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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA
DOUTORADO EM SAÚDE PÚBLICA
ESTRATÉGIAS DE COORDENAÇÃO DOS CUIDADOS:
FORTALECIMENTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E
INTEGRAÇÃO ENTRE NÍVEIS ASSISTENCIAIS EM GRANDES
CENTROS URBANOS
por
Patty Fidelis de Almeida
Orientadora:
Drª Lígia Giovanella
Rio de Janeiro
Maio/2010
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ii
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA
DOUTORADO EM SAÚDE PÚBLICA
ESTRATÉGIAS DE COORDENAÇÃO DOS CUIDADOS:
FORTALECIMENTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E
INTEGRAÇÃO ENTRE NÍVEIS ASSISTENCIAIS EM GRANDES
CENTROS URBANOS
Tese apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Saúde Pública da
Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz
como requisito parcial para obtenção
do título de Doutor em Saúde Pública
Rio de Janeiro
Maio/2010
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iii
Catalogação na fonte
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica
Biblioteca de Saúde Pública
A447 Almeida, Patty Fidelis de
Estratégias de coordenação dos cuidados: fortalecimento da
atenção primária à saúde e integração entre níveis assistenciais em
grandes centros urbanos. / Patty Fidelis de Almeida. Rio de Janeiro :
s.n., 2010.
xvii, 142 f., tab.
Orientador: Giovanella, Lígia
Tese (Doutorado) – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio
Arouca, Rio de Janeiro, 2010
1.
Atenção Primária à Saúde. 2.
Programa Saúde da Família.
3.
Assistência Integral à Saúde. 4.
Zonas Urbanas. 5. Integração de
Sistemas. I. Título.
CDD – 22.ed. – 362.1
iv
[Folha do examinador]
Tese apresentada à Banca Examinadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca
como exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Saúde Pública, sob orientação
da Profª Drª Lígia Giovanella.
____________________________________________________________________________
Drª Eleonor Minho Conill
____________________________________________________________________________
Dr. Helvécio Miranda Magalhães Júnior
____________________________________________________________________________
Drª Maria Helena Magalhães de Mendonça
____________________________________________________________________________
Drª Sarah Maria de Moraes Escorel
____________________________________________________________________________
Drª Márcia Cristina Rodrigues Fausto (suplente)
____________________________________________________________________________
Dr. Erno Harzhein (supletente)
____________________________________________________________________________
Orientadora: Lígia Giovanella
v
Aos usuários, profissionais, gestores e a todos que
acreditam e lutam cotidianamente e persistentemente
pela construção do Sistema Único de Saúde.
À minha família, sempre...
vi
AGRADECIMENTOS
À querida Lígia Giovanella muito mais que uma orientadora, pelas oportunidades, incentivo,
mas principalmente pelo exemplo e parceria.
Aos usuários, gestores e profissionais atores principais deste trabalho aos quais dedico minha
tese.
Aos queridos Juan Gérvas e José Manuel Freire pela acolhida e generosidade durante os seis
grandes meses que passei em Madri.
Ao Departamento de Atenção sica/Ministério da Saúde pelo financiamento que viabilizou a
realização do estudo. À CAPES pela concessão da bolsa de estágio no exterior.
À toda equipe de pesquisadores que construíram os estudos de casos pela interlocução valiosa e
oportunidade única de produzir uma tese escrita a tantas mãos. À todos que fazem parte do
Nupes, onde sempre me sinto em casa.
Aos componentes da minha banca de qualificação e de defesa pelas contribuições valiosas para
o aprimoramento deste trabalho.
Aos meus companheiros de “repartição” do Instituto Nacional de Câncer pela força e
compreensão nesta reta final.
Aos amigos da turma de doutorado 2006 especialmente à querida Marcelita, André, Monireh,
Letícia, Nádia, Carlos, Márcia e todos os outros.
vii
RESUMO
A coordenação dos cuidados é um tema pendente tanto para os países europeus, quanto para
países latinoamericanos. Mudanças no perfil epidemiológico, sobretudo, predomínio das
doenças crônicas e a reconhecida fragmentação dos sistemas de saúde e a descontinuidade na
prestação do cuidado tornaram premente a busca de soluções. A coordenação dos cuidados
pode ser definida como a articulação entre os diversos serviços e ações relacionados à atenção
em saúde de forma que, independentemente do local onde sejam prestados, estejam
sincronizados e voltados ao alcance de um objetivo comum. O presente estudo teve por
objetivo descrever e analisar o desenvolvimento de estratégias e instrumentos de coordenação
dos cuidados em municípios brasileiros com experiências exitosas de expansão e consolidação
da Estratégia Saúde da Família (ESF) com base em dois eixos: “fortalecimento da Atenção
Primária à Saúde” (APS) e “integração entre níveis assistenciais”. Partiu-se de duas premissas.
Somente uma APS fortalecida em seus atributos essenciais poderia assumir a coordenação dos
cuidados. Logo, nos interessou saber quais as iniciativas empreendidas pelos municípios
brasileiros para fortalecer a ESF. Segundo, sendo a integração da rede um elemento necessário
para alcançar melhor coordenação dos cuidados, quais as estratégias e instrumentos
desenvolvidos por grandes centros urbanos para integrar a ESF aos demais níveis do sistema?
Os municípios analisados foram Aracaju, Belo Horizonte, Florianópolis e Vitória. A
consolidação de uma APS “forte” foi avaliada pela posição ocupada pela ESF no sistema de
saúde, capacidade de resolução, reconhecimento profissional e social de seus trabalhadores,
descentralização das ações de saúde coletiva para a APS e conseqüentes reflexos no acesso e
utilização dos serviços. As estratégias de integração entre níveis assistenciais foram descritas e
analisadas com base na identificação das estruturas de regulação da rede de serviços de saúde,
instrumentos de integração e de continuidade informacional e organização de fluxos. Neste
estudo não tivemos como objetivo medir ou avaliar a coordenação dos cuidados em si, mas
descrever e analisar elementos que contribuam para sua consecução. Os resultados
apresentados são produtos de três fontes principais, trianguladas para responder às perguntas de
investigação: entrevistas com gestores e estudos transversais com aplicação de questionários a
amostra de famílias cadastradas e profissionais das equipes de Saúde da Família. Os resultados
apontam que em todos os municípios foram identificadas ações para fortalecer as estruturas de
APS no contexto do Sistema Único de Saúde, em etapas distintas de implementação. As
iniciativas mais exitosas foram aquelas que buscaram ampliar a acessibilidade, consolidar a
função de porta de entrada, aumentar sua capacidade resolutiva e articular medidas de saúde
viii
pública, vigilância e assistência. Ainda assim, permanecem desafios para melhor equalizar
atendimento à demanda espontânea e à programada de forma mais resolutiva e para tornar a
Unidade de Saúde da Família o serviço de uso regular. A baixa credibilidade e o insuficiente
reconhecimento dos profissionais de atenção primária representam obstáculo à coordenação
dos cuidados por esse nível de atenção. Em relação à integração da rede, estratégias
semelhantes, com resultados diferenciados, foram encontradas nos quatro casos como
investimentos em sistemas informatizados e descentralizados de regulação, monitoramento das
filas de espera, aumento da oferta de serviços próprios municipais, implantação de protocolos
clínicos e prontuários eletrônicos. Ainda assim, a ausência de regulação e de fluxos formais
para a atenção hospitalar torna incompleto o processo de integração da rede. A insuficiência na
oferta de atenção especializada, agravada pela pouca integração entre prestadores estaduais e
municipais foi outra dificuldade identificada. A quase ausência de contra-referência também
minimiza as possibilidades de coordenação dos cuidados pela equipe de APS. O retrato
oferecido pela pesquisa mostra que Belo Horizonte e Vitória apresentaram sistematicamente
melhores resultados na avaliação de profissionais e usuários em relação aos dois eixos de
análise. Pode-se afirmar que a APS se fortaleceu e está mais integrada à rede nos casos
estudados, embora ainda não seja a coordenadora de todo o ciclo de cuidados. A necessidade
de estabelecer objetivos comuns, de forma que o cuidado em saúde tenha o usuário como
centro e seja organizado de acordo com suas expectativas pessoais e necessidades em saúde,
componentes do atributo da coordenação, aponta alguns caminhos para a construção de um
Sistema Único de Saúde mais equânime, de melhor qualidade e voltado às necessidades de
saúde da população.
Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde, coordenação dos cuidados, fortalecimento da
APS, integração.
ix
ABSTRACT
Coordination of care is an issue pending in both European and Latin American countries.
Changes in epidemiological profile, particularly the predominance of chronic diseases, plus the
acknowledged fragmentation in health systems and discontinuity in care, recommend urgent
solutions. Coordination of care can be defined as an interrelationship among healthcare-related
services and actions such that, regardless of where they occur, they are synchronised and
directed to achieving a common purpose. The intention of this study was to describe and
analyse the development of strategies and instruments for coordinating care in Brazilian
municipalities with successful experience in expanding and consolidating the Family Health
Strategy (Estratégia Saúde da Família, ESF) through two key axis: “strengthening Primary
Health Care” (PHC) and “integrating among levels of care”. The study rests on two
assumptions. Firstly, only PHC that is strong in its essential attributes will be capable of
coordinating care. It was therefore of interest to learn what measures Brazilian municipalities
had taken to strengthen the ESF. Secondly, given that system integration is a necessary element
for achieving improved coordination of care, what strategies and instruments have been
developed for integrating the ESF with the other system levels in major urban centres? The
municipalities studied were Aracaju, Belo Horizonte, Florianópolis and Vitória. Whether or not
“strong” PHC had been established was evaluated in terms of the position the ESF occupied in
the health system, its resolution capacity, professional’s and social’s recognition of health
workers, the decentralisation of collective health measures to PHC and the consequences as
reflected in service access and use. Strategies for integration among levels of care were
described and analysed by identifying structures for regulating the health service system,
instruments for information integration and continuity, and flow organisation. This study was
not intended to measure or evaluate coordination of care as such, but to describe and analyse
elements that contribute to that end. The results presented draw on three main sources
interviews of managers and transverse studies using questionnaires applied to samples of
families enrolled and Family Health team workers which were triangulated to answer the
research questions. The results show that measures to strengthen PHC structures were
identified, at different stages of implementation, in the context of the Unified Health System
(Sistema Único de Saúde, SUS) in all the municipalities. The most successful initiatives were
those seeking to expand accessibility, consolidate the gateway function, increase resolution
capacity and coordinate among public health, surveillance and care measures. Nonetheless,
challenges remain for care to meet spontaneous demand better and to be planned to achieve
x
higher rates of resolution and make the Family Health Unit the service of first resort. Primary
health care workers' low credibility and lack of professional recognition represent obstacles to
coordination of care through this service level. As regards system integration, similar strategies
with differing outcomes were encountered in the four cases, such as investment in
computerised, decentralised regulation systems, waiting list monitoring, increased supply of
the municipalities' own services, and introduction of clinical protocols and electronic patient
records. All the same, the lack of regulation and of formal flows for hospital care renders the
process of network integration incomplete. Another difficulty identified was insufficient supply
of specialised care, aggravated by the low degree of integration among state and municipal
providers. The near absence of counter-referral also lessens the likelihood of care being
coordinated by the PHC team. The picture offered by the study shows that Belo Horizonte and
Vitória score systematically better in health workers' and users' evaluations as regards the two
dimensions of analysis. PHC has been strengthened and is better integrated into the health
system in the cases studied, although it is not yet coordinating the overall care cycle. The need
to set common goals, so that health care centres on users and is organised to meet their
personal expectations and health needs, which are components of the coordination function,
signals some paths to building a Unified Health System that is more equitable, higher quality
and directed to the health needs of the population.
Key-words: Primary Health Care, coordination of care, strengthening Primary Health Care,
integrating
xi
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO...................................................................................................................................1
INTRODUÇÃO
.............................................................................................................................2
C
ARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA E JUSTIFICATIVA DO ESTUDO
...............................................4
O
BJETIVO
G
ERAL
.........................................................................................................................9
Objetivos Específicos........................................................................................................9
M
ETODOLOGIA
.............................................................................................................................9
Municípios selecionados.................................................................................................13
Dimensões de análise......................................................................................................14
Instrumentos de pesquisa................................................................................................20
Desenho da amostra de profissionais de saúde e famílias...............................................23
Análise dos dados selecionados......................................................................................25
Apresentação da tese.......................................................................................................28
C
ONSIDERAÇÕES
É
TICAS
...........................................................................................................29
R
EFERÊNCIAS
B
IBLIOGRÁFICAS
................................................................................................30
ARTIGO 1. AVALIAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA NO BRASIL: MAPEAMENTO E
ANÁLISE DAS PESQUISAS REALIZADAS E/OU FINANCIADAS PELO MINISTÉRIO DA
SAÚDE ENTRE OS ANOS DE 2000 E 2006.......................................................................................
34
I
NTRODUÇÃO
..............................................................................................................................36
M
ÉTODOS
....................................................................................................................................37
R
ESULTADOS
...............................................................................................................................40
Estudos Linha de Base do Programa de Expansão e Consolidação do Saúde da Família
.........................................................................................................................................40
Edital MCT-CNPq/MS- DAB/SAS – Nº 49/2005..........................................................43
Estudos de apoio à expansão do PSF..............................................................................44
D
ISCUSSÃO
..................................................................................................................................54
R
EFERÊNCIAS
B
IBLIOGRÁFICAS
................................................................................................57
ARTIGO 2: FORTALECIMENTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: ESTRATÉGIA
PARA POTENCIALIZAR A COORDENAÇÃO DOS CUIDADOS
............................................60
I
NTRODUÇÃO
..............................................................................................................................61
M
ATERIAIS E
M
ÉTODOS
.............................................................................................................63
R
ESULTADOS
..............................................................................................................................67
Posição ocupada pela APS no sistema de saúde.............................................................67
Acesso à Unidade de Saúde da Família..........................................................................68
Capacidade de resolução da APS....................................................................................70
Descentralização das ações e programas de saúde pública/coletiva para as unidades de
APS.................................................................................................................................74
Reconhecimento profissional e social em APS...............................................................74
Utilização dos serviços de APS pelas famílias cadastradas............................................75
D
ISCUSSÃO
..................................................................................................................................77
R
EFERÊNCIAS
B
IBLIOGRÁFICAS
................................................................................................82
xii
ARTIGO 3. DESAFIOS À COORDENAÇÃO DOS CUIDADOS EM SAÚDE: ESTRATÉGIAS
DE INTEGRAÇÃO ENTRE NÍVEIS ASSISTENCIAIS EM GRANDES CENTROS
URBANOS
...................................................................................................................................85
I
NTRODUÇÃO
..............................................................................................................................87
M
ETODOLOGIA
...........................................................................................................................89
R
ESULTADOS
...............................................................................................................................92
Estrutura organizacional e administrativa do setor de regulação da rede de serviços de
saúde................................................................................................................................92
Instrumentos de integração dos serviços de saúde..........................................................92
Organização dos fluxos para atenção especializada, hospitalar e de
urgência/emergência.......................................................................................................95
Acesso e utilização dos serviços de atenção especializada e hospitalar.........................99
Instrumentos para continuidade informacional.............................................................101
D
ISCUSSÃO
................................................................................................................................102
R
EFERÊNCIAS
B
IBLIOGRÁFICAS
..............................................................................................105
ARTIGO 4. ESTRATÉGIAS DE INTEGRAÇÃO ENTRE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E
ATENÇÃO ESPECIALIZADA: PARALELOS ENTRE BRASIL E ESPANHA
.......................107
I
NTRODUÇÃO
.............................................................................................................................109
P
ERCURSO
M
ETODOLÓGICO
....................................................................................................113
R
ESULTADOS
.............................................................................................................................115
Integração entre níveis assistenciais no Brasil..............................................................115
Integração entre níveis assistenciais na Espanha..........................................................119
D
ISCUSSÃO
................................................................................................................................125
R
EFERÊNCIAS
B
IBLIOGRÁFICAS
..............................................................................................127
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................130
R
EFERÊNCIAS
B
IBLIOGRÁFICAS
..............................................................................................140
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................142
ANEXOS..................................................................................................................................149
P
ROTEÇÃO SOCIAL EM SAÚDE NA
E
SPANHA
:
A CONSTRUÇÃO DO
S
ISTEMA
N
ACIONAL DE
S
ALUD
.150
A A
TENÇÃO
P
RIMÁRIA À
S
AÚDE NA
E
SPANHA
..........................................................................152
R
EFERÊNCIAS
B
IBLIOGRÁFICAS
.................................................................................................155
xiii
LISTA DE QUADROS E TABELAS
INTRODUÇÃO
Tabela 1 Critérios de seleção e características dos municípios estudados, 2007
.....................................................................................................................................................13
Tabela 2 Dimensões, variáveis e indicadores do eixo “Fortalecimento da Atenção Primária à
Saúde”, quatro grandes centros urbanos, 2008...........................................................................16
Tabela 3 Dimensões, variáveis e indicadores do eixo “Integração entre níveis assistenciais”,
quatro grandes centros urbanos, 2008.........................................................................................18
Tabela 4 Tamanho da amostra de médicos, enfermeiros, ACS e famílias por município de
pesquisa, 2008.............................................................................................................................24
Tabela 5 Número de entrevistas previstas e realizadas por tipo de questionário nos
municípios selecionados, 2008...................................................................................................25
Tabela 6 Questionários aplicados a médicos, enfermeiros e famílias cadastradas por
município – 2008........................................................................................................................25
A
RTIGO
1
Quadro 1 Estudos Linha de Base do Programa de Expansão e Consolidação do Saúde da
Família (Proesf), descrição preliminar segundo metodologia utilizada – Brasil – 2006............42
Tabela 1 Pesquisas financiadas pelo Edital MCT-CNPq/MS-DAB/SAS 49/2005 segundo
área temática e tipo de estudo – Brasil – 2006............................................................................44
Quadro 2 Pesquisas realizadas e/ou financiadas pelo Ministério da Saúde em avaliação da
Atenção Básica segundo instituição executora, metodologia utilizada e atores envolvidos
2000 a 2006 – Brasil...................................................................................................................49
Quadro 3 Pesquisas realizadas ou financiadas pelo Ministério da Saúde em avaliação da
Atenção Básica segundo critérios selecionados – 2000 a 2006 – Brasil....................................53
A
RTIGO
2
Tabela 1 Dimensões, variáveis e indicadores do eixo “Fortalecimento da Atenção Primária à
Saúde”, quatro grandes centros urbanos, 2008...........................................................................66
Tabela 2 Indicadores de fortalecimento das estruturas de Atenção Primária à Saúde (APS)
segundo médicos e enfermeiros das Equipes de Saúde da Família, quatro grandes centros
urbanos, 2008..............................................................................................................................69
Tabela 3 Indicadores de acesso e capacidade de resolução da ESF segundo famílias
cadastradas por Equipes de Saúde da Família, quatro grandes centros urbanos, 2008...............73
Tabela 4 Indicadores de utilização da ESF segundo famílias cadastradas por Equipes de
Saúde da Família, quatro grandes centros urbanos, 2008...........................................................77
A
RTIGO
3
Quadro 1 Dimensões, variáveis e indicadores do eixo “Integração entre níveis assistenciais”,
quatro grandes centros urbanos, 2008.........................................................................................91
Quadro 2 Estratégias e características do processo de integração entre os níveis assistenciais
segundo gestores e gerentes, quatro grandes centros urbanos, 2008..........................................95
Tabela 1 Indicadores de integração entre níveis assistenciais segundo médicos e enfermeiros
das Equipes de Saúde da Família, quatro grandes centros urbanos, 2008..................................98
xiv
Tabela 2 Indicadores de acesso e utilização de serviços de atenção especializada segundo
famílias cadastradas por Equipes de Saúde da Família, quatro grandes centros urbanos,
2008...........................................................................................................................................101
A
RTIGO
4
Quadro 1 – Características gerais dos sistemas de saúde – Brasil e Espanha, 2009.................111
Quadro 2 – Características da Atenção Primária à Saúde – Brasil e Espanha, 2009................113
Quadro 3 – Características e estratégias de integração entre Atenção Primária à Saúde e
Atenção Especializada segundo gestores e gerentes – Brasil e Espanha, 2009.......................124
xv
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ABS Atenção Básica à Saúde
ACS Agente Comunitário de Saúde
AMQ Avaliação para Melhoria da Qualidade
APS Atenção Primária à Saúde
ASSIR Atenção à Saúde Sexual e Reprodutiva
ASSS Asistencia Sanitaria de la Seguridad Social
CA Comunidade Autônoma
CEP Conselho de Ética em Pesquisa
CEMAR Centro de Especialidades Médicas de Aracaju
CNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
CSPRO Census and Survey Processing System
DAB Departamento de Atenção Básica
DAPS Departamento de Administração e Planejamento em Saúde
CAAB Coordenação de Acompanhamento e Avaliação da Atenção Básica
CAPES Coordenação Aperfeiçoamento de Nível Superior
CMS Conselho Municipal de Saúde
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
ENSP Escola Nacional de Saúde
ESF Estratégia Saúde da Família
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
MCT Ministério de Ciência e Tecnologia
MF&C Medicina de Família e Comunidade
MS Ministério da Saúde
xvi
NASF Núcleo de Apoio ao Saúde da Família
NOB Norma Operacional Básica
NUPES Núcleo de Estudos Político-Sociais em Saúde
NUPLAN Núcleo de Planejamento
OECD Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OMS Organização Mundial de Saúde
PAB Piso de Atenção Básica
PAC Pontos de Atenção Continuada
PBH Prefeitura de Belo Horizonte
PCAT Primary Care Assessment Tool
PDEE Programa de Doutorado com Estágio no Exterior
PMA Prefeitura Municipal de Aracaju
PNAB Política Nacional de Atenção Básica
PNI Programa Nacional de Imunização
PPI Programação Pactuada e Integrada
PROESF Projeto de Expansão e Consolidação da Saúde da Família
PSF Programa Saúde da Família
SAS Secretaria de Atenção à Saúde
SEMUS Secretaria Municipal de Saúde
SF Saúde da Família
SIA Sistema de Informação Ambulatorial
SIAB Sistema de Informação da Atenção Básica
SIH Sistema de Informação Hospitalar
SIM Sistema de Informação de Mortalidade
SINASC Sistema de Informação de Nascidos Vivos
SIOPS Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde
SISREG Sistema de Regulação
xvii
SMSA Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju
SMS Secretaria Municipal de Saúde
SNS Sistema Nacional de Salud
SUS Sistema Único de Saúde
TIC Tecnologias de Informação e Comunicação
UE União Européia
UBS Unidade Básica de Saúde
UPA Unidade de Pronto Atendimento
USF Unidade de Saúde da Família
xviii
...que a importância de uma coisa não se mede com
fita métrica nem com balanças nem barômetros etc.
Que a importância de uma coisa há que ser medida
pelo encantamento que a coisa produza em nós.
Manuel de Barros
“Memórias Inventadas: a segunda infância”
1
APRESENTAÇÃO
Esta Tese de Doutorado buscou identificar e analisar estratégias de coordenação dos cuidados
desenvolvidas em grandes centros urbanos brasileiros com experiências consolidadas de
implementação da Estratégia Saúde da Família (Aracaju, Belo Horizonte, Florianópolis e
Vitória) por meio de dois eixos: fortalecimento da Atenção Primária à Saúde (APS) e
integração entre níveis assistenciais. Partiu-se da premissa que os serviços de APS, fortalecidos
em seus atributos essenciais, são os mais adequados para assumir a função de coordenação dos
cuidados ao interior dos serviços de saúde. Assim, nos interessou investigar as estratégias
municipais para fortalecimento da Estratégia Saúde da Família. A existência de instrumentos
de integração entre os distintos níveis de atenção também foi considerada componente
essencial para alcance da coordenação dos cuidados, constituindo-se no segundo eixo de
análise.
Os resultados deste trabalho estão apresentados sob o formato de quatro artigos, antecedidos
pela contextualização do problema de pesquisa, objetivos, perguntas de investigação e
metodologia apresentados no texto introdutório. O primeiro artigo, publicado, apresentou
mapeamento e análise das pesquisas de monitoramento e avaliação da APS realizadas e/ou
financiadas pelo gestor federal entre os anos de 2000 a 2006, identificando-se objetivos,
enfoque priorizado, metodologias, estratégias de divulgação dos resultados e atores envolvidos.
O segundo artigo identifica as ações empreendidas nos quatro centros urbanos para fortalecer a
Estratégia Saúde da Família, analisadas pela posição ocupada no sistema de saúde, capacidade
de resolução, reconhecimento profissional e social dos profissionais de APS, descentralização
das ações de saúde coletiva para as equipes de Saúde da Família e conseqüentes reflexos no
acesso e utilização dos serviços por parte da população.
O terceiro artigo, também já publicado, apresenta descrição e análise dos instrumentos de
coordenação desde a Estratégia Saúde da Família aos demais níveis do sistema de saúde com
foco em medidas pró-coordenação vinculadas à integração entre níveis assistenciais.
O quarto artigo é resultado de estudo realizado em três Comunidades Autônomas espanholas e
apresenta estratégias desenvolvidas por este país para enfrentar o desafio da coordenação dos
cuidados, cotejando algumas comparações com a experiência brasileira.
A ntese e articulação dos resultados apresentados nos artigos estão contempladas nas
considerações finais.
2
INTRODUÇÃO
Estudos apontam que sistemas orientados pela Atenção Primária à Saúde (APS) apresentam
resultados positivos em relação à provisão de melhores cuidados em saúde para suas
populações, tanto no que se refere ao alcance de maior equidade e eficiência quanto em relação
à continuidade da atenção e satisfação dos usuários
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8
. Além disso, um certo
consenso de que a atenção primária deve constituir-se como base do sistema de saúde com
capacidade para organizá-lo em sua totalidade
9, 10, 4
.
Apesar das evidências, é marcante a diversidade na forma como as políticas e ações foram
implementadas, variando desde propostas de “APS seletiva” que predominaram nos países da
América Latina, até a constituição de sistemas de saúde nos quais a atenção primária representa
o primeiro contato dos usuários com os serviços, com ênfase na clínica e nos cuidados
individuais, preventivos ou curativos, como no caso da maior parte da Europa
10
. Ainda assim, é
possível observar movimentos de reforma da APS tanto em países europeus quanto
latinoamericanos motivados, sobretudo, pelas novas demandas colocadas pela prevalência das
enfermidades crônicas, fragmentação da atenção prestada, necessidade de melhor gestão dos
recursos e da qualidade dos serviços de saúde
8,10,11,12
.
No Brasil, a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), na Constituição de 1988, pautado pelas
diretrizes da descentralização, integralidade e participação popular, tornou viável o
desenvolvimento de experiências locais que buscaram superar o modelo de atenção de base
previdenciária, privatista e curativo instituído durante o regime militar, reconhecidamente
ineficiente e causador de grandes iniqüidades
13
. Neste contexto, a Atenção Básica à Saúde
(ABS), denominação que corresponderia ao que a literatura internacional tem chamado de
Atenção Primária à Saúde, vem sofrendo e provocando inovações importantes. Em 1994, foi
instituído pelo Ministério da Saúde (MS) o “Programa Saúde da Família” (PSF). Inicialmente
formulado como um programa vertical, orientado a populações de risco gerando
questionamentos quanto ao caráter focalizador
14
, ao final dos anos de 1990, a Estratégia Saúde
da Família (ESF) foi assumida pelo governo brasileiro como proposta de reorganização do
sistema de saúde na perspectiva da implementação de uma APS abrangente. É atualmente
definida pelo MS como um conjunto de ações de promoção e proteção à saúde, prevenção de
agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde nas dimensões coletiva e
individual, por meio de ações gerenciais e sanitárias participativas e democráticas, trabalho em
3
equipe, responsabilização sanitária, base territorial, resolução dos problemas de saúde mais
freqüentes e relevantes em determinado contexto
15
.
Além de ampliar acesso, a ESF incorporou como uma de suas diretrizes a definição de porta de
entrada preferencial para o sistema de saúde, aliada ao desenvolvimento de ações de promoção
de saúde, prevenção de agravos, formação de equipe multiprofissional, maior participação
social e intersetorialidade
15
. De acordo com a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB)
15
,
além das diretrizes gerais da ABS, a Estratégia Saúde da Família deve pautar suas ações em
cinco princípios: a) caráter substitutivo cujo objetivo não é criar novas estruturas de serviços,
exceto em áreas desprovidas dos mesmos, mas substituir práticas convencionais de assistência
à saúde; b) atuação territorial com a realização de cadastramento domiciliar, diagnóstico
situacional, ações dirigidas aos problemas de saúde, pactuadas com a comunidade e voltadas ao
cuidado individual e familiar ao longo do tempo de forma pró-ativa; c) desenvolvimento de
atividades em função do planejamento local com base no diagnóstico situacional, focadas na
família e comunidade; d) busca de integração com instituições e organizações sociais para o
estabelecimento de parcerias; e e) ser um espaço de construção de cidadania
15
.
Passadas mais de uma década da implementação da ESF no Brasil, a coordenação dos cuidados
permanece como um desafio ao sistema de saúde. No país, o tema ganhou importância pari
passu à expansão da Saúde da Família (SF) e se reflete no foco mais recente das pesquisas de
avaliação da APS induzidas pelo gestor federal. Os primeiros estudos desenvolvidos entre os
anos de 2000 a 2002 privilegiaram o processo de implantação da ESF com vistas a detectar
fragilidades, potencialidades e condições de contexto que favoreciam e/ou dificultavam sua
expansão, com privilégio da perspectiva de gestores e profissionais
16
. A partir do ano de 2004
atributos como porta de entrada, coordenação e longitudinalidade passaram a constituir não
apenas foco de estudos avaliativos
17,18,19,20
mas também alvo de políticas federais específicas
como, por exemplo, a Portaria que institui os Núcleos de Apoio ao Saúde da Família (NASF)
21
com o objetivo de: ampliar a abrangência e o escopo das ações da atenção básica, bem como
sua resolubilidade, apoiando a inserção da Estratégia Saúde da Família na rede de serviços e
o processo de territorialização e regionalização a partir da atenção básica” (p.38). A criação
dos NASFs em 2008 corrobora as diretrizes do Pacto pela Saúde
22
e da Política Nacional de
Atenção Básica
15
considerando o fortalecimento da Estratégia Saúde da Família, reconhecida
como eixo reorganizador da atenção básica, elemento fundamental para que este nível assuma a
coordenação dos cuidados.
4
C
ARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA E JUSTIFICATIVA DO ESTUDO
Discussões e problemas vinculados à coordenação, integração da rede e ausência de
comunicação e cooperação entre prestadores de serviços de saúde não constituem temas novos.
Contudo, mudanças recentes em relação às demandas e necessidades da população tornaram
premente o alcance de soluções
23
. Neste sentido, a busca de melhor coordenação dos cuidados
vem recebendo ampla atenção nos países da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OECD) e países da União Européia (UE). Entre as razões estão
o reconhecimento da fragmentação na oferta dos serviços de saúde em parte causada pela
especialização da prática médica, que contribui para que o paciente transite por diferentes
prestadores ao longo de um mesmo episódio de doença, e o crescimento da prevalência de
doenças crônicas, que exigem maior contato com os serviços de saúde e outros equipamentos
da rede de apoio social em um contexto de pressão por otimização das relações custo-
efetividade
12,23,24
.
Os ritmos de implantação de reformas têm sido diferenciados entre os países a depender do
modelo de proteção social
11,24
. Estudo realizado em países da OECD
12
aponta que os temas
relacionados à coordenação dos cuidados estão bastante difundidos entre policy makers,
prestadores de saúde e público em geral. Contudo, freqüentemente, maior ênfase é dada a
discussões sobre estratégias para assistência aos casos agudos de doença e ao atendimento
individual. Conforme destacam Conill e Fausto
11
, os serviços de saúde respondem às doenças
crônicas hoje prevalentes, com a mesma lógica de atenção aos casos agudos. Neste sentido,
mudanças na arquitetura dos sistemas de saúde pressionam pelo desenvolvimento de
mecanismos de coordenação dos cuidados que dependem de uma ampla gama de esforços ou
de políticas específicas que incentivem a atenção centrada no paciente
12
. Na UE desde a década
de 1990 reformas pró-coordenação vêm sendo implementadas, sobretudo voltadas ao
fortalecimento do primeiro nível de atenção
10,24
.
Na região da América Latina ainda são incipientes as reformas centradas na coordenação dos
cuidados, o que se reflete no reduzido número de estudos que tratam deste tema. Segundo
Conill e Fausto
11
a histórica segmentação e fragmentação da maior parte dos sistemas de saúde
latinoamericanos, com oferta de APS seletiva, fragilizaram aspectos como a constituição de
redes integradas e a continuidade do cuidado. Embora estes países também enfrentem o desafio
das mudanças no perfil epidemiológico dos diversos grupos populacionais, somado aos
problemas decorrentes de uma situação social e econômica desfavorável, as reformas dos
sistemas de saúde centraram-se mais nos componentes jurídico-legais, na gestão e
5
financiamento do que em aspectos relativos a mudanças do modelo assistencial. Ainda assim,
no bojo do recente movimento de valorização e defesa da concepção abrangente de APS, com
avanços importantes no aumento do acesso, parecem ser promissoras iniciativas pró-
coordenação, principalmente no que se refere à integração horizontal entre os serviços
11
.
Segundo as autoras, nestes países, embora com diferenciados graus de implementação, as
principais estratégias para a integração dos sistemas de saúde estiveram relacionadas à
territorialização dos serviços e adscrição de clientela, informatização de histórias clínicas,
centrais de marcação de consultas, equipes de especialistas como apoio para a APS, criação de
redes com gestão regional e/ou municipal
11
.
A coordenação dos cuidados pode ser definida como a articulação entre os diversos serviços e
ações relacionados à atenção em saúde de forma que, independentemente do local onde sejam
prestados, estejam sincronizados e voltados ao alcance de um objetivo comum
12,25
. Embora não
seja sinônimo de integração, a coordenação dos cuidados sustenta-se na existência de ações
integradas entre prestadores de serviços de diferentes níveis ou ao interior de um mesmo nível,
como no caso da APS, de modo que distintas intervenções sejam percebidas e experenciadas
pelo usuário de forma contínua, adequadas as suas necessidades de atenção em saúde e
compatível as suas expectativas pessoais
26
. Logo, a coordenação seria um atributo
organizacional dos serviços de saúde que se traduz na percepção de continuidade na
perspectiva do usuário
7,27
. Segundo Haggerty et al.
27
apesar da importância do tema predomina
uma certa confusão teórica e a utilização indiscriminada dos termos continuidade assistencial,
coordenação, integração de serviços, bem como diversas formas de mensurá-la. Os autores
reafirmam que continuidade não é um atributo dos prestadores ou organizações, mas como um
paciente experencia a coordenação entre os serviços de saúde, sendo a unidade de medida
individual. Ressaltam, contudo, que em medicina de família, melhor coordenação dos cuidados
incorre em melhor continuidade. Diversos estudos mostram associação positiva entre
coordenação e continuidade. Revisão de literatura realizada por Kringos et al.
7
encontrou
consistente relação entre coordenação e melhor qualidade da atenção, maior eficiência e
menores custos. Satisfação dos profissionais e pacientes também foi associada à coordenação.
Segundo Gérvas e Rico
24
as relações de coordenação entre o mesmo nível de atenção são
menos conflitivas do que aquelas entre diferentes níveis, que exigem para sua resolução
definição de tarefas e, às vezes, redefinição do desenho organizacional. A esta capacidade de
dividir tarefas para maximizar os resultados na produção de determinado bem ou serviço os
autores chamam “coordenação”. Na prática, o desempenho desta função tem alto custo
econômico e humano. Em relação aos sistemas de saúde, consideram que sem coordenação é
6
difícil alcançar objetivos como continuidade dos cuidados, melhoria da qualidade, resolução de
problemas no nível mais adequado, equidade e eficiência. A divisão de tarefas e integração
dinâmica do trabalho pode ser obtida tanto por acordos formais quanto informais. Por sua vez,
a integração pode ser vertical, entre os níveis de um sistema de saúde; horizontal, que acontece
entre profissionais e prestadores do mesmo nível; e intersetorial que acontece entre os setores
sanitário, social, educacional, jurídico, entre outros
28
.
Segundo Calnan et al.
23
a literatura sugere que tradicionais barreiras para a coordenação da
atenção situam-se: na separação entre administração (management) e governance, sendo os
cuidados em saúde e os serviços de assistência social localizados em diferentes partes do setor
público; na existência de diferentes proprietários dos serviços de saúde (público/privado); na
atomização e competição entre prestadores; em rivalidades entre profissionais e entre
categorias; e em problemas relativos à implantação e operacionalização de instrumentos de
coordenação como prontuários, comunicação entre equipes, entre outros. Boerma
26
também
aponta as dificuldades para alcançar a cooperação e o trabalho em equipe como um dos
principais entraves à coordenação dos cuidados pela APS.
Para Ojeda et al.
29
a falta de coordenação entre APS e atenção especializada pode favorecer
erros de diagnósticos e tratamento, com conseqüências graves para o paciente, principalmente
para os que sofrem de patologias crônicas, além de provocar uma visão negativa acerca do
funcionamento do sistema de saúde. Quando não um continuum na atenção oferecida ao
paciente, a eficiência é comprometida, inclusive ao nível hospitalar com a constituição de
longas filas de espera e repercussões negativas para o sistema em seu conjunto. Para os
médicos a ausência de coordenação também impede a visão do sistema como um único
prestador, capaz de resolver os problemas de saúde dos pacientes de forma integral.
Hofmarcher et al.
12
em estudo realizado com policy makers dos países da OECD e revisão da
literatura identificam quatro áreas nas quais processos de reforma podem potencializar a
capacidade dos sistemas de saúde em melhorar a coordenação dos cuidados e contribuir para a
melhoria do desempenho dos serviços de saúde quanto à qualidade e relação custo-efetividade.
O primeiro grupo sugere que a coordenação pode ser facilitada pela melhor transferência de
informações e ampla utilização das “Tecnologias de Informação e Comunicação” (TICs). Um
requisito necessário seria o aprimoramento da coleta e disseminação das informações sobre o
paciente, o que poderia evitar, por exemplo, a duplicação de exames e propiciar o
desenvolvimento de indicadores de desempenho dos prestadores. Apesar disso, os resultados
do estudo apontam que somente alguns países dispõem de tecnologias adequadas. O uso das
7
TICs foi considerado positivo também para melhorar a qualidade da assistência prestada,
embora a troca deste tipo de informações seja ainda menos frequente
12
.
Um segundo grupo de intervenções com potencial impacto sobre a coordenação dos cuidados
refere-se à revisão dos “padrões de alocação de recursos na atenção de primeiro nível”
12
. Uma
das razões seria o progressivo deslocamento da atenção hospitalar para um conjunto de
cuidados ambulatoriais. Além disso, o financiamento separado por níveis pode contribuir para
a fragmentação do sistema por meio de barreiras de gestão como gerências separadas e divisão
vertical de responsabilidades entre prestadores.
Os diferentes esquemas de pagamento também influenciam o comportamento dos prestadores,
com impactos sobre a coordenação. Países com sistemas de pagamento fee-for-service para
cuidados especializados são os que apresentam maiores problemas em relação a conseguir
melhor grau de coordenação. Países com esquemas mistos de pagamento, com combinação de
fee-for-service, capitação e/ou salários, no nível especializado e para atenção de longa duração
são os que apresentam menores problemas. Segundo os autores, todos os esquemas de
pagamento oferecem vantagens e desvantagens em algum grau. Ao mesmo tempo em que
sistemas do tipo fee-for-service podem induzir o aumento da oferta de serviços, poderiam
incentivar procedimentos necessários como a visita domiciliar. Outros esquemas como
capitação e salários podem conduzir à baixa provisão de serviços, listas de espera, além de
encorajar as referências para as especialidades. Esquemas mistos parecem tornar problemas de
coordenação menos prováveis. Outro achado do estudo é que nos países pesquisados existem
poucos incentivos contratuais, que encorajem a coordenação dos cuidados
12
. Conforme
ressaltam Gérvas e Rico
24
não há uma fórmula para definir regras de financiamento que
promovam a coordenação. Uma orientação seria combinar o pagamento por procedimentos
clínicos propriamente ditos a um incentivo vinculado à responsabilidade pela gestão e
coordenação.
O terceiro conjunto de medidas pró-coordenação e provavelmente o mais importante, segundo
Hofmarcher et al.
12
, refere-se às “mudanças nos modelos de cuidado ambulatorial” para atender
às demandas colocadas pelas doenças crônicas. Segundo Calnan et al.
23
uma tendência de
substituição de cuidados antes oferecidos em hospitais ou instituições para o conjunto de
equipamentos ambulatoriais. O pressuposto é que profissionais da APS têm melhores
condições de atender às demandas desta população, ao mesmo tempo em que, equipes
multiprofissionais podem prover assistência mais coerente, principalmente a portadores de
múltiplas patologias, a depender do escopo e limite das práticas exercidas por profissionais não
médicos. Percebe-se que restrições às atribuições profissionais, como no caso da enfermagem,
8
limitam a capacidade de desenvolver atividades de coordenação. Neste sentido, Calnan et al.
23
apontam que um dos desafios à coordenação dos cuidados é a introdução de equipes de APS e
a extensão das atividades de enfermagem tanto no atendimento aos casos agudos, como nas
atividades de promoção de saúde e gestão de doenças crônicas. O respeito tuo entre os
prestadores também favorece a melhor utilização do potencial dos profissionais e,
conseqüentemente, a coordenação dos cuidados. Segundo Gérvas e Rico
24
a capacidade de
coordenação é facilitada quando o generalista goza de alto prestígio em função de sua
proximidade do paciente e de seu contexto social e familiar.
Por fim, a capacidade de coordenação é fortemente afetada pela “integração entre os níveis
assistenciais” e pela relação entre os prestadores, principalmente em função da existência de
barreiras que dificultam o trânsito no interior do sistema de saúde. A maior parte dos países
investigados por Hofmarcher et al.
12
são caracterizados por forte separação administrativa na
provisão da atenção ambulatorial e hospitalar em saúde, que opera sob diferentes orçamentos.
Segundo Hartz e Contandriopoulos
30
para efetivar a garantia do cuidado em saúde, torna-se
fundamental a constituição de redes integradas, cuja construção reconhece necessariamente a
interdependência e, muitas vezes, conflitos entre atores sociais e organizações distintas em
situações de poder compartido, visto que nenhuma destas instâncias “(...) dispõe da totalidade
dos recursos e competências necessários para a solução dos problemas de saúde de uma
população em seus diversos ciclos de vida”
30
(p.331).
Frente a estas questões, a presente tese buscou descrever e analisar o desenvolvimento de
instrumentos e estratégias de coordenação dos cuidados em quatro grandes centros urbanos
com processos consolidados de expansão e implementação da Estratégia Saúde da Família por
meio de dois conjuntos de medidas pró-coordenação: “fortalecimento da APS” e “integração
entre níveis assistenciais”.
Parte-se de duas premissas. Primeiro, os serviços de APS, pelos atributos que os caracterizam
6
,
seriam os mais adequados para assumirem a responsabilidade de coordenar o percurso
terapêutico do usuário na maior parte dos episódios de adoecimento. Neste sentido, a
coordenação dos cuidados pela APS reflete a habilidade dos prestadores de atenção primária
em coordenar o uso de outros níveis
1
. Contudo, somente uma APS “forte”, capaz de mobilizar
apoios, recursos políticos, econômicos, financeiros e humanos, pode ser responsável pela
coordenação dos cuidados. Segundo, a coordenação, a ser exercida pela APS, pressupõe,
necessariamente, a existência de instrumentos e estratégias de integração da rede de serviços de
9
saúde. Compreende-se que o atributo da “coordenação dos cuidados” é componente essencial
de uma resposta integral em saúde, a ser exercida pela APS.
Tendo como cenário de investigação quatro grandes centros urbanos brasileiros e considerando
as premissas acima mencionadas, algumas perguntas orientaram o estudo:
“Após período de expansão da ESF a coordenação dos cuidados passou a ser uma prioridade
para os sistemas municipais de saúde brasileiros?”
“Partindo-se da premissa de que somente uma APS fortalecida em seus atributos essenciais
pode assumir a coordenação dos cuidados, quais as iniciativas empreendidas pelos municípios
brasileiros para fortalecer a ESF?”
“Sendo a integração da rede um elemento necessário para alcançar melhor coordenação dos
cuidados, quais as estratégias e instrumentos desenvolvidos por grandes centros urbanos para
integrar a ESF aos demais níveis do sistema?”
O
BJETIVO
G
ERAL
Descrever e analisar o desenvolvimento de estratégias e instrumentos de coordenação dos
cuidados em quatro grandes centros urbanos brasileiros.
Objetivos Específicos
Compreender a posição e a prioridade conferida ao tema da coordenação dos cuidados
nas políticas municipais de saúde;
Identificar estratégias para o fortalecimento dos serviços de APS;
Descrever e analisar o desenvolvimento de instrumentos de integração da APS aos
demais níveis assistenciais;
Identificar fatores facilitadores e entraves à efetivação da coordenação dos cuidados;
M
ETODOLOGIA
Para alcançar os objetivos propostos nesta tese, ou seja, a descrição e análise do
desenvolvimento de estratégias e instrumentos de coordenação dos cuidados desde a Atenção
Primária à Saúde aos demais níveis do sistema de saúde em quatro municípios brasileiros,
foram analisados dados produzidos por uma investigação mais ampla realizada pelo Núcleo de
Estudos Político-Sociais em Saúde (Nupes/Daps/Ensp/Fiocruz), no ano de 2008, denominado
“Estudos de caso sobre a implementação da Estratégia Saúde da Família em grandes centros
10
urbanos”
31
financiado pelo Ministério da Saúde/Departamento de Atenção Básica (DAB) com
recursos do Fundo Nacional de Saúde, sendo os casos Aracaju, Belo Horizonte, Florianópolis e
Vitória.
Também foi realizado, de março a agosto de 2009, estudo em três Comunidades Autônomas
espanholas, viabilizado por meio do Programa de Doutorado com Estágio no Exterior (PDEE)
fomentado pela Coordenação Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Embora o tema central da tese seja a análise da coordenação dos cuidados em contexto
brasileiro, o estudo realizado na Espanha permitiu conhecer as experiências e desafios
enfrentados naquele país, além de contribuir para a discussão dos resultados encontrados nos
municípios brasileiros. São reconhecidas as distintas organização e distribuição dos serviços
entre os países. Contudo, similaridades podem ser observadas em função de influências de
âmbito universal, principalmente no campo tecnológico e no campo da informação, por
mudanças nos perfis demográfico e epidemiológico que seguem tendências semelhantes, pela
melhoria de indicadores clássicos como mortalidade infantil e materna, pelas novas
necessidades médico-assistenciais, além de consensos produzidos por organismos
internacionais
32,33
. Conforme destaca Conill
32
embora seja impossível a simples importação de
experiências desenvolvidas em contextos socialmente distintos, a análise comparada permite
conhecer diferentes estratégias para o enfrentamento dos problemas de saúde, refletir sobre sua
utilidade e situar determinado sistema de saúde em uma perspectiva mais ampla.
A pesquisa realizada pelo Nupes/Daps/Ensp/Fiocruz teve como objetivo geral, por meio de
estudos em profundidade, “analisar o modelo assistencial da atenção básica em saúde a partir
da implementação do PSF em quatro grandes centros urbanos quanto à coordenação dos
cuidados com integração à rede de serviços e à atuação intersetorial, desde a perspectiva das
famílias cadastradas, dos profissionais de saúde e dos gestores”
31
. Os quatro estudos de caso
buscaram obter, por meio da análise detalhada dos casos, uma compreensão abrangente dos
temas estudados assim como, desenvolver declarações teóricas mais gerais sobre
regularidades do processo
34
(p.118).
Segundo Hartz
35
, os estudos de caso são recomendados com ênfase quando “(...) o objeto de
investigação é de grande complexidade, a tal ponto que o fenômeno de interesse não se
distingue facilmente das condições contextuais, necessitando informações de ambos”(p.344).
São indicados também quando o alvo da avaliação é uma intervenção inovadora, sobre a qual
ainda não se têm muitas informações. O planejamento e métodos para realização do estudo de
caso podem incorporar tanto metodologias de abordagem quantitativa quanto qualitativa e de
11
diversas fontes de informação, desde que convergentes em relação ao objeto de estudo.
Segundo Yin
36
seis importantes fontes de evidência para os estudos de caso são documentação,
registros em arquivos, entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos
físicos.
No campo da análise de políticas, a realização de estudos de caso de implementação de
determinado programa implica conhecer o contexto mais geral no qual se insere o programa e
incorporar as perspectivas dos diversos atores envolvidos (stakeholders). Correspondem a uma
estratégia de pesquisa abrangente, que se baseia em diversas fontes de informação e de
evidências, as quais devem ser trianguladas e convergir.
A presente tese analisou parte dos dados coletados pela pesquisa desenvolvida por Giovanella
et al.
31
, não constituindo, deste modo, estudos de caso, trabalhando aspectos específicos da
estrutura e processos de atenção prestados pela ESF. Assim sendo, não são aqui discutidos os
resultados da pesquisa, apresentados de forma abrangente e em profundidade nos relatórios de
caso
31
. Contudo, alguns limites dos estudos de caso devem ser mencionados, uma vez que os
resultados analisados nesta investigação refletem as potencialidades, mas também os limites
deste tipo de abordagem.
Para Veney e Kaluzny
37
a abordagem de estudos de caso tem problemas que limitam sua
utilização como ausência de categorias claras, de percepção seletiva e de interatividade. No
entanto, estes problemas podem ser minimizados. É possível enfrentar o primeiro senão ao se
esclarecer e estabelecer previamente quais informações devem ser obtidas, para possibilitar a
tomada de decisão e definir as dimensões de análise. A seletividade da percepção dos
entrevistadores/avaliadores ocorre na forma como as respostas são entendidas e registradas e
como as perguntas são formuladas, que pode levar à perda de importantes aspectos da operação
do programa que não se coadunam/encaixam nas pré-concepções do avaliador. De modo a
verificar se as perguntas são adequadas para produzir a informação desejada, a seletividade de
percepção do avaliador pode ser reduzida por pré-teste dos roteiros de entrevistas e pelo
esclarecimento das razões de determinadas perguntas. a interatividade entre observador e
observado no processo de investigação é quase inevitável. Ainda que a observação seja o meio
de obter dados acerca de uma atividade do programa em ambiente quase “natural”, a presença
do observador, registrando o que ocorre, afeta e modela a realização das atividades, criando um
ambiente não natural
37
.
Contudo, o principal limite dos estudos de caso para a produção de conhecimento, segundo
Veney e Kaluzny
37
, seria a ausência de uma maneira formal de verificar relações de causa e
12
efeito entre programa e resultados, por não haver grupo controle não submetido aos efeitos do
programa para comparação. Assim, a confiança dos gestores nos resultados para orientar a
tomada de decisão dependeria da confiança na objetividade e na competência do avaliador.
Na pesquisa realizada por Giovanella et al.
31
buscou-se minimizar estes problemas por meio de
diversas estratégias de levantamento dos dados por meio de variadas fontes de informação, o
que incluiu:
i) Abordagem qualitativa, com análise de conteúdo de informações obtidas em
entrevistas com gestores e gerentes da SMS e de outras secretarias;
ii) Estudos quantitativos transversais, por meio da realização de inquéritos com
amostras representativas de profissionais de saúde das equipes de Saúde da Família:
médicos, enfermeiros, auxiliares/técnicos de enfermagem e agentes comunitários de
saúde;
iii) Inquérito em amostra representativa de famílias cadastradas;
Os estudos de caso realizados corresponderam a uma estratégia de pesquisa alicerçada em
metodologias quantitativa e qualitativa com base em diversas fontes de informação
convergentes que foram trianguladas para responder às perguntas da investigação, articulando
as perspectivas de gestores, profissionais das equipes e famílias cadastradas. Minayo
38
compreende a avaliação por triangulação de métodos como “(...) expressão de uma dinâmica
de investigação e de trabalho que integra a análise das estruturas, dos processos e dos
resultados, a compreensão das relações envolvidas na implementação das ações e a visão que
os atores diferenciados constroem sobre todo o projeto”(p.29).
Os diferentes métodos, técnicas e estratégias por meio dos quais a realidade pode ser observada
e compreendida devem ser triangulados com rigor científico, levando-se em conta as
especificidades e adequação dos processos. Cada uma das abordagens, quantitativas ou
qualitativas, respondem a objetivos específicos, sendo que a utilização de uma ou outra
depende das respostas buscadas pela pesquisa. Nas investigações trianguladas os métodos
devem ser usados com rigor, reduzindo-se, o quanto possível, as ameaças à validade interna e
externa. Além disso, os métodos devem ser selecionados de acordo com sua relevância
teórica
38
.
O uso de métodos mistos em avaliação de políticas é cada vez mais freqüente com propósitos
seja de triangulação para melhorar a validade dos resultados na qual diferentes métodos são
utilizados para medir um mesmo fenômeno; seja de complementaridade, para uma
13
compreensão mais abrangente de fenômenos complexos; ou para expansão do escopo do
estudo permitindo a análise dos processos de implementação por meio de métodos qualitativos
e a avaliação de resultados por métodos quantitativos
39
. Segundo Minayo
38
a proposta de “(...)
triangulação de métodos quantitativos e qualitativos reconhece que na realidade a ser
avaliada processos que podem ser explicados em sua magnitude e compreendidos em sua
realidade”(p.99).
Municípios selecionados
Os municípios que compuseram o estudo foram selecionados de forma intencional de modo a
escolher experiências consolidadas de implementação da ESF considerando-se: elevada
cobertura populacional (>50%), grau de institucionalização da estratégia segundo Mendes
I
,
tempo de implementação mínimo de cinco anos e presença de práticas inovadoras e bem
sucedidas na mudança do modelo assistencial, identificadas com base em entrevistas com
informantes-chave do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde e pesquisa
anterior realizada por Escorel et al.
41
. Buscou-se também abarcar municípios com diferentes
portes populacionais entre aqueles com mais de 100 mil habitantes e alguma distribuição pelas
regiões do país.
Tabela 1 – Critérios de seleção e características dos municípios estudados, 2007
Critérios/ Características Aracaju Belo Horizonte Florianópolis Vitória
Ano de implantação do PSF 1998 2002 1998 1998
Cobertura populacional do PSF > de
50%
86,7% 69,6% 71,3% 60,1%
Número de ESF implantadas* 127 (128) 484 (504) 84 (84) 56(62)
Número de UBS 50 145 48 30
Presença de práticas inovadoras
preliminarmente identificadas
Acolhimento
Acolhimento
Integração da rede
USF campo de
prática para
Intersetorialidade
Adesão AMQ
População municipal 2007 505.286 2.399.920 406.564 317.085
Região do país Nordeste Sudeste Sul Sudeste
Habilitação em gestão plena do
sistema municipal
Sim Sim Não Não
Fonte: Giovanel et al.
31
* Entre parênteses, maior número de ESFs registradas no SIAB até fevereiro de 2008. Outros dados, dezembro de
2007.
I
Mendes
40
sugere uma tipologia para avaliar a institucionalização da Estratégia Saúde da Família em quatro
estágios: i) Transição inicial cobertura 10 a 25% - instabilidade institucional; ii) Transição intermediária
cobertura 25 a 50% - baixa institucionalidade; iii) Transição terminal cobertura 50 a 70% - institucionalização
diferenciada: espaços político (discurso e prática), serviços de saúde (posição da APS na rede de serviços/
atributos Starfield
6
), e menor no espaço educacional (formação dos profissionais), corporativo (organização dos
profissionais de APS) e espaço da representação populacional: Saúde da Família como valor societal; iv)
Momento de consolidação cobertura maior de 70% e institucionalização nos 5 espaços, ainda que de forma
assimétrica.
14
Dimensões de análise
Buscando responder às questões colocadas por esta investigação de doutorado, foram
selecionados para análise, com base no estudo desenvolvido por Giovanella et al.
31
, os
resultados referentes a medidas pró-coordenação vinculadas às ações empreendidas pelos
municípios para fortalecer a Atenção Primária à Saúde e às estratégias e instrumentos para
integração entre níveis assistenciais. Os dois eixos de estudo foram operacionalizados por meio
de dimensões, variáveis e indicadores, definidos com base em revisão de
literatura
6,7,11,12,23,24,25,26,28,29,42,43,44,45,46
e, principalmente estudos de avaliação da
ESF
17,18,19,20,41,47,48,49
.
A premissa que os serviços de APS são os mais adequados para assumir a responsabilidade
pela coordenação dos cuidados, mas que somente uma APS “forte”, capaz de mobilizar apoios,
recursos políticos, econômicos, financeiros e humanos poderia assumir esta função, justificou a
escolha da primeiro eixo do estudo Fortalecimento da APS e guiou a operacionalização das
dimensões, variáveis e indicadores para sua análise. Hofmarcher et al.
12
ao estudar países da
OECD destaca que estratégias pró-coordenação são favorecidas pelas ações de fortalecimento
da APS que aqui significa fortalecer seus atributos, visto haver certo consenso que seu maior
ou menor alcance constitui parâmetro para avaliar a robustez da APS em determinado sistema
de saúde
II
. Entre estes se destacam o desempenho da função de porta de entrada, implicando na
utilização e acesso da APS a cada novo problema ou episódio de saúde como primeiro serviço
procurado, exceto em casos de urgência
6,17,28
; e acessibilidade, refletida nos horários de
funcionamento das unidades de saúde, possibilidade de atendimento sem marcação prévia e
percepção da população quanto à conveniência destes aspectos
6
.
Entre os atributos essenciais da APS, Starfield
6
destaca também a integralidade ou elenco de
serviços ofertados neste nível de atenção, amplo o suficiente para atender às necessidades de
saúde dos usuários, o que inclui a referência para outros níveis. Cabe ressaltar que o atributo
“elenco de serviços” foi analisado com foco na oferta e desenvolvimento de ações capazes de
aumentar a resolutividade dos serviços de APS entre as quais realização de pequenas cirurgias;
distribuição de medicamentos, solicitação de exames diagnósticos diretamente pelo médico de
APS, supervisão e educação continuada para as equipes e acompanhamento de grupos
prioritários
28
.
II
Uma robusta atenção primária envolveria também o enfoque familiar e a orientação para a comunidade, de
acordo com modelo proposto por Starfield
6
. Contudo, a tese focou os atributos da APS que uma vez fortalecidos
implicariam em melhor capacidade de coordenação dos cuidados.
15
Estudos apontam que maior prestígio e reconhecimento profissional recebido pelos
profissionais de APS demonstram a força deste nível de atenção e tem implicações para o papel
de coordenação dos cuidados a ser exercido
23,28,45
, razão pela qual esta dimensão foi
incorporada ao estudo. Alguns autores inserem o conjunto de ações para integração entre APS
e programas de saúde pública/coletiva como medida capaz de potencializar a coordenação dos
cuidados
43,44
pela atenção primária, sendo esta outra dimensão utilizadas para análise do eixo
“fortalecimento da APS”(Tabela 2) .
16
Tabela 2 Dimensões, variáveis e indicadores do eixo “Fortalecimento da Atenção
Primária à Saúde”, quatro grandes centros urbanos, 2008
Dimensões Variáveis Indicadores
Posição ocupada pela APS
no sistema de saúde
Organização da porta de
entrada pela APS
Existência de porta de entrada pela APS; estratégias para organização da porta
de entrada pela APS; % de médicos/enfermeiros que concordam
muito/concordam que o papel de porta de entrada e de coordenação da ESF está
especificado na política local de saúde; % de médicos/enfermeiros que
concordam muito/concordam que a população procura primeiro a USF quando
necessita de atendimento de saúde
Conhecimento da Unidade
de APS
% famílias que conhecem a ESF (espontânea + estimulada); % famílias que
conhecem o local de funcionamento da ESF
Acesso à Unidade de Saúde
da Família
Acessibilidade à Unidade
de APS
Facilidade de acesso ao local de funcionamento da ESF; famílias que relatam
que o meio de transporte para chegar até o local de funcionamento da ESF é a
pé; % médicos/enfermeiros que concordam muito/concordam que a ESF
ampliou o acesso de novas parcelas da população aos serviços de saúde; % de
médicos/enfermeiros que concordam muito/concordam que a USF é acessível a
toda a população cadastrada; avaliação das famílias quanto a conseguir consulta
sem marcação prévia; avaliação das famílias quanto a conseguir marcar
consulta médica; % de médicos/enfermeiros que concordam muito/concordam
que a USF cumpre na prática as funções de pronto atendimento
Provas diagnósticas
solicitadas pelo médico da
ESF
Ampliação do catálogo de provas diagnósticas solicitadas diretamente pelo
médico de família; provas diagnósticas solicitadas pelo médico de família
Coleta de exames para
patologia clínica na USF
Existência de coleta de exames para patologia clínica na própria USF
Realização de pequenas
cirurgias
% de médicos que realizaram pequenas cirurgias ambulatoriais nos últimos 30
dias
Distribuição regular de
medicamentos
% de médicos/enfermeiros que avaliam como muito satisfatório/satisfatório a
distribuição regular de medicamentos a grupos prioritários; acesso a
medicamentos em atendimento realizado pela ESF segundo famílias
cadastradas
Realização de capacitação
Existência de estratégias de capacitação continuada promovida pela SMS; % de
médicos/enfermeiros que realizaram atividades de capacitação continuada nos
últimos 30 dias
Supervisão das equipes de
Saúde da Família
Existência de profissionais de apoio às equipes de Saúde da Família; % de
médicos/enfermeiros que relatam a existência de supervisão da equipe de Saúde
da Família; atividades desenvolvidas durante a supervisão segundo
médicos/enfermeiros
Atendimento aos grupos
prioritários
% de médicos/enfermeiros que avaliam como muito satisfatório/satisfatório o
acompanhamento dos grupos prioritários
Capacidade de resolução da
APS
Avaliação geral da
capacidade de resolução
da ESF
% de médicos/enfermeiros que avaliam como muito satisfatória/satisfatória a
capacidade de intervir positivamente no enfrentamento dos problemas de saúde;
% de médicos/enfermeiros que avaliam como muito satisfatória/satisfatória a
resolução de 80% ou mais de casos atendidos por sua equipe Saúde da Família;
avaliação da resolutividade do atendimento e necessidade de encaminhamento
para especialista segundo famílias cadastradas; % de médicos/enfermeiros que
concordam muito/concordam que com a ESF a população atendida procura
menos os serviços hospitalares e especializados; avaliação das famílias quanto a
procura por hospitais e especialistas após implantação da ESF; avaliação das
famílias quanto a procura por serviços de urgência após implantação da ESF;
avaliação das famílias quanto à melhoria do atendimento após implantação da
ESF; grau de satisfação das famílias com a ESF
Descentralização das ações
e programas de saúde
pública/coletiva para as
unidades de APS
Grau de descentralização
das ações e programas de
saúde pública/coletiva
para as unidades de APS
Existência de descentralização e grau de articulação entre os serviços de APS e
as demais áreas da saúde pública/vigilância à saúde; % de médicos/enfermeiros
que concordam muito/concordam que a ESF atua articulada aos programas de
saúde pública/coletiva
Reconhecimento
profissional e social em
APS
Reconhecimento
profissional e social em
APS
% de médicos/enfermeiros que concordam muito/concordam que os
profissionais da ESF desfrutam do mesmo reconhecimento profissional que os
especialistas
Serviço de saúde de uso
regular
Famílias que indicam a USF como serviço de procura regular entre as famílias
com serviços de procura regular; famílias que já foram atendidas pela ESF;
serviços de saúde procurados pelas famílias com moradores que adoeceram nos
últimos 30 dias
Utilização dos serviços de
APS pelas famílias
cadastradas
Acompanhamento de
grupos prioritários
Serviço de saúde responsável pelo acompanhamento dos hipertensos,
diabéticos, das gestantes e do crescimento e desenvolvimento infantil segundo
famílias cadastradas
17
Segundo Starfield
6
para exercer a coordenação dos cuidados o profissional de APS deve estar
ciente dos problemas de saúde que acometem seus pacientes em qualquer ponto do sistema.
Este complexo processo envolveria disponibilidade e reconhecimento das informações
referentes aos atendimentos prestados, existência de estratégias de referência e contra-
referência, adoção de diretrizes clínicas, reconhecimento explícito das responsabilidades de
cada nível e organização de regiões de saúde. Neste sentido, as ações necessárias à
coordenação discutidas pela autora referem-se essencialmente a mecanismos e instrumentos de
“integração entre níveis assistenciais”, segundo eixo avaliado por este estudo.
Por vezes, trabalhos que tomam os atributos da APS definidos pela autora, utilizam o conceito
de coordenação como sinônimo de integração
17
. Nesta tese, parte-se do princípio que a
existência de mecanismos de integração entre níveis assistenciais é elemento essencial à
coordenação dos cuidados e, por isto, foi considerado um dos eixos de análise. Embora seja
condição necessária, considera-se não ser suficiente, razão pela qual não poderia ser tomada
como sinônimo, mas sim como uma das dimensões da coordenação. Conforme apresentado
anteriormente, conceituou-se a coordenação como a articulação entre serviços de diferentes
níveis, mas também entre ações de saúde que podem ser executadas no nível da atenção
primária
24
, exigindo para sua resolução estratégias diferenciadas daquelas que envolvem
integração entre prestadores de níveis distintos. A atomização, competição entre prestadores,
rivalidades entre categorias profissionais
23
, dificuldades para alcançar a cooperação e o
trabalho em equipe
26
, diferentes esquemas de pagamento
12
também são barreiras à coordenação
dos cuidados que extrapolam as dificuldades representadas pela ausência ou insuficiência de
mecanismos organizacionais de integração da rede.
Para analisar a integração entre níveis assistenciais foram definidas cinco dimensões
apresentadas na tabela 3.
18
Tabela 3 Dimensões, variáveis e indicadores do eixo “Integração entre níveis
assistenciais”, quatro grandes centros urbanos, 2008
Dimensões
Variáveis
Indicadores
Organização de regionais ou distritos de
saúde
Existência e número de regionais/distritos de saúde
Estrutura de regulação da Secretaria
Municipal de Saúde
Existência de gerência/coordenação de regulação, avaliação e
auditoria da atenção especializada, hospitalar e da rede de urgência
e emergência
Estrutura
organizacional e
administrativa do
setor de regulação da
rede de serviços de
saúde
Principal propriedade dos prestadores de
serviços de saúde para a atenção
especializada
Existência de prestadores públicos municipais e estaduais
Sistema municipal de regulação e
marcação de consultas e exames
especializados
Existência de central municipal de regulação e marcação de
consultas e exames especializados, % de médicos/enfermeiros que
informaram existência de central de marcação de consultas
especializadas
Central municipal de regulação e controle
de leitos e internações
Existência de central municipal de regulação e controle de leitos e
internações
Instrumentos de
integração dos
serviços de saúde
Instrumentos de referência e contra-
referência para atenção especializada
Existência de instrumentos de referência e contra-referência, % de
famílias cadastradas encaminhadas por profissional da ESF que
relataram receber informações por escrito para entregar ao serviço
de referência, % de médicos que fornecem informações por escrito
sempre/na maioria das vezes quando o paciente é referenciado para
outros serviços, % de médicos que recebem contra-referência
sempre/na maioria das vezes após consulta do usuário com
especialista
Percurso mais comum do paciente para
acesso a atenção especializada
Percurso mais comum do paciente desde o atendimento na USF ao
encaminhamento para consulta especializada segundo
médicos/enfermeiros e gestores, principais motivos do
encaminhamento pelo médico da ESF nos últimos 30 dias segundo
famílias cadastradas, principal forma de acesso ao especialista
informada por usuários referenciados nos últimos 12 meses
Prática sistemática de análise dos
encaminhamentos para serviços
especializados realizados pelos
profissionais da APS
Existência de prática sistemática de análise dos encaminhamentos
para serviços especializados realizados pelos profissionais da APS,
% de médicos/enfermeiros que referiram existir sempre/na maioria
das vezes supervisão periódica para avaliar a necessidade de
referência aos outros níveis de atenção
Monitoramento das filas de espera para
atenção especializada
Existência de monitoramento das filas de espera para atenção
especializada
Fluxo formalizado para acesso à atenção
hospitalar
Existência de fluxo formalizado para acesso à atenção hospitalar
Organização dos
fluxos para atenção
especializada,
hospitalar e de
urgência/emergência
Articulação entre Centros de Saúde e
serviços de pronto-atendimento
Existência e grau de articulação entre Centros de Saúde e serviços
de pronto-atendimento
Principal serviço municipal para
realização de consultas/exames
especializados
Principal serviço municipal para realização de consultas/exames
especializados
Acesso e utilização dos serviços de apoio
à diagnose e terapia e consultas
especializadas
% de usuários que relataram necessidade de realização de exame
solicitado pelo médico da ESF nos últimos 12 meses, % de médicos
que conseguem realizar sempre/na maioria das vezes agendamento
para serviços de atenção especializada e de apoio à diagnose e
terapia, % de usuários referenciados nos últimos 12 meses pelo
médico da ESF que conseguiram realizar os exames solicitados,
tempo de espera pelo atendimento com o especialista estimado por
usuários referenciados, tempo médio de espera para consultas
especializadas e para realização de exames de radiologia e ultra-som
estimado por médicos/enfermeiros, tempo de espera para realização
dos exames solicitados pelo médico da ESF e recebimento dos
resultados estimado por usuários referenciados
Acesso e utilização
dos serviços de
atenção especializada
e hospitalar
Acesso e utilização dos serviços de
atenção hospitalar
% de médicos que conseguem realizar sempre/na maioria das vezes
agendamento para maternidade, tempo médio de espera para
internação para cirurgia eletiva estimado por médicos/enfermeiros
Prontuários eletrônicos
Existência de prontuário eletrônico, % de médicos que referiram
fazer registros no prontuário após cada consulta
Instrumentos para
continuidade
informacional
Protocolos clínicos Implantação de protocolos clínicos
19
Desde os anos de 1990 as reformas dos sistemas de saúde, tanto em países europeus como
latinoamericanos, pautaram-se em ações e políticas que buscam fortalecer e aumentar o
protagonismo da APS, meta reafirmada pelo relatório da Organização Mundial da Saúde de
2008 no instigante título Atenção Primária à Saúde agora mais do que nunca”
42
. No Brasil,
os princípios gerais e fundamentos da APS e as especificidades da ESF consolidados na
Política Nacional de Atenção Básica
15
refletem uma certa concepção de atenção primária que
incorpora as dimensões definidas por Starfield
6
como porta de entrada, acessibilidade, nculo,
coordenação dos cuidados e integralidade. Políticas complementares como a Portaria que cria
os Núcleos de Apoio ao Saúde da Família
21
reafirmam a meta de fortalecimento da APS por
meio da ampliação de sua resolutividade e integração à rede. Desta forma, além da literatura
sobre o tema, tanto o relatório da OMS, quanto a PNAB, a Portaria 154, e o Pacto pela
Saúde, foram documentos institucionais que de certa forma influenciaram e referendaram a
escolha dos eixos analisados nesta tese de doutorado.
Metodologias utilizadas em estudos de avaliação da APS em contexto brasileiro também
serviram como base para a eleição das dimensões, variáveis e indicadores. Primeiramente
destacaram-se estudos que utilizaram o Primary Care Assessment Tool (PCATool) que
permite, com base nos atributos da APS desenvolvidos por Starfield
6
, medir as dimensões
organizacionais e de desempenho dos serviços de ABS em nível municipal, comparando-se
pontos de vista de profissionais, gestores e usuários. Esforços foram empreendidos para adaptar
e validar o instrumento à realidade brasileira
17,50
. Entre estas investigações, encontram-se os
estudos que compuseram a “Linha de Base do Programa de Expansão e Consolidação do Saúde
da Família (Proesf)”, financiados pelo Ministério da Saúde
18,19
. Neste mesmo conjunto de
estudos financiados pelo Proesf o questionário da Pesquisa Mundial de Saúde
51
foi adaptado de
modo que permitisse avaliar o desempenho da Atenção Básica/PSF no âmbito municipal. Para
tal, também recorreu-se (em parte) às proposições de Starfield
6
.
A segunda metodologia de avaliação da APS considerada foi “Avaliação para Melhoria da
Qualidade”
47
, proposta de auto-avaliação orientada por instrumentos dirigidos a gestores,
coordenação, unidades de saúde e equipes contemplando elementos de estrutura, processo e
resultado. Os padrões utilizados foram elaborados por técnicos do Departamento de Atenção
Básica e validados por especialistas. A metodologia permite elaborar um diagnóstico sobre a
organização e funcionamento dos serviços partindo da formulação atual da Estratégia Saúde da
Família (princípios, diretrizes e campos de atuação) e busca favorecer a identificação de
estágios de desenvolvimento, de aspectos críticos, potencialidades e pontos consolidados tanto
na gestão como no processo de trabalho das equipes. Entre os indicadores utilizados pela AMQ
20
encontram-se: ampliação ou adaptações realizadas por gestores da saúde na rede de serviços
em função da implantação da ESF no município, como ampliação da oferta de exames de apoio
diagnóstico e terapêutico, consultas especializadas e leitos para internações; adaptações na rede
de referência com base em estudos da demanda verificada e/ou estimada nas ESF;
programação da oferta de exames complementares básicos como eletrocardiograma, RX de
tórax, ultrasonografia, além dos de patologia clínica; garantia de marcação de consultas e
exames especializados e internações por meio de central de marcação; garantia de referência
para internações nas clínicas básicas; monitoramento da utilização de serviços de urgência,
emergência e pronto-atendimento da rede pública pela população coberta pela ESF; apoio de
outros profissionais da rede às equipes SF; existência de supervisão e de formação teórica e
prática nas áreas básicas para os profissionais da ESF; acompanhamento e dispensação com
regularidade e suficiência de medicamentos para grupos prioritários, entre outros
47
.
O estudo realizado por Escorel et al.
41
para “Avaliação da implementação da ESF em dez
grandes centros urbanos”, no ano de 2002, também serviu como base para definição dos
indicadores utilizados neste estudo. Nessa investigação as dimensões de integração da APS à
rede de serviços, capacitação e supervisão dos recursos humanos, estabelecimento de vínculos,
acessibilidade e garantia de atenção integral já estavam presentes.
Desta forma, com base em revisão da literatura, documentos institucionais e dos estudos
mencionados foram definidas dimensões, variáveis e indicadores para avaliação dos eixos de
análise “Fortalecimento da APSe “Integração entre níveis assistenciais”, na perspectiva de
gestores, médicos e enfermeiros da ESF e famílias cadastradas.
Instrumentos de pesquisa
Com uso de métodos mistos, os casos foram estudados a partir de diferentes técnicas e
considerando as perspectivas dos principais atores envolvidos: gestores e gerentes de saúde,
profissionais das equipes de SF e famílias cadastradas. As principais fontes de informação
foram entrevistas com base em roteiros semiestruturados realizadas com gestores e gerentes
municipais, questionários autopreenchidos pelos profissionais da ESF e questionários fechados,
aplicados a uma amostra de famílias cadastradas.
Entrevistas semi-estruturadas com gestores e gerentes da Secretaria Municipal de
Saúde e de entidades representativas de profissionais
Segundo Yin
36
o procedimento mais comum para entrevistas em um estudo de caso é que as
mesmas sejam conduzidas de forma espontânea, mesmo no caso das entrevistas focadas, de
21
modo que o entrevistador possa indagar acerca das questões do estudo e, ao mesmo tempo, o
respondente possa apresentar suas interpretações sobre o tema do estudo e, até mesmo, sugerir
fontes adicionais de evidências. Para o autor, quanto mais próxima a esta posição for o papel
do entrevistador, mais o entrevistado deixará de ser um mero respondente e mais se tornará um
informante-chave.
A descrição e análise das estratégias para fortalecimento da APS e para integração da rede
empreendidas pela gestão municipal de saúde foram realizadas com base em resultados de
entrevistas semi-estruturadas com atores-chave da Secretaria Municipal de Saúde, responsáveis
pela gestão do sistema como um todo, pelas funções de regulação, pela coordenação da ESF,
da atenção especializada, da atenção hospitalar, da rede urgência e pelas USF. Em todos os
municípios foram entrevistados o Secretário Municipal de Saúde e o Coordenador da Atenção
Básica/PSF. Os demais entrevistados da SMS foram gestores vinculados à Regulação, Controle
e Avaliação; gestores responsáveis pela Atenção Especializada, pela Rede de Apoio à
Diagnose e Terapia, pela Rede Hospitalar, pela Rede de Urgência e Emergência, pelas Centrais
de Marcação de Consultas e pela Vigilância em Saúde, eleitos de acordo com a estrutura
administrativa da SMS em cada município. Também foram entrevistados representantes de
entidades profissionais de médicos e enfermeiros com vistas a identificar a avaliação destes
órgãos quanto às estratégias empreendidas pela gestão municipal. A escolha dos entrevistados
justificou-se na medida em que constituem atores importantes para descrever e avaliar os
mecanismos de integração da rede e estratégias municipais para fortalecimentos da APS ao
interior do sistema de saúde.
Na presente tese foram analisados os resultados de 54 entrevistas referentes aos eixos de
análise, quais sejam:
- Secretários Municipais de Saúde (4);
- Coordenadores de Atenção Básica/ESF (4);
- Gerentes vinculados à Regulação, Controle e Avaliação (16);
- Coordenadores da Vigilância em Saúde (4);
- Gerentes de Unidades de Saúde da Família (16);
- Representantes de entidades profissionais médicas (Sociedade de Medicina de Família e
Comunidade e Sindicato Médico) e de enfermagem (Conselho Regional de Enfermagem) (10).
Os grandes temas abordados nas entrevistas no estudo realizado por Giovanella et al.
31
foram:
processo de implantação da ESF, organização e gestão, integração à rede assistencial,
22
coordenação e continuidade dos cuidados e conversão do modelo de atenção,
intersetorialidade, gestão e capacitação de recursos humanos e fatores limitantes e facilitadores
para implementação e desempenho adequado da ESF.
Para esta tese foram analisadas informações referentes à coordenação dos cuidados com base
nos dois eixos de análise, abordando-se questões como: posição da ESF na rede assistencial;
integração à rede de serviços de saúde (acesso à consultas especializadas, aos serviços de apoio
à diagnose e terapia, à atenção hospitalar e acesso aos serviços de urgência e emergência),
integração da ESF e programas de saúde pública/coletiva, coordenação dos cuidados, utilização
de instrumentos para continuidade informacional, iniciativas para aumentar a resolutividade
das equipes.
Questionários de autopreenchimento para os integrantes das Equipes de Saúde da
Família
As percepções dos profissionais sobre as estratégias empreendidas para fortalecer as equipes de
SF e para integrá-la a rede foram examinadas com base em questionários auto-aplicáveis a
amostras de médicos e enfermeiros. Na pesquisa realizada por Giovanella et al.
31
foram
aplicados questionários também a amostras de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e
auxiliares/técnicos de enfermagem. Contudo, dados os eixos de análise desta tese de doutorado,
foram selecionados os resultados dos questionários aplicados a médicos e enfermeiros, visto
serem estes os profissionais mais diretamente vinculados às atividades que envolvem
integração com os demais níveis como solicitação de exames e consultas, realização de
referências, como também às práticas identificadas para o fortalecimento da APS.
Para este trabalho foram analisados dados dos 224 questionários aplicados aos médicos e 261
aos enfermeiros das equipes de SF nos quatro municípios, com a seguinte distribuição:
- Aracaju – 56 médicos e 66 enfermeiros;
- Belo Horizonte – 72 médicos e 75 enfermeiros;
- Florianópolis – 61 médicos e 70 enfermeiros;
- Vitória – 35 médicos e 50 enfermeiros;
Questionário aplicado a amostras famílias usuárias da Estratégia Saúde da
Família
Um inquérito de base domiciliar com aplicação de questionários fechados a amostra
representativa de famílias cadastradas permitiu conhecer experiências e avaliação dos usuários
em relação ao acesso e utilização da USF, capacidade de resolução da APS, encaminhamento a
especialistas, realização de exames e tempos de espera. O informante familiar foi o chefe da
23
família ou cônjuge, entrevistado no domicílio. Foram entrevistadas 3.311 nos quatro
municípios, sendo: 800 em Aracaju, 900 em Belo Horizonte, 789 em Florianópolis e 822 em
Vitória.
Os grandes temas enfocados pela pesquisa do Nupes/Daps/Ensp/Fiocruz foram: caracterização
dos moradores e famílias, características do domicílio, problemas de saúde de seu bairro ou
comunidade, violência, participação social, demanda e uso dos serviços de saúde,
conhecimento e uso da ESF, acompanhamento de portadores de doenças crônicas, grávidas,
crescimento e desenvolvimento infantil e avaliação do PSF pelas famílias.
Nesta tese de doutorado foram analisadas as questões referentes aos eixos de pesquisa como:
demanda e uso dos serviços de saúde, porta de entrada, serviços de saúde de uso regular,
encaminhamento para especialistas, acesso a exames, satisfação com os serviços prestados pela
Estratégia Saúde da Família, acompanhamento dos portadores de doenças crônicas, das
gestantes, e do crescimento e desenvolvimento infantil.
Desenho da amostra de profissionais de saúde e famílias
O plano de amostragem da pesquisa realizada pelo Nupes/Daps/Ensp/Fiocruz foi do tipo
conglomerado em três estágios de seleção: equipe de SF como unidade primária de
amostragem, Agente Comunitário de Saúde como unidade secundária e, como unidade
elementar a família cadastrada. Assim, para cada ACS selecionado, cinco famílias foram
sorteadas aleatoriamente do conjunto de famílias da microárea sob sua responsabilidade
31
.
A população de pesquisa foi composta pelos profissionais de todas as equipes de SF existentes
nos municípios de Aracaju, Belo Horizonte, Vitória e Florianópolis em 31 de dezembro de
2007, bem como pelas famílias cadastradas por essas equipes. Assim, foram excluídas da
população de pesquisa (e, portanto, da amostra) as equipes de SF com atuação inferior a seis
meses, não havendo critério de exclusão para as famílias.
O cadastro de seleção da amostra de profissionais de saúde foi obtido com base nos registros
administrativos e contém dados sobre os profissionais de todas as equipes de saúde
disponibilizados pelo Departamento de Atenção sica (DAB/SAS/MS), com base no
Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Para as famílias, o cadastro de
seleção derivou do cadastro de famílias de cada ACS selecionado para a amostra.
Conforme explicitado nos relatórios de pesquisa
31
, o tamanho da amostra foi calculado para
estimar proporções maiores ou iguais a 0,1 com erro relativo máximo de 30% (ou seja, erro
24
absoluto máximo de 3%). Considerando o efeito de conglomeração para seleção de 5 famílias
para cada ACS selecionado, obtido na pesquisa “Saúde da Família: avaliação da
implementação em dez grandes centros urbanos”
41
, chegou-se a um tamanho de amostra de 768
famílias por município, que dividido por 5 (famílias por ACS) indicou o número de ACS e de
equipe de SF a selecionar, tomando por base a seleção de 2 ACS por equipe
31
.
Em decorrência desse cálculo, todas as equipes listadas no cadastro utilizado para seleção de
Florianópolis (79) e de Vitória (53) foram incluídas na amostra, sendo que em Vitória foi
necessário selecionar 3 ACS por equipe de SF. Foram selecionadas, com equiprobabilidade, 80
das 127 equipes de Aracaju e 90 das 469 de Belo Horizonte. Assim, em Florianópolis e Vitória
foi realizado censo de médicos e enfermeiros. Os pesos amostrais foram calculados pelo
inverso das probabilidades de inclusão na amostra
31
.
Tabela 4 Tamanho da amostra de médicos, enfermeiros, ACS e famílias por município
de pesquisa, 2008
Equipes, profissionais e famílias Aracaju
Belo
Horizonte
Florianópolis Vitória Total
Equipes de Saúde da família 80 90 79 53
302
Médicos 80 90 79 53
302
Enfermeiros 80 90 79 53
302
Agentes Comunitários de Saúde
*
160 180 158 159
657
Famílias a selecionar por ACS 5 5 5 5
5
Famílias 800 900 790 795
3.285
Número total questionários profissionais 320 360 316 265 1.261
Número total estimado de questionários 1.120 1.260 1.106 1.060 4.546
Fonte: Giovanella et al.
31
*
Dois ACS selecionados por equipe, exceto em Vitória, onde foram selecionados três.
Em Aracaju, ocorreram 38 perdas entre médicos e enfermeiros das equipes de SF. Em Belo
Horizonte houve 33 perdas, em Florianópolis, 27 e em Vitória, 21. As perdas foram
ocasionadas por diversos motivos, semelhantes entre os municípios: profissionais em férias,
licença por motivo de doença ou maternidade, não devolução do questionário, recusa, não
existência do profissional na ESF, profissionais em licença prêmio ou para candidatar-se nas
eleições municipais.
25
Tabela 5 Número de entrevistas previstas e realizadas por tipo de questionário nos
municípios selecionados, 2008
Aracaju
QUESTIONÁRIOS Prevista Realizada Perdas % Perdas
Famílias 800 800 - -
Médicos 80 56 24 30,0
Enfermeiros 80 66 14 17,5
Belo Horizonte
QUESTIONÁRIOS Prevista Realizada Perdas % Perdas
Famílias 900 900 - -
Médicos 90 72 18 20,0
Enfermeiros 90 75 15 16,7
Florianópolis
QUESTIONÁRIOS Prevista Realizada Perdas % Perdas
Famílias 790 789 - -
Médicos 79 61 18 22,8
Enfermeiros 79 70 9 11,4
Vitória
QUESTIONÁRIOS Prevista Realizada Perdas % Perdas
Famílias 795 822 - -
Médicos 53 35 18 34,0
Enfermeiros 53 50 3 5,7
Fonte: Giovanella et al.
31
Para análise dos dados, foi levado em consideração o desenho amostral do estudo por se tratar
de uma amostragem do tipo complexa (conglomerado em dois estágios para profissionais nos
municípios de Aracaju e Belo Horizonte). A construção do peso amostral, que é o inverso da
probabilidade de seleção do profissional, incluiu em seu cálculo as perdas de profissionais.
Todo o processo de amostragem foi realizado por um profissional de estatística.
Tabela 6 Questionários aplicados a médicos, enfermeiros e famílias cadastradas por
município - 2008
Entrevistados Aracaju Belo Horizonte Florianópolis Vitória Total
Médicos 56 72 61 35 224
Enfermeiros 66 75 70 50 261
Famílias 800 900 789 822 3.311
Total 922 1047 920 907 3.796
Fonte: Giovanella et al.
31
Análise dos dados selecionados
A apresentação dos resultados foi organizada em artigos que descrevem e analisam os dois
eixos do estudo com base em dimensões, variáveis e indicadores selecionados. Informações
convergentes foram trianguladas para responder às perguntas de investigação, buscando
articular a perspectiva de gestores, profissionais das equipes e famílias cadastradas.
O eixo “Fortalecimento da Atenção Primária à Saúde” foi descrito e avaliado por meio de seis
dimensões e 17 variáveis e indicadores correspondentes. A primeira dimensão “Posição
26
ocupada pela APS” foi analisada com base nas entrevistas semi-estruturadas realizadas com
gestores e gerentes da SMS para identificar as ações desenvolvidas para fortalecer a ESF na
função de porta de entrada preferencial do sistema de saúde municipal e na avaliação de
médicos e enfermeiros quanto ao alcance destes objetivos (tabela 2).
A segunda dimensão “Acesso à Unidade de Saúde da Família” foi avaliada, sobretudo, com
base nas informações de médicos e enfermeiros quanto à ampliação da acessibilidade a partir
da implantação da ESF e na percepção das famílias usuárias quanto às dificuldades e
facilidades para acessar a USF (tabela 2).
A terceira dimensão “Capacidade de resolução da APS” inclui informação de gestores e
gerentes quanto às principais iniciativas para aumentar a resolutividade das equipes de SF e a
avaliação de médicos, enfermeiros e famílias quanto à efetividade destas ações. Neste item,
partindo do pressuposto que a melhoria da resolutividade diminuiria a busca por serviços
especializados e de urgências, também foi avaliada a procura por estes serviços após a
implantação da ESF, tanto na percepção dos profissionais quanto dos usuários, além de
avaliações mais gerais quanto à melhoria do atendimento em saúde e grau de satisfação com o
atendimento prestado pelas equipes de SF (tabela 2).
A quarta dimensão “Descentralização das ações e programas de saúde pública/coletiva para as
unidades de APS” foi analisada com base na descrição dos gestores quanto ao processo de
descentralização destas ações para as equipes de SF e na avaliação de médicos e enfermeiros
quanto ao grau de articulação entre as ações desenvolvidas pelas equipes e tais programas
(tabela 2).
A quinta dimensão “Reconhecimento profissional e social em APSfoi avaliada por meio da
percepção de médicos, enfermeiros e representantes das entidades profissionais (tabela 2).
Por fim, a sexta dimensão “Utilização dos serviços de APS” buscou aferir por meio da
avaliação das famílias cadastradas possíveis mudanças nos padrões de utilização dos serviços
de APS que refletissem de alguma forma o conjunto de ações empreendidas para fortalecer o
papel de porta de entrada e de serviço de uso regular a ser exercido pela ESF, o
acompanhamento de grupos prioritários (tabela 2).
O eixo “Integração entre níveis assistenciais” foi descrito e avaliado por meio cinco dimensões,
16 variáveis, além dos indicadores. A primeira dimensão “Estrutura organizacional e
administrativa do setor de regulação da rede de serviços de saúde” foi descrita e analisada
exclusivamente com base nas entrevistas semi-estruturadas com gestores e gerentes da SMS
27
para identificar, principalmente, a estrutura de regulação e provisão de serviços especializados
(tabela 3).
A segunda dimensão “Instrumentos de integração dos serviços de saúde” buscou identificar a
existência de central de marcação e regulação de procedimentos especializados e de leitos e
internação, bem como a existência de instrumentos de referência e contra-referência com base
na percepção de gestores e gerentes. A experiência de médicos e enfermeiros em relação à
existência de centrais de marcação de consultas e utilização dos instrumentos de referência e
contra-referência, captadas com base na aplicação de questionários auto-preenchidos, foram
confrontadas com as iniciativas e ações descritas pela gestão municipal. Também foi avaliada a
experiência das famílias cadastradas quanto ao recebimento da contra-referência (tabela 3).
A dimensão “Organização dos fluxos para a atenção especializada, hospitalar e de
urgência/emergência” objetivou aferir a existência de fluxos formais para acesso à atenção
especializada e hospitalar e articulação com os serviços de urgência, bem como estratégias para
qualificar as referências e monitorar as filas de espera descritos pelos gestores da SMS, tendo
como fonte as entrevistas semi-estruturadas. As estratégias empreendidas para definir o
percurso mais comum dos usuários ao interior do sistema de saúde, relatadas por gestores,
foram avaliadas por médicos, enfermeiros e usuários com experiência de encaminhamento ao
especialista nos últimos 12 meses (tabela 3).
A quarta dimensão “Acesso e utilização dos serviços de atenção especializada e hospitalar”
avalia, sobretudo, a percepção de médicos e enfermeiros quanto à facilidade/dificuldade para
agendamento de procedimentos especializados e internação hospitalar e tempos de espera,
avaliados também por usuários da ESF (tabela 3).
Por fim, a dimensão “Instrumentos para continuidade informacional” buscou aferir a existência
de prontuários eletrônicos e implantação de protocolos clínicos (tabela 3).
Todos os dados quantitativos resultantes dos estudos transversais foram codificados e
computados no CSPRO versão 3.3 (U.S. Census Bureau;
http://www.census.gov/ipc/www/cspro) e distribuídos em freqüências simples por município,
tipo de informante e variável. Os dados qualitativos, obtidos por meio das entrevistas semi-
estruturadas foram gravados, transcritos e agrupados por dimensões e variáveis definidas a
priori para análise dos dois eixos utilizados para descrever e avaliar as estratégias de
coordenação dos cuidados. Tanto os dados quantitativos como qualitativos passaram por
análise de conteúdo vertical considerando-se em um primeiro momento as dimensões de
análise por município e informantes-chave e, posteriormente, por leitura horizontal
28
comparando-se e confrontando-se a perspectivas dos diversos atores envolvidos bem como dos
quatro casos analisados.
Apresentação da tese
A apresentação desta tese de doutorado foi estruturada com base em quatro artigos, quais
sejam:
1. “Avaliação em Atenção Básica no Brasil: mapeamento e análise das pesquisas
realizadas e/ou financiadas pelo Ministério da Saúde entre os anos de 2000 e 2006”
publicado nos Cadernos de Saúde Pública 2008; 24(8):1727-1742
52
.
Como este trabalho foi realizado no âmbito da avaliação em Atenção Básica, considerou-se
necessário mapear e analisar as pesquisas de monitoramento e avaliação neste campo
realizadas e/ou financiadas pelo gestor federal entre os anos de 2000 a 2006. Além de
possibilitar uma visão mais ampla das tendências e mudanças que marcaram a política de
avaliação e monitoramento da APS no período investigado, foi possível identificar estudos
e metodologias que serviram como apoio ao desenho da pesquisa realizada pelo
Nupes/Daps/Ensp/Fiocruz. Este artigo foi apresentado na qualificação de doutorado.
2. “Fortalecimento da Atenção Primária à Saúde: estratégia para potencializar a
coordenação dos cuidados” aceito para publicação na Revista Panamericana de Salud
Pública
Este artigo objetiva analisar e descrever as ações empreendidas nos quatro centros urbanos
para fortalecer a ESF por meio de dimensões, variáveis e indicadores, mencionados no item
anterior. Parte-se da premissa que a consolidação de uma APS “forte”, avaliada pela
posição ocupada no sistema de saúde, capacidade de resolução, reconhecimento
profissional e social de seus profissionais, descentralização das ações de saúde coletiva
para a APS e conseqüentes reflexos no acesso e utilização dos serviços por parte da
população, é fundamental para que este nível possa se responsabilizar pela coordenação dos
cuidados ao interior do sistema de saúde.
29
3. “Desafios à coordenação dos cuidados em saúde: estratégias de integração entre níveis
assistenciais em grandes centros urbanos” publicado nos Cadernos de Saúde Pública
2010; 26(2):286-298
53
.
O terceiro artigo apresenta os resultados referentes ao eixo “Integração entre níveis
assistenciais”, por meio da descrição e análise do desenvolvimento de instrumentos e
estratégias de integração da ESF aos demais níveis assistenciais em quatro grandes centros
urbanos. O argumento defendido é a que a existência de mecanismos de integração entre
níveis assistenciais é condição essencial para que possa haver coordenação dos cuidados
pela APS. As dimensões, variáveis e indicadores analisados no artigo foram descritos
anteriormente.
4. “Estratégias de integração entre Atenção Primária à Saúde e Especializada: paralelos
entre Brasil e Espanha” – ainda não encaminhado para publicação.
Este artigo é produto da participação no “Programa de Doutorado com Estágio no Exterior”
da CAPES. Durante os meses de março a agosto de 2008 foi realizado na Escuela Nacional
de Sanidad, órgão pertencente ao Instituto de Salud Carlos III, vinculado ao Ministerio de
Ciencia e Innovación, estudo cujo objetivo foi identificar estratégias de integração entre
níveis assistenciais por meio de levantamento bibliográfico e entrevistas com informantes-
chave em três Comunidades Autônomas espanholas Madri, País Basco e Catalunha. O
objetivo foi reconhecer as estratégias desenvolvidas por este país para enfrentar o desafio
da coordenação dos cuidados e compará-la, em alguns aspectos, à experiência brasileira.
Além de contribuir para maior conhecimento teórico e prático, buscou-se identificar
práticas exitosas que, tendo em vista especificidades locais, pudessem constituir lições
aprendidas. Na Espanha, o trabalho foi orientado pelos Dr. Juan Gérvas e Dr. José Manuel
Freire. Algumas considerações sobre o sistema de saúde espanhol que justificaram a
escolha deste país para realização do estágio de doutorado estão descritas no Anexo I desta
tese.
C
ONSIDERAÇÕES
É
TICAS
O projeto desta tese foi avaliado e aprovado pelo CEP da Ensp/Fiocruz por meio do parecer Nº
112/08, tendo cumprido todas as exigências estabelecidas pela Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde.
30
O estudo realizado pelo Nupes/Daps/Ensp/Fiocruz foi analisado e aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa da Ensp/Fiocruz por meio do Parecer 27/08 e pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (CEP SMSA-PBH Parecer
35/2008). Em Aracaju, a realização da pesquisa foi autorizada pelo Secretário Municipal de
Saúde por meio do ofício n. 2498/2008 NUPLAN/SMS/PMA de 16 de julho de 2008. Em
Florianópolis e Vitória o projeto recebeu parecer favorável, além da autorização para sua
realização, da Comissão de Acompanhamento de Projetos de Pesquisa em Saúde da SMS de
Florianópolis por meio do ofício 008/2008 de 19 de maio de 2008 e, em Vitória com base no
comunicado interno 250/2008 de 7 de maio de 2008 da Gerência de Informação e
Desenvolvimento em Saúde da SEMUS.
R
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34
ARTIGO 1. AVALIAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA NO BRASIL: MAPEAMENTO E
ANÁLISE DAS PESQUISAS REALIZADAS E/OU FINANCIADAS PELO
MINISTÉRIO DA SAÚDE ENTRE OS ANOS DE 2000 E 2006
III
Patty Fidelis de Almeida
IV
Lígia Giovanella
IV
Resumo
O artigo apresenta mapeamento e análise das pesquisas de monitoramento e avaliação em
Atenção Básica à Saúde realizadas e/ou financiadas pelo Ministério da Saúde, concluídas e
publicadas entre 2000 e 2006. Foram localizadas 11 pesquisas finalizadas porém não
publicadas, 84 em andamento, 14 concluídas e com divulgação parcial dos resultados. Os
primeiros estudos, realizados entre 2000 e 2002, foram, principalmente, análises do processo
de implantação do Programa Saúde da Família para detectar fragilidades, potencialidades e
custos, podendo ser caracterizados como “avaliação para decisão”, com privilégio da visão de
gestores e profissionais. Outra característica parece ter sido a fragmentação na realização
destas pesquisas, muitas vezes, desenvolvidas simultaneamente, com objetivos e metodologias
semelhantes. Quanto à divulgação dos resultados, a maior parte encontra-se em formato de
relatórios técnicos, com linguagem de difícil apreensão. Considera-se que os Estudos Linhas de
Base, realizados a partir de 2004, representam um avanço ao incorporar elementos que
parecem superar debilidades dos processos anteriores como: avaliação de impacto,
compartilhamento das metodologias e resultados, envolvimento de atores das secretarias
municipais e estaduais, capacitação de técnicos para avaliação e o ponto de vista dos usuários.
Palavras-chave: Avaliação em Atenção Básica à Saúde, Monitoramento, Programa Saúde da
Família
III
Artigo publicado nos Cadernos de Saúde Pública 2008; 24(8):1727-1742.
IV
Núcleo de Estudos Político-Sociais em Saúde – Nupes/Daps/Ensp/Fiocruz
35
Assessment of Primary Health Care in Brazil: mapping and analysis of
research carried out and/or financed by the Ministry of Health between 2000 and
2006
Abstract
This article presents a mapping and analysis of monitoring and
assessment researchs in Primary Health Care, carried out and/or financed by the Ministry of
Health which were completed and published between 2000 and 2006. From the total of
researchs found (109), eleve were finished, eighty four were ongoing and fourteen were
concluded with parcial results dissemination. First studies carried out between 2000 and 2002
were addressed to analyse the implementation process of the Family Health Program in order
to detect its weaknesses, potentialities and costs, and could be characterized as “evaluation for
decision-making”, emphasizing managers and professionals vision. Another feature identified
was the fragmentation in the development of these researchs, usually carried out at the same
time with similar objetives and methodologies. Most of the dissemination was found in the
format of technical reports using specialized languaje of difficult understanding. The Proesf
baseline studies carried out since 2004, represent an advance by incorporating elements that
seem to overcome some of the weakness of previous processes, such as impact assessments,
methodologies and results sharing, involving actors from municipal and state secretaries,
and technicians training in assessment activities process and including beneficiaries vision.
Key words - Assessment in Primary Health Care, Monitoring, Family Health Program
36
I
NTRODUÇÃO
Estudos apontam que sistemas orientados pela Atenção Primária à Saúde (APS) apresentam
resultados positivos em relação à provisão de melhores cuidados em saúde para suas
populações, tanto no que se refere ao alcance de maior equidade e eficiência quanto em relação
à continuidade da atenção e satisfação dos usuários
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8
. Além disso, um certo
consenso de que a atenção primária deve constituir-se como base do sistema de saúde com
capacidade para organizá-lo em sua totalidade
9, 10, 4
.
No Brasil a Atenção Básica à Saúde (ABS), denominação que corresponderia ao que a
literatura internacional tem chamado Atenção Primária à Saúde, vem sofrendo inovações
importantes desde os anos de 1990, principalmente a partir da expansão de cobertura pela
Estratégia Saúde da Família (ESF). Para o ano de 2006, segundo dados do Ministério da Saúde
(MS), aproximadamente 82 milhões de brasileiros estavam cadastrados por equipes de saúde
da família. Neste cenário, são crescentes a necessidade e o interesse em avaliar e monitorar os
resultados alcançados em relação à organização e provisão dos serviços e também no que se
refere aos possíveis impactos produzidos na saúde e bem-estar das populações.
A partir dos anos 2000, observou-se esforços no sentido de avaliar a ABS em seus diversos
aspectos, empreendidos por centros acadêmicos e fortemente induzidos pelo MS por meio de
financiamento, apoio e realização de pesquisas na área de monitoramento e avaliação. Neste
mesmo ano, foi criada a Coordenação de Investigação no interior do Departamento de Atenção
Básica (DAB), com o objetivo de formular e conduzir propostas de avaliação em atenção
básica que, neste primeiro momento, focaram o monitoramento da estrutura, processo e
resultado por meio de dados obtidos nos sistemas de informação em saúde e de avaliações
normativas
11
.
Em 2003, frente à considerável expansão de cobertura pela ESF e dos novos desafios
decorrentes da implantação, principalmente nos centros urbanos com população superior a
100.000 habitantes, a então Coordenação de Investigação passou a chamar-se Coordenação de
Acompanhamento e Avaliação da Atenção Básica (CAA/DAB) com a missão de fortalecer o
papel da avaliação enquanto importante instrumento para a gestão do SUS com vistas a criação
de uma cultura avaliativa nas três esferas de governo. Ganhou ênfase a partir deste período a
preocupação em disseminar os resultados obtidos nos estudos e a interlocução entre o saber
produzido e os atores envolvidos nos processos decisórios. Também no ano de 2003 uma série
de discussões foi desencadeada a fim de construir as bases de uma política nacional para o
37
monitoramento e avaliação da ABS, com a formação da Comissão de Avaliação da Atenção
Básica envolvendo gestores e técnicos de vários setores do MS
12
.
Entre os desafios presentes no campo, encontra-se a realização de pesquisas que aportem
evidências sobre os impactos das inovações propostas pela Estratégia Saúde da Família na
organização do sistema e na saúde das populações. Segundo Almeida e Macinko
13
a maior
parte das avaliações realizadas no país enfocam os processos de implementação do Programa
Saúde da Família (PSF) e avaliam o impacto da atenção por meio de indicadores fortemente
determinados por fatores como renda, saneamento, educação, entre outros. Para os autores
ainda são escassos os estudos que propõem avaliar o desempenho do sistema de atenção básica
de forma global. Outro desafio a ser enfrentado relaciona-se à criação de mecanismos
institucionais que permitam regularidade de análise dos dados
14
.
Com o objetivo de contribuir para as discussões em torno do estado da arte dos estudos em
avaliação e monitoramento da Atenção Básica à Saúde no Brasil, o presente artigo apresenta
um mapeamento e análise das pesquisas realizadas e/ou financiadas pelo Ministério da Saúde,
concluídas e publicizadas no período de 2000 a 2006. A escolha justificou-se pelo
reconhecimento dos esforços e iniciativas do gestor federal na tentativa de institucionalizar a
avaliação da ABS no SUS e o significativo número de estudos realizados ou apoiados por esta
esfera de governo. O período foi selecionado em função das transformações institucionais
ocorridas ao interior do MS com a criação da Coordenação de Acompanhamento e Avaliação
da Atenção Básica (CAA/DAB), a instituição da Comissão de Avaliação da Atenção Básica e a
significativa expansão de cobertura pelo PSF observada entre os anos de 2000 e 2006.
M
ÉTODOS
Para efeito da seleção dos trabalhos analisados considerou-se “avaliação” todas as pesquisas
cujo objetivo principal foi proceder um julgamento sobre uma intervenção ou alguns de seus
elementos constitutivos para auxiliar na tomada de decisão, descrever ou caracterizar
determinada realidade, testar hipóteses, fazer recomendações ou estabelecer normas. Assim,
foram selecionados todos os estudos, quantitativos e/ou qualitativos, cujos objetivos e desenho
metodológico envolveram coleta sistemática de informações por meio de dados primários e/ou
secundários, com o propósito de fornecer algum tipo de subsídio aos processos decisórios ou
auxiliar o planejamento e expansão da ABS no país.
38
As pesquisas selecionadas foram classificadas em um amplo espectro como “avaliação da
atenção básica”. Reconhece-se que este conjunto de trabalhos incorporou também os estudos
de monitoramento e de avaliação pontual. Segundo Vieira da Silva
15
o monitoramento
corresponderia ao acompanhamento sistemático sobre alguma característica dos serviços
enquanto que a avaliação pontual refere-se ao julgamento sobre os mesmos em um
determinado ponto do tempo” (p.16). Para a autora, embora o monitoramento possa produzir
informações necessárias à realização de uma avaliação, não pode ser tomado como sinônimo,
ao menos quando esta atividade se resume ao registro contínuo de variáveis ao longo do tempo.
A realização de pesquisas ou investigações avaliativas exigiria a formulação de uma pergunta
específica para orientar a análise dos achados empíricos. Hartz
16
discute a histórica ligação
entre monitoramento e avaliação, mas também reconhece a distinção entre os dois tipos de
estudo. Aponta ainda que a apreensão dos possíveis componentes inovadores no campo da
atenção básica exige, além do monitoramento dos indicadores existentes, desenvolvimento
de pesquisas avaliativas.
Considera-se freqüentemente como pesquisa avaliativa os trabalhos cujo desenho
metodológico atende aos requisitos da pesquisa experimental, que corresponderiam aos ensaios
clínicos randomizados, fortemente induzidos pelo movimento da Medicina Baseada em
Evidências. Contudo, no campo da Saúde Pública, e particularmente na área de avaliação de
programas, este modelo vem sofrendo uma série de críticas tanto éticas quanto operacionais
como a dificuldade e altos custos na escolha aleatória de participantes, longo tempo
demandado para realização e impossibilidade ética de observar um grupo de pessoas com
determinado problema sem apontar soluções ou submetê-las a práticas “placebo”
15, 17
. Além
disso, um dos limites dos estudos experimentais refere-se às longas cadeias causais que
caracterizam os fenômenos coletivos. Ao contrário da pesquisa clínica, na qual é relativamente
curta a cadeia causal entre a exposição e o desfecho, na saúde pública, as cadeias causais são
longas, complexas e modificáveis por fenômenos externos à intervenção sob análise. Assim,
conforme aponta Santos e Victora
17
há um certo consenso no campo da avaliação de programas
de saúde de que os estudos randomizados nem sempre são factíveis, apropriados ou mesmo
necessários, principalmente quando se deseja testar o impacto em larga escala destes
programas.
Considerou-se para seleção das pesquisas, além dos estudos de monitoramento, aqueles
classificados como estruturados que englobam os clássicos desenhos experimentais, os quase-
experimentais e os não-experimentais; e os chamados semi-estruturados. Entre as estratégias
estruturadas estão os estudos do tipo caso-controle, coorte, ecológico, transversal, entre outros.
39
Como exemplos de desenhos semi-estruturados destacam-se os estudos de caso com a
utilização de técnicas de coleta de dados como a observação etnográfica, os grupos focais,
entrevistas, história de vida e análise documental
18,15
. Conforme será discutido posteriormente,
os estudos analisados neste artigo foram do tipo observacional, principalmente, estudos
ecológicos, transversais e estudos de caso com o objetivo de geração de diagnósticos e
hipóteses a partir de etapas iniciais de implementação do PSF.
A partir dos critérios apresentados, procedeu-se a busca das pesquisas e dos relatórios por meio
da página do Ministério da Saúde (http://www.saude.gov.br), no link “Saúde da Família”. Na
página do DAB entradas específicas para “Acompanhamento e Avaliação”, “Publicações”,
“Estudos e Pesquisas”. Também foi realizada busca na base de dados da Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS: http://www.saudepublica.bvs.br) considerando-se as publicações do “Portal de
Bases Bibliográficas” no “Acervo da Biblioteca do Ministério da Saúde” a partir dos
descritores: “Atenção Básica à Saúde”, “Avaliação do Programa Saúde da Família” e
“Programa Saúde da Família”. O objetivo foi constatar se havia alguma pesquisa em avaliação
da ABS realizada no âmbito do MS que não estava disponível em sua página. Foram
consultados também documentos institucionais como Editais de Pesquisa e Termos de
Referência relacionados ao tema.
Neste artigo é descrito o conjunto dos estudos em avaliação e monitoramento da ABS
financiados e/ou realizados pelo MS entre os anos de 2000 e 2006, mas analisados apenas
aqueles finalizados até 2006 e cujos relatórios finais ou síntese foram publicizados no período.
Cabe destacar que eventuais pesquisas podem ter sido realizadas entre estes anos, mas não
divulgadas nas fontes de informação consultadas neste artigo. Para análise alguns aspectos das
pesquisas selecionadas são destacados: objetivos, desenho metodológico, atores considerados e
divulgação dos resultados. O critério utilizado para analisar um dos aspectos da disseminação
dos resultados das pesquisas foi a busca de artigos científicos gerados com base nos estudos
selecionados em periódicos considerados pelo próprio MS como publicações de interesse para
os temas de avaliação e monitoramento da ABS. A busca foi realizada a partir dos nomes dos
pesquisadores, coordenadores e/ou equipe de coordenação responsáveis pela condução do
trabalho. Foram selecionados cinco periódicos nacionais cujos mecanismos de pesquisa on-line
permitem a busca por autores: Cadernos de Saúde Pública, Ciência & Saúde Coletiva, Revista
Brasileira de Saúde Materno Infantil, Revista de Saúde Pública e Revista Saúde em Debate.
Por fim, apresenta-se uma categorização dos estudos a partir de alguns elementos da tipologia
proposta por Novaes
19
que por meio de critérios busca orientar conceitual e metodologicamente
40
a construção de processos de avaliação, quais sejam: objetivo da avaliação, posição do
avaliador, enfoque priorizado, contexto, forma de utilização da informação produzida, tipo de
juízo formulado e temporalidade da avaliação.
R
ESULTADOS
Foi identificado um total de 110 pesquisas classificadas em três grandes grupos: estudos
“Linha de Base do Programa de Expansão e Consolidação do Saúde da Família (Proesf)”
selecionados por edital público, estudos de fomento à pesquisa acadêmica selecionados por
meio do “Edital MCT-CNPq/MS-DAB/SAS – 49/2005 – Pesquisas Avaliativas em Atenção
Básica à Saúde” e “Estudos de apoio à expansão do PSF”. No primeiro grupo encontram-se 14
lotes de pesquisa distribuídos entre todos os municípios com população acima de 100.000
habitantes, concluídas mas com divulgação parcial de resultados até o ano de 2006. O
segundo é composto por 84 pesquisas de apoio a teses de doutorado, dissertações de mestrado e
auxílio à pesquisa, iniciadas porém não concluídas no período analisado. O terceiro grupo está
conformado por 12 pesquisas finalizadas cujos relatórios finais ou síntese estão disponíveis nas
bases de dados consultadas. Do conjunto de estudos, apenas um foi excluído da análise por
tratar-se de uma validação de instrumento para medida da qualidade em saúde da família, logo
não atendia aos requisitos determinados para seleção dos trabalhos.
Estudos Linha de Base do Programa de Expansão e Consolidação do Saúde da Família
No ano de 2004 foi realizada chamada pública pelo Departamento de Atenção Básica por meio
de Termo de Referência para o desenvolvimento de estudos avaliativos Linhas de Base
como parte de um dos componentes do Programa de Expansão e Consolidação do Saúde da
Família, financiado pelo Banco Mundial. O propósito da realização dos estudos foi subsidiar e
fortalecer a institucionalização do monitoramento e avaliação em ABS, o planejamento local
em saúde e compreender os diversos “movimentos de expansão” e possíveis transformações
decorrentes da implantação da Estratégia Saúde da Família. Além disso, a constituição de um
amplo estudo de linha de base possibilitaria o acompanhamento subseqüente dos resultados e
impactos do programa. Ao envolver diferentes atores na realização dos estudos como as
secretarias estaduais e municipais de saúde, Pólos de Educação Permanente e instituições de
ensino e pesquisa, buscou-se estimular a co-responsabilidade e unificação de esforços
20
.
As propostas apresentadas deveriam ser estruturadas em quatro dimensões: político-
institucional; organizacional da atenção; do cuidado integral; e do desempenho dos sistemas de
41
saúde, avaliadas por meio de estudos quantitativos e qualitativos. A divulgação de resultados
parciais aponta a realização desde estudos ecológicos com o uso de dados secundários, a
estudos transversais e estudos de caso cuja base populacional foi composta por áreas com e
sem PSF (quadro 1). Destacou-se a pluralidade de fontes de dados como questionários,
entrevistas, documentos e sistemas de informação, até grupos focais. As avaliações
consideraram a perspectiva de diversos atores: gestores, profissionais, usuários do sistema de
saúde e representantes do controle social. Alguns estudos incorporaram também representantes
do legislativo e executivo municipais
21
.
Conforme demonstra o quadro 1, os estudos foram realizados em todos os municípios
brasileiros com população superior a 100.000 habitantes, agrupados em 14 lotes, e executados
por oito instituições de pesquisa, localizadas em seis estados
22
. O Termo de Referência previa
também o compartilhamento das experiências de pesquisa, tanto das metodologias utilizadas
quanto dos resultados alcançados entre as diversas instituições acadêmicas, além de
publicações e divulgação em seminários e outros eventos. Embora todos tenham sido
finalizados até o ano de 2006, os relatórios finais ainda não foram disponibilizados pelo MS no
período abarcado por este trabalho. Contudo, resultados parciais deste conjunto de pesquisas
foram publicados em número temático de periódico nacional
23
.
42
Quadro 1 – Estudos Linha de Base do Programa de Expansão e Consolidação do Saúde da Família (Proesf), descrição preliminar segundo
metodologia utilizada – Brasil – 2006
Lotes Instituição
Executora
Municípios Tipo de estudo Desenho predominante do
estudo
Fontes de informação
principais
Atores envolvidos
Sudeste 1
(ES, MG)
Centro de Estudos
e Pesquisa em
Saúde
Coletiva/UERJ
31 Quantitativo e
Qualitativo
Estudos de Caso, Transversal e
Ecológico
Documentos, dados SIS,
entrevista semi-estruturada,
observação direta, fluxograma,
questionário, análise de registros
Usuários, gestores/técnicos,
profissionais
Sul 2 (SC
RS) e
Nordeste 2
(RN, PB, PE,
AL, PI
Universidade
Federal de Pelotas
41 Quantitativo Estudo Transversal Documentos, entrevista,
questionários, grupo de
discussão, registro de
atendimento
Usuários, gestores/técnicos,
profissionais, conselheiros
de saúde
Norte 2 (PA,
AP) 3 (TO,
MA)
Fundação
CESGRANRIO
16 Quantitativo e
Qualitativo
Estudo de Caso, Transversal,
Acreditação, Georeferenciamento
Documentos, dados SIS,
entrevista estruturada,
questionário, instrumento de
acreditação de UBS
Usuários, gestores/técnicos,
lideranças políticas,
comunitárias e de saúde,
profissionais
Sudeste 2
(RJ), Norte 1
(AC, AM,
RR, RO)
Escola Nacional de
Saúde
Pública/Fiocruz
27 Quantitativo e
Qualitativo
Estudo de caso, Transversal e
Ecológico
Dados SIS, Censo/IBGE,
IDH-M, prontuários,
questionário, observação, grupo
focal
Usuários, gestores/técnicos,
profissionais
Sul 1 (PR,
SC)
Universidade
Estadual de
Maringá
20 Quantitativo e
Qualitativo
Estudo de caso e Transversal Documentos, produção
científica, entrevista estruturada,
observação, entrevista em grupo
Usuários, gestores/técnicos,
vereadores, profissionais,
conselheiros de saúde
Centro-Oeste
1 (DF, MT) e
2 (GO, MS)
Núcleo de Estudos
da Saúde Coletiva/
Faculdade de
Medicina/UFMG
13 Quantitativo e
Qualitativo
Estudo de caso e Transversal Documentos, IBGE, IDH-M,
entrevista semi-estruturada,
questionário
Usuários, gestores/técnicos,
profissionais, conselheiros
de saúde, legislativo
Nordeste 1
(BA, SE, CE)
Universidade
Federal do Rio
Grande do Norte
21 Quantitativo e
Qualitativo
Estudo de caso, Ecológico e
Transversal
Documentos, SIS, entrevista,
questionário, observação, grupo
focal
Usuários, gestores/técnicos,
profissionais
Sudeste 3, 4
e 5 (SP)
FFM/USP
(Consórcio
Medicina USP)
62 Quantitativo e
Qualitativo
Estudo de caso e transversal Documentos, SIS, IBGE,
SEADE, questionário, entrevista,
grupo focal
Usuários, gestores/técnicos,
profissionais, conselheiros
de saúde
Fonte: Seminário de Discussão dos Estudos de Linha de Base em Saúde da Família
21
, Informe da Atenção Básica nº 27
22
, Ciência & Saúde Coletiva
23
– Elaboração própria.
43
Edital MCT-CNPq/MS- DAB/SAS – Nº 49/2005
Outra importante iniciativa do MS foi o Edital MCT-CNPq/MS-DAB/SAS 49/2005
Pesquisas Avaliativas em Atenção Básica à Saúde que financia uma série de projetos com
objetivo de expandir o conhecimento básico e aplicado sobre avaliação da atenção básica para
fortalecer a institucionalização destas ações no SUS. Foram aprovados 84 projetos de pesquisa
sendo 18 na modalidade apoio à dissertação de mestrado, 18 de apoio à tese de doutorado e 48
na modalidade auxílio à pesquisa. As propostas deveriam contemplar um dos cinco grandes
eixos referidos no edital: avaliação da gestão e reorganização da atenção básica em municípios
acima de 100.000 habitantes; complexo produtivo em saúde e financiamento da atenção básica;
institucionalização da avaliação na atenção básica no âmbito do SUS; desenvolvimento e
validação de metodologias de análise e avaliação da atenção básica; e processo de trabalho em
saúde
24
. Além do caráter indutivo desempenhado pelo MS ao financiar este conjunto de
pesquisas, está previsto a constituição de grupos de acompanhamento dos estudos a fim de
promover maior interelação entre pesquisadores e instâncias gestoras locais
14.
Embora as pesquisas ainda estejam em fase de execução sendo o prazo máximo previsto de
dois anos, é possível mapear alguns aspectos destes estudos a partir da análise dos resumos das
propostas disponibilizados na página do MS
25
. A tabela 1 mostra que a maior parte dos estudos
enfocou o tema da gestão, principalmente na modalidade de auxílio à pesquisa. Este grupo
englobou estudos de financiamento, processo de trabalho, análises de implantação, acesso,
utilização de serviços, integralidade, entre outros, abordados principalmente por meio de
estudos quantitativos e qualitativos. Entre as 18 teses de doutorado, também há predomínio das
avaliações na área de gestão. Entre as dissertações de mestrado, destacaram-se as avaliações de
programas. Foram agrupados na área temática “programas” 30 estudos de saúde materno-
infantil (8), que são a maioria, saúde bucal (5), hipertensão/diabetes (4), tuberculose (3), saúde
mental (3), saúde do idoso (2), saúde do trabalhador (2), hanseníase (1), saúde da pessoa
portadora de deficiência (1) e alimentação e nutrição (1). Aproximadamente 42% dos projetos
aprovados associaram abordagens quantitativas e qualitativas, sendo a menor proporção de
estudos apenas quantitativos encontrados entre as teses e dissertações. Ainda que o Edital seja
voltado a pesquisas avaliativas em ABS algumas propostas trataram de investigações acerca da
percepção e crença dos profissionais sobre práticas em saúde, desenvolvimento de
competências e construção de modelos teóricos.
44
Tabela 1 Pesquisas financiadas pelo Edital MCT-CNPq/MS-DAB/SAS 49/2005
segundo área temática e tipo de estudo – Brasil – 2006
Área temática Tipo de Estudo Modalidade
Total
Gestão Avaliação Controle
Social
Programas EPS* Quant. Qualit. Quant/
Qualit
Doutorado 18 9 - - 8 1 3 8 7
Mestrado 18 6 3 2 7 - 2 8 8
Auxílio à
Pesquisa
48 20 8 4 15 1 12 16 20
Total
84 35 11 6 30 2 17 32 35
Fonte: Projetos em Andamento – Edital CNPq
25
- Elaboração própria
* Educação Permanente em Saúde
Estudos de apoio à expansão do PSF
Em relação aos estudos financiados e/ou realizados pelo MS, concluídos e com relatórios finais
ou relatórios ntese divulgados entre os anos de 2000 e 2006, foram identificados 11 que
atendem à classificação adotada neste trabalho para caracterizar as pesquisas em “avaliação da
atenção básica”, conforme mostra o quadro 2. Estes estudos foram classificados como de apoio
à expansão do PSF e, na maior parte das vezes, realizados por meio de demandas esparsas a
instituições acadêmicas, por consultores contratados ou técnicos do próprio MS. A maioria dos
estudos foi realizada entre os anos de 2001 e 2002, que coincide com período de grande
expansão da cobertura por equipes de saúde da família. Os principais aspectos abordados foram
referentes ao processo de implantação e monitoramento do PSF, embora sejam encontrados
estudos sobre temas específicos como promoção da saúde e educação permanente. As
instituições acadêmicas executoras encontram-se, predominantemente, na região Sudeste,
principalmente no eixo Rio de Janeiro e São Paulo.
Quanto aos objetivos propostos
Para o conjunto das 11 pesquisas analisadas, em relação ao objetivo principal, observou-se que
a maior parte, ou seja, quatro estudos, buscaram avaliar e monitorar o processo de implantação
do PSF no país a partir da caracterização dos municípios quanto às condições de gestão, rede
de serviços de saúde, posição de atores-chave, maturidade institucional, mecanismos de
referência e contra-referência, infra-estrutura das unidades e processo de trabalho das equipes
para identificar, principalmente, condições de contexto que favoreciam ou dificultavam a
substituição do modelo de atenção
26, 27, 28, 29
.
Foram encontrados três estudos com foco na determinação de padrões de custo e financiamento
do PSF a fim de avaliar a suficiência e montante de recursos necessários à expansão do
45
programa. A avaliação do impacto da descentralização dos recursos financeiros por meio do
Piso de Atenção Básica (PAB) também foi alvo destes estudos
30, 31, 32
.
Tanto as análises de implantação quanto as avaliações de custo e financiamento foram
realizadas entre os anos de 2000 e 2002 e buscaram oferecer elementos para a subsidiar a etapa
de expansão do Saúde da Família, principalmente nos municípios com população acima de
100.000 habitantes, nos quais, historicamente, foram identificadas as maiores dificuldades em
relação ao aumento de cobertura. Entre as principais barreiras identificadas para expansão
destacou-se o modelo de transferência de recursos financeiros em função da faixa de cobertura,
a convivência paralela de diferentes modelos de atenção básica, a ausência de mecanismos de
integração da rede, entre outras.
Foi realizado também um conjunto de estudos para avaliar os Pólos de Educação Permanente
em Saúde com o objetivo de construir tipologias, analisar a estrutura organizacional, a
articulação interinstitucional, as estratégias educacionais, o projeto de ensino e a relação entre
o projeto educacional dos Pólos e as necessidades operacionais das equipes de saúde da
família
33, 34
.
Entre os 11 estudos finalizados e disponíveis para consulta, um descreveu e analisou
experiências de promoção da saúde em atenção básica desenvolvidas por equipes de saúde da
família, bem como as principais representações sociais acerca do tema. Identificou-se
condições favoráveis à replicabilidade e sustentabilidade destas práticas em diferentes
contextos sociais e demográficos
35
.
Um estudo descreveu a cobertura do PSF no país entre os anos de 1998 a 2004, e a evolução de
indicadores nas áreas de saúde da criança, mulher, adulto segundo cobertura pela Estratégia
Saúde da Família e também pelo IDH municipal. O trabalho apresentou tendências de
comportamento de alguns indicadores de saúde relacionando-os à cobertura pelo programa,
ressaltando-se, contudo, os limites deste tipo de abordagem em função do impacto de fatores
socioeconômicos, demográficos, políticos e culturais na determinação das condições de vida e
situação de saúde, além da própria mobilidade em relação à cobertura pelo PSF
36
.
Sobre as metodologias utilizadas
Conforme mostra o quadro 2, em relação às metodologias utilizadas predominaram as
abordagens quantitativas. Entre os 11 estudos selecionados, sete foram estudos quantitativos do
tipo estudo ecológico, estudo transversal e estudo de caso. Consideram-se estudos ecológicos
46
aqueles nos quais a unidade de análise é uma determinada população ou grupo de pessoas
pertencentes a uma área geográfica delimitada, como por exemplo, um estado ou um
município, e que utilizam como fonte de informação bases de dados nacionais
37
. Nos estudos
ecológicos analisados as principais fontes de dados foram os sistemas nacionais de informação
do SUS como o SIA, SIH, SINASC, SIAB, PNI, SIOPS e o SIM; o Censo Demográfico 2000
do IBGE e as estimativas populacionais para os anos seguintes; e o Atlas do Desenvolvimento
Humano no Brasil.
Os estudos classificados como transversais caracterizam-se pela observação direta de
determinado número de indivíduos em uma única oportunidade cujo recurso de medida,
geralmente, é o questionário
38
. Já os estudos de caso buscam responder a questões do tipo
“como” e “por que”, com foco em fenômenos inseridos em contexto da vida real, onde o
pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos e cujo objetivo é contribuir para o
conhecimento de fenômenos individuais, organizacionais, sociais, políticos e de grupos
39
. Seu
desenho implica incorporação de metodologias quantitativas e qualitativas e de fontes de
informação diversas. Nas pesquisas analisadas o principal instrumento utilizado para a coleta
de dados primários tanto nos estudos transversais como nos estudos de caso foi o questionário
de autopreenchimento ou aplicado por pesquisadores de campo a gestores do SUS,
profissionais das equipes, representantes do controle social e famílias usuárias dos serviços de
saúde. Entre as fontes de informação dos estudos de caso encontraram-se também entrevistas
semi-estruturadas e observação participante.
Dos sete estudos quantitativos analisados, quatro foram classificados como de monitoramento,
ou seja, caracterizados pela aplicação de critérios e normas ao acompanhamento de
determinada condição
40
. “O programa de saúde da família: evolução de sua implantação no
Brasil”
26
foi um estudo ecológico que analisou os 3.902 municípios que haviam implantado o
PSF até dezembro de 2001. Variáveis e indicadores da situação socioeconômica e demográfica,
gestão, financiamento, produção ambulatorial e hospitalar, implantação e cobertura pelo PSF
foram acompanhados no período de 1998 a 2001.
Realizada entre os anos de 2000 e 2001, a pesquisa “Indicadores de monitoramento da
implantação do PSF em grandes centros urbanos”
29
por meio de um estudo ecológico cuja
unidade de análise também foi o município com população acima de 100.000 habitantes,
propôs a construção de um banco de indicadores para monitorar o desempenho da atenção
básica a partir da caracterização socioeconômica e demográfica, da trajetória dos sistemas de
saúde e da criação de tipologias de município com e sem PSF. Neste mesmo estudo, para
47
identificar estratégias e dificuldades para implementação do programa foi realizado inquérito
com secretários municipais de saúde e coordenadores do PSF.
A “Avaliação Normativa do Programa Saúde da Família no Brasil: monitoramento da
implantação e funcionamento das equipes de saúde da família 2001/2002
28
realizada pelo
próprio MS, foi um estudo transversal de caráter censitário desenvolvido em todos os
municípios com equipe de saúde da família entre os anos de 2001 e 2002, com aplicação de
questionário para profissionais de saúde a fim de identificar aspectos da implantação, infra-
estrutura da unidade, processo de trabalho, acesso aos serviços, procedimentos de referência e
recursos humanos.
O quarto trabalho classificado como de monitoramento - “Saúde da Família no Brasil: uma
análise de indicadores selecionados 1998-2004”
36
também realizado no interior do MS, foi
um estudo ecológico de caráter exploratório cuja unidade de análise foi o município. Ao
contrário dos três estudos anteriores que investigaram questões relativas à implantação do PSF,
este trabalho objetivou monitorar a cobertura pelo programa buscando correlacioná-la a
possíveis mudanças em indicadores de saúde reconhecidamente sensíveis às ações de atenção
básica.
Outros dois estudos de caso com abordagem quantitativa: “Determinação e avaliação do custo
do PSF”
30
e “Custo e avaliação de impacto da implantação da parte fixa do PAB”
31
desenvolveram análises de custos com utilização de questionário e dados dos sistemas
nacionais de informação. O primeiro, realizado entre os anos de 2000 e 2001, por meio do
preenchimento de questionários por técnicos das prefeituras, secretarias municipais de saúde e
profissionais das equipes, calculou os custos das ações desenvolvidas pelo PSF, estimando-se
os valores necessários para atingir cobertura de 80 milhões de habitantes. O segundo estudo,
realizado entre 2001 e 2002, buscou estimar os custos dos itens financiados pela parte fixa do
PAB a fim de analisar a suficiência dos recursos repassados pelo MS e os efeitos do incentivo
na produção ambulatorial dos municípios.
A pesquisa “A concepção dos Pólos como recurso institucional de capacitação, formação e
educação permanente de pessoal para Saúde da Família”
34
, também de abordagem quantitativa,
mediante aplicação de questionário para secretários municipais de saúde, profissionais do PSF
e famílias usuárias, analisou as atividades desenvolvidas pelos Pólos de Educação Permanente
e as necessidades detectadas pelas equipes de saúde.
Apenas dois estudos utilizaram exclusivamente abordagens qualitativas. A pesquisa “Formação
de profissionais para Saúde da Família: avaliação dos Pólos de Capacitação, Formação e
48
Educação Permanente de pessoal para o PSF”
33
por meio de entrevista semi-estruturada e
análise documental buscou caracterizar os Pólos de Educação Permanente de dez estados
quanto às atividades desenvolvidas, relações interinstitucionais, relação Pólo/PSF e as
estratégias educacionais. O estudo “Promoção de Saúde na Atenção Básica no Brasil”
35
,
realizado em 2005, analisou a sustentabilidade das práticas de promoção por meio da
intersetorialidade, participação social, acesso a bens e serviços, educação em saúde e
desenvolvimento de condições de vida saudáveis.
Dos 11 estudos, dois utilizaram metodologias qualitativas e quantitativas. A pesquisa “Análise
de Reestruturação dos modelos assistenciais de saúde em grandes cidades: padrões de custo e
formas de financiamento”
32
desenvolveu estudo ecológico de caráter exploratório em
municípios com população acima de 100.000 habitantes e estudos de caso em municípios, por
meio de entrevistas semi-estruturadas e análise documental. Assim como os dois outros estudos
de custo mencionados, também analisou estratégias de financiamento e padrões de custos
necessários à substituição do modelo assistencial. Por fim, “Saúde da Família: avaliação da
implementação em dez grandes centros urbanos”
27
realizado entre os anos de 2000 e 2001,
apresentou estudos em profundidade de grandes centros urbanos a partir de estudo transversal
com aplicação de questionários para profissionais do PSF e famílias usuárias; e entrevistas
semi-estruturadas com gestores das secretarias municipal e estadual de saúde e representantes
dos conselhos municipais para identificar elementos facilitadores e limitantes à implementação
do PSF considerando-se o estabelecimento de vínculos entre ESF e a comunidade, substituição
do modelo de atenção à saúde e articulação com a rede de serviços.
Quanto aos atores privilegiados
Conforme mostra o quadro 2, entre as pesquisas que coletaram dados primários, tanto por meio
de entrevistas semi-estruturadas quanto pela aplicação de questionários, observou-se que os
atores privilegiados foram os gestores e técnicos das secretarias municipais de saúde,
consultados em oito dos nove estudos que utilizaram esta fonte de dados. Técnicos e
representantes dos Pólos de Educação Permanente foram entrevistados em uma pesquisa
33
. Os
componentes da equipe de saúde da família foram entrevistados em seis estudos. Nesta
categoria destacaram-se os profissionais de nível superior, principalmente médicos e
enfermeiros. Apenas três estudos incorporaram profissionais de nível médio e agentes
comunitários de saúde (ACS). Os usuários foram consultados em três pesquisas e
representantes do Conselho Municipal de Saúde (CMS) em apenas dois estudos.
49
Quadro 2 – Pesquisas realizadas e/ou financiadas pelo Ministério da Saúde em avaliação da Atenção Básica segundo instituição
executora, metodologia utilizada e atores envolvidos – 2000 a 2006 – Brasil
Fontes de informação Título do Estudo e Instituição
Executora
Tipo de estudo Desenho
predominante
do estudo
Dados primários Dados secundários
Atores envolvidos
Promoção da Saúde na Atenção
Básica no Brasil
(NESC/FM/UFMG)
Qualitativo Estudo de caso Observação participante,
entrevista semi-estruturada
Documentos Usuários, profissionais,
conselheiros de saúde,
gestores/técnicos
O programa de saúde da família:
evolução de sua implantação no
Brasil (ISC/UFBA)
Quantitativo Estudo Ecológico
_ SIAB, SIA, SIH, SINASC, SIM, Censo
Demográfio 2000 e estimativas
populacionais – IBGE
_
Saúde da Família no Brasil: uma
análise de indicadores
selecionados – 1998-2004
(DAB/MS)
Quantitativo Estudo Ecológico _ SIAB; Censo Demográfico 2000/IBGE;
Atlas de Desenvolvimento Humano no
Brasil; SIM; SINASC; PNI; SIH
_
Saúde da Família: avaliação da
implementação em dez grandes
centros urbanos (ENSP/Fiocruz)
Qualitativo e
Quantitativo
Estudo de caso e
Transversal
Entrevista semi-estruturada,
questionário
Documentos e relatórios produzidos pela
SMS, Censo Demográfico 2000/IBGE,
SIM, SIH, SIA, SIAB, SIOPS
Usuários, profissionais,
conselheiros de saúde,
gestores/técnicos
Avaliação Normativa do PSF no
Brasil: monitoramento da
implantação e funcionamento das
ESF: 2001-2002 (DAB/MS)
Quantitativo Estudo
Transversal
Questionário, roteiro de
observação
_
Profissionais
Determinação e avaliação do custo
do PSF (FGV/EPOS Health
Consultants)
Quantitativo Estudo de caso e
Transversal
Questionário _ Profissionais,
gestores/técnicos
Indicadores de monitoramento da
implantação do PSF em grandes
centros urbanos
(NEEP/UNICAMP)
Quantitativo Estudo
Transversal e
Ecológico
Questionário
Censo 2000 IBGE, SIA, SIH, SIAB, SIA,
PNI, SIM, SINASC
Gestores/técnicos
Custo e avaliação de impacto da
implantação da parte fixa do
Piso de Atenção Básica
(ENSP/Fiocruz)
Quantitativo Estudo de caso e
Transversal
Questionário AMS/IBGE 1992/1999; SIA; SIM;
SINASC;
Profissionais,
gestores/técnicos
50
Continuação: Quadro 2 – Pesquisas realizadas e/ou financiadas pelo Ministério da Saúde em avaliação da Atenção Básica
segundo instituição executora, metodologia utilizada e atores envolvidos – 2000 a 2006 – Brasil
Fontes de informação Título do Estudo e Instituição
Executora
Tipo de estudo Desenho
predominante
do estudo
Dados primários Dados secundários
Atores envolvidos
Análise de Reestruturação dos
modelos assistenciais de saúde em
grandes cidades: padrões de custo e
formas de financiamento
(IMS/UERJ)
Qualitativo e
Quantitativo
Estudo de caso e
Ecológico
Entrevista semi-estruturada Documentos e relatórios produzidos pelas
SMS; SIOPS; SAI, SIH, IBGE
Gestores/técnicos
Formação de profissionais para SF:
avaliação dos Pólos de Capacitação,
Formação e Educação Permanente
de pessoal para o PSF
(NEEP/UNICAMP)
Qualitativo Estudo de caso Entrevista Análise documental Usuários, profissionais,
gestores/técnicos
A concepção dos Pólos como
recurso institucional de
capacitação, formação e educação
permanente de pessoal para
Saúde da Família
(NEEP/UNICAMP)
Quantitativo Estudo de caso e
transversal
Questionário _ Gestores/técnicos
Fonte: Departamento de Atenção Básica - Estudos e Pesquisas – Elaboração própria.
51
Estratégias de divulgação
Entre as 11 pesquisas analisadas neste artigo, quatro foram encontradas em publicações impressas
pelo próprio MS
27, 28, 32, 36
. Os exemplares das pesquisas foram distribuídos para secretarias
municipais e estaduais de saúde e em eventos científicos promovidos em parceria com instituições
acadêmicas. Além das publicações impressas, os relatórios de todas as pesquisas analisadas e suas
respectivas sínteses encontram-se disponíveis na página eletrônica do Departamento de Atenção
Básica do MS.
Para analisar mais uma das estratégias de divulgação dos resultados dos estudos foi realizada
busca em cinco periódicos nacionais por meio dos nomes dos técnicos e coordenadores e/ou
equipes de coordenação para identificar artigos publicados a partir das pesquisas gerados até o
final do ano de 2007. Foram encontrados quatro artigos: um nos Cadernos de Saúde Pública e um
na Revista Saúde em Debate referentes aos resultados do estudo “Saúde da Família: avaliação da
implementação em dez grandes centros urbanos”
27
; e dois artigos publicados no periódico Ciência
& Saúde Coletiva a partir da pesquisa “Custo e avaliação de impacto da implantação da parte fixa
do Piso de Atenção Básica – PAB”
31
.
Categorização dos estudos
Novaes
19
, a partir de revisão da literatura internacional na área de avaliação de programas, serviços
e tecnologias em saúde, apresenta uma ntese das principais referências conceituais e
metodológicas que orientam processos de avaliação. Neste artigo buscou-se categorizar os estudos
analisados segundo alguns elementos da tipologia proposta pela autora, ressaltando-se, que em
função da própria complexidade do objeto, cada categoria adotada representa formas dominantes,
mas não exclusivas. Além disso, não haveria modalidades melhores ou piores, apenas opções
conceituais e metodológicas legitimadas pelo conhecimento científico ou por meio de práticas.
O quadro 3 mostra uma classificação dos 11 estudos em análise a partir dos seguintes critérios:
“objetivo da avaliação”, considerando-se a produção de conhecimento científico ou conhecimento
para tomada de decisão ou gestão; “posição do avaliador” que poderá ser interno ou externo;
“enfoque priorizado” voltado à caracterização e/ou compreensão de determinada intervenção ou à
quantificação e medidas de impacto; o “contexto” da avaliação caracterizado como natural ou
controlado; quanto à “utilização da informação produzida” dirigida à demonstração, informação ou
para a gestão, com o desenvolvimento ou aprimoramento de indicadores; o “tipo de juízo
52
formulado” voltado à comprovação ou negação de hipóteses, recomendações ou normas; e quanto
à “temporalidade da avaliação” que poderá ser pontual, corrente ou contínua. Considerando-se
ainda a combinação entre as características e variáveis dos processos de avaliação, Novaes
19
identifica três grandes tipologias: pesquisa de avaliação ou investigação avaliatória, avaliação para
decisão e avaliação para gestão.
Observou-se que a maior parte dos estudos poderia ser caracterizada como “avaliação para
decisão”, cujos objetivos foram, principalmente, subsidiar os processos decisórios referentes à
expansão da Estratégia Saúde da Família. Quanto ao enfoque priorizado predominaram estudos
para caracterizar e quantificar o objeto de análise, com utilização de metodologias quantitativas e
dados produzidos a partir da aplicação de questionários e dos bancos nacionais de informação.
Também foram empreendidos estudos voltados à compreensão em profundidade de casos
específicos. Conforme ressalta a autora, a própria complexidade das avaliações voltadas aos
processos decisórios demanda a combinação entre abordagens quantitativas e qualitativas em
contextos preferencialmente naturais.
Outra característica da avaliação voltada para decisão é a geração de informações mais
sistematizadas do que aquelas existentes previamente e cujo valor está em sua capacidade de gerar
recomendações positivas, capazes de contribuir para a solução de problemas identificados. Estes
estudos são marcados por seu caráter pontual, uma vez que, são realizados para responder a
demandas específicas e localizadas em determinado tempo.
Dos 11 estudos analisados, quatro foram classificados como “avaliação para gestão”, ou seja,
voltados ao aprimoramento da intervenção avaliada com utilização predominante de metodologia
quantitativa. Em todos eles buscou-se a caracterização de uma condição já dada a partir do
monitoramento de indicadores ou da relação entre eles, principalmente no que se referiu a
características da implantação e cobertura do PSF. Novaes
19
ressalta que neste tipo de estudo a
presença do avaliador interno é condição necessária, contudo, entre as quatro pesquisas
classificadas nesta categoria, observou-se dois estudos empreendidos exclusivamente por agentes
externos. Quanto à informação produzida, destacou-se o desenvolvimento ou aprimoramento de
indicadores existentes. Outro resultado desejado neste tipo de estudo é o acompanhamento e
monitoramento destes indicadores nos processos de gestão. Para isso, deveriam ter um caráter
contínuo e integrado em detrimento de estudos pontuais.
53
Quadro 3 Pesquisas realizadas ou financiadas pelo Ministério da Saúde em avaliação da Atenção Básica segundo critérios
selecionados – 2000 a 2006 – Brasil
Título do Estudo Objetivos Posição do
avaliador
Enfoque Contexto Utilização da
Informação
Juízo formulado Temporalidade
Promoção de Saúde na Atenção Básica no Brasil Tomada de
decisão
Externo Caracterização
Compreensão
Natural Informação Recomendações Pontual
O PSF: evolução de sua implantação no Brasil Gestão Externo Caracterização
Quantificação
Natural Instrum. p/ gestão Normas Pontual
Saúde da Família no Brasil: uma análise de
indicadores selecionados – 1998-2004
Gestão Interno Caracterização
Quantificação
Natural Instrum. p/ gestão Normas Pontual
Saúde da Família: avaliação da implementação em
dez grandes centros urbanos
Tomada de
decisão
Externo Caracterização
Compreensão
Natural Informação Recomendações Pontual
Avaliação Normativa do PSF no Brasil:
monitoramento da implantação e funcionamento das
ESF: 2001-2002
Gestão Interno Caracterização
Quantificação
Natural Instrum. p/ gestão Normas Pontual
Determinação e avaliação do custo do PSF Tomada de
decisão
Externo Caracterização
Quantificação
Natural Informação Recomendações Pontual
Indicadores de monitoramento da implantação do
PSF em grandes centros urbanos
Gestão Externo Caracterização
Quantificação
Natural Instrum. p/ gestão Normas Pontual
Custo e avaliação de impacto da implantação da
parte fixa do Piso de Atenção Básica – PAB
Tomada de
decisão
Externo Caracterização
Quantificação
Natural Informação Recomendações Pontual
Análise de Reestruturação dos modelos assistenciais
de saúde em grandes cidades: padrões de custo e
formas de financiamento
Tomada de
decisão
Externo Caracterização
Quantificação
Natural Informação Recomendações Pontual
A concepção dos Pólos como recurso institucional de
capacitação, formação e educação permanente de
pessoal para saúde da família
Tomada de
decisão
Externo Caracterização
Quantificação
Natural Informação Recomendações Pontual
Formação de profissionais para saúde da família:
avaliação dos Pólos de Capacitação, Formação e
Educação Permanente de pessoal para o PSF
Tomada de
decisão
Externo Caracterização
Compreensão
Natural Informação Recomendações Pontual
Fonte: Elaboração própria a partir de categorias sugeridas por Novaes
19
54
D
ISCUSSÃO
O mapeamento das pesquisas financiadas ou realizadas pelo Ministério da Saúde confirma a
assertiva de que é considerável o número de estudos no campo da avaliação e monitoramento
da ABS no Brasil induzidos pelo gestor federal. Entre pesquisas concluídas e em andamento
foi localizado um total de 109 estudos com utilização de metodologias e fontes de informações
diversas. Não menos importante é a influência de organismos internacionais como o Banco
Mundial, provedor de assistência técnica e financeira de reconhecida influência nos países em
desenvolvimento, que incorpora a “capacidade em avaliação” como uma das prioridades para a
gestão do setor público com o objetivo de garantir a sustentabilidade dos programas e como
requisito para a realização de empréstimos
41
. Ao analisar o conjunto das pesquisas é possível
também tecer algumas considerações sobre a evolução do processo de avaliação e da política
nacional de acompanhamento e monitoramento da ABS no país.
Observou-se que os primeiros estudos desenvolvidos entre os anos de 2000 a 2002, focaram,
principalmente, o processo de implantação do PSF com vistas a detectar suas fragilidades e
potencialidades. A análise dos objetivos principais apontou para o predomínio dos temas
relacionados a condições contextuais necessárias à expansão da ESF, em termos institucionais,
financeiros ou de infra-estrutura. Foram realizados estudos de caráter censitário,
principalmente entre os municípios com população acima de 100.000 habitantes, que
ofereceram um amplo conjunto de dados sobre o panorama nacional do programa naquele
momento, até mesmo em relação ao funcionamento e processo de trabalho das equipes. Estes
estudos, em sua maioria, poderiam ser classificados como voltados à tomada de decisão.
Embora Novaes
19
ressalte que neste tipo de avaliação ganha destaque a posição do avaliador
interno em função da utilização das informações produzidas para a tomada de decisão, todos
foram realizados por avaliadores externos provenientes de instituições acadêmicas.
As primeiras pesquisas realizadas constituíram-se principalmente por avaliações de processo
ou de resultados pontuais com finalidade de identificar problemas e estratégias de
enfrentamento. Percebe-se, naquele momento, a ausência de parâmetros que permitissem
comparações de desempenho entre unidades de PSF e unidades ditas tradicionais. Outra
característica parece ter sido a fragmentação na realização das pesquisas, muitas vezes,
realizadas simultaneamente, por diferentes instituições acadêmicas, mas com objetivos e
utilização de estratégias metodológicas semelhantes. Segundo Felisberto
14
o próprio MS
reconhece os limites destas primeiras iniciativas, empreendidas de forma pontual, sem
regularidade de análise dos dados produzidos e, muitas vezes, sem uma definição explícita
55
tanto das diretrizes políticas quanto das estratégias de pesquisa que favorecessem a produção
de conhecimentos necessários a uma ação mais coordenada no campo da avaliação da ABS no
país.
Quanto aos atores privilegiados na produção dos dados primários nas pesquisas analisadas
destacaram-se gestores e técnicos das secretarias de saúde. Embora, conforme mencionado,
este grupo de estudos tenha focado aspectos vinculados à implantação do PSF, chama a
atenção o predomínio da visão de técnicos/gestores e profissionais de saúde de nível superior.
Considerando-se que mudanças promovidas no modelo assistencial objetivam sobretudo a
melhoria das condições de acesso a uma atenção em saúde integral e de qualidade, que se
diferencia do modelo anterior justamente por considerar as necessidades de seus usuários, estes
seriam atores fundamentais a serem considerados desde os primeiros processos avaliativos.
Outro ponto refere-se à divulgação dos resultados das pesquisas. Ainda que, quatro estudos
tenham sido impressos e distribuídos pelo MS, a maior parte encontra-se na forma de relatórios
técnicos, com linguagem e formato de difícil apreensão. As estratégias metodológicas
utilizadas nem sempre estavam descritas de forma clara e objetiva o que dificultou a
classificação dos estudos em relação ao tipo e desenho predominante. Além disso, o pequeno
número de artigos publicados a partir destas pesquisas também poderia ser considerado um
entrave à maior apropriação do conhecimento produzido tanto por gestores, profissionais de
saúde, pesquisadores, estudantes e demais atores interessados. Estudos realizados vêm
apontando as dificuldades na interação entre gestores e pesquisadores, com conseqüências para
a apropriação dos resultados das pesquisas na tomada de decisão. Estes problemas relacionam-
se tanto a características do processo decisório como mudança nos temas prioritários e
valorização de informações diretas; quanto a dificuldades relacionadas ao acesso à Internet e à
utilização de microcomputadores; e também a aspectos relativos ao próprio desenvolvimento
dos estudos. Deste modo, a otimização da influência das pesquisas na gestão poderia ser
conseguida por maior capacidade propositiva dos estudos frente aos problemas apresentados,
produção de evidências sobre a efetividade de diferentes intervenções e de seus impactos sobre
a saúde das populações e, sobretudo, pela apresentação dos resultados de forma compreensível
para gestores e técnicos
42
.
Em relação às questões colocadas, considera-se que o Termo de Referência dos Estudos Linha
de Base, realizados a partir do ano de 2004, representou avanços em relação aos processos
anteriores e, de certo modo, demonstra a maturidade que o campo da avaliação vem atingindo
ao longo do tempo. Embora os resultados ainda não tenham sido divulgados na íntegra, o
56
próprio Termo de Referência incorpora elementos que parecem superar algumas debilidades
dos processos anteriores como a avaliação de impacto, oficinas e outras estratégias para
compartilhamento das metodologias e resultados encontrados, o envolvimento de atores das
secretarias municipais e estaduais nas etapas de desenvolvimento dos estudos e a capacitação
de técnicos destas instâncias nas funções de avaliação e monitoramento. Outro ponto que pode
ser ressaltado como bastante positivo é a incorporação de propostas de avaliação que
consideraram o ponto de vista dos diversos stakeholders, entre os quais os beneficiários da
atenção. Em relação ao processo de divulgação destes estudos, a maior parte teve resultados
parciais publicados por meio de periódico científico cujos artigos estão disponibilizados na
íntegra em meio eletrônico.
Estas ações tentam responder a obstáculos reconhecidos no processo de apropriação dos
resultados de pesquisa para subsidiar a gestão do SUS. Neste sentido, além de maior
cooperação e apoio entre municípios e instituições acadêmicas no desenvolvimento dos
estudos, o Departamento de Ciência e Tecnologia do MS vem propondo outras estratégias
como a utilização de distintas formas de publicação como livros, revistas temáticas, boletins e
artigos em revistas de ampla circulação, apoio a eventos técnicos e científicos, seminários
temáticos com participação dos atores envolvidos e interessados
42
. Não menos importante, foi
a contratação de instituições de ensino e pesquisa que historicamente não haviam participado
das avaliações em ABS promovidas pelo MS no período analisado. Este aspecto pode ser
considerado um elemento indutor na formação de técnicos e pessoal especializado distribuídos
de forma mais democrática pelas diversas regiões, além de incorporar outras experiências no
desenvolvimento de pesquisas.
Por fim, considera-se que as iniciativas de avaliação empreendidas e induzidas pelo gestor
federal coadunam-se à reestruturação pela qual as diretrizes da política de monitoramento e
avaliação da ABS vêm passando desde o ano de 2003, motivada, sobretudo, pela expansão de
cobertura pela Estratégia Saúde da Família. Neste contexto, a palavra de ordem parece ser
“institucionalização” compreendida como (...) estratégia presente em diversas
ações/atividades, projetos e políticas, com o objetivo explícito de incorporar a avaliação no
cotidiano de gestores e profissionais, partindo de uma visão abrangente dos processos
avaliativos”
14
(p.554). Apesar dos inegáveis esforços do MS na indução de uma cultura
avaliativa nas três esferas de governo do SUS, e da conseqüente colocação do tema da
avaliação na agenda, a questão agora parece ser observar até que ponto todos os esforços
empreendidos produzirão, de fato, elementos capazes de subsidiar as políticas de saúde, o
planejamento local, enfim, os processos decisórios rumo a um sistema de saúde mais
57
equânime, de melhor qualidade e capaz de dar respostas às necessidades de saúde da
população.
R
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60
ARTIGO 2: FORTALECIMENTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE:
ESTRATÉGIA PARA POTENCIALIZAR A COORDENAÇÃO DOS CUIDADOS
V
Patty Fidelis de Almeida
VI
Márcia Cristina Rodrigues Fausto
VII
Lígia Giovanella
VIII
Resumo
Objetivos. Descrever e analisar ações empreendidas em grandes centros urbanos para fortalecer
a Estratégia Saúde da Família (ESF). Parte-se da premissa que os serviços de atenção primária,
fortalecidos em seus atributos essenciais, seriam os mais adequados para assumir a
responsabilidade pela coordenação dos cuidados em saúde.
Métodos. Resultados obtidos em estudos de caso realizados em quatro municípios brasileiros
com base em entrevistas semi-estruturadas com gestores e estudos transversais com aplicação
de questionários a amostras de profissionais e usuários da ESF.
Resultados. Em todos os municípios foram identificadas ações para fortalecer os serviços de
APS com resultados diferenciados sobre acesso e utilização em cada caso. Entre as principais
destacam-se: aumento da oferta de APS com diminuição das barreiras de acesso,
fortalecimento da função de porta de entrada, ampliação da resolutividade (apoio diagnóstico e
terapêutico, matricial, capacitação, supervisão) e articulação entre ações de vigilância e
assistência.
Conclusões. Os municípios investigados apresentam experiências consolidadas de
reorganização do modelo assistencial com base em uma APS fortalecida, aumentando seu
potencial para tornar-se coordenadora dos cuidados. Todavia, para efetivar a função de porta de
entrada e serviço de uso regular são necessárias ações para melhor equalizar atendimento a
demanda programada e espontânea, sendo que a última representa maior desafio à organização
do processo de trabalho das equipes. A conquista de apoio e legitimidade para a ESF é um
tema pendente. Iniciativas para divulgar e promover a ESF são necessárias entre população,
profissionais de todos os níveis e organizações da sociedade civil.
Palavras-chave – Atenção Primária à Saúde, Estratégia Saúde da Família, coordenação
V
Artigo aceito para publicação na Revista Panamericana de Salud Pública
VI
Núcleo de Estudos Político-Sociais em Saúde, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação
Oswaldo Cruz. Correspondência para: [email protected]
VII
Vice-Direção da Escola de Governo em Saúde, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação
Oswaldo Cruz.
VIII
Núcleo de Estudos Político-Sociais em Saúde, Departamento de Administração e Planejamento em Saúde,
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz.
61
I
NTRODUÇÃO
O relatório da Organização Mundial da Saúde publicado em 2008 “Primary Health Care - Now
More Than Ever (1) destacou que as experiências desenvolvidas desde Alma-Ata,
modificaram a perspectiva dos movimentos pró Atenção Primária à Saúde (APS). A concepção
dualista que polarizou Centros de Saúde e hospitais cedeu espaço a abordagens mais
abrangentes que compreendem a APS como coordenadora de uma resposta integral, viabilizada
por meio de uma rede de serviços. Segundo o Relatório, este não é um valor agregado, mas um
atributo essencial da APS. Além da responsabilização pela saúde da população de um dado
território, o papel dos prestadores de atenção primária como coordenadores do acesso aos
demais níveis passa pela outorga das necessárias autoridades administrativa e financeira. É
dependente também do reconhecimento das funções chave, ao interior do sistema de saúde,
exercida pelas equipes de atenção primária (1).
A coordenação dos cuidados pode ser definida como a articulação entre os diversos serviços e
ações relacionados à atenção em saúde de forma que, independentemente do local onde sejam
prestados, estejam sincronizados e voltados ao alcance de um objetivo comum (2-4). Sustenta-
se na existência de uma rede integrada de prestadores de serviços de saúde, de modo que
distintas intervenções sejam percebidas e experenciadas pelo usuário de forma contínua,
adequada às suas necessidades de atenção em saúde e compatível as suas expectativas pessoais
(3,5,6). Segundo Haggerty et al.(7) apesar da importância do tema predomina uma certa
confusão teórica e a utilização indiscriminada dos termos continuidade assistencial,
coordenação, integração de serviços, bem como diversas formas de mensurá-la. De todo modo,
estudos encontram associação positiva entre coordenação e continuidade dos cuidados, alta
qualidade e aumento da eficiência da atenção em saúde
(8).
Medidas voltadas à busca de maior protagonismo da APS e promoção de coordenação são
temas recorrentes e prioritários na agenda do setor saúde europeu (9-10). Segundo Rico,
Saltman e Boerma
(11) reformas empreendidas desde os anos de 1990 voltadas ao
fortalecimento da atenção primária nestes países objetivaram aumentar o poder do primeiro
nível de atenção como coordenador de outros níveis por meio de mecanismos de mercado (GP
fundholding britânico) ou do monopólio do papel de porta de entrada e acesso à atenção
especializada com base em mecanismos de coordenação hierárquica. Reformas direcionadas à
extensão dos serviços providos pela APS incluindo atividades de prevenção e promoção,
cuidados comunitários, execução de procedimentos antes realizados na atenção hospitalar
62
(pequenas cirurgias, diagnósticos, atendimentos de urgência, cuidados paliativos e
acompanhamento pós alta hospitalar), com introdução de equipes multiprofissionais, também
conformaram medidas pró-coordenação implementadas. Inserem-se neste conjunto, ações que
buscam promover melhor integração entre APS, saúde pública e serviços de atenção
comunitária (8,10,11).
Segundo Gérvas e Rico (12)
entre os fatores que incidem sobre a coordenação destacam-se o
incremento do papel de filtro (gatekeeping) dos médicos generalistas em uma concepção
positiva atrelada à gestão e responsabilidade pelo caminho terapêutico do usuário; aumento da
capacidade de resolução da APS por meio da destinação de recursos e ampliação da cesta de
serviços ou por maior acesso a meios diagnósticos e terapêuticos e educação continuada; e
maior prestígio e reconhecimento profissional. De acordo com Ojeda et al. (13) uma atenção
primária forte se caracteriza por ser o primeiro nível assistencial com capacidade de resolução
da maior parte dos problemas de saúde, em tempo oportuno, com acessibilidade e garantia da
continuidade.
Em contexto latinoamericano no qual historicamente concorreram diferentes visões de APS
primeiro nível de atenção, atenção primária seletiva com cesta restrita de ações, estratégia para
organizar o sistema de saúde ou para impactar nos determinantes sociais recente consenso
entre especialistas para construção de um marco analítico para sua avaliação com base em
estratégia canadense, reconhece a coordenação como um dos objetivos da APS (14).
Juntamente com a capacidade de influir sobre os determinantes sociais em saúde mediante
trabalho intersetorial, a coordenação dos cuidados entre os distintos níveis assistenciais foram
considerados componentes essenciais de uma concepção abrangente.
Entende-se que a função
da APS é facilitar a integração entre instituições, profissionais e trabalhadores dos serviços de
saúde para evitar a fragmentação e alcançar atenção integral e integrada. Entretanto,
coordenação, juntamente com o “planejamento dos serviços”, foram os atributos que
alcançaram baixo nível de consenso no que se referiu à clareza e significado do conceito (14).
No Brasil, a importância do tema da coordenação ganhou ênfase pari passu à expansão da
Estratégia Saúde da Família (ESF), que ao final dos anos de 1990 foi assumida pelo governo
brasileiro como proposta para reorganização do sistema de saúde na perspectiva da
implementação de uma APS abrangente. Tal importância também se refletiu no foco mais
recente das pesquisas de avaliação da APS induzidas pelo gestor federal. Os primeiros estudos
desenvolvidos entre os anos de 2000 a 2002 privilegiaram o processo de implantação da ESF
com vistas a detectar fragilidades, potencialidades e condições de contexto que favoreciam
63
e/ou dificultavam sua expansão (15). A partir do ano de 2004 atributos como porta de entrada,
coordenação e longitudinalidade passaram a constituir temas de estudos avaliativos (16-20) e
alvo de políticas específicas como, por exemplo, a criação dos Núcleos de Apoio ao Saúde da
Família (NASF) cujo principal objetivo é fortalecer, ampliar a resolutividade e otimizar a
integração destes serviços à rede (21).
O presente artigo descreve e analisa ações empreendidas em quatro grandes centros urbanos
brasileiros para fortalecer a Estratégia Saúde da Família ao interior da rede de serviços de
saúde por meio de seis dimensões: posição ocupada no sistema de saúde; acesso à Unidade de
Saúde da Família; capacidade de resolução; reconhecimento profissional e social;
descentralização das ações de saúde coletiva para a atenção primária; e conseqüentes reflexos
na utilização dos serviços por parte dos usuários. Partiu-se da premissa que serviços de APS,
pelos atributos que os caracterizam
(22,23), seriam os mais adequados para assumir a
responsabilidade de coordenar o percurso terapêutico do usuário na maior parte dos casos.
Contudo, somente uma APS fortalecida, capaz de mobilizar apoios, recursos políticos,
econômicos, financeiros e humanos, pode ser responsável pela coordenação dos cuidados
(1).
Segundo Starfield et al. (24) a coordenação é positivamente associada com a força da APS.
Neste sentido, medidas para fortalecer a APS correspondem ao mais importante conjunto de
reformas pró-coordenação
(3).
M
ATERIAL E
M
ÉTODOS
Este artigo apresenta parte dos resultados de pesquisa realizada no ano de 2008, denominada
“Estudos de caso sobre a implementação da Estratégia Saúde da Família em grandes centros
urbanos” (25), financiada pelo Ministério da Saúde/Departamento de Atenção Básica. Os
municípios para os estudos de caso foram selecionados de forma intencional de modo a
escolher experiências consolidadas de implantação da ESF, sendo os casos Aracaju, Belo
Horizonte, Florianópolis e Vitória.
Neste artigo são identificadas e analisadas ações empreendidas pelos municípios com objetivo
de “fortalecimento da APS”. O eixo de análise foi operacionalizado por meio de dimensões,
variáveis e indicadores definidos com base em revisão bibliográfica e, estudos de avaliação da
ESF (16-19)
(tabela 1). No Brasil, os princípios gerais e fundamentos da APS e as
especificidades da ESF consolidados na Política Nacional de Atenção Básica (26) refletem uma
certa concepção de atenção primária que incorpora os atributos definidos por Starfield (22)
para caracterizar a robustez da APS.
64
Assim, a constituição de uma APS “forte” é analisada pela posição ocupada no sistema de
saúde, capacidade de resolução, reconhecimento profissional e social, descentralização das
ações de saúde coletiva para a atenção primária e conseqüentes reflexos no acesso e utilização
dos serviços por parte dos usuários. O atributo da integralidade definido por Starfield (22) foi
analisado com foco na oferta de ações capazes de aumentar a resolutividade dos serviços de
APS como distribuição de medicamentos, solicitação de exames diagnósticos diretamente pelo
médico de APS, supervisão e educação continuada para as equipes e acompanhamento de
grupos prioritários (12). Alguns autores inserem o conjunto de ações para integração entre APS
e programas de saúde pública/coletiva como medida capaz de potencializar a coordenação dos
cuidados
pela atenção primária, razão pela qual foi incorporada para análise deste eixo (10,11).
Estudos apontam que maior prestígio e reconhecimento recebido pelos profissionais de APS,
tanto pelos pares quanto pela sociedade, demonstram a força deste nível de atenção e têm
implicações para o papel de coordenação dos cuidados (12,29,30), sendo esta outra dimensão
incorporada à análise (tabela 1).
Os resultados apresentados foram produzidos utilizando-se métodos mistos com diversas
técnicas, fontes de informação e perspectivas. O uso de métodos mistos em avaliação de
políticas é cada vez mais freqüente com propósitos seja de triangulação para melhorar a
validade dos resultados nos quais diferentes métodos são utilizados para medir um mesmo
fenômeno; seja de complementaridade, para uma compreensão mais abrangente de fenômenos
complexos; ou para expansão do escopo do estudo permitindo a análise dos processos de
implementação por meio de métodos qualitativos e a avaliação de resultados por métodos
quantitativos (31).
A descrição e análise das estratégias para fortalecimento da APS empreendidas pela gestão
municipal de saúde foram realizadas com base em análise de 54 entrevistas semi-estruturadas
com Secretários Municipais de Saúde, Coordenadores de Atenção Básica/ESF, gerentes de
Regulação, Controle e Avaliação, à Vigilância em Saúde, às Unidades de Saúde da Família
(USF), além de representantes de entidades profissionais médicas e de enfermagem.
As percepções dos profissionais sobre estratégias empreendidas para fortalecer a APS foram
examinadas com base em questionários auto-aplicáveis a amostras de profissionais das equipes
de Saúde da Família (SF). A população de pesquisa foi composta pelos médicos e enfermeiros
das equipes existentes em Aracaju, Belo Horizonte, Vitória e Florianópolis em 31 de dezembro
de 2007, e pelas famílias cadastradas. Todas as equipes listadas no cadastro utilizado para
seleção em Florianópolis (79) e de Vitória (53) foram incluídas na amostra. Foram
65
selecionadas, com equiprobabilidade, 80 das 127 equipes de Aracaju e 90 das 469 de Belo
Horizonte. Os pesos amostrais foram calculados pelo inverso das probabilidades de inclusão na
amostra. No total, foram entrevistados 224 médicos e 261 enfermeiros (30).
Um inquérito de base domiciliar com aplicação de questionários fechados a amostra de
famílias cadastradas permitiu conhecer a avaliação dos usuários em relação ao acesso e
utilização de serviços de APS. O informante familiar foi o chefe da família ou cônjuge,
entrevistado no domicílio. O plano de amostragem foi do tipo conglomerado em três estágios
de seleção: equipe de SF como unidade primária de amostragem, Agente Comunitário de
Saúde (ACS) como unidade secundária de amostragem e, como unidade elementar a família
cadastrada. Cinco famílias selecionadas aleatoriamente de cada dois ACS das equipes
selecionadas foram entrevistadas. Em Vitória, em função do menor número de equipes de SF
existentes, foram aplicados questionários a três famílias de cada ACS. Foram entrevistadas
3.311 famílias (Aracaju 800, Belo Horizonte 900, Florianópolis 789, Vitória 822) (30).
O trabalho de campo foi realizado entre os meses de maio a setembro de 2008. Todos os dados
primários resultantes dos estudos transversais foram codificados e computados no CSPRO
versão 3.3 (U.S. Census Bureau; http://www.census.gov/ipc/www/cspro) e distribuídos em
freqüências simples por município, tipo de informante e dimensão. As entrevistas semi-
estruturadas foram gravadas, transcritas e analisadas por dimensões. Os dados passaram por
análise vertical considerando-se dimensões e informantes-chave por município e,
posteriormente, por leitura horizontal comparando-se a perspectivas dos diversos atores
envolvidos bem como dos quatro casos analisados.
A apresentação dos resultados está
estruturada com base nas dimensões apresentadas na Tabela 1.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da ENSP/Fiocruz e dos municípios
estudados, tendo cumprido todas as exigências estabelecidas pela Resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde.
66
Tabela 1 Dimensões, variáveis e indicadores do eixo “Fortalecimento da Atenção
Primária à Saúde”, quatro grandes centros urbanos, 2008
Dimensões Variáveis Indicadores
Posição ocupada pela
APS no sistema de saúde
Organização da porta de
entrada pela APS
Existência de porta de entrada pela APS; estratégias para organização da
porta de entrada pela APS; % de médicos/enfermeiros que concordam
muito/concordam que o papel de porta de entrada e de coordenação da
ESF está especificado na política local de saúde; % de
médicos/enfermeiros que concordam muito/concordam que a população
procura primeiro a USF quando necessita de atendimento de saúde
Conhecimento da USF
% famílias que conhecem a ESF (espontânea + estimulada); % famílias
que conhecem o local de funcionamento da ESF
Acesso à Unidade de
Saúde da Família
Acessibilidade à USF
Facilidade de acesso ao local de funcionamento da ESF; famílias que
relatam chegar a pé até o local de funcionamento da ESF; %
médicos/enfermeiros que concordam muito/concordam que a ESF
ampliou o acesso de novas parcelas da população aos serviços de saúde;
% de médicos/enfermeiros que concordam muito/concordam que a USF
é acessível a toda a população cadastrada; avaliação das famílias quanto
a conseguir consulta sem marcação prévia; avaliação das famílias
quanto a conseguir marcar consulta médica; % de médicos/enfermeiros
que concordam muito/concordam que a USF cumpre na prática as
funções de pronto atendimento
Provas diagnósticas
solicitadas pelo médico da
ESF
Provas diagnósticas solicitadas pelo médico de família
Coleta de exames para
patologia clínica na USF
Existência de coleta de exames para patologia clínica na própria USF
Distribuição de
medicamentos
% de médicos/enfermeiros que avaliam como muito
satisfatório/satisfatório a distribuição regular de medicamentos a grupos
prioritários; acesso a medicamentos em atendimento realizado pela ESF
segundo famílias cadastradas
Realização de capacitação
Existência de estratégias de capacitação continuada promovida pela
SMS; % de médicos/enfermeiros que realizaram atividades de
capacitação continuada nos últimos 30 dias
Supervisão das equipes de
Saúde da Família
Existência de profissionais de apoio às equipes de Saúde da Família; %
de médicos/enfermeiros que relatam a existência de supervisão da
equipe de Saúde da Família; atividades desenvolvidas durante a
supervisão segundo médicos/enfermeiros
Atendimento aos grupos
prioritários
% de médicos/enfermeiros que avaliam como muito
satisfatório/satisfatório o acompanhamento dos grupos prioritários
Capacidade de resolução
da APS
Avaliação geral da
capacidade de resolução da
ESF
% de médicos/enfermeiros que avaliam como muito
satisfatória/satisfatória a capacidade de intervir positivamente no
enfrentamento dos problemas de saúde; % de médicos/enfermeiros que
avaliam como muito satisfatória/satisfatória a resolução de 80% ou mais
de casos atendidos por sua equipe Saúde da Família; avaliação da
resolutividade do atendimento e necessidade de encaminhamento para
especialista segundo famílias cadastradas; % de médicos/enfermeiros
que concordam muito/concordam que com a ESF a população atendida
procura menos os serviços hospitalares e especializados; avaliação das
famílias quanto a procura por hospitais e especialistas após implantação
da ESF; avaliação das famílias quanto a procura por serviços de
urgência após implantação da ESF; avaliação das famílias quanto à
melhoria do atendimento após implantação da ESF; grau de satisfação
das famílias com a ESF
Descentralização das
ações e programas de
saúde pública/coletiva
para as unidades de APS
Grau de descentralização
das ações e programas de
saúde pública/coletiva para
as USF
Existência de descentralização e grau de articulação entre os serviços de
APS e as demais áreas da saúde pública/vigilância à saúde; % de
médicos/enfermeiros que concordam muito/concordam que a ESF atua
articulada aos programas de saúde pública/coletiva
Reconhecimento
profissional e social em
APS
Reconhecimento
profissional e social em
APS
% de médicos/enfermeiros que concordam muito/concordam que os
profissionais da ESF desfrutam do mesmo reconhecimento profissional
que os especialistas
Serviço de saúde de uso
regular
Famílias que indicam a USF como serviço de procura regular entre as
famílias com serviços de procura regular; serviços de saúde procurados
pelas famílias com moradores que adoeceram nos últimos 30 dias
Utilização dos serviços
de APS pelas famílias
cadastradas
Acompanhamento de
grupos prioritários
Serviço de saúde responsável pelo acompanhamento dos hipertensos,
diabéticos, das gestantes e do crescimento e desenvolvimento infantil
segundo famílias cadastradas
67
R
ESULTADOS
Posição ocupada pela APS no sistema de saúde
Nos municípios estudados, um conjunto de ações assistenciais e gerenciais tem sido
desenvolvido para ampliar o acesso, a oferta de serviços e fortalecer a APS na função de porta
de entrada preferencial do sistema municipal de saúde. Segundo gerentes e gestores a principal
estratégia para organização da porta de entrada nas USF é o acolhimento, que busca articular
atendimento à demanda espontânea e às ações programadas. Em cada município esta prática
apresenta peculiaridades, considerando o grau de envolvimento, organização e recursos
disponíveis às equipes.
Aracaju e Belo Horizonte possuem tradição na prática do acolhimento como estratégia de
organização da porta de entrada nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Em Belo Horizonte a
experiência é anterior à implantação da ESF. As equipes articulam atendimentos à demanda
espontânea e à programada, incluindo pronto-atendimento e garantia de referência
especializada. Em Florianópolis, os gestores consideraram que a demanda espontânea é uma
dificuldade nas USF, principalmente porque os profissionais tinham a visão de que a ESF não
deveria contemplar esse tipo de atendimento. Entendiam ser esta tarefa de responsabilidade dos
serviços de urgência. No entanto, a Portaria Municipal 283/07 (32), que regulamentou a
atenção básica, normatizou o acolhimento como estratégia para assistir à demanda espontânea
e, desde então, as USF de Florianópolis têm buscado organizar o processo de trabalho sob esta
lógica. Contudo, restrições ao atendimento de demandas de grupos não prioritários ainda
permanecem no município. Em Vitória esta tensão também foi percebida pelos gestores como
um problema que tem dificultado a organização da porta de entrada. Segundo alguns
entrevistados muitos profissionais querem realizar apenas ações de promoção e prevenção em
detrimento da assistência a pessoas não integrantes de grupos prioritários como diabéticos,
hipertensos, gestantes e menores de dois anos. Na visão dos gestores ainda prevalece uma
relativa desorganização no atendimento imediato e as USF utilizam mecanismos tradicionais,
como, por exemplo, a definição de horários específicos para responder à demanda espontânea.
Algumas outras iniciativas comuns têm sido desenvolvidas nos quatro municípios para
fortalecer o papel da ESF como porta de entrada com função de coordenar a atenção, entre elas
o reencaminhamento dos pacientes atendidos nas unidades de pronto atendimento à USF do
território de origem e a implantação dos Conselhos Gestores (no caso de Vitória o Conselho
Gestor Regional) com o objetivo de superar a informalidade existente na relação entre as
unidades de saúde de determinada região.
68
De um modo geral, nos quatro casos concordância da maioria dos médicos e enfermeiros
quanto à explicitação nas políticas locais de saúde do papel de porta de entrada e coordenação
dos cuidados pela ESF, demonstrando haver reconhecimento das iniciativas empreendidas
pelos gestores da saúde. Mais de 80% destes profissionais também concordam que a população
procura primeiro a USF quando precisa de atendimento (tabela 2).
Acesso à Unidade de Saúde da Família
Nos quatro municípios, segundo gestores, a expansão da ESF ampliou o acesso às ações de
saúde a partir da conversão de unidades básicas tradicionais em Unidades de Saúde da Família
e pela construção de novos serviços, principalmente em áreas mais distantes e menos providas
de recursos sociais. Nos quatro casos ocorreu expansão das USF em todas as áreas das cidades,
organizadas por regiões de saúde, no sentido de garantir acesso mais oportuno à APS. Mais de
90% dos médicos e enfermeiros consideram que a ESF ampliou o acesso de novas parcelas da
população aos serviços de saúde, embora percentuais menores concordem que a USF seja
acessível a toda população cadastrada, variando de 87% em Belo Horizonte a 66% em Vitória
(tabela 2). Do ponto de vista das famílias, problemas de acesso podem ser verificados. Cerca de
15% relatou não conhecer a ESF, chegando a 30% em Florianópolis. Observou-se redução
percentual importante quando questionadas sobre o conhecimento do local de funcionamento
da unidade. Por outro lado, mais de 90% dos usuários que afirmaram conhecer a ESF considera
fácil o acesso à unidade, sendo o deslocamento realizado a pé pela maioria (tabela 3).
O grau de tolerância para consultas não-agendadas também foi avaliado como elemento que
influência a acessibilidade às USF. Em Aracaju, Florianópolis e Vitória apenas 55% dos
médicos e enfermeiros concordam muito/concordam que USF cumpre na prática a função de
pronto-atendimento e, em Belo Horizonte 67% (tabela 2). A avaliação das famílias quanto a
um dos principais aspectos que caracteriza a capacidade da ESF se organizar para atender à
demanda espontânea a possibilidade de conseguir consulta sem marcação prévia corrobora
as dificuldades percebidas pelos profissionais. Em Aracaju e Belo Horizonte, 57% das famílias
consideraram muito ruim/ruim a possibilidade de conseguir uma consulta sem marcação
prévia. Em Florianópolis e Vitória as avaliações foram um pouco mais positivas e estiveram
mais próximas às avaliações dos médicos e enfermeiros em relação à capacidade da equipe se
organizar para o pronto atendimento (tabela 3).
Outro indicador para avaliar a acessibilidade aos serviços de APS foi a facilidade para marcar
consulta médica. Percentuais bastante diferenciados foram encontrados entre os municípios.
Destacaram-se Vitória, onde a quase totalidade das famílias considerou não haver dificuldades
69
para marcação de consulta médica e, Aracaju, onde as dificuldades parecem maiores (tabela 3).
De todo modo, nos quatro casos foi verificada maior facilidade para consultas programadas se
comparadas àquelas provenientes da demanda espontânea.
Tabela 2 Indicadores de fortalecimento das estruturas de Atenção Primária à Saúde
(APS) segundo médicos e enfermeiros das Equipes de Saúde da Família, quatro grandes
centros urbanos, 2008
Indicadores
Aracaju
Belo
Horizonte
Florianópolis
Vitória
Posição ocupada pela APS no sistema de saúde
% de médicos/enfermeiros que concordam muito/concordam
que o papel de porta de entrada e de coordenação da ESF
está especificado na política local de saúde.
81,3 82,9 73,1 75,1
% de médicos/enfermeiros que concordam muito/concordam
que a população procura primeiro a USF quando necessita
de atendimento de saúde
92,5 89,2 87,2 83,0
Acesso à Unidade de Saúde da Família
% médicos/enfermeiros que concordam muito/concordam
que a ESF ampliou o acesso de novas parcelas da população
aos serviços de saúde
91,2 96,7 90,8 94,7
% de médicos/enfermeiros que concordam muito/concordam
que a USF é acessível a toda a população cadastrada
81,0 87,1 74,2 65,9
% de médicos/enfermeiros que concordam muito/concordam
que a USF cumpre na prática as funções de pronto
atendimento
55,2 67,4 55,6 55,9
Capacidade de resolução da APS
% de médicos que relataram poder solicitar os exames
listados abaixo:
Anatomopatologia e citopatologia 58,9 79,2 80,3 77,1
Eletrocardiografia 98,2 97,2 95,1 85,7
Radiologia simples 98,2 98,6 98,4 100,0
Mamografia 91,1 98,6 98,4 100,0
Colposcopia 60,7 44,4 72,1 65,7
Ultrassonografia obstétrica 94,6 95,8 96,7 97,1
Ultrassonografia clínica 96,4 97,2 80,3 91,4
Ecocardiografia 62,5 65,3 72,1 8,6
Métodos endoscópicos 82,1 94,4 91,8 5,7
Tomografia computadorizada 35,7 4,2 63,9 0,0
% de médicos/enfermeiros que avaliam como muito
satisfatório/satisfatório a distribuição regular de
medicamentos a grupos prioritários
56,6 85,0 86,3 90,8
% de médicos/enfermeiros que realizaram atividades de
capacitação continuada nos últimos 30 dias
76,9 44,0 68,8 62,0
% de médicos/enfermeiros que relatam a existência de
supervisão da equipe de Saúde da Família
78,9 43,7 58,8 49,4
Atividades desenvolvidas durante a supervisão segundo
médicos/enfermeiros
interconsulta com especialista 9,0 3,4 28,2 9,9
discussão de casos clínicos 7,9 37,3 35,1 19,9
sistematização das informações sobre saúde da
comunidade
32,2 20,4 16,9 35,6
capacitação em serviço 15,2 23,0 14,1 38,6
acompanhamento e controle das atividades 41,4 59,3 25,8 68,4
discussão de problemas, dificuldades e demandas 60,8 71,1 39,1 56,5
70
Capacidade de resolução da APS (continuação)
% de médicos/enfermeiros que avaliam como muito
satisfatório/satisfatório o acompanhamento dos grupos
prioritários
78,7 83,8 82,7 87,3
% de médicos/enfermeiros que avaliam como muito
satisfatória/satisfatória a capacidade de intervir
positivamente no enfrentamento dos problemas de saúde
78,1 77,0 74,3 89,3
% de médicos/enfermeiros que avaliam como muito
satisfatória/satisfatória a resolução de 80% ou mais de casos
atendidos por sua equipe Saúde da Família
81,1 83,7 81,2 81,3
% de médicos/enfermeiros que concordam muito/concordam
que com a ESF, a população atendida procura menos os
serviços hospitalares e especializados
76,1 71,6 80,4 69,3
Descentralização das ações e programas de saúde pública/coletiva para as USF
% de médicos/enfermeiros que concordam/concordam muito
que a ESF atua articulado aos programas de saúde
pública/coletiva
95,5 92,4 94,7 90,1
Reconhecimento profissional e social em APS
% de médicos/enfermeiros que concordam muito/concordam
que os profissionais da ESF desfrutam do mesmo
reconhecimento profissional que os especialistas
22,0 13,0 29,4 14,6
Fonte: Giovanella et al.
25
Aracaju: n = 56 médicos e n = 66 enfermeiros, BH: n=72 médicos e n=75 enfermeiros, Florianópolis: n =
61médicos e n = 70 enfermeiros, Vitória: n = 35 médicos e n=50 enfermeiros.
ESF – Estratégia Saúde da Família
USF – Unidade de Saúde da Família
Capacidade de resolução da APS
Segundo gestores e gerentes, uma das principais medidas para aumentar a resolutividade da
APS foi a ampliação do catálogo de provas diagnósticas solicitadas diretamente pelo médico de
família e a disponibilidade de medicamentos na USF. Mais de 80% dos médicos relataram
poder solicitar diretamente eletrocardiografia, radiologia simples, mamografia, ultrassonografia
obstétrica e clínica, além dos exames de patologia clínica. Em Florianópolis alto percentual de
médicos afirmou poder solicitar tomografia computadorizada (64%). Em Vitória observou-se
maior restrição aos exames de média e alta complexidade pedidos pelo médico das equipes de
SF (tabela 2). A coleta de exames para patologia clínica na própria USF, como acontece em
Aracaju, Belo Horizonte e Vitória, foi considerada, pelos gestores, medida que amplia a
percepção de resolutividade por parte dos usuários. Em Belo Horizonte os resultados dos
exames, por meio de sistema informatizado, são encaminhados diretamente à equipe de SF.
A garantia de acesso a medicamentos também foi considerada estratégia para aumentar a
resolutividade da ESF, segundo gestores. Altos percentuais de médicos e enfermeiros em Belo
Horizonte (85%), Florianópolis (86%) e Vitória (91%) avaliaram ser muito
71
satisfatória/satisfatória a distribuição regular de medicamentos aos grupos prioritários (tabela
2). Em relação ao recebimento de medicamentos em geral por famílias atendidas pela ESF,
observou-se que a maioria afirmou receber apenas alguns medicamentos, o que parece
demonstrar maior fortalecimento das ações voltadas aos grupos prioritários (tabela 3).
As capacitações para desenvolvimento de habilidades ou competências técnicas em áreas
específicas foram consideradas importantes para aumentar a resolutividade das equipes.
Gestores e gerentes compreendem que a definição da agenda de formação continuada deve ter
como base o processo de trabalho. Além das capacitações tradicionais, em Florianópolis e Belo
Horizonte, os profissionais de SF estão sendo qualificados nas funções de regulação para a
atenção especializada, uma vez que constituem a primeira instância regulatória do SUS. Mais
de 60% dos médicos e enfermeiros de Aracaju, Florianópolis e Vitória afirmaram ter realizado
atividades de capacitação continuada nos últimos 30 dias (tabela 2).
Os quatro municípios, ao implantar as equipes de SF em Centros de Saúde pré-existentes,
optaram por um processo de reorganização interna com manutenção de profissionais que
atuavam nestes espaços como apoio para a ESF. A presença de ginecologistas, clínicos e
pediatras em algumas das USF, segundo gestores, é uma das medidas que pode contribuir para
melhorar a resolutividade e atender ao conjunto de necessidades da população de forma mais
adequada. Entretanto, como destacaram alguns entrevistados, definir o papel destes
profissionais dentro da USF ainda representa um grande desafio. Conforme o planejamento
inicial, de acordo com gestores de Aracaju, estes profissionais só deveriam atender aos casos
encaminhados pela equipe de SF. Na prática, todavia observou-se que, por exemplo, nas USF
em que há pediatra, este profissional acaba se responsabilizando pelo atendimento às crianças.
O “matriciamento” destacou-se entre as inovações mencionadas para qualificar as ações da
ESF ao prever que especialistas apóiem profissionais de APS por meio de interconsulta,
discussão de casos clínicos, capacitações, além de funcionar como referência. Observou-se
maior desenvolvimento de equipes matriciais em Saúde Mental e, em fase inicial, Geriatria em
Belo Horizonte e Florianópolis. Ainda assim, a prática da supervisão das equipes de SF não
está plenamente institucionalizada. Em Belo Horizonte e Vitória aproximadamente metade dos
médicos e enfermeiros relataram não haver supervisão (tabela 2). Entre as atividades de
supervisão destacou-se o acompanhamento e controle das ações e a discussão de problemas,
dificuldades e demandas apresentadas pelas equipes de SF. Interconsulta com especialistas são
práticas pouco freqüentes. Em Belo Horizonte e Florianópolis cerca de 35% dos médicos e
enfermeiros afirmou que a discussão de casos clínicos faz parte da supervisão (tabela 2).
72
Além da ampliação da cesta de serviços e da qualificação das equipes, o aumento da
resolutividade da ESF também passa pela capacidade de organização dos serviços para
atendimento à demanda programada. Foi considerado por cerca de 80% dos médicos e
enfermeiros muito satisfatório/satisfatório o acompanhamento dos grupos prioritários como
hipertensos, diabéticos, mulheres e crianças. Menores percentuais foram observados em
relação à avaliação da capacidade da USF cumprir as funções de pronto-atendimento,
conforme já mencionado (tabela 2).
Em geral, foi bastante favorável a avaliação de médicos e enfermeiros quanto à capacidade de
resolução da ESF. Entre 70 e 90% destes profissionais considerou muito
satisfatória/satisfatória a capacidade de intervir positivamente no enfrentamento dos problemas
de saúde e cerca de 80% avaliou como muito satisfatória/satisfatória a resolução de 80% ou
mais dos casos atendidos por sua equipe (tabela 2). A percepção dos profissionais foi mais
positiva que a das famílias. Entre aquelas com experiência de atendimento pela ESF percentual
semelhante em todos os municípios (60%) afirmou conseguir resolver seu problema de saúde
durante o atendimento prestado pela equipe de SF e 35% referiram necessidade de procurar o
especialista (tabela 3).
Quanto à procura de serviços hospitalares e especializados, entre 70 a 80% dos médicos e
enfermeiros concordam muito/concordam que após a implantação da ESF diminuiu a procura
de atendimento por estes serviços (tabela 2). A avaliação das famílias foi menos positiva. Cerca
de 45% em Aracaju, 34% em Florianópolis e 52% em Belo Horizonte e Vitória afirmou
procurar menos hospitais e especialistas após implantação da USF. Percentuais semelhantes
foram encontrados em relação à diminuição da procura pelos serviços de urgência (tabela 3).
Todavia as famílias avaliaram que houve alguma melhoria no atendimento após implantação da
ESF, com variação entre os casos. Em Vitória, 51% consideraram que o atendimento em saúde
melhorou muito após a implantação. Em Belo Horizonte e Florianópolis a maior parte dos
entrevistados considerou que houve pouca melhora. De modo geral, mais de 50% das famílias
nos quatro casos afirmaram estar satisfeitas com a ESF, chegando a 74% em Vitória, município
que também apresenta menor grau de insatisfação (5,9%) (tabela 3).
73
Tabela 3 – Indicadores de acesso e capacidade de resolução da ESF segundo famílias
cadastradas por Equipes de Saúde da Família, quatro grandes centros urbanos, 2008
Aracaju
Belo
Horizonte
Florianópolis
Vitória
Indicadores
% % % %
Acesso à Unidade de Saúde da Família
Famílias que conhecem a ESF (espontânea + estimulada) 84,1 (n=800) 84,4 (n=900) 70,0 (n=789) 82,5 (n=822)
Famílias que conhecem o local de funcionamento da ESF 69,1 (n=673) 69,3 (n=760) 57,4 (n=552) 79,5 (n=678)
Facilidade de acesso ao local da USF 95,5 (n=465) 92,0 (n=527) 91,2 (n=317) 92,4 (n=539)
Famílias que relatam chegar a pé até o local de
funcionamento da ESF
89,2 (n=465)
85,6 (n=527)
73,2 (n=317)
84,0 (n=539)
Avaliação das famílias quanto a conseguir consulta sem
marcação prévia
n=325
n=389
n=232
n=361
Muito bom/Bom 40,6 41,9 51,3 58,4
Muito ruim/Ruim 57,2 57,1 44,4 39,3
Avaliação das famílias quanto a conseguir marcar consulta
médica
n=390
n=475
n=266
n=441
Muito bom/Bom 53,6 65,3 60,2 95,0
Muito ruim/Ruim 45,9 34,7 36,8 4,8
Capacidade de resolução da APS
Acesso a medicamentos em atendimento realizado pela
ESF
N=518 n=624 n=400 n=528
Recebem todos os medicamentos 26,6 36,1 40,5 45,6
Recebem apenas alguns medicamentos 65,5 60,9 55,3 50,8
Não recebem medicamento algum 7,9 3,0 4,2 3,6
Avaliação das famílias quanto à resolutividade da ESF e
necessidade de encaminhamento para especialista
N=605 n=711 n=469 n=614
Conseguem resolver o problema de saúde neste
atendimento
60,4 60,5 56,9 61,6
Precisam procurar um especialista 35,9 32,5 39,9 37,5
Não respondeu 3,6 7,0 3,2 1,0
Avaliação das famílias quanto à procura por hospitais e
especialistas após implantação da ESF
N=605 n=711 n=469 n=614
Procuram mais 19,0 9,0 10,0 20,5
Procuram menos 44,8 52,3 33,9 52,9
Procuram igual 26,2 29,1 32,9 21,0
Não sabe/respondeu 10,3 9,6 23,2 5,6
Avaliação das famílias quanto à procura por serviços de
urgência após implantação da ESF
N=605 n=711 n=469 n=614
Procuram mais 19,8 7,3 10,0 22,5
Procuram menos 44,0 48,0 31,8 48,0
Procuram igual 26,0 33,8 34,1 23,0
Não sabe/respondeu 10,4 10,9 24,1 6,5
Avaliação das famílias quanto à melhoria do atendimento
após implantação da ESF
N=605 n=711 n=469 n=614
Melhorou muito 26,6 32,9 22,4 51,3
Melhorou um pouco 44,5 40,1 33,5 28,2
Ficou igual 15,1 15,2 17,5 12,7
Piorou 5,1 2,8 2,3 2,3
Grau de satisfação das famílias com a ESF N=605 n=711 n=469 n=614
Satisfeito 52,9 62,7 52,0 74,4
Insatisfeito 14,1 9,7 8,5 5,9
Fonte: Giovanella et al.
25
ESF – Estratégia Saúde da Família
USF – Unidade de Saúde da Família
74
Descentralização das ações e programas de saúde pública/coletiva para as unidades de APS
Em apenas dois dos municípios os programas de saúde pública estavam completamente
descentralizados para as USF. Segundo informações dos gerentes da SMS de Aracaju, estes
foram incorporados às atividades das equipes de SF, tanto em relação aos agravos
transmissíveis quanto não-transmissíveis. Foi relatado que todas as solicitações de atividades
educativas encaminhadas diretamente à Vigilância em Saúde, são redirecionadas para as USF,
responsável por estabelecer o vínculo com o território.
Em Belo Horizonte, segundo gestores, um trabalho bastante articulado entre Vigilância em
Saúde e APS principalmente em relação às doenças infecto-contagiosas. No que se refere às
doenças não transmissíveis, foram elaboradas orientações para o acompanhamento da
hipertensão e diabetes na perspectiva da Vigilância e não somente da assistência.
Em Florianópolis foi iniciado processo de descentralização dos programas de saúde
pública/coletiva para as USF em 2007, com ritmos diferenciados entre agravos transmissíveis e
não-transmissíveis, estes últimos desenvolvidos pelas equipes de SF mais tempo. Os
protocolos foram remodelados a fim de direcioná-los à atenção básica, definindo-se porta de
entrada e serviços de referência. Foi relatada maior necessidade de integração entre agentes de
endemias e equipe de SF.
Em Vitória, de acordo a integração da APS à Vigilância em Saúde é um tema freqüente nas
discussões da SMS e encontrava-se em estágio inicial. Programas como o de hipertensão,
diabetes e saúde da mulher e da criança foram incorporados pela ESF com maior facilidade,
outros, como, tuberculose e hanseníase continuavam centralizados em unidades de referência.
A assistência à tuberculose foi considerada como uma das ações mais difíceis para
descentralizar. Outra estratégia para apoiar o trabalho na lógica da Vigilância é o incentivo ao
monitoramento de indicadores com incorporação de sanitaristas à rede básica.
Embora na avaliação dos gestores Aracaju e Belo Horizonte encontravam-se em processo mais
avançado de descentralização, mais de 90% dos profissionais de nível superior nos quatro
municípios concordam muito/concordam com a afirmativa de que a equipe de SF atua
articulada aos programas de saúde pública/coletiva (tabela 2).
Reconhecimento profissional e social em APS
Foi considerado por representantes das entidades de Medicina de Família e Comunidade
(MF&C) e de Enfermagem que os profissionais da ESF não desfrutam do mesmo nível de
75
reconhecimento que os demais especialistas, percepção corroborada pela grande maioria de
médicos e enfermeiros (tabela 2). Na perspectiva dos membros destas entidades um grande
problema enfrentado é a baixa valorização do profissional médico de família por seus pares e a
formação universitária, ainda pouco voltada para a atuação em APS. Aproximações,
principalmente com as Sociedades de Pediatria e Ginecologia, para estabelecimento de
parcerias e acordos, tem sido estratégia utilizada para reconhecimento e valorização da nova
especialidade, segundo avaliação de representante da Sociedade de Mineira de MF&C.
Foram destacadas iniciativas institucionais por parte dos governos municipais de valorização
dos profissionais de APS como investimentos em formação (capacitações, oferta de
especialização e residência em MF&C), flexibilização da carga horária de trabalho com a
possibilidade de realização de plantão em unidade de urgência da SMS, contrato de trabalho
predominantemente estatutário e o apoio financeiro para participação em eventos científicos.
Utilização dos serviços de APS pelas famílias cadastradas
Buscou-se avaliar o padrão de utilização das USF por parte das famílias cadastradas que
pudesse refletir as mudanças empreendidas para fortalecer a APS. Entre todas as famílias, de
85% em Belo Horizonte a 74% em Florianópolis afirmaram ter um serviço de saúde de procura
regular, sendo este a USF para cerca de 70% dos entrevistados em Aracaju, Belo Horizonte e
Vitória (tabela 4). Contudo, quanto ao serviço procurado em episódio recente de doença,
percentuais menores buscaram atendimento nas USF, variando de 32% em Florianópolis a 52%
em Belo Horizonte. Cerca de um quinto dos entrevistados em Aracaju e Florianópolis, 21% e
23% respectivamente, afirmou ter procurado atendimento em serviços privados. Nos mesmos
municípios em torno de 29% dos usuários buscou serviços de urgência (tabela 4).
Quanto aos grupos prioritários a grande maioria dos hipertensos está sendo acompanhada e, na
maior parte dos casos, por equipes de SF, variando de 69% em Vitória a 53% em Florianópolis.
Ainda assim, percentual importante é assistido em serviços privados de saúde, chegando a 26%
em Aracaju. Informaram não receber qualquer acompanhamento 11% em Aracaju e
Florianópolis (tabela 4).
Em relação aos diabéticos observou-se que percentual um pouco menor, em três municípios, é
acompanhado pela ESF. Em Aracaju e Florianópolis cerca de 30% são acompanhados por
serviços privados de saúde, percentuais maiores que aqueles encontrados para os hipertensos.
76
Contudo, menores percentuais de diabéticos, se comparados aos hipertensos, relataram estar
sem qualquer acompanhamento (tabela 4).
Aproximadamente 70% das gestantes são acompanhadas em USF em Aracaju e Belo
Horizonte, chegando a 78% em Vitória. Percentuais um pouco menores, se comparados aos
hipertensos e diabéticos, são assistidos em serviços privados de saúde. O desenvolvimento e
crescimento infantil são majoritariamente acompanhados por equipes de SF, chegando a 85%
em Vitória. Em Aracaju o percentual de crianças acompanhadas por serviços privados é maior
que nos demais casos 23% padrão que se repete em relação ao acompanhamento de quase
todos os grupos prioritários (tabela 4).
77
Tabela 4 – Indicadores de utilização da ESF segundo famílias cadastradas por Equipes de
Saúde da Família, quatro grandes centros urbanos, 2008
Aracaju
Belo
Horizonte
Florianópolis
Vitória
Indicadores
% % % %
Famílias que indicam a USF como serviço de
procura regular entre famílias com serviços de
procura regular
69,6 (n=610)
74,4 (n=765)
50,3 (n=586)
69,1 (n=621
Serviços de saúde procurados pelas famílias
com moradores que adoeceram nos últimos 30
dias
n=214 n=248 n=189 n=198
Unidade de Saúde da Família 41,1 52,4 31,8 47,0
Ambulatório de hospital 5,1 7,3 2,6 20,2
Policlínica/Posto de Assistência Médica - 4,4 9,5 2,5
Pronto-socorro, emergência ou SAMU 29,0 15,3 28,0 8,1
Serviços privados de saúde (clínica,
hospital, pronto-socorro ou emergência,
consultório)
20,6 18,6 23,3 17,7
Outro 4,2 2,0 4,8 4,5
Acompanhamento dos hipertensos n=397 n=587 n=326 n=488
Unidade de Saúde da Família 58,2 65,4 53,1 68,6
Serviços privados de saúde (clínica,
hospital, pronto-socorro ou emergência,
consultório)
25,7 17,4 20,1 18,9
Sem acompanhamento 11,3 7,3 11,7 5,5
Acompanhamento dos diabéticos n=126 n=154 n=122 n=133
Unidade de Saúde da Família 53,2 59,1 42,6 72,9
Serviços privados de saúde (clínica,
hospital, pronto-socorro ou emergência,
consultório)
31,0 25,3 29,5 18,8
Sem acompanhamento 8,7 6,5 13,1 0,8
Acompanhamento do pré-natal n=104 n=83 n=60 n=71
Unidade de Saúde da Família 69,8 69,9 61,7 77,5
Serviços privados de saúde (clínica,
hospital, pronto-socorro ou emergência,
consultório)
22,9 19,3 13,3 11,3
Sem acompanhamento 7,7 - 13,3 4,2
Acompanhamento do crescimento e
desenvolvimento infantil
n=66 n=71 n=58 n=61
Unidade de Saúde da Família 66,7 64,8 69,0 85,2
Serviços privados de saúde (clínica,
hospital, pronto-socorro ou emergência,
consultório)
22,7 12,7 15,5 6,6
Sem acompanhamento 9,1 19,7 13,8 6,6
Fonte: Giovanella et al.
25
ESF – Estratégia Saúde da Família
USF – Unidade de Saúde da Família
D
ISCUSSÃO
Em todos os municípios estudados foram identificadas ações para fortalecer as estruturas de
APS com resultados diferenciados no que se refere ao acesso, utilização e satisfação da
população adscrita com os serviços ofertados. As principais iniciativas buscaram ampliar a
acessibilidade, consolidar a função de porta de entrada, aumentar sua capacidade resolutiva e
78
articular ações de saúde pública, vigilância e assistência. Observou-se que a compreensão da
ESF como coordenadora do percurso terapêutico ao interior do sistema de saúde seguiu pari
passu a medidas para expandi-la e fortalecê-la, reafirmando a hipótese de que somente uma
“APS forte” seria capaz de exercer o atributo de coordenação dos cuidados. Neste sentido, as
iniciativas brasileiras alinham-se às reformas européias que buscaram principalmente por meio
da consolidação da função de porta de entrada, extensão e resolutividade dos serviços prestados
pela APS, fortalecer seu papel de coordenação ao interior da rede de serviços de saúde.
Nos quatro casos a expansão das equipes de SF foi a estratégia utilizada para ampliar o acesso
da população aos serviços de saúde e para organização da porta de entrada, iniciativa
reconhecida por médicos e enfermeiros, ainda que permaneçam problemas para garantia de
acesso à população cadastrada. A ampliação da oferta de APS, segundo Aday & Andersen
(33), é um dos elementos para garantir que estes serviços se tornem de uso regular uma vez que
sua insuficiente provisão pode dificultar o acesso ao cuidado em saúde, sendo uma das
conseqüências a busca de emergências como serviço de primeiro contato. Outro grupo de
fatores que pode dificultar ou facilitar a acessibilidade são aqueles referentes às barreiras
geográficas (34). A facilidade de acesso e proximidade física das USF, confirmada pela
maioria das famílias que relataram chegar a pé, minimizaria esforços de deslocamento ao
diminuir distância, tempo e custos com o trajeto percorrido.
Visto constituírem experiências consolidadas de reestruturação da APS, a porta de entrada para
o sistema de saúde é representada pelas equipes de SF que atuam em Centros de Saúde,
segundo gestores e a maioria dos profissionais. Além de porta de entrada, os serviços de APS
são identificados como o nível de atenção que teria o papel de coordenação dos cuidados.
Ainda assim, a USF não foi o serviço procurado por mais da metade das famílias em episódio
recente de adoecimento em três casos. Os resultados apontam que os municípios brasileiros
enfrentam problemas que comprometem a condição da APS como porta de entrada preferencial
do sistema, como por exemplo, os horários restritos de funcionamento, dificuldade de manejo
da demanda espontânea e a baixa resolutividade. Não menos importante é o fato que parte dos
usuários que afirmaram conhecer a ESF, não conhecia seu local de funcionamento.
O atendimento das diversas demandas da população programadas ou espontâneas para
ações de prevenção, tratamento e acompanhamento, facilita a constituição da USF como
serviço de procura regular. Ter uma fonte regular de cuidados indica que a atenção tornou-se
disponível, que a relação é estável e que o acesso é facilitado (35). Logo, é uma importante
variável correlacionada à utilização. Em Aracaju, Belo Horizonte e Vitória aproximadamente
79
70% das famílias indicaram a USF como serviço de procura regular. Estes percentuais são
maiores que os encontrados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada em
2008, que aponta ser o Posto ou Centro de Saúde e o ACS o serviço de busca regular para 57%
dos moradores que indicaram ter uma fonte regular de cuidados (36). Em relação ao
atendimento à demanda programada, a maior parte dos grupos prioritários é acompanhada
pelas equipes de SF. Menores percentuais foram observados em relação ao acompanhamento
dos diabéticos, apontando necessidade de reforço das ações voltadas a este grupo.
O acolhimento foi estratégia utilizada para atender à demanda espontânea. Segundo Magalhães
(37), a responsabilização pelo usuário a ser assumida pelas equipes de SF depende tanto da
existência de fluxos quanto da responsabilização de caráter ético e humano de forma que
ninguém que procure os serviços de saúde se sinta desamparado, não acolhido e perdido em
um mundo de necessidades, de dúvidas e angústias (...)” (p.194). Esta discussão, remonta não
apenas a problemas de organização e oferta de serviços, mas à necessidade de reinventar o
“jeito” do trabalho em saúde (37).
De todo modo, os resultados apontaram maiores dificuldades para atendimento à demanda
espontânea e grupos não prioritários. Mais da metade dos usuários em Aracaju e Belo
Horizonte avaliaram de forma bastante negativa a possibilidade de marcar consulta médica sem
agendamento prévio. Em Aracaju, Florianópolis e Vitória pouco mais da metade dos médicos e
enfermeiros concordam que a USF cumpre de fato as funções de pronto atendimento. Haggerty
el al. (14) apontam que barreiras de acesso ao pronto atendimento nos serviços de APS são
uma fragilidade dos sistemas de saúde latinoamericanos agravada pelas longas filas de espera e
dificuldades de integração com a atenção especializada. Estes fatores podem estar relacionados
ao fato de que parte importante dos usuários, com experiência recente de adoecimento, tenha
buscado atendimento em unidades de urgência.
Não consenso no país de qual seria a resolutividade esperada dos serviços de APS. Segundo
Vázquez et al.(38) redes integradas de atenção em saúde caracterizam-se por forte função de
gatekeeping pela APS justificada pelo fato de que provavelmente a maior parte dos problemas
de saúde (90% a 95%) poder ser resolvida no primeiro nível de atenção. Cerca de 80% dos
profissionais consideraram satisfatória a resolução de 80% ou mais dos casos atendidos, mas
aproximadamente 35% das famílias relatam necessidade de buscar o especialista. Ainda assim,
importante percentual de famílias que indicaram procurar menos serviços hospitalares e
especializados e de urgência após implantação da ESF, o que confirma a hipótese de que a
80
ampliação da oferta de APS minimiza a busca por serviços de urgência como primeiro contato
e ao mesmo tempo, pode indicar ampliação da resolutividade destes serviços.
Outra medida para aumentar a resolutividade das equipes de SF foi ampliar o acesso ao apoio
diagnóstico (rede laboratorial) e terapêutico (assistência farmacêutica ampliada). Contudo, a
maior parte dos usuários relatou receber apenas alguns medicamentos. A distribuição de
medicamentos aos grupos prioritários foi avaliada de forma mais positiva pelos profissionais,
indicando melhor organização do atendimento destes grupos. A coleta de material para exames
no serviço de APS é outro elemento que contribui para a percepção de resolutividade e facilita
a conformação da USF como serviço de procura regular.
A capacitação dos profissionais foi considerada eixo estratégico para aumento da
resolutividade e para qualificação da APS. De acordo com Rico e Saltman (10) a melhora na
formação dos profissionais de APS contribui para aumentar o status, a reputação, facilita a
cooperação com especialistas e reforça a confiança da população, além de ser essencial para o
desempenho das novas atribuições. No país, a formação de recursos humanos representa
grande desafio. Somente em 2002, a Medicina de Família & Comunidade foi reconhecida
como especialidade médica. De todo modo, a formação de médicos em consonância com as
mudanças no modelo de atenção à saúde, requer forte regulação do gestor federal sobre a
distribuição das vagas de residência médica, conforme observado em países cujos sistemas de
saúde foram organizados em torno da APS. Destaca-se que a baixa credibilidade e o
reconhecimento dos profissionais de APS é um obstáculo à coordenação dos cuidados (12).
Embora algumas iniciativas dos gestores municipais estejam em curso, a avaliação dos
médicos e enfermeiros demonstra que é premente intensificar, em nível local e nacional,
estratégias para dar visibilidade ao trabalho e valorizar a atuação dos profissionais da ESF.
Os quatro municípios adotaram o modelo de equipe proposto para a ESF (médico, enfermeiro,
auxiliar de enfermagem e ACS) como primeiro contato dos usuários. Contudo, nos casos
estudados, especificidades no desenho organizativo, na composição das equipes de SF e no
papel das equipes de apoio. Nestes municípios, especialistas da atenção básica atuam como
suporte para as equipes de SF. Em Aracaju unidades com equipes ampliadas de SF que
agregam pediatra e ginecologista. Em outras, foram formadas equipes de apoio às equipes de
SF funcionando, em alguns casos, como referência também para outras unidades básicas do
mesmo território. A presença de profissionais de apoio foi considerada um dos diferenciais que
facilita a constituição da USF como serviço de procura regular e contribui para ofertar atenção
mais oportuna e resolutiva. De todo modo, embora possa representar aspecto positivo, as novas
81
configurações merecem acompanhamento. Em alguns casos, estes profissionais assumem o
atendimento de grupos específicos, comprometendo a integralidade da atenção e, de certa
forma, reproduzindo o modelo de atendimento de unidades tradicionais. Fortalecer processos
de supervisão mais voltados à discussão de casos clínicos e interconsultas com participação dos
profissionais de apoio e equipes matriciais pode ser estratégia para melhor qualificar a APS e
aumentar sua resolutividade, sem comprometer o vínculo e a integralidade dos cuidados.
Os quatro municípios, em ritmos diferenciados, descentralizaram ações e programas de saúde
pública, sendo a atuação articulada positivamente avaliada pelos médicos e enfermeiros. Além
de assumir a assistência propriamente dita, destacou-se a necessidade de descentralizar as
atividades de avaliação e monitoramento dos indicadores na lógica da Vigilância em Saúde.
Entre as limitações dos resultados apresentados, cabe destacar que as experiências analisadas
não podem ser generalizadas para todo o país, que apresenta graus distintos de implementação
e cobertura por equipes de SF. Para as áreas não cobertas, formas diversas de organização de
APS estão presentes entre as quais Centros de Saúde tradicionais com especialidades básicas,
áreas com vazios assistenciais e serviços de pronto atendimento como primeiro contato.
Também não é desprezível a cobertura por seguros privados de saúde, principalmente nos
estados das regiões sul e sudeste. Para os 42 milhões de brasileiros segurados (39), a atenção
de primeiro nível é realizada por meio de acesso direto ao especialista em um modelo de
atenção bastante distinto daquele proposto pela ESF. Outra dificuldade do estudo refere-se à
escolha das dimensões e dos indicadores correspondentes, reconhecidamente interrelacionados.
Alguns dos indicadores selecionados poderiam compor uma ou outra dimensão de análise.
Por fim, embora os municípios investigados apresentem experiências consolidadas de
reorganização do modelo assistencial com base em uma APS fortalecida, algumas dificuldades
devem ser enfrentadas. A expansão dos serviços e a definição de territórios de atuação
diminuem barreiras geográficas de acesso e contribuem para que se tornem de uso regular,
ainda que, o tradicional horário de funcionamento não tenha sido modificado pela implantação
da ESF. A efetivação da função de porta de entrada pela APS, reconhecida na definição dos
fluxos formais pela gestão municipal, é dependente do ainda frágil equilíbrio entre atendimento
a demanda espontânea e programada. Embora a atenção aos crônicos constitua importante
desafio aos sistemas de saúde pela necessidade de coordenação dos cuidados, ao interior dos
serviços de APS o atendimento aos grupos prioritários parece estar mais consolidado. Abrir as
portas da USF buscando equilíbrio entre o cuidado aos doentes e ações preventivas e
promocionais é condição para que a APS se torne serviço de procura regular. O acolhimento, o
82
suporte de especialistas e o apoio matricial podem contribuir para a organização do processo de
trabalho das equipes de SF para atender às diversas necessidades de saúde da população e para
ampliar a resolutividade. A conquista de apoio e legitimidade para a APS ainda é um tema
pendente. Iniciativas para divulgar e promover a ESF são necessárias entre a população, para
fomentar melhor comunicação e cooperação entre os profissionais da rede de serviços de saúde
e para a construção de uma sólida base de apoio ao sistema público de saúde.
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85
ARTIGO 3.
DESAFIOS À COORDENAÇÃO DOS CUIDADOS EM SAÚDE:
ESTRATÉGIAS DE INTEGRAÇÃO ENTRE NÍVEIS ASSISTENCIAIS EM GRANDES
CENTROS URBANOS
IX
Patty Fidelis de Almeida
X
Lígia Giovanella
X
Maria Helena Magalhães de Mendonça
X
Sarah Escorel
X
Resumo
O artigo analisa o desenvolvimento de instrumentos de coordenação desde a Estratégia Saúde
da Família aos demais níveis do sistema de saúde com foco em medidas pró-coordenação
vinculadas à “integração entre níveis assistenciais”. Os resultados obtidos em estudos de casos
realizados em quatro grandes centros urbanos apontaram que estão presentes mecanismos de
integração entre níveis assistenciais, indicando preocupação com a garantia de atenção integral.
As principais estratégias identificadas foram: criação e fortalecimento de estruturas regulatórias
ao interior das Secretarias Municipais de Saúde e nas Unidades de Saúde da Família com
descentralização de funções para o nível local, organização dos fluxos, prontuários eletrônicos
e ampliação da oferta de serviços especializados municipais. Contudo, a falta de integração
entre diferentes prestadores, insuficiência de fluxos formais para atenção hospitalar e ausência
de políticas para média complexidade foram apontadas como entraves à garantia do cuidado
integral, tornando incompleto o processo de integração da rede.
Palavras-chave – Atenção Primária à Saúde, coordenação, integração
IX
Artigo publicado nos Cadernos de Saúde Pública 2010; 26(2):286:298.
X
Núcleo de Estudos Político-Sociais em Saúde – Nupes/daps/Ensp/Fiocruz
86
CHALLENGES IN COORDINATING HEALTH CARE: STRATEGIES FOR
INTEGRATION AMONG LEVELS OF CARE IN LARGE URBAN CENTRES
Abstract
The paper examines the development of instruments for coordinating, from Brazil’s family
health strategy to the other levels of the health system, focussing on pro-coordination measures
connected with “integration among levels of care”. Results from cases studies in four major
urban centres show that mechanisms for integrating among levels of care are present,
indicating a concern for assuring comprehensive care. The main strategies identified were:
introducing and strengthening regulatory systems within municipal health departments and
family health units, while decentralising functions to the local level; organising flows;
electronic health records; and expanding the supply of specialised municipal services.
However, the lack of integration among providers, insufficiency of formal flows for hospital
care and the absence of policies for medium-complexity care were signalled as impediments to
guaranteed comprehensive care and as leaving the system integration process incomplete.
Keywords: Primary Health Care, coordination, integration
87
I
NTRODUÇÃO
Problemas vinculados à coordenação dos cuidados em saúde, fragmentação da rede
assistencial, ausência de comunicação entre prestadores não constituem temas novos nos
debates sobre a organização dos sistemas de saúde. No entanto, mudanças recentes em relação
às demandas e necessidades da população com o crescimento da prevalência de doenças
crônicas, que exigem maior contato com os serviços de saúde em um contexto de pressão por
otimização das relações de custo-eficiência, tornaram premente a busca de soluções
1,2,3
. Na
União Européia, desde a década de 1990, reformas pró-coordenação vêm sendo
implementadas, sobretudo voltadas ao fortalecimento do primeiro nível de atenção
4,5
.
Os ritmos de implantação deste conjunto de reformas têm sido diferenciados entre os países a
depender do modelo de proteção social
2,5
. Na região da América Latina ainda são incipientes
reformas centradas na coordenação dos cuidados, o que se reflete no reduzido número de
estudos que tratam deste tema. Segundo Conill e Fausto
5
a histórica segmentação e
fragmentação que caracterizou a maior parte dos sistemas de saúde latino-americanos, com
oferta de Atenção Primária à Saúde (APS) seletiva, fragilizaram aspectos como a constituição
de redes integradas. Ainda assim, no contexto do recente movimento de valorização e defesa da
concepção abrangente de APS parecem ser promissoras iniciativas pró-coordenação. De acordo
com as autoras, nestes países, embora com diferenciados graus de desenvolvimento, as
principais estratégias para a integração dos sistemas de saúde estão relacionadas à
territorialização dos serviços e adscrição de clientela, informatização de histórias clínicas,
centrais de marcação de consultas, equipes de especialistas como apoio para a APS, criação de
redes com gestão regional e/ou municipal, entre outras
5
.
A coordenação entre níveis assistenciais pode ser definida como a articulação entre os diversos
serviços e ações de saúde relacionada à determinada intervenção de forma que,
independentemente do local onde sejam prestados, estejam sincronizados e voltados ao alcance
de um objetivo comum
6
. Neste sentido, se reflete na existência de uma rede integrada, desde a
APS aos prestadores de maior densidade tecnológica, de forma que distintas intervenções do
cuidado sejam percebidas e experenciadas pelo usuário de forma contínua, adequada as suas
necessidades de atenção em saúde e compatível as suas expectativas pessoais
7
. Logo, a
coordenação assistencial seria um atributo organizacional dos serviços de saúde que se traduz
na percepção de continuidade dos cuidados na perspectiva do usuário.
Hofmarcher et al.
3
em estudo realizado com policy makers dos países da OECD e revisão da
literatura, identificaram quatro áreas nas quais processos de reforma podem potencializar a
capacidade dos sistemas de saúde em melhorar a coordenação entre níveis assistenciais. O
88
primeiro grupo sugere que a coordenação pode ser facilitada pelo aprimoramento da coleta e
disseminação das informações sobre pacientes e prestadores e pela ampla utilização das
Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). O segundo conjunto de medidas pró-
coordenação vincula-se a mudanças necessárias no primeiro nível de atenção para atender às
demandas colocadas pelas doenças crônicas. Um terceiro grupo de intervenções com potencial
impacto sobre a coordenação dos cuidados refere-se à revisão dos padrões de alocação de
recursos no setor ambulatorial dado o progressivo deslocamento de procedimentos da atenção
hospitalar para este nível. Por fim, o estudo empreendido pelos autores destaca que a
capacidade de coordenação é fortemente afetada pela falta de integração entre os níveis
assistenciais e pela relação entre os prestadores, principalmente em função da existência de
barreiras que dificultam o trânsito no interior do sistema de saúde.
O presente artigo analisa o desenvolvimento de estratégias e instrumentos de coordenação
desde a Estratégia Saúde da Família (ESF) aos demais níveis do sistema de saúde com foco no
conjunto de medidas pró-coordenação vinculado à “integração entre níveis assistenciais”.
Segundo Hartz e Contandriopoulos
8
(p.332) "A integração propriamente dita dos cuidados
consiste em uma coordenação durável das práticas clínicas destinadas a alguém que sofre com
problemas de saúde, para assegurar a continuidade e a globalidade dos serviços requeridos
de diferentes profissionais e organizações, articuladas no tempo e no espaço, conforme os
conhecimentos disponíveis”. Assim, para efetivar a garantia do cuidado em saúde, torna-se
fundamental a constituição de redes integradas, cuja construção reconhece necessariamente a
interdependência e, muitas vezes, conflitos entre atores sociais e organizações distintas em
situações de poder compartido, visto que nenhuma destas instâncias dispõe da totalidade dos
recursos.
Além disso, parte-se do pressuposto que a integração entre níveis assistenciais é um dos
componentes para a oferta de APS abrangente e distinta da concepção focalizada e seletiva,
com cesta restrita e freqüentemente de baixa qualidade, dirigida a populações pobres
9
.
Conforme destaca Hartz e Contandriopoulos
8
a efetivação da imagem ideal de um “sistema
sem muros” nos quais se eliminariam barreiras de acesso entre os diversos pontos de atenção
interligados por corredores virtuais, embora desfrute de relativo consenso em relação aos seus
princípios, ainda constitui importante desafio aos sistemas de saúde, demandando avaliações
para sua efetiva implementação.
89
M
ETODOLOGIA
Este artigo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa realizada no ano de 2008,
denominada “Estudos de caso sobre a implementação da Estratégia Saúde da Família em
grandes centros urbanos”
10
, financiada pelo Ministério da Saúde/Departamento de Atenção
Básica. Os municípios para os estudos de caso foram selecionados de forma intencional de
modo a escolher experiências consolidadas de implantação da ESF, sendo os casos Aracaju,
Belo Horizonte, Florianópolis e Vitória.
Neste artigo são analisados os resultados referentes à dimensão “integração entre níveis
assistenciais” que constituiu um dos eixos principais do estudo. Ênfase foi conferida à relação
entre ESF e atenção especializada que englobou serviços de apoio à diagnose e terapia e
consultas. Para compreender esta dimensão e orientar a operacionalização do conceito foram
definidas categorias de análise, variáveis e indicadores, com base em revisão de
literatura
1,2,3,5,6,7,11,12
e, principalmente estudos de avaliação da ESF
13,14,15,16,17,18,19,20,21
descritos
no quadro 1.
Os estudos de caso foram desenvolvidos utilizando-se diversos métodos, técnicas, fontes de
informação e perspectivas. A descrição e análise das estratégias de integração da rede
assistencial empreendidas pela gestão municipal de saúde foram realizadas com base em
entrevistas semi-estruturadas com Secretários Municipais de Saúde, Coordenadores de Atenção
Básica/ESF, gerentes vinculados à Regulação, Controle e Avaliação, à Vigilância em Saúde,
gerentes de Unidades Básicas de Saúde (UBS), além de representantes de entidades
profissionais médicas e de enfermagem. Foram realizadas 54 entrevistas para análise desta
dimensão.
As experiências e percepções dos profissionais de saúde sobre a coordenação entre níveis
assistenciais foram examinadas com base em questionários auto-aplicáveis a amostras de
médicos e enfermeiros. Um inquérito de base domiciliar com aplicação de questionários
fechados a amostra de famílias cadastradas permitiu conhecer experiências e avaliação dos
usuários em relação ao acesso e utilização de serviços de atenção especializada. O informante
familiar foi o chefe da família ou cônjuge, entrevistado no domicílio. O plano de amostragem
foi do tipo conglomerado em três estágios de seleção: equipe de Saúde da Família como
unidade primária de amostragem, agente comunitário de saúde (ACS) como unidade
secundária de amostragem e, como unidade elementar a família cadastrada. O tamanho da
amostra foi calculado para estimar proporções maiores ou iguais a 0,1 com erro relativo
máximo de 30% (ou seja, erro absoluto máximo de 3%). Considerando o efeito de
90
conglomeração para seleção de 5 famílias para cada ACS selecionado, obtido na pesquisa
“Saúde da Família: avaliação da implementação em dez grandes centros urbanos”
15
, realizada
em 2001-2002, chegou-se a um tamanho de amostra de 768 famílias por município, que
dividido por 5 (famílias por ACS) indicou o número de ACS e de ESF a selecionar, tomando
por base a seleção de 2 ACS por ESF. Ao todo, foram entrevistadas 3.312 famílias (Aracaju
800, Belo Horizonte 900, Florianópolis 790, Vitória 822).
Em decorrência desse cálculo, todas as ESF de Florianópolis (79) e de Vitória (53) foram
incluídas na amostra, sendo que em Vitória foi necessário selecionar 3 ACS por ESF. Foram
selecionadas, com equiprobabilidade, 80 das 127 ESF de Aracaju e 90 das 469 ESF de Belo
Horizonte. Assim, em Florianópolis e Vitória foi realizado censo de médicos e enfermeiros. Os
pesos amostrais foram calculados pelo inverso das probabilidades de inclusão na amostra.
Foram entrevistados 224 médicos e 261 enfermeiros nos quatro municípios.
O trabalho de campo foi realizado entre os meses de maio a setembro de 2008. Todos os dados
primários resultantes dos estudos transversais foram codificados e computados no programa
CSPRO versão 3.3 e distribuídos em freqüências simples por município, tipo de informante e
variável. As entrevistas semi-estruturadas foram gravadas, transcritas e agrupadas por
categorias de análise e variáveis. Tanto os dados quantitativos como qualitativos passaram por
análise de conteúdo vertical considerando-se município, categorias e informantes-chave e,
posteriormente, por leitura horizontal comparando-se a perspectivas dos diversos atores
envolvidos bem como dos quatro casos analisados.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da ENSP/Fiocruz e dos municípios
estudados, tendo cumprido todas as exigências estabelecidas pela Resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde.
91
Quadro 1 Dimensões, variáveis e indicadores do eixo “Integração entre níveis
assistenciais”, quatro grandes centros urbanos, 2008
Dimensões
Variáveis
Indicadores
Organização de regionais ou distritos de
saúde
Existência e número de regionais/distritos de saúde
Estrutura de regulação da Secretaria
Municipal de Saúde
Existência de gerência/coordenação de regulação, avaliação e
auditoria da atenção especializada, hospitalar e da rede de urgência
e emergência
Estrutura
organizacional e
administrativa do
setor de regulação da
rede de serviços de
saúde
Principal propriedade dos prestadores de
serviços de saúde para a atenção
especializada
Existência de prestadores públicos municipais e estaduais
Sistema municipal de regulação e
marcação de consultas e exames
especializados
Existência de central municipal de regulação e marcação de
consultas e exames especializados, % de médicos/enfermeiros que
informaram existência de central de marcação de consultas
especializadas
Central municipal de regulação e controle
de leitos e internações
Existência de central municipal de regulação e controle de leitos e
internações
Instrumentos de
integração dos
serviços de saúde
Instrumentos de referência e contra-
referência para atenção especializada
Existência de instrumentos de referência e contra-referência, % de
famílias cadastradas encaminhadas por profissional da ESF que
relataram receber informações por escrito para entregar ao serviço
de referência, % de médicos que fornecem informações por escrito
sempre/na maioria das vezes quando o paciente é referenciado para
outros serviços, % de médicos que recebem contra-referência
sempre/na maioria das vezes após consulta do usuário com
especialista
Percurso mais comum do paciente para
acesso a atenção especializada
Percurso mais comum do paciente desde o atendimento na USF ao
encaminhamento para consulta especializada segundo
médicos/enfermeiros e gestores, principais motivos do
encaminhamento pelo médico da ESF nos últimos 30 dias segundo
famílias cadastradas, principal forma de acesso ao especialista
informada por usuários referenciados nos últimos 12 meses
Prática sistemática de análise dos
encaminhamentos para serviços
especializados realizados pelos
profissionais da APS
Existência de prática sistemática de análise dos encaminhamentos
para serviços especializados realizados pelos profissionais da APS,
% de médicos/enfermeiros que referiram existir sempre/na maioria
das vezes supervisão periódica para avaliar a necessidade de
referência aos outros níveis de atenção
Monitoramento das filas de espera para
atenção especializada
Existência de monitoramento das filas de espera para atenção
especializada
Fluxo formalizado para acesso à atenção
hospitalar
Existência de fluxo formalizado para acesso à atenção hospitalar
Organização dos
fluxos para atenção
especializada,
hospitalar e de
urgência/emergência
Articulação entre Centros de Saúde e
serviços de pronto-atendimento
Existência e grau de articulação entre Centros de Saúde e serviços
de pronto-atendimento
Principal serviço municipal para
realização de consultas/exames
especializados
Principal serviço municipal para realização de consultas/exames
especializados
Acesso e utilização dos serviços de apoio
à diagnose e terapia e consultas
especializadas
% de usuários que relataram necessidade de realização de exame
solicitado pelo médico da ESF nos últimos 12 meses, % de médicos
que conseguem realizar sempre/na maioria das vezes agendamento
para serviços de atenção especializada e de apoio à diagnose e
terapia, % de usuários referenciados nos últimos 12 meses pelo
médico da ESF que conseguiram realizar os exames solicitados,
tempo de espera pelo atendimento com o especialista estimado por
usuários referenciados, tempo médio de espera para consultas
especializadas e para realização de exames de radiologia e ultra-som
estimado por médicos/enfermeiros, tempo de espera para realização
dos exames solicitados pelo médico da ESF e recebimento dos
resultados estimado por usuários referenciados
Acesso e utilização
dos serviços de
atenção especializada
e hospitalar
Acesso e utilização dos serviços de
atenção hospitalar
% de médicos que conseguem realizar sempre/na maioria das vezes
agendamento para maternidade, tempo médio de espera para
internação para cirurgia eletiva estimado por médicos/enfermeiros
Prontuários eletrônicos
Existência de prontuário eletrônico, % de médicos que referiram
fazer registros no prontuário após cada consulta
Instrumentos para
continuidade
informacional
Protocolos clínicos Implantação de protocolos clínicos
Fonte: Giovanella et al.
10
92
R
ESULTADOS
A apresentação dos resultados está estruturada com base nas categorias de análise apresentadas
no Quadro 1.
Estrutura organizacional e administrativa do setor de regulação da rede de serviços de saúde
Em Aracaju, a primeira habilitação do sistema de saúde ocorreu no ano de 1998 na condição de
Gestão Plena da Atenção Básica, conforme Norma Operacional Básica do SUS (NOB/96),
mesmo ano de início da implantação da ESF. Em 2001, assumiu a Gestão Plena do Sistema
Municipal responsabilizando-se pela média complexidade e gradativamente, pelos serviços de
alta complexidade. Belo Horizonte, desde o ano de 1994 quando aderiu à Gestão Semi-Plena,
iniciou processo de organização de estruturas de controle e avaliação. Em Florianópolis e
Vitória a criação de estruturas de regulação da atenção especializada é recente, tendo sido
impulsionada pela expansão de cobertura pela ESF e pela adesão ao Pacto pela Saúde, com
assinatura do Termo de Compromisso de Gestão no ano de 2007, que determinou
responsabilidades pela média complexidade.
Nos municípios estudados observou-se presença de diferentes prestadores de atenção
especializada. Em Aracaju e Belo Horizonte a maioria da oferta localiza-se em unidades
próprias municipais. Em Vitória volume considerável de exames ainda se encontra sob gestão
do estado, sendo esta rede maior que a municipal. Em Florianópolis segundo gerentes
responsáveis pela regulação a maior parte da oferta de atenção especializada está sendo
prestada por unidades municipais (quadro 2). Nestes dois casos, as cotas para os serviços sob
gestão estadual são definidas pela Programação Pactuada Integrada (PPI) e controladas por
centrais de regulação estaduais.
A compra de consultas e exames da rede privada, principalmente nas especialidades com maior
fila de espera foi outra estratégia para garantia de atenção especializada nos quatro casos. Neste
sentido, foi relatado que os valores pagos pela tabela SUS, considerados insuficientes pelos
prestadores e a ausência de políticas de média complexidade pelo Ministério da Saúde
representam importantes entraves à oferta de atenção integral, exigindo pesados investimentos
municipais.
Instrumentos de integração dos serviços de saúde
Nos quatro municípios um dos principais instrumentos para integrar a atenção básica à média
complexidade foi a implantação de centrais informatizadas de regulação e marcação de
procedimentos em centros de saúde. Belo Horizonte, Florianópolis e Vitória optaram pelo
93
SISREG, sistema de informação on line disponibilizado pelo DATASUS, para gerenciar e
operar centrais de regulação. Aracaju implantou o TAS (Terminal de Atendimento do SUS),
que permite a marcação de procedimentos especializados, mas não desempenha funções de
regulação (quadro 2). Os procedimentos oferecidos por meio da PPI ainda não estavam sob
regulação dos sistemas municipais. As iniciativas de regulação e integração entre atenção
básica e atenção especializada são confirmadas pela grande maioria dos médicos e enfermeiros
das equipes de Saúde da Família que reconhecem a existência de centrais de marcação de
consultas e exames (tabela 1).
Além das centrais informatizadas, os municípios apresentaram estratégias para descentralizar
as discussões e a responsabilização pelas ações de regulação para os profissionais da atenção
básica. uma compreensão de que a primeira instância regulatória é o centro de saúde. Em
Belo Horizonte, concomitante à implantação do SISREG, foi realizado trabalho de discussão
sobre o conceito de regulação assistencial junto aos distritos e unidades básicas. Segundo os
gestores e gerentes da SMS, em um contexto de oferta limitada de recursos é necessário
estabelecer prioridades até para que se possa garantir a equidade. O primeiro a estabelecer
critérios de priorização é o centro de saúde, depois o distrito e por fim a SMS: Existem todas
estas instâncias de regulação para garantir o acesso em um tempo oportuno e favorecer o
restabelecimento da saúde, da autonomia e garantir a atenção integral” (gestor local de Belo
Horizonte). Em Florianópolis e Vitória este processo é ainda incipiente, embora, com a
implantação do SISREG e organização das listas de espera por unidades de saúde, o processo
de descentralização das discussões sobre regulação esteja avançando.
Em Belo Horizonte todos os leitos, inclusive os privados credenciados ao SUS e os estaduais
são controlados pela central municipal de regulação. Em Florianópolis e Vitória não central
municipal de regulação de leitos e internações uma vez que os serviços hospitalares são de
gestão estadual. Os dois municípios possuem serviços intermediários de pronto-atendimento
que estabelecem ligação com a central de marcação de leitos do estado, para os casos de
urgência. Aracaju, embora seja Gestor Pleno do Sistema Municipal, também não possui central
municipal de regulação de leitos e internações (quadro 2).
Instrumentos de referência e contra-referência representam importante instrumento para
integração dos serviços de saúde. Nos quatro municípios foi relatada existência de mecanismos
formais para referência e contra-referência entre atenção básica e especializada. Belo Horizonte
e Florianópolis avançam na informatização das unidades básicas e especializadas com
implantação de prontuários eletrônicos. A maior parte dos gestores e gerentes em todas as
94
cidades afirmou que a contra-referência não é uma prática comum, embora os fluxos estejam
instituídos.
O fornecimento de informações escritas sempre/na maioria das vezes quando o usuário é
referenciado a outro serviço de saúde foi prática confirmada pela maioria dos médicos
entrevistados, alcançando percentuais superiores a 90% em Vitória, Belo Horizonte e
Florianópolis. Mais da metade das famílias encaminhadas por profissionais da ESF também
afirmaram receber informações por escrito para entregar ao especialista, sendo o maior
percentual observado em Vitória (85%) (tabela 2). Cabe ressaltar que a implantação dos
prontuários eletrônicos em Belo Horizonte e Florianópolis, embora parcial, pode ter
apresentado influência na diminuição de guias manuais de referência e contra-referência
conduzidas pelo usuário. A insuficiência de contra-referência apontada pelos gerentes e
gestores foi confirmada pelos baixos percentuais de médicos que afirmaram recebê-la sempre e
na maioria das vezes, variando de 2,8% em Belo Horizonte a 11,5% em Florianópolis (tabela
2).
95
Quadro 2 - Estratégias e características do processo de integração entre os níveis
assistenciais segundo gestores e gerentes, quatro grandes centros urbanos, 2008
Variáveis Aracaju Belo Horizonte Florianópolis Vitória
Estrutura organizacional e administrativa do setor de regulação da rede de serviços de saúde
Organização de regionais ou
distritos de saúde
8 Regiões de Saúde 9 Distritos
Sanitários
5 Regionais de
Saúde
6 Regiões de Saúde
Estrutura de regulação da Secretaria
Municipal de Saúde
Núcleo de Controle,
Avaliação,
Auditoria e
Regulação
Gerência de
Regulação e
Atenção Hospitalar,
de Projetos
Especiais, de
Urgência e de
Apoio Diagnóstico
Coordenação de
Regulação e
Coordenação de
Controle, Avaliação
e Auditoria
Gerência de
Regulação, Controle
e Avaliação
Principal propriedade dos
prestadores de serviços de saúde
para atenção especializada
município
município
município
Estado
Instrumentos de integração dos serviços de saúde
Sistema municipal de regulação e
marcação de consultas e exames
especializados
TAS
SISREG
SISREG
SISREG
Central municipal de regulação e
controle de leitos e internações
não Sim Não Não
Instrumentos de referência e contra-
referência para atenção
especializada
sim (guias para
preenchimento
manual)
sim
(informatizado)
sim
(informatizado)
sim (guias para
preenchimento
manual)
Organização dos fluxos para atenção especializada, hospitalar e de urgência/emergência
Percurso mais comum do paciente
para acesso à atenção especializada
Encaminhamento do
CS
Encaminhamento do
CS
Encaminhamento do
CS
Encaminhamento do
CS
Pratica sistemática de análise dos
encaminhamentos para serviços
especializados realizados pelos
profissionais da APS
não
Não
Não
Não
Monitoramento das filas de espera
para atenção especializada
parcial Sim Sim Sim
Fluxo formalizado para acesso à
atenção hospitalar
não Sim Não Não
Articulação entre CS e serviços de
pronto-atendimento
não Sim Não Não
Acesso e utilização dos serviços de atenção especializada e hospitalar
Principal serviço municipal para
realização de consultas/exames
especializados
Centros de
Especialidades
Médicas de Aracaju
Unidades de
Referência
Secundária e
Centros de
Especialidades
Médicas
Policlínicas
Municipais
Centro Municipal
de Especialidades
Instrumentos para continuidade informacional
Prontuários eletrônicos não Sim Sim Não
Protocolos clínicos sim
(consolidado)
sim
(consolidado)
sim (em fase inicial
de implantação)
sim (em fase inicial
de implantação)
Fonte: Giovanella et al.
10
Organização dos fluxos para atenção especializada, hospitalar e de urgência/emergência
O percurso mais comum do usuário para acesso à atenção especializada acontece por meio de
encaminhamentos dos serviços de atenção básica segundo gestores, gerentes, médicos e
enfermeiros entrevistados. Nos municípios estudados, a marcação é feita dentro do centro de
saúde com base na referência realizada pelo médico (quadro 2). Na maior parte das vezes, o
pedido é inserido no sistema de acordo com classificação de riscos e, a data e serviço de
referência a ser procurado posteriormente é avisado ao usuário. Em Belo Horizonte e
96
Florianópolis esta opção representou quase a totalidade das respostas (tabela 1) de médicos e
enfermeiros.
Consultas com especialistas foi o principal motivo de encaminhamento para cerca de 70% das
famílias com experiência de atendimento recente pela ESF nos quatro casos (tabela 2).
Segundo usuários referenciados ao especialista nos últimos 12 meses, 67% e 63%,
respectivamente em Belo Horizonte e Vitória, afirmaram que a consulta foi agendada pela
Unidade de Saúde da Família (USF), sendo encontrados percentuais em torno de 40% em
Florianópolis e Aracaju. Parte importante dos usuários procurou serviços especializados por
conta própria, principalmente em Aracaju (26%), o que pode indicar barreiras à constituição da
porta de entrada pela APS, organização de fluxos e utilização de planos privados de saúde
(tabela 2).
Não foi referida prática sistemática de análise dos encaminhamentos para a atenção
especializada realizada pelas equipes de Saúde da Família por parte da SMS ou por
supervisores (quadro 2). A existência de supervisão periódica para análise das referências
sempre/na maioria das vezes foi referida por 26% dos médicos e enfermeiros de Aracaju e Belo
Horizonte, indicando a presença de iniciativas mais pontuais. Os percentuais encontrados
foram menores em Vitória e Florianópolis, municípios que recém assumiram a
responsabilidade pela gestão da atenção especializada (tabela 1).
Além de regular o acesso e a marcação de consultas e exames, a implantação do SISREG em
três municípios estudados permitiu o monitoramento on line das filas de espera para a atenção
especializada, propiciando à equipe de Saúde da Família acompanhar o percurso do usuário.
Com base nos relatórios gerados pelo SISREG, Florianópolis e Vitória desencadearam amplo
processo de reavaliação das filas de espera junto com os centros de saúde. Em Aracaju,
segundo gerentes e gestores da SMS, o TAS não produz relatórios que permitam monitorar as
filas de espera, sendo a percepção sobre os tempos proveniente do controle que cada gerente de
centro de saúde faz dos encaminhamentos realizados e de relatórios produzidos pela regulação
(quadro 2).
Em Aracaju, Florianópolis e Vitória não foi referido o estabelecimento de fluxos formalizados
para acesso à atenção hospitalar. Para as internações de urgência e emergência a busca por
vagas na rede hospitalar é freqüentemente realizada pelos serviços intermediários de pronto-
atendimento. No caso de cirurgias eletivas mecanismos informais são utilizados para garantia
de internação como contato pessoal entre médicos ou o próprio usuário se responsabiliza pela
busca do atendimento. Em Belo Horizonte a central municipal de regulação de leitos e
97
internações realiza buscas para garantia das internações de urgência tendo como critérios
prioridades clínicas e o perfil do prestador. Para os casos de cirurgias eletivas uma junta
composta por médicos reguladores responsável pela análise das Autorizações de Internação
Hospitalar (quadro 2).
Em Belo Horizonte as portas de entrada para atenção de urgência e emergência são compostas
por unidades públicas sob gestão municipal. No município o processo de articulação e
definição de fluxos entre centros de saúde e Unidades de Pronto-Atendimento (UPA) foi
avaliado de forma positiva pelos gestores. Em Florianópolis, Vitória e Aracaju não foram
mencionados mecanismos de referência e contra-referência entre unidades básicas e pronto-
atendimento (quadro 2). A relação entre USF e os serviços de emergência foi considerado um
dos principais problemas para integração da rede por alto percentual de médicos e enfermeiros
em Vitória (61%) e em Belo Horizonte (63%), apesar das iniciativas municipais para
estabelecimento de fluxos neste município (tabela 1).
98
Tabela 1 Indicadores de integração entre veis assistenciais segundo médicos e
enfermeiros das Equipes de Saúde da Família, quatro grandes centros urbanos, 2008
Indicadores
Aracaju
Belo Horizonte
Florianópolis
Vitória
% de médicos/enfermeiros que informaram
existência de central de marcação de consultas
especializadas
90,2 99,3 89,3 92,9
% de médicos que fornecem informações por
escrito sempre/na maioria das vezes quando o
paciente é referenciado para outros serviços
76,8
95,8
93,4
100,0
% de médicos que recebem a contra-
referência sempre/na maioria das vezes após
consulta do usuário com especialista
5,4 2,8 11,5 11,4
Percurso mais comum do paciente desde
atendimento na UBS ao encaminhamento para
consulta especializada segundo
médicos/enfermeiros
A consulta é agendada pela UBS e a data
posteriormente informada ao paciente
44,3 95,9 95,4 62,4
O paciente sai da UBS com a consulta
agendada
23,8 1,4 0,8 12,9
% de médicos/enfermeiros que referiram
existir sempre/na maioria das vezes supervisão
periódica para avaliar a necessidade de
referência aos outros níveis de atenção
26,3 25,9 19,8 11,8
% de médicos que conseguem realizar
sempre/na maioria das vezes agendamento
para outros serviços
Serviços de atenção especializada 42,9 80,6 47,6 71,5
Serviço de apoio diagnóstico e terapia 37,5 55,5 42,7 42,9
Maternidade 57,2 86,1 75,4 74,3
Tempo médio de espera estimado por
médicos/enfermeiros
Consultas especializadas
em até 1 mês 23,7 13,6 13,0 41,2
3 meses e mais 32,0 53,1 57,3 34,1
Realização exames de radiologia e ultra-som
em até 1 mês 26,3 42,1 19,8 48,6
3 meses e mais 40,2 27,2 51,1 18,8
Internação para cirurgia eletiva
Não sabe informar 38,5 38,8 30,5 44,7
% de médicos que referiram fazer registros no
prontuário após cada consulta
100,0 100,0 100,0 100,0
Principais problemas para integração da rede
de serviços segundo médicos/enfermeiros da
ESF
Relação entre a USF e a atenção especializada
no setor de cuidados ambulatoriais
60,7 46,9 55,0 54,1
Relação entre USF e emergência
45,1 63,3 39,7 61,2
Problemas por causa das listas de espera que
impedem o acesso adequado ao cuidado
especializado e hospitalar
81,1 91,8 91,6 89,4
Fonte: Giovanella et al.
10
Aracaju – Médicos n=56 Enfermeiros=66; Belo Horizonte – Médicos n=72 Enfermeiros=75; Florianópolis –
Médicos n=61 Enfermeiros=70; Vitória – Médicos n=35 Enfermeiros=50
99
Acesso e utilização dos serviços de atenção especializada e hospitalar
Outra estratégia identificada para ampliar o acesso à atenção especializada e integração da rede
foi a criação, pelos governos municipais de Belo Horizonte e Florianópolis, de serviços
territorializados, que funcionam como referência para as unidades de atenção básica de
determinado distrito ou regional de saúde. Além do aumento da oferta, a descentralização da
atenção secundária vem permitindo maior contato entre generalistas e especialistas, garantia de
acesso em tempo mais oportuno e diminuição de barreiras financeiras de acesso. Gestores
locais de Florianópolis avaliam que investimentos em média complexidade potencializam a
resolutividade da atenção básica: É dentro desta lógica que estamos trabalhando, ou seja,
ampliar o acesso à média complexidade é também qualificar a atenção primária” (gestor local
de Florianópolis). Em Aracaju cada CEMAR (Centro de Especialidades Médicas de Aracaju) é
referência para todos os centros de saúde do município em função das especialidades
oferecidas (quadro 2). Ainda assim, a oferta de atenção especializada foi considerada
insuficiente nos quatro municípios.
A descentralização e ampliação da oferta de atenção especializada refletem-se na avaliação de
médicos e enfermeiros, de forma diferenciada entre os municípios. Em Belo Horizonte (81%) e
Vitória (72%) a maioria dos profissionais médicos afirmou conseguir realizar agendamento
para serviços de atenção especializada sempre e na maioria das vezes. Avaliações menos
positivas foram encontradas em Aracaju (43%) e Florianópolis (48%). As dificuldades são
maiores em relação à rede de apoio diagnóstico. Em Aracaju, Florianópolis e Vitória o
percentual de médicos que afirmaram conseguir realizar sempre/na maioria das vezes
agendamento para estes serviços ficou em torno de 40% (tabela 1). Mesmo com as dificuldades
apontadas, altos percentuais de usuários referenciados nos últimos 12 meses, variando de 93%
em Belo Horizonte a 79% em Florianópolis, afirmaram conseguir realizar os exames
solicitados pelos médicos da equipe de Saúde da Família (tabela 2).
Em relação aos tempos de espera para atendimento com especialistas, cerca da metade dos
médicos e enfermeiros de Florianópolis (57%) e Belo Horizonte (53%) estimou ser de três
meses e mais. Em Vitória observou-se maior agilidade, sendo de até um mês o tempo de espera
estimado por 41% dos profissionais (tabela 1). Entre os usuários que haviam sido referenciados
ao especialista, a maioria referiu ter sido atendido em até um mês em três municípios, exceto
em Florianópolis (44%), sendo o maior percentual encontrado em Vitória (77%) (tabela 2).
Para realização de exames de radiologia e ultra-som o tempo médio de espera estimado pela
maior parte dos médicos e enfermeiros de Aracaju e Florianópolis foi de três meses e mais.
em Vitória e Belo Horizonte considerou-se que estes exames são realizados em até um mês. A
100
avaliação dos usuários indica menores tempos de espera para realização de exames, sendo de
até 7 dias em Belo Horizonte (54%) e Vitória (50%) para a maioria dos entrevistados. Maior
agilidade no recebimento dos resultados foi observada em Florianópolis e Vitória (tabela 2).
Em Belo Horizonte, em alguns casos o atendimento hospitalar é territorializado, como, por
exemplo, na atenção à gestante, confirmado pelo alto percentual de médicos (86%) que
afirmaram conseguir realizar sempre/na maioria das vezes agendamento para maternidade
(tabela 1). Em Florianópolis e Vitória a atenção hospitalar é regulada pelo estado e representa
importante limite à oferta e acesso à atenção integral em saúde uma vez que são frágeis os
mecanismos de integração entre os serviços municipais, estaduais e federais: Quando precisa
encaminhar um paciente para internação, não um fluxo estabelecido. Superar essa
dificuldade certamente qualificaria e integraria melhor a rede” (gestor local de Florianópolis).
Nos quatro municípios, as internações para cirurgias eletivas não se encontravam sob
governabilidade dos profissionais de atenção básica, sendo bastante elevado o número de
médicos e enfermeiros que não souberam estimar o tempo médio de espera (tabela 1).
101
Tabela 2 – Indicadores de acesso e utilização de serviços de atenção especializada segundo
famílias cadastradas por Equipes de Saúde da Família, quatro grandes centros urbanos,
2008
Indicadores
Aracaju
Belo Horizonte
Florianópolis
Vitória
% de famílias cadastradas encaminhadas por
profissional da ESF que relataram receber
informações por escrito para entregar ao serviço
ou especialista de referência
n=346
65,3
n=582
77,0
n=469
54,4
n=468
84,8
Principais motivos do encaminhamento pelo
médico da ESF nos últimos 30 dias segundo
famílias cadastradas
n=60
n=101
n=58
n=132
Consulta médica com especialista 73,3 71,3 73,3 68,9
Exames 33,3 28,7 33,3 27,3
Internação ou cirurgia - 9,9 - 3,8
Principal forma de acesso ao especialista
informada por usuários referenciados nos
últimos 12 meses
n= 303
n=324
n=227
n= 330
A consulta com especialista foi agendada pela
USF
43,2
66,7
40,1
62,7
Procurou por conta própria sem qualquer
encaminhamento
25,7
19,4
15,0
19,4
% de usuários que relataram necessidade de
realização de exame solicitado pelo médico da
ESF nos últimos 12 meses
n=470
57,8
n=583
52,0
n=336
51,8
n=491
53,0
% de usuários referenciados nos últimos 12
meses pelo médico da ESF que conseguiram
realizar os exames solicitados
n=272
86,0
n=303
93,1
n=174
78,7
n=260
90,0
Tempo de espera pelo atendimento com o
especialista estimado por usuários
referenciados
n=163 n=241 N=162 n=231
até 30 dias 59,5 58,1 43,9 76,5
3 meses e mais 9,2 17,0 16,0 10,8
Tempo de espera estimado por usuários
referenciados por médico da ESF
Realização dos exames
n=234
n=282
n=137
n=234
de 0 a 7 dias
18,0
53,6
19,0
50,4
em até 30 dias
68,4
89,4
57,7
90,6
Recebimento dos resultados dos exames
n=234
n=282
n=137
n=234
de 0 a 7 dias
19,2
22,3
51,8
36,3
em até 30 dias
76,5 91,4 84,6 93,6
Fonte: Giovanella et al.
10
Instrumentos para continuidade informacional
Belo Horizonte e Florianópolis, no momento da pesquisa, estavam em processo de implantação
de prontuários eletrônicos nos centros de saúde e serviços municipais de especialidades. Fazer
registros nos prontuários após cada consulta foi uma prática referida pela totalidade dos
médicos de família em todas as cidades (tabela 1).
Os quatro municípios adotam protocolos clínicos em diversas áreas do cuidado, que embora
sigam recomendações gerais do Ministério da Saúde, passaram por processos de discussão e
102
revisões locais, com participação de profissionais, gestores e entidades representativas (quadro
2). Em Belo Horizonte, Florianópolis e Vitória além dos protocolos tradicionais com base nos
ciclos de vida e agravos, foram adotados também protocolos para definição de fluxos e
regulação da atenção especializada. Em Florianópolis e Vitória alguns protocolos se
encontravam em fase inicial de implantação ou sendo reestruturados para atender às novas
configurações da rede e responsabilidades assumidas pelo município.
D
ISCUSSÃO
Estudos apontam que a capacidade dos sistemas de saúde em prestar cuidados mais
coordenados ao minimizar barreiras de acesso entre níveis assistenciais, oferecer atenção em
saúde mais sincronizada e em tempo oportuno pode ser otimizada pela implantação de
mecanismos e estratégias de integração da rede assistencial
2,3,6,8
. Além disso, os serviços de
APS, pelos atributos que os caracterizam
22
, seriam os mais adequados para assumirem a
responsabilidade de coordenar o percurso terapêutico do usuário na maior parte dos episódios
de adoecimento.
As principais estratégias e instrumentos de coordenação dos cuidados por meio da integração
entre níveis assistenciais observados nos quatro casos coadunam-se aos encontrados por Conill
e Fausto
5
para os países da América Latina. Os resultados obtidos no estudo, construídos com
base na percepção de gestores, profissionais e famílias cadastradas apontaram que, nos
municípios estudados, estão presentes instrumentos e estratégias de integração entre níveis
assistenciais, em graus distintos de implementação, indicando preocupação com a garantia de
atenção integral. Identificaram-se iniciativas de articulação da APS aos demais serviços de
saúde o que constitui um dos atributos que a distingue de uma concepção seletiva e
focalizadora
9
. Diferenças entre avaliações de gestores, profissionais e usuários foram
observadas, assim como em outros estudos já realizados
19
.
Um ponto positivo refere-se à criação e fortalecimento de estruturas de regulação ao interior da
SMS e nos centros de saúde. Em Aracaju e Belo Horizonte estiveram condicionados às
habilitações dos sistemas municipais de saúde. Em Florianópolis e Vitória destacou-se a
capacidade de indução à organização e integração da rede potencializada pelo aumento de
cobertura pela ESF, anterior à adesão do Pacto pela Saúde. Nestes municípios a criação de
estruturas de regulação foi fortemente influenciada pela expansão da atenção básica,
reforçando seu caráter de porta de entrada preferencial, responsável pela coordenação entre
níveis e de seu papel indutor de mudanças no modelo assistencial. Contudo, nos dois casos
103
estes são processos ainda incipientes. Embora mudanças organizacionais tenham sido
implementadas ao interior da SMS, agora se refletem nos processos de trabalho das equipes
de Saúde da Família e no cuidado prestado aos usuários.
No caso dos municípios que optaram pelo SISREG foi possível conhecer o tamanho real das
filas de espera, monitorá-las, planejar a oferta de atenção especializada em função da demanda,
definir prioridades clínicas, monitorar o índice de abstenção a consultas e exames, além de
garantir maior imparcialidade no controle das agendas. Os processos de regulação da atenção
especializada tradicionalmente coordenados pelas secretarias de saúde, gradativamente estão
sendo incorporados à rotina dos profissionais da atenção básica, que passam a constituir a
primeira instância regulatória do SUS. Este aspecto, considerado um avanço por gestores e
gerentes, trouxe também o desafio de como garantir a qualidade da regulação descentralizada.
Outro resultado positivo considerado indicador de integração da rede foi a organização dos
fluxos para a atenção especializada. A maior parte dos gestores, gerentes, profissionais e
famílias confirmou que a principal forma de acesso a serviços especializados ocorre por meio
de referência das USF. A implantação de centros municipais de especialidades representou
estratégia para aumento da oferta de consultas e exames, oferecidos em tempo e local mais
oportunos, diminuindo barreiras de acesso e possibilitando maior contato entre generalistas e
especialistas que passam a atuar em um mesmo território.
O investimento em Tecnologias de Informação e Comunicação como a informatização dos
prontuários foi uma iniciativa pró-coordenação importante, ainda que em estágio inicial. O
desafio parece ser integrá-los à rede especializada e demais prestadores, como os privados e
estaduais. O desenvolvimento de instrumentos de coordenação clínica como protocolos,
inclusive de acesso à atenção especializada, também representa estratégia para garantia de
atenção integral, tendo como centro os serviços da rede básica.
Embora tenha sido identificado um conjunto de medidas pró-coordenação com base na
implantação de estratégias organizacionais de integração da rede, alguns desafios permanecem
neste campo e outros o extrapolam.
Ainda em relação à integração entre níveis assistenciais, segundo Calnan et al.
1
, a literatura
sugere que entre as tradicionais barreiras para a coordenação dos cuidados, destaca-se a
existência de diferentes prestadores de serviços de saúde. Em Florianópolis e Vitória a
presença de prestadores estaduais cuja regulação não está sob responsabilidade do município,
constitui entrave à garantia de atenção especializada, visto ainda representarem parcela
104
importante da oferta. Neste sentido, as unidades estaduais conformam estruturas paralelas, não
integradas aos serviços especializados municipais.
No campo do cuidado hospitalar, a ausência de centrais municipais de regulação de leitos e
internações além de dificultar o acesso, impede a definição de fluxos formais, resultando em
importante obstáculo à oferta de atenção integral e tornando incompleto o processo de
integração da rede. O contato informal entre profissionais oportuniza acesso desigual a
internações e cirurgias, nem sempre orientados por critérios de prioridade clínica. Além disso,
a ausência de mecanismos de contra-referência para a rede básica reflete-se no alto percentual
de profissionais que não souberam informar o tempo de espera dos usuários para cirurgias
eletivas. Situação mais favorável foi observada em relação à garantia de agendamento para
maternidade, sugerindo melhoria de acesso na atenção à gestante.
Nos quatro casos, a prática sistemática de avaliação dos encaminhamentos por centro de saúde
poderia melhorar a qualificação das referências e promover utilização mais racional dos
recursos especializados. Esforços deveriam ser empreendidos também junto aos demais
profissionais da rede quanto à necessidade de garantir a continuidade informacional, requisito
para a coordenação do cuidado pela APS. A ausência da contra-referência sugere necessidade
de maior integração entre profissionais da atenção básica e especializada.
Foi consensual também a avaliação de que, para além da organização dos fluxos e integração
da rede, a garantia de atenção integral depende da suficiente oferta de procedimentos
especializados. De forma diferenciada entre os municípios, nem sempre é possível garantir
agendamento para média complexidade, principalmente no que se refere à rede de apoio à
diagnose e terapia. A maior parte dos médicos e enfermeiros avaliou problemas decorrentes das
listas de espera que impedem o acesso adequado ao cuidado especializado e hospitalar como o
principal entrave à integração da rede de serviços de saúde (tabela 1). Contudo, mais que a falta
de fluxos ou de mecanismos de marcação e regulação de procedimentos, este achado e outros,
sugerem obstáculos vinculados à oferta insuficiente.
A contratação de serviços da rede privada foi uma das estratégias para suprir deficiências na
oferta de atenção especializada, dificultada, segundo avaliação dos gestores e gerentes, pela
remuneração oferecida pela tabela do SUS, considerada inadequada pelos prestadores.
Também foi recorrente a avaliação de que não políticas para a média complexidade
promovidas pelo MS. Percentual importante dos investimentos para garantir atendimento
integral, que envolve, necessariamente, serviços especializados e hospitalares, faz parte das
iniciativas e esforços do gestor municipal de acordo com os entrevistados.
105
Em síntese, estratégias semelhantes de integração da rede, com resultados diferenciados, foram
encontradas nos quatro casos como investimentos em sistemas informatizados e
descentralizados de regulação, monitoramento das filas de espera para a atenção especializada,
aumento da oferta de serviços próprios municipais, implantação de protocolos clínicos, além
dos prontuários eletrônicos em dois casos. Contudo, a ausência de regulação e de fluxos
formais para a atenção hospitalar constitui importante entrave à garantia de cuidado integral,
tornando incompleto o processo de integração da rede. A insuficiência na oferta de atenção
especializada, agravada pela pouca integração entre prestadores estaduais e municipais,
também se reflete nas dificuldades para agendamento de procedimentos especializados. Neste
sentido, futuros estudos focados em avaliações de cobertura da média complexidade,
integração da rede na perspectiva dos profissionais que atuam na atenção especializada e
constituição de fluxos para a atenção hospitalar podem trazer novas contribuições e elementos
ao debate.
R
EFERÊNCIAS
B
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107
ARTIGO 4. ESTRATÉGIAS DE INTEGRAÇÃO ENTRE ATENÇÃO PRIMÁRIA À
SAÚDE E ATENÇÃO ESPECIALIZADA: PARALELOS ENTRE BRASIL E
ESPANHA
Patty Fidelis de Almeida
XII
Juan Gérvas
XIII
José-Manuel Freire
XIV
Lígia Giovanella
XII
Resumo
Este artigo analisa estratégias desenvolvidas por Brasil e Espanha para integrar Atenção
Primária à Saúde (APS) e Atenção Especializada, com base em estudo qualitativo realizado em
municípios brasileiros e Comunidades Autônomas espanholas. Foram entrevistados 81 gestores
e gerentes da saúde. Entre as iniciativas comuns para integração da rede, com graus distintos de
desenvolvimento, observa-se: papel de filtro exercido pelo médico de família, territorialização
dos serviços de saúde, estratégias para aproximar profissionais como os “especialistas
consultores” e o “matriciamento” e adoção de protocolos clínicos consensuados. No Brasil
ressalta-se a recente implantação de sistemas descentralizados de regulação que permitem
acompanhar o percurso dos usuários e as filas de espera e na Espanha, a consolidada
informatização da história clínica em APS. A criação de história clínica única é um desafio
colocado aos dois países. Iniciativas que promovam maior relação interpessoal foram
consideradas as estratégias mais exitosas para integrar profissionais de ambos os níveis.
Palavras-chave – Atenção Primária à Saúde, coordenação, integração
XII
Núcleo de Estudos Político-Sociais em Saúde – Nupes/Daps/Ensp/Fiocruz
XIII
Escuela Nacional de Sanidad-ISCIII e Equipe CESCA – Madri/ES
XIV
Escuela Nacional de Sanidad-ISCIII – Madri/ES
108
ESTRATEGIAS PARA LA INTEGRACIÓN ENTRE ATENCIÓN PRIMARIA EN
SALUD Y ATENCIÓN ESPECIALIZADA: PARALELOS ENTRE BRASIL Y ESPAÑA
Resumen
El artículo analiza estrategias desarrolladas por Brasil y España para integrar Atención
Primaria en Salud (APS) y Atención Especializada, con base en estudio cualitativo realizado en
municipios brasileños y Comunidades Autónomas Españolas. Fueron entrevistados 81
gestores/gerentes de salud. Entre las iniciativas para integración de la red, con diferentes
grados de desarrollo, se observó: papel de filtro del médico de familia, regionalización de los
servicios, estrategias para aproximar profesionales (especialistas consultores", "apoyo
matricial") y la adopción de protocolos clínicos consensuados. En Brasil, el estudio destaca la
reciente implantación de sistemas descentralizados de regulación que permiten acompañar la
ruta de los usuarios y filas de espera y en España, la ya consolidada informatización de la
historia clínica en APS. La creación de historia clínica única es un reto para los dos países. Las
iniciativas para promover una mayor relación interpersonal son identificadas como las más
exitosas para integrar profesionales de ambos niveles.
Palabras clave – Atención Primaria en Salud, coordinación, integración
STRATEGIES FOR INTEGRATING PRIMARY HEALTH CARE WITH
SPECIALIZED CARE: PARALELS BETWEEN BRAZIL AND SPAIN
Abstract
This paper examines strategies developed by Brazil and Spain for integrating Primary Health
Care (PHC) with Specialized Care, on the basis of a qualitative study conducted in
municipalities in Brazil and Autonomous Communities in Spain. Eighty-one health
policymakers and managers were interviewed. Common measures to integrate the health
system, implemented in differing degrees, included: the filter role played by the family doctor,
territorialization of health services, and strategies for forging closer links between PHC and,
for instance, “specialist consultants”, as well as “matrix support” and consensual clinical
protocols. Of particular note, in Brazil, is the recent introduction of decentralized regulation
systems that enable monitoring of user routings and waiting lists and, in Spain, the long
established computerization of PHC clinical records. Both countries face the challenge of
creating unified clinical records. Measures to foster more interpersonal relationship were
considered the most successful strategies for integrating health workers from the two levels.
Keywords – Primary Health Care, coordination, integration
109
I
NTRODUÇÃO
Espanha e Brasil caracterizam-se pela implantação de sistemas nacionais de saúde com
princípios organizativos semelhantes como financiamento por impostos gerais, cobertura
universal e processos de reforma no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS), iniciados nas
décadas de 1980 e 1990, respectivamente, ainda que em condições cio-econômicas e
tradições históricas distintas (quadro 1). Em ambos os países, a expansão da cobertura e da
provisão pública dos serviços de saúde ganhou força em contexto econômico e político
desfavorável marcado por processos de Reforma do Estado, adverso a intervenções de caráter
universal e ampliação dos programas de bem-estar social (Rico, Freire, Gérvas, 2007; Senna,
2002).
No Brasil, a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), iniciada na década de 1990,
representou contexto favorável a processos de reforma do modelo assistencial. Em 1994, foi
instituído pelo Ministério da Saúde o “Programa Saúde da Família” (PSF). Inicialmente
formulado como um programa vertical, orientado a populações de risco (Vianna e Dal Poz,
1998), em um segundo momento, passou a ser considerado pelo governo brasileiro a principal
estratégia de reforma do modelo de atenção em saúde. Além de promover maior acesso à
atenção primária, a Estratégia Saúde da Família (ESF) incorporou como uma de suas diretrizes
a definição de porta de entrada pela APS, aliado ao desenvolvimento de ações de promoção de
saúde, prevenção de agravos, formação de equipe multiprofissional, maior participação social e
intersetorialidade (Brasil, 2006). A estrutura organizacional das redes assistenciais é
constituída por três níveis: atenção básica (ou APS), assistência ambulatorial e hospitalar de
média complexidade e assistência ambulatorial e hospitalar de alta complexidade (quadro 1).
O Sistema Nacional de Salud espanhol (SNS) instituído em 1986 pela Ley General de Sanidad
representou, segundo Freire (2004), opção política pela experiência considerada exitosa dos
serviços nacionais de saúde e uma evolução da Asistencia Sanitaria de la Seguridad Social
(ASSS). Originada no Seguro Obligatorio de Enfermedad, criado durante os anos de 1940, o
seguro social teve sua cobertura progressivamente ampliada e desde seu início instituiu o
médico generalista como profissional de primeiro contato. No caso espanhol, ao contrário de
outros países com sistemas de seguro social, a ASSS construiu rede própria, composta por
ambulatórios e hospitais. Neste sentido, a criação do Sistema Nacional de Salud, em 1986,
representou a trajetória mais coerente ao desenvolvimento alcançado pela previdência, cuja
cobertura foi se incrementando até a década de 1980. Pressões dos profissionais recém
formados na especialidade de Medicina de Família e Comunidade (MF&C), criada em 1978
110
(Carrio e Badía, 2008), e a crescente insatisfação da população com os serviços oferecidos,
motivaram a promulgação do Real Decreto 137/1984, considerado um marco na criação de um
novo modelo de APS no país. As principais reformas centraram-se na contratação de médicos
generalistas em dedicação integral, formação de equipes multidisciplinares, melhoria da
infraestrutura física, construção de novos Centros de Saúde e fortalecimento da função de
gatekeeper do generalista, agora com formação em MF&C (Freire, 2004; 2005). Algumas
características dos Sistemas Nacionais de Saúde e da APS nos dois países estão descritos nos
quadros 1 e 2.
Desde 1999, o Sistema Nacional de Salud espanhol é financiado por meio de impostos gerais
federais e das dezessete Comunidades Autônomas (CA), que têm por função a gestão e
organização de toda a assistência sanitária nos territórios. O processo de descentralização foi
gradual, tendo início em 1981, com a transferência de recursos a Catalunha, e completado em
2002. Embora a assistência sanitária seja de responsabilidade das Comunidades Autônomas, as
diretrizes gerais estão contidas na Ley General de Sanidad. Os serviços sanitários estão
organizados em Áreas de Saúde, com população entre 200 e 250 mil habitantes, e em dois
grandes níveis de atenção: o primeiro vel ou APS, composto por Centros de Saúde e
consultórios e o segundo nível, a atenção especializada, prestada por hospitais gerais
denominado hospital de área, no qual também estão concentrados os meios diagnósticos e os
serviços de urgência 24 horas (España, 2006)(quadro 1).
111
Quadro 1 – Características gerais dos sistemas de saúde – Brasil e Espanha, 2009
Característica Brasil Espanha
Cobertura pública populacional Universal (de direito, não de fato) Universal (de fato, não de direito)
Fontes de financiamento Impostos gerais Impostos gerais
Gasto total em saúde % do PIB 7,5 (2006) (*) 8,5% (2007)(**)
Gasto público em saúde % do gasto total em
saúde
47,9 (2006) (*) 71.8 (2007) (**)
Gasto total em saúde per capita ($US PPP) 674,0 (2006) (*) 2.671 (2007) (**)
% de população coberta por seguros
privados de saúde
20,6 (2007) (***) 14.4 (2006) (*), sendo 50% deste total
pertencentes ao Seguro Social de
Funcionários
Entidade político- territorial responsável pela
gestão e organização do sistema de saúde
Municípios: responsáveis pela APS –
descentralização finalizada em 2004; parte
dos municípios de maior porte – todo o
sistema de saúde, incluindo atenção
especializada e hospitalar;
Estados: responsáveis pela gestão da média e
alta complexidade, referência para vários
municípios
Municípios: não têm competências na
organização do SNS
Comunidades Autônomas – CA: (estados)
responsáveis por todo o sistema de saúde –
descentralização finalizada em 2002.
Entes responsáveis pela organização do
sistema de saúde
Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde
– órgão da administração pública direta –
organização indiferenciada dentro da
administração pública correspondente
(Município, Estado)
Todas as CA têm Serviços Autônomos de
Saúde (Serviço Vasco, Galego, etc.). São
organizações com personalidade jurídica
própria, com diversos formatos (organismos
autônomos, empresas públicas, entes
públicos de direito privado)
Organização territorial-populacional do
sistema de saúde
Regiões ou Distritos de Saúde – em
construção com formatos diversos
Áreas de saúde: para as Equipes de Saúde da
Família (até 4.000 hab)
Áreas de Saúde : 200.000 a 250.000 hab.
Zonas Básicas de Saúde: 5.000 a 25.000 hab
para a APS
Níveis de organização da atenção em saúde 3 Níveis:
Atenção Básica (APS)
Atenção de média complexidade
especializada ambulatorial e hospitalar
Atenção de alto custo/alta complexidade
ambulatorial e hospitalar
2 Níveis:
Atenção Primária à Saúde
Atenção Especializada: ambulatorial
hospitalar e internação hospitalar
Prestadores de serviços do sistema público
de saúde
APS: própria pública em Centros de Saúde
Atenção Especializada: pública e privada,
35% dos procedimentos realizados pelo SUS
foram realizados por prestadores privados
(#)
Atenção hospitalar: privada e pública, 55%
das internações realizadas pelo SUS foram
em prestadores privados (#)
APS: própria pública em Centros de Saúde
Atenção Especializada/Hospitalar: 70%
prestadores públicos próprios (varia segundo
CA)
Vínculo laboral dos trabalhadores sanitários
públicos
Diversos regimes: servidores públicos,
Regime CLT, contratos temporários
Regime especial de emprego público
(“estatutário”) para a grande maioria
Médicos por 10.000 habitantes 17,4 (2007) (***) 36,5 (2007) (**)
Enfermeiros por 10.000 habitantes 9,4 (2007) (***) 75,4 (2007) (**)
Leitos hospitalares por 10.000 habitantes 24 (2005) (***) 33 (2006) (**)
Número de consultas médicas por
habitante/ano
2,6 (SUS) (2007) (***) 8,1 (2006) (**)
Fontes:
* WHO Statistical Information System (WHOSIS), 2008
** OECD Health Data, 2009
*** Indicadores e Dados Básicos, 2008
# Ministério da Saúde - DATASUS
Passados mais de vinte anos do início da reforma da APS na Espanha e mais de uma década da
implantação da ESF no Brasil, a integração entre Atenção Primária à Saúde e Atenção
Especializada (AE), assim como em outros países, se converteu em uma preocupação e um
desafio a ser enfrentado pelos sistemas de saúde, principalmente diante do aumento da
112
prevalência de doenças crônicas e também pela reconhecida fragmentação na oferta de
assistência em saúde que compromete a coordenação dos cuidados (Hofmarcher, Oxley,
Rusticelli, 2007; Gérvas, Rico, 2005). Segundo Gérvas (2009) a integração entre níveis segue
como um tema pendente para o sistema de saúde espanhol. Para o autor, a reforma da APS
privilegiou mudanças na carteira de serviços, tipo e distribuição dos recursos, em detrimento de
ações pró-coordenação, sendo este o escopo de medidas mais recentes. No Brasil, após período
de ampla expansão da ESF, principalmente a partir dos anos 2000, a preocupação com a
coordenação ganhou ênfase e políticas específicas por parte do gestor federal que passou a
garantir financiamento para a implantação de equipes interdisciplinares de apoio aos
profissionais de Saúde da Família com objetivo de fortalecer, ampliar a resolutividade e
integração da APS aos demais níveis (Brasil, 2008).
Estudos identificam um conjunto de reformas capazes de potencializar a capacidade dos
sistemas de saúde em melhorar a coordenação dos cuidados, que pode ser definida como a
articulação entre os diversos serviços e ações relacionados à atenção em saúde de forma que,
independentemente do local onde sejam prestados, estejam sincronizados e voltados ao alcance
de um objetivo comum (Almeida et al. 2010; Hofmarcher, Oxley, Rusticelli, 2007; Boerma,
2007; Nuñez, Lorenzo, Navarrete, 2006). Entre as principais medidas pró-coordenação
destacam-se a utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), mudanças nos
padrões de financiamento e alocação de recursos no setor ambulatorial, integração entre níveis
assistenciais e fortalecimento das estruturas de APS (Hofmarcher, Oxley, Rusticelli, 2007;
Boerma, 2007; Gérvas, Rico, 2005).
O presente artigo identifica estratégias de coordenação dos cuidados por meio da análise de
instrumentos de integração entre Atenção Primária à Saúde e Atenção Especializada
desenvolvidas em municípios brasileiros e Comunidades Autônomas espanholas. Estudos
demonstram que a coordenação dos cuidados sustenta-se na existência de uma rede integrada
de prestadores de serviços de saúde, de modo que distintas intervenções sejam percebidas e
experenciadas pelo usuário de forma contínua e adequada às suas necessidades de atenção em
saúde. Assim, a coordenação é fortemente afetada pela “integração entre níveis assistenciais”,
principalmente pela existência de barreiras que dificultam o trânsito do usuário na busca pelo
cuidado em saúde (Hofmarcher, Oxley, Rusticelli, 2007). De acordo com Hartz e
Contandriopoulos (2004) para efetivar a garantia do cuidado em saúde, torna-se fundamental a
constituição de redes integradas que reconhece necessariamente a interdependência e, muitas
vezes conflitos entre atores sociais e organizações distintas. Deste modo, além de colaborar
para maior conhecimento teórico e prático no campo da coordenação dos cuidados aqui
113
compreendida como essencial à oferta de uma APS abrangente, objetiva-se identificar práticas
exitosas que, tendo em vista especificidades de cada país, possam constituir lições aprendidas.
Quadro 2 – Características da Atenção Primária à Saúde – Brasil e Espanha, 2009
Indicador Brasil Espanha
Tradição – antecedentes de Medicina Geral Medicina Previdenciária com ações
especializadas de pronto-atendimento, sem
tradição em MF&C
Centros de Saúde Pública para controle de
endemias e atendimento a grupos específicos
por meio de ações programáticas
Iniciativas locais em Medicina Geral e
Comunitária
Medicina de Assistência Pública Domiciliar
(século XIX)
Anos 40: o Seguro Social inicia com a
Medicina e Pediatria geral (médicos de
cabecera)
Processo de reforma da APS Iniciado em 1994 (criação do Programa
Saúde da Família)
Iniciado em 1984 (RD137/84) Criação das
Equipes de Atenção Primária
APS porta de entrada (filtro) Proposta a partir de 1994 em áreas cobertas
pela Estratégia Saúde da Família
Sim, desde os anos de 1940, início do
Seguro Social
Co-pagamento por consultas Não Não
Territorialização da APS Para áreas cobertas pelo PSF: áreas e micro-
áreas de saúde
Sim: Zonas Básicas de Saúde (Centros de
Saúde)
Composição das Equipes de APS Médico generalista, enfermeiro e auxiliar de
enfermagem, agentes comunitários de saúde
e equipe de saúde bucal (odontólogo, ACD
e/ou THD)
Médico de Família e Comunidade, Pediatra,
Enfermeiras, Administrativos
Lista de população por médico de família Não (população adscrita a Equipe de Saúde
da Família e não ao médico de família – de
3.000 a 4.000 hab/ESF )
Sim: entre 1.300 e 1.800 pessoas registradas
por médico de família
Livre eleição do médico/equipe de Saúde da
Família
Não Sim (possibilidade de mudar de médico de
família voluntariamente)
Sistema de pagamento dos médicos Salário
Salário + pequeno complemento por
capitação
Horário normal de funcionamento dos
Centros de Saúde
8:00-17:00 (segunda a sexta-feira) 08:00-21:00h (segunda a sexta-feira) em
dois turnos
Formação especializada em Medicina de
Família e Comunidade
Não obrigatória Atualmente obrigatória
Iniciada 1978 – 4 anos de duração, igual as
outras especialidades.
P
ERCURSO METODOLÓGICO
Para identificar e analisar as estratégias de integração entre APS e AE no Brasil e na Espanha
foram analisados dados qualitativos de pesquisa desenvolvida em quatro municípios brasileiros
(Giovanella, Escorel, Mendonça, 2009) e em três Comunidades Autônomas espanholas, além
de revisão de literatura e documentos. Por meio dos estudos buscou-se analisar características,
similaridades e diferenças em relação às estratégias de integração entre níveis assistenciais,
considerado elemento fundamental para alcançar o atributo da coordenação dos cuidados
(Kringos et al., 2010) com base em experiências locais em dois países. Conforme destaca
Conill (2006), embora a organização e a distribuição dos serviços sejam distintas entre os
países, similaridades podem ser observadas em função de influências de âmbito universal,
principalmente no campo tecnológico e no campo da informação, por mudanças nos perfis
114
demográfico e epidemiológico que seguem tendências semelhantes, pelas novas necessidades
médico-assistenciais, além de consensos produzidos por organismos internacionais. Embora
seja impossível a simples importação de experiências desenvolvidas em contextos socialmente
distintos, a análise comparada permite conhecer diferentes estratégias para o enfretamento dos
problemas de saúde, refletir sobre sua utilidade e situar determinado sistema de saúde em uma
perspectiva mais ampla.
Os municípios brasileiros foram selecionados de forma intencional de modo a escolher
experiências consolidadas de implantação da ESF, sendo os casos Aracaju, Belo Horizonte,
Florianópolis e Vitória (Giovanella, Escorel e Mendonça, 2009). Na Espanha foram
selecionadas CA com capacidade de “liderança”, cujas mudanças e inovações são de grande
influência para as demais, quais sejam: Catalunha, Madri e País Basco. Nos três casos as
unidades de análise foram compostas pela área metropolitana mais importante,
respectivamente, Barcelona, Madri e Bilbao. Nos dois países foram eleitas unidades com
capacidade decisória (municípios no Brasil e CA na Espanha).
A principal fonte de informação do estudo foram entrevistas semi-estruturadas realizadas com
gestores e gerentes da saúde. O roteiro de entrevista foi definido com base em categorias de
análise utilizadas por Almeida et al. (2010) para avaliar e identificar estratégias de integração
entre níveis assistenciais. Com base nestas categorias foram definidos contextos, ou seja,
âmbitos de gestão e gerência da rede de serviços de saúde capazes de responder aos objetivos
do estudo nos quais foram eleitos informantes-chave. Os roteiros de entrevista foram adaptados
em função das especificidades dos sistemas de saúde de cada um dos países. Ênfase foi
conferida à relação entre APS e atenção especializada que englobou serviços de apoio à
diagnose e terapia e consultas.
Foram realizadas 81 entrevistas com informantes-chave dos dois países entre os quais, no
Brasil: Secretário Municipal de Saúde (4), Coordenador da Atenção Básica/ESF (4), gerentes
vinculados à Regulação, Controle e Avaliação (16), à Vigilância em Saúde (4), gerentes de
Unidades Básicas de Saúde (16), além de representantes de entidades profissionais médicas e
de enfermagem (10). Nas três CA espanholas foram entrevistados gerentes de áreas de APS
(5), diretores médicos, de enfermagem, de docência e investigação (14) diretores clínicos de
hospitais (2) e médicos de família e enfermeiros com experiência em gestão (6). O trabalho de
campo nos municípios brasileiros foi realizado entre os meses de maio a setembro de 2008 e
nas CA de março a agosto de 2009.
115
As entrevistas semi-estruturadas foram gravadas e transcritas. Foi realizada análise de conteúdo
e os resultados organizados segundo as categorias pré-definidas. Em um primeiro momento, os
dados passaram por análise vertical de conteúdo considerando categorias, grupos de
informantes-chave, municípios e CA, e, posteriormente, por leitura horizontal comparando-se a
perspectivas do conjunto de atores envolvidos nos dois países. Além das categorias pré-
definidas, novos elementos foram identificados com base em temas emergentes nas entrevistas.
Assim, a apresentação dos resultados está estruturada em quatro dimensões utilizadas para
analisar a “integração entre atenção primária e especializada”: posição ocupada pela APS e
prioridade do tema da integração entre níveis de atenção nas políticas locais de saúde;
instrumentos de integração dos serviços de saúde; organização dos fluxos para atenção
especializada e para urgência/emergência; e cultura de colaboração entre APS e AE
(Quadro
3).
R
ESULTADOS
Integração entre Atenção Primária e Especializada no Brasil
Posição ocupada pela APS e prioridade do tema da integração entre níveis de atenção
nas políticas locais de saúde
A integração entre veis assistenciais tem sido um tema constante no debate da política local
de saúde nos quatro municípios brasileiros e considerada relevante e necessária para a
construção de uma atenção integral em saúde. Há um entendimento de que somente a expansão
da Estratégia Saúde da Família não é suficiente para garantir a integralidade do cuidado,
exigindo a articulação com os demais níveis do sistema e com as políticas públicas. Ainda
assim, se reconhece que a implantação da ESF, na medida em que objetiva organizar a porta de
entrada, impulsionou o debate em torno da necessidade de organização da rede, regulação e
coordenação dos cuidados. A possibilidade de redução do número de internações hospitalares,
melhoria do acompanhamento do uso de medicamentos e do autocuidado, do fluxo de
informações entre serviços e ganhos de eficiência do sistema em geral seriam resultados ao
médio prazo de medidas pró-coordenação. Os grupos avaliados como mais afetados por
inadequada coordenação foram crianças, mulheres, idosos, pacientes crônicos e com patologias
graves que apresentam dificuldades para acessar o sistema de saúde. No entanto, destacou-se
que os diversos grupos populacionais necessitam de cuidados contínuos, associado à existência
de serviços de saúde integrados (quadro 3).
116
As equipes de Saúde da Família (SF) são a porta de entrada para o sistema de saúde embora o
papel de filtro, que inclui a referência aos demais níveis, seja exercido pelo médico generalista
nas cidades estudadas (quadro 3). Além de porta de entrada, os serviços de APS são
identificados pelos gestores e gerentes como o vel de atenção que teria o papel de
coordenação dos cuidados ao interior do sistema de saúde: Todo o restante da rede é suporte
para a atenção básica (gestor de Belo Horizonte). Além disso, o desenvolvimento de
estratégias para atendimento à demanda espontânea, como o acolhimento, foi considerado
fundamental para a consolidação da APS como serviços de primeiro contato e uso regular,
ainda que nem sempre plenamente implantadas.
Instrumentos de integração dos serviços de saúde
Nos municípios estudados, um dos principais instrumentos para integrar a APS à atenção
especializada foi a implantação de centrais informatizadas de regulação e marcação de
procedimentos nas Unidades de Saúde da Família (USF). Os sistemas informatizados permitem
conhecer o tamanho real das filas de espera, monitorá-las, definir prioridades clínicas, conhecer
o índice de abstenção a consultas e exames, além de garantir maior imparcialidade no controle
das agendas. Os processos de regulação da AE tradicionalmente coordenados pelas secretarias
de saúde, gradativamente estão sendo incorporados à rotina dos profissionais da APS, que
passaram a constituir a primeira instância regulatória do SUS.
A implantação da história clínica informatizada nos serviços de atenção primária e
especializada ainda é recente e bastante incipiente. Belo Horizonte e Florianópolis, no ano de
2008, estavam em processo de informatização dos prontuários nas USF, com desenvolvimento
de história clínica compartilhada com os serviços municipais de especialidades. Nestas cidades,
desde o início da implantação trabalhou-se pela criação de história clínica única entre atenção
primária e especializada (quadro 3).
Foi relatada existência de instrumentos formais para referência e contra-referência. Contudo, a
maior parte dos gestores e gerentes afirmou que a contra-referência não é uma prática comum.
Entre os motivos apontados estiveram a vinculação histórica do usuário com a atenção
especializada, isolamento entre profissionais dos dois níveis, desqualificação do trabalho do
generalista e dificuldades dos profissionais para registro de dados clínicos.
117
Organização dos fluxos para atenção especializada e para urgência/emergência
O percurso mais comum do usuário para acesso à atenção especializada acontece por meio de
encaminhamento dos serviços de APS nos quatro casos. A marcação é realizada com base na
referência do médico das equipes de SF (quadro 3). O pedido é inserido em sistema
informatizado e a data e serviço, em geral, são posteriormente avisados ao usuário pelo
telefone ou pelo Agente Comunitário de Saúde. Outra forma de acesso à atenção especializada
é por meio da procura direta por unidades de urgência e pronto-atendimento. Em todos os
municípios foi recorrente o discurso de que muitos casos que chegam a estes serviços poderiam
ser atendidos nas USF. De acordo com avaliação dos gestores e gerentes a possibilidade de
atendimento no mesmo dia e certa facilidade de acesso a meios diagnósticos são alguns dos
fatores explicativos pela procura dos serviços de urgência como primeiro contato.
Nos municípios estudados o sistema de marcação e regulação presente nas USF permite a
inserção da referência solicitada pelo médico de família segundo classificação de risco. Os
casos considerados prioritários são avaliados por equipes de médicos reguladores da Secretaria
Municipal de Saúde que definem aqueles que não podem estar na fila de espera, independente
das cotas físicas de cada unidade.
Para atendimentos em horários fora do funcionamento das USF estão disponíveis Unidades de
Pronto-Atendimento (UPA). A UPA faz parte da rede de urgência, contudo a definição de
fluxos representa um desafio aos gestores dos sistemas municipais de saúde. Em Belo
Horizonte um acordo entre os serviços de saúde para que a USF atenda aos casos agudos e
referencie para a UPA apenas os que realmente necessitam. Os serviços de pronto-atendimento
se comprometem a realizar a contra-referência para as equipes de Saúde da Família (quadro 3).
Para a organização dos fluxos são adotadas guias de prática clínica em diversas áreas do
cuidado, que embora sigam recomendações gerais do Ministério da Saúde, passaram por
processos de discussão e revisões locais, com participação de profissionais, gestores e
entidades representativas. Em Belo Horizonte, Florianópolis e Vitória além das guias
tradicionais com base nos ciclos de vida e agravos, foram adotados protocolos para definição
de fluxos e regulação da atenção especializada. O processo de construção coletiva dos
protocolos funcionou também como estratégia de capacitação para uso dos mesmos e
interlocução entre profissionais de APS e AE.
Não foi referida prática sistemática de análise dos encaminhamentos realizados pelas equipes
de Saúde da Família por parte do gestor municipal. Contudo, a implantação de sistemas
informatizados de regulação para atenção especializada, possibilitou o monitoramento on line
118
das filas de espera, possibilitando o acompanhamento do percurso do usuário e
redimensionamento da oferta dos recursos especializados de acordo com critérios
epidemiológicos e sociais, além de medidas para diminuição dos tempos de espera (quadro 3).
Cultura de colaboração entre Atenção Primária à Saúde e Atenção Especializada
A preocupação em criar mecanismos para aproximação entre profissionais da APS e AE com
vistas a criar uma cultura de colaboração entre níveis ainda é incipiente nos municípios
investigados, sendo mais presente em Belo Horizonte. Estratégias de teleconsulta e
teleconferência foram consideradas medidas que aproximam profissionais dos dois níveis
(quadro 3). Embora constituam importante instrumento para melhorar a integração entre
serviços de saúde, segundo avaliação de gestores: se não houver o contato pessoal entre os
profissionais dos diversos níveis, as relações de hierarquia não irão mudar” (gestor de Belo
Horizonte). Avaliou-se que o especialista precisa sair do consultório e conhecer diretamente as
pressões e demandas da população, o que possibilitaria mudanças de atitude, de valorização e
respeito aos profissionais que atuam em outros níveis do sistema. O baixo prestígio social e
profissional dos trabalhadores de APS agrava a distância em relação às demais especialidades.
Na perspectiva de membros de entidades representativas de Medicina de Família e
Comunidade o maior problema enfrentado, no momento, seria a baixa valorização do médico
generalista pelos pares.
A criação de serviços territorializados de atenção especializada como vem ocorrendo em Belo
Horizonte e Florianópolis, que funcionam como referência para as USF de determinado distrito
ou regional de saúde, além de aumentar o acesso mais oportuno a consultas e exames de média
complexidade, oportuniza maior contato entre generalistas e especialistas e potencializa a
resolutividade da APS: É dentro desta lógica que estamos trabalhando, ou seja, ampliar o
acesso à média complexidade é também qualificar a atenção primária” (gestor de
Florianópolis).
O “matriciamento” destacou-se entre as inovações implementadas para reduzir o
distanciamento e aproximar especialistas e profissionais de APS, além de trabalhar as
dificuldades encontradas pelas equipes de SF em seu próprio espaço de trabalho: Não
podemos ter dois modelos, um que seja de atenção básica e outro que não seja. A atenção
especializada precisa qualificar a básica. O usuário precisa pertencer a todos os níveis”
(gestor de Vitória). O matriciamento prevê que especialistas apóiem profissionais de APS por
meio de interconsulta, discussão de casos clínicos, capacitações, além de funcionar como
119
referência para atendimentos. Observou-se maior desenvolvimento de equipes matriciais em
Saúde Mental, composta por psicólogos, assistentes sociais e psiquiatras, e em Geriatria
(quadro 3).
Integração entre Atenção Primária e Especializada na Espanha
Posição ocupada pela APS e prioridade do tema da integração entre níveis de atenção
nas políticas locais de saúde
A integração entre níveis assistenciais foi considerada um desafio fundamental nas discussões e
políticas de saúde nas três CA espanholas e elemento chave para melhoria da qualidade da
atenção, ainda que as medidas implementadas nem sempre sejam as mais adequadas. Foi
consenso entre os entrevistados que a população a ser atendida é a mesma, a depender da
necessidade de saúde em dado momento e que os serviços são interdependentes.
O grande número de portadores de patologias crônicas vem gerando desafios assistenciais tanto
para a APS quanto AE, sendo uma das motivações apontadas para o desenvolvimento de ações
pró-coordenação como a melhor integração entre níveis assistenciais. Além disso, a
preocupação com o tema foi relacionada a problemas como aumento das listas de espera,
repetição de provas diagnósticas e, conseqüente aumento dos gastos para o sistema sanitário
(quadro 3).
Entre os grupos mais afetados por inadequada coordenação foram mencionados portadores de
patologias crônicas, idosos, gestantes e aqueles com necessidade de cuidados paliativos. De
acordo com avaliação dos entrevistados grupos com menor acesso às informações sobre a
organização do sistema de saúde e aos recursos econômicos também são prejudicados por
inadequada coordenação, como, por exemplo, imigrantes.
Na Espanha, o profissional médico com especialidade em Medicina de Família & Comunidade
tem função de filtro para a atenção especializada. A grande maioria dos espanhóis utiliza seu
médico de família e também o pediatra do Centro de Saúde como serviço de procura regular.
Embora a APS tenha passado por reformas nos anos de 1980, que aumentaram seu
protagonismo ao interior do Sistema Nacional de Salud, desde 1940 a função de porta de
entrada era exercida pela APS. Mais recentemente, em alguns casos, os enfermeiros que
compõem as Equipes de Atenção Primária (EAP) passaram a realizar atendimento de primeiro
contato, embora a função de filtro seja exercida por médicos de família. Em Barcelona,
ginecologistas e parteiras que formam as equipes de Atenção à Saúde Sexual e Reprodutiva,
120
estrutura pertencente à atenção primária, também constituem porta de entrada e se
responsabilizam por ações preventivas, de acompanhamento da gestação e puerpério. Apesar
do amplo acesso à APS, foi relatado que as longas listas de espera para algumas especialidades
e a existência de uma certa cultura que considera a atenção hospitalar como de melhor
qualidade são elementos que levam a população a buscar atendimento diretamente na rede de
urgência.
Gestores de Madri destacaram a baixa capacidade de intervenção das gerências de APS na
definição de estratégias para melhorar a integração entre níveis assistenciais. Ainda assim, as
principais iniciativas em curso, freqüentemente, são empreendidas por este vel de atenção.
Uma das razões apontadas seria que a atenção primária é quem se responsabiliza e mantém
maior vínculo com os usuários: a atenção especializada, em geral, é para episódios...
Entretanto, o paciente permanece ao longo do tempo e de sua vida, longitudinalmente, com a
APS. O paciente vai ao especialista e volta... Então, muitas vezes a necessidade de
coordenação parte mais da nossa necessidade do que da atenção especializada” (gerente de
Bilbao).
Instrumentos de integração dos serviços de saúde
Desde a década de 1990 foi iniciado processo de informatização das histórias clínicas em APS,
com ritmo diferenciado entre as CA. a rede hospitalar apresenta processo mais recente de
informatização (quadro 3). Não há história clínica única, compartilhada entre APS e AE.
Barcelona e Bilbao optaram pelo desenvolvimento de um “repositório comum de informações
clínicas” que permite aos profissionais de ambos os níveis acessar e compartilhar dados de
interesse comum como exames complementares, diagnósticos, informes de alta hospitalar,
contatos com serviços de saúde, tratamentos, entre outros. Este processo é recente e não está
disponível para todas as unidades de atenção primária e especializada.
A troca de informações clínicas entre níveis de atenção ainda acontece predominantemente por
meio de guias de referência e contra-referência não informatizadas. Na maior parte das vezes, o
documento que contém dados clínicos e justificativa para referência é conduzido pelo usuário
ao especialista, que deve fazer o registro do atendimento neste documento. O processo de
retorno das informações clínicas desde a AE à APS foi avaliado como irregular pela maioria
dos gestores e gerentes, apresentando problemas em relação à qualidade dos registros.
121
Organização dos fluxos para atenção especializada e para urgência/emergência
O percurso mais comum do usuário para acesso à atenção especializada ocorre por referência
realizada por médicos de família ou pediatras que atuam nos Centros de Saúde (quadro 3).
Quando estes profissionais avaliam a necessidade de encaminhamento preenchem uma guia, na
qual dados pessoais, medicações e outras informações podem ser extraídos da história clínica
informatizada e acrescidos da justificativa para a referência. A solicitação é conduzida pelo
usuário ao funcionário administrativo que acessa a agenda de consultas e exames disponíveis,
segundo o hospital de área. Assim, o agendamento da consulta com especialista é realizado
pelo Centro de Saúde e a data e horário, em geral, são informados neste momento.
Mais recentemente foi relatada criação de circuitos especiais de referência para casos que,
segundo a avaliação do médico de família, não poderiam entrar em filas de espera e não têm
perfil para atendimento em serviços de urgência. Em Madri estes circuitos estão estabelecidos
para casos de “suspeita de malignidade” para os quais o usuário deve ser comunicado da
disponibilidade de consulta especializada em até 48 horas e atendido em até 15 dias; e para
“consultas preferenciais”, que não são casos de suspeita de câncer, mas representam situações
intermediárias entre a urgência e o circuito normal de referência que devem ser avaliadas em
até um mês. Nas demais CA os circuitos preferenciais também privilegiaram casos de suspeita
de câncer. Contudo, foi mencionado que estes circuitos enfrentam problemas para sua
operacionalização como realização de referências inadequadas: “se gerou mais demora
diagnóstica apesar da criação de circuitos especiais de referência para pacientes com suspeita
de câncer. O que ocorre é que se encaminha todo mundo, os que podem ou não ter câncer, se
produzindo um gargalo ainda maior” (gestor de Madri).
Para os episódios que acontecem fora do horário de atendimento dos Centros de Saúde estão
disponíveis Pontos de Atenção Continuada (PAC). Estes serviços fazem parte da APS e estão
voltados ao atendimento de casos sem perfil para urgências hospitalares. Em Barcelona, desde
os anos 2000, foi iniciado processo de reforma destas estruturas para torná-las mais resolutivas
e integradas aos serviços de atenção primária. Gradativamente, os PAC estão sendo
substituídos por Centros de Urgência em Atenção Primária que podem funcionar no mesmo
espaço físico de Centros de Saúde ou em estruturas próximas às urgências hospitalares e,
preferencialmente, com médicos e enfermeiros que fazem parte das Equipes de Atenção
Primária, além de traumatologistas. Para melhorar a integração entre serviços, um projeto
que prevê que médicos dos hospitais tenham parte de sua jornada de trabalho nestas unidades.
122
Guias de prática clínica para agravos específicos também tem representado estratégia utilizada
para organização de fluxos entre atenção primária e especializada. Em Bilbao e Barcelona foi
relatada elaboração conjunta destes instrumentos, uma vez que implica na definição de
atividades coordenadas entre os dois níveis (quadro 3).
O número de encaminhamentos para serviços especializados e as listas de espera estão
disponíveis para as gerências de atenção primária, embora não tenha sido relatada prática
sistemática de avaliação destes dados. Conforme gestores e gerentes de Madri não é possível
saber o número de pacientes que efetivamente realizaram a consulta ou exame especializados,
informação disponível apenas nos hospitais e enviadas às direções de APS de forma
esporádica. Alguns gerentes de APS avaliaram que o monitoramento dos tempos de espera
deveria ser uma atribuição dos hospitais, uma vez que não teriam governabilidade sobre as
agendas da atenção especializada. Foi considerado que mais que um problema de oferta
insuficiente, as longas filas de espera para algumas especialidades e provas diagnósticas
decorreriam da falta de objetivos comuns entre atenção primária e especializada Ter objetivos
comuns nos ajudaria. (...) recursos que não são econômicos. Por isto, temos que encontrar
a fórmula de nos coordenarmos muito mais facilmente” (gerente de Madri).
Cultura de colaboração entre Atenção Primária à Saúde e Atenção Especializada
De forma geral, avaliou-se como insuficiente o conhecimento dos profissionais que atuam na
atenção especializada sobre o processo de trabalho na APS, situação que vem se modificando
positivamente ao longo do tempo (quadro 3). Foi consenso que um maior conhecimento mútuo
poderia gerar mudanças positivas na relação entre profissionais dos dois níveis: “(...) quando
os especialistas vêm aos Centros de Saúde e passam a conhecer como trabalhamos, se
estabelecem relações de confiança e vontade de trabalhar mais em conjunto. Quando ficam
somente no hospital, se esquecem de como funciona o todo” (gerente de Madri). Neste sentido,
as iniciativas para favorecer maior conhecimento pessoal e intercâmbio de experiências entre
profissionais de APS e AE foram consideradas as estratégias mais exitosas para fortalecer a
integração entre níveis: “Conhecer-se fisicamente também é importante. (...) existe a
tecnologia... mas o contato pessoal é importante, estar diante do especialista, falar com ele...”
(gerente de Bilbao).
A distância entre os profissionais também foi atribuída ao fato de que o médico de família não
recebe o mesmo reconhecimento e prestígio que os demais especialistas, uma das condições
para que possa exercer o papel de coordenação ao interior do sistema de saúde: “as estratégias
123
utilizadas são as mesmas utilizadas por todos: protocolizar patologias, definir critérios de
referência, utilizar ferramentas conjuntas... Tudo isto não tem utilidade se não parte de uma
base: que o profissional de APS tenha o mesmo nível, responsabilidade e valorização que os
demais médicos do sistema de saúde. Todos têm que situar-se no mesmo nível, com papéis
distintos...” (médico de família de Bilbao).
Entre as medidas implementadas para aproximar profissionais de ambos os níveis destaca-se a
experiência de “especialistas consultores” em áreas como cardiologia, dermatologia,
gastroenterologia, oftalmologia, traumatologia, entre outras (quadro 3). Estes profissionais,
vinculados a hospitais de referência, se deslocam aos Centros de Saúde para realização de
interconsulta, sessões clínicas, capacitações e elaboração conjunta de protocolos. Segundo
gestores de Barcelona mais de dez anos e de forma mais intensa nos últimos cinco anos, o
Serviço Catalão de Saúde vem introduzindo medidas que favorecem maior interrelação entre
hospitais e APS: Uma das vantagens de ter especialistas nos Centros de Saúde é a
aproximação, o reconhecimento mútuo. O que também se observa é que o especialista se
adapta à atenção primária. Muitas vezes, o especialista atende somente no hospital e maneja
um tipo de paciente. Quando estão nos Centros de Saúde uma adaptação a uma forma
distinta de trabalhar” (gerente de Barcelona).
Em Bilbao a criação de um blog para troca de informações, artigos, opiniões, realização de
sessões clínicas e, sobretudo, como instrumento de comunicação, foi mencionada como uma
iniciativa para aproximar profissionais e para melhorar a integração entre níveis: o objetivo é
compartilhar uma cultura de que vale à pena trabalhar de forma conjunta, compartilhar
conhecimento” (gestor de Bilbao).
124
Quadro 3 Características e estratégias de integração entre Atenção Primária à Saúde e
Atenção Especializada segundo gestores e gerentes – Brasil e Espanha, 2009
Dimensões Brasil Espanha
Posição ocupada pela APS e prioridade do tema da integração entre níveis de atenção nas políticas locais de saúde
Presença do tema no debate da política de
saúde
Sim Sim
Grau de importância atribuído Alto Alto
Capacidade de intervenção dos gestores de
APS na implementação de medidas pró-
coordenação
Alta – nas Coordenações de AB/ESF
centralizada na Secretaria Municipal de
Saúde
Baixa – nas Coordenações locais de APS
Grupos mais afetados por inadequada
coordenação
Crianças, idosos, crônicos e pacientes com
patologias graves com dificuldades para
acessar os serviços de saúde
Crônicos, idosos, gestantes, pacientes com
necessidade de cuidados paliativos, imigrantes
Porta de entrada do sistema de saúde Unidades de Saúde da Família Centros de Saúde
Papel de filtro para atenção especializada Médicos da Equipe de Saúde da Família Médicos de Família e Pediatras das Equipes de
Atenção Primária
Instrumentos de integração dos serviços de saúde
História clínica informatizada em APS Incipiente Sim (em todos os Centros de Saúde)
História clínica única Incipiente (entre atenção primária e
especializada)
Não (existência de repositório comum de
informações clínicas)
Retorno das informações clínicas por meio de
instrumento de contra-referência
Irregular, com graus distintos de qualidade Irregular, com graus distintos de qualidade
Organização dos fluxos para atenção especializada e para urgência/emergência
Percurso mais comum do paciente para acesso
à atenção especializada
Encaminhamento do médico da equipe de
saúde da família
Encaminhamento do médico de
família/pediatra/ginecologista
Circuitos preferenciais para referência Priorização de risco indicada pelo médico
de família e avaliada por equipe de
reguladores da SMS
Sim - para suspeita de malignidade e consultas
preferenciais a critério da avaliação do médico
de família
Estruturas de APS para atendimento à
urgência
Não – Unidades de Pronto Atendimento
pertencentes à AE
Sim – Pontos de Atenção Continuada e Centros
de Urgência em APS
Articulação entre APS e serviços de pronto-
atendimento
Insuficiente Insuficiente
Guias de prática clínica Sim - por patologias e ciclos de vida e
protocolos para definição de fluxos e
regulação para atenção especializada
Sim – por patologias (artrite, hipertrofia benigna
de próstata, insuficiência cardíaca, etc)
Monitoramento das referências realizadas
pelos profissionais de APS para AE
Não Não
Cultura de colaboração entre APS e AE
Conhecimento do processo de trabalho
desenvolvido em APS pelos profissionais de
AE
Baixo Insuficiente, embora com mudanças recentes
Reconhecimento profissional e social dos
profissionais de APS
Pouco reconhecimento por parte dos
demais especialistas; iniciativas
municipais de valorização dos
profissionais de APS
Insuficiente reconhecimento por parte dos
demais especialistas, maior por parte dos
usuários; situação atual mais favorável
Iniciativas que favoreçam conhecimento
pessoal e intercâmbio de experiências entre
APS e AE
Tele-consulta e tele-conferência;
territorialização dos serviços de AE;
“matriciamento” com interconsulta,
sessões clínicas e capacitações
Especialistas “consultores” com sessões clínicas
e interconsonsulta; deslocamento dos
especialistas ao Centro de Saúde para
atendimento clínico; criação de blog para
profissionais de APS, AE e gestores
Principais dificuldades para implantação de estratégias pró-coordenação
Principais dificuldades para implantação de
estratégias pró-coordenação
Insuficiente integração entre prestadores
municipais e estaduais; baixa qualidade
dos processos de regulação (justificativas
clínicas); insuficiente oferta de atenção
especializada; ausência de políticas para a
média complexidade por parte do
Ministério da Saúde; pouco conhecimento
dos processos de trabalho em APS;
rotatividade de profissionais
Grande independência e ausência de objetivos
comuns entre níveis assistenciais; insuficiente
articulação entre gestores de APS e AE;
aumento do trabalho burocrático executado
pelos médicos; falta de incentivos para
desempenho de ações de coordenação; baixa
institucionalidade e falta de continuidade das
estratégias implementadas; pouco conhecimento
dos processos de trabalho em APS
125
D
ISCUSSÃO
Os resultados do estudo sinalizam que a preocupação com a integração entre APS e AE está
presente no debate das políticas de saúde nos dois países, motivado pelo crescente número de
portadores de patologias crônicas, busca de garantia de integralidade, aumento das listas de
espera e visando ganhos de eficiência do sistema sanitário. No Brasil, a recente organização
dos fluxos entre APS e AE por meio de centrais informatizadas de marcação e regulação são
iniciativas das Secretarias Municipais de Saúde, em parte, decorrentes da ampliação de
cobertura pela ESF, que pressionou a organização do sistema de saúde. O conjunto de
experiências identificadas, todavia, não pode ser generalizado para o restante dos municípios
brasileiros, que apresentam coberturas pela ESF bastante diferenciadas assim como processos
de organização da rede em etapas distintas de desenvolvimento. Na Espanha, a experiência da
rede territorializada é mais antiga. Contudo, o modelo de organização do sistema sanitário
espanhol, caracterizado por grande independência entre níveis foi um elemento apontado como
dificultador para a integração da rede (Gérvas, Rico, 2005). Embora maior necessidade de
coordenação seja demandada por gestores da APS, destacou-se sua baixa governabilidade na
implementação de estratégias. Ainda assim, a universalização e constituição de porta de
entrada pela APS, papel de filtro do generalista, história clínica informatizada nos Centros de
Saúde e definição de fluxos formais para a AE são processos consolidados neste país, ainda
que desafios permaneçam na busca pela integração entre níveis.
Nos dois países considerou-se insuficiente o conhecimento dos profissionais que atuam em
serviços especializados sobre o processo de trabalho em APS. Foi consenso entre os gestores
espanhóis que, além do uso das TIC, são necessárias ações que promovam maior contato
interpessoal. Estes resultados corroboram os achados de Martinez, Navarrete e Lorenzo (2009)
em estudo com gestores e profissionais de organizações sanitárias espanholas. Neste país,
destacou-se a experiência de “especialistas consultores”. No Brasil, o “matriciamento”
representa estratégia semelhante. A territorialização dos serviços de atenção especializada
também possibilita maior contato entre profissionais que atuam na mesma região de saúde.
Estas intervenções parecem oportunas na medida em que discussões com assessores externos
têm se mostrado inefetivas para promover mudanças nos processos de referência (Grimshaw et
al., 2005).
Nas experiências investigadas, considerou-se que o médico de família não recebe o mesmo
reconhecimento profissional e social que os demais especialistas, o que interfere na criação de
uma cultura de colaboração entre ambos. Situação mais problemática é enfrentada no Brasil
126
onde a especialidade de Medicina de Família & Comunidade é de reconhecimento recente e o
número de especialistas em atuação nas equipes de Saúde da Família extremamente pequeno.
Nas CA estudadas foram criados circuitos especiais de referência e outras iniciativas para
definição de tempos máximos de espera. Embora tenham sido avaliadas positivamente,
referências inadequadas ou tentativas de diminuir tempos de espera por meio de fluxos
especiais podem gerar problemas adicionais de desigualdade de acesso e retardar o
atendimento em casos necessários (Gérvas et al., 2008). Nos municípios brasileiros, o sistema
de marcação de procedimentos especializados permite inclusão de casos prioritários, cuja
pertinência é avaliada por equipes de reguladores da SMS, ainda que co-existam problemas de
oferta insuficiente de atenção especializada (Almeida et al., 2010). A iniciativa de criar
comissões locais em Centros de Saúde e protocolos de regulação objetiva, além de qualificar as
referências, promover maior discussão dos casos e a busca de uma segunda opinião. Estudos
demonstram que alternativas intermediárias, como uma segunda opinião, no próprio âmbito da
APS, apresentam resultados positivos na modificação das taxas de referência
(Grimshaw et al.,
2005).
A definição de protocolos clínicos para agravos específicos foi estratégia adotada pelos dois
países. As evidências disponíveis apontam que a adoção passiva de diretrizes clínicas
provavelmente não melhora o processo de referência aos demais níveis, salvo quando envolve
os diversos prestadores no processo de elaboração e implantação (Grimshaw et al., 2005).
Estudo realizado por Martinez, Navarrete e Lorenzo (2009) corrobora esta assertiva destacando
que guias e protocolos clínicos são instrumentos que podem facilitar acordos sobre atuação dos
profissionais somente se consensuados entre os níveis e não impostos.
Na Espanha, desde os anos de 1990 iniciou-se processo de informatização da história clínica
em APS, embora até o momento, não tenham sido observados avanços no desenvolvimento de
uma história única. Ainda assim, a criação de um “repositório comum de informações clínicas”
acessado pela APS e AE aparece como alternativa. No Brasil, a história clínica informatizada
ainda é bastante incipiente. Nos dois casos, a maior parte da contra-referência ainda é realizada
por meio de guias de preenchimento manual com graus distintos de qualidade e regularidade,
problema histórico e persistente que reflete a insuficiente comunicação entre níveis
(Reig et al.,
2004).
Em síntese, experiências desenvolvidas por Brasil e Espanha parecem apresentar
potencialidades para melhorar a integração entre níveis assistenciais. Entre as iniciativas
comuns, com graus distintos de desenvolvimento, presente nos dois países observa-se: papel de
127
filtro exercido pelo médico de família no sistema de saúde espanhol e, no Brasil, nas áreas
cobertas pela ESF; territorialização dos serviços de saúde; estratégias para aproximar
profissionais e qualificar as ações de atenção primária como os “especialistas consultores” e o
“matriciamento”; e adoção de protocolos clínicos consensuados entre ambos os níveis. Nos
municípios brasileiros ressalta-se a recente implantação de sistemas descentralizados de
regulação que permitem acompanhar o percurso dos usuários e as filas de espera. Na Espanha
destaca-se a já consolidada informatização da história clínica em APS. Maior utilização das
Tecnologias de Informação e Comunicação para a produção da história clínica única é um
desafio colocado aos dois países. Em ambos os países é reconhecida a necessidade de políticas
e investimentos para valorização dos trabalhadores e do cuidado prestado no campo da APS
com fins de promover uma cultura de colaboração entre profissionais dos dois níveis. Foi
consenso para a maior parte dos gestores espanhóis que entre as iniciativas com maior êxito
para integração entre APS e AE estão aquelas que promovem maior contato pessoal e relações
diretas entre profissionais com vistas à criação de valores de colaboração.
R
EFERÊNCIAS
B
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130
CONSIDERAÇÕES FINAIS
certo consenso de que a coordenação dos cuidados é um tema pendente tanto para os países
europeus, que desde os anos de 1990 vêm implementando uma série de reformas pró-
coordenação
1,2,3,4
, quanto para países latinoamericanos cujo recente movimento de valorização
e defesa de sistemas organizados por uma Atenção Primária à Saúde (APS) abrangente cria um
contexto favorável ao desenvolvimento de iniciativas que fortaleçam a provisão de atenção
integral em saúde
5,6,7,8
. Mudanças no perfil epidemiológico com predomínio das doenças
crônicas, reconhecida fragmentação na prestação do cuidado em saúde, busca de maior
satisfação do usuário e pressões para desenvolvimento de medidas que produzam relações mais
custo-efetivas ao interior dos sistemas de saúde tornaram ainda mais premente a busca de
estratégias que promovam melhor coordenação
2,3,4
. Os países da América Latina também
enfrentam o desafio das mudanças no perfil epidemiológico dos diversos grupos populacionais,
com crescente prevalência de doenças crônicas, além de conviver com problemas decorrentes
de situação social e econômica desfavorável, e conseqüente persistência de enfermidades
infecto-contagiosas, com maiores desafios para a garantia da atenção integral e da
coordenação.
Os ritmos das reformas pró-coordenação são diferenciados entre os países a depender do
modelo de proteção social
4,6
. Mesmo entre países europeus, com coberturas universais por
meio de seguros sociais com pagamento por procedimentos a profissionais autônomos observa-
se que as medidas para melhorar a coordenação dos cuidados têm sido mais lentas se
comparadas a países com serviços nacionais de saúde cuja função de gatekeeper é exercida
pela APS
4
. Em contexto latinoamericano a preocupação com o tema ocorre em meio ao
mencionado movimento pela Renovação da Atenção Primária
5
“agora mais necessária que
nunca”
7
no qual a coordenação é compreendida como dimensão essencial de uma APS
abrangente, capaz de dar resposta integral aos problemas de saúde
7,8
.
O consenso em torno da importância do tema para os sistemas de saúde é seguido por outro
consenso as dificuldades teóricas para compreender e operacionalizar o conceito. A literatura
reflete o dissenso até mesmo em relação a como nomeá-lo: “coordenação entre níveis
assistenciais” ou “coordenação dos cuidados”? Na bibliografia consultada encontramos os dois.
Também se observa o uso indiscriminado dos termos continuidade, coordenação e integração
que se reflete nas diversas formas de mensurar este atributo
9,10
. Em publicação brasileira que
adaptou e validou instrumento para avaliar as dimensões essenciais da APS definidas por
Starfield
11
, coordenação é tomada como sinônimo de integração dos serviços
12
. Em meio a
131
dissensos e incertezas esta tese tomou para si o conceito de “coordenação dos cuidados”
compreendido como a articulação entre os diversos serviços e ações relacionados à atenção em
saúde de forma que, independentemente do local onde sejam prestados, estejam sincronizados
e voltados ao alcance de um objetivo comum
2,10
.
Com base no consenso ao qual chegamos (ou tentamos!), algumas explicitações ou opções
fizeram-se necessárias. Primeiro, a coordenação dos cuidados é tomada como um atributo
organizacional dos serviços, dos sistemas e dos cuidados em saúde. Logo, suas medidas
poderiam dar-se neste âmbito. Ou seja, os componentes de um cuidado coordenado podem ser
operacionalizados e medidos por meio de elementos intrínsecos à organização dos sistemas e
serviços de saúde como: existência de instrumentos e estratégias para integração entre níveis
assistenciais; definição de padrões de financiamento e alocação de recursos entre os níveis que
compõem o sistema de saúde; utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação e
mudanças organizacionais empreendidas no âmbito da APS
2,3,4
. Nos cuidados se refletiria, por
exemplo, na gestão do cuidado aos crônicos. Os resultados da implementação deste conjunto
de elementos, que podem favorecer ou dificultar a coordenação, são traduzidos na percepção
de continuidade da atenção na perspectiva do usuário, cuja unidade de medida é individual
9,13
.
Corroboram esta afirmativa diversos estudos que encontraram associação positiva entre
coordenação dos cuidados e continuidade
14
.
Segundo, ao optar-se pelo conceito de “coordenação dos cuidados” e não “coordenação entre
níveis” buscou-se diferenciá-lo da “integração entre níveis assistenciais”. Conforme
apresentado neste trabalho, embora a coordenação envolva a articulação entre serviços de
diferentes níveis, compreende ações de saúde que podem ser executadas no mesmo nível de
atenção
4
, exigindo para sua resolução estratégias diferenciadas daquelas que envolvem
integração entre prestadores de níveis distintos, motivo pelo qual não poderiam ser tomados
como sinônimo. Ainda assim, parte-se do princípio que a existência de mecanismos de
integração entre veis assistenciais é elemento essencial à coordenação dos cuidados, por isto
foi considerada uma das dimensões para sua análise.
Terceiro, é consensual que a coordenação dos cuidados compõe uma das dimensões essenciais
da APS
7,11,14
. Neste estudo, considerou-se que a coordenação é condição necessária para
alcance de uma resposta integral, capaz de atender ao conjunto de necessidades em saúde dos
usuários, o que envolve todos os níveis do sistema. Logo, uma resposta integral, não poderia
ser alcançada ao interior somente da APS, ainda que fortalecida e abrangente. Contudo, pelos
atributos que caracterizam este vel de atenção, assume-se a premissa que os serviços de APS
132
são os mais adequados para coordenar o percurso terapêutico do usuário na maior parte dos
episódios de adoecimento. Mas de qual atenção primária estamos falando ao imputar-lhe a
complexa missão de coordenar uma resposta integral em saúde? Certamente não nos referimos
à APS seletiva com oferta reduzida de ações e restrita à atenção de primeiro nível. Daí outra
premissa deste estudo somente uma APS fortalecida em seus atributos essenciais, capaz de
mobilizar apoios, recursos políticos, econômicos, financeiros e humanos, pode ser responsável
pela coordenação dos cuidados entre níveis assistenciais
7
.
Com base no exposto acima, foi eleita a segunda dimensão para análise da coordenação dos
cuidados o fortalecimento da APS que aqui significa fortalecer seus atributos. Embora a
própria coordenação seja considerada um atributo da atenção primária, estudos apontam que
esta dimensão é fortemente inter-relacionada à força da APS
4
. Além do mais, evidências da
associação entre acesso, integralidade, continuidade e coordenação
14
. Por esta razão, autores
apontam que medidas que objetivam fortalecer as estruturas de APS para responder às
demandas colocadas aos sistemas de saúde, principalmente pelas enfermidades crônicas, vêm
se constituindo no mais importante conjunto de medidas pró-coordenação
1,2,15
.
Sim, chegamos ao Brasil. Desde 1994, e mais intensamente a partir de 1998, o Brasil vem
passando por importante processo de reforma de sua APS. Desde final da década de 1990, a
Estratégia Saúde da Família foi assumida pelo governo brasileiro como proposta de
reorganização do modelo de atenção em saúde com base na implementação de uma APS
abrangente fortalecida em seus atributos de porta de entrada, acessibilidade, integralidade,
enfoque comunitário, intersetorialidade e participação social. No inicio dos anos 2000 observa-
se amplo movimento de expansão da ESF, com ritmos diferenciados, por todas as regiões
brasileiras por meio de incentivos do gestor federal. Mais atenção esteve voltada
principalmente aos grandes centros urbanos, locais com maiores dificuldades para aumento de
cobertura. Já a partir de 2004 algumas iniciativas federais começam a sinalizar a importância
de expansão com qualidade. Pesquisas de avaliação e monitoramento com foco nas dimensões
essenciais da APS, propostas de auto-avaliação da qualidade da ESF
16
, a criação dos Núcleos
de Apoio ao SF
17
são alguns exemplos. Desde 2005, o Ministério da Saúde realiza seminários
internacionais com temas chave para a APS no país em determinado momento. Não menos
emblemático foi o tema do “III Seminário Internacional de Atenção Primária”, realizado em
2007, “Expansão com Qualidade & Valorização de Resultados”
18
. ”Os Pactos pela Saúde em
sua dimensão “Pela Vida”, resultado de ampla discussão entre diversos atores do SUS, assume
a ESF como prioritária para o fortalecimento da atenção básica cujo alcance depende da
133
qualificação de seus trabalhadores, dos processos de monitoramento e avaliação, e da atenção
de forma geral nos pequenos, médios e grandes municípios
19
.
É neste contexto que elegemos a coordenação dos cuidados, dimensão essencial da APS e, ao
mesmo tempo, sua missão ao interior da rede de serviços de saúde, como foco desta tese de
doutorado. Primeiro nos perguntamos: partindo-se da premissa de que somente uma APS
fortalecida em seus atributos essenciais
11,20
pode assumir a coordenação dos cuidados e que
ações nesta direção vêm representando importante conjunto de medidas pró-coordenação, quais
as iniciativas empreendidas pelos municípios brasileiros para fortalecer a ESF? E também:
sendo a integração da rede um elemento necessário, embora não suficiente, para alcançar
melhor coordenação dos cuidados, quais as estratégias e instrumentos desenvolvidos por
grandes centros urbanos para integrar a ESF aos demais níveis do sistema? Por meio da
resposta a este conjunto de questões se objetivou descrever e analisar o desenvolvimento de
estratégias e instrumentos de coordenação dos cuidados em municípios que apresentassem
experiências exitosas de expansão e consolidação da ESF.
Os municípios analisados nesta tese de doutorado, quatro grandes centros urbanos, fizeram
parte de estudos de caso realizados por Giovanella et al.
21
para avaliar a implementação da
Estratégia Saúde da Família em Aracaju, Belo Horizonte, Florianópolis e Vitória com foco em
dois eixos: coordenação/integração/continuidade e atuação intersetorial. Nos apropriamos do
conjunto de dados referentes à coordenação dos cuidados, apresentados em dois artigos, para
responder às questões colocadas nesta tese e para aprofundar a análise em torno deste atributo
da APS. Como aproximação ao tema, na medida em que este trabalho foi realizado no âmbito
da avaliação em APS, considerou-se necessário mapear e analisar as pesquisas de
monitoramento e avaliação neste campo realizadas e/ou financiadas pelo gestor federal, tema
do primeiro artigo produzido. No processo de doutoramento foi realizado estudo em três
Comunidades Autônomas espanholas no qual também se investigou as dificuldades e êxitos
deste país na busca por melhor coordenação dos cuidados visto ser este um desafio colocado
aos países europeus e foco de importantes reformas.
O primeiro artigo apresenta os resultados de mapeamento e análise das pesquisas de
monitoramento e avaliação da Atenção Básica à Saúde realizadas e/ou financiadas pelo
Ministério da Saúde, concluídas e publicadas entre 2000 e 2006. Além de possibilitar uma
visão mais ampla das tendências e mudanças que marcaram a política de avaliação e
monitoramento da APS, foi possível identificar estudos e metodologias que serviram como
apoio ao desenho da pesquisa realizada por Giovanella et al
21
. Os primeiros estudos, realizados
134
entre 2000 e 2002, foram, principalmente, análises do processo de implantação do Programa
Saúde da Família com vistas a detectar fragilidades, potencialidades e custos, podendo ser
caracterizados como “avaliação para decisão”, com privilégio da visão de gestores e
profissionais. Nos estudos linha de base realizados no âmbito do Projeto de Expansão e
Consolidação do Saúde da Família (PROESF), iniciados no ano de 2005, a preocupação em
compreender possíveis transformações decorrentes da implantação da ESF demonstravam a
preocupação e interesse com os resultados da acelerada expansão ocorrida nos anos anteriores.
Nesta ocasião, entre as metodologias eleitas pelos grupos de pesquisa selecionados para
execução do estudo observou-se ampla utilização das dimensões da APS definidas por
Starfield
11
para avaliação do desempenho dos sistemas de saúde.
O segundo artigo descreve e analisa as ações empreendidas nos municípios estudados para dar
protagonismo à APS por meio do fortalecimento de alguns de seus atributos tradicionais como
acessibilidade e porta de entrada, e acrescentando outros como resolutividade, reconhecimento
profissional e social, descentralização das ações de saúde coletiva. Informações convergentes
foram trianguladas para responder às perguntas de investigação, buscando articular a
perspectiva de gestores, profissionais das equipes e famílias cadastradas. O objetivo foi
confrontar as ações para fortalecer a ESF pelas gestões municipais e seus possíveis resultados
no acesso e utilização e resolutividade destes serviços por parte da população.
Buscou-se por meio da implantação da ESF fortalecer atributos amplamente reconhecidos
como dimensões essenciais da APS como acessibilidade e porta de entrada. Construção de
novas USF e reorganização dos antigos centros de saúde sob a lógica da ESF ampliaram o
acesso da população à APS. Entretanto, permanecem dificuldades de acesso para a população
cadastrada. Primeiro, nos chama atenção que percentual importante de famílias cadastradas não
conhecia a ESF, mesmo depois de estimuladas. Entre as que afirmaram conhecer, muitas
desconheciam o local de funcionamento da USF. Para aquelas que conheciam o local de
funcionamento, a grande maioria se deslocava a pé ao serviço, o que pode ser considerado uma
importante diminuição de barreira geográfica ao acesso, principalmente por se tratar de grandes
centros urbanos. O tradicional horário de funcionamento das unidades de saúde, incompatível
com a vida laboral, não foi modificado pela implantação da ESF.
O fortalecimento da função de porta de entrada vem acontecendo por meio de ações que
buscam articular o acompanhamento de crônicos e grupos prioritários como mulheres e
crianças ao atendimento à demanda espontânea. Esta missão é dificultada pela crença, não
incomum, de que o SF deveria realizar somente atividades de promoção e prevenção. Esta
135
tensão se reflete na avaliação dos profissionais quanto à organização interna para cumprir as
funções de pronto atendimento e as dificuldades das famílias para conseguir uma consulta sem
marcação prévia. Ao mesmo tempo, dificuldades para equacionar o acompanhamento dos
grupos prioritários. Tentativas de instituir comunicação mais oportuna com os serviços de
pronto-atendimento também vêm sendo implementadas para fortalecer a função da APS como
serviço de primeiro contato e busca regular.
Uma APS forte implica elenco abrangente de ações de saúde (ou comprehensiveness), amplo o
bastante para atender às necessidades em saúde dos usuários. Este atributo foi analisado com
base em ações para fortalecer a capacidade resolutiva das equipes de SF, uma vez que a baixa
resolutividade da APS é apontada como uma das barreiras à consolidação destes serviços como
de primeiro contato e fonte regular de atenção
8
. As iniciativas identificadas foram aumentar as
provas diagnósticas solicitadas diretamente pelo médico de família, coleta de material para
patologia clínica na USF, realização de procedimentos antes feitos na atenção hospitalar ou de
urgência, capacitação continuada com foco no processo de trabalho, supervisão, manutenção de
profissionais de apoio e formação de equipes matriciais. Embora com graus distintos de
desenvolvimento entre os municípios, profissionais das equipes de SF avaliaram positivamente
a capacidade de resolução da ESF e a diminuição da busca por serviços especializados. As
avaliações das famílias foram menos favoráveis, também com diferenças entre os municípios.
Estudos sobre coordenação dos cuidados identificam a importância da integração da atenção à
saúde com ações e programas de Saúde Pública/Coletiva
14
. Por esta razão foi incorporada na
análise das estratégias para fortalecer a APS. A articulação entre estes serviços foi apontada
por gestores e fortemente corroborada pelos profissionais.
Também incorporamos o reconhecimento profissional e social em APS como uma dimensão
capaz de indicar sua fortaleza. Iniciativas para sensibilização e divulgação da ESF são
necessárias tanto entre a população, vide que parte importante das famílias cadastradas afirmou
não conhecê-la, quanto melhor comunicação sobre as diretrizes, objetivos e características
deste modelo de atenção junto aos profissionais pertencente à rede como um todo e
organizações da sociedade civil. Neste sentido, a conquista de apoio e legitimidade para a ESF
ainda é um tema pendente.
O terceiro artigo apresenta os resultados referentes à dimensão “Integração entre níveis”, por
meio da descrição e análise dos instrumentos e estratégias de integração da ESF à atenção
especializada nas quatro cidades. Três fontes de informação foram trianguladas para responder
às perguntas de investigação, quais sejam gestores e gerentes, profissionais e famílias
136
cadastradas. A descrição dos instrumentos para integração da rede foi construída, sobretudo,
com base em informação prestada por gestores e gerentes da SMS e confrontadas, para sua
análise, à avaliação de profissionais e usuários.
Como condição para integração da rede, os quatro municípios fortaleceram sua capacidade
regulatória. Belo Horizonte, até mesmo pelo legado institucional, encontrava-se em processo
mais avançado, com a descentralização das discussões sobre regulação assistencial para
distritos e USF. O SISREG foi positivamente avaliado pelo conjunto dos municípios, mesmo
por Aracaju, que, à época, utilizava outro dispositivo. A expansão da ESF foi associada à
necessidade de organização da rede em Florianópolis e Vitória, inclusive à ampliação da rede
especializada, cumprindo, neste sentido, seu papel de indutor de mudanças no modelo
assistencial.
Nos quatro municípios o percurso mais comum do usuário para acesso à atenção especializada
era realizado com base em encaminhamentos das USF, por meio de fluxos formais e
monopólio do papel de filtro pela APS, sendo este um elemento essencial para exercício da
coordenação dos cuidados. Não menos importante é a possibilidade oportunizada pelo SISREG
de regular o acesso e a marcação de consultas e exames, monitorar as filas de espera e
acompanhar o percurso do usuário. Análise da demanda por exames e consultas especializadas
realizadas pela equipe SF, observando se adequação com a necessidade estimada, não é
prática instituída, embora seja possível. Ainda que as filas continuem existindo, agora podem
ser dimensionadas e os centros de saúde se responsabilizam pela garantia de acesso à atenção
especializada. Se em alguns municípios estão presentes mecanismos para determinar
prioridades clínicas, pode-se inferir que permanecem na fila por mais tempo usuários que
realmente poderiam esperar. Contudo, os dados investigados não permitem este tipo de
afirmativa. Embora mecanismos formais estivessem presentes nos quatro municípios, em
Aracaju e Florianópolis, menos da metade dos usuários que haviam necessitado de atendimento
especializado recentemente relataram que a consulta fora agendada pela USF.
Se uma das características que define a coordenação dos cuidados é a articulação entre serviços
e ações de forma a prestar atenção em saúde mais sincronizada e voltada ao alcance de um
objetivo comum, sem dúvida o alcance desde objetivo é maximizado pela implantação de
mecanismos e estratégias de integração da rede. Mas qual o alcance destes mecanismos frente à
insuficiência na oferta de atenção especializada? Foi consenso que o fortalecimento da
capacidade regulatória oportuniza utilização mais racional dos recursos, assim como, também
137
foi consenso que a efetividade dos mecanismos de integração é limitada pela oferta de atenção
especializada, problema agravado pela fraca ou ausente articulação com prestadores estaduais.
Embora este estudo não tenha sido focado na identificação de mecanismos de integração da
APS com a atenção hospitalar, a ausência de fluxos formais em três dos casos estudados
sinaliza que maiores dificuldades para a coordenação estão presentes neste campo, além de
representar obstáculos à oferta de atenção integral e tornar incompleto o processo de integração
da rede. Mesmo em Belo Horizonte, onde foi relatada existência de central de regulação de
leitos e internação, percentual importante dos profissionais não soube estimar qual seria o
tempo médio de espera para internação eletiva. Como a contra-referência é quase ausente nos
quatro casos e não é a APS que se responsabiliza pelo encaminhamento para internação, com
exceção dos serviços de maternidade, podemos dizer que a possibilidade de coordenação dos
cuidados pelas equipes de SF é parcial e incompleta.
Por fim, em relação à análise dos mecanismos de integração, a quase ausência de contra-
referência, problema que parece ser de complexa resolução, encontrado também no estudo
realizado na Espanha, minimiza as possibilidades de coordenação do cuidado pelas equipes de
APS não somente no que ser refere à atenção hospitalar. Starfield
2
define que a essência da
coordenação é a disponibilidade de informações a respeito dos problemas de saúde enfrentados
pelo usuário, os serviços acessados anteriormente e o reconhecimento destas informações na
medida em que estiverem relacionadas ao novo atendimento. Para que esta função possa ser
exercida pela APS, a autora reafirma que este profissional deve estar ciente dos problemas que
acometem seus usuários, ao menos os de saúde
2
. Neste sentido, não menos importante são as
iniciativas que reforcem a necessidade do intercâmbio de informações. Os prontuários
eletrônicos, desde que implantados e comunicantes nos vários pontos de atenção, parecem boas
alternativas. Contudo, mais importante parece ser a sensibilização dos profissionais dos demais
níveis de assistência para a utilização destes mecanismos, informatizados ou não, que os
profissionais das equipes de SF demonstraram-se atentos à necessidade dos registros. O
reconhecimento da APS como coordenadora dos cuidados não pode ser um consenso apenas
entre seus gestores e trabalhadores.
O quarto artigo apresenta os resultados do estudo realizado em três Comunidades Autônomas
espanholas e alguns paralelos em relação à experiência brasileira no que se refere ao
desenvolvimento de estratégias e instrumentos de integração entre APS e Atenção
Especializada. É interessante observar que mesmo em um país com processo de reforma
iniciado ainda na década de 1980, exercício da função de porta de entrada desde os anos de
138
1940, universalização do acesso à APS, ampla cesta de serviços, baixa rotatividade de
profissionais e exigência de residência em Medicina de Família e Comunidade para todos os
médicos que atuam nos Centros de Saúde, permanecem importantes desafios à integração entre
níveis assistenciais. Os resultados deste estudo não permitem comparar a magnitude do
problema nos dois países. Contudo, entre as lições aprendidas destaca-se a forte preocupação
dos gestores espanhóis com a criação de uma cultura de colaboração entre profissionais de APS
e AE. Enquanto no Brasil são observadas iniciativas esparsas, sobretudo, para instituir
mecanismos formais para definição de fluxos, regulação da oferta e para fortalecer a função de
porta de entrada pelas equipes de SF, o que sem dúvida representa avanços na organização do
SUS, na Espanha é enfatizada a necessidade de mecanismos de adaptação mútua que
modifiquem a forma de relação entre especialistas e generalistas
por meio de mecanismos mais
softs ou mais informais de comunicação que favoreçam a responsabilização e o conhecimento
dos processos de trabalho em APS pelo conjunto dos profissionais que compõem a rede de
serviços de saúde
10,22,23
. Neste âmbito estariam também ações voltadas ao aumento do
prestígio social dos profissionais da APS e o reconhecimento pelos pares. Assim, concomitante
à formalização e padronização de fluxos, importa também a consideração de elementos de
adaptação mútua e reconhecimento profissional e social como importantes medidas para a
melhoria da coordenação dos cuidados exercida por nossas equipes de Saúde da Família.
Podemos afirmar que a preocupação em instituir mecanismos de integração e fortalecer a APS
ao interior do sistema de saúde está presente nos quatro municípios. Conforme os resultados
analisados, em cada um dos casos, são distintos os graus de implementação dos instrumentos
para integração da rede e das iniciativas para fortalecer a APS, embora os caminhos trilhados
sejam semelhantes. A triangulação de métodos e informações de fontes diversas permitiu
responder às perguntas do estudo por meio da identificação de ações e estratégias aqui tomadas
como capazes de potencializar a coordenação dos cuidados pela APS. O retrato oferecido pela
pesquisa mostra que Belo Horizonte e Vitória apresentaram sistematicamente melhores
resultados na avaliação de profissionais e usuários tanto no que se referiu ao primeiro conjunto
de medidas pró-coordenação, qual seja, “fortalecimento da APS”, com melhores resultados no
acesso e utilização segundo população cadastrada, quanto em relação à “integração entre níveis
assistenciais” também com resultados mais favoráveis em relação ao percentual de usuários
que acessaram o especialista por meio de encaminhamento da USF e em relação a menores
tempos de espera. Ressalta-se que esta análise deve ponderar o fato de que Belo Horizonte
enfrenta o desafio de ser uma grande metrópole e que apresenta maior cobertura pela ESF se
comparada a Vitória.
139
Também não poderíamos deixar de mencionar alguns limites e dificuldades deste estudo, que
em alguns casos, mesclam-se às suas fortalezas. Ser parte de uma investigação maior imprimiu
dificuldades em destacar o objeto e objetivos da tese do contexto mais amplo da investigação.
A pesquisa realizada por Giovanella et al.
21
respondeu a uma demanda do gestor federal e, a
nossa, a um trabalho acadêmico com foco, objetivos e seleções de variáveis distintos. Ao
mesmo tempo, dificilmente para a realização de uma tese de doutorado estariam disponíveis
recursos humanos e financeiros necessários à produção de um conjunto tão amplo de dados
advindo de fontes tão diversas. Outra dificuldade foi analisar atributos tão estreitamente
relacionados. Alguns dos indicadores selecionados poderiam perfeitamente compor um ou
outro atributo eleito para avaliar o eixo “fortalecimento da APS”. Neste sentido, somam-se as
dificuldades conceituais referidas acerca do conceito de coordenação. A confrontação da
perspectiva de diversos atores constitui desafio aos processos de investigação, ao mesmo
tempo em que podem fortalecer a validade e coerência de seus achados. Entre os limites,
destaca-se a ausência de avaliação da integração das ESF com a rede hospitalar, embora
achados indiquem integração incompleta, conforme mencionado. Aspectos essenciais para o
fortalecimento da APS como os referentes à destinação de recursos financeiros a este nível de
atenção se comparado aos demais não foram abordados, embora haja forte consenso de que a
distribuição do financiamento seja potente indicador de prioridade conferida a determinado
modelo de atenção.
Neste estudo não tivemos como objetivo medir ou avaliar a coordenação dos cuidados em si,
mas descrever e analisar elementos que contribuam para consecução de maior articulação entre
serviços e ações relacionados à atenção em saúde de forma que, independentemente do local
onde sejam prestados, estejam sincronizados e voltados ao alcance de um objetivo comum.
Assim, buscou-se construir uma certa matriz que a possibilite análise de componentes que
influenciam na coordenação a ser exercida pela APS, ainda que outros elementos importantes
para seu alcance possam ser incorporados.
Por fim, podemos afirmar que a APS se fortaleceu e está mais integrada à rede nos casos
estudados, embora ainda não seja a coordenadora de todo o ciclo de cuidados. A insuficiente
comunicação e articulação entre prestadores e entre profissionais, dificuldades de oferta para
atenção especializada, indefinição de fluxos para atenção hospitalar, ausência de cultura de
colaboração, baixo prestígio profissional e social de seus trabalhadores e ainda desafios que
persistem para a consolidação da porta de entrada pelas USF foram algumas dificuldades
levantadas com possíveis efeitos sobre a sincronização da atenção. Estabelecer objetivos
comuns, de forma que o cuidado em saúde tenha o usuário como centro e seja organizado de
140
acordo com suas expectativas pessoais e necessidades em saúde, componentes do conceito de
coordenação, apontam alguns caminhos.
Concluímos dizendo que por meio desta investigação também se buscou colaborar para o
maior conhecimento teórico e prático no campo da coordenação dos cuidados, visto ser uma
dimensão dos sistemas de saúde ainda pouco desenvolvida nos países da América Latina e aqui
compreendida como essencial à oferta de atenção integral em saúde. Objetivou-se também
identificar e divulgar práticas exitosas que, consideradas as especificidades locais, possam
constituir experiências capazes de contribuir para a construção de um sistema de saúde mais
equânime, de melhor qualidade e voltado às necessidades de saúde da população.
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149
ANEXOS
150
P
ROTEÇÃO SOCIAL EM SAÚDE NA
E
SPANHA
:
A CONSTRUÇÃO DO
S
ISTEMA
N
ACIONAL DE
S
ALUD
O Sistema Nacional de Salud espanhol (SNS) instituído em 1986 pela Ley General de Sanidad
(LGS) representou, segundo Freire além da decisão política de desenvolver no país a
experiência considerada exitosa dos serviços nacionais de saúde, a evolução da Assistencia
Sanitaria de la Seguridad Social (ASSS) de 1978. Originada no Seguro Obligatorio de
Enfermedad (SOE), criado durante os anos de 1940, a Seguridade Social espanhola teve sua
cobertura progressivamente ampliada em decorrência de mudanças socioeconômicas ocorridas
durante os anos de 1960. A Ley General de Sanidad, de 1986, que criou o Sistema Nacional de
Salud espanhol com base em financiamento fiscal e acesso universal, representou a
possibilidade de alcançar maior equidade, universalidade e eficiência macroeconômica, mas
também a trajetória mais coerente ao desenvolvimento alcançado pela Previdência, cuja
cobertura foi se incrementando até a década de 1980. No caso espanhol, ao contrário de outros
países com sistemas de seguro social, a ASSS construiu uma rede própria de serviços,
composta por ambulatórios e hospitais e responsável pela contratação de recursos humanos, o
que possibilitou a constituição de uma organização sanitária integrada, semelhante à
organização dos serviços nacionais de saúde
1
.
Desde 1999, o Sistema Nacional de Salud espanhol é financiado por meio de impostos gerais
federais e das dezessete Comunidades Autônomas, que têm por função a gestão e organização
da assistência sanitária nos territórios. O processo de descentralização foi gradual, tendo início
em 1981, com a transferência de recursos a Catalunha, e completado em 2002. Ao Ministério
de Sanidad y Consumo cabe a regulação de assuntos vinculados à saúde exterior, acordos
sanitários internacionais, a legislação de produtos farmacêuticos, ações de coesão,
harmonização e coordenação dos serviços de saúde. As províncias e municípios não possuem
competência para a definição de recursos, organização e controle do sistema de saúde, embora
sejam responsáveis por ações vinculadas à vigilância sanitária. Estima-se que para o ano de
2006, 99,5% da população espanhola esteja coberta pelo SNS
2,3
.
Embora a assistência sanitária seja de responsabilidade das Comunidades Autônomas desde
2002, as diretrizes gerais estão contidas na Ley General de Sanidad. Os serviços sanitários
estão organizados em Áreas de Saúde, com população entre 200.000 e 250.000 habitantes, em
dois grandes níveis de atenção: o primeiro nível ou APS, que se localiza nos Centros de Saúde
e consultórios e, um segundo nível, a atenção especializada, localizada nos hospitais gerais,
denominado hospital de área, no qual também estão concentrados os meios diagnósticos e os
151
serviços de urgência 24 horas. Segundo Freire
1
, os hospitais públicos espanhóis, a despeito dos
problemas de organização e gestão, oferecem alto nível de qualidade e eficiência.
O médico generalista ou de família e o pediatra são responsáveis pelo primeiro contato da
população com o serviço de saúde. O acesso é direto e constitui porta de entrada obrigatória.
Todo cidadão tem um médico geral de referência, que por sua vez, atende a uma lista que varia
entre 1500 a 2000 pessoas, dependendo da densidade demográfica de cada território. Apesar
das diferenças entre as Comunidades Autônomas, o Sistema Nacional de Salud oferece à
população acesso universal e eqüitativo a uma rede de Centros de Saúde e demais serviços
curativos. Existe co-pagamento apenas para os medicamentos (40%), ainda assim, estão isentos
aposentados (maiores de 65 anos e seus familiares ou pessoas com invalidez permanente) e
determinados grupos de pacientes com doenças crônicas.
Conforme destaca Freire
1
a própria constituição de um Sistema Nacional de Salud, com
cobertura universal, equidade global, equidade de acesso, qualidade técnica e eficiência
econômica, pode ser considerado um grande êxito da sociedade espanhola. O sistema público
de saúde é considerado o melhor serviço público do país em função de vários aspectos:
capacidade tecnológica e capital humano, acessibilidade universal, acesso aos avanços da
medicina e tecnologia médica, garantia de segurança e tranqüilidade diante dos episódios de
enfermidade
16
. Além da importante dimensão social, econômica e política, o sistema de saúde
constitui o aspecto mais visível do sistema de proteção social, de coesão, representado pelos
valores de solidariedade, equidade e justiça social.
Entre os desafios colocados, segundo Ojeda et al.
4
embora o SNS seja universal de fato, nem
todos os cidadãos espanhóis recebem a mesma cobertura. Alguns grupos como os funcionários
públicos e outros setores privilegiados têm acesso a sistemas diferenciados ou sistemas de
saúde privados, enfraquecendo a equidade, qualidade e legitimidade do sistema público. Além
disso, estes grupos são os com maiores possibilidades de colocar o tema da reforma do sistema
de saúde na ordem das prioridades governamentais. Ao longo de sua história, observou-se
baixa prioridade dos problemas do SNS na agenda política espanhola
4
.
Segundo Freire
1
embora reformas tenham acontecido no que se refere às transferências para as
Comunidades Autônomas e a reforma na APS, aspectos básicos da organização e gestão ainda
se caracterizam por inércia e ausência de mudanças. O autor classifica em quatro grupos os
principais problemas do SNS: baixa prioridade da saúde na agenda política; gestão da saúde
submetidas às mesmas regras da administração pública comum; conflito entre distintas culturas
de gestão; e ausência de governance em todos os níveis do sistema, sendo a Espanha
152
praticamente o único país europeu sem órgãos colegiados de governo, tanto nos hospitais
públicos como na APS.
Os desafios referidos aos recursos humanos, considerados uns dos pontos mais críticos e
complexos, refletem este grupo de problemas como, por exemplo, os contratos de trabalho com
o “sistema sanitário” e não com os centros de saúde, o que acarreta limitada autonomia de
gestão, limite na capacidade de recompensar ou estabelecer sanções, direito de mudar o
profissional de função independentemente das necessidades dos serviços. Além disso,
competição entre as centrais sindicais que regulam as negociações coletivas, acarretando no
setor público uma cultura de concorrência mais que de cooperação. De acordo com Ojeda et
al.
4
em função destas características dos órgãos representantes de classe, os médicos espanhóis
não participam de forma corporativa da formulação das políticas.
A A
TENÇÃO
P
RIMÁRIA À
S
AÚDE NA
E
SPANHA
Desde os anos de 1970 a atenção em saúde na Espanha está conformada por dois níveis:
ambulatorial e hospitalar. Os primeiros serviços caracterizavam-se por estruturas físicas
degradadas, com oferta de consultas médicas. Os hospitais, ao contrário, a partir de 1960
receberam importantes investimentos, tornando-se a base da previdência social em saúde. Os
ambulatórios representavam a sobrevivência do modelo de medicina liberal do Seguro
Obligatorio de Enfermedad, cujo atendimento dos segurados se dava em consultórios privados.
Rapidamente se criou uma rede de centros sanitários no qual os médicos poderiam
compatibilizar sua prática privada. No mesmo espaço físico dos ambulatórios, operavam
especialidades médicas como cirurgiões, cujas ações eram realizadas em clínicas privadas
contratadas, assim como os serviços de diagnose
2
.
Cada generalista estava vinculado a um conjunto de especialistas para os quais poderia
referenciar os pacientes de sua lista. Os especialistas, por sua vez, poderiam fazer os
encaminhamentos para o hospital. Além de consultas, os médicos gerais e de família
realizavam visitas domiciliares. O tempo escasso de dedicação às consultas, o alto número de
atendimentos realizados, bem como as precárias condições de infraestrutura provocavam nos
usuários grande insatisfação. Esta situação, que se prolongou até o final dos anos de 1980,
degradou não a imagem do generalista como do próprio sistema ambulatorial e favoreceu a
criação de um mercado privado de saúde
2,3
.
153
Frente a esta crise, a partir da década de 1980 iniciou-se um profundo processo de reforma na
atenção ambulatorial da seguridade social espanhola. A recém-criada especialidade de
Medicina de Família e Comunidade em 1978, também funcionou como um mecanismo de
pressão em prol das reformas, visto que o número significativo de médicos formados passou a
pressionar por melhores condições de trabalho, além de fornecer as bases teóricas para a
construção de um novo conceito de APS
5
.
O Real Decreto 137/1984 de Estructuras Básicas, posteriormente legalizado pela Ley General
de Sanidad, foi o marco de criação de um novo modelo para a APS. Os aspectos mais
importantes da Reforma foram a contratação de médicos generalistas e pediatras por jornadas
de sete horas; pagamento por salários, posteriormente conjugado a pagamentos por capitação;
formação de equipes de atenção primária com generalistas, pediatras, enfermeiros, em alguns
casos assistentes sociais e pessoal auxiliar; melhoria da infraestrutura e ampliação dos centros
de saúde; manutenção do generalista como porta de entrada; da lista de pacientes e da base
territorial. Freire
16
destaca que a dedicação exclusiva dos médicos e a proibição da prática
privada foram aspectos mais importantes da Reforma, sendo a nova geração de médicos
formados pela Residência em Medicina de Família e Comunidade atores fundamentais na
condução da Reforma.
Atualmente a provisão da APS tem como fundamento três elementos básicos: o centro de
saúde, as equipes de atenção primária e a zona básica de saúde, estrutura populacional e
demográfica que abrange de 5.000 a 25.000 habitantes. Entre os profissionais que podem
compor as equipes de APS além do médico generalista, pediatra, enfermeiro, encontram-se
também equipes de apoio formadas por fisioterapeutas, odontólogos, trabalhadores sociais,
parteiras, entre outros, com atuação nos centros de saúde
6
.
A relação da APS com outros setores sociais é uma função de responsabilidade principalmente
das equipes. As principais áreas de atuação intersetorial são a saúde mental, drogadição, saúde
pública, cuidados paliativos, escolas, violência doméstica e atuação junto a pessoas com perda
de autonomia física e/ou mental para o desenvolvimento de atividades diárias. A participação
comunitária também é um princípio definidor da APS
6
.
O processo de implantação do novo modelo de APS foi diferenciado no âmbito das
Comunidades Autônomas, atingindo coberturas distintas ao longo dos anos. Em 2000, 90% da
população espanhola estava coberta por serviços de APS, embora, por exemplo, na Catalunha a
cobertura fosse de 51% da população. Apesar das diferenças na organização, o funcionamento
das equipes segue padrões gerais como: funcionamento em dois turnos (8:00 às 15:00 e de
154
14:00 às 21:00 horas), atendimento à demanda espontânea e programada, atenção domiciliar,
atendimento às urgências não vitais, atenção a grupos de portadores de doenças crônicas e
grupos de risco, vigilância em saúde e atenção paliativa.
São inegáveis os resultados positivos do processo de Reforma da APS no país, destacando-se
como pontos fortes: alto nível de qualidade, qualificação de seus profissionais e conseqüente
aumento da satisfação dos pacientes em relação ao seu médico generalista e com este nível de
atenção, e fortalecimento de clínica com a adoção de protocolos e guias clínicos e
informatização da história clínica que permite melhor fluxo de informações entre os
profissionais do centro de saúde e com o nível hospitalar
1,5,6
.
Contudo, alguns aspectos mereceriam maior atenção. Identificam-se problemas na
resolutividade da APS pelo acesso restrito aos meios diagnósticos pelo médico deste nível,
muitas vezes, dependente da referência realizada pelo profissional do nível hospitalar
4
. Ainda
utilização dos serviços de urgência hospitalar, mesmo nos horários de funcionamento dos
Centros de Saúde; as listas de espera para a atenção especializada; a existência de um
importante setor privado; a insatisfação dos médicos em função de aspectos como falta de
autonomia profissional, sobrecarga de trabalho, pressão por resultados, às vezes, em detrimento
da qualidade clínica, entre outros; e indefinição da função de enfermagem e pouco
desenvolvimento da enfermagem comunitária, com cuidados domiciliares também são
problemas a serem enfrentados
1,5
. Para Ojeda et al.
4
“(...) la Atención Primaria actual, aunque
mejorado respecto al modelo tradicional, es burocrática, fragmentada y no poco
desilusionante. Por ello, los elevados niveles de insatisfacción entre los médicos de Atención
Primaria no puden dejar de ser abordados” (p.363).
Em Dossiê produzido pelo Ministerio de Sanidad y Consumo para o ano de 2007 entre os
desafios postos encontram-se: a concepção hospitalocêntrica do cuidado em saúde, o choque de
interesses corporativos entre médicos especialistas e de atenção primária, e a própria
complexidade administrativa hospitalar que consome recursos cada vez mais altos em
detrimento da APS. Carrió e Badía
5
destacam também que a competitividade, mais que a
cooperação entre as Comunidades Autônomas, acarreta dificuldades para agregar dados,
gerando disparidades no uso de indicadores de saúde, e para estabelecer políticas comuns
principalmente em relação à Saúde Pública e Medicina Comunitária.
Segundo Gervás
7
a reforma da APS na Espanha centrou-se mais na melhoria dos recursos do
que em estratégias de coordenação, sendo este um desafio recente. No sistema de saúde
espanhol os maiores obstáculos à coordenação e cooperação entre APS e atenção especializada
155
estão vinculados a características organizacionais, falta de incentivo e instrumentos específicos
e ausência de uma cultura de cooperação. Maior disponibilidade de certas especialidades
também condiciona as referências em detrimento das necessidades dos usuários
18
. Segundo
Carrió e Badía
5
maior integração entre os níveis assistenciais poderia ser alcançada pela
implantação efetiva da história clínica compartilhada, aumento da responsabilidade e das ações
executadas pelo pessoal de enfermagem, que poderia, inclusive desempenhar papel de primeiro
filtro para a demanda espontânea, e pela constituição de redes sóciosanitarias geridas pela APS
com maior integração com os serviços sociais.
Neste sentido, de forma diferenciada, os serviços de saúde das Comunidades Autônomas estão
em processo de implementação de instrumentos e experiências como as guias de prática clínica
compartilhada, mapas de atenção ou trajetórias clínicas, formação continuada, comunicação
informal, comitês de gestão interníveis, sistemas de informação com história clínica unificada,
participação de profissionais da atenção especializada em reuniões e atividades de APS e vice-
versa, entre outras
41
. Em Navarra foi desenvolvido um plano global de coordenação entre APS
e atenção especializada que envolve utilização de tecnologias de informação como acesso à
história clínica e relatório das consultas especializadas por meio eletrônico; livre eleição do
especialista pelo médico de APS, que acompanha o paciente durante todo o tratamento de
determinado episódio; monitoramento de filas de espera e das derivações executadas. O
objetivo é fortalecer o protagonismo dos médicos de família na coordenação dos cuidados. Em
Barcelona mediante consultas entre médicos da APS e da atenção especializada cerca de 80%
das dúvidas são resolvidas sem que o paciente tenha que ser encaminhado ao especialista,
reduzindo as referências e aumentando a resolutividade do primeiro nível. Iniciativas para
otimizar o uso dos medicamentos com a participação de farmacêuticos e incremento das
funções de enfermagem no controle de patologias crônicas também alcançaram resultados
positivos. Experiências de maior integração entre entidades e associações vinculadas a
movimentos sociais também contribuiriam para melhorar a coordenação entre os sistemas
sanitários e os demais serviços sociais
4
.
R
EFERÊNCIAS
B
IBLIOGRÁFICAS
1. Freire JM. La atención primaria de la salud y los hospitales em el Sistema Nacional de
Salud. Seminario “Estado de Bienestar en España”. Programa en políticas Públicas y Sociales.
Barcelona: Universidad Pompeu-Fabra; 2003.
2. Freire JM. La atención primaria de la salud y los hospitales en el Sistema Nacional de Salud.
En: Navarro López V, coord. El Estado de Bienestar en España. Madrid: Tecnos, 2004; p.239-
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156
3. Freire JM. La cobertura poblacional del Sistema Nacional de Salud: importancia y retos de
la universalización y la equidad en el aseguramiento. En: Repullo Labrador JR y Oteo Ochoa
LA. Un nuevo contrato social para un Sistema Nacional de Salud sostenible. Ariel: 2005. p.61-
99.
4. Ojeda JJ, Freire JM, Gérvas J. La coordinación entre Atención Primaria y Especializada:
Reforma del sistema sanitario o reforma del ejercicio profesional. Rev Adm Sanit 2006;
4(2):357-82.
5. Carrió FB, Badía JG. La Atención Primaria española em los albores Del siglo XXI. Gestión
Clínica y Sanitária 2008; 10(1):3-7.
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integración con otros niveles de atención. Madrid: EuroSocial Salud; 2006.
7. Gérvas J. Atención primaria: 1984-2007. La práctica clínica (acceso y
proceso). En: Navarro V, Martín-Zurro A (ed) La atención primaria de salud en España y sus
Comunidades. Barcelona: Semfyc; 2009. p.91-104.
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