[...] fomos a casa da F., 48 anos, ela é uma mulher caseira, como ela mesma falou:
“gosto de ficar em casa, aproveito minha vida assim e acho bom”. Sua casa é bastante
organizada, ficamos impressionados com a linda TV que ela tem em sua sala, ela até
ligo-a para assistirmos ao programa hoje em dia enquanto estávamos lá. Percebi que ela
não gostava muito de sair de casa pelo próprio local onde mora. F. é dona de casa. Ela
tem uma filha chamada Débora, 26 anos, casada, não tem filhos, ela é artesã, trabalha
com confecção de sandálias com bijuterias e de acessórios como brincos e enfeitas para
cabelo. D. ressaltou que não vende muito porque as pessoas acham suas peças caras.
Falou que vive mais da renda do marido e que perdeu o benefício do Programa Bolsa
Família. Ela não tem filho.
Posteriormente fomos a casa da M., 34 anos. Ela é artesã, seu trabalho é confeccionar
brincos, colares e bolsas de tecido. Ela é casada e tem dois filhos homens frutos do
primeiro casamento. Casou-se aos 13 anos de idade, porque sua mãe só lhe deu duas
opções de futuro: trabalhar em uma casa de família ou conseguir um marido para
sustentá-la. Daí ela preferiu a segunda opção. Ressaltou ainda, que sua mãe falava que
“estudar não era importante porque ela nunca tinha estudado e isso não tinha
atrapalhado em nada sua vida”. E enfatizou que apesar de não ter tido uma mãe que a
incentivasse a estudar, não desejava o mesmo para os filhos e por isso fala todos os dias
para o filho mais velho estudar, salientando que ele está no 9º ano mais que já era para
ter terminado se não tivesse repetido dois anos. Disse também que lamenta pelo filho
não ter nenhuma opção de lazer na comunidade e que pela ociosidade ele pode ser
influenciado pelos traficantes e enveredar pelo caminho do tráfico de drogas, podendo
ser um avião ou qualquer outra coisa. [...]. M. contou que recebe 50,00 reais ou pouco
mais por mês pelo seu trabalho de artesã, uma vez que é muito difícil vender suas peças,
às vezes vende R$ 30,00 para receber dois ou três meses depois. Sua família não é
beneficiada pelo Programa Bolsa Família, entretanto, já foi cadastrada pela regional IV
[Secretaria Executiva Regional IV] e está esperando ser contemplada com o benefício.
Mesmo não trabalhando diretamente na cooperativa ela borda para a mesma e sempre
que possível faz alguma atividade lá. Relatou que não freqüenta muito a cooperativa,
porque precisa cuidar da casa e dos filhos. Mesmo com as atividades de dona de casa
consegue um tempo para trabalhar como artesã. Sua casa não é muito organizada, há
muitas coisas fora do lugar, fica visível que ela prioriza os filhos e o seu trabalho.
Mostrou-nos a geladeira nova que tinha comprado com o dinheiro que o marido tinha
recebido no trabalho, falou que tinha comprado a vista, pois ela e o marido não
possuíam cartão de crédito, disse que é muito difícil viver sem geladeira por causa dos
filhos. Em sua casa tinha um cachorro muito barulhento [informação verbal]
28
.
Estes relatos revelam um pouco do cotidiano das alunas. Estas
evidenciaram a falta de um local adequado para a prática da ginástica, sendo este
um dos principais motivos de abandono/evasão das aulas. Elas salientam que a
população de Fortaleza tem uma visão negativa acerca da comunidade Rosalina e
28
Notícias fornecidas pelas alunas da ginástica do programa em visita às suas residências, na
comunidade Rosalina, em Fortaleza-CE, em 2009.