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termos como imposição. A língua impressa, bem como, modelos construídos após a
Revolução Francesa, tornaram possíveis os desenvolvimentos em torno do par Estado-
nação. Este modelo, em sua forma, seria um artigo para exportação, um item
universalizável. Entretanto, o seu conteúdo, que levara em conta a fatalidade, o acidente,
enfim, a natureza das coisas, teria de respeitar o pluralismo. Em cada contexto, uma
história, uma nação.
Convém mencionar que a teoria de Anderson não se fecha em conclusões de fácil
acesso, em um argumento que possui um ordenamento com meio e fim. Enquanto que, na
América espanhola, o nacionalismo se afirmou como reação, na Europa houve dois
movimentos – que de certa maneira, mesmo que em outro contexto, ainda pulsam no
mundo contemporâneo: o nacionalismo que se forma sob a base cultural/lingüística
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ou, na
nomenclatura utilizada por Anderson, o nacionalismo oficial que procura se consolidar
minando a reação de movimentos nacionalistas populares
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.
Apesar das diferenças entre a análise de Benedict Anderson
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, Ernest Gellner e
Norbert Elias, em seus estudos há, um ponto central, uma convergência: o nacionalismo é
fruto da modernidade, do desenvolvimento do capitalismo e da ascensão da sociedade de
massa. O nacionalismo, portanto, a que os três se referem, é de ordem popular. Este é o
ponto a que Habermas está vinculado, ao tratar do tema em questão. E isto é o objeto da
próxima parte deste trabalho. O nacionalismo, para Habermas, teve sua função histórica.
Entretanto, há limites nesta forma de organização. Superá-lo, portanto, torna-se uma
necessidade. Esta superação nada mais é do que afirmar uma retomada kantiana – mas
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“Mas por toda à parte, na verdade, à medida que era maior a alfabetização, tornava-se mais fácil conseguir
apoio popular, quando o povo encontrava um novo motivo de orgulho na exaltação pela imprensa de línguas
que haviam falado humildemente por tanto tempo” (Anderson; 1989, p. 91).
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O termo “nacionalismo oficial”, que Anderson toma emprestado de Seton-watson, que trata das pretensões
imperialistas, no decorrer do século XIX, que apenas se tornaram possíveis depois do aparecimento dos
nacionalismos lingüísticos populares: “(...) a partir de meados do século XIX, desenvolveu-se o que Seton-
Watson denomina “nacionalismos oficiais” no interior da Europa. Esses nacionalismos eram historicamente
“impossíveis” antes do aparecimento dos nacionalismos lingüísticos populares, pois, no fundo, foram reações
de grupos de poder – primordialmente, mas não exclusivamente, dinásticos e aristocráticos – ameaçados de
exclusão, ou de marginalização, nas comunidades imaginadas populares (...). Esses nacionalismos oficiais
eram políticas conservadoras, para não dizer reacionárias, adaptadas a partir do modelo dos nacionalismos
populares, em grande medida espontâneos, que os precederam” (Anderson; 1989, p.122).
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O posicionamento de Anderson difere um pouco do de Gellner. Há, no primeiro, um olhar mais
benevolente em relação ao nacionalismo. Isto fica claro em sua análise sobre o nacionalismo na América do
sul. Certa vez, Anderson afirmou: “eu estava decidido a pensar o nacionalismo, de certa forma, contra o
eurocentrismo. Então, um dos primeiros capítulos do livro é sobre as Américas, mas com maior atenção à
América do Sul” (Anderson; 2005, 12).