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Nas séries 1 e 2, o sentido foi totalmente modificado pela simples troca da preposição. Em
3 e 4, bastou o acréscimo da preposição por para dar à série um sentido bem diferente.
As séries usuais de intensidade são muito importantes para o estilo, afirma Rodrigues Lapa
(s/d, p. 94). Essas unidades fraseológicas correspondem ao que, atualmente, dá-se o nome de
colocações. Segundo o autor, quando queremos qualificar a intensidade de um choro, vem-nos à
mente um casal de palavras: choro convulsivo. Para a idéia contrária, temos rir às gargalhadas. Se
alguém está muito doente, dizemos “Fulano tem uma grave doença”, ou “Fulano está gravemente
doente”. A frase, enfatiza o autor, “já está prontinha desde o tempo dos nossos avós”, só nos resta
aplicá-la. Em seguida, o autor compara estas duas locuções: grave doença e silêncio sepulcral. A
primeira é mais natural, impõe-se ao uso; a segunda “tem caráter literário, cheira a romantismo
fúnebre, é exagerada, pretensiosa.” Poderia ser substituída por silêncio profundo, grande silêncio.
Para o autor, essas séries pretensiosamente literárias e desgastadas pelo uso são chamadas de
clichês, e devem ser evitadas.
Rodrigues Lapa (s/d, p. 87) ressalta ainda que as unidades fraseológicas, como herança do
passado, podem conter arcaísmos, quer de vocabulário, quer de construção. Como exemplo temos
fazer alarde de alguma coisa. Sabemos que a frase significa exibir, ostentar com afetação e
vaidade, embora o vocábulo alarde, isolado, resulte estranho. O dicionário informa que alardo,
forma primitiva da palavra, era a revista anual que se fazia às tropas na Idade Média, para verificar
o número e o estado de homens e de armas. Contudo, mesmo conhecendo o significado do
vocábulo arcaico, dificilmente seria aceitável seu uso, uma vez que alarde atrai irresistivelmente o
verbo fazer, com o qual está intimamente ligado. A mesma impossibilidade de liberação pode ser
encontrada nas unidades fraseológicas de cor, de bom grado, à toa e ao léu, por exemplo.
Em Ortíz Alvarez (2000) encontramos que Saussure (1973) foi um dos primeiros autores a
enfatizar a existência de combinações não livres, pré-fabricadas, que pertencem à língua e são
cunhadas pelo uso, de tal forma que não podem ser alteradas, embora possam distinguir-se nelas
elementos com valor semântico próprio. É o que ocorre com expressões como “ter pavio curto”,
“à força de”, etc., expressões cujo caráter usual sobressai das particularidades de sua significação
ou de sua sintaxe. Essas expressões são dadas pela tradição, não podem ser improvisadas.
O autor observa que as expressões fraseológicas não são fatos de fala que dependem do
exercício da liberdade individual, mas fatos de língua, pois são combinações sintagmáticas