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diziam ‘que vinham emendar a lei dos cristãos’ (...) ‘Santa Maria’, ou ‘Mãe
de Deus’, batizava neófitos, tendo nisso a permissão de Fernão Cabral e de
sua mulher, Dona Margarida” (SOUZA, 1986, p. 95)
Reportando-nos a Andrade (2002) segundo a qual o ethos religioso brasileiro
não se encontraria no catolicismo, e sim no sincretismo, iríamos além, afirmando
que a constituição histórico-cultural do Brasil de influência católica, evidencia uma
forte “inclinação” à religiosidade de tipo místico-sincrética. Não queremos, contudo,
afirmar que se trata de uma tendência dominante
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. Com efeito, o ethos religioso
brasileiro de influência católica, seria, antes de tudo, caracterizado por uma
religiosidade de deste tipo.
De fato, Bastide, em As religiões africanas no Brasil (1985) já assinalava que
o catolicismo no Brasil distava em boa medida daquele de Portugal. E, mesmo o
catolicismo lusitano e o Ibérico de forma mais geral, apresentavam um viés místico
mais fortemente marcado que os demais catolicismos europeus, entendendo, em
verdade, que não se pode falar no catolicismo como um bloco homogêneo. Falamos,
portanto, em catolicismos, que apesar de possuir um forte sustentáculo e uma certa
unidade está repleto de singularidades.
Defendemos, portanto, que se trata, antes de tudo, de uma realidade místico-
sincrética. Nesse sentido, falamos não apenas de um sincretismo entre elementos
oriundos do catolicismo, das matrizes africana e indígena, mas de um catolicismo
suis generis, místico. Diríamos que uma das faces mais claras do catolicismo luso
essencialmente místico aparece na obra do Padre Antônio Vieira. De fato, consoante
Andrade (2003) em História do Futuro, Vieira faz um esforço desmesurado de
“interpretação das profecias bíblicas lançadas por Daniel entre outros profetas,
trazidas para a época seiscentista, através da identificação dos sinais que indicavam
a aproximação da realização daquelas profecias” (Ibidem, P. 53), as quais se
referiam a um possível fim dos tempos que culminaria com a fundação de um reino
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No universo diversificado da religiosidade brasileira contemporânea, duas grandes
tendências de crescimento destacam-se mais fortemente. Por um lado, uma crescente penetração da
visão de mundo libertária, um Deus amor (NA) e por outro, o fortalecimento da imagem de um Deus
todo poderoso que oprime e castiga, como mostra o incrível avanço do pentencostalismo e dos
fundamentalismos (MARTINS, 2002, apud. SILVA, 2002: p. 14-15).SIILVA, Magnólia. Práticas e
Representações da Nova Era no Brasil. Comunicação no XI Encontro para a Nova Consciência.
Campina Grande, 09/02/02).