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2
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS E SUA RELAÇÃO COM O TURISMO
NA GRANDE JOÃO PESSOA.
Bruno Dantas Muniz de Brito
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao curso de Turismo do
Departamento de Comunicação da
Universidade Federal da Paraíba,
atendendo aos requisitos para a
obtenção do grau de Bacharel em
Turismo, orientado pelo professor Ms.C.
Carlos José Cartaxo.
João Pessoa
2004
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3
AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS E SUA RELAÇÃO COM O TURISMO
NA GRANDE JOÃO PESSOA.
Bruno Dantas Muniz de Brito
Monografia aprovada em ______/________/ 2004
Média Final:_____________
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
Prof. Ms.C. Carlos José Cartaxo
Departamento de Comunicação – Universidade Federal da Paraíba
Orientador
__________________________________________________
Profa. Ms.C. Zulmira Nóbrega
Departamento de Artes – Universidade Federal da Paraíba
__________________________________________________
Prof. Dr. Andrea Chiacci
Departamento de Sociologia – Universidade Federal da Paraíba
4
Dedico este trabalho a todas as
comunidades que resguardam em seu
meio as tradições populares e a luta
contínua pela identidade cultural do
Brasil.
5
AGRADECIMENTOS
A princípio a DEUS, por todas as benções que se fizeram presentes em
minha vida, até mesmo nos momentos de maior aflição quando ELE me afanou a
cabeça e me deu forças para continuar.
A minha família, motivo de orgulho e admiração de minha parte,
especialmente a mainha e painho, por sempre estarem presentes, a minha esposa e
paixão da minha vida Marcela e ao meu maior amor, minha filha Giovanna.
Ao professor Carlos Cartaxo, por me orientar e sempre apoiar minha iniciativa,
acreditando em mim e no meu trabalho.
A professora Zulmira Nóbrega, em especial, pela imensa força e carinho que
sempre teve comigo.
Ao professor José Nilton, pelo apoio e ajuda na condução da pesquisa
científica.
A todos os meus amigos: Glauco, Vinícius, Leila, Márcia, Rafaella, Mirtes,
Lizianne, Edna, Teresa Regina, Cristiane, Silba, Bruno Machado, Gustavo, Guto,
Kiara, Marcela Prudente, Joélio, Felipe e Onicéia, pessoas que amo e respeito
desde a nossa primeira convivência.
Por fim, a todos que colaboraram direta ou indiretamente na conclusão deste
trabalho.
6
Neutro é quem já se decidiu pelo
mais forte.
Max Weber
7
RESUMO
O turismo é uma atividade extremamente importante para diversos atores sociais
nos dias de hoje, tanto para aquelas comunidades que são visitadas quanto para
seus visitantes. O contato direto permite a troca de informações e de experiências
entre culturas diferentes, unidas momentaneamente pela presença mútua em um
determinado espaço geográfico. No entanto, em alguns casos, o motivo pelo qual se
empreende uma viagem turística pode acabar por se tornar num processo de
aculturação dos costumes de uma localidade. A globalização, grande mecanismo de
integração inter-cultural, permite em certos casos que culturas consideradas
hegemônicas sufoquem e, até mesmo, interrompam o fluxo continuo das
manifestações culturais de uma localidade, agregando ao local componentes
demandados pelo global. Nesse sentido, a atividade turística pode gerar mais
malefícios que benesses para as comunidades receptoras. Dessa forma, o presente
trabalho objetivou investigar até que ponto a atividade turística na região da grande
João Pessoa, Paraíba, pode chegar a transformar suas manifestações culturais de
forma que as mesmas percam seu caráter de autênticas expressões da cultura
popular. O Côco de Roda Mestre Benedito, o Côco de Roda de Forte Velho, a
Lapinha Jesus de Nazaré de Dona Erotilde, a Nau Catarineta de Cabedelo, a
Ciranda do Sol de Mestre Mané Baixinho, O Grupo do Sesc Tenente Lucena, o
Cavalo Marinho de João do Boi, o Boi de Reis de Mestre Piralinho, a Tribo Indígena
Potiguara e a Tribo Indígena Pele Vermelha são manifestações estudadas neste
ínterim. O trabalho deu-se em períodos de investigação bibliográfica, observação de
eventos turísticos na cidade, entrevistas com pessoas que coordenam as
manifestações, tanto nos bairros da capital como em instituições de fomento ao
turismo, e levantamento nos diversos órgãos que lidam com cultura. Foi possível
constatar, ao final da pesquisa, que o turismo responde por várias transformações
na cultura popular regional, sobretudo em aspectos que compreendem o tempo
social dos grupos, a duração das apresentações, os trajes de cada manifestação e
as intenções que muitos deles aspiram em mudar seus costumes (considerados
autênticos) com a intenção de obter benefícios financeiros que o turismo possa vir a
lhes oferecer.
Palavras-chave: 1. Turismo 2. Cultura Popular
3. Tradição 4. Impactos culturais
8
ABSTRACT
The tourism is an extremely important activity for several social actors nowadays, not
only for those communities that are visited, but also for visitors either. The direct
contact allows the change of information and experiences among different cultures,
united momentarily by the mutual presence in a certain geographical space.
However, in some cases, the reason for which a tourist trip is undertaken can end up
in a process of several interventions in the habits of the place visited. The
globalization, great mechanism of inter-cultural integration, allows in certain cases
that cultures considered hegemonies suffocate and, even, interrupt the flow of the
cultural manifestations of a place, joining to the component place disputed by the
global. In that sense, the tourist activity can generate more harms than benefits for
the receiving communities. In that way, the present work aimed to investigate what
extent the tourist activity in the city of João Pessoa, capital of Paraíba, can harm the
cultural manifestations, causing the lost of their character of authentic expressions of
the popular culture. The Côco de Roda Mestre Benedito, The Côco de Roda of Forte
Velho, Lapinha Jesus de Nazaré of Dona Erotilde, The Nau Catarineta of Cabedelo,
Cirande of Sun of Mestre Mané Baixinho, the Group of Sesc Tenente Lucena, The
Cavalo Marinho of João do Boi, The Boi de Reis of Mestre Piralinho, the Indigenous
tribe Potiguar, the Indigenous tribe Skin Red are manifestations studied in this
interim. The work felt in periods of bibliographical investigation, observation of tourist
events in the city, interviews with people that coordinate the manifestations, so much
in the neighborhoods of the capital as in fomentation institutions to the tourism, and
rising in the several organs that work with culture. It was possible to verify, at the end
of the research, that the tourism answers for several transformations in the regional
popular culture, above all in aspects that understand the social time of the groups,
the duration of the presentations, the clothes of each manifestation and the intentions
that many of them aspirate in changing your habits (considered authentic) with the
intention of obtaining financial benefits that the tourism can come offering them.
Key-word: 1. Tourism 2. Popular Culture
3. Tradition 4. Cultural Impacts
9
SUMÁRIO
1. LISTA DE FIGURAS 12
2. LISTA DE GRÁFICOS 13
3. LISTA DE SIGLAS 14
4. LISTA DE TABELAS 15
5. INTRODUÇÃO 17
5.1. Delimitação do problema enfocado 20
5.2. Objetivo Geral 21
5.3. Objetivos Específicos 21
6. CONTANDO A CULTURA POPULAR 23
6.1. Definições e representação da cultura popular 23
6.1.1. Côco de Roda 25
6.1.2. Lapinha 27
6.1.3. Nau Catarineta 28
6.1.4. Ciranda 30
6.1.5. Boi de Reis 31
6.1.6. Cavalo Marinho 32
6.1.7. Tribos Indígenas 34
6.1.8. Grupos parafolclóricos 35
6.2. Danças e folguedos populares: 36
6.2.1. Côco de Roda Mestre Benedito 39
6.2.2. Côco de Roda de Forte Velho 41
6.2.3. Lapinha Jesus de Nazaré de Dona Erotilde 43
6.2.4. Nau Catarineta de Cabedelo 47
6.2.5. Ciranda do Sol de Mestre Mané Baixinho 50
6.2.6. Boi de Reis de Mestre Piralhinho 53
6.2.7. Cavalo Marinho Infantil de João do Boi 55
6.2.8. Tribo Indígena Potiguara 57
6.2.9. Tribo Indígena Pele Vermelha 59
6.2.10. Grupo parafolclórico do SESC Tenente Lucena 61
10
7. TURISMO – CONCEITOS E COMPLEXIDADE 66
7.1. Massificação cultural promovida pelo Turismo 71
7.2. Autenticidade x Simulação Cultural 79
7.3. O Turista: principal elemento de transformação cultural 81
8. IMPACTOS SÓCIO-CULTURAIS POSITIVOS E NEGATIVOS
DO TURISMO NAS MANIFESTAÇÕES POPULARES 88
8.1. Sob o domínio das ideologias empresariais 91
8.2. Alguns casos de impacto na cultura fomentado pelo turismo 93
8.3. Produto de consumo turístico 97
8.4. O turismo e a construção do não-lugar cultural 100
9. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS 103
9.1. Ocasião de encenação das manifestações 103
9.2. A demanda turística pela cultura popular local 104
9.3. Principais locais de apresentação dos grupos 105
9.4. A busca pelo diferencial na grande João Pessoa 106
9.5. A indumentária dos grupos 108
9.6. Ocasião em que são renovados os trajes 110
9.7. Tempo necessário para as apresentações 111
9.8. Cultura popular e Turismo responsável 114
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS 118
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 123
12. ANEXOS 130
Anexo 1: Questionário de pesquisa monográfica
Anexo 2: Capa Isto É Gente
Anexo 3: Propaganda VASP
Anexo 4: Capa do Folder IX FENART / páginas internas
11
Anexo 5: Capa Caderno de Turismo / matéria de capa
Anexo 6: Artigo 216 / Constituição de 1988 - República Federativa do Brasil
Anexo 7: Revista Isto É – Carnaval S/A
Anexo 8: Panfleto Vem Viver a Paraíba
Anexo 9: Matéria publicada em O Norte – Forró na Praia
Anexo 10: Folder de programação (Grupo Tenente Lucena – Sesc)
Anexo 11: Calendário de programação (Grupo Tenente Lucena – Sesc)
Anexo 12: Letra de uma das cirandas de João grande
Anexo 13: Folder: Fórum de Turismo promovido pela Asper e FAP
Anexo 14: Mestre Gasosa do Cavalo Marinho (10 de fevereiro de 2002)
12
LISTA DE FIGURAS
FOTO 01: Côco de roda 25
FOTO 02: Lapinha 27
FOTO 03: Nau Catarineta 28
FOTO 04: Ciranda 30
FOTO 05: Boi de Reis 31
FOTO 06: Cavalo Marinho 32
FOTO 07: Tribo Indígena 34
FOTOS 08 e 09: Grupos parafolclóricos 35
FOTOS 10 e 11: Dona Teca e Côco de Roda Mestre Benedito 39
FOTO 12: Côco de Roda de Forte Velho 41
FOTOS 13 e 14: Dona Pinta e dona Marlene de Forte Velho 42
FOTO 15: Dona Erotilde (Lapinha) 44
FOTO 16: Nau Catarineta de Cabedelo 49
FOTO 17: Ciranda do Sol de Mestre Mané Baixinho 50
FOTO 18: Boi de Reis de Mestre Piralinho 53
FOTO 19: Cavalo Marinho de João do Boi 55
FOTO 20: Tribo indígena Potiguara 57
FOTO 21: Dona Inácia 59
FOTO 22: Grupo parafolclórico do SESC Tenente Lucena 61
FOTO 23: Desfile da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense 94
FOTOS 24 e 25: Quadrilha Junina de Campina Grande 95
13
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 01: Mapa Cultural do Estado da Paraíba 36
GRÁFICO 02: Mapa da Grande João Pessoa 37
GRÁFICO 03: Níveis de Penetração Cultural 78
GRÁFICO 04: Perfil Psicográfico dos Turistas 84
GRÁFICO 05: Cultura de Consumo Turístico 98
GRÁFICO 06: Quando são encenadas as manifestações 104
GRÁFICO 07: Grupos que receberam convites para se apresentar 104
GRÁFICO 08: Locais das apresentações dos folguedos a convite 105
GRÁFICO 09: Grupos que recebem incentivo financeiro 107
GRÁFICO 10: Auxílios recebidos pelos grupos à convite 107
GRÁFICO 11: Questão sobre o traje dos grupos 109
GRÁFICO 12: Manifestações que modificaram seus trajes 109
GRÁFICO 13: Ocasião em que os trajes são renovados 110
GRÁFICO 14: Duração das apresentações 111
GRÁFICO 15: Duração das apresentações em eventos 113
GRÁFICO 16: Montante dos grupos que aceitariam modificações culturais 115
14
LISTA DE SIGLAS
ABIH/JP – Associação Brasileira das Indústrias / João Pessoa
CD – Compact Disc (Disco Compacto)
CPC – Centro Popular de Cultura
FUNESC – Fundação Espaço Cultural
FUNJOPE – Fundação Cultural de João Pessoa
IPHAEP – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
MAP - Mercado de Artesanato Paraibano
NUPPO – Núcleo de Pesquisa e Documentação da Cultura Popular
PBTUR – Empresa Paraíba de Turismo
SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SESC – Serviço Social do Comércio
UFPB – Universidade Federal da Paraíba
VASP – Viação São Paulo
15
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Dados referentes aos grupos pesquisados. 38
Tabela 02 – Resumo dos impactos socioculturais positivos e negativos do turismo. 88
16
17
5. INTRODUÇÃO
O turismo como atividade econômica tem se estabelecido muito nos últimos
tempos, chegando a ser a principal fonte de desenvolvimento econômico de uma
localidade. Esse fato tem sido visto em várias cidades que adotaram a atividade
turística e apresentam como principal atrativo suas manifestações populares,
passando um pouco da cultura e da identidade de seu povo para os visitantes de
todas as partes do país e do mundo. Mas, até que ponto realmente o que esta sendo
mostrado é a identidade, a autenticidade de um povo? Após observações de
apresentações culturais em vários eventos e locais turísticos, podemos enfatizar que
o turismo pode vir a ter um papel fundamental enquanto influenciador da tradição e
da cultura popular já que a “comercialização de eventos da cultura tradicional pode
levar à criação de uma pseudocultura, um folclore artificial para o turismo, sem valor
cultural algum para a população local nem para os visitantes” LICKORISH (2000, p.
108).
Nesse sentido, procuramos formular algumas hipóteses que procurassem
responder às questões anteriores. Assim, arriscamo-nos a dizer que: Seriam as
manifestações culturais influenciadas pelos desejos e motivações da indústria do
turismo na grande João Pessoa, já que a participação desses grupos em eventos
vem crescendo substancialmente; As apresentações culturais perderam seu caráter
de autenticidade e se transformaram em “produtos” especializados para o consumo
turístico; Os elementos diferenciais para o turismo em cada região, como a cultura
local, estão se uniformizando por meio do processo de globalização, o qual também
insere o turismo com seu foco de ação; A cultura como conhecemos esta passando
por um processo de customização, como ocorre nas grandes empresas
internacionais, onde o referido produto (no caso as manifestações culturais) vem
adequando-se ao gosto e desejo do turista, por iniciativa das grandes empresas do
setor turístico; por fim, há um certo desejo do trade turístico em facilitar a
18
customização da cultura local, seguindo o modelo de outros mercados turísticos de
sucesso.
Buscando sempre entendermos como o turismo interfere nas manifestações
populares das comunidades investigamos o Côco de Roda de Dona Teca, a Lapinha
Jesus de Nazaré de Dona Ero, a Nau Catarineta de Cabedelo (todos estes de
Cabedelo), a Ciranda do Sol de Mestre Mané Baixinho, o Boi de Reis de Mestre
Piralinho, o Grupo parafolclórico do Sesc Tenente Lucena, a Tribo Indígena Pele
Vermelha (João Pessoa), o Côco de Roda de Forte Velho (Santa Rita) e a Tribo
Indígena Potiguar (Bayeux).
O campo de estudo compreendeu o estado da Paraíba, especificamente na
área que compreende a grande João Pessoa, conurbação deste com os demais
municípios de Santa Rita, Bayeux e Cabedelo.
Mais adiante veremos como se originaram os folguedos populares ora
pesquisados, bem como cada um deles em particular, o local onde se encontram
recentemente e demais informações relevantes como a formação do grupo na
comunidade, a indumentária de ambos e demais informações necessárias ao
andamento do trabalho.
Em seguida, apresentaremos o turismo sob um leque de particularidades e
preceitos, sobretudo em questões que o apontam como o principal agente de
transformação das manifestações populares.
Logo mais tentaremos mensurar quais os impactos que a atividade turística
gera no campo da cultura local, sejam eles negativos ou positivos, e suas principais
implicações.
Por fim, apresentamos os resultados obtidos por meio da pesquisa
19
empreendida no campo de estudo, suas implicações e conseqüências no tocante ao
contanto do turismo com a cultura popular da grande João Pessoa, bem como
estabelecemos nossas considerações finais.
O trabalho compreendeu, de acordo com DENCKER (2001), períodos de
investigação bibliográfica, observação de eventos turísticos estaduais nas cidades
acima citadas, entrevistas com pessoas que coordenam as manifestações e
levantamento nos diversos órgãos que fomentam a cultura como IPHAN (Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), IPHAEP (Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico do Estado da Paraíba), SEBRAE (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas) e Sesc (Serviço Social do Comércio).
Em relação a análise dos dados obtidos através do questionário, utilizamos o
método de Análise de Conteúdo proposto por Chizzotti (2001) onde “a técnica se
aplica à analise de textos escritos ou de qualquer comunicação (oral, visual, gestual)
reduzida a um texto ou documento” CHIZZOTTI (2001, p. 98).
Tal técnica tem por objetivo “compreender criticamente o sentido das
comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou
ocultas” CHIZZOTTI (2001, p. 98).
Todo trabalho se baseou em levantamento de caráter etnográfico. Por
etnografia entende-se “ciência que tem por objetivo a descrição dos povos, no que
concerne às manifestações materiais da sua atividade, tais como a língua, a religião
e os costumes” FERNANDES (1997, p. 1128).
20
5.1. Delimitação do problema enfocado
De acordo com o exposto, foi possível formular a problemática que ora
pretende-se abordar: Será o turismo o principal agente modificador das tradições
populares e culturais apresentadas na cidade de João Pessoa? A demanda turística
motivará os grupos populares a abrir mão de parte de suas características natas, em
favor de interesses maiores como o de adaptar este novo “produto” à realidade que
o turismo necessita?
Através da pesquisa e da observação cientifica é que será possível se chegar
às respostas necessárias para se atuar com sustentabilidade, preservando a cultura
local e utilizando a mesma em benefício do turismo.
É lastimável ressaltar que nenhum (nenhum, é a palavra) dos órgãos que
lidam com a cultura como FUNJOPE, FUNESC E PBTUR tenham um catálogo,
cadastro ou documento que descreva quais, onde e como estas manifestações
estão dispostas na área que compreende a grande João Pessoa. Se são estes os
organismos públicos que mais devem zelar pela cultura e tanto se utilizam dela, é
com estranheza que constatamos o completo descaso com a questão da cultura
popular na Paraíba.
Não existem dados que apontem quantos e quais grupos existem na capital.
Não há meios de se estimar tal dado, tendo em vista que os líderes de cada grupo
(do mais ao menos conhecido) residem em lugarejos simples e humildes das
cidades constituídas pela grande João Pessoa, em muitos casos até de difícil acesso
por parte do pesquisador que deseja estuda-los.
O universo da pesquisa foi formado com base nas entrevistas e nos contatos
feitos com os próprios coordenadores dos grupos. Dessa forma, chegou-se a um
21
total de 10 manifestações culturais, sem que se possa precisar o todo complexo dos
folguedos populares da grande João Pessoa.
5.2. Objetivo Geral
Investigar se o turismo provoca transformações nas manifestações culturais
populares na grande João Pessoa.
5.3. Objetivos Específicos
Observar se as manifestações culturas sofreram modificações devido à
atividade turística;
Avaliar se as manifestações culturais encenadas com maior freqüência, tais
como a Ciranda e o Cavalo Marinho, sofrem maiores modificações;
Mostrar as transformações ocorridas nas manifestações culturais da grande
João Pessoa;
Promover uma comparação sobre aspectos folclóricos e parafolclóricos da
cultura popular;
Investigar o calendário turístico da região e apontar a inserção dos grupos de
cultura popular como atrativo turístico;
Mapear, identificar e mostrar a origem e formação dos grupos, assim como os
períodos de apresentação;
Identificar elementos de customização da cultura popular pelo turismo.
22
23
6. CONTANDO A CULTURA POPULAR
É a cultura popular o mais íntimo dos bens de um povo, nascido em muitos
casos da crença em determinados valores que se julgam retos e necessários para a
continuidade da vida em comunidade. Em diversos momentos da história da
civilização é a cultura heterogênea que particulariza cada comunidade em seu meio,
subdivide os valores culturais e históricos e diferencia as gentes de toda parte do
globo.
A maioria dos folguedos podem ser classificados em dois ciclos distintos. O
Ciclo Junino (caracterizado por ser brincado no mês de junho) e o Ciclo Natalino
(brincado no final de ano, até começo do mês de janeiro).
6.1. Definições e representação da cultura popular
A princípio, faz-se essencial definir cada elemento que compõe a cultura de
um povo ou nação. SOUZA (2000, p. 49) define cultura como sendo “a totalidade
complexa produzida pelo homem em sua experiência histórica”. Já o folclore SOUZA
(2000, p. 71) afirma ser o “conjunto das tradições, lendas, costumes e canções de
um país”. É o folclore um elo de ligação com a cultura popular, tornada norma
estabelecida pela manutenção das tradições. Ambas definem o mesmo papel de
construção da cultura, sendo a cultura popular paulatinamente retomada pela
população nos devidos dias em que esta deverá manifestar-se. No que diz respeito
à cultura popular e a comunidade, seus estilos e expressão, Bosi (1992) afirma que:
24
Nessa complexa gama cultural a instituição existe, isto é, as manifestações são
grupais e obedecem a uma série de cânones” BOSI (1992, p. 323).
Devemos considerar que a cultura popular define-se como as manifestações
populares das classes dominadas e que são diferentes da cultura dominante, que
estão fora das suas instituições e que existem independentemente dessas últimas,
segundo Santos (1994).
Em relação às manifestações culturais, podemos considerar que tratam-se de
todas aquelas que caracterizam, identificam e representam a cultura de um povo ou
nação expressando publicamente os sentimentos ou opiniões coletivas, cada uma
com suas determinadas particularidades e princípios, sem qualquer tipo de censura
ou proibição moral, exercidas pela liberdade plena de opinião e pensamento. É uma
definição muito abrangente, mas, que procura contemplar todas as características
que constituem estas manifestações. Bosi ressalta que as manifestações “são
microinstituições, dispersas no espaço nacional, e que guardam boas distâncias da
cultura oficial” BOSI (1992, p. 329).
Assim como afirma Chauí (1996), devemos entender que a cultura tem em
seu nascedouro a caracterização de seu povo. É esta mesma cultura feita pelo povo
e para o povo. Devemos entender a cultura como sugere Chauí, pois, esta “não é
feita (não é artefato) mas, como as árvores, brota e cresce por si mesma” CHAUI
(1996, p. 18).
Os aspectos que envolvem a gênese da cultura popular estão alicerçados em
três pilares essenciais para o entendimento da mesma enquanto projeção dos ideais
de sua comunidade. São elas: o primitivismo, o comunitarismo e o purismo.
Ainda segundo Chauí (1996): o primitivismo se baseia na idéia de que a
25
cultura popular é retomada e preservada em toda sua plenitude pelo próprio povo,
sem o qual este último os elementos culturais teriam se perdido no tempo. O
comunitarismo afirma ser a criação popular nunca de cunho individual, mas, coletivo
e anônimo, pois trata-se da “manifestação espontânea da natureza e do espírito do
povo” CHAUÍ (1996, p. 19). Por fim, o purismo trata da origem da cultura fundada
pelo povo pré-capitalista “que não foi contaminado pelos hábitos da vida urbana e
preservaram os costumes primitivos de sua pureza original” CHAUÍ (1996, p. 19).
São estes três elementos que promoveram o surgimento, crescimento e
expansão da cultura popular como a conhecemos. Foi através disso que muito do
que hoje existe está preservado e mantido nas diversas comunidades que detém as
manifestações culturais em seu meio.
Vejamos agora breves considerações sobre todas as manifestações que
foram pesquisadas neste trabalho.
6.1.1. Côco de Roda
FOTO 01: Côco de roda
Fonte: NUPPO
26
O côco de roda é considerado uma dança democrática, por que todos podem
participar, sejam apenas simples curiosos e espectadores, sejam pessoas da
comunidade ou local onde o côco está sendo brincado.
O ritmo nesta manifestação é marcante, sobretudo pela forma com que a
dança é caracterizada, onde seus brincantes reunem-se formando uma roda que
gira da direita para a esquerda com meneios no corpo e uma pisada forte de um dos
pés, a qual acompanha a sílaba final de cada verso, este cantado em coro. No
centro da roda ficam os coqueiros (brincantes do côco) que trocam umbigadas. O
acompanhamento musical é feito por dois zabumbas e dois ganzás.
O vestuário é assim descrito por Fontes (1982): os homens usam calças cinza
com camisas estampadas. As mulheres usam vestido franzido, largo (também
estampado) de todas as cores. Segue ainda o detalhe do lenço na cabeça, seguindo
a mesma estampa do vestido. Pimentel (1978) descreve que tanto pode ser
descalço quanto calçado. O mesmo ainda afirma que pode ser com qualquer roupa,
até mesmo a mais humilde. França (1991) confirma as informações citadas de igual
maneira.
A dança não tem dias fixos para se realizar, de acordo com Fontes (1982) e
Pimentel (1978). Pode ocorrer em qualquer data do ano, sendo uma dança
característica do período junino. Era dançado em vários lugares, segundo Fontes
(1982) e Pimentel (1978), tais como colônia de pescadores, sedes comunitárias e
nas residências dos pescadores.
Fontes (1982) compara as batidas do zabumba na “tirada do côco” às
pancadas que são dadas na quebra do côco, pois, sendo a mesma “apanhar e
quebrar o côco era aptidão dos negros escravos” FONTES (1982, p. 180). Seguido
do ritmo do quebrar surgiu o canto e depois a dança.
27
O côco, segundo Pimentel (1978), é constituído de: emboladas (poesia livre,
variando o número de versos), quadras (parte do solista e do coro), dois pés (versos
fixos), soltos (ausência de rima) e repentistas (total liberdade de improvisação). O
côco já foi dançado nos melhores salões da sociedade paraibana, porém,
atualmente é dançado no litoral nas comunidades de pescadores.
6.1.2. Lapinha
FOTO 02: Lapinha
Fonte: França (1991)
A Lapa, Lapinha ou Presépio é um simbolismo que representa a Sagrada
Família em uma gruta ou manjedoura. Em João Pessoa as lapinhas são
apresentadas nos pátios das igrejas ou em locais de grande visitação pública.
Formado por um grupo de garotas, a lapinha apresenta-se na forma de
jornadas constituídas de cantos obrigatórios e tradicionais trazidos pelos
colonizadores portugueses, conduzindo maracás enfeitados com fitas azuis e
encarnadas, cores estas que designam os dois cordões (ou partidos) da lapinha.
Basicamente o que diferencia os cordões são as cores, onde o tipo de traje é
28
caracterizado por ser sempre vestidos na cor branca.
A finalidade da lapinha é de render louvores ao Menino Jesus pelo seu
nascimento. O folguedo é marcado pela disputa entre dois cordões da lapinha, onde
seus torcedores fazem lances em dinheiro com o objetivo de dar a vitória ao cordão.
É constituído de duas alas, cada uma com seu cordão. A Mestra comanda o cordão
encarnado e a Contramestra comanda o azul. São seus personagens: Camponesa,
Libertina, Linda, Rosa, Lindo Cravo, Borboleta, Diana, Pastorzinho e Ciganas. No
decorrer da apresentação verificam-se oferendas, diálogos, cantos e o drama da
morte e ressurreição da Mestra.
A lapinha tem início no mês de dezembro. Na última noite da lapinha, que é o
dia de Reis (06 de janeiro), as pastorinhas realizam a “queima da lapinha”.
Recolhem-se as flores que ornam o altar e de todos os demais enfeites feitos pelas
pastorinhas, que saem cantando e dançando até onde o material é depositado. Daí
ocorre a queima, onde as pastoras dançam e cantam enquanto houver fogo,
finalizando com a jornada do adeus.
6.1.3. Nau Catarineta
FOTO 03: Nau Catarineta
Fonte: NUPPO
29
Nau Catarineta, Barca, Fandango ou Marujada são nomes dados a uma
mesma manifestação da cultura popular mudando de região para região, a qual
chamaremos de Nau Catarineta. É uma dança dramática de origem ibérica, a qual
os seus personagens vestem-se de marinheiros. O enredo narra as tormentas em
alto mar e os trabalhos a bordo da Nau. Consta o auto de cantos, recitativos,
diálogos e “Morte e ressurreição do Gajeiro”. São todos personagens homens, com
exceção da Saloia mocinha.
Os personagens são: Mestre, Contramestre, Capitão, 1º e 2º tenente, alferes-
almirante, Piloto, Médico, Capelão, Sargento-mar-e-guerra, Saloia, 1º e 2º Guia, 1º e
2º Cabo Artilheiro, Calafate, 1º e 2º Gajeiro, Marinheiros, Ração e Vassoura. Os dois
últimos respondem pela parte cômica da manifestação.
Todos os brincantes usam seus trajes baseados nas roupas da marinha do
Brasil, a exceção de D. João que usa chapéus de pontas à moda dos cavalheiros
seiscentistas e tem maior riqueza de adereços na indumentária. Nas cores
predominantes da indumentária da Nau estão o azul-marinho e o branco. A Saloia
traja igualmente as cores dos marinheiros, exceto por um vestido a altura do joelho e
um quepe na cabeça. Os oficiais usam espada e os marinheiros espadim, o Médico
usa bata e o Vigário uma batina e chapéu preto. As roupas mais humildes ficam com
Vassoura e Ração.
Os instrumentos são: o bandolim, cavaquinho, violão e pandeiro. Já as
músicas variam em valsa, cantochão e marcha. A coreografia desenvolvida não
oferece grande variação e tem como principais movimentos o tombo, a voga e a
contravoga.
30
6.1.4. Ciranda
FOTO 04: Ciranda
Fonte: Bruno Dantas M. Brito
Surgida em 1961 na cidade de Recife, a ciranda constitui-se numa dança em
conjunto e de muita comunicação. Forma-se uma roda, todos de mãos dadas, com o
movimento ondulante dos braços de baixo para cima, para frente e para trás.
O tempo é marcado com o pé esquerdo que avança para o dentro do círculo,
ao qual se junta o pé direito, seguido de um sucessivo avanço e recuo deste passo
simples.
A grande roda é formada pelo povo (são homens, mulheres e crianças) que
giram da direita para a esquerda sob o comando do Mestre Cirandeiro, cujo refrão é
cantado pelos dançarinos. Os instrumentos utilizados são o ganzá e o zabumba.
Não há um estilo de traje especifico, pois os brincantes dançam com as próprias
roupas deles, ficando a cargo do Mestre Cirandeiro toda evolução da ciranda.
31
6.1.5. Boi de Reis
FOTO 05: Boi de Reis
Fonte: NUPPO
O Boi de Reis é uma manifestação conhecida em diversas partes do Brasil,
vez por outra, com nomes diferentes. A idéia original parte da história em que o boi,
num entrecho dramático morre e depois ressuscita.
Ligado ao Ciclo Natalino, os personagens dividem-se em três categorias:
humanos, animais e fantásticos. Os humanos são: Mestre, Contramestre, Galante e
as Damas (meninos fantasiados), além dos personagens cômicos Mateus, Birico e
Catirina. Já os animais são: Boi, Cavalo Marinho, Bode e Urubu. Os fantásticos são:
Jaraguá, Guariabá, Mané Gostoso e Margarida.
Não é comum, de acordo com o registros sobre o folguedo, a participação de
mulheres no boi, já que os homens é que fazem o papel das mesmas. Com relação
a orquestra, esta é composta de bombo, pandeiro, rabeca e reco-reco.
A indumentária é composta de calça, blusas estampadas com golões nas
cores encarnado e azul, enfeitados de longas fitas coloridas e espelhos. Os
capacetes têm formatos de coroa, recobertos com papel laminado azul e encarnado,
seguidos de adornos com espelhos, areia prateada e algumas flores de plástico.
32
Os figurantes conduzem longas espadas e usam botas que ressoam os sapateados,
isto, segundo Fontes (1982).
É constituído de cantos, recitativos e diálogos em prosa, sendo geralmente
marcados pelo improviso. Sempre ocorre o peditório, onde os personagens solicitam
e seus espectadores uma contribuição para os brincantes. No decorrer de toda
evolução da manifestação o último a se apresentar é o boi.
6.1.6. Cavalo Marinho
FOTO 06: Cavalo Marinho
Fonte: CPC – Centro Popular de Cultura
O Cavalo Marinho se constitui numa aglutinação dos reisados, agrupando
cantos, loas e parte dos personagens encontrados no Boi de Reis. Um dos
elementos encontrados neste folguedo é a dança dos arcos, não encontrado no Boi
de Reis. Muitos dos dançarinos eram agricultores e pescadores, segundo Fontes
(1982).
Como o passar dos anos o Cavalo Marinho foi enriquecendo em seu aspecto
folclórico e ganhando características próprias, diferenciadas do Boi. O folguedo
33
possui oito partidas de danças, cada uma com seus aspectos particulares. Das
danças presentes no Cavalo Marinho merece destaque a dança dos arcos, pela sua
beleza de movimento e riqueza na coreografia.
A dança faz parte do Ciclo Natalino, comemorando as festas de fim de ano,
especialmente o dia de Reis, que é 6 de janeiro. Nesta ocasião são queimadas as
figuras numa fogueira, com o objetivo de se esquecer todos os rancores guardados
no ano velho, para que se recomece uma nova vida no ano novo.
Alguns personagens são: o Mestre, o Contramestre, galante (num total de
quatro), dama grande e pequena ou pastorinhas, Arlequim, Mateus, Catirina e Birico.
Já os fantásticos são: o Cavalo, o Boi, a Burra, a Ema, o Bode, o Jaraguá, a
Margarida, a Nêga do doce, o Valentão, Mané Paulo entre muitos outros, formando
um total de 65 personagens.
As vestimentas são adornadas com espelhos, fitas e sobre as roupas são
usadas golas coloridas. Usam a coroa enfeitada com espelhos na cabeça. A pompa
das vestes vai decrescendo de acordo com o menor grau de importância da
personagem na dança. O Mateus, o Birico e a Catirina são os trajes mais pobres do
folguedo, vestidos com roupas bastante esfarrapadas.
Cabe ao Mestre comandar todas as partidas. É ele quem carrega o cavalo,
passando a ser chamado de Capitão dos Cavalos. Os instrumentos mais usados
são: a rabeca, o zabumba, o pandeiro, o tamborim e o reco-reco.
34
6.1.7. Tribos Indígenas
FOTO 07: Tribo Indígena
Fonte: França (1991)
As tribos indígenas são constituídas de descendentes dos índios que
habitavam nas terras da Paraíba, organizados em grupos que festejam o carnaval na
cidade de João Pessoa, em especial.
Na grande João Pessoa encontramos as tribos de índios Ubirajaras, Papo-
amarelo, Tabajaras, Potiguaras, Guanabaras, Asa-branca e Africanos. É conhecido
o trabalho dos índios em relação a seus trajes, sobretudo pelo excelente visual que
formam os cocares e adereços dos trajes.
Os participantes vestem-se de tangas e blusas de laquê, cujas cores variam
de tribo para tribo. No mês de Momo saem às ruas fazendo suas exibições e
proporcionando um entrecho dramático, quando encenam um ataque a sua tribo,
sendo todos mortos e depois ressuscitados pelo Feiticeiro.
A orquestra é formada por gaita, triângulo e zabumba. Não a presença do
35
canto e os temas se repetem ao toque da gaita. Costumam participar homens,
mulheres e crianças, sendo que as mulheres somente puderam participar a partir de
1977, com a Tribo dos Africanos dando o ponta-pé inicial para a participação
feminina.
6.1.8. Grupos parafolclóricos
FOTOS 08 e 09: Grupos parafolclóricos
Fonte: França (1991)
Os grupos parafolclóricos são caracterizados por terem sido criados para
atender a um tipo de interesse isolado, que não seja de espontâneo surgimento de
uma comunidade local. França (1991) descreve-os como grupos “que realizam um
trabalho de aproveitamento do folclore, procurando sempre preservar as
características tradicionais” FRANÇA (1991, p. 22).
Em sua maioria os grupos podem ser formados por associações esportivas,
agremiações, colégios, associações de classe e grupos específicos. A característica
marcante desses grupos é que se constituem numa tentativa de parafrasear os
grupos tidos como autênticos. Em um único grupo parafolclórico podem estar
presentes mais de dez tipos de apresentações de folguedos populares.
Ainda se conta o aspecto de direcionamento desses grupos para atender a
36
uma agenda de convites e apresentações em diversos eventos, que podem se
estender durante grandes ou pequenos períodos de tempo, dependendo da
necessidade do evento.
6.2. Danças e folguedos populares
Do universo de manifestações culturais existentes na grande João Pessoa, é
necessário dizer que muitas já se prontificaram muitas vezes a atender aos
chamados e anseios do turismo, apresentando-se muitas em locais turísticos ou de
intenso fluxo de pessoas, seja em épocas distintas, seja fora do calendário ou do
tempo social em que cada grupo se apresenta.
De uma forma geral, as manifestações estão espalhadas pelo estado da
forma apresentada pelo mapa cultural, mostrando que a Paraíba é detentora de uma
diversidade ampla e distribuída por todo o estado.
Gráfico 01 – Mapa Cultural do Estado da Paraíba
Fonte: Atlas Escolar Paraibano (1997)
37
No entanto, a área onde se realizou o estudo compreendeu a região litorânea,
especificamente nos municípios supra citados. São manifestações características da
região onde se localizam e com aspectos isolados ou plurais, que pode ser particular
ou tomados em grupo, dependendo do caso em que se relacionam.
Gráfico 02: Mapa da Grande João Pessoa
Fonte: Pesquisa direta
Muitos dos grupos pesquisados fazem parte do CPC (Centro Popular de
Cultura), localizado no bairro dos Novais em João Pessoa. Liderados pelo presidente
José Emilson Ribeiro da Silva, o centro aglutina todas as manifestações culturais
daquela área e de João Pessoa. Através do CPC é que fica possível contatar os
grupos e folguedos e organizar as apresentações culturais de uma forma mais
consistente e dinâmica.
Muitas das manifestações presentes no CPC estavam se perdendo e foram
resgatadas e valorizadas pelo empenho e apoio dos organizadores daquele centro.
As manifestações organizadas por eles costumam se apresentar mensalmente.
A maioria delas segue o calendário cristão, onde para cada tipo de
manifestação há uma historicidade especifica como, por exemplo, a lapinha que é
apresentada no fim do ano e a quadrilha junina, esta mais presente no mês de
38
junho.
Todas as manifestações se remetem a dois ciclos bem distintos: o ciclo junino
e o ciclo natalino. Ambas são de origem pagã dos povos da Europa e Ásia, estes
mesmos povos festejavam as divindades protetoras da fertilidade e da colheita.
Todas as celebrações estão “ligadas às comemorações cíclicas dos solstícios de
verão e inverno e equinócios da primavera e outono, que começaram a ser
transportadas para o calendário católico, a partir do século IV d.C.” D´AMORIM
(2003, p. 27).
Os folguedos e grupos folclóricos da área pesquisada estão, a seguir,
descritos e especificados dentro do contexto histórico de cada um separadamente,
mostrando como surgiu cada um e como estão constituídos.
TIPO DE
MANIFESTAÇÃO
NOME DO
GRUPO
RESPONSÁVEL ENDEREÇO CIDADE
CÔCO DE RODA
Côco de roda
Mestre Benedito
Dona Teca
R. Luisa Mara da
Costa - Monte
Castelo
CABEDELO
CÔCO DE RODA
Côco de roda de
Forte Velho
Dona Pinta
R. Prof. Antônio
Elias - Forte Velho
SANTA RITA
LAPINHA
Lapinha Jesus de
Nazaré
Dona Erotilde
R. Severino
Laurentino Leite -
Monte Castelo
CABEDELO
NAU CATARINETA
Nau Catarineta de
Cabedelo
Tadeu Pinto
Av. João Vitaliano -
centro
CABEDELO
CIRANDA
Ciranda do Sol de
Mané Baixinho
Mestre Mané
Baixinho
R. França Leite -
Cruz das Armas
JOÃO PESSOA
BOI DE REIS
Boi de Reis de
Mestre Piralhinho
Mestre Piralhinho
R. Des. Santos
Istanislau - Bairro
dos Novais
JOÃO PESSOA
CAVALO
MARINHO
Cavalo Marinho
Infantil de João do
Boi
João do Boi
R. Des. Santos
Istanislau - Bairro
dos Novais
JOÃO PESSOA
TRIBO INDÍGENA
Tribo Indígena
Potiguara
Seu Vavá
R. Manoel
Francisco
Venâncio - centro
BAYEUX
TRIBO INDÍGENA
Tribo Indígena
Pele Vermelha
Dona Inácia
R. Ten. João
Batista de Oliveira
- Roger
JOÃO PESSOA
PARAFOLCLORE
Grupo
Parafolclórico
Tenente Lucena
Pedro Cândido
R. Des. Souto
Maior - centro
JOÃO PESSOA
Tabela 01 – Dados referentes aos grupos pesquisados
Fonte: pesquisa direta
39
6.2.1. Côco de roda Mestre Benedito
FOTOS 10 e 11: Dona Teca e Côco de roda Mestre Benedito
Fonte: Bruno Dantas M. Brito
O côco pode ser definido como uma dança de roda onde fica um casal no
centro, revezando-se com os demais, um após o outro. Os dançarinos circulam e
pisam forte no solo, batendo palmas ao mesmo tempo em que giram o corpo de um
lado para o outro. O casal que está dentro do círculo fica dando voltas completas ao
redor de si, encontrando-se em umbigadas (encostando suas barrigas um no outro).
O côco de roda Mestre Benedito começou na cidade de Espírito Santo, e na
década de 1950 chegou a Cabedelo. Atualmente é coordenado por Teresinha da
Silva Carneiro, conhecida como dona Teca. Mestre Benedito era o pai de dona Teca,
falecido a quase 6 anos. Foi com ele que dona Teca aprendeu e dançou por muitos
anos o côco de roda. Atualmente dona Teca é aposentada e divide seu tempo
organizando trabalhos na igreja da comunidade e apresentando seu côco, seja
atendendo a convites, seja em eventos que fazem parte do ciclo normal de
apresentações do folguedo.
O grupo é formado por 28 participantes, desses 16 são homens e 19 são
mulheres. A prefeitura de Cabedelo fornece um pequeno incentivo financeiro para
40
que o grupo se organize, especialmente em apresentações na própria cidade onde é
disponibilizado som e uma pequena tenda para que o grupo se apresente. O grupo
ainda gravou um CD (Compact Disc = Disco Compacto) e participou de pesquisas
que originaram a publicação de um livro sobre o côco de roda.
Os ensaios se dão com maior ênfase na semana do folclore todos os anos.
Dona Teca informou que anualmente procura mudar seus trajes, já que o grupo de
brincantes sempre muda por diversos motivos, considerados naturais como:
ocupação em trabalho, viagem, desânimo, etc. Assim, ocorre a entrada de um novo
componente, o que estimula a confecção de uma nova indumentária. As roupas são
produzidas pela própria dona Teca, a qual se reveza com as pessoas da
comunidade e produzem os trajes.
Todos os brincantes são da própria comunidade, sempre em sua maioria
compostos de adultos e idosos. A música é típica do côco de roda e a idade dos
participantes varia de 03 a 84 anos de idade. Todos brincam sempre descalços,
acompanhando o ritmo do côco. A formação étnica do grupo é constituída de
brancos e negros, organizados em ensaios orientados por dona Teca.
A duração da brincadeira pode variar de 10 à 30 minutos, dependendo da
disposição em que dona Teca estiver, já que é a vocalista do côco e a mesma
possuiu mais de 70 anos de idade.
Os instrumentos que compõem o côco são: dois ganzás e o dois zabumbas.
D´Amorim (2003) descreve o zabumba como um “instrumento semelhante a uma
barrica de bacalhau com as extremidades vedadas por peles de animais caprinos
D´AMORIM (2003, p. 112). Ainda pode fazer parte dos instrumentos do côco o
bombo, caixas, tambores e pífanos.
Dos locais turísticos que o grupo já se apresentou destacamos o Sebrae (na
41
ocasião participando de um evento), a PBTUR e o MAP - Mercado de Artesanato
Paraibano. Ao receber convite o grupo sempre se apresenta com as mesmas
roupas. Elas são confeccionadas para serem usadas durante todo o ano em que o
grupo se apresente. O grupo ainda participou de apresentações em praias, festas
religiosas, congressos, pontos turísticos (de Cabedelo e João Pessoa) e colégios.
6.2.2. Côco de roda de Forte Velho
FOTO 12: Côco de roda de Forte Velho
Fonte: Rose Gondim
É comum encontrar na Paraíba, segundo Câmara Cascudo apud D´Amorim
(2003), “roda de homens e mulheres com solistas no centro, cantando e fazendo
passos figurados até que se despede com uma umbigada ou vênia ou mesmo
simples batida de pé” D´AMORIM (2003, p. 114).
O côco de roda de Forte Velho é formado por 18 pessoas da comunidade. A
entrevistada (Maria Pedrosa das Chagas) conhecida como dona Pinta, informou que
não sabe precisar quando o côco chegou a Forte Velho, mas, que sua mãe já
dançava quando ela era criança. Dona Pinta é dona de casa e faz parte do grupo
42
como brincante.
FOTOS 13 e 14 : Dona Pinta e dona Marlene
Fonte: Bruno Dantas M. Brito
O grupo não recebe nenhum incentivo financeiro para se organizar. É o amor
pelo côco que mantém o grupo unido e vivo o desejo de brincar para que os mais
novos possam conhecer este folguedo.
Não haviam trajes padronizados na brincadeira de Forte Velho. A foto anterior
mostra o grupo com a indumentária padronizada, onde a mesma foi presente dado
por pessoas ligadas à Ufpb, as quais dona Pinta não lembrava quem eram. Apesar
da iniciativa destes últimos, o grupo só se apresentou uma vez com aqueles trajes,
na ocasião onde a foto foi tirada. Acredito que o traje padronizado foi cedido pelo
NUPPO, para efeito de registro fotográfico do côco de roda de Forte Velho.
O fato que levou o grupo a se apresentar apenas uma vez com o traje
padronizado não serviu de tônica para que se continuassem as apresentações com
o mesmo. Segundo dona Pinta, a estampa foi o motivo de descontentamento de
todos, fazendo com que os novos trajes padronizados seguissem a estampa que
está presente na foto de dona Pinta. Foram confeccionadas por uma costureira da
comunidade que desenho o modelo da camiseta e da saia para as mulheres, e da
43
camisa para os homens, seguindo a referida estampa. Em relação ao tipo de
calçados, todos se apresentam com sandálias.
Toda comunidade aprecia e participa do côco de roda de Forte Velho, porém,
o grupo é formado por adultos com idade que varia de 40 a 60 anos. O tipo de som
do grupo é natural e formado por 1 ganzá e 2 zabumbas e organizado pela
comunidade. O contato do grupo é feito pelo líder comunitário local.
A duração do folguedo pode variar de 1 a 3 horas, dependendo do tipo de
local e do público que aprecia a manifestação. O grupo ainda é formado por negros
e brancos, sendo os ensaios orientados pelo próprio grupo.
Na maior parte das vezes em que se apresentam não são visitados por
turistas. Dentre os locais que já se apresentaram fora de Forte Velho estão: Centro
Histórico de João Pessoa, Festa da Guia de Lucena e no teatro de Cabedelo.
Dona Marlene Valério Santos Silva, uma das mais antigas integrantes do
grupo, diz que os demais participantes sempre gostaram de se apresentar em locais
públicos, inclusive locais onde há turistas, pois, estes sempre gostam de entrar na
dança e participar do folguedo. Ambas, dona Marlene e dona Pinta, estão
organizando o grupo e agora estão pensando em pedir um cachê para as
apresentações, coisa que não faziam antes. A carência da comunidade denuncia por
que esta prática está sendo tomada. As necessidades são muitas e a falta de
reconhecimento é imensa.
6.2.3. Lapinha Jesus de Nazaré de Dona Erotilde
A lapinha Jesus de Nazaré existe em Cabedelo, no bairro Monte Castelo, há
quase 26 anos. Sua primeira encenação começou em dezembro de 1978 quando na
44
época dona Erotilde Rocha de Souza (mais conhecida como dona Ero) reuniu um
grupo de amigas para brincarem juntas na Lapinha do Bairro. Conta dona Ero que
havia naquela época mais de três lapinhas no mesmo bairro e isto era motivo de
orgulho para o povo e de rivalidade entre os grupos, pois, todos os anos a disputa
pela lapinha mais bonita era acirrada e os grupos se esforçavam muito para fazer
bonito na encenação que era no próprio bairro, nas ruas de Monte Castelo. Com o
passar dos anos, as moças perderam o encanto pela lapinha e não achavam mais
interessante continuar a brincar o folguedo.
FOTO 15: Dona Erotilde
Fonte: Bruno Dantas M. Brito
Tal atitude acabou por extinguir duas das lapinhas do bairro, ficando apenas a
de dona Ero, que até hoje ensina para as crianças do bairro. Na verdade, ela só
conseguiu continuar porque começou a encenar sua lapinha com as crianças, estas
que sempre pediam para ela continuar com a brincadeira todos os anos. Na grande
maioria, as crianças são aquelas mais carentes do bairro, onde dona Ero e sua filha
45
organizam-se para trabalhar pela lapinha com o objetivo de manter viva a cultura
que ela aprendeu nas ruas de Monte Castelo.
No total são 17 crianças que compõem a lapinha atualmente, das quais 16
mulheres e 1 homem. O único incentivo que o grupo recebe é a estrutura que
passou a ser montada todos os anos pela prefeitura, a pedido da comunidade,
constituída de tenda e gambiarras com lâmpadas para iluminar a rua e proteger o
grupo das chuvas que possam vir a cair na cidade. Os ensaios são sempre
espontâneos e coordenados por dona Ero, começando desde agosto, preparando-se
para o queima do dia 6 de janeiro, dia de Reis.
Em relação à indumentária da lapinha, dona Ero foi clara ao afirmar que ela
mesma fornece todas as roupas para as crianças, somente aquelas que têm mais
condição financeira é que bancam suas próprias roupas. Apesar disso, o modelo das
roupas de todas é idealizado por dona Ero, que nunca repetiu o mesmo traje desde
que começou a brincar sua lapinha. Todas são confeccionadas na própria
comunidade. Dona Ero se esforça em mudar os modelos para que a cada ano sua
lapinha fique sempre mais bonita. Ela segue sempre as cores fiéis dos cordões (azul
e vermelho).
Católica praticante, dona Ero afirma que as crianças estão sempre muito
empolgadas em participar e procuram aprender todas as danças e cantos para fazer
bonito no dia da encenação. Em média, a idade das crianças varia em torno de 3 a
10 anos de idade, participando todos igualmente na encenação da lapinha.
Dona Ero afirmou que sempre recebe convites para apresentar sua lapinha
em muitos locais, até mesmo na cidade de Natal (RN) onde o grupo esteve presente
numa igreja que os convidou, para a ocasião, no mês de dezembro. Também já
estiveram presentes no SESC e SENAC em João Pessoa e em colégios na cidade
46
de Cabedelo. Independente do local, a lapinha de dona Ero sempre se apresenta
com os mesmos trajes que são confeccionados para o ano. Somente quando chega
o mês de dezembro é que o grupo estréia uma nova indumentária. Em media a
duração da brincadeira é de uma hora, isto porque após esse período de tempo as
crianças mostram-se muito cansadas e já sem forças para continuar.
O instrumento utilizado pelos brincantes é o maracá, também fornecido por
dona Ero para a ocasião da encenação. Acompanham ainda 3 tocadores com o
grupo quando não estão dançando as letras da lapinha gravadas em um CD. Na sua
maioria, as apresentações são todas seguidas por música eletrônica (CD), sendo a
presença de tocadores exigida apenas no mês de dezembro e janeiro.
Dona Ero não costuma receber auxilio financeiro nem tão pouco pedir por
isso. A única coisa que pede quando vai se apresentar fora da cidade é o transporte
e um lanche para as crianças. Sempre que precisa se apresentar fora da cidade,
dona Ero procura concertar alguma roupa que estiver precisando, por motivo da boa
apresentação que a mesma zela.
Ela se mostrou muito interessada em levar sua lapinha para um ponto
turístico, dependendo do local e do convite ela se dispôs a aceitar prontamente,
desde aquele que a convide disponibilize o transporte e o lanche dos brincantes. Já
faz 2 anos que o grupo costuma receber convites para brincar fora da época própria,
que é no mês de dezembro e janeiro. Durante a entrevista, a filha de dona Ero
afirmou que a prefeitura de Cabedelo tem um projeto que prevê a apresentação de
todos os grupos cabedelenses na Praia do Jacaré (ponto turístico muito conhecido
no roteiro da região) onde estes irão se revezar em apresentações uma vez por
semana, para que os turistas possam apreciar os folguedos populares em Cabedelo.
Entende-se por folguedo como “as danças folclóricas com partes dramatizadas com
47
seus autos, tragédias e brincadeiras” RODRIGUEZ (1997, p. 96).
Indagada se aceitaria mudar seus trajes, sua música e sua coreografia para
atender a pedidos de agentes turísticos e pessoas que lidam com o turismo na
região da grande João Pessoa, dona Ero foi sincera ao dizer que de maneira
nenhuma permite que pessoas digam como ela deve proceder na sua lapinha. “É
uma questão de tradição da minha lapinha neste bairro” disse ela, ressaltando que
todo ano sua lapinha se prepara com uma nova indumentária.
6.2.4. Nau Catarineta de Cabedelo
Também pode ser encontrada como Marujada, Barca, Fandango e Chegança
de Marujos, dependendo do local em que está sendo realizada. A Nau Catarineta
descreve a trajetória de uma nau que vaga ao mar pelo período de sete anos e um
dia, sem que esta consiga chegar à terra firme. Este é um folguedo típico do ciclo
natalino e que, segundo D´Amorim (2003), chegava a durar até oito horas. É
composta apenas por homens, sendo a tripulação constituída da seguinte forma:
Mestre, capitão do mar e guerra, Comandante, Piloto, Gajeiro, Cirurgião-mor (que é
o médico da tripulação), Sabóia mocinha (filha do capitão e representada por um
homem), vassoura zelador, palhaço, ermitão (padre ou frade), capelão de tripulação,
Ração cozinheiro, além dos demais marujos que compõem as duas filas colocadas
nas laterais.
Os trajes da nau são nas cores branco e azul marinho, seguindo os modelos
da marinha do Brasil, acompanhado de chapéus com penas. A Nau Catarineta
48
pesquisada foi encontrada na cidade de Cabedelo.
Organizada por Tadeu Pinto, que é agente cultural, é incerto o surgimento da
Nau na cidade, baseado no fato de existirem duas versões para tanto, porém em
ambas, o nome do folguedo era Barca. Na primeira versão, Tadeu afirma que em
1910 um senhor português, recém chegado de Portugal, começou a brincar para os
nativos da região. Aprendendo sobre a Nau, os nativos começaram a brincar todos
os anos e isto foi passando de geração a geração. A segunda versão conta que um
funcionário da estação ferroviária trouxe junto do trem uma barca e, logo que
começou a morar em Cabedelo, também apresentava-se para todos, tendo ensinado
o folguedo nas imediações de onde hoje está o município de Cabedelo.
Apesar da incerteza de como surgiu a Nau Catarineta (ou Barca) em
Cabedelo, Tadeu afirma que conseguiu resgatar o folguedo aprendendo desde
criança com os anciãos da cidade. Hoje, o grupo é composto por 45 pessoas, tendo
apenas uma mulher.
O grupo não recebe nenhum incentivo financeiro para organizar a atividade.
Os ensaios se dão de acordo com os convites que são feitos para o grupo. Com
relação à indumentária, estas são as mesmas desde 1998, data em que o grupo fez
sua primeira apresentação oficial. Desde aquela data, nenhuma mudança foi feita
nos trajes dos brincantes. Na época em que foram confeccionados, a própria
comunidade foi que os produziu, e são da comunidade todos os participantes da
Nau, crianças e adultos.
49
FOTO 16: Nau Catarineta de Cabedelo
Fonte: Bruno D. Muniz de Brito
Os mais atuantes no folguedo são: Capitão, Contra-mestre, Mestre, Ração,
Vassoura, 1
0
Tenente e D. João VI, sendo que todos os participantes atuam na
manifestação, pois, cada um deles tem a sua parte na encenação.
Antes de assumir a coordenação do grupo, Tadeu afirmou que o mesmo
estava desativado havia 15 anos. Graças ao trabalho de resgate do folguedo, foi seu
Hermes quem ensinou a todas as letras e a coreografia da Nau Catarineta. Tadeu
ainda afirmou que na cidade existiam muitas manifestações, como o Pastoril
profano, que desapareceu pela falta de vontade das pessoas em brincar o folguedo.
Dos vários convites que já recebeu Tadeu destaca os do SEBRAE (Serviço
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e de órgãos públicos como FUNJOPE
(Fundação Cultural de João Pessoa) como aqueles que mais convidaram o folguedo
para se apresentar. Vale salientar aqui que a PBTUR (Empresa Paraibana de
Turismo) nunca fez nenhum convite para o grupo se apresentar, porém, já se
apresentaram em muitos locais turísticos a convite de outras entidades e líderes
comunitários.
50
Na ocasião das apresentações os brincantes sempre utilizam o mesmo traje,
seja em bairros ou locais turísticos. Já se apresentaram em hotéis, congressos,
pontos turísticos, festivais, colégios, eventos, festas religiosas, comunidades e
periferias. Na maioria das vezes recebem apenas o transporte e um lanche quando
vão se apresentar fora de Cabedelo. Sempre que se faz necessário, os trajes são
concertados, com o objetivo de dar uma boa apresentação e aparência ao grupo.
O coordenador Tadeu mostrou-se muito interessado em levar a Nau para
locais e pontos turísticos, segundo ele como o objetivo de apresentar a cultura do
povo para o povo. Ainda sobre a questão dos trajes, Tadeu afirmou que não
concordaria em mudá-los pois, o trabalho de resgate que foi desenvolvido
possibilitou a recriação dos elementos pontuais na indumentária dos brincantes da
Nau e a mudança se configuraria numa perca da originalidade do folguedo. O estilo
dos trajes segue um modelo criado com base na marinha brasileira e em suas cores,
mas, com certas diferenças, já que é proibido se ter roupas idênticas as da marinha
do Brasil.
6.2.5. Ciranda do Sol de Mestre Mané Baixinho
FOTO 17: Mestre Mané Baixinho
Fonte: Bruno Dantas M. Brito
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A Ciranda é um folguedo de origem incerta, tanto no que tange a sua datação
quanto ao local onde surgiu. Apesar disso, é possível encontrar certas semelhanças
da ciranda com manifestações originadas em Portugal. O nome ciranda é originário
do vocábulo çarand, que quer dizer enlaçar, tecer uma coisa. A dança pode ser
descrita como uma série de passos que enlaçam os participantes, parecendo tecer
com os corpos os movimentos circulares.
São característicos deste folguedo os movimentos em círculo indo e vindo,
para trás e adiante, como resultantes da repetição dos movimentos das ondas do
mar, classificando-a como dança praieira. Os antigos egípcios já a interpretavam
executando danças em roda em volta de um altar, onde este simbolizava o sol.
D´Amorim (2003) esclarece que a ciranda revela-se bem primitiva pois “dança-se em
circulo, de mãos dadas, sem preocupação com a formação de pares ou divisão de
sexo. Dá-se de forma espontânea, sem representar ou honrar nenhuma divindade,
nem festejar santo ou marcar data” D´AMORIM (2003, p. 119).
A Ciranda do Sol atualmente é coordenado por Manoel Pedro das Neves, o
mestre mané baixinho como é mais conhecido. Natural da cidade de Serraria, no
interior paraibano, mané baixinho participou do grupo formado pelo cirandeiro João
grande, com quem aprendeu todas as letras, a tocar o zabumba e as brincadeiras
que estão presentes neste folguedo. Desde 1968 mané baixinho vem participando
de cirandas por toda João Pessoa. Mestre mané baixinho é vigilante noturno de uma
escola no bairro dos Novais.
Tendo falecido João grande, a ciranda passou para as mãos de mestre mané
baixinho. Não há um grupo de ciranda formado, mas, quando é convidado para uma
apresentação, alguns participantes do grupo do Boi de Reis do bairro dos Novais
costumam acompanha-lo. Todos somados contam cerca de 20 pessoas, sendo 10
52
homens e 10 mulheres.
Seu mané baixinho não recebe nenhum incentivo financeiro para organizar a
ciranda. No entanto, quase todos os meses ele se apresenta por força da
organização e do único apoio que recebe do CPC.
Seu grupo usa um tipo de traje padrão, feito na própria comunidade, para as
apresentações que são feitas atendendo a convites. Os mesmos não são
modificados há muitos anos, sendo necessário apenas a manutenção desses em
caso de algum dano ocorrido no mesmo. Toda comunidade do bairro dos Novais
participa da brincadeira, formados em sua maioria por adultos.
Antes de se organizar com o CPC a ciranda de mestre mané baixinho
apresentava-se nas ruas do bairro, apenas quando era da vontade do mestre ou de
pedidos feitos por adultos e crianças da comunidade. Mestre mané baixinho nos
conta que havia outra ciranda no bairro, a de mestre mané gagá. Tendo este ido
morar em outra cidade do interior, restou a dele para fazer as honras e não deixar
que morra o folguedo no bairro dos Novais.
Os instrumentos e seus puxadores localizam-se no centro da roda ou ao lado
desta, tocando músicas ao som do acordeon, pandeiro e zabumba, utilizando
algumas vezes flauta ou violão. O movimento dos pares se dá para cima e para
baixo, ensaiando batidas no chão com os pés marcando o ritmo e impulsionando o
grupo, fazendo-o girar.
A Ciranda do Sol já se apresentou atendendo a convites da PBTUR, da
Secretaria de Cultura e da FUNJOPE. Na ocasião, os trajes que são usados pelo
grupo foram apenas reparados, caso se fizesse necessário algum ajuste. Ainda se
apresentaram nas praias de João Pessoa, em hotéis (como o Tropical Hotel
Tambaú) em pontos turísticos, festivais de arte e alguns colégios.
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O grupo não costuma pedir nenhum tipo de cachê pelas apresentações,
apenas nos casos onde são convidados para brincar em locais públicos e de intenso
fluxo de turistas solicitam o transporte e um lanche para os brincantes. Mestre mané
baixinho afirmou que os turistas costumam dar algum dinheiro no final da
apresentação, mas, que ele não pede nada a ninguém. Brinca pelo puro prazer de
divertir e entreter as pessoas que o assistem e brincam junto.
Mestre mané baixinho ainda divide o grupo com outro cirandeiro: mestre
Inácio de Bayeux. Ambos organizam a ciranda e cantam divertindo os brincantes
deste folguedo.
6.2.6. Boi de Reis de Mestre Piralhinho
FOTO 18: Boi de Reis
Fonte: CPC
O grupo folclórico Boi de Reis Estrela do Norte, localizado no bairro dos
Novais, é organizado por José Vicente, mais conhecido como mestre piralinho. A
família de mestre piralinho tem tradição em folguedos populares, estando presente
em sua casa o Cavalo Marinho e o Boi de Reis. O Cavalo Marinho vem sendo
coordenado pelo pai de mestre piralinho, João do Boi. Ambos os folguedos estão
presentes nesta família a mais de 60 anos.
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O grupo vem sendo mantido pelo próprio mestre piralinho, o qual está
trabalhando como vigia noturno do bairro. A formação do grupo se constitui de 23
pessoas, sendo 21 homens e apenas 02 mulheres. O grupo não recebe nenhum
incentivo financeiro para se organizar, apenas o apoio e organização de alguns
pequenos eventos desenvolvidos pelo CPC.
Atualmente o mestre piralinho conta que só vem se apresentando de acordo
com convites, já que a manutenção dos trajes é muito dispendiosa e arcada por ele.
Ocorrendo o convite, o mestre cobra um cachê que proporciona ao grupo a
manutenção dos trajes. Foi a própria esposa do mestre piralinho que confeccionou
as roupas do grupo.
A comunidade participa da formação do grupo, em sua maioria constituídos
por adultos e crianças. Geralmente o grupo recebe convites para se apresentar em
colégios, datas comemorativas e nos bairros da capital e região.
Mestre piralinho afirma que prefere se apresentar fora do bairro dos Novais
pois, as constantes apresentações que foram feitas pelo grupo os tornou conhecidos
e fez com que a comunidade adquirisse uma certa apatia ao ver o folguedo se
apresentar. Assim, apresentando-se fora do bairro, os espectadores do Boi de Reis
sentem mais interesse e curiosidade em ver a brincadeira e isso estimulo o grupo a
se apresentar cada vez melhor.
O grupo já se apresentou em praias de João Pessoa, hotéis, colégios
municipais e em cidades como Campina Grande no período junino. Em média, a
duração do folguedo é de 40 minutos, variando de acordo com o local ou convite
feito ao grupo. São instrumentos do Boi de Reis o pandeiro e o bumbo. Os tipos de
calçados cada componente do grupo deve levar, já que as condições financeiras
impedem que mestre piralinho disponibilize para todo grupo. O grupo já esta junto a
55
muitos anos, sendo desnecessário os ensaios, a não ser por motivo da entrada de
um novo integrante no grupo.
Geralmente mestre piralinho cobra um cachê que é divido entre o grupo, o
que estimula os mesmos a participar e valoriza, segundo ele, os traços culturais que
os mesmos guardam com o Boi de Reis.
Foi possível observar que o folguedo continua da mesma forma como
descreveu Fontes (1982): “Este folguedo está ligado ao ciclo natalino, sendo
entretanto, suas exibições, atualmente, levadas a efeito a qualquer época do ano,
atendendo a convites de empreendimentos turísticos” FONTES (1982, p. 167).
6.2.7. Cavalo Marinho Infantil de João do Boi
FOTO 19: Cavalo Marinho de João do Boi
Fonte: CPC
O Cavalo Marinho Infantil é coordenado por mestre João do Boi, pai de
mestre piralinho. A coordenação do Cavalo Marinho é feita da mesma forma que o
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Boi de Reis, tendo como diferencial entre ambos os princípios e as particularidades
de ambos os folguedos.
A história do Cavalo Marinho é citada por D´Amorim (2003) da seguinte forma:
Os personagens Mateus e Bastião que participavam do início ao fim da
brincadeira são dois negros amigos, que dividem a mesma mulher, a
Catirina, e estão à procura de emprego. Eles são contratados para tomar
conta da festa. O espetáculo é costurado ou coordenado pelo Capitão, de
quem se origina o nome do folguedo. O nome do capitão é Marinho e ele
chega montado em seu cavalo, daí a história da seu prosseguimento até o
momento final , quando o boi é dividido entre os participantes numa grande
farra. Ao todo são 76 personagens (humanos e animais), representados em
63 atos. (D´AMORIM, 2003, p. 83).
Mestre João do boi afirma que antigamente o cavalo marinho era brincado a
noite toda, chegando a participar quase que todos os personagens. Mas, com o
tempo, as pessoas pararam de se interessar pela brincadeira e procuravam outras
formas de lazer.
Todos os meses acontecem os ensaios programados por mestre João.
Somando oito participantes, o cavalo marinho já se apresentou em diversos lugares
como pontos turísticos de João Pessoa, eventos, hotéis e ruas dos bairros.
O grupo não recebe incentivo financeiro para se organizar, apenas o mestre
João utiliza parte de sua aposentadoria e a ajuda dos pais das crianças para
confeccionar os trajes. Igualmente ao Boi de Reis, a esposa do mestre piralinho é
quem confecciona as roupas de todos.
No mais, todos os parâmetros utilizados para o Boi de Reis se aplicam ao
Cavalo Marinho, já que estão na mesma família e é mestre piralinho quem recebe os
convites para que ambas as manifestações culturais se apresentem. É cobrado
cachê para apresentações em locais públicos, com exceção nas ruas dos bairros e
em escolas públicas de João Pessoa.
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6.2.8. Tribo Indígena Potiguara
FOTO 20: Tribo Indígena Potiguara
Fonte: Bruno Dantas M. Brito
O Grupo de Tradições Populares José de Mira, mais conhecido com Tribo
Indígena Potiguara, é localizado na cidade de Bayeux. O grupo formado a mais de
50 anos, atualmente vem sendo coordenado por Edvaldo Paulino da Costa, mais
conhecido como seu Vavá.
Na década de 1960 o senhor José de Mira, residente na cidade de Bayeux,
comandava o grupo desde sua fundação. Tendo falecido em 1968, os demais
coordenadores que o sucederam só apresentavam o grupo vez por outra, quando os
participantes pediam muito pela organização da tribo, para que estes se
apresentassem no carnaval de João Pessoa.
A partir de 2000 é que seu Vavá tomou a frente o grupo, elaborando um
trabalho de resgate da cultura indígena, dos costumes e da indumentária dos índios
potiguaras.
Formado por 48 pessoas da própria comunidade, sendo 35 homens e 13
mulheres, o grupo não recebe nenhum incentivo financeiro para se organizar. Foi
58
seu Vavá quem montou e confeccionou, junto com sua família, todas as peças da
indumentária do grupo. Todos os anos a indumentária é mudada com o objetivo de
variar em cores e estilo a apresentação da tribo. Estão presentes crianças e adultos
na formação do grupo.
A tribo Potiguara atualmente costuma receber muitos convites para se
apresentar, sobretudo de instituições como o Sesc, Sebrae e o CPC. Na ocasião,
sempre usam os mesmos trajes que foram confeccionados para todo o período do
ano em que desfilaram no carnaval tradição de João Pessoa. Além desses locais, já
estiveram presentes em festivais de cultura promovidos pelo Governo do Estado e
escolas públicas.
Não é de costume do grupo pedir cachê pelas apresentações. Seu Vavá
solicita apenas o transporte e o lanche para todo pessoal, ao final das
apresentações.
A apresentação da tribo acontece da seguinte forma: Enquanto o grupo entra
no local da apresentação, um narrador começa a apresentar toda história que foi
vivida por aquela tribo. Feito isso, o narrador apresenta um a um os personagens
que estão presentes nos livros de história da Paraíba, tais como Zorobabé, Saí,
Antônia e muitos outros índios potiguaras que fazem parte da história paraibana.
A apresentação dura cerca de 30 minutos e sempre que se faz necessário
para se apresentar atendendo a algum convite, seu Vavá procura ensaiar com
todos. Dessa forma, os ensaios são orientados pelo coordenador do grupo. Todos
permanecem descalços durante a apresentação. A faixa etária do grupo varia de 08
à 64 anos. Todos gostam de se apresentar e fazem questão de compor a tribo
sempre que lhes for solicitado, explicou seu Vavá.
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6.2.9. Tribo Indígena Pele Vermelha
A Tribo Indígena Pele Vermelha teve sua história iniciada em 1971 com seu
fundador, Antônio Gajeiro, originalmente no bairro da Torre. Porém, com o
falecimento do mesmo, desde 1986 é que Inácia Avelino Freitas (conhecida como
Dona Inácia) coordena a tribo indígena.
Tradicionalmente apresentam-se todos os anos do carnaval tradição de João
Pessoa. São 95 pessoas da comunidade do bairro do Rangel que compõem o grupo
que desfila pelas ruas da cidade. Na maioria das vezes a tribo apresenta-se somente
no carnaval tradição.
Recebendo um modesto incentivo financeiro da FUNJOPE no mês de janeiro,
dona Inácia afirma que a quantia vem sendo reduzida a cada ano, criando uma
situação de desestímulo para a realização do desfile. Há quase dois anos que as
despesas do grupo não são pagas apenas pelo montante que é fornecido por aquela
fundação. Sempre dona Inácia está retirando de seu próprio bolso para arcar com os
custos que são contraídos para a realização do desfile.
FOTO 21: Dona Inácia
Fonte: Bruno Dantas M. Brito
60
Os ensaios só são realizados se o grupo chegar a receber um convite para se
apresentar em algum local. Da mesma forma com os trajes, renovados apenas para
o caso de atender a uma solicitação de apresentação em algum local.
Todos os anos as roupas são mudadas por dona Inácia, com o objetivo de
melhora-las e deixa-las mais bonitas e vistosas, sempre dentro das possibilidades
que o orçamento lhes permite. É a própria família de dona Inácia que confecciona os
trajes utilizados no desfile.
Todos os participantes da tribo são adultos, com idade que varia de 18 à 30
anos. O grupo é formado por índios e seus descendentes diretos e indiretos. As
cores predominantes nos trajes são o vermelho e o branco. Dentre os adereços que
compõem o traje da tribo destacamos as penas de pavão, de buá (espécie de ave),
de faisão, algumas franjas e lantejoulas, além de uma pequena tanga para cada
componente da tribo. Todos sempre se apresentam de pés descalços.
Os instrumentos são: Ganzá, triângulo, gaita e zabumba. A duração da
apresentação, atendendo a convites, chega a ser de 30 minutos, dependendo do
tempo disponibilizado pela entidade ou pessoa que convidou. Quanto aos ensaios,
são sempre coordenados por dona Inácia.
Dos convites que a tribo já recebeu para se apresentar destacamos: PBTUR
(no Centro Turístico) e da FUNJOPE (no centro histórico de João Pessoa). Os trajes
são confeccionados antes do carnaval e são utilizados em apresentações todo o
ano. Somente são feitos os novos quando é chegado mais um carnaval. Ainda se
apresentaram na praia de Tambaú, em eventos e em alguns pontos turísticos de
João Pessoa.
Além de transporte e alimentação, dona Inácia exige um cachê que deve ser
dividido entre a tribo, no caso de convite para as apresentações. Ela afirma ainda
61
que não dispensa o mesmo, tendo em vista que as necessidades da tribo são muitas
e que parte de seu povo recebe salários muito baixos. Sendo assim, o cachê serve
como um tipo de estímulo, para que as tradições culturais da tribo não se percam e
todos possam receber incentivo para continuar brincando as tradições indígenas,
segundo afirma dona Inácia.
6.2.10 Grupo parafolclórico do SESC Tenente Lucena
FOTO 22: Grupo parafolclórico do Sesc
Fonte: Bruno Dantas M. Brito
O grupo parafolclórico do SESC completa (em 2004) trinta e quatro anos de
existência.
No dia 13 de Setembro de 1970, o Grupo realizou sua primeira apresentação
artística no ginásio de esportes do Sesc centro de João Pessoa, data que foi
oficializada como a da fundação do Grupo, que teve como primeiro nome de Grupo
de Estudos, Danças e Pesquisas Folclóricas. Pôr resolução da Presidência do
62
SESC Nº 016/82, datada de 20 de agosto de 1982, o mesmo passou a ser chamado
de Grupo de Danças Folclóricas do Sesc Tenente Lucena, nome que lembra o seu
ilustre fundador.
O grupo tem sido responsável pôr esta geração de imagens que tem motivado
a criação de novos grupos denominados parafolclóricos. O termo Parafolclórico foi
usado pela primeira vez na Paraíba pelo grupo de danças folclóricas do Sesc,
classificação recebida pôr tratar-se de um grupo oficial pertencente a uma instituição
privada.
Atualmente o grupo é formado por 60 pessoas, dentre elas 28 são homens e
32 são mulheres. O grupo folclórico tem dado uma expressiva parcela de
contribuição ao desenvolvimento do turismo paraibano, desenvolvendo o Projeto
FOLK TUR, realizando shows artísticos no Centro de Formação em Turismo e
Hotelaria do Sesc em período de altas temporadas. Além de atender aos inúmeros
convites para apresentação do seu repertório de danças folclóricas em apoio aos
congressos, encontros, seminários e outros eventos sócio-culturais e de lazer que
acontecem em João Pessoa e na Paraíba.
Alguns dos trabalhos mais atuais do grupo são: Incentivo a criação de grupos
parafolclórico como meio de engajar os jovens na responsabilidade de estudar,
preservar e divulgar nossa cultura popular; Participação em filmagens sobre o
turismo paraibano; Realização de Receptivos para turistas no Porto de Cabedelo
para turistas dos navios transatlânticos como Costa Marine, Funchal e Polares; Para
o carnaval carioca de 1999, foi base de pesquisa para confecção das indumentárias,
das alas da Escola de Samba Vila Isabel, quando a mesma desfilou homenageando
João Pessoa, com o Samba enredo João Pessoa, onde o sol brilha mais cedo, além
de diversos outros eventos que marcaram a presença do grupo, a convite de
63
organizadores e gestores de diversas entidades públicas e privadas.
O tempo de cada apresentação é determinado por quem convida, podendo
ser de 10 minutos ou mesmo de 01 hora ou mais. O grupo está preparado para
realizar sua apresentação, independente do tempo. É possível mostrar todas as
danças do repertório do Grupo no tempo de 30 minutos.
A apresentação do grupo se da de duas formas distintas: Vista ou participativa.
Vista:
Sem a participação da platéia.
Participativa:
Dependendo da reação e comportamento da platéia, a mesma é envolvida
durante a apresentação, haja vista que as pessoas são convidadas a
dançarem e assim apreciarem mais diretamente os traços da nossa cultura.
Existem algumas exigências que são pedidas para a apresentação do grupo.
Entre elas destacamos as seguintes:
Sonorização profissional com cinco microfones e cinco pedestais;
Transporte para materiais e pessoais do grupo com saída e chegada no Sesc;
Local para a guarda do material e para troca de roupa/ indumentária de cada
coreografia a ser apresentada dentro do show;
Pagamento de um cachê artístico (a combinar) referente a:
- Apresentação do Grupo;
- A apresentação mais o som ou transporte;
- A apresentação mais o som e o transporte.
Optando pelo terceiro item (apresentação, som e transporte) o interessado
não terá nenhum problema dessa ordem, ficando toda responsabilidade a cargo
64
da direção do Sesc arcar com os custos que forem contraídos. O grupo ainda realiza
receptivos no aeroporto Castro Pinto e Porto de Cabedelo e recepção em locais de
eventos, com componentes vestidos a rigor com a roupa típica e característica do
folguedo paraibano que for escolhido na ocasião do convite.
Os trajes são sempre consertados e renovados por causa das inúmeras
apresentações que são feitas toda semana. O coordenador do grupo, Pedro
Cândido, afirmou que sempre recebe convites para apresentar o grupo em eventos
turísticos, o que deixa todo grupo muito satisfeito em participar dos mesmos. Existe
uma programação de atividades que são desempenhadas todo mês e que norteia as
apresentações do grupo. Independente de haver ou não convites, o grupo sempre
apresenta um tipo de folguedo nas imediações do Sesc centro.
65
66
7. TURISMO – CONCEITOS E COMPLEXIDADE
O turismo surgiu a partir de uma necessidade humana de se desligar da
realidade cotidiana e viajar por mundos diferentes, por culturas das mais diversas,
seja para satisfazer um sonho de conhecer uma localidade distante, seja para
contemplar uma nova perspectiva de vida, em busca de relaxamento, aventura,
prazer ou revitalização das forças e da saúde física e espiritual.
Tudo isso foi proporcionado graças ao aumento do tempo livre obtido pela
sociedade pós-industrial. O fim da Segunda Guerra Mundial permitiu que muitos
países capitalistas se estabilizassem e começassem a garantir para seus cidadãos
períodos maiores de desfrute tanto de lazer como de recreação, ou ainda qualquer
atividade que fosse de sua escolha. As conquistas oriundas das classes
trabalhadoras proporcionaram essa vitória, notadamente obtendo também melhorias
salariais significativas e que pudessem justificar o usufruto do tempo livre. Todo o
universo de conquistas sociais que propiciassem o crescimento do turismo foi sendo
obtido, como afirma Trigo (2000):
A semana de seis dias, as oito horas de trabalho diárias, as férias
remuneradas, os seguros sociais, a democratização do ensino público
gratuito foram alguns dos pontos que possibilitaram que cada vez mais
pessoas no século XX tivessem acesso à diversão e ao turismo. (TRIGO,
2000, p. 15).
Os motivos pelos quais se empreende uma viajem podem ser os mais
diversos possíveis. Daí é que a atividade abriu um leque de oportunidades e de
segmentações, responsáveis por atender a diversas demandas que foram se
gerando sobre o setor no decorrer dos tempos.
67
A atividade turística cresceu substancialmente no período compreendido
como pós-industrial, logo após a Segunda Guerra Mundial. Trigo (2000) afirma que o
boom do turismo se deu no final do século XX, sendo que “é importante deixar
evidente que o crescimento do lazer e do turismo acontece mais intensamente após
as décadas de 1970 e 1980, ou seja, em plena era pós-industrial” TRIGO (2000, p.
13).
Tendo em vista este crescimento, faz-se importante agora conceituar tal
atividade que na medida em que promete tantas melhorias e benesses econômicas,
também gera impactos dos mais graves e diversos nunca vistos, sejam eles
econômicos, ambientais ou sócio-culturais. Jafar Jafari in Ignarra (1999) definiu o
turismo enquanto ciência como
o estudo do homem longe de seu local de residência, da indústria que
satisfaz suas necessidades, e dos impactos que ambos, ele e a indústria,
geram sobre os ambientes físico, econômico e sócio-cultural da área
receptora” (IGNARRA, 1999, p. 24).
O nível de abrangência da atividade é tão grande que diversos conceitos
foram criados na tentativa de melhor definir a vertente em que o turismo esta ligado.
Como o crescimento exponencial da segmentação, cada ramo do turismo foi
responsável por uma definição diferente.
Assim, partiremos para o conceito mais apropriado, especializando-se na
medida em que se fizer necessário. Souza (2000) define turismo como:
um fenômeno caracterizado pelo deslocamento temporário de pessoas de
seu local de domicilio (núcleo emissor) para uma determinada localidade
(núcleo receptor), com a permanência mínima de 24 horas e a utilização de
serviços e equipamentos turísticos” (SOUZA, 2000, p. 142).
Considerando que a segmentação do turismo se deu de maneira plural e
maciça, a atividade turística desdobrou-se em diversos outros conceitos que se
68
fizeram necessários para melhor caracterizar todas as vertentes que o setor
assumiu. Turismo de eventos, gastronômico, espeleológico, de aventura, da melhor
idade e cientifico, entre muitos outros, são algumas das desinências que compõem e
se subdivide o turismo.
Sob essa perspectiva, Trigo (2000) afirma que por força do enorme
crescimento do turismo na sociedade, a atividade atingiu dimensões imensas,
tornando-se acessível a diversas classes sociais. Segundo o autor, é a partir de
1950 que “surge o que pode ser determinado de turismo de massa acessível às
classes médias dos países desenvolvidos” TRIGO (2000, p. 15).
Por turismo de massa Souza (2000) esclarece-o definindo como aquele
representado pela classe média com relativo equilíbrio econômico, que hoje
representa o maior movimento de pessoas e de dinheiro em todo o mundo” SOUZA
(2000, p. 145).
É a partir daí que, de acordo com Trigo (2000), “a cultura e o lazer de massa
começaram a ser acessíveis já na primeira metade do século XX” TRIGO (2000, p.
15).
Neste ínterim é que o consumo da cultura pela atividade turística teve
principio. Dessa relação entre o turismo e a cultura nasceu um novo segmento
turístico. Caracterizando o trabalho, toma-se a conceituação específica deste
segmento responsável pelo despertar do interesse na apresentação das tradições
populares que se fazem presentes em uma determinada localidade.
Assim, surgiu o turismo cultural como forma de explorar a atividade, sugerindo
para os visitantes a contemplação de elementos da cultura de um determinado
destino turístico, consoante com os benefícios e contatos culturais que a ocasião
poderia proporcionar.
69
Dessa forma, podemos conceituar o turismo cultural com as palavras de
Souza (2000), que afirma ser a atividade um
Tipo de turismo que não se compõe só de visitas a museus, lugares
históricos, feiras de artesanato ou espetáculos determinados. Põe em relevo
também formas especiais da relação entre o visitante e o visitado (SOUZA,
2000, p. 143).
Por destino turístico devemos entender tratar-se da
Localização de um grupo de atrações, instalações e serviços turísticos
relacionados, que um turista ou grupos de excursão decidem visitar ou os
fornecedores decidem promover (SOUZA, 2000, p. 55).
Ainda de acordo com Souza (2000), os benefícios gerados por esta troca de
convivência justificam qualquer empreendimento dessa natureza. Segundo o autor,
melhora a auto-estima da comunidade visitada e fornece oportunidade para um
melhor entendimento da cultura alheia” SOUZA (2000, p. 143).
Tratando estes como pontos positivos e que elegem a atividade licita e válida,
no sentido de utilização turística, o patrimônio cultural constitui-se como um
diferencial para o turismo em qualquer localidade do mundo. Entende-se por
patrimônio cultural “a soma de toda produção humana, material ou imaterial e/ou
ideacional” SOUZA (2000, p. 111). Diversos elementos constituem o patrimônio
cultural, entre eles destacamos o arquitetônico, documental, etnológico, histórico e
popular, sendo este último constituído de folclore artesanato e arte popular, entre
outros.
Dentro da gama de possibilidades que são trabalhadas pelo turismo (no que
tange ao patrimônio), é o patrimônio popular que mais repercute nas viagens e nas
destinações turísticas trabalhadas pelo mercado. Por patrimônio popular define-se “a
expressão de um povo como folclore, as lendas, a dança, a medicina alternativa, a
70
gastronomia, o modo de vida, o fazer, o usar e o transmitir conhecimento aprendido
por seus ancestrais” SOUZA (2000, p. 113).
Tratamos de chegar na maior questão que envolve o produto turístico que é
explorado em cada localidade onde a atividade se processa. Por produto turístico
devemos entender se tratar do “composto de bens e serviços diversificados e
essencialmente relacionados entre si, tanto em razão de sua integração com vistas
ao atendimento da demanda quanto pelo fato de unir os setores primário, secundário
e terciário de produção” SOUZA (2000, p. 118). Os planejamentos e projetos que
tratam do turismo e de sua estruturação sempre procuram os atributos diferenciais
de cada localidade para se trabalhar na exploração dos recursos turísticos. Entre os
diversos componentes de consumo turístico é o patrimônio popular um dos mais
solicitados e apresentados pelas destinações, pois, são eles que tratam de
diferenciar uma determinada região de outra, atrelados às suas culturas locais e
próprias.
A esse respeito podemos apresentar o caso de empresas áreas, tais como a
VASP (Viação São Paulo), que procuram estimular o turismo interno, e
consequentemente a venda de passagens áreas, apresentando a cultura popular
das destinações turísticas como um grande atrativo nas viagens, sinônimo de
riqueza cultural e garantia de um passeio inesquecível.
Em muitos casos, onde a estruturação do turismo em uma determinada
destinação é empreendida, a atividade pode contribuir não para a valorização, o
resgate e a manutenção das tradições populares, e sim para o rompimento de
aspectos histórico-culturais, da tradicionalidade e da cultura popular. A cisão é dada
quando os valores resguardados na cultura e nos costumes são perdidos e ocorre
uma padronização e transformação dos elementos folclóricos em meros produtos
71
atrativos de consumo turístico, pois, “é relativamente fácil inventar a história e
transformar as tradições culturais em um produto de mercado, sem o devido cuidado
por rigor, honestidade e precisão factual” THEOBALD (2002, p. 427).
Ainda a esse respeito Ruschmann (1997) também classifica esta atitude como
“vulgarização” dos costumes e das tradições populares para os turistas. Diz ela que:
a fim de atender a essas expectativas, as cerimônias tradicionais, os festivais e os
costumes são apresentados como show especialmente preparado para atender à
curiosidade e ao interesse dos visitantes” RUSCHMANN (1997, p. 53). Assim como
Cooper (2002), Ruschmann (1997) também classifica como “mercadização” da
cultura popular a apresentação destes grupos para atender ao fluxo formado pelo
movimento dos turistas em um destino.
7.1. Massificação cultural promovida pelo Turismo
A massificação da cultura local pode ser vista mais precisamente quando se
busca analisar alguns eventos de repercussão turística na grande João Pessoa. A
título de exemplo, podemos ilustrar isso com base em dois eventos singulares na
aparência, mas, bem diferentes na essência. São eles: Semana da Consciência
Turística (promovido pela ABIH/JP) e Venha Viver a Paraíba (promovido pela
PBTUR). O primeiro foi realizado do dia 08 a 14 de julho de 2001 no Manaíra
Shopping e nas praias urbanas de Tambaú e Manaíra; o segundo realizou-se
durante todo o mês de janeiro e fevereiro de 2004, funcionando com os shows
apenas nos finais de semana, ao lado da sede da PBTUR, com apresentações
culturais e musicais.
72
São singulares na aparência pois trataram de mostrar a cultura e os costumes
paraibanos típicos, tanto para turistas quanto para moradores da cidade. Porém, são
diferentes na essência por que o primeiro tinha por objetivo valorizar a cultura
paraibana para todos os paraibanos e demais turistas em visita, enquanto que o
segundo foi programado exclusivamente para ser apresentado aos turistas que
estavam em férias na cidade. Na ocasião, os dois eventos levaram grupos folclóricos
típicos do Estado, o que já se configura como um agente causador da
descaracterização cultural. Isto se afirma quando foi possível constatar que ambos
os eventos convidaram os grupos para se apresentar, em primeiro lugar, fora do seu
período habitual de encenação (mas que atendeu ao calendário turístico) e fora da
sua comunidade de origem. Todos os grupos se apresentaram em locais tipicamente
turísticos e de marcada presença da população de maior poder aquisitivo. Dentre as
manifestações apresentadas nos eventos destacamos: O Boi de Reis do Mestre
Piralinho na Semana da Consciência Turística e o Grupo Folclórico do SESC no
Venha Viver a Paraíba. É neste tipo de atitude dos agentes turísticos que se
principia a descaracterização da cultura popular, onde se colabora para a perca da
tradicionalidade e dos valores culturais de determinados atores do folclore local.
Se o turismo contribui para a perda da tradicionalidade, ocorre o que Arantes
(1990) classifica como “a massificação e conseqüente globalização da cultura
popular” ARANTES (1990, p. 41). Em algumas circunstâncias o que vemos são
membros de minorias culturais [...] estimulados a amoldar sua cultura à cultura
dominante” SWARBROOKE (2001, p. 39).
A transformação de manifestações populares para atender a demanda que é
gerada pelo turismo ocorre a partir do momento em que são criadas condições de
73
substituição de certos princípios natos da manifestação por outros mais direcionados
e adequados ao turismo. A mudança no figurino, na cor das roupas, no ritmo das
danças, da letra das músicas e tudo mais pode ser adaptado, visando dar ao turista
uma melhor conformação visual enquanto assiste ao “espetáculo”, como bem cita
Swarbrooke ao afirmar que as “danças tradicionais podem ser abreviadas para se
adequar às programações de grupos de turistas SWARBROOKE (2001, p. 43). A
manifestação perde seu caráter cultural e passa a ser um produto, vendido em
diversas partes do país e do mundo por meio das promoções turísticas nacionais e
internacionais.
De todas as manifestações pesquisadas pôde-se concluir, a esse respeito,
que todas foram unânimes em afirmar que ao se apresentar em locais turísticos,
atendendo a convites de empresas públicas e privadas, o tempo da “apresentação”
foi delimitado previamente pelo agente promotor do evento. Em média, os grupos
levaram de 15 a 30 minutos para se apresentar. Em muitos eventos este é o tempo
médio para se fazer uma pequena pausa nas atividades que estão sendo
desempenhadas na ocasião do evento, onde muitos promotores preferem chamar
de Coffee Break (parada para o cafezinho). São os grupos típicos dos intervalos
culturais, apresentando-se rapidamente para o simples entretenimento dos
participantes de determinado evento, que só apreciam a cultura em intervalos
específicos e pré-determinados, sem se importar (na maioria das vezes) com o
contexto social ou cultural deste ou daquele grupo. São estes grupos que mais
sofrem a ação de adequação ao turismo, pois, tornam-se uma espécie de oferta
diferencial para os eventos e o próprio fenômeno turístico.
Este aspecto está muito bem descrito por Pellegrini Filho (1993) quando o
74
mesmo afirma que “o desenvolvimento do turismo, no Brasil, fez sentir que muitas
manifestações do folclore ou cultura popular podem integrar-se ao elenco de ofertas
diferenciais” PELLEGRINI FILHO (1993, p. 123-4). Bosi atesta que
A cultura de massa aproveita-se dos aspectos diferentes da vida
popular e os explora sob a categoria de reportagem popularesca e de
turismo. O vampirismo é assim duplo e crescente: destrói-se por
dentro o tempo próprio da cultura popular e exibe-se [...] o que restou
desse tempo, no artesanato, nas festas, nos ritos (BOSI, 1992, p.
328).
Em muitos casos podemos notar a criação de um paradoxo cultural entre as
conotações ensejadas pela cultura dos viajantes e da comunidade receptora. Na
verdade, se expressa um abismo cultural entre estes dois atores sociais envolvidos
pelo turismo, mas que por força dos interesses empresarias tal segregação procura
ser anulada pela aproximação entre o turista e o ator social, de uma forma que
ambos possam interagir no ambiente onde estão alocados. Na medida em que vão
se aproximando (as culturas do visitante e da comunidade local) vai se criando um
distanciamento entre os valores culturais natos e se encerra a pasteurização da
ideologia nativa. Bosi (2002) ilustra bem essa tendência quando diz que “o
distanciamento começa quando o turismo toma conta dessas práticas: a festa
exibida, mas não partilhada, torna-se espetáculo” BOSI (2002, p. 11).
O que se percebe com isso é a tendência natural que o turismo tem em
influenciar na deflagração de um novo elemento cultural. A autenticidade pode ser
alocada em segundo plano e os atributos que configuram um produto turístico são
postos a frente, notadamente em comunidades carentes, onde a presença do
turismo é essencial promotora de desenvolvimento econômico e que facilmente
parte da cultura pode ser relegada em segundo plano, onde a frente viria a
75
promessa de geração de renda para a comunidade. A inserção do agente social
popular na economia traz indícios de que a cultura popular e o folclore podem ser
perdidos pelos interesses que permeiam as necessidades dos empreendimentos
turísticos, seja para melhorar a apresentação social de seus atores, seja na tentativa
de manter a manifestação a qualquer custo.
Nesse sentido, Cooper (2001) levanta três aspectos marcantes na interface
criada entre o turismo e a cultura. São eles: a mercantilização, a autenticidade
encenada e as experiências turísticas exóticas COOPER (2001, p. 211). No aspecto
da mercantilização sugere-se que a crescente demanda pelo turismo incorre numa
mutação e, em certos casos, à destruição do significado das performances culturais.
Sobre isto, Cooper (2001) acrescenta que “artesanato, cerimônias e rituais são
muitas vezes levados a uma postura de exploração, reduzidos, tornados mais
coloridos, mais dramáticos e mais espetaculares para capturar a atenção e a
imaginação de uma audiência” COOPER (2001, p. 211). Também a esse respeito
observa-se uma supervalorização de eventos turísticos, seguindo uma “tendência de
privilegiar o evento em lugar da cultura, o entretenimento em lugar da arte e, o que é
mais grave, institucionalizar a mercantilização da produção, que transforma arte em
produto” MELO NETO (2002, p. 55).
Já a autenticidade encenada caracteriza-se por “pseudo-eventos”,
apresentados para satisfazer as necessidades dos turistas por experiências novas,
mas, que detém em seu íntimo uma situação simulada, fora da realidade cultural.
Destaca Cooper (2001) que as destinações “estão utilizando sua herança cultural
como um dispositivo promocional para atrair números cada vez maiores de turistas
COOPER (2001, p. 211). Em certos casos, o simples deslocamento das
76
manifestações de seu lugar de origem para um ponto turístico pode significar a
ocorrência da autenticidade encenada.
Por fim, as experiências turísticas exóticas definem-se como uma aparente
inabilidade de desfrutar de experiências culturais significativas, sem que seja
necessário viajar para ambientes diferentes. Coriolano (1998) acrescenta que “a
cultura de grupos externos apresenta-se com a capacidade de interferir na cultura
local” CORIOLANO (1998, p. 50). Gerando diversos choques culturais, a autora
afirma que “esses conflitos tornam-se forças motrizes criadoras de novas formas
culturais” CORIOLANO (1998, p. 50).
A questão que envolve o turismo como agente explorador da cultura popular
em diversas situações gera conflito com a própria autenticidade da manifestação.
Vários autores mencionam este dilema como inerente ao mecanismo de ação do
turismo.
Theobald (2002) afirma que
A questão da autenticidade encenada é importante quando o anfitrião
consegue convencer os turistas do caráter autêntico de festivais e atividades
da região de fachada do destino (áreas públicas tais como saguões de hotéis
e restaurantes); esse disfarce protege a verdadeira região dos fundos (as
casas dos residentes e as áreas onde acontece a vida real). Um dos
problemas do turismo alternativo é que os turistas são incentivados a
penetrar nessa região dos fundos (THEOBALD, 2002, p. 93).
Getz também acrescenta que o turismo pode destruir a autenticidade cultural,
pois, parece esta se tratar do “principal objetivo que os turistas atuais parecem
buscar” GETZ (2002, p. 423), sendo o mesmo da opinião que “a autenticidade é
característica do que é genuíno, inalterado ou verdadeiro” GETZ (2002, p. 425).
Também fica claro que “um fato sempre citado é que os turistas raramente
77
têm acesso a experiências culturais autênticas, em razão da comercialização da
cultura nos pontos turísticos” GETZ (2002, p. 426). Essa comercialização é que foi
responsável pela construção do termo autenticidade encenada, que “foi cunhado
para descrever eventos criados com a intenção de confundir o turista” GETZ (2002,
p. 426). Até mesmo, em situações isoladas, os habitantes locais podem chegar a
construir uma autenticidade, unicamente com a intenção de “inventar uma
autenticidade nova e refinada” GETZ (2002, p. 427).
Araújo (2001) acrescenta que a questão da autenticidade encenada ressurge
em diversas frentes, onde “o turista não se satisfaz com um conhecimento de
fachada, superficial, pois também quer penetrar nos bastidores dos lugares por onde
anda” ARAÚJO (2001, p. 60). Assim, pode-se qualificar o ambiente turístico como
sendo um espaço de encenação cultural.
Concernente a esta tendência Cooper (2001) acrescenta que é cada vez
maior o número de turistas interessados em “consumir” a cultura de destinos
turísticos, em busca das diferenças tanto étnicas quanto culturais, com vistas a
apreciação da autenticidade cultural. Por esse motivo, “estão utilizando sua herança
cultural como um dispositivo promocional para atrair números cada vez maiores de
turistas” COOPER (2001, p. 211).
Sob esta perspectiva, acredita-se que a autenticidade encenada é uma forma
de preservar a riqueza cultural, apresentando uma pequena “performance” de parte
do patrimônio cultural da localidade. De acordo com o gráfico 01 extraído de Cooper
(2001), esta situação fica bem explícita.
78
Gráfico 03 – Níveis de penetração cultural
Fonte: Cooper (2001, p. 235 )
No nível A estão localizados os turistas, expectadores e admiradores da
cultural local. A partir deste nível é que começa a ocorrer a utilização da cultura local
enquanto produto de consumo turístico. No nível B está situada a autenticidade
encenada para o turismo, onde o contato entre turistas e cultura é feito e, aos
primeiros é apresentada a herança cultural dos últimos. Por fim, no nível C está
situado o patrimônio cultural verdadeiro, onde todos os elementos da cultura local
são preservados, protegidos ainda pela cortina cultural virtual entre o nível B e o C.
Mas, estas implicações incorrem em muitos riscos, pois, o fato de não
delimitar onde uma termina e a outra começa compromete gradualmente o
patrimônio. Cooper (2001) atesta que “o próprio ato de encenar a autenticidade da
cultura poderá confundir as verdadeiras barreiras da herança local e, ao fazê-lo,
distorcer a herança [...] mantida por detrás da cortina” COOPER (2001, p. 212).
O que se merece salientar com estas observações é que o turista não só
induz o agente cultural a se transformar, mas, o mesmo é levado a tanto pelo
fomento de empreendimentos turísticos. A facilidade com que determinados agentes
que lidam com o turismo têm em “adequar” uma manifestação cultural como um
79
produto é um dos motivos pelos quais estes três aspectos coexistem. A ação não
isolada, mas, sinérgica entre o turista e seu agente de viagens pode se configurar
como condição plural de influência sociocultural.
7.2. Autenticidade x Simulação Cultural
De acordo com Barreto (1995) os turistas acreditam que muitas
manifestações que vêem “não são autênticas, pertencendo à cultura do simulacro
BARRETO (1995, p. 127). Usou-se essa referência com base na explosão do
fenômeno turístico nos anos 70, quando diversos pacotes eram agenciados e todas
as atividades empreendidas durante a viagem eram rigorosamente determinadas
pelos horários. Isto nos leva a crer que o turismo age como um mecanismo de
modificação do folclore local. Caso semelhante é encontrado (a exemplo) no Havaí,
onde Carlos (2001) atesta como a influência dos pacotes e dos agenciamentos
turísticos mecanizou a produção do turismo na região e todo o ritual encontrado na
ilha obedece a um cronograma rígido e bem especifico, onde cada apresentação
acontece em seu devido lugar pré-estabelecido, no devido horário programado.
Pode-se considerar que “o ser humano é basicamente criativo e recriador
BRANDÃO (1982, p. 39), e o mesmo modifica aquilo que um dia aprendeu a fazer.
Brandão (1982) ainda afirma que:
Um ritual praticado num contexto camponês pode ser modificado
substancialmente quando os seus praticantes migram para a periferia da
cidade e saem do trabalho com a terra para um trabalho operário
(BRANDÃO, 1982, pg. 40).
80
O que podemos inferir com isso é que a mudança de contexto que é enfocado
nas manifestações culturais pode levar a uma descaracterização e conseqüente
transformação desta manifestação. Uma das características mais críticas do folclore,
ainda segundo Brandão, é a tradicionalidade.
Em diversos aspectos, o que mais se observa nas representações culturais é
uma situação tendenciosa de hegemonia cultura. De um lado a cultura popular
encenada pela comunidade que lhe abriga e é natural; do outro lado os anseios e
expectativas do turista que procura nas manifestações e na cultura local a
hospitalidade da comunidade receptora, na medida em que esta esteja pronta a lhe
atender da melhor forma possível.
Acaba assim por sugerir o que Chauí (1996) nomeia de contra-hegemonia. A
mesma afirma que “para além da cultura ilustrada dominante, existiria uma outra
cultura “autêntica”, sem contaminação e sem contato com a cultura oficial e
suscetível de ser resgatada” CHAUÍ (1996, p. 23). Seria esta uma tentativa de
envolver a cultura popular num invólucro impenetrável, capaz de resguardar seus
atributos longe dos interesses tendenciosos de um novo conformismo cultural,
adequado aos apelos e anseios possivelmente despertados para atender a uma
demanda diferenciada.
Em muitos aspectos podemos considerar que a cultura popular pode e é
dominada pelo modelo de cultura hegemônica ou dominante, no sentido de
reproduzir para a sociedade os anseios e desejos das classes mais abastadas.
Chauí (1996) ilustra bem esta colocação quando afirma que a manifestação cultura
pode ser realizada no “interior de uma sociedade que é a mesma para todos, mas
dotada de sentidos e finalidades diferentes para cada uma das classes sociais”
81
CHAUÍ (1996, p. 24).
Muito do que entendemos como cultura popular vem sofrendo diversas
intervenções significativas, haja visto que a evolução social e política da humanidade
se fez notar e necessitou de novos aparatos ideológicos que proporcionassem às
comunidades mecanismos de lazer e diversão em grande escala. Eis que surge o
ideal da cultura de massa, que passa a ser o principal mecanismo de controle e
coordenação ideológico social, já que “a cultura de massa esta baseada na
produção e no consumo padronizado e, independentemente de seus conteúdos, não
goza de autonomia e de organização por parte dos sujeitos envolvidos” WERNECK
(2001, p. 48).
Podemos seguramente afirmar que “diferentemente da cultura popular, a
cultura de massa não tem raízes na vivência cotidiana dos homens, e é
extremamente associada ao consumo” WERNECK (2001, p. 49).
A cultura de massa também pode ser entendida como indústria cultural, pois,
denota do sentido de que a produção cultural deve assumir escala industrial para
atender aos novos mercados consumidores que foram formados na pós-
industrialização, como atesta Adorno (1978): “A indústria cultural distingue-se,
radicalmente, da arte popular, pois a grande meta da primeira é fornecer produtos
adaptados ao consumo das massas” ADORNO (1978, p. 290).
7.3. O Turista: principal elemento de transformação cultural.
Consoante ao pós II Guerra Mundial estão atrelados o fim da Guerra Fria, a
82
hegemonia norte americana de mercado e o surgimento de uma nova contingência
mundial de comércio e de integração socioeconômica: a globalização. Seja de
mercado, seja de culturas a globalização cresceu e disseminou-se largamente em
todo o mundo. Os mercados interagem em tempo real, as culturas mais longínquas
tornaram-se acessíveis aos olhos e aos dedos por meio dos teclados dos
microcomputadores, a nova linguagem universal é a concebida por meio da
informática e das telecomunicações instantâneas. Trigo (2000) afirma que
O desenvolvimento e a disseminação das novas tecnologias, a globalização
dos mercados internacionais e a abertura de novas áreas ao turismo [...]
foram alavancando o crescimento do turismo em grande parte do planeta
(TRIGO, 2000, p. 21).
Das diversas tendências que se pode ver nesse sentido, a globalização traz
em seu cerne uma em especial, constituída pela padronização dos mercados e dos
elementos culturais essenciais, isso porque iniciou-se um movimento que levará o
mundo a se tornar uma imensa aldeia global, uma terra sem fronteiras. Salienta
Trigo (2000) que
Talvez como reação à globalização e à padronização, há um crescente
reconhecimento do valor da diversidade cultural [...], um desejo consciente de
manter e divulgar as características únicas e especiais de grupos étnicos e
sociedades receptivas (TRIGO, 2000, p. 23).
A diversidade cultural na América Latina é imensa e seu potencial conjuntural
está sendo largamente explorado através do setor turístico. É importante destacar
que “a internacionalização do turismo significa que não podemos explicar os padrões
turísticos em qualquer sociedade, sem analisar o que ocorre em outros países
URRY (2001, p. 73). Pelo fato de se ter aspectos diferenciais no produto turístico
83
Brasil, o turismo procura explorar as manifestações da cultura popular como um
atrativo para o turista, seja ele nacional ou estrangeiro. Segundo a teoria de Plog, os
segmentos turísticos podem ser estratificados seguindo uma tipologia formulada
para entender que tipo de turista visita determinadas localidades e não outras. Os
resultados dessa estratificação demonstram que o tipo de turista que visita locais
com relevantes aspectos culturais é o alocêntrico. Esta definição qualifica o turista
do tipo alocêntrico como aquele interessado “em diferenças culturais e ambientais de
seu meio normal, pertencendo ao grupo de renda mais alta, são aventureiros e
requerem muito pouco em termos de estrutura turística” COOPER (2002, p. 205).
Quando o destino turístico passa a receber grande fluxo de turistas, a categoria dos
alocêntricos partem para descobrir novos roteiros em outros locais e, com isso,
deixam margem para um novo segmento de turistas visitarem os locais já
descobertos pelos alocêntricos: São os mesocêntricos. Este segmento destaca-se
pelo grande número de turistas que passam a visitar o destino que antes era apenas
conhecido dos alocêntricos. O segmento mesocêntrico também é conhecido como o
turismo de massa, caracterizado pelo grande número de visitantes, como destaca o
gráfico 04.
84
Gráfico 04 – Perfil Psicográfico dos Turistas
Fonte: McIntosh / Goeldner 1986, p. 136 in: RUSCHMANN (1997, p. 94)
Os resultados nos últimos tempos do processo de globalização vêm se
mostrando desanimadores. Em verdade, o fenômeno da globalização afeta mais do
que beneficia a atual conjuntura social e econômica, sejam eles paises
desenvolvidos ou em desenvolvimento. Muitas questões são suscitadas com relação
às tendências geradas pela globalização. Uma delas está na construção dos
calendários turísticos, expondo os períodos de festas e folguedos populares como
produto de consumo do setor turístico, onde estão em foco eventos em que se
apresentam traços da cultura popular local. Vale salientar que as manifestações
seguem um período próprio dentro do tempo social de cada grupo, pois, “uma das
funções próprias do calendário é ritmar a dialética entre tempo livre e trabalho
ROSA (2002, p. 16). Daí, o que é mais comum ocorrer são “algumas manifestações
culturais [...] que podem respeitar tanto o tempo determinado por uma organização
externa como também o tempo estabelecido pelos seus componentes, o tempo
social do grupo” ROSA (2002, p. 16). Essa flexibilidade no calendário das
apresentações pode ser configurado como um agente impactante significativo, na
85
medida em que adequa o tempo social do grupo a um calendário específico e
sazonal, fora dos padrões normais dos folguedos populares.
A tendência ensejada pela globalização é transportada com maior velocidade
pelo fenômeno turístico, chegando a atingir a tradição e a cultura das camadas mais
baixas da sociedade. Notadamente muitos atores sociais que resguardam a cultura
tradicional estão situados nessa classe social. Influenciados pela grande demanda
nos eventos e nos constantes convites pela presença dos grupos populares nas
apresentações locais, regionais e até internacionais, o agente social procura se
cobrir de novos elementos que antes não faziam parte de sua tradição. Pode-se
dizer que o gosto popular fica “impregnado de modismos, no sentido que os alemães
chamam de kitsch, ou seja, fazendo o velho ficar novo, forçando a renovação das
aparências; os velhos bailados apresentam vestimentas estilizadas e coreografias
renovadas” MOURA (2002, p. 38).
Com relação aos muitos eventos que tem em seu calendário as
manifestações culturais agendadas por períodos que podem compreender a alta e
baixa estação, onde um grande número de turistas pode significar a desconfiguração
de costumes e aspectos sociais de uma manifestação, Pellegrini Filho (1993) atesta
que “a presença do turista nesses e em outros eventos é inegável fator de mudança
social...” PELLEGRINI FILHO (1993, p. 126). Isto por que, segundo o mesmo:
As máquinas fotográficas de jornalistas, as preponderantes câmaras de
televisão... muito além e antes da chegada dos turistas, induzem o agente
social popular a se apresentar e representar; a festa muda sua função,
virando espetáculo laicizado (PELLEGRINI FILHO, 1993, p. 126).
Dessa forma, muito da manifestação cultural passa de seu caráter tradicional
86
e popular para a cultura de massa e reconhecimento público. Isto nos leva a crer
que, ainda de acordo com Pellegrini Filho (1993),
Essas interferências podem ser fatores de descaracterização de
determinadas manifestações folclóricas... e mesmo de seu desaparecimento
e/ou substituição por outras... (PELLEGRINI FILHO, 1993, p. 129).
87
88
8. IMPACTOS SÓCIO-CULTURAIS POSITIVOS E NEGATIOS DO TURISMO NAS
MANIFESTAÇÕES POPULARES
Diante da posição do turismo enquanto agente responsável pelos impactos
acarretados em uma determinada localidade, motivado pela exploração e consumo
dos recursos turísticos locais, deve-se definir que impacto turístico constitui-se “pela
gama de modificações ou pela seqüência de eventos provocados pelo processo de
desenvolvimento turístico nas localidades” SOUZA (2000, p. 84). Os impactos do
turismo constituem-se em três ordens: impactos econômicos; ambientais e; impactos
sócio-culturais. Na tabela 01 é possível observarmos quais os principais fatores que
estão associados ao turismo e seus impactos positivo e negativo, respectivamente.
FATOR ASSOCIADO AO TURISMO IMPACTO POSITIVO IMPACTO NEGATIVO
O uso da cultura como atração turística Maior apoio para as culturas
tradicionais e expressões de identidade
étnica. Revitalização de artes, festivais
e linguagens tradicionais.
Mudanças nas atividades e artes
tradicionais para adequar-se à
produção para turistas. Desagregação
e aglomeração em atividades
tradicionais. Invasão de privacidade.
Contato direto entre moradores e
turistas
Quebra de estereótipos negativos,
aumento das oportunidades sociais.
Reforço de estereótipos negativos.
Aumento do comercialismo. Introdução
de doenças. Efeito demonstração.
Mudanças na estrutura empregatícia e
econômica resultantes das
transformações dos papéis sociais.
Novas oportunidades econômicas e
sociais que diminuem a desigualdade
social.
Conflito e tensão na comunidade.
Aumento da desigualdade social.
Perdas de linguagem.
Desenvolvimento de instalações
turísticas.
Maiores oportunidades recreativas. Impossibilidade de acessos a locais e
atividades recreativas.
População maior em função do turismo
e do desenvolvimento associado.
Apoio a instalações médicas,
educacionais e outras que melhoram a
qualidade de vida.
Superpopulação e congestionamento
viário. Aumento da delinqüência.
Tabela 02 - Resumo dos impactos socioculturais positivos e negativos do turismo.
Fonte: Pearce, Moscardo e Ross in: OMT (2003, p. 161).
89
É no impacto sócio-cultural que se mensura e evidencia a transformação de
determinadas manifestações da cultura popular em produtos de utilização turística. A
perda de características essenciais na cultura é um processo que contribui
paulatinamente para a perda do referencial histórico sociológico das comunidades
nativas. A apresentação cultural passa a se transformar numa encenação teatral, de
passos marcados e ritmos coordenados pelo desejo criado pelos visitantes. A cultura
popular transmuta-se em um referencial de fetiche cooptado, num elemento de
consumo, de necessidade turística.
Dos impactos negativos atribuídos pelo turismo à cultura tradicional citamos:
a comercialização ou degeneração das artes e do artesanato e a comercialização
de cerimônias e rituais da população anfitriã” COOPER (2001, p. 202). Estes
aspectos estão diretamente relacionados ao tipo de produto turístico que se explora
em uma determinada localidade. Não só o turismo em si pode se tornar um
poderoso acelerador das desconfiguração cultural como também as atividades
acessórias que o cercam, imbuídas pelo sucesso econômico.
Uma melhoria na forma de consumo gerido por uma significativa melhoria na
conjuntura econômica já se apresenta como um aspecto capaz de proporcionar
impactos socioculturais. Cooper afirma que “qualquer forma de desenvolvimento
econômico irá, por definição, carregar consigo implicações para a estrutura social e
para os aspectos culturais da população anfitriã” COOPER (2001, p. 203).
Todos os componentes culturais vão na contramão da ideologia de
sustentabilidade sociocultural, esta “assegura que o desenvolvimento aumenta o
controle das pessoas sobre suas vidas. É compatível com a cultura e com os valores
da comunidade, mantém e reforça a identidade comunitária” SOUZA (2000, p. 135).
Ao passo que prega o reforço pela identidade coletiva perde-se parte da cultura
90
autóctone. Não se deve esperar que os atores sociais que visitam e que
“consomem” a cultura popular tradicional não interfiram porque a eles é dada uma
impressão errônea de que tudo é factível e possível, como se os agentes culturais
locais fossem meros marionetes culturais, manipulados pelos interesses econômicos
e não pelo desejo de se apresentar como elemento diferencial e indissociável da
tradição popular e natural.
É verídico acreditar que a cultura deve e tem que evoluir na medida em que a
sociedade evolui conjuntamente. Mas, se utilizar de mecanismos que desfiguram e
divergem da autenticidade cultural é uma tentativa singular de adaptação e
pasteurização dos elementos culturais de uma comunidade.
A atividade turística sabe explorar a cultura popular de determinado local, em
contrapartida descarta completamente aquela que não atende ao fetichismo do
consumo turístico. O sentido que se faz nesta altura é que a atividade turística
trabalha da mesma forma que o processo de seleção natural dos indivíduos: as
manifestações ditas “vendáveis” são trabalhadas pelo setor e largamente
exploradas; já aquelas que não atendem aos anseios corporativistas são
descartadas e, em alguns casos, podem significar o fim de uma cultura tradicional
em uma comunidade que tinha por aquela manifestação um carisma, mas, que já
não interessa a mais ninguém.
Segue um dos grandes axiomas do turismo: o turismo só será bom para o
visitante se for bom para a comunidade local. O que o povo apresenta, lembra e
relembra (aquilo que esta arraigado na memória popular) será apresentado ao
visitante com muito prazer.
91
8.1. Sob o domínio das ideologias empresariais.
Em todos os grandes destinos turísticos é comum se presenciar diversas
apresentações de grupos que se autodenominam folclóricos, ícones representativos
da cultura e dos costumes locais. Mas, até onde podemos considerar tais grupos
como sendo estritamente folclóricos?
Atualmente a quantidade de grupos representativos da cultura popular
decresceu muito, basicamente condicionados não pela enorme demanda existente
por apresentações nas mais diversas ocasiões e situações, mas, por questões
sociais e educacionais, quando as pessoas passaram a ver televisão à noite,
deixando de brincar nas ruas e estudando no período noturno em escolas e
universidades. Feiras e eventos empresarias ou desportivos, mostra de arte e
cultura... atualmente existe uma infinidade de possibilidades onde estes grupos que
continuam a se apresentar podem ser encontrados. Seja cumprindo com uma
agenda pré-estabelecida, seja como atração principal contratada pelos
empreendedores do mesmo evento. Exemplo disso esta no produto turístico do
Havaí, o qual, segundo CARLOS (2001), todos os passos dos turistas são
cronometrados, desde a chegada até os passeios e visitas feitas a locais históricos,
das praias até o por do sol, tudo é muito bem planejado, não dando espaço para
qualquer tipo de atividade fora do seu devido espaço-tempo. São exemplos como
este que ilustram muito bem a magnitude que se esta alcançando no tocante a
exploração do turismo internacional. Com a globalização dos mercados, o turismo
acaba sendo um catalisador dessas atitudes, acelerando o processo de
pasteurização da cultural de cada nação, inclusive a de países considerados de
92
terceiro mundo como o Brasil.
O que se tem hoje no Brasil, na verdade, são muitos grupos denominados
“parafolclóricos”. Não são pseudo-representações da cultura popular. São, de fato,
grupos que sofreram um processo de resgate da cultura que os antecedeu, porém,
acrescidos de uma nova roupagem. Novos adereços, coreografia e até mesmo novo
sentido de se manifestar, este perdido a muito, resguardado apenas em livros que
narravam a busca de seus antepassados pela defesa da cultura repassada de
geração a geração.
Brandão (2001) afirma que esta prática pode estar mascarada de um sentido
muito aquém do anteriormente proposto: o símbolo que aquela representação
cultural denota estaria misturada ao cunho político, onde “a manipulação de pessoas
e grupos introduzem nos rituais e nos trabalhos folclóricos de outra qualquer
natureza interesses extra-folclóricos” BRANDÃO (2001, p. 99). A relação de tentativa
de domínio social (de superioridade de uma cultura em relação a outra) se processa
na medida em que se tenta transmitir a superioridade de um determinada cultura ou
manifestação cultural em detrimento de outra.
As influências que estas manifestações “parafolclóricos” repassam permite a
mudança de um ou mais dados que foram os pioneiros na determinação desta ou
aquela manifestação. Ainda segundo Brandão (2001), os mundos do turista e do
nativo não se tocam, mas as culturas sim.
Ocorre uma espécie de nova forma e conformação da cultura. Ela se
desprende dos laços que a criaram, passa pela criação dos empreendedores
turísticos para que fique mais bem vista aos olhos dos visitantes, assume um papel
de hospitaleira e acessível aos turistas que se arriscam a trocar uns passos com os
93
dançarinos e artistas locais. A autenticidade é deixada em segundo plano para
atender, em primeira mão, aos anseios dos visitantes e, em segunda mão, aos
empresários que patrocinam as mudanças.
8.2. Alguns casos de impacto na cultura fomentados pelo turismo.
Dizer que a transformação da cultura ocorre sem que antes se apresente um
caso não é tarefa difícil. Dos vários exemplos que podem ser enumerados tomemos
como base dois que podem ser bem observado sob dois aspectos bastante
similares, sob a ótica do turismo. Um a nível nacional (carnaval no Rio de Janeiro) e
outro a nível regional (São João em Campina Grande).
A priori, devemos dizer que o carnaval carioca se tornou um dos maiores
espetáculos da terra, já consagrado em muitos países como um dos maiores
eventos do planeta. A apresentação das escolas de samba atrai turistas de todo
mundo, envolvidos pelos ritmos carnavalescos e pela ostentação dos adereços, das
performances e seguindo o embalo do enredo de cada escola de samba.
Tamanha é a preparação para o carnaval carioca que muitas escolas estão
vendendo suas fantasias custando até R$ 5.000,00 antecipadamente. A maior parte
dos turistas estrangeiros que desejam adquirir as fantasias no dia do desfile da
escola pode pagar até o dobro desse valor.
O carnaval do Rio de Janeiro tornou-se um negócio tão lucrativo que de
autêntico nos desfiles só restou a data dos festejos de momo, nada mais.
94
FOTO 23: Desfile da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense
Fonte: Revista Você S.A. - 2001
A outra manifestação cultural selecionada pode ser apreciada na cidade de
Campina Grande, conhecida como a Quadrilha Junina. No período que compreende
os festejos juninos fica explícita a transformação da antiga quadrilha matuta em
produto de apreciação turística. A quadrilha junina assumiu novo formato. As roupas
dos integrantes receberam uma padronização e, tamanha é a quantidade de
adereços nas roupas das mulheres que algumas chegam a pesar mais do que o
normal para um adereço que é utilizado apenas um mês do ano.
Nos anos seguintes as novas roupas têm formato e tons totalmente
diferenciados. Em relação ao gasto feito por participante para dançar na quadrilha,
uma dessas roupas chega a custar cerca de R$ 1.000,00, um preço tão alto nos leva
a acreditar que somente pessoas da elite, das classes mais altas é que detém poder
aquisitivo para participar da apresentação.
95
FOTOS 24 e 25: Quadrilha Junina de Campina Grande
Fonte: PBTUR
Este fato comprova como a cultura popular (ou do povo) foi resumida ao
alcance de uma seleta minoria que pode desembolsar tamanha soma para fazer
parte do festejo junino e apresentar-se frente aos turistas que a contemplam.
Quanto a música que embala os participantes, ainda se conserva o velho
forró nas letras de Luís Gonzaga, não fosse pelo ritmo frenético com que os
participantes são conduzidos, levados pelo embalo extremamente rápido, para que
não se perca tempo na apresentação, já que muitas outras apresentações ainda
estão aguardando a sua vez.
Já em muitas cidades interioranas da Paraíba (como São João do Rio do
Peixe, por exemplo) ainda é possível se ver as quadrilhas juninas tradicionais, onde
os integrantes são vestidos com roupas todas diferentes, confeccionadas pelas
próprias costureiras da comunidade, levados pelo som do zabumba, da sanfona e do
triângulo, o autêntico forró pé de serra, na linguagem do matuto do sertão.
Coordenados pelo representante da quadrilha tem início a exibição. Enquanto os
tocadores dedilham seus instrumentos e se harmonizam para o prazer do povo que
96
os assiste, o coordenador empreende um esforço quase que sobre-humano
enquanto entoa aos berros, para se fazer ouvido pelos integrantes, a ordem para o
próximo passo.
Outro exemplo marcante pode ser apontado como o carimbó na cidade de
Soure, localizado no estado da Amazônia. O carimbó é tido como uma forma de
lazer de seu povo, que há muito tempo brinca e se diverte com esta dança no tempo
livre,
No entanto, através da atividade turística, podemos perceber algumas
modificações com o carimbó de Soure: ele agora já não é dançado nas festas
da comunidade, e sim realizado nos salões dos hotéis ou em festivais
programados; o lazer do ´caboclo` já é agora trabalho, pois dança para
ganhar dinheiro; o ritmo torna-se rápido; os turistas são chamados a
participar (FIGUEIREDO In: LEMOS, 2001, pg. 219).
O fator limitante da influência do turismo nas manifestações culturais pôde ser
descoberto através de observações relativas ao tipo de produto que a Paraíba
atualmente vem comercializando para o turismo. Nas cidades de João Pessoa e
Campina Grande (as duas principais cidades do estado onde o turismo é mais
expressivo) observa-se uma comercialização do produto turístico mais expressiva
que no resto do estado. Conseqüentemente, a demanda pelas apresentações dos
grupos culturais locais é maior, diferentemente dos grupos do interior do estado. Não
havendo um produto genuinamente preparado para o turismo no interior do estado,
as manifestações localizadas além da cidade de Campina Grande resguardam suas
características natas, verdadeiros ícones da autenticidade cultural do estado. Em
alguns bairros de Campina Grande, quadrilhas que não participam das
apresentações no Parque do Povo dispõem de trajes juninos bem diferentes
daquelas que se apresentam. Fica claro então a situação do São João naquela
97
localidade como uma expressão de não-lugar, onde o agente cultural é obrigado a
se apresentar e representar para um público de turistas que visitam o destino.
A ação de fomento do turismo no estado vem consolidando-se ano após ano,
sofrendo uma tendência de avanço para o interior. Essa tendência esta sendo
explorada tendo em vista que o turismo, na personificação dos empresários, está
procurando por novos produtos, diferenciados dos demais estados. E esta
diferenciação de cada estado nordestino fica localizada no interior de seu estado. O
futuro produto turístico diferencial e competitivo da Paraíba está localizado no sertão
e cariri paraibano, onde as influências na cultura local se farão sentir dentro em
breve.
8.3. Produto de consumo turístico.
De diversas formas o turismo pode se utilizar da cultura popular para
tangenciá-la a seu favor. O gráfico a seguir mostra precisamente como o impacto
cultural possibilita a transformação dos componentes culturais em produto de
consumo turístico, ocasionando a perda da autenticidade cultural e da importância
social quanto à valorização das raízes e da memória popular.
A área vermelha representa a cultura popular, com seus costumes e suas
formas de ser, originárias desde os primórdios de sua construção. Cada elemento é
único e característico da região que o percorre, como as danças, os trajes, os
costumes e toda cerimônia.
98
Gráfico 05 – Cultura de consumo turístico
Fonte: Bruno D. Muniz de Brito
Na parte verde temos a atividade turística, formada por sua estrutura de oferta
e demanda econômica, fruto do planejamento e da exploração sócio-cultural que a
deixa imbuída por uma necessidade de consumo e de contemplação dos recursos
naturais e culturais de determinada região.
A partir do momento em que ocorre a fusão dessas duas atividades, temos a
chamada cultura de consumo turístico, onde demandantes da cultura e dos recursos
culturais e ofertantes da tradição e das manifestações se encontram, coexistindo em
um mesmo espaço por períodos curtos de tempo, mas, de significativo valor
agregado. Isso porque na medida em que vão se aproximando vai se dando um tipo
de comunhão (ou impacto) ideológica responsável pela transformação cultural. Os
desejos e as motivações que são formados pelos demandantes do turismo, no caso
os turistas, procuram ser supridos por uma exposição da cultura local através dos
grupos folclóricos. Pode-se observar que os grupos procuram inserir em seu
costume novos hábitos visando assim permitir que o turista possa participar da
brincadeira, como um recurso de animação turística.
99
Beni (2001) ressalta, com relação ao subsistema cultural do Sistur, que “os
recursos turísticos culturais são, pois, os produtos diretos das manifestações
culturais” BENI (2001, p. 86). A partir daí as manifestações culturais adquiriram as
características de produto turístico. Um caso desse tipo pode ser visto a partir dos
anexos deste trabalho, onde temos as tradições populares transformadas em
atrativos para os turistas, como o São João em Campina Grande, os folguedos
populares espalhados por todo país e o carnaval carioca, expoente máximo da
massificação e da transformação cultural para atrair um número cada vez maior de
turistas de todo mundo.
Em João Pessoa, a PBTUR em se esforçando para continuar a vender seu
produto turístico alicerçado em apresentações promovidas nos períodos de alta
estação para os turistas, como pode ser visto no panfleto em anexo do evento Vem
Viver a Paraíba. Não só neste, mas, em diversos outros eventos como é o caso do
IX FENART (Festival Nacional de Arte), onde se encenam peças, grupos e
manifestações tradicionais para a contemplação não só do público local, mas dos
turistas que visitam a ocasião.
As manifestações culturais e o folclore local ganharam, de acordo com Beni
(2001), um caráter de meros animadores do turismo: “A finalidade da animação
turística cultural é envolver o turista de tal maneira que ele possa atender sua
necessidade de viver algo diferente, um sonho, uma ilusão” BENI (2001, p. 91).
Dessa forma, as manifestações culturais e toda sua representatividade
tornaram-se mercadorias à venda para os turistas, atendendo a uma espécie de
sonho de consumo destes últimos.
Beni (2001) acredita que está transformação das manifestações culturais em
100
produto gera uma série de impactos socioculturais nas comunidades receptoras de
turismo, chegando ao ponto extremo de provocar total desencanto ou desilusão,
identificado pelo autor em cinco estágios de acordo com a seqüência: “euforia /
apatia / imitação / antagonismo / falta de interesse em transformar-se” BENI (2001,
p. 92). Este aspecto remete-se diretamente ao folclore local, agregando diversas
conseqüências negativas, sob todos os aspectos, que tal influência cultural sofre por
força do turismo.
8.4. O turismo e a construção do não-lugar cultural.
Apoiando este aspecto, Carlos (2001) vai de perfeito encontro aos ideais
mencionados, quando esta afirma que “a indústria do turismo transforma tudo o que
toca em artificial, cria um mundo fictício e mistificado de lazer, ilusório” CARLOS
(2001, p. 26). De fato, nada que o turista vê em uma grande destinação turística
pode ser apresentado a ele como “cultura local”. De qual localidade? Como se pode
garantir que esta cultura não pertença ao simulacro?
A esse respeito Carlos (2001) salienta que “é nesse caso que o produto da
indústria turística [...] produz simulacros ou constroem simulacros de lugares
CARLOS (2001, p. 29). A autora considera que essa é a era da simulação que “vai
desse modo eliminando quaisquer referências ligadas à vida humana” CARLOS
(2001, p. 30). São os ícones conhecidos como não-lugar. A referida expressão é
largamente utilizada por MOLINA (2003) e por RODRIGUES (1997), constituindo a
definição exata para estas localidades denominadas de não-lugar.
101
Em muitos casos os produtos da cultura dita “autêntica” são comercializados
até fora das simples fronteiras nacionais, dos limites considerados toleráveis para o
consumo.
Estão ai os megaresorts como exemplo de mecanismos esmagadores da
cultura local e do caráter identificador da identidade de uma região. Os mega
empreendimentos são considerados, na visão de Dodson (2001), como pastiche,
simples cópias da realidade anteriormente transfigurada para atender ao consumo
do turismo. A esse respeito Dodson (2001) afirma que “a comercialização dessas
áreas históricas e a substituição dos estilos de vida ´autênticos´ são [...] uma
tentativa óbvia de atrair turistas utilizando uma vitrine superficial de tradição
DODSON (2001, p. 213).
102
103
9. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
As manifestações populares sempre tiveram seus períodos próprios para se
apresentar, seja no ciclo natalino, no ciclo junino ou na folia de momo. As
apresentações compreendem um momento único que era muito esperado pela
comunidade todo ano.
Eram feitos muitos preparativos nos momentos que antecediam as
brincadeiras do côco de roda, da ciranda, do boi de reis, dos desfiles das tribos.
Centenas de pessoas se aglomeravam para ver o acontecimento, porque esperavam
o ano inteiro para ver a lapinha se apresentar ou a Nau dar inicio às suas aventuras.
9.1. Ocasião de encenação das manifestações
Atualmente as manifestações são apresentadas, em sua maioria, atendendo
a convites, como bem mostra o gráfico 06. O grande aumento na procura por
tradições populares como diferencial em cada eventualidade é que se configura
como o primeiro de uma série de agentes transformadores da cultura popular local.
Segundo afirma mestre Piralinho do Boi de Reis “é melhor a gente brincar com gosto
quando tem muita gente do que ter que se apresentar para poucas pessoas nos
mesmos lugares de sempre”. Isto prova que muitos grupos estão propensos a se
apresentar apenas atendendo a convites.
O tempo social do grupo (isto é, o período em que o folguedo deveria se
apresentar tradicionalmente) foi relegado a uma pequena parcela de 10% no
montante das apresentações feitas todos os anos.
104
Ocaso em que são encenadas as manifestações
culturais
20%
50%
10%
20%
Ensaio espontâneo
Convites
Períodos próprios
Todo mês
Receberam convites para se apresentar
90%
10%
SIM
O
Gráfico 06 – Quando são encenadas as manifestações
Fonte: Pesquisa direta
9.2. A demanda turística pela cultura popular local
A cultura popular na grande João Pessoa vem sendo explorada turisticamente
há algum tempo, sobretudo para atender a diversos convites feitos tanto por órgãos
públicos quanto privados, entidades e instituições, universidades e associações.
Dos grupos entrevistados na pesquisa apenas o Côco de Roda de Forte
Velho é que não vem recebendo convites para se apresentar em locais fora do seu
período próprio.
Gráfico 07: Grupos que receberam convites para se apresentar
Fonte: Pesquisa direta
105
Locais onde os grupos mais se apresentaram a convite
16%
14%
6%
8%
16%
8%
14%
18%
Praia
Hotel
Congresso
Festival
Eventos
Festa Religiosa
Ponto Turístico
Colégio
Isto se dá pelo fato do folguedo ser localizado em uma área pouco conhecida
e procurada turisticamente, o que leva a crer que as apresentações somente sendo
levadas a cabo no período próprio não possibilitem aos poucos visitantes daquela
região do município de Santa Rita apreciarem e comentarem sobre o côco de roda
do local. “A gente gosta de dançar, só que o povo daqui [Forte Velho] não dá muito
valor”, é o que afirma dona Marlene do côco.
9.3 Principais locais de apresentação dos grupos
O gráfico 08 ilustra quais os principais locais onde os grupos estudados já se
apresentaram.
Gráfico 08 – Locais das apresentações dos folguedos a convite
Fonte: Pesquisa direta
Somando as porcentagens de todos os locais que se constituem como
predominantemente turísticos (praia, hotel e ponto turístico) ou ainda que
encontram-se em pontos específicos de fluxo turístico (congresso e eventos), temos
64% dos locais das apresentações voltados para o atendimento da demanda
turística que está sendo gerada.
106
O que podemos concluir com isso é que a grande maioria de apresentações
que vêm sendo feitas na região de João Pessoa estão atendendo ao mercado
turístico local. Em termos estimados, se estiverem agendadas 10 apresentações na
grande João Pessoa, pelo menos 6 delas serão em locais voltados para o turismo.
Mestre Mané Baixinho, da Ciranda do Sol, diz que “
9.4. A busca pelo diferencial na grande João Pessoa
A procura sempre incessante pelo diferencial na grande João Pessoa vem
causando sérios impactos na cultura popular, sobretudo em aspectos fundamentais
como a indumentária e o tempo social de cada grupo. Motivados pelo desejo de
obtenção de reconhecimento e, algumas vezes, remuneração da parte de quem os
convida, alguns grupos estão apresentando suas brincadeiras apenas com alguma
garantia de retorno financeiro ou mesmo logístico, como transporte e alimentação.
Isto ocorre porque esta ficando cada vez mais difícil manter todo o grupo reunido nas
atuas condições de vida de cada participante. Não são todos que recebem um apoio
financeiro sempre que se faz necessário o conserto ou reparo de algum material ou
instrumento daqueles que precisam da música natural (e não eletrônica) para
brincar. No gráfico 09 podemos entender melhor tal situação.
107
Manifestações culturais que recebem incentivo
financeiro para se organizar
30%
70%
RECEBEM
NÃO RECEBEM
Tipo de auxílios mais recebidos pelos grupos,
atendendo a convites
25%
30%
45%
Cac
Alimentação
Transporte
Gráfico 09 – Grupos que recebem incentivo financeiro
Fonte: Pesquisa direta
Pelo fato de não receber algum incentivo financeiro, a maioria dos grupos
estão propensos a aceitar convites que lhes propiciem algum retorno palpável, seja
pelo simples desejo de brincar e ser valorizado, seja pelo desejo de obter algum
beneficio para, ao menos, tornar o ato de brincar em locais turísticos uma fuga da
rotina e do reconhecimento de seus esforços.
O atendimento a convites para todos os tipos de eventualidades é feito
mediante o acerto da combinação de três elementos necessários (juntos ou em
separado) à realização do folguedo. São eles: Alimentação, transporte e cachê. O
gráfico 10 revela-nos qual é a proporção de cada um deles para o universo dos
grupos pesquisados que recebem convites.
Gráfico 10 – Auxílios recebidos pelos grupos à convite
Fonte: Pesquisa direta
108
Dos grupos pesquisados, que atendem a convites, o que mais se recebe é um
auxílio por meio de transporte para deslocar todos os participantes do folguedo até o
local da apresentação. Em seguida é oferecido aos participantes um pequeno lanche
logo após o término da apresentação. Apenas poucos grupos já receberam cachês
pela apresentação, isto porque aquele que convida é quem disponibiliza todo o
apoio logístico. O valor do cachê chega, em média, a ser de R$300,00.
Somente alguns coordenadores de manifestações culturais é que solicitam o
cachê de forma acertada e prévia. Entre eles destacamos o Boi de Reis, o Cavalo
Marinho, a Tribo Indígena Pele Vermelha, o grupo parafolclórico do Sesc e o Côco
de Roda Mestre Benedito. Os demais não fazem nenhuma exigência quanto à
questão de cachê, mas, somente do suporte logístico.
9.5 A indumentária dos grupos
Muitos desses grupos (por força do crescimento da demanda) sentiram a
necessidade de consertar ou até mesmo modificar seus trajes por motivo dessas
apresentações. O desgaste dos materiais, dos adereços, a renovação dos grupos
(ingresso de novos brincantes) e de demais itens necessários à realização das
manifestações sempre fizeram com que se modificasse parte de sua indumentária
para que fosse mantido o espírito do folclore local, como esta no gráfico 11.
Como afirma dona Erotilde, da Lapinha Jesus de Nazaré, “fica mais bonito de
se ver a cada ano uma roupa mais bonitinha e diferente. Assim, todo mundo se
empolga mais pra assistir”.
109
Quando recebe o convite, usa o mesmo
traje?
80%
20%
SIM
O
Manifestações que modificaram seus tra
j
es
nos últimos anos
80%
20%
MODIFICARA M
O MODIFICA RA M
Gráfico 11 – Questão sobre o traje dos grupos
Fonte: Pesquisa direta
A cultura é viva e esta sempre em constante movimento, agindo de forma
dinâmica e sempre em busca de se manter viva nos olhos e na memória do povo.
Faz-se necessário modificar certos itens que, por ventura, tiveram a sua vida útil
atingida e são necessários de serem trocados para a continuação do folguedo.
Assim, o gráfico 12 ilustra bem esta perspectiva.
Gráfico 12 – Manifestações que modificaram seus trajes
Fonte: Pesquisa direta
O que se deve atentar nisso é que o motivo pelo qual se modifica a
indumentária das manifestações não deve estar direcionado por desejos e
aspirações corporativistas. Não se deve fazer da nossa cultura paraibana um
110
Ocasião em que são renovados os tra
j
es dos
grupos
40%
10%10%
40%
Período próprio
Convites
Todo mês
Outros
produto, com um rótulo atraente e chamativo e um conteúdo que deixa a desejar em
termos de originalidade e autenticidade.
9.6 Ocasião em que são renovados os trajes
A seguir, temos bem definidas as ocasiões em que são renovados os trajes
dos grupos no gráfico 13. Boa parte dos grupos deixa para renovar seus trajes de
ano em ano, que é quando eles devem se apresentar nos seus períodos próprios e
brincar com um novo estilo de roupa ou um novo modelo, como é o caso mais
comum da Lapinha Menino Jesus de dona Erotilde, das tribos indígenas e do grupo
parafolclórico do Sesc.
Gráfico 13 – Ocasião em que os trajes são renovados
Fonte: Pesquisa direta
Esta explicação deve ser entendida como parte das respostas ao item
“outros” que compõe 40% das ocasiões em que os trajes são renovados.
Na grande parte dos convites que são feitos os grupos cuidam de acertar
apenas alguns detalhes ou apenas simples acertos nos trajes ou em algum item que
mereça maior atenção.
111
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
1h 1h 30m 2h 3h
Duração média das apresentações X porcentagem dos grupos
(brincando na rua) a tempos atrás
Tempo
9.7. Tempo necessário para as apresentações
Muitos grupos folclóricos brincavam a noite toda, revezando seus ritmos,
passos e formas para celebrar os mais diversos momentos a que cada um esta
relacionado. Porém, quando recebem algum convite é preciso se enquadrar nos
desígnios daqueles que os convidam. Brincadeiras que duravam noite adentro agora
precisam se estruturar em intervalos de eventos (o chamado coffee break = parada
para cafezinho), servir como atração em locais e pontos turísticos e em situações as
quais se faça necessária a presença destes grupos.
O gráfico 14 apresenta qual era o tempo médio necessário para que as
manifestações pesquisadas se apresentassem da forma que sempre fizeram
tradicionalmente.
Gráfico 14 – Duração das apresentações
Fonte: Pesquisa direta
Muitos grupos precisam de uma hora, outros de duas, alguns de três horas.
Existem casos em que os folguedos levavam a noite inteira para se apresentar
112
completamente, como exemplo o Cavalo Marinho de João do boi e a Nau Catarineta
de Cabedelo. Mestre João do boi diz que “antigamente nos brincava a noite toda,
sem pará pra nada... Era a maior festa na rua da gente”.
De fato, é necessário pelo menos uma hora para que um grupo possa brincar
e se apresentar de maneira decente, mostrando a riqueza da cultura popular
paraibana e brasileira confortavelmente e dentro dos princípios que sustentam cada
manifestação cultural.
No entanto, o tempo é um bem que deve ser muito bem aproveitado,
sobretudo porque os eventos em turismo precisam atender a um cronograma
previamente estudado e aplicado. Além disso, os turistas chegam com muita
vontade e disposição em conhecer o máximo da localidade onde estão visitando,
apreciando todas as belezas de maneira muito rápida e dinâmica, consumindo as
paisagens com suas máquinas e guardando em seus filmes parte do local que não
puderam apreciar com mais calma.
Assim também é na cultura popular. A velocidade com que os turistas
desejam ver o destino que estão visitando se reflete em parte dos agentes sociais da
localidade, de maneira vertiginosa, a cultura é condicionada ao aceleramento das
suas apresentações, estilizando os padrões, condensando parte de seus elementos
autênticos em espetáculos para as massas de visitantes, frenéticos pelo início, auge
e fim das encenações culturais para que, logo mais, a sua vontade de apreciar cada
vez mais do local possa ser maximizada. Guarda-se na memória apenas a
superficialidade das apresentações, não marcando nem disseminando a autêntica
cultura popular paraibana.
Através do gráfico 14 é possível encontrarmos essa realidade. Em
consonância com os modelos de exploração turística, as manifestações da cultura
113
10
min
20
min
30
min
0%
10%
20%
30%
40%
50%
Duração média das apresentações X porcentagem dos grupos
(em eventos e locais tusticos) hoje
Tempo
popular são (diretamente) induzidas a maquiar seus costumes para o deleite de
alguns turistas em visita à grande João Pessoa.
Gráfico 15 – Duração das apresentações em eventos
Fonte: Pesquisa direta
As apresentações chegam, no máximo, a durar 30 minutos em 40% das
apresentações que os grupos já fizeram. A grande maioria, 50%, responde por um
período de tempo ainda menor: 20 minutos. Somente em 10% dos grupos é que a
apresentação leva 10 minutos. Percebemos com isso que a atividade turística é,
indubitavelmente, causadora de transformações na cultura de um destino turístico.
Pondo em estudo o gráfico 14 e o 15, observamos como essa influência se processa
no tempo de duração das apresentações do grupo.
Essa parece ser uma condição fundamental para que o turismo se utilize da
cultura, adequando o tempo disponível de preparo e dedicação do grupo a pouco
mais de 30 minutos de evolução, sem deixar mais do que um pequeno resíduo da
identidade cultural do destino turístico.
114
9.8. Cultura popular e Turismo responsável
Um dos instrumentos legais que já foram criados para proteger a cultura de
agentes depreciativos ou descaracterizadores da cultura tradicional local esta
constituído sob força de lei, presente no artigo 215 da constituição nacional,
parágrafo 1. O mesmo afirma que é obrigação do Estado proteger as manifestações
culturais, indígenas e afro-brasileiras do processo civilizatório. Porém, até que ponto
a proteção está, de fato, sendo levada a sério?
No momento em que o país atravessa diversos solavancos econômicos e que
a renda do trabalhador mal atende à suas necessidades básicas, um mínimo que
seja de recurso financeiro a mais no orçamento pode chegar a decretar o fim da
autenticidade de um folguedo popular, sobretudo porque as comunidades que
abrigam as manifestações são carentes em demasia em infra-estrutura, saúde
pública, segurança, lazer e habitação. Pelo menos uma parte dos líderes dos grupos
folclóricos da grande João Pessoa moram em bairros pobres, dentro de favelas,
trabalhando em serviços simples e sem valorização profissional por parte dos
empregadores.
São condições tais que fica difícil entender (apesar de ser uma questão de
admiração) como mantiveram sua autenticidade guardada por tanto tempo. Isto
acaba por suscitar outra questão: Por quanto tempo estarão mantendo parte desta
autenticidade sem que os interesses econômicos e turísticos falem mais alto?
De fato, são questões que requerem uma maior atenção de órgãos e
instituições que lidam com a cultura como FUNJOPE, FUNESC e PBTUR.
Com relação a última questão existente no questionário de pesquisa,
relatamos que há uma grande propensão de boa parte dos grupos em modificar
115
Se recebesse um pedido para deixar seus
tra
j
es mais vistosos, inserir novassicas e
novos aderos, aceitaria?
40%
60%
SIM
O
seus aspectos culturais autênticos. Na verdade, o que os leva a desejar essa
“adequação” de parâmetros e de customização de aspectos culturais reside no
mesmo motivo que os leva a atender suas necessidades de complemento de renda:
dinheiro.
Gráfico 16 – Montante dos grupos que aceitariam modificações culturais
Fonte: Pesquisa direta
A maior parte dos lideres dos grupos entende que a cultura deve ser
preservada, tratando-se de uma riqueza autêntica e que não deve ser desfigurada
para atender aos apelos capitalistas do mercado turístico. Deve ela ser forte e
marcada por traços que possam sempre diferenciar uma cultura da outra, com suas
particularidades e princípios distintos dos demais folguedos nacionais.
Esta proporção, apesar de ser superior ao montante daqueles que aceitaria
mudanças, esta perdendo espaço para muitos grupos que vêem no turismo uma
maneira de obter valorização, reconhecimento e um aumento de renda por meio da
cultura popular.
116
117
118
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme o exposto, podemos considerar que o fenômeno turístico é um forte
agente de transformação das manifestações culturais devido, principalmente, ao
crescimento da demanda gerada pelo turismo, motivado por novas formas de se
conhecer as culturas diferenciadas do destino turístico João Pessoa.
Não se pode dizer que o turismo, isoladamente, é o único agente de
transformação da cultura. Há ainda outros componentes que podem funcionar como
elementos facilitadores da modificação. A massificação da cultura pelos meios de
comunicação e as necessidades econômicas vividas pelos brincantes que compõem
as manifestações culturais (frente à realidade do turismo no estado da Paraíba, que
promete ser um grande gerador de emprego e melhores condições de renda para a
população) são os principais aspectos que se comprovam nesse sentido.
Percebemos que as manifestações parafolclóricos respondem por boa parte
das transformações culturais que estão ocorrendo em muitos dos grupos
pesquisados, influenciando e induzindo à transformação. A questão da flexibilidade
no tempo de apresentação das manifestações, da customização dos trajes e da
padronização dos estilos de música e dança são aspectos que tornaram-se normais
e comuns em apresentações parafolclóricas. A máxima “o cliente é quem manda
tanto se aplica ao grupo parafolclórico do Sesc que todas as condições para as
apresentações são ditadas pelo interessado em levar este grupo a qualquer
apresentação. Tipo de roupa, duração da apresentação, música natural ou
eletrônica, transporte, cachê e alimentação. Todas estas e muitas outras questões
podem ser definidas no ato do convite ao grupo. Esse modelo de organização
119
do grupo parafolclórico do Sesc faz com que os outros líderes de grupos procurem
organizar suas manifestações da mesma forma, sobretudo quando da apresentação
em eventos turísticos, onde um grupo nunca quer ser inferiorizado por outro, seja na
questão da organização seja na apresentação de seus brincantes.
Além disso, muitos elementos de customização podem ser identificados em
outras manifestações culturais. De maneira geral, estes elementos podem ser
aplicados e dirigidos a todos os grupos.
Começando pelo tempo social dos grupos, podemos concluir que todas as
manifestações não mais se apresentam apenas nos seus períodos próprios (isto é,
dentro da época que compreende os ciclos festivos como o ciclo natalino, o ciclo
junino e os festejos de momo). As apresentações podem ocorrer a qualquer período
do ano, atendendo a convites de interessados em levar os folguedos populares a
qualquer lugar, disponibilizando para isso o transporte, um pequeno lanche para o
grupo e, em alguns casos, uma quantia em dinheiro que representa o cachê cobrado
pelo líder do grupo. Sobre isso, já dizia Fontes (1982), a respeito do Boi de Reis:
este folguedo esta ligado ao ciclo natalino, sendo [...] as suas exibições levadas a
efeito a qualquer dia do ano, atendendo a convites de empreendimentos turísticos
FONTES (1982: 167). Atualmente, a situação se aplica a muitas outras
manifestações além do Boi de Reis.
Outro grande elemento de transformação das manifestações culturais
identificado é o tempo de apresentação dos grupos. Atualmente, para estar presente
em eventos e apresentações em locais de intenso fluxo de turistas os grupos
precisam reduzir o tempo da brincadeira para que não se torne uma apresentação
enfadonha e caia no descontentamento do público. As brincadeiras que antes
duravam 3 horas até a noite inteira (em muitos casos como a Nau Catarineta, o
120
Côco de roda, a Ciranda, o Cavalo Marinho e o Boi de Reis) tiveram que ser
encurtadas, com a finalidade de se enquadrar ao cronograma de visitação e
apreciação dos turistas em visita à capital paraibana.
Outro aspecto de customização de alguns grupos, observado em atividades
relacionadas ao turismo, está presente na indumentária dos grupos estudados.
Muitos deles, há pelos menos 10 anos, não tinham um padrão de roupas ou trajes
para se apresentar. As brincadeiras ocorriam com as próprias roupas do corpo,
sendo desnecessário que todos estivessem com um tipo de indumentária igual. Isto
pode ser facilmente observado com um mesmo tipo de folguedo popular constituído
por dois grupos de brincantes distintos: o Côco de roda de Forte Velho e o Côco de
roda Mestre Benedito. No primeiro, a oferta de uma padronização de suas vestes foi
oferecida ao grupo, sendo rejeitada por todos veementemente. Já no segundo, a
padronização dos trajes foi bem aceita e faz parte da “apresentação” daquele grupo,
estando eles sempre com trajes padronizados quando recebem o convite para
brincar.
O fato de que o grupo de côco Mestre Benedito recebe mais convites para se
apresentar do que o de Forte Velho nos leva a crer que a aceitação da padronização
dos trajes (por parte dos brincantes do primeiro folguedo) se dá devido ao intenso e
constante número de apresentações que são executadas em vários locais pela
grande João Pessoa. A demanda pelas apresentações do côco de dona Teca é
superior à do côco de Forte Velho. Daí, o pessoal de Forte Velho achar
desnecessária a padronização, já que o montante de suas apresentações não se
dirige a locais e eventos de caráter turístico. Eis um grande exemplo de como a
demanda turística pela cultura popular local pode influenciar na descaracterização
dos elementos autênticos da cultura popular.
121
Nas demais manifestações culturais autênticas não houve uma customização
do trajes dos brincantes, inclusive porque as condições econômicas dos líderes dos
grupos não permitem que se façam novos trajes todos os anos. Acontece apenas a
reforma dos mais antigos, sendo feitos reparos sempre que se sentir necessário.
A verdade é que o turismo não quer se mostrar sob uma ótica de algoz da
cultura popular, mas, procura criar uma visão pseudo-cultural de que todas as
manifestações estão bem constituídas e preservadas em um falso contexto de
tradição e preservação do patrimônio imaterial.
A perpetuação das manifestações como as conhecemos só poderá ser
efetuada mediante a ação planejada e coordenada de órgãos e pessoas
preocupadas em zelar pela cultura, a dignidade e a riqueza que as manifestações
culturais representam para todos.
É um desejo nosso que os interesses dos futuros e atuais bacharéis em
turismo se façam convergir para diversos elementos essenciais na manutenção da
sociedade e, por conseguinte, das pequenas comunidades e suas manifestações da
cultura autêntica. Zelar pelo patrimônio cultural e, em consonância com a utilização
sustentável do turismo, promover a exploração da atividade sem descaracterizar
seus atores sociais é garantia de uma herança mais rica e nossa, para nós mesmos
e nossos filhos.
122
123
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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indústria cultural. 4 ed. São Paulo: EDUSP, 1978, pg. 287-295.
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130
131
Anexo 1: Questionário de pesquisa monográfica
132
133
Anexo 2: Capa Isto É Gente
134
135
Anexo 3: Propaganda VASP
136
137
Anexo 4: Capa do Folder IX FENART / páginas internas
138
139
Anexo 5: Capa Caderno de Turismo / matéria de capa
140
Universidade Federal da Paraíba
Curso de Turismo
Pesquisa de Trabalho Monográfico:
As manifestações culturais e sua relação com o Turismo
na grande João Pessoa.
QUESTIONÁRIO
1. Nome do grupo:_____________________Tipo de manifestação:________________
2. Nome do(a) entrevistado(a):________________________ Apelido:______________
3. Endereço:___________________________Cidade:_______________UF:_________
4. Função ou atividade desempenhada:_______________________________________
5. Manifestação cultural em questão:_________________________________________
6. Papel do(a) entrevistado(a) na manifestação:_________________________________
7. Como surgiu a manifestação neste local?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
8. Quantas pessoas atuam nessa manifestação?
_____________________Homens ___________________________Mulheres
9. Recebe incentivo financeiro para organizar a atividade cultural?
( ) Não ( ) Sim De quem?_____________________
10. Com que freqüência a manifestação cultural é encenada?
( ) Ensaio espontâneo ( ) Apenas nos períodos próprios
( ) De acordo com convites ( ) Quase todos os meses
( ) Nunca ( ) Outros:______________________
11. Os trajes são renovados e, se são, com que freqüência?
( ) Apenas nos períodos próprios ( ) De acordo com convites
( ) Quase todos os meses ( ) Nunca
( ) Outros:___________________________________________________
12. Já ocorreu alguma mudança nos trajes nos últimos anos?
( ) Não ( ) Sim
No caso de afirmativo, por quê?_____________________________________________
141
13. Quem produz os trajes?
( ) O grupo ( ) A escola ( ) A comunidade
( ) O município ( ) Outros:____________________________
14. Os trajes tem haver com a religiosidade popular?
( ) Não ( ) Sim
No caso afirmativo, que santos atuam no contexto do grupo?
______________________________________________________________________
15. A comunidade participa?
( ) Não ( ) Sim
Em caso negativo, por quê?________________________________________________
Em caso afirmativo, quem participa?
( ) Criança ( ) Adulto ( ) Idoso
Obs.:__________________________________________________________________
16. Dos componentes, quem mais atua na manifestação?
______________________________________________________________________
17. Existe neste bairro outra manifestação como esta?
( ) Não ( ) Sim
Qual?__________________________________________________________________
18. Conhece alguma outra manifestação cultural neste bairro?
( ) Não ( ) Sim Qual?________________________
19. Conhece alguma manifestação cultural que tenha desaparecido nas proximidades?
( ) Não ( ) Sim Qual?________________________
20. Costuma receber convites para se apresentar em muitos locais?
( ) Não ( ) Sim De quem?_____________________
21. Quando recebe convite usa o mesmo traje?
( ) Não ( ) Sim De quem?_____________________
Em caso negativo, por quê muda?
___________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
22. Gosta de se apresentar em locais públicos?
( ) Não ( ) Sim
142
23. Em caso de “Sim” na questão anterior, em qual local?
( ) Praia ( ) Congresso ( ) Festival
( ) Hotel ( ) Ponto turístico ( ) Colégio
( ) Festa relig. ( ) Vaquejada ( ) Eventos
( ) Outro:____________________________________________________
24. Recebe algum auxílio quando se apresenta?
( ) Dinheiro ( ) Alimentação
( ) Transporte ( ) Outros Qual?________________________
25. Na ocasião, os trajes foram concertados ou renovados?
( ) Não ( ) Sim Qual motivo?__________________
26. Se recebesse um convite levaria esta manifestação até um local turístico?
( ) Não ( ) Sim Qual motivo?__________________
27. Se recebesse uma orientação para deixar seus trajes vistosos, para inserir novas músicas e
novos adereços aceitaria?
( ) Não ( ) Sim
Em caso afirmativo, por quê?
___________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
143
OBSERVAÇÕES FEITAS PELO PESQUISADOR:
a) A dança:_________________________________________________________
b) A coreografia:_____________________________________________________
c) A música (tipo):___________________________________________________
d) A vestimenta:_____________________________________________________
e) Adereços:________________________________________________________
f) Quantos componentes:______________________________________________
g) Duração da apresentação:___________________________________________
h) Instrumentos (quais):_______________________________________________
i) Idade dos componentes:_____________________________________________
j) Tipos de calçados:_________________________________________________
k) Tipo de som (natural ou artificial):____________________________________
l) O grupo é oficial ou organizado pela comunidade, sem interferência
doutrinaria:_______________________________________________________
m) Quem manda no grupo:
( ) Igreja ( ) Comunidade ( ) Prefeitura
( ) ONG ( ) Associação ( ) Artista
( ) Professor ( ) Idoso da comunidade
n) É um grupo religioso ou profano:______________________________________
o) Duração em eventos:_________________________________________________
p) Quem mais participa da manifestação
( ) Negros ( ) Índios ( ) Brancos
q) Ensaios espontâneos ou orientados por líder do grupo:_____________________
Observações in loco:
144
Anexo 6: Artigo 216 / Constituição de 1988 - República Federativa do Brasil
145
146
Anexo 7: Revista Isto É – Carnaval S/A
147
148
Anexo 8: Panfleto Vem Viver a Paraíba
149
150
Anexo 9: Matéria publicada em O Norte – Forró na Praia
151
152
Anexo 10: Folder de programação (Grupo Tenente Lucena – Sesc)
153
154
Anexo 11: Calendário de programação (Grupo Tenente Lucena – Sesc)
155
156
Anexo 12: Letra de uma das cirandas de João grande
157
158
Anexo 13: Folder de evento: Fórum de Turismo promovido pela Asper e FAP
159
160
Anexo 14: Mestre Gasosa do Cavalo Marinho (10 de fevereiro de 2002)
161
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