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ÉMILE DURKHEIM
desmoralização coletiva, ou de superexcitação mútua e efervescência
salutar, e será preciso discernir uns de outros, a fim de organizar o
ensino de forma a prevenir os maus resultados. Certamente, esse
ramo da psicologia ainda está na infância. Ele já apresenta, no en-
tanto, certo número de proposições, que não podemos ignorar.
Tais são as principais disciplinas que podem despertar e cultivar
a reflexão pedagógica. Em vez de tentar formular, para a peda-
gogia, um código abstrato de regras metodológicas – empresa que,
em virtude da complexidade, não pode ser realizada de maneira
satisfatória – parece-nos preferível indicar como o pedagogo deve
ser formado. A atitude de espírito conveniente, em face dos pro-
blemas que lhe cabem resolver, fica assim cabalmente determinada
22
.
Caráter social da educação (pp. 75-82)
Até bem pouco – e ainda hoje as exceções podem ser contadas
– os pedagogistas estavam quase todos de acordo em ver, na edu-
cação, um fenômeno eminentemente individual
23
. Em consequência,
a pedagogia era corolário imediato e direto da psicologia, nada mais.
22
Durkheim faleceu antes, portanto, do término da I Guerra Mundial e das consequências
desse acontecimento, tanto na vida social e política como nos domínios do pensamento
científico e filosófico. A conceituação do conhecimento científico é hoje algo diferente da que
ele podia expor e defender à época. Os resultados da construção científica, como simples
descoberta de leis preexistentes na natureza, está hoje de muito enriquecida com a noção de
modelos que o próprio homem cria, para explicação e interpretação, alguns dos quais de
especial interesse nas ciências sociais e suas aplicações, entre as quais as da ação
educativa intencional. Não obstante, algumas das concepções hoje pacíficas, até mesmo a
de que os fins de atividades humanas, individuais e sociais também são suscetíveis de
descrição e investigação objetiva, estão em germe no texto deste capítulo, quando Durkheim
fala dos modelos a que chamou teorias práticas, como também, ao fim da obra, quando
expressamente admite Planos de educação. A esse respeito, é de notar-se ainda a importân-
cia que atribui aos estudos de um ramo especial da psicologia, então mal iniciado, a psicologia
coletiva, ou psicologia social. Para mais exata compreensão da evolução das ideias lançadas
pelo autor, recomenda-se: Gaston Granger, Lógica e Filosofia das Ciências, Lourenço Filho,
Educação comparada, ambos de Edições Melhoramentos. (Nota do tradutor.)
23
A ideia foi já expressa por Lange, numa lição inaugural, nos Monastshefte der
Comeniusgesellschaft. À mesma tendência se inclinam Lorenz von Stein, WiIlman, Didaktik
aIs Bildungslehre, 2 vols. 1894; Natorp, Social padagogik, 1899; Bergemann, Soziale
Piidagogik, 1900. Citaremos, igualmente, Edgard Vincent, The social mind and education;
Elslander, L ’education au point de vue sociologique, 1899.
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