanismo mais frequentemente envolvido na morte súbita nos chagásicos é a
arritmia ventricular maligna, ou seja, taquicardia ventricular sustentada (TVS)
degenerando em fibrilação ventricular (FV) ou mesmo a FV não precedida pela TVS
(6)
.
A única abordagem efetiva para interromper a fibrilação ventricular é a
desfibrilação elétrica, prática que vem sendo adotada na ressuscitação de pacientes com
arritmias malignas por meio do desfibrilador externo cerca de cinco décadas. No final
da década de 60, foram iniciadas pesquisas que visavam ao desenvolvimento de um
dispositivo implantável com essa finalidade, que culminaram com a implantação do
primeiro cardiodesfibrilador implantável em humanos, no ano de 1980
(74)
.
Esse dispositivo é composto de três itens:
25
Eletrodos sensitivos, os quais são implantados por via transvenosa no endocárdio
do ventrículo direito, com a finalidade de detectar arritmias potencialmente fatais;
eletrodos de desfibrilação, os quais também são implantados por via transvenosa no
endocárdio do ventrículo direito, sendo os responsáveis pela geração de corrente
elétrica que realiza a desfibrilação;
gerador de pulsos, o qual é composto pelos circuitos sensitivos, pela bateria e por
capacitores de alta voltagem. Esse dispositivo é inserido por implantação peitoral.
Após a implantação desses componentes, a sensibilidade e a função de marca-passo
são testadas, sendo em seguida determinado o limiar de desfibrilação, o qual indica a
sensibilidade energética para desfibrilação. Os dispositivos modernos possuem várias
funções além das de desfibrilação: marca-passo antibradicardia, marca-passo
antitaquicardia, cardioversão de baixa energia e armazenamento de traçados
eletrocardiográficos.
O uso do CDI tem se tornado atraente, pois possibilita tratamento precoce para
taquiarritmias ameaçadoras da vida e tem resultado em aumento de sobrevida
(75)
. Estudos
de prevenção secundária mostraram beneficio de sobrevida com o CDI na insuficiência
cardíaca não-chagásica
(7-11)
, com redução na mortalidade arrítmica e na mortalidade por
todas as causas. Na prevenção secundária, o cardiodesfibrilador reduz a mortalidade geral
em torno de 23% e a morte súbita cardíaca em 50%, com redução absoluta de 3,5% por
ano na mortalidade geral. O prolongamento da vida com o CDI sobre a amiodarona foi de
2,1 meses em três anos de seguimento e de 4,4 meses em seis anos de seguimento, em
pacientes com insuficiência cardíaca não-chagásica. Com estes resultados, para salvar-se
uma vida, em um ano de seguimento o CDI deveria ser implantado em apenas 29
pacientes
(11;76)
.
O CDI tornou-se, assim, a principal estratégia terapêutica para prevenção de morte
súbita nos pacientes pós-IAM e nos portadores de miocardiopatia dilatada. No Brasil, no
ano de 2008, segundo o Datasus (www.datasus.gov.br), houve 880 implantes de CDI pelo
SUS, envolvendo implante de gerador câmara-única, câmara-dupla e câmara-dupla com
ressincronizador. Desse total, aproximadamente 28% eram chagásicos. Foram gastos R$
34.072.855,90 pelo Ministério da Saúde somente com o implante do cardiodesfibrilador
26
em 2008. O valor médio do CDI para o SUS é de R$ 38.719,15 reais. A terapia com o
cardiodesfibrilador é cara, mas alguns estudos em pacientes com cardiopatia isquêmica e
dilatada, em países da América do Norte e Europa, com indicação de CDI na prevenção
primária e secundária mostraram que o implante do cardiodesfibrilador é custo-efetivo
(77-
84)
.
O benefício de se salvar uma vida com o CDI começa cerca de um ano após o implante e o
custo por ano de vida começa a se tornar razoável com cinco anos ou mais após o implante
do aparelho
(78;84)
. No Brasil, a relação de custo-efetividade da terapia com CDI na
prevenção primária, em relação ao tratamento convencional, foi de R$ 68.318/ anos de
vida salvos ajustados pela qualidade (AVAQ), acima do limiar brasileiro de R$ 37.311
reais por AVAQ, o qual foi definido pela multiplicação por três do Produto Interno Bruto
per capita brasileiro. Na simulação do modelo em uma coorte hipotética de pacientes mais
graves, com características mais semelhantes à população do estudo MADIT-I e assumindo
mesma efetividade do CDI, a relação de custo-efetividade incremental foi custo-efetivo
(R$ 23.739/AVAC)
(85)
.
Não existem dados no Brasil sobre custo-efetividade do CDI na
prevenção secundária.
Cerca de 50-70% dos pacientes tratados com CDI recebem terapia apropriada nos
primeiros dois anos após o implante
33
.
Na maioria dos casos, o número total de choques do
CDI permanece limitado e grande parte dos eventos arrítmicos requer apenas um choque
apropriado para o seu término.
Em alguns pacientes (10 a 20%), podem ocorrer múltiplos episódios de terapia
apropriada em 24 horas, condição conhecida como tempestade elétrica. A tempestade
elétrica pode ser causada por TVS ou FV incessante
(86)
. Os principais fatores precipitantes
da tempestade elétrica são: isquemia miocárdica, distúrbios hidroeletrolíticos e
insuficiência cardíaca aguda
(86)
.
Apesar de ser a principal estratégia terapêutica para a prevenção de morte súbita
nos pacientes com IC não-chagásica, o implante do CDI constitui procedimento invasivo,
dispendioso, com riscos significantes para o paciente (choques inapropriados, pró-
arritmias, complicações per e pós-operatórias, problemas com os eletrodos e infecção). As
complicações podem ser divididas em: peroperatórias e relacionadas ao aparelho. As
complicações peroperatórias incluem eventos trombóticos, tromboembolismo pulmonar,
27
sangramento, infecção, hemotórax, pneumotórax, tamponamento cardíaco, síndrome pós-
periocardiotomia e morte. As complicações relacionadas ao aparelho incluem;
deslocamento do eletrodo, fratura do eletrodo, mau funcionamento do gerador, choques
inapropriados, infecção e óbito
(87)
.
O implante do CDI pode levar à depressão e ansiedade
(88;89)
.
Cerca de 50% dos
pacientes apresentam algum grau de depressão ou ansiedade
(87)
. Além disso, 10-20%
relatam piora da qualidade de vida, do bem-estar emocional e do relacionamento
familiar
(88;89)
.
A maioria não manifesta piora da qualidade de vida após o implante do CDI,
mas descreve piora da qualidade de vida em múltiplos domínios no mês que se segue ao
choque
(90)
.
Cerca de 50% dos pacientes apresentarão algum efeito adverso, incluindo
terapia inapropriada (15-35%) e deslocamento do eletrodo (10%).
A principal causa do choque inapropriado são as taquiarritmias supraventriculares
(incluindo taquicardia sinusal), com resposta ventricular rápida. A detecção de TVNS, a
detecção de ondas T, a detecção de potenciais diafragmáticos e a interferência elétrica
externa também levam a terapias inapropriadas
(91-93)
. Na Europa e nos Estados Unidos da
América, a taxa de mortalidade relacionada ao implante do cardiodesfibrilador é de
0,08%
(76;94)
. No Brasil, a taxa de mortalidade relacionada ao implante do CDI, registrada
pelo DATASUS, foi de 0,8% em 2008.
A identificação de pacientes chagásicos com risco de morte súbita, mediante
preditores, é extremamente importante, o que pode permitir identificar aqueles que se
beneficiariam de terapias capazes de abortar o episódio de morte súbita como, por
exemplo, o uso do CDI, possibilitando mudanças no prognóstico dessa doença.
Até o momento, os benefícios da terapia com CDI em pacientes com CCC e
arritmia ventricular não são bem conhecidos. O tratamento da arritmia ventricular no
chagásico com o implante do CDI é essencialmente arbitrário, baseado em extrapolação e
recomendações procedentes de estudos em pacientes com cardiopatia não-chagásica.
As principais recomendações das diretrizes se classificam em
(95)
:
28
Classe I: condições para as quais evidências conclusivas de que o procedimento
é seguro e útil/eficaz. O benefício supera o risco. O procedimento deve ser feito.
Classe IIa: condições para as quais divergências quanto ao fato de o
procedimento ser seguro e útil/eficaz, mas com evidências a favor do
procedimento. O benefício supera o risco. É razoável realizar o procedimento e a
maioria dos especialistas o aprova.
A diretriz da Sociedade Americana de Cardiologia e Associação Americana de
Cardiologia indica o implante do CDI como recomendação classe I, na prevenção
secundária, nas seguintes situações
(95)
:
Pacientes recuperados de morte súbita secundária à FV ou TVS, com repercussão
hemodinâmica após a exclusão de causas reversíveis;
pacientes com cardiopatia estrutural e TVS espontânea estável ou instável;
pacientes com síncope de origem indeterminada clinicamente relevante e TVS ou
FV induzida pelo estudo eletrofisiológico;
pacientes com FEVE < 35% devido a infarto agudo do miocárdio prévio, após 42
dias do evento e em classe funcional da NYHA II ou III;
todos os pacientes chagásicos;
pacientes com miocardiopatia não-isquêmica e FEVE < 35% e em classe funcional
da NYHA II ou III;
29
pacientes com FEVE < 30% devido a infarto agudo do miocárdio prévio, após 42
dias do evento e em classe funcional da NYHA I;
pacientes com TVNS devida a IAM prévio e FEVE < 40% e FV ou TVS induzida
pelo EEF.
A Diretriz Brasileira de Dispositivos Cardíacos Eletrônicos Implantáveis
(96)
não faz
qualquer menção especifica à indicação do CDI em chagásicos e indica o implante do CDI,
na prevenção secundária, nas seguintes situações:
Classe I
Parada cardíaca por TV/FV de causa não-reversível, com FEVE 35% e
expectativa de vida de pelo menos um ano;
TVS espontânea com comprometimento hemodinâmico ou síncope de causa não-
reversível com FEVE 35% e expectativa de vida de pelo menos um ano.
Classe IIa
Parada cardíaca por TV/FV de causa não-reversível, com FEVE 35% e
expectativa de vida de pelo menos um ano;
TVS espontânea com comprometimento hemodinâmico ou síncope de causa não-
reversível com FEVE 35% e expectativa de vida de pelo menos um ano;
pacientes com síncope indeterminada e indução de TVS hemodinamicamente
instável e expectativa de vida de pelo menos um ano.
Quanto à prevenção primária, a diretriz da Sociedade Americana de Cardiologia e
Associação Americana de Cardiologia indica o implante do CDI como recomendação
30
classe IIa em pacientes sem história de parada cardíaca ou TVS espontânea, nas seguintes
situações
(95)
:
Pacientes com síncope inexplicada, disfunção ventricular importante e
miocardiopatia não-isquêmica;
pacientes com doença de Chagas.
A Portaria da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde do Brasil
(12)
considera que o implante do cardiodesfibrilador deve ser feito em condições nas quais
existe benefício e custo-efetividade estabelecidos e que deve ser evitado em pacientes com
comorbidades significativas que comprometam o prognóstico, com expectativa de vida
inferior a um ano. A Portaria estabelece as seguintes indicações prioritárias:
Recuperados de parada cardíaca documentada devido à TVS ou FV de causa não-
reversível, com FEVE igual ou inferior a 35% ou com cardiopatia estrutural;
TVS espontânea, de causa não-reversível com FEVE igual ou inferior a 35%;
síncope de origem indeterminada, com indução do estudo eletrofisiológico de TVS
hemodinamicamente instável ou FV clinicamente relevante, com FEVE igual ou
inferior a 35% ou com cardiopatia estrutural.
2.4 O cardiodesfibrilador implantável e a doença de Chagas
A eficácia e a segurança de se tratar o paciente chagásico com o CDI foram
avaliadas em poucos estudos observacionais
(7-11)
. Nenhum estudo randomizado avaliou a
prevenção primária e a prevenção secundária da morte súbita em pacientes chagásicos com
o uso do CDI.
Existem na literatura poucos estudos observacionais prospectivos e retrospectivos
não-randomizados e com um número limitado de chagásicos. Os estudos feitos com o
implante de CDI nos pacientes chagásicos visavam a avaliar a eficácia do uso do
31
cardiodesfibrilador e a segurança do uso do CDI nessa população e identificar os preditores
de terapia apropriada
(6);(97)
. Além disso, os trabalhos visavam a comparar os resultados com
a população não-chagásica com o objetivo de identificar semelhanças e diferença.Todos os
trabalhos foram realizados com pacientes com indicação de CDI na prevenção secundária.
Em 1997, foram comparados 10 pacientes chagásicos e 18 coronariopatas com
implante de CDI para prevenção secundária
(88)
. Não houve diferença estatisticamente
significante entre chagásicos e coronariopatas em relação às seguintes variáveis: idade
(60,2 x 62,6 anos), classe funcional II da NYHA (50 x 62%), FEVE (31,1 x 29,7%) e
incidência de parada cardíaca (20 x 33%). O estudo também não mostrou diferença entre
os grupos em relação ao número de episódios de TV, FV, ATP e número de choques
deflagrados pelo CDI após tempo médio de 20 meses de seguimento. Não houve, também,
diferença de mortalidade entre os grupos. Portanto, não se verificou diferença entre
pacientes com doença de Chagas e aqueles com cardiopatia isquêmica antes do implante
do cardiodesfibrilador e no seguimento de longo prazo.
Também foram comparados 20 pacientes chagásicos e 35 coronariopatas com
implante de CDI para prevenção secundária durante os seis primeiros meses após o
implante
(71)
. Os dois grupos eram diferentes quanto às seguintes variáveis: idade média em
anos (57,4±7 versus 64±9; p<0,01) e sexo (10 homens versus 31 mulheres; p<0,005). A
média da FEVE (30,9%±10 versus 32,9±10) e a classe funcional I e II da NYHA (80
versus 84%) foram semelhantes entre os grupos. O tempo até o primeiro choque
apropriado foi mais curto em pacientes chagásicos quando comparado com pacientes com
doença coronariana (p=0,004). A prevalência de choque apropriado também foi mais alta
nos pacientes chagásicos quando comparada à de pacientes com IC isquêmica (p<0,02,
risco relativo - RR:1,65, odds ratio - OR: 5,35), durante os seis primeiros meses. Além
disso, a maioria dos pacientes chagásicos recebeu choque apropriado em seis meses (85%),
com pico de incidência logo no primeiro mês pós-implante (55%). O choque precoce não
foi preditor de mortalidade. Não houve diferença de mortalidade entre os grupos. O estudo
não descreveu dados sobre efeitos adversos como terapia inapropriada. Concluiu-se que a
doença de Chagas é mais arritmogênica.
32
A probabilidade de não-ocorrência de taquiarritmias ameaçadoras da vida (TVS ou
FV) foi comparada em pacientes portadores de CDI chagásicos versus não-chagásicos
(72)
.
Depois de seguimento médio de 10,5 meses, foram avaliados 53 pacientes: 11 eram
chagásicos, 19 tinham cardiopatia idiopática e 23 eram portadores de cardiopatia
isquêmica. A idade média foi de de 50,1 anos e a maioria (90%) era do sexo masculino.
A probabilidade cumulativa de não-ocorrência de taquiarritmias malignas foi de 0% nos
chagásicos em seguimento de dois anos e de 40% nos não-chagásicos, em seguimento de
até 55 meses. Constatou-se que a doença de Chagas é mais arritmogênica.
Seguimento tardio do estudo relatado previamente
(72)
foi avaliado em 2003
(73)
, com
o objetivo de comparar a probabilidade de não-ocorrência de morte súbita por arritmia
ventricular nas cardiopatias chagásica e não-chagásica. Os mesmos 53 pacientes foram
avaliados. A idade média dos pacientes era de 52,9±12,8 anos e a maioria (90%) era do
sexo masculino. Os grupos eram semelhantes quanto às suas características basais. A
FEVE média dos chagásicos era de 49,7±10% e dos não-chagásicos era de 48,4±10,7%. O
tempo de seguimento médio variou de 0,9 a 83,5 meses, com média de 22,7±20,2 meses. A
probabilidade acumulada de não-ocorrência de taquiarritmias malignas foi de 0% nos
chagásicos e de 40% nos não-chagásicos (p=0,0097). Concluiu-se que a doença de Chagas
é mais arritmogênica.
O registro da América Latina de CDI, publicado em 2005
(98)
,
relatou a experiência
com prevenção secundária de 306 pacientes coronariopatas, 201 chagásicos e 101 com
cardiopatia idiopática. Eles eram semelhantes quanto às suas características basais. O
desfecho primário do estudo foi morte por todas as causas. A idade média foi de 60,1±13,9
anos e a FEVE média foi de 37,7±14,3%. O período médio do seguimento foi de 27±25
meses. A taxa de mortalidade foi similar entre os grupos. Os preditores de mortalidade na
análise multivariada foram: classe funcional da NYHA III e IV (RR= 2,9; IC 95%=1,8-4,7;
p<0,001), FEVE < 30% (RR=1,6; IC 95%=1,1-2,3; p<0,05), idade > 70 anos (RR=2,1; IC
95%=1,5-3,1; P<0,001) e sexo masculino (RR=2,1; IC 95%=1,3-3,5; p<0,01). A doença de
Chagas não foi um preditor de óbito. Este estudo não comparou terapia apropriada ou
choque entre pacientes chagásicos e não-chagásicos.
A taxa de terapia apropriada, terapia inapropriada e complicações precoces e tardias
pós-implante de CDI foi relatada em 155 pacientes, com apenas 18 chagásicos, submetidos
33
ao implante do CDI por prevenção primária e secundária
(99)
. A maioria dos pacientes era
do sexo masculino (77%). A idade média foi de 47 anos (21-88). Todos foram submetidos
ao estudo eletrofisiológico antes do implante do cardiodesfibrilador. Durante seguimento
médio de 26 meses, não houve diferença estatisticamente significante na taxa de terapia
apropriada e mortalidade entres as diferentes etiologias de cardiopatia.
Pelo menos um episódio de terapia apropriada foi encontrado em 46% dos pacientes.
Nenhum preditor independente de terapia apropriada foi identificado. Houve 9,7% de
choques inapropriados. Dois (1,3%) pacientes morreram durante o implante do CDI. A
mortalidade geral foi de 8,4% durante o período analisado.
Estudo longitudinal e retrospectivo analisou 46 pacientes chagásicos com indicação
de CDI para prevenção secundária
(6)
, com o objetivo de identificar o tipo de arritmia que
provocou o choque apropriado e o tipo de terapia deflagrada pelo aparelho. A idade média
dos pacientes foi de 60±11 anos e 76% eram do sexo masculino. A amiodarona foi
administrada em todos os pacientes e betabloqueador foi prescrito adicionalmente em 30%
deles. Apenas cinco (15%) pacientes não tinham disfunção ventricular sistólica ao
ecocardiograma. Observou-se tempo médio de seguimento de 587±439 dias e alta taxa de
terapia apropriada (80%). Um percentual de 84% dos pacientes recebeu choque apropriado
e estimulação antitaquicardia, 13% apenas estimulação antitaquicardia e 3% apenas choque
apropriado. Verificou-se FV em 30% avaliados. O tempo médio do primeiro choque foi de
apenas 16 dias. Não foi enfatizada diferença em relação a FV, TVS e TVS com
degeneração para FV em pacientes com e sem disfunção ventricular sistólica do ventrículo
esquerdo. Nenhum paciente morreu durante o período do estudo.
Foram analisados 90 pacientes chagásicos com indicação de CDI para prevenção
secundária
97
. O estudo observacional retrospectivo tinha como intuito identificar preditores
de mortalidade por todas as causas em pacientes portadores de CCC que receberam o CDI.
O tempo médio do seguimento foi de 756±581 dias. A FEVE média foi de 47±13%, 68%
dos pacientes eram do sexo masculino e 28% não tinham disfunção sistólica do ventrículo
esquerdo. Todos foram tratados com amiodarona e betabloqueador foi prescrito
concomitantemente para 40% dos pacientes. No decorrer desse trabalho, 71% dos
pacientes apresentaram arritmia. Salientou-se TVS em 70% dos pacientes e FV em 30%.
No período observado, 64% receberam pelo menos um choque apropriado. O número
médio de choques por paciente foi de 4,5. No final do seguimento, 34% dos pacientes
34
morreram. Na análise multivariada, apenas o número de choques por paciente em 30 dias
foi preditor independente de mortalidade por todas as causas (OR=1,86, 95% IC=1,21 a
2,86; p=0,005)
(100)
.
O registro de CDI em pacientes chagásicos da América Latina, publicado em
2009
(100)
, pretendeu pesquisar retrospectivamente a evolução de pacientes com doença de
Chagas tratados com CDI. Acompanharam-se 99 pacientes durante seguimento médio de
12 meses. A idade média foi de 59±10 anos e a FEVE média de 40±11%. No momento do
registro, 72% dos pacientes se encontravam em classe funcional da NYHA I ou II. A
principal indicação de CDI foi a prevenção secundária (91%). Nesse registro, o período
médio entre o implante do CDI e a primeira terapia apropriada foi de 104 dias. A terapia
apropriada foi identificada em 42% dos pacientes e a tempestade elétrica em 15,7%. Um
terço dos pacientes chagásicos que receberam terapia apropriada apresentou tempestade
elétrica. A FEVE foi o único preditor de terapia apropriada. Não se verificou diferença de
mortalidade entre pacientes que apresentaram tempestade elétrica e os que exibiram esse
evento. A taxa de terapia inapropriada referida foi de 8%. A taxa de mortalidade foi de
6,7% durante o primeiro ano pós-implante. Nenhum paciente com indicação de CDI por
prevenção primária recebeu terapia apropriada durante o seguimento.
Como visto, nesta revisão de literatura a eficácia e a segurança de se tratar o
paciente chagásico com o CDI foi avaliada em poucos estudos. Não existe estudo
randomizado. Existem poucos estudos observacionais prospectivos e retrospectivos e com
número limitado de pacientes. Foram encontrados nove estudos com pacientes chagásicos
portadores de cardiodesfibrilador
(6;71-73;88;97-99)
. Em dois estudos a população era a
mesma
(72;73)
.
Apenas seis estudos compararam chagásicos e não-chagásicos
(6;71-73;88;97-99)
.
Destes, quatro trabalhos, contendo apenas 59 pacientes chagásicos, apresentavam como
desfecho: terapia apropriada ou choque apropriado
(71;72;88;99)
. Além do pequeno número de
estudos e pacientes, os resultados são divergentes quanto ao comportamento distinto do
paciente chagásico quando comparado com os pacientes não-chagásicos. Em dois destes
trabalhos concluiu-se que a doença de Chagas é mais arritmogênica
(71;72)
e nos outros dois
não se verificou diferença entre pacientes com doença de Chagas e aqueles com
cardiopatia não-chagásica.
(88;99)
Existe dúvida se diferença entre os grupos em relação
ao tempo até a primeira terapia apropriada
(100)
,
ao número de choques apropriados e
35
inapropriados
(88)
e aos preditores de choque e mortalidade
(98)
. Em virtude dessa lacuna no
conhecimento, realizou-se o presente estudo.
3 OBJETIVOS
3.1 Geral
Compararar a evolução pós-implante do cardiodesfibrilador em pacientes
chagásicos e não-chagásicos com indicação para profilaxia secundária, avaliando se a
terapia apropriada é mais frequente em pacientes com cardiopatia chagásica do que
naqueles com outras formas de cardiopatia.
3.2 Específicos
Descrever as características clínicas dos pacientes submetidos ao implante do CDI.
Comparar o grupo de pacientes chagásicos e não-chagásicos quanto às
características clínicas.
Comparar a evolução clínica dos pacientes chagásicos e não-chagásicos quanto à
prevalência de complicações, terapia apropriada e choque inapropriado.
Comparar os pacientes chagásicos com e sem disfunção ventricular quanto à
prevalência de terapia apropriada.
Comparar a evolução clínica dos pacientes chagásicos e não-chagásicos quanto à
sobrevida geral e quanto à sobrevida livre de eventos (terapia apropriada ou óbito).
Definir os preditores do desfecho combinado: terapia apropriada ou óbito.
36
4 CASUÍSTICA E MÉTODOS
4.1 Caracterização do estudo
Trata-se de um estudo observacional, longitudinal, retrospectivo. Os pacientes
foram recrutados de janeiro de 2007 a maio de 2009. A população em estudo consistiu de
pacientes ambulatoriais e internados, com indicação de CDI para profilaxia secundária,
com implante autorizado pela comissão de alta complexidade do SUS, segundo a Portaria
n
o
152, de 08 de março de 2007 (ANEXO A). A Portaria estabelece as seguintes
indicações:
Recuperados de parada cardíaca documentada devido à TVS ou FV de causa não-
reversível, com FEVE igual ou inferior a 35% ou com cardiopatia estrutural;
TVS espontânea, de causa não-reversível com FEVE igual ou inferior a 35%;
síncope de origem indeterminada, com indução ao estudo eletrofisiológico de TVS
hemodinamicamente instável ou FV clinicamente relevante, com FEVE igual ou
inferior a 35% ou com cardiopatia estrutural.
Os pacientes referidos para o Laboratório de Marcapasso do Serviço de Cardiologia
e Cirurgia Cardiovascular do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas
Gerais (HC-UFMG) foram incluídos no estudo de maneira consecutiva. Durante o período
desta pesquisa, 141 pacientes foram submetidos ao implante do cardiodesfibrilador. Os
dados foram obtidos retrospectivamente pela revisão de prontuário e anotados em
questionário padronizado (APÊNDICE A)
37
4.2 Pacientes
4.2.1 Critérios de inclusão
Foram incluídos todos os pacientes ambulatoriais e internados no HC/UFMG, com
indicação de CDI para profilaxia secundária, com implante autorizado pela Comissão de
Alta Complexidade do SUS, segundo a Portaria número 152, de 08 de março de 2007
(12)
.
4.2.2 Critérios de exclusão
Foram excluídos os pacientes cujo seguimento após o implante do CDI seria feito
em outra cidade.
4.3 Métodos
4.3.1 Seguimento clínico
Os eventos registrados e armazenados pelo CDI foram resgatados na forma de
eletrograma intracardíaco, incluindo o registro do canal de marcas, e foram analisados por
três cardiologistas experientes, com especialização em arritmia cardíaca. Os desfechos
foram avaliados na consulta de telemetria com três, seis, 12, 18 e 24 meses, conforme
rotina do Laboratório de Marcapasso e, quando necessário, por entrevista por telefone e
revisão de prontuário.
O desfecho primário analisado foi a terapia apropriada (choque apropriado ou
estimulação antitaquicardia). Os desfechos secundários analisados foram desfecho
composto – definido como terapia apropriada ou óbito –, mortalidade geral e choque
inapropriado.
38
A taquicardia ventricular sustentada foi definida como taquicardia de início
abrupto, dissociação atrioventricular, mudança na morfologia do eletrograma ventricular
comparado com o basal e duração do ciclo de 200-500 msec
(92;101)
A fibrilação ventricular foi definida como taquicardia de início abrupto, dissociação
atrioventricular, mudança na morfologia do eletrograma ventricular comparado com o
basal, variação batimento-batimento < 30 msec e duração do ciclo < 200 msec
(92;101)
.
O choque apropriado foi definido como aquele aplicado à arritmia potencialmente
letal (TVS ou FV detectada pelo CDI), que foi revertida por terapia de choque de
cardioversão ou de desfibrilação
(102)
.
O choque inapropiado foi definido como deflagrações do CDI de forma inadvertida,
secundário a erros nas detecções das taquiarritmias com resposta ventricular alta devido a
taquiarritmias supraventriculares, taquicardia sinusal ou defeito no aparelho
(102)
.
A estimulação antitaquicardia tem seu funcionamento por meio de marca-passo
artificial associado ao dispositivo e pode ocasionar frequência de estimulação mais alta que
a da taquicardia, inibindo, consequentemente, o foco da taquicardia
(103)
. Definiu-se terapia
apropriada a ocorrência do choque apropriado ou estimulação antitaquicardia
(103)
.
Conceituou-se morte súbita cardíaca aquela com uma hora do início dos sintomas
agudos, não testemunhada em paciente que estava bem nas últimas 24 horas ou que
aconteceu durante tentativa de ressuscitação em paciente que estava bem nas últimas 24
horas
(104)
. A morte por falência de bomba foi definida como secundária à progressão dos
sintomas de insuficiência cardíaca
(104)
.
A sobrevida livre de eventos foi definida como aquela livre de terapia apropriada
ou óbito.
As complicações peroperatórias incluíram eventos trombóticos, tromboembolismo
pulmonar, sangramento, infecção, hemotórax, pneumotórax, tamponamento cardíaco,
síndrome pós-periocardiotomia e morte. As complicações tardias incluíram infecção,
deslocamento e/ou fraturas no eletrodo.
39
4.3.2 Análise estatística
Os dados clínicos foram introduzidos em banco de dados utilizando-se o software
Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 17.0. Para caracterização da
amostra, utilizou-se estatística descritiva. As variáveis contínuas foram expressas como
média ± desvio-padrão ou mediana e intervalo interquantil (Q
1
e Q
3
). As variáveis
qualitativas foram descritas pela distribuição de frequências. Em todos os testes utilizou-se
alfa abaixo de 0,05 como necessária para rejeição da hipótese nula. Empregou-se o teste
Kolmogorov-Smirnov para análise da distribuição normal das variáveis.
Testes apropriados foram aplicados para a comparação das proporções (exato de
Fisher), médias (t de Student) ou medianas (Kruskall-Wallis). O valor-p predeterminado
foi de 0,05.
As curvas de sobrevidas foram realizadas utilizando-se o método de Kaplan-Meier
e a taxa de sobrevida livre de eventos e de mortalidade foram comparadas por meio do
teste de log-rank (Mantel-Cox).
Empregou-se o modelo Cox de análise de regressão de chances proporcionais
univariado e multivariado (método passo a passo) para determinar a contribuição das
variáveis independentes. Os resultados foram apresentados como razão de risco (HR) com
intervalo de confiança de 95% (IC 95%). Se o coeficiente de correlação de Pearson entre
as variáveis foi 0,6 ou mais, apenas a variável julgada clinicamente importante entrou no
modelo multivariado.
40
4.3.3 Seleção das variáveis
4.3.3.1 Definição das variáveis
Variáveis explicativas (independentes)
Foram categorizadas em: etiologia da cardiopatia; idade; sexo, FEVE, FEVE <
45%, FEVE < 35%, classe funcional da NYHA, largura do QRS, fibrilação atrial,
resultado do holter, resultado do estudo eletrofisiológico, tipo de profilaxia
secundária, uso de betabloqueador e uso de amiodarona.
Variáveis-resposta (dependentes)
a) Categóricas: terapia apropriada, terapia inapropriada, transplante cardíaco,
morte e sobrevida livre de eventos (terapia apropriada e óbito).
b) Quantitativas: tempo até a primeira terapia apropriada, número de choques,
número de estímulos antitaquicardia e número de terapias apropriadas.
41
4.4 Normatização técnica
Adotaram-se as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) na
elaboração do texto, quadros, figuras, tabelas
105
e nas referências bibliográficas, conforme
as normas brasileiras de referência (NBR) 6028 no formato Vancouver.
A literatura foi revisada por meio de uma busca na base de dados PubMed, de 1965
até 31 de agosto de 2009, para encontrar estudos prospectivos ou retrospectivos avaliando
o CDI em pacientes com cardiopatia, encontrando-se nove publicações.
A busca na base PubMed empregou o filtro de pesquisa em humanos com os
seguintes descritores: ("Chagas Cardiomyopathy"[Mesh] OR "Chagas Disease"[Mesh])
AND "Defibrillators, Implantable"[Mesh] AND (“Mortality"[MeSH Terms] OR Survival
Rate" [MeSH Terms] OR “Fatal Outcome" [MeSH Terms] OR Cause of Death" [MeSH
Terms] OR “Death, Sudden, Cardiac" [MeSH Terms] OR Heart Arrest" [MeSH Terms]
OR Tachycardia, Ventricular" [MeSH Terms] OR Ventricular Fibrillation" [MeSH
Terms]). Usou-se também a estratégia de busca “artigos relacionados” em cada artigo
relevante. Realizou-se busca adicional na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS)
(http://www.bireme.br/php/index.php) usando-se base LILACS com combinações
booleanas de descritores. Foram utilizadas também como fonte de artigos as referências
dos textos lidos na íntegra. Foram incluídos todos os estudos prospectivos ou
retrospectivos com: a) pacientes selecionados por terem sintomas de insuficiência cardíaca
ou disfunção ventricular esquerda assintomática; b) pacientes selecionados por terem sido
submetidos ao implante do cardiodesfibrilador implantável; c) dados disponíveis sobre a
etiologia da insuficiência cardíaca; d) dados disponíveis sobre o seguimento do pacientes;
e) dados disponíveis sobre tipo de evento arrítmico, definindo morte súbita ou fibrilação
ventricular ressuscitada ou taquicardia ventricular sustentada; f) idioma inglês, português
ou espanhol. Excluíram-se estudos que não abordavam pacientes chagásicos e também os
que relatavam implante de CDI apenas para prevenção primária e não consideravam a
prevenção secundária. A partir da ordenação dos resultados pela ordem alfabética de autor
42
ficou mais fácil identificar publicações redundantes sobre os mesmos pacientes,
verificando-se instituições, data e delineamento. Em dois desses estudos os pacientes eram
os mesmos, mas com tempos de seguimento diferentes
(72;73)
.
Em seis publicações foram feitas comparações entre pacientes chagásicos e não-
chagásicos
(71)
. Em quatro destes estudos o desfecho analisado foi terapia apropriada ou
choque apropriado.
4.5 Aspectos éticos
Foram consideradas as recomendações da Organização Mundial de Saúde e da
Declaração de Helsinque de 1975, assim como a Resolução 196/96 sobre Pesquisa
envolvendo Seres Humanos do Ministério da Saúde, no sentido de se salvaguardarem os
direitos e o bem-estar das pessoas estudadas.
O implante do CDI não fez parte dos procedimentos da pesquisa, tendo sido
realizado rotineiramente por necessidade e indicação clínica e após autorização pela
Comissão de Alta Complexidade do SUS.
Este estudo faz parte do projeto “Avaliação de Preditores de Terapia Apropriada em
Pacientes Chagásicos com Cardiodesfibrilador Implantável”. O estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG, pela Diretoria de Ensino, Pesquisa e Extensão do
Hospital das Clínicas e pela Câmara do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, com parecer número ETIC 388/09
(ANEXO B).
43
5 RESULTADOS
5.1 Características basais da coorte
Foram selecionados, de acordo com os critérios de inclusão, 136 pacientes, que se
submeteram ao implante do CDI de janeiro de 2007 a maio de 2009. Todos tinham
indicação de CDI como prevenção secundária. Neste período, ocorreram 141 implantes
mas foram excluídos cinco cujo seguimento após o implante do cardiodesfibrilador foi
realizado em outra cidade. A mediana do tempo de seguimento dos pacientes foi de 266
dias (Q
1
=72,25 e Q
3
=465,75). Houve perda de seguimento de um (0,75%) caso.
Dos 136 pacientes que receberam o desfibrilador, 97 (71%) eram do sexo
masculino e 40 (29%) do sexo feminino, com idades entre nove e 88 anos e mediana de 60
anos (Q
1
=50 e Q
3
=67). Desses, 65 (54,6%) eram portadores de cardiopatia chagásica, 22
(18,5%) de miocardiopatia isquêmica, 13 (10,9%) de cardiopatia idiopática e seis (8,2%)
eram portadores de miocardiopatia hipertrófica. Dois pacientes eram portadores de
miocardiopatia hipertensiva, dois eram portadores de displasia arritmogênica de VD, um
paciente apresentava síndrome de Brugada, um eram portador de taquicardia ventricular
catecalominérgica e um paciente apresentava ndrome de QT longo. Em 22 pacientes, a
etiologia foi definida como não-chagásica, mas não foi possível determiná-la. Em um
indivíduo a causa da cardiopatia era desconhecida.
Dos 133 pacientes que possuíam os dados do tipo de prevenção, 121 (91%) foram
recuperados de morte súbita, sete (5%) tinham apresentado pelo menos um episódio de
TVS espontânea e cinco (4%) foram submetidos ao implante de CDI, por terem
apresentado síncope com TVS induzida no estudo eletrofisiológico.
A mediana da fração de ejeção de todos os pacientes da coorte foi de 36% (Q
1
=30 e
Q
3
= 49,75). A FEVE variou de 13 a 77%. Desse grupo, 78 (75%) apresentavam disfunção
ventricular esquerda (FEVE < 50%). A TAB. 1 mostra as características basais de todos os
pacientes da coorte estudada.
44
TABELA 1
Características basais demográficas, clínicas, eletrocardiográficas e ecocardiográficas
da coorte de 136 pacientes que se submeteram a implante de CDI no HC-UFMG,
entre janeiro de 2007 e maio de 2009
PACIENTES
N=136
Idade (anos)
60 (50-67)
Sexo masculino
96 (71%)
Medicamentos (n=100)
Uso apenas de BB 18 (18%)
Uso apenas de amiodarona 26 (26%)
Uso de BB + amiodarona 51 (50,5%)
ECG (n=102)
Duração do QRS (ms)
120 (90-130)
FEVE (%) (n=104)
36 (30-50)
Tempo de seguimento em dias (n=135)
266 (72,25-465,75)
Mediana (Q
1
e Q
3
).
BB= Betabloqueador, ECG= Eletrocardiograma; FEVE= Fração de ejeção do
ventrículo esquerdo.
Em relação ao uso de medicamentos, 51 (51%) pacientes usavam terapia dupla com
amiodarona e betabloqueador na ocasião do implante, 26 (26%) usavam apenas a
amiodarona, 18 (18%) usavam apenas o betabloqueador e cinco (5%) não utilizavam
qualquer medicação.
Quanto à classe funcional da NYHA, 44 (43%) pacientes estavam, na ocasião do
implante, em classe funcional I da NYHA, 32 (31%) em classe funcional II, 22 (21%) em
classe funcional III e apenas cinco (5%) se apresentaram em classe funcional IV.
45
Quanto ao eletrocardiograma, 24 (23%) pacientes apresentavam BRD, 13 (13%)
tinham BRD associado a HBAE, 22 (21%) BRD associado ao hemibloqueio posterior
esquerdo (HBPE), 17 (17%) BRE, cinco (5%) HBAE, 14 (14%) com ritmo de marca-passo
e 25 (24%) não apresentavam qualquer tipo de bloqueio de ramo. A mediana da duração do
QRS foi de 120 ms (Q
1
= 90 e Q
3
= 130). De todos os pacientes, 91 (90%) estavam em
ritmo sinusal na ocasião do implante e 10 (10%) eram portadores de fibrilação atrial (FA).
A TAB. 2 mostra as características eletrocardiográficas dos pacientes.
O exame de holter 24 horas foi realizado antes do implante do CDI em 32
pacientes. Desses, 17 (45%) apresentaram pelo menos um episódio de TVNS, quatro
(10%) pelo menos uma TVS e 17 (45%) não apresentaram TVNS nem TVS.
Realizou-se o estudo eletrofisiológico (EEF) em 34 pacientes antes do
procedimento. Desses, em 28 (83%) houve indução de TVS, em três (9%) houve indução
de FV e em três outros (9%) não houve indução de arritmia ventricular maligna (TVS ou
FV).
5.2 Comparação entre pacientes chagásicos e não-chagásicos
Os pacientes foram divididos em chagásicos e não-chagásicos. Não houve diferença
estatisticamente significante entre os grupos quanto às seguintes características basais:
idade (p=0,89), sexo (p=0,86), FEVE (p=0,99), classe funcional da NYHA (p=0,83),
fibrilação atrial (p=0,82), largura do QRS (p=0,07), indicação do CDI (p=0,82), tipo de
CDI implantado (p=0,42), marca do CDI implantado (p=0,98) e tempo de seguimento
(p=0,82).
Os dois grupos diferiram quanto ao uso dos medicamentos amiodarona e
betabloqueador (p<0,001). No grupo dos chagásicos, 57% utilizavam betabloqueador,
enquanto nos pacientes com cardiopatia não-chagásica 83,7% utilizavam o betabloqueador
na ocasião do implante. Já em relação ao uso de amiodarona, 92% dos chagásicos estavam
em uso do medicamento no momento do implante do CDI, comparados com 61,2% dos
pacientes não-chagásicos.
46
Quanto ao ECG basal, os grupos diferiram (p=0,003) quanto ao tipo de bloqueio de
ramo encontrado. No grupo dos chagásicos, 53% apresentavam BRD e 9,4% BRE. No
grupo dos não-chagásicos, 25% dos pacientes eram portadores de BRE e 23% tinham
BRD. Os dois grupos foram semelhantes quanto à duração do QRS e prevalência de
fibrilação atrial.
Realizou-se o exame do holter 24 horas em 38 pacientes. Não houve diferença
estatisticamente significante entre pacientes chagásicos e não-chagásicos (p=0,70). A TAB.
2 mostra a comparação das características basais dos pacientes chagásicos e não-
chagásicos.
TABELA 2
Comparação das características basais: demográficas, clínicas, eletrocardiográficas
e ecocardiográficas entre pacientes chagásicos e não-chagásicos submetidos a
implante de CDI, no HC-UFMG, entre janeiro de 2007 e maio de 2009
CHAGAS
N=65
NÃO–
CHAGÁSICO
N=70
VALOR P
Idade (anos) 59 (52-65) 68 (45-73) 0,89
Sexo masculino 44 (69,8%) 52 (71,2%) 0,86
Uso de BB 27 (54%) 41 (83,7%) 0,001
Uso de amiodarona 46 (92%) 30 (61,2%) 0,000
NYHA I-II 40 (76,9%) 36 (60,6%) 0,83
NYHA III-IV 12 (23%) 15 (29,4%) 0,43
Duração do QRS (ms) 120 (90-150) 120 (87,5-127,5)
0,07
Fibrilação atrial 5 (9,3%) 5 (10,6%) 0,82
BRD 28 (53%) 13 (23%) 0,003
BRE 5 (9,4%) 12 (25%) 0,003
FEVE (%) 37 (30-50) 32,5 (22,5-46,5) 0,99
Tempo de seguimento (dias) 270 (72,25-500,25) 263 (60-450) 0,82
Mediana (Q
1
e Q
3
).
NYHA= New York Heart Association; BRD= Bloqueio de ramo direito; BRE= Bloqueio de ramo esquerdo;
FEVE= Fração de ejeção do ventrículo esquerdo.
47
Realizou-se o estudo eletrofisiológico em 34 pacientes. Houve diferença
estatisticamente significante entre os dois grupos (p=0,039). Todos os chagásicos
induziram TVS no EEF e 16,7% dos não-chagásicos não induziram arritmia ventricular
maligna no EEF. A TAB. 3 mostra a comparação do resultado do EEF entre pacientes
chagásicos e não-chagásicos.
TABELA 3
Comparação do resultado do estudo eletrofisiológico entre pacientes chagásicos
e não-chagásicos submetidos a implante de CDI no HC-UFMG,
entre janeiro de 2007 e maio de 2009
CHAGÁSICOS
N=16 (%)
NÃO-CHAGÁSICOS
N=18 (%)
VALOR P
Sem arritmia 0 (0) 3 (16,7) 0,039
TVS 16 (100) 12 (42,9)
FV 0 (0) 3 (16,7)
TVS= Taquicardia ventricular sustentada; FV= Fibrilação ventricular.
5.3 Características dos pacientes quanto ao tratamento com o cardiodesfibrilador
Dos 136 pacientes que receberam o CDI, em 68 (50,7%) o sistema era bicameral
(dual chamber rate adaptive pacemaker - DDDR), em 65 (48,5%) o sistema era
unicameral (ventricular rate modulated pacing - VVIR) e um (0,7%) paciente recebeu o
sistema CDI e ressincronizador.
As complicações peroperatórias foram observadas em seis (4%) pacientes. O
pneumotórax ocorreu em três casos, dois apresentaram hemotórax, um evoluiu para o óbito
no pós-operatório imediato e um paciente foi submetido a transplante cardíaco após o
implante do CDI. Durante o seguimento, houve um caso de endocardite infecciosa no cabo
do eletrodo do cardiodesfibrilador, que foi submetido à troca do sistema e à
antibioticoterapia, com sucesso terapêutico.
48
A mediana de tempo até a primeira terapia apropriada foi de 125 dias (Q
1
=30 e
Q
3
=246,75). A mediana até o primeiro desfecho combinado definido como terapia
apropriada ou óbito foi de 180 dias (Q
1
= 45 e Q
3
= 335,25). A terapia apropriada (TA) foi
observada em 50 (37,5%) pacientes e a terapia inapropriada ocorreu em cinco (3,7%). A
mediana do número de choques foi de dois (Q
1
=0,75 e Q
3
=6,25), variando de zero a 50. A
mediana do número de terapia antitaquicardia (ATP) foi de dois estímulos (Q
1
=0 e
Q
3
=7,5), variando de zero a 80. A mediana do número de TA foi de quatro (Q
1
=2 e
Q
3
=12,25), variando de um a 103 episódios de terapias deflagradas. A TAB. 4 mostra os
resultados em todos pacientes da coorte após o implante do cardiodesfibrilador.
TABELA 4
Características dos 135 pacientes submetidos a implante de CDI no HC-UFMG,
entre janeiro de 2007 e maio de 2009, quanto ao tratamento com o dispositivo
PACIENTES
N=135
Complicações precoces
Pneumotoráx
Hemotórax
Óbito
6 (4,4%)
3 (2,2%)
2 (1,5%)
1 (0,7%)
Terapia apropriada 51 (37,5%)
Terapia inapropriada 5 (3,7%)
Tempo até a primeira TA (dias) 125 (30-246,75)
Tempo até o primeiro evento (dias) 180 (45-335,25)
Número de choques 2 (0,75-6,25)
Número de ATP 2 (0-7,5)
Número de TA 4 (2-12,25)
Transplante 1 (0,7%)
Óbito 16 (11,8%)
Mediana (Q
1
e Q
3
).
TA= Terapia apropriada; TI= Terapia inapropriada; ATP= Terapia antitaquicardia; Tempo até a
primeira TA= tempo aa primeira terapia apropriada; Tempo até o primeiro evento= tempo até a
primeira terapia apropriada ou óbito.
49
Durante o período de seguimento analisado, com mediana de 266 dias (Q
1
=72 e
Q
3
=466), ocorreram 16 (11,8%) óbitos. Desses, quatro (25%) pacientes apresentaram
morte súbita cardíaca; em cinco (31,3%), a causa do óbito foi insuficiência cardíaca
descompensada; em cinco (31,3%), a causa foi não-cardíaca; e em dois (12,5%) a causa do
óbito foi desconhecida.
5.4 Comparação entre pacientes chagásicos e não-chagásicos quanto ao tratamento
com o CDI
Ao se compararem pacientes chagásicos e não-chagásicos quanto ao
cardiodesfibrilador utilizado, não houve diferença estatisticamente significante entre os
grupos. O tipo de CDI utilizado foi categorizado como câmara única, câmara dupla e
ressincronizador (p=0,29). As marcas do CDI utilizadas nos dois grupos também foram
semelhantes (p=0,95). Na TAB. 5 encontra-se a comparação entre pacientes chagásicos e
não-chagásicos quanto ao modo de estimulação e marca do cardiodesfibrilador implantado.
TABELA 5
Comparação do tipo e marca do cardiodesfibrilador implantável entre chagásicos
e não-chagásicos submetidos a implante de CDI no HC-UFMG,
entre janeiro de 2007 e maio de 2009
CHAGÁSICOS
N=65 (%)
NÃO-
CHAGÁSICOS
N=70 (%)
VALOR P
MODO DE ESTIMULAÇÃO
VVI 28 (43,8) 37 (53,6) 0,29
DDD 36 (56,3) 31 (44,9)
Ressincronizador
0 (0) 1 (1,4)
MARCA DO CDI
Biotronic 33 (51,3) 40 (56,3) 0,95
Medtronic 23 (35,9) 23 (32,4)
Guidant 1 (1,6) 1 (1,4)
St Jude 7 (10,9) 7 (9,9)
CDI= cardiodesfibrilador implantável; DDD= câmara dupla; VVI= câmara única.
50
Não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos quanto ao tempo
até a primeira terapia apropriada (p=0,55), à taxa de transplante cardíaco (p=0,28), à taxa
de terapia inapropriada (p=0,23), à taxa de complicações (p=0,89) e à taxa de mortalidade
(p=0,82).
Os pacientes chagásicos, quando comparados com os não-chagásicos, apresentaram
percentual mais alto de terapia apropriada (p=0,005), número mais elevado de choques
(p=0,03), de estímulos antitaquicardia (p=0,01) e de episódios de terapia apropriada
(p=0,004), todos com diferença estatisticamente significante. A cardiopatia chagásica
aumentou em 2,7 vezes (IC 95% 1,3 – 5,6) o risco de o paciente receber terapia apropriada.
A mediana em dias até a primeira terapia apropriada em pacientes com doença de
Chagas foi de 120 dias (Q
1
= 93 e Q
3
=246), variando de zero a 450 dias. Nos pacientes não-
chagásicos, a mediana até a primeira terapia apropriada foi de 93 dias (Q
1
=54,5 e
Q
3
=259,5), variando de zero a 592. A mediana do número de choques nos pacientes
chagásicos foi de quatro choques (Q
1
=2 e Q
3
=11), variando de zero a 50. A mediana do
número de choques nos não-chagásicos foi de 1,5 (Q
1
=0,25 e Q
3
=3,75), variando de zero a
sete choques. Em relação ao número de terapias antitaquicardia, a mediana nos pacientes
chagásicos foi de seis estímulos (Q
1
= 1 e Q
3
=35), variando de zero a 80. nos pacientes
não-chagásicos, a mediana do número de estímulos foi de 1,5 (Q
1
=0 e Q
3
=2,75), variando
de zero a nove estímulos. Em relação ao mero total de terapia apropriada, que
corresponde à soma de todas as terapias apropriadas deflagradas pelo CDI, os pacientes
com cardiopatia chagásica apresentaram mediana de 12 (Q
1
=5 e Q
3
=54), variando de uma
a 103 terapias. os não-chagásicos receberam três (Q
1
=2 e Q
3
=4,75), variando de uma a
nove terapias. A TAB. 6 mostra a comparação entre pacientes chagásicos e não-chagásicos
quanto ao tratamento com o CDI.
51
TABELA 6
Comparação entre pacientes chagásicos e não-chagásicos quanto às características do
tratamento com o cardiodesfibrilador implantável
CHAGÁSICOS
N=65
NÃO-
CHAGÁSICOS
N=70
VALOR P
Complicações 3 (4,7%) 3 (4,2%) 0,89
Terapia apropriada 32 (62,7%) 19 (37,3%) 0,005
Terapia inapropriada 1 (1,6%) 4 (5,5%) 0,23
Número de choques 4 (2-11) 1,5 (0,25-3,75) 0,03
Número de ATP 6 (1-35) 1,5 (0-2,75) 0,01
Número de TA 12( 5-54) 3 (2-4,75) 0,004
Transplante 1 (1,6%) 0 (0%) 0,28
Óbito 8 (5,9%) 8 (5,9%) 0,82
Mediana (Q
1
e Q
3
).
TA= Terapia apropriada; TI= Terapia inapropriada; ATP= Terapia antitaquicardia.
5.5 Comparação entre pacientes chagásicos com e sem disfunção ventricular sistólica
Os pacientes chagásicos foram divididos em dois grupos: com insuficiência
cardíaca sistólica moderada-importante (FEVE < 45%) e com fração de ejeção normal ou
com disfunção sistólica leve (FEVE 45%). Não houve diferença estatisticamente
significante entre os dois grupos no percentual de terapia apropriada (p=0,65) e terapia
inapropriada (p=0,20). Os grupos foram semelhantes quanto ao número de choques
(p=0,59), número de estímulos antitaquicardia (p=0,30) e número total de terapia
apropriada (p=0,86). Foram semelhantes no tempo até a primeira terapia apropriada
(p=0,86) e no tempo até o primeiro desfecho combinado, definido como terapia apropriada
ou óbito (p=0,71). Entretanto, ambos apresentaram diferença estatisticamente significante
na taxa de mortalidade geral (p=0,03). Durante o período de seguimento, todos os óbitos
ocorreram no grupo com disfunção sistólica ventricular (FEVE < 45%). Na TAB. 7
comparam-se pacientes chagásicos com e sem disfunção ventricular sistólica segundo o
tratamento com o CDI.
52
TABELA 7
Comparação dos pacientes chagásicos com disfunção ventricular moderada-importante e
com disfunção ventricular leve, segundo as características do tratamento com o
cardiodesfibrilador implantável
FEVE <
45%
N= 35
FEVE 45%
N= 20
VALOR
P
Terapia apropriada 17 (48,6%) 11(55%) 0,65
Terapia inapropriada 0 (0%) 1 (5%) 0,20
Número de choques 3 (1-8) 2 (0,25-6,75) 0,59
Número de ATP 2 (0-4) 4,5 (0,25-9,75) 0,30
Número de TA 4 (2-27) 6 (2-12,75) 0,86
TA ou óbito 22 (62,9%) 11 (55%) 0,50
Óbito 7 (20%) 0 (0%) 0,03
Mediana (Q
1
e Q
3
).
TA= Terapia apropriada; ATP= Terapia antitaquicardia.
5.6 Curvas de sobrevida entre pacientes chagásicos e não-chagásicos
Não houve diferença estatisticamente significante no tempo de sobrevida entre o
grupo de chagásicos e não-chagásicos (p=0,86). O tempo médio de sobrevida nos
chagásicos foi de 753±39 dias. o tempo médio de sobrevida dos não-chagásicos foi de
676±34 dias. O GRÁF. 1 mostra a curva de sobrevida dos pacientes chagásicos e não-
chagásicos.
53
GRÁFICO 1 – Curvas de sobrevida em pacientes chagásicos e não-chagásicos.
Houve diferença estatisticamente significante na sobrevida livre de eventos entre o
grupo de pacientes chagásicos e não-chagásicos (p=0,004). A mediana da sobrevida livre
de eventos em pacientes chagásicos foi de 230 dias (IC 95%: 113 - 347). Já a mediana da
sobrevida livre de eventos nos não-chagásicos foi de 549 dias (IC 95%: 209-501). No
GRÁF. 2 visualiza-se a curva de sobrevida livre de eventos de pacientes chagásicos e não-
chagásicos.
54
GRÁFICO 2 – Curvas de sobrevida livre de eventos em pacientes
chagásicos e não-chagásicos.
5.7 Preditores de eventos na coorte
No modelo de análise univariada realizou-se a comparação das diversas variáveis
com o desfecho terapia apropriada. A idade, o sexo, os medicamentos utilizados, a
mediana da FEVE, a FEVE em diferentes pontos de corte, a mediana da largura do QRS, o
resultado do holter 24 horas, o resultado do EEF, o tipo de prevenção secundária que
indicou o procedimento e a classe funcional não se associaram à ocorrência de terapia
apropriada (p>0,05). A única variável associada a esse desfecho foi ser portador de
cardiopatia chagásica (p=0,01).
55
Ainda no modelo de análise univariada, compararam-se as diversas variáveis com o
desfecho combinado sobrevida livre de eventos (terapia apropriada ou óbito). A idade, o
sexo, a etiologia da cardiopatia, o número total de choques, os medicamentos utilizados,
fibrilação atrial, o resultado do holter 24 horas, o resultado do EEF, a mediana da FEVE, a
FEVE categorizada como FEVE < 35%, < 45%, < 55% e a mediana da largura do QRS
não se associaram à sobrevida livre de eventos (p>0,05). A única variável associada a esse
desfecho, na análise univariada, foi a cardiopatia chagásica (p=0,003), HR de 2,1 (IC 95%:
1,3-3,6). Na TAB. 8 são caracterizados os pacientes segundo a ocorrência do desfecho
combinado (terapia apropriada ou óbito).
TABELA 8
Características dos 136 pacientes submetidos a implante de CDI,
segundo ocorrência do desfecho combinado (terapia apropriada ou óbito),
no HC-UFMG, entre janeiro de 2007 e maio de 2009
Mediana (Q
1
e Q
3
).
BB=Betabloqueador; FEVE= Fração de ejeção do ventrículo esquerdo; NYHA= New York Heart Association.
TA ou óbito
N=62
Ausência de TA
ou óbito
N=74
Valor
P
HR
(IC 95%)
Idade (anos) 61,5 (51,5-66) 59 (49,75-68,25) 0,87 0,99 (0,9-1,0)
Sexo masculino 44 (45,8%) 52 (54,2%) 0,93 1,4 (0,8-2,4)
Doença de Chagas 38 (59,4%) 26 (40,6%) 0,003
2,1 (1,3-3,6)
NYHA III-IV 13 (48,1%) 14 (51,9%) 0,71 1,0 (0,5-1,9)
Uso de BB 32 (47,1%) 36 (52,9%) 0,86 1,1 (0,6-2,1)
Uso de amiodarona 37 (48,7%) 39 (51,3%) 0,42 1,2 (0,6-2,5)
Fibrilação atrial 4 (4%) 6 (6%) 0,66 0,8 (0,2-2,5)
QRS (ms) 120 (92,5-130) 120 (90-135) 0,75 1,0 (0,9-1,0)
FEVE (%) 35 (28,25-46,1) 36 (30-51) 0,31 0,9 (0,9-1,0)
FEVE < 35% 25 (49%) 26 (51%) 0,57 1,0 (0,6-1,8)
Tempo seguimento (dias)
275,5 (112,5-528,75)
259 (57,25-73,25)
0,39
56
No modelo de análise multivariada entraram quatro variáveis. Idade, sexo
masculino, FEVE e etiologia chagásica foram considerados preditores potenciais do
desfecho combinado terapia apropriada ou óbito. Apenas a variável doença de Chagas
manteve significado prognóstico após a análise multivariada, utilizando-se o método
backward stepwise. A doença de Chagas dobra o risco de o paciente apresentar terapia
apropriada ou óbito (p=0,01; HR=2,24; IC 95%= 1,2-4,2). A TAB. 9 mostra o resultado,
após análise mutivariada, da única variável que manteve o significado prognóstico.
TABELA 9
Preditor do desfecho combinado (terapia apropriada ou óbito) após análise multivariada
entre pacientes chagásicos e não-chagásicos submetidos a implante de CDI
no HC-UFMG, entre janeiro de 2007 e maio de 2009
VALOR P Hazard ratio (IC 95%)
Doença de Chagas 0,01 2,24 (1,2-4,2)
57
6 DISCUSSÃO
Este estudo trata-se de registro observacional que mostra o impacto clínico da
terapia com o CDI em pacientes com doença de Chagas tratados para prevenção secundária
de morte súbita, comparando-os com pacientes com cardiopatia não-chagásica.
A morte súbita por arritmia ventricular maligna (taquicardia ventricular e fibrilação
ventricular) é uma complicação conhecida da doença de Chagas
(56)
. Grandes estudos
clínicos randomizados e multicêntricos vêm confirmando a eficácia dos
cardiodesfibriladores implantáveis na profilaxia da morte súbita nas cardiomiopatias
isquêmicas e idiopáticas
(7-11)
. Não existe estudo randomizado relacionado a esse assunto,
em pacientes chagásicos. A presente investigação sugere que esse importante papel do CDI
na prevenção da morte súbita cardíaca pode ser aplicado a pacientes com doença de
Chagas.
Um dos principais achados desta pesquisa foi o elevado número de pacientes
chagásicos com, no mínimo, um episódio de taquiarritmia, que requereu terapia com o CDI
em período relativamente curto, com significante diferença do que foi encontrado entre os
pacientes não-chagásicos. Este resultado reforça o conceito relativo à natureza
arritmogênica da cardiopatia chagásica. Receberam terapia apropriada 62,7% dos pacientes
chagásicos e 37,3% dos pacientes não-chagásicos durante seguimento mediano de 266
dias. Nessa população, a cardiopatia chagásica aumentou em 2,7 vezes o risco de receber
terapia apropriada (IC 95%: 1,3 - 5,6). Esse alto percentual de terapia apropriada
deflagrada pelo CDI foi semelhante a dados de outras séries relatadas
(6;71;72;97)
.
Foram
acompanhados 11 pacientes chagásicos e 42 com cardiopatias isquêmica e idiopática,
observando-se que a probabilidade de não-ocorrência de arritmia ventricular fatal foi de
0% nos chagásicos e 40% nos não-chagásicos, durante seguimento médio de 660
dias
(72)
.Outros autores acompanharam 20 pacientes chagásicos e 35 com cardiopatia
isquêmica submetidos a implante de CDI e mostraram que 85% dos chagásicos receberam
terapia apropriada contra 51% do grupo dos isquêmicos, durante seguimento médio de 180
dias
(71)
. Acompanhando 46 pacientes chagásicos pós-implante de CDI, verificou-se que
84% receberam pelo menos uma terapia apropriada, durante seguimento médio de 587
dias
(6)
.
58
Os dois únicos estudos com resultados divergentes concluíram que não havia diferença
entre pacientes com doença de Chagas e pacientes com cardiopatia não-chagásica
(88;99)
. É
provável que a diferença nos resultados possa ser atribuída ao baixo número de pacientes
chagásicos incluídos nessas duas avaliações (10 e 18, respectivamente).
A alta prevalência de arritmia maligna observada no presente estudo poderia ser
consequência de instabilidade elétrica do miocárdio devido aos múltiplos focos de
reentrada que envolvem áreas de fibroses ou aneurisma apical do ventrículo esquerdo,
predispondo o paciente à alta incidência de morte súbita, a qual, aqui, foi abortada pelo
cardiodesfibrilador implantável. Essa alta frequência de choques nos pacientes chagásicos
(mediana de quatro choques), em período de seguimento curto, corrobora o conceito de
haver frequentemente expressiva carga arrítmica em pacientes com cardiopatia chagásica
crônica
106,107
.
Em relação ao uso de drogas antiarrítmicas, é importante ressaltar a prevalência
elevada do uso do betabloqueador e da amiodarona. Neste estudo, 96% dos pacientes
chagásicos utilizavam pelo menos um desses medicamentos no momento do implante do
CDI. O percentual de uso de drogas foi semelhante ao de outros autores
(6)
,
os quais
relataram taxa de 100% de uso de terapia antiarrítmica no momento do implante. O
emprego frequente das drogas antiarrítmicas representa importante tentativa de diminuir os
choques deflagrados pelo aparelho. Existe evidência de que o uso de antiarrítmicos pode
diminuir o número de choques
108,109
. Em pacientes não-chagásicos tratados com o implante
do CDI o uso isolado de amiodarona não diminuiu o número de choques, mas o uso
associado de amiodarona e betabloqueador foi eficaz em diminuir a deflagração de
terapias
108,109
.A diminuição do número de choques deflagrados pelo aparelho constitui
objetivo importante do tratamento, por diversas razões. O elevado número de choques pode
contribuir para a mortalidade, por causar necrose miocárdica e promover ou exacerbar a
disfunção ventricular
110,111
. Além disso, os choques frequentes levam a mais procura pelo
sistema de saúde e à diminuição da longevidade do aparelho e afetam negativamente a
qualidade de vida
112
.
Um contingente apreciável de pacientes chagásicos (37,3%) e principalmente de
não-chagásicos (62,7%) não recebeu qualquer tipo de terapia deflagrada pelo aparelho
durante o período do estudo, mesmo tendo indicação de CDI para prevenção secundária.
59
Uma possível explicação para isso seria o uso rotineiro de medicamentos (BB e
amiodarona) após o implante do CDI, o ajuste frequente dessas drogas antiarrítmicas e o
seguimento relativamente curto dos pacientes.
relato de que pacientes com cardiopatia chagásica seriam mais propensos a
desenvolver eventos arrítmicos no primeiro mês após o implante do cardiodesfibrilador,
quando comparados com aqueles sem cardiopatia chagásica. Essa evidência baseia-se no
estudo que mostrou alto percentual de choques apropriados no período precoce depois do
implante do CDI na população chagásica
(71)
. Nesse trabalho, 55% dos chagásicos
receberam o primeiro choque no primeiro mês pós-implante, contra 14% dos
coronariopatas (p<0,004). Esse resultado não se confirmou em nosso estudo, no qual o
tempo médio para a primeira terapia apropriada foi de 120 dias, sem diferença entre
pacientes chagásicos e não-chagásicos. Talvez essa discordância se deva ao baixo número
de pacientes acompanhados por esses autores
(71)
(20 chagásicos x 35 não-chagásicos)
quando comparado ao nosso (65 chagásicos x 70 não-chagásicos).
Houve predomínio do sexo masculino (71%) nos pacientes incluídos na presente
pesquisa, a exemplo do que foi descrito em estudos prévios
(11)
. Ao se analisarem os dados
demográficos, nenhuma variável foi preditora de mortalidade geral. Em investigações
anteriores, idade e sexo masculino haviam sido preditores independentes de mortalidade
geral em pacientes tratados com cardiodesfibrilador implantável
(98)
. Durante o nosso
seguimento, ocorreram 16 óbitos (11,8%), dificultando a análise do desfecho mortalidade
geral como variável isolada.
A FEVE é utilizada como critério de indicação do CDI pela Portaria número 152 do
SUS e pela Diretriz Americana e Brasileira nos pacientes com TVS espontânea
(12;95;96)
. Um
achado importante da presente avaliação foi a ausência de diferença na taxa de terapia
apropriada (p=0,65) entre os pacientes chagásicos com disfunção ventricular (48,6%) e os
sem disfunção ventricular (55%). Isso sugere que o substrato arritmogênico dos chagásicos
pode ser multifatorial, incluindo participação de fatores como instabilidade elétrica do
miocárdio, isquemia microvascular, circuitos de reentrada, alterações de contratilidade
segmentar, incluindo aneurisma apical, e não apenas a disfunção sistólica global do
ventrículo esquerdo
(26-28;105),113
. Esses dados são corroborados por resultados de estudos
prévios
(6;70)
.
60
A literatura descreve cinco casos de pacientes chagásicos recuperados de morte súbita
cardíaca por arritmias ventriculares malignas e com FEVE preservada
(70)
. Refere, também,
em estudo com 46 pacientes chagásicos, que cinco dos casos analisados tinham FEVE
preservada e não apresentaram diferença em relação a TV, FV e TV degenerando para FV,
quando comparados com os pacientes com disfunção ventricular
(6)
. O presente trabalho
comparou o maior número de chagásicos com disfunção ventricular sistólica moderada-
importante (35 pacientes) com chagásicos com FEVE preservada ou quase normal (20
indivíduos). Esses resultados levam ao questionamento se a FEVE deveria ser usada como
critério preponderante e essencial de indicação do cardiodesfibrilador na prevenção
secundária, em pacientes portadores de cardiopatia chagásica, com taquicardia ventricular
sustentada espontânea.
A mortalidade observada nesta coorte foi inferior à de outras envolvendo pacientes
com cardiopatia chagásica que receberam cardiodesfibrilador implantável
(6;72;97;100;106)114
. A
baixa taxa de mortalidade geral (11,8%) aqui observada talvez possa ser explicada pelo
tempo de seguimento relativamente curto, com mediana de 266 dias (Q
1
=72,25 e
Q
3
=465,75). Tempo médio de seguimento foi reportado por diversos autores como 20
meses
(88)
, seis meses
(71)
, 10,5 meses
(72)
, 22,7±20,2 meses
72
(publicado em 2003)
(73)
, 27±25
meses
(98)
, 26 meses
99
, 587±439 dias
(6;97)
756±581 dias
97
e 12 meses em pacientes
chagásicos da América Latina
(100)
. Outro fator que pode ter influenciado a baixa
mortalidade seria o fato de que a minoria dos pacientes (26%) se encontrava, no momento
do implante, em CF III ou IV da NYHA e que apenas 10% apresentavam fibrilação atrial
(FA). A CF III ou IV da NYHA e FA são sabidamente fatores de mau prognóstico.
Convém ainda lembrar que todos os 16 óbitos ocorreram em pacientes com FEVE < 45%,
confirmando-se o valor prognóstico da disfunção ventricular para mortalidade geral.
Desses, cinco (31,3%) pacientes apresentaram óbito por insuficiência cardíaca
descompensada; em cinco (31,3%), a causa foi não-cardíaca; quatro (25%) tiveram morte
súbita cardíaca e em dois (12,5%) a causa do óbito foi desconhecida.
A mais frequente complicação observada durante o seguimento foram os choques
inapropriados, que ocorreram em cinco (3,5%) pacientes, taxa bem inferior à relatada nos
grandes ensaios clínicos randomizados (25-35%), representados principalmente por
pacientes com cardiopatia isquêmica e cardiopatia dilatada não-chagásica
(76;94)
.
61
Esse percentual também é mais baixo do que a frequência relatada em estudo
observacional, que foi de 9,7%
(99)
. A baixa ocorrência de complicações peroperatórias
(4,4%) e de complicações tardias (um caso de endocardite infecciosa), aliada à baixa taxa
de choques inapropriados, demonstra que o implante do CDI nos chagásicos é
procedimento com morbidade semelhante à do implante nos pacientes não-chagásicos.
Entretanto, provavelmente, percentual mais alto de terapia inapropriada e de outras
complicações poderia ser observado, caso o seguimento fosse mais longo.
Salienta-se a diferença encontrada na sobrevida livre de eventos, definida por
sobrevida sem terapia apropriada ou óbito, entre chagásicos e não-chagásicos (p=0,004). A
mediana da sobrevida livre de eventos em pacientes chagásicos foi de 230 dias (IC 95%:
113 - 347) e nos não-chagásicos foi de 549 dias (IC 95%: 209-501). A doença de Chagas
dobra o risco de o paciente apresentar terapia apropriada ou óbito (p=0,01; HR=2,24; IC
95%= 1,2-4,2). Essa diferença confirma a eficácia e a importância do CDI no pacientes
chagásicos. Entretanto, deve-se ressaltar que a terapia apropriada é um desfecho substituto.
O choque apropriado não pode ser interpretado como se fosse um desfecho equiparado
exatamente à morte súbita cardíaca abortada. A ocorrência de terapia apropriada não
constitui comprovação de que a terapia deflagrada pelos cardiodesfibriladores sempre
previne um evento letal. Vários episódios de TVS e alguns de FV tratados pelo aparelho
poderiam terminar espontaneamente e não necessariamente resultariam em morte súbita
cardíaca
115
. Em estudos prévios, choques apropriados deflagrados pelo CDI excederam a
frequência de morte súbita nos grupos-controle em torno de duas a três vezes
116
. Alguns
desses choques podem ser explicados pela programação dos aparelhos, tratando, por
exemplo, as taquicardias ventriculares não-sustentadas. Uma outra possibilidade é a terapia
com o CDI ser pró-arrítmica. Os mecanismos que poderiam explicar o fato do aparelho ser
pró-arrítmico seriam: efeitos locais dos eletrodos (irritabilidade local precoce e fibrose
local tardia), efeitos diretos e indiretos da estimulação ventricular e problemas associados
ao funcionamento inapropriado do aparelho
116
.
62
Deve-se realçar, ainda, o resultado da análise multivariada quanto aos preditores
potenciais do desfecho combinado: terapia apropriada ou óbito. As variáveis idade, sexo
masculino, disfunção ventricular, disfunção ventricular grave (FEVE < 35%) e classe
funcional da NYHA não foram preditoras do desfecho combinado, diferentemente do
encontrado em estudos prévios
(98;107;108)117,118
. A doença de Chagas foi o único preditor
independente de terapia apropriada ou óbito (p=0,01). Esse resultado acentua uma
característica ímpar e importante da doença de Chagas: sua marcante atividade arrítmica,
com um substrato arritmogênico possivelmente mais grave do que outras cardiopatias
(56)
.
Tudo isto reforça a importância do CDI nos chagásicos.
Não existe evidência da eficácia de se implantar o CDI na prevenção primária no
paciente chagásico, sem arritmia ventricular maligna e sem outros critérios adicionais,
como a disfunção ventricular sistólica moderada ou importante. É importante enfatizar que,
mesmo em outras formas de cardiopatias, o CDI tem se mostrado benéfico na prevenção
primária apenas em pacientes com disfunção ventricular importante
(76;109)119
. Uma das
recomendações da diretriz americana
(95)
, a de se implantar o CDI na prevenção primária
baseando-se apenas na cardiopatia chagásica, pode beneficiar alguns pacientes, mas
submete todos ao risco dos choques inapropriados, da pró-arritmia e das complicações per
e pós-operatórias. A indicação do implante de CDI deve ser custo-efetiva e restrita a
pacientes que efetivamente irão se beneficiar do tratamento, de modo que o implante seja
feito em todos que dele necessitem.
Já na prevenção secundária, parece que as evidências disponíveis na literatura,
originadas de ensaios clínicos com pacientes apresentando cardiopatia não-chagásica,
associadas aos achados do presente estudo, permitem que as recomendações delas
provindas sejam também adotadas para a prevenção da morte súbita em pacientes
chagásicos. Ao contrário da opinião externada por alguns autores
100,120,121
,
que acreditam
na necessidade de um estudo randomizado (amiodarona versus CDI) na prevenção
secundária de morte súbita em chagásicos, julga-se imprudente privar pacientes com alto
risco de morte súbita arrítmica de um tratamento que se mostrou eficaz também nessa
condição. A amiodarona não melhora a sobrevida, em comparação com placebo, em
pacientes com cardiopatia não-chagásica, mas a terapia com o cardiodesfibrilador, sim
122
.
63
A preocupação verificada no estudo de Rassi et al.
120
com a alta frequência de potenciais
complicações do tratamento com o CDI nos pacientes chagásicos não é apoiada por nossos
resultados e por estudos prévios
(71;72),(88),(99)
. Esperar o resultado positivo de um ensaio
clínico randomizado, no qual um dos grupos não receba o CDI, pode significar a perda
injustificada de muitas vidas.
O presente trabalho mostrou maior frequência de pacientes chagásicos com registro
de terapia apropriada deflagrada pelo CDI quando comparados aos não-chagásicos. A
cardiopatia chagásica quase triplica o risco de o paciente receber terapia apropriada que,
nos pacientes chagásicos, é independente da FEVE. Além disso, os pacientes chagásicos
apresentaram menor sobrevida livre de eventos (terapia apropriada ou óbito) e a doença de
Chagas foi o único preditor independente do desfecho combinado terapia apropriada ou
óbito.
64
7 LIMITAÇÕES DO ESTUDO
algumas limitações no presente estudo, de característica observacional, não-
randomizado, em centro único. Algumas variáveis, como classe funcional da NYHA, uso
de medicamentos, dose dos medicamentos, ECG e FEVE ao ecocardiograma, não foram
encontradas em alguns pacientes.
Além disso, os dados foram resgatados de maneira retrospectiva da memória dos
cardiodesfibriladores e não houve programação padrão do CDI para tratar as arritmias.
Outra limitação foi o curto tempo médio de seguimento, de oito meses.
Provavelmente, percentual mais alto de terapia apropriada, terapia inapropriada e
complicações seria observado durante seguimento mais longo.
65
8 IMPLICAÇÕES DO ESTUDO
O estudo proporcionou conhecimento mais profundo da doença de Chagas em
aspectos de muita relevância clínica e interesse terapêutico.
Demonstrou-se frequência elevada de terapia apropriada nos chagásicos, mostrou-
se a doença de Chagas como único preditor independente de terapia apropriada ou óbito e
demonstrou-se que o implante do CDI em pacientes chagásicos constitui um procedimento
com morbidade semelhante à de implante nos pacientes não-chagásicos. Esses resultados
corroboram a recomendação de implante do CDI na prevenção secundária nos pacientes
chagásicos, mesmo sem ensaios clínicos adicionais. Diante disso, parece imprudente
submeter os pacientes chagásicos, com indicação de CDI para prevenção secundária, a
estudos randomizados nos quais um dos grupos não receba esse tratamento.
A prevalência semelhante de terapia apropriada nos pacientes chagásicos com e
sem disfunção ventricular leva ao questionamento do uso da FEVE como critério
predominante e essencial de indicação do cardiodesfibrilador, na prevenção secundária, em
pacientes chagásicos com taquicardia ventricular sustentada espontânea. Ao contrário do
estabelecido na Portaria número 152 do SUS
(12)
, ser portador da cardiopatia estrutural
chagásica parece constituir critério suficiente para a indicação do CDI na TVS espontânea,
independentemente da FEVE.
66
9 CONCLUSÕES
O registro de 136 pacientes chagásicos e não-chagásicos portadores de CDI mostra
que os dois grupos são semelhantes quanto à maioria de suas características clínicas
basais.
Os dois grupos se diferiram quanto ao uso dos medicamentos, quanto ao ECG basal
e quanto ao resultado do EEF.
A baixa prevalência de terapia inapropriada, complicações precoces e tardias
ocorridas mostra que o implante do CDI é um procedimento seguro. Além disso,
não houve diferença entre os grupos na taxa de complicações, demonstrando
morbidade semelhante do implante nos dois grupos. A cardiopatia chagásica
aumentou em 2,7 vezes (IC 95% 1,3–5,6) a chance de o paciente receber terapia
apropriada. A maior frequência de pacientes chagásicos com registro de terapia
apropriada do CDI é consistente com a ideia de haver um substrato arritmogênico
mais grave na cardiopatia chagásica quando comparada a outros candidatos ao CDI.
A ausência de diferença na prevalência de terapia apropriada entre os chagásicos
com e sem disfunção ventricular sugere que a FEVE não deve ser usada como
critério preponderante e decisivo na indicação do CDI nos chagásicos, na
prevenção secundária.
A diferença da sobrevida livre de eventos entre chagásicos e não-chagásicos, aliado
ao fato de a doença de Chagas ser o único preditor independente do desfecho
combinado terapia apropriada ou óbito, indica a importância do implante do CDI
nos pacientes chagásicos e sugere que o aparelho fornece proteção de maneira
efetiva.
Considerando-se a alta frequência de terapia apropriada observada nos pacientes
chagásicos portadores de CDI e a doença de Chagas ser o único preditor
independente de terapia apropriada ou óbitos, questiona-se se seria ético submeter
pacientes chagásicos com indicação de prevenção secundária para morte súbita a
estudos randomizados nos quais um dos grupos não receberia esse tratamento.
67
10 PROPOSIÇÕES FUTURAS
Manter acompanhamento e aumentar o tamanho do grupo e a duração do
seguimento para melhor análise dos resultados.
Avaliar, de forma prospectiva, o valor da microalternância de onda T na predição
de terapia apropriada em pacientes chagásicos portadores de cardiodesfibrilador
implantável.
Avaliar, de forma prospectiva, o valor do BNP (peptídeo natriurético cerebral) na
predição de terapia apropriada em pacientes chagásicos portadores de
cardiodesfibrilador implantável.
Avaliar, de forma prospectiva, o valor do ECG-AR (eletrocardiograma de alta
resolução) na predição de terapia apropriada em pacientes chagásicos portadores
de cardiodesfibrilador implantável.
Avaliar a qualidade de vida por meio de questionário padronizado em pacientes
chagásicos pré e pós-implante do CDI.
Comparar as duas modalidades terapêuticas (CDI versus amiodarona) na
prevenção primária de mortalidade total e súbita, em pacientes chagásicos com
baixa fração de ejeção, com ambos os grupos sob o uso otimizado de medicação
para o tratamento da insuficiência cardíaca, arritmia e prevenção de fenômenos
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68
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78
APÊNDICE E ANEXOS
Apêndice A – FICHA PARA COLETA DE DADOS
PRÉ-IMPLANTE
Nome: ____________________________________________________ DN: __ / __ / ___
Idade: ___ anos Sexo: ( ) M ( ) F Naturalidade: ________________________
Residente em ____________________ Procedência: ( ) HC ( ) Ambulatório
( ) Outros hospitais
Telefone(s) de contato: ________________/___________________
1- DIAGNÓSTICO
- ICC idiopática ( )sim ( )não
- ICC isquêmica ( )sim ( )não
- Chagas ( )sim ( )não
- Valvopatia ( )sim ( )não
- Hipertensiva ( )sim ( )não -
- Cardiopatia congênita ( )sim ( )não
- Outros ( )sim ( )não
2- CLASSE FUNCIONAL (NYHA)
I: ( ) II: ( ) III: ( ) IV: ( )
3- HISTÓRIA PRÉVIA
- Evento coronariano prévio
: ( )sim ( )não
- CRVM prévia: ( )sim ( )não
- PTCA prévia
*3
: ( )sim ( )não
- AVC/AIT
*4
( )sim ( )não
- Valvoplastia ( )sim ( )não
- Troca valvar ( )sim ( )não
- Implante de marca-passo ( )sim ( )não
- CDI ( )sim ( )não
- Síncope ( )sim ( )não
- Pré–síncope ( )sim ( )não
- Internações prévias no último ano devido à descompensação cardíaca:
( ) 0 a 1 ( ) 2-4 ( )>4
COMORBIDADES
DPOC: ( )sim ( )não DM: ( )sim ( )não
IRC*: ( )sim ( )não FA crônica : : ( )sim ( )não
HAS: ( )sim ( )não Dislipidemia : ( )sim ( )não
* Creatinina 1,3
79
4- MEDICAMENTOS EM USO
Betabloqueadores: ( ) sim ( )não ( )não sabe
AAS
*4.1
( ) sim ( )não ( )não sabe
Estatinas ( ) sim ( )não ( )não sabe
IECA
*4.2
( ) sim ( )não ( )não sabe
Diurético(s) ( ) sim ( )não ( )não sabe
Digitálicos ( ) sim ( )não ( )não sabe
Varfarina ( ) sim ( )não ( )não sabe
ARA-2 ( ) sim ( )não ( )não sabe
Amiodarona ( ) sim ( )não ( )não sabe
Outros__________________________________
Dose de BB: __________________
Dose de amiodarona: ___________________
5- EXAME FÍSICO
FC: ____ bpm PA: ___X____mmHg
Pulso Venoso Jugular (PVJ): (0) normal (1) anormal
*5.2
*5.2 > 4,5cm acima do ângulo esternal a 45
o
B3: (0) ausente (1) presente Hepatomegalia ( ) sim ( ) não
Edema de MMII ( ) sim ( ) não
6- EXAMES COMPLEMENTARES
6.1 ECG ( __ / __ / __ ) FA
1
( ) sim ( ) não SVE
2
( ) sim ( ) não
SÂE
3
( )sim ( )não BRE ( ) sim ( ) não
BRE > 150 ms ( ) sim ( ) não BRD ( ) sim ( ) não
SÂQRS_____ PRi ____ms QRS____ms
6.2 RX TÓRAX ( __ / __ / __ ) ICT >0,5 ( ) sim ( ) não
Sinais de congestão pulmonar ( ) sim ( ) não
6.3 LABORATÓRIO ( __ / __ / __ ): Hb: _____ GL: _______ Plq: _________
RNI: _____ GJ: ____ Ureia: ____ Cr: ____ K: ____ Na: ___
Outros: ___________________
6.4 HOLTER ( __ / __ / __ ) TV sustentada : ( ) sim ( ) não TVNS : ( ) sim ( ) não
Sintomas correlacionados: ( ) sim ( ) não
6.5 ECO ( __ / __ / __ ) FE: ____ % VEs: ___ mm VEd: ___ mm AE: ___ mm
PSAP: ___ mmHg
6.6 CATE ( __ / __ / __ ) Coronárias normais ( ) sim ( ) não
Ventriculografia: _________________________
6.7 EEF ( __ / __ / __ ) TV monomórfica induzida: ( ) sim ( ) não
FV induzida: ( ) sim ( ) não
TV polimórfica induzida: ( ) sim ( ) não
80
7- CATEGORIA DO PACIENTE
I: ( )sim ( )não II : ( )sim ( )não
I: paciente hospitalizado II : paciente ambulatorial
Escore de qualidade de vida Minessota: ____
Prevenção primária: ( )sim ( )não Prevenção secundária: ( )sim ( )não
Prevenção secundária morte súbita recuperada: ( )sim ( )não
TV espontânea documentada sustentada: ( )sim ( )não
Síncope com TV induzida: ( )sim ( )não
8-PER-OPERATÓRIO
Data do implante ( __ / __ / __ ) Médico : ______________________________
Tipo de CDI DDD : ( ) sim ( ) não VVI : ( ) sim ( ) não
VDD : ( ) sim ( ) não Ressincronizador : ( ) sim ( ) não
Marca do CDI Medtronic : ( ) sim ( ) não Guidant : ( ) sim ( ) não
St Jude medical : ( ) sim ( ) não Biotronic: ( ) sim ( ) não
9- PÓS-OPERATÓRIO IMEDIATO E RECENTE
Complicações ( ) sim ( ) não
Se sim : pneumotórax ( ) sim ( ) não
morte ( ) sim ( ) não
hemotórax ( ) sim ( ) não
outras ( ) sim ( ) não
Alta do CTI: ___ º DPO Alta hospitalar: ___ DPO
PÓS-IMPLANTE TARDIO
Complicações secundárias ao CDI ( ) sim ( ) não
Se sim : infecção ( ) sim ( ) não
defeito do aparelho ( ) sim ( ) não
problemas no eletrodo ( ) sim ( ) não
Terapia apropriada: ( ) sim ( ) não Se sim Data 1 ° espisódio: _________
Choque inapropriado: ( ) sim ( ) não Se sim quantos: _________
Choque apropriado: ( ) sim ( ) não Se sim quantos: _________
TAP: ( ) sim ( ) não Se sim quantas: _________
Terapia apropriada para FV: ( ) sim ( ) não Se sim, quantas: _________
81
Tempestade elétrica: ( ) sim ( ) não Se sim quantas: _________
Data:
Número de choques: _________
Troca do gerador: ( ) sim ( ) não Tempo da primeira troca : ____
Classe funcional após 1 ano: I: ( ) II: ( ) III: ( ) IV: ( )
Internações após 1 ano de implante devido à descompensação cardíaca:
( ) 0 a 1 ( ) 2-4 ( ) >4
Morte (data) : ________
Morte cardíaca: ( ) sim ( ) não Morte súbita : ( ) sim ( ) não
Causa de morte Tempestade elétrica : ( ) sim ( ) não ICC : ( ) sim ( ) não
Desconhecida: ( ) sim ( ) não
Falha do CDI : ( ) sim ( ) não
Outros: ( ) sim ( ) não
82
Anexo A – PORTARIA SAS/MS No- 152, DE 08 DE MARÇO DE 2007
83
84
Anexo B – PARECER ÉTICO
Título do Projeto de Pesquisa
Avaliação de Preditores de Terapia Apropriada em Pacientes Chagásicos com Cardiodesfibrilador Implantável
Situação
Data Inicial no CEP
Data Final no CEP
Data Inicial na
CONEP
Data Final
na CONEP
Aprovado no CEP
20/08/2009 15:28:02
17/09/2009 09:3
8:59
Descrição
Data
Documento
Nº do Doc
Origem
1
-
Envio da Folha de
Rosto pela Internet
20/07/2009 22:17:26
Folha de Rosto
FR279067
Pesquisador
2
-
Recebimento de
Protocolo pelo CEP
(Check-List)
20/08/2009 15:28:02
Folha de Rosto
0388.0.203.000-
09
CEP
3
-
Protocolo Aprovado
no CEP
17/09/2009 09:38:59
Folha de Rosto
388/09
CEP
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