
| Desenhos e escutas |
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No desenho, o autor separa e ao mesmo tempo enumera os elemen-
tos componentes da imagem de meio ambiente. Ao nal, podemos dizer
que os mesmos quatro quadrantes em que se divide o desenho da gura 03,
nitidamente esquemático, estão também presentes no desenho da gura
04. Certamente, cada um destes quadrantes não tem as mesmas caracterís-
ticas “internas”, mas apontam para uma “estrutura de pensamento” (uma
imagem) semelhante acerca do Meio Ambiente: segmentada, seccionada,
separada, dicotomizada, atomizada, que se apresenta em telas distintas,
uma após a outra, com uma tênue conexão tornada uma ponte.
Certamente muito mais poderia ser dito e visto nos desenhos até
aqui apresentados, assim como nos tantos outros desenhos feitos, em classe
ou em casa, por alunos do último ano do curso de Licenciatura em Geo-
graa.
Passo agora à descrição geral da prática educativa que deu origem
aos desenhos anteriormente apresentados. Esta descrição tem por m per-
mitir ao leitor o acompanhamento das ações realizadas pelo professor e
pelos alunos. Desta forma, entendo que cará mais aparente a intenção
primeira desta prática: a busca de deslocar a ação do professor para uma
“ação passiva”, de escuta, e deslocar a ação dos alunos para uma “ação ati-
va”, aquela que coloca algum saber em circulação
6
.
Antes, porém, é importante salientar que raramente ela ocorreu
conforme está descrita a seguir, tendo innitas variações que se congu-
6 Nesta ideia de “ação passiva” estou dialogando com Jorge Larrosa quando fala sobre a
experiência. Este autor escreve que “a experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça
ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tem-
pos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais
devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar,
demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, sus-
pender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos,
falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do
encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço” (2002, p.24).