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Para Rattner (1999), a continuidade desse sistema é insustentável do ponto de vista
econômico, cultural, ambiental, social, político e, certamente, ético. Para argumentar essa
afirmação, o autor explica que
políticos e executivos corporativos insistem nas vantagens da concorrência em um mercado
global. Todos esses discursos ou modelos não explicam os paradoxos que caracterizam a
atual situação mundial: o PMB (Produto Mundial Bruto) passou da marca de US$ 25
trilhões, ao passo que nunca existiram tantas pessoas pobres. O conhecimento e as
inovações científicas e tecnológicas ultrapassam nossa imaginação, enquanto nunca
existiram tanta ignorância e superstição. Existem comida e bens materiais em abundância
para os quase 6 bilhões de habitantes da terra, entretanto, pessoas e animais perecem devido
à fome e à desnutrição. Com todo o nosso conhecimento baseado nas ciências naturais,
exatas e sociais, somos incapazes de atender ao crescente número de seres humanos que
estão se tornando desempregados, sem-teto e espiritualmente alienados (RATTNER, 1999,
p. 235).
Faria e Sauerbronn (2008) afirmam que as abordagens teóricas dominantes na área de
estratégia, apoiadas pela representação de structure-takers, conduzem à compreensão do ambiente
externo como “um domínio que deve ser controlado e dominado, de forma legítima, pela grande
empresa por meio do planejamento” (FARIA; SAUERBRONN, 2008, p. 26). Para os autores, é
nessa bagagem histórica que a abordagem estratégica da responsabilidade social se estabelece como
um mecanismo de tratamento de controle das pressões externas.
Nessa perspectiva, Parker (2002) reconhece que o movimento da ética nos negócios pode ser
visto como uma “colonização gerencial” dos projetos emancipatórios, voltado mais para a sua
própria constituição, pois não está em seu escopo questionar as deficiências políticas do
management e das organizações.
Atualmente, o significado da atuação socialmente responsável das empresas passa pela
importante figuração do setor empresarial na redefinição dos atuais paradigmas de desenvolvimento
econômico para um novo pacto social que vislumbre o desenvolvimento e o crescimento sustentável
e que demandará a coparticipação e a coprodução de bens públicos por diversos parceiros como o
Estado, as empresas e a sociedade civil.
De acordo com Boechat e Paro (2007), que apresentaram os resultados de uma pesquisa
sobre os desafios para a sustentabilidade e o planejamento estratégico das empresas no Brasil,
é nas principais características de seu negócio principal – sua atividade básica – e nas
estratégias desenvolvidas para ter sucesso neste negócio que se encontra a responsabilidade
primordial da empresa. Isto porque é nelas que reside a grande força motriz em torno da
qual se reunirão esforços e conseqüentes desdobramentos em seu sistema de gestão
(objetivos, metas, planos de ação, indicadores, mecanismos de recompensa, etc.), e é deles
que resulta, no final das contas, o impacto maior da empresa na sociedade. Se essa força
motriz aponta para uma direção oposta ao que se considera desejável para a
sustentabilidade, pouco efeito fará tentar neutralizá-la com ações compensatórias
periféricas (BOECHAT; PARO, 2007, p. 13).
Afirmando sobre a necessidade de uma visão integrada das dimensões econômicas,
ambientais e sociais e discorrendo sobre a necessidade da transição do modelo de gestão