Download PDF
ads:
Título
Pretos Pobres e Putas
Os Pês do Preconceito na Ética do Jornalismo Policial
Autora
Sirley Cardoso
DEDICATÓRIA
Dedicamos este trabalho a todas as pessoas que um dia já foram vítimas da violência
da imprensa. Em especial aos pobres, aos negros e às prostitutas.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente um agradecimento especial às jornalistas Aniele Nascimento e Rosana
Cláudia Alberti - minhas colegas da Faculdade de Jornalismo - que trabalharam na
pesquisa de campo e na pesquisa da literatura especializada; ao meu marido Roney
Rodrigues Pereira e ao meu filho Diego que sempre me incentivaram a escrever e ao
meu pai, João Batista Cardoso pela lucidez nas suas críticas.
PREFÁCIO
Escolhidos e excluídos
UMA VOCAÇÃO é uma questão de opção junto às habilidades próprias e junto à trajetória
que se procura na sociedade e para a sociedade. A rigor, é uma questão de valores capazes de
serem reconhecidos na personalidade de cada um no espaço profissional escolhido. Quando a
escolha é o jornalista aí então a questão dos valores é decisiva.
Não existe jornalismo legítimo sem opções legítimas. Isto é, sem profissionais capazes
de inteligência, senso crítico – e, principalmente coragem – direcionadas para o bem comum.
E aqui, quando se fala em coragem, é preciso que ela seja acompanhada de
discernimento, para colocar a força de uma profissão ao lado das ações necessárias à real
transformação dos fatos e, acima de tudo, junto a um autêntico serviço público prestado aos
cidadãos.
Jornalismo é a prática diária da inteligência e da coragem, dizia e fazia Cláudio
Abramo. No caso do presente trabalho, é preciso lembrar que junto disso se une à sensibilidade,
aliás, expressa a partir da escolha do tema e do tratamento dos conteúdos.
1
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
A autora já começa demonstrando um caráter que é determinante para a legitimidade da
profissão: uma função capaz de dar dimensão social à cidadania, principalmente àqueles sem e
sem vez.
O jornalismo autêntico é aquele que também é capaz de dar representatividade a esses
cidadãos que – por distorções e equívocos da própria sociedade – são os chamados excluídos.
Além disso, é bom ver profissionais que começam seu caminho sem medo das palavras
ou dos fatos, como atesta o título desta obra, que denuncia o estigma que pesa sobre as minorias.
Profissionais assim fazem parte, na verdade, daqueles raros, escolhidos pela inexorável
vontade de uma profissão indispensável à reflexão do nosso tempo. É desse modo que essa
profissão também faz suas escolhas e abre espaço para aquelescomo é o caso – chamados pela
verdadeira vocação.
No jornalismo brasileiro existe muita coisa a ser feita no caminho do diálogo, da
crítica, da opinião para a construção da democracia participativa, da qual este trabalho, mesmo
no âmbito acadêmico, já é um belo exemplo.
Antônio Strano Vieira
SUMÁRIO
I – APRESENTAÇÃO
Ética não é mordaça”
II – LIBERDADE DE IMPRENSA
Invasão da privacidade
III – PARADOXOS
Ética e jornalismo policial
IV – ESPETÁCULO DA VIOLÊNCIA
Noticiário vira show de entretenimento
V – OS PAPARAZZI
A morte de Lady Di
VI – A LINGUAGEM
Preconceito carrega nas tintas
VII – A RESPONSABILIDADE DA FONTE
Quando a imprensa não investiga
VIII – NOTÍCIA PRODUZIDA
Circo armado
IX – POBREZA DÁ CADEIA
O crime de ser pobre
X – MEDO DO LIMITE
Coisa de reacionário
XI – OS CÓDIGOS DE ÉTICA
2
ads:
Compromisso com a verdade
XII – OMBUDSMAN
Policiando os colegas da redação
XIII – FATO E VERSÃO
Credibilidade na mídia
XIV – FORA DO AR
Imprensa e cidadania
XV – ÉTICA “NA MARRA”
Desconhecimento das leis
XVI - RELAÇÕES PERIGOSAS
O caminho da fama
XVII – POBRES, PRETOS E PUTAS
Os pés do preconceito
XVII – REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS 90
APRESENTAÇÃO
Ética não é mordaça
ESTE ESTUDO é uma observação a partir de vários olhares sobre a atuação do
jornalismo policial em Curitiba. É uma análise do trabalho de apresentadores de
programas policiais exibidos no rádio e na televisão e das publicações nos jornais
impressos – a chamada imprensa vermelha.
Vários olhares porque constam neste trabalho, análises de profissionais da área
de comunicação que atuam ou não na cobertura policial; de advogados especialistas na
Ética da Comunicação; de criminalistas; de teóricos da Comunicação; de leitores
comuns e de algumas vítimas do escracho do noticiário sensacionalista.
A metodologia aplicada neste estudo está baseada em entrevistas realizadas nos
meses de agosto e setembro de 1997, e em análises de programas policiais de rádio, de
televisão e de publicações dos jornais Tribuna do Paraná e O Diário Popular, do
segundo e do terceiro bimestre do mesmo ano; e ainda, na compilação de literatura que
reuniu dezenas de consultas entre livros e publicações de artigos em jornais e revistas
brasileiras.
A linguagem usada no jornalismo policial da televisão, do jornal e do rádio em
Curitiba merece ser analisada do ponto de vista ético e estético. E quando falamos em
linguagem, estamos nos referindo, de forma global, sob os mais variados ângulos.
Sobretudo quando ela vem carregada de preconceito. Mas essa análise deve e pode
3
partir dos próprios jornalistas. É preciso colocar o dedo na própria ferida. E quando se
trata unicamente do noticiário policial, a questão ética acaba ficando para trás. Alguns
profissionais, outros nem tão profissionais, pré-julgam os envolvidos em crimes e
confusões, condenando-os publicamente, sempre em busca do sensacionalismo.
É preciso distinguir o dever de denúncia de um dissimulado desejo de chocar. O
jornalista Luiz Garcia (1990) lembra que ética não é mordaça, (...) O que a ética pede
não é menos notícia, mas melhor notícia: a informação correta, completa, digna”.
O trabalho da imprensa não pode ser confundido com programa de auditório. O
noticiário não é um show de notícias, um espetáculo. A divulgação apressada gera
dolorosas e irreparáveis injustiças.
O professor de Ética Jornalística da Faculdade de Comunicação Social Casper
Líbero, Carlos Alberto Di Franco (1994), diz que para o filão sensacionalista da
imprensa o que interessa não é a apuração dos fatos, “mas o marketing do escândalo”.
A retificação do erro cometido, sempre frágil e envergonhado, não consegue apagar o
mal produzido. Há uma forte desproporção entre o impacto da notícia falsa e a pálida
força da retificação.
Protegidos pela fachada do é proibido proibir”, muitos jornalistas defendem
que primeiro deve-se dar a notícia, na velocidade por ela exigida, depois, se for o caso,
repara-se possíveis erros ou equívocos. Mas independentemente do elementar dever de
reparar o erro, é necessário desenvolver um permanente trabalho preventivo. Remédio
na hora da morte pode matar. Quem atua no jornalismo precisa rever atitudes e,
entender de uma vez por todas, que a ética é o segredo da credibilidade da imprensa e,
exatamente por isso, a chave do seu sucesso.
As relações entre o direito à informação e o direito à privacidade tendem serem
propositadamente confundidas. Na verdade, criam-se paradoxos na tentativa de
justificar os freqüentes erros da imprensa. Se qualquer ação humana tivesse de ser
submetida à publicidade, não se poderia mais falar em liberdade. Que liberdade é essa
que a sociedade moderna tanto lutou para conquistá-la e que agora a confunde com
atrocidade, com invasão de privacidade?
Há uma fronteira ética entre o direito à informação e o direito à privacidade; o
bem comum, o verdadeiro interesse público. A imprensa tem relevante papel de
4
denúncia, de contraponto. Essa função, no entanto, nada tem a ver com curiosidade
agressiva, com o afã de escândalo ou com atitudes de retaliação.
Em artigo publicado na revista britânica Spectator, sob o título Os Sete
Pecados Capitais do Jornalismo – o jornalista inglês, Paul Johnson afirma que “a mídia
é uma arma carregada quando dirigida com intenção hostil contra um indivíduo”. Com
essa advertência cheia de realismo ele anuncia outro pecado: o assassinato pela mídia.
O ex-ministro da Saúde do governo Collor, Alceni Guerra, foi uma das vítimas
do jornalismo de pré-julgamento. E meio às denúncias de irregularidades em sua
gestão, o ministro foi moralmente baleado pela metralhadora giratória da mídia.
Absolvido, não mereceu a reparação de uma única manchete, apenas sucintos e
contrariados registros, empurrados para o lusco-fusco das páginas internas. Da mesma
forma, aconteceu com os proprietários da Escola Base em São Paulo. A Revista
Imprensa (setembro/1994) divulgou um balanço das reportagens publicadas na
imprensa nacional sobre o caso - 90% de acusação e 10% de desmentidos.
Os jornalistas, assim como a grande maioria dos profissionais de outras
categorias, são corporativistas. “Somos os senhores da informação, apontamos erros a
três por quatro, pregamos moralidade à exaustão, mas, quando o alvo é um de nós, a
tendência gera ainda o acobertamento”, afirma Luiz Garcia, no jornal O Globo.
Essa má vontade em admitir o erro faz parte da arrogância que impera no meio
jornalístico. O jornalista Cláudio Abramo lembrou que “a ética do jornalista é a ética do
cidadão”. Ele pergunta: “O que o jornalista não deve fazer que um cidadão comum não
deva fazer? O cidadão não pode trair a palavra dada, não pode abusar da confiança do
outro, não pode mentir...” Não há motivos para imunidades. A imprensa não é feita por
super-homens. E espera-se que seja conduzida por homens de bem.
Sirley Cardoso, a autora.
LIBERDADE DE IMPRENSA
Invasão de privacidade
NENHUMA PESSOA pode ser considerada verdadeiramente livre se não dispuser de
garantias de inviolabilidade da sua privacidade. Tribunais do mundo inteiro têm se
baseado nesses princípios para proteger as pessoas contra a voracidade da imprensa
5
sensacionalista. O direito à privacidade beneficia até mesmo os presumíveis criminosos
– e todo criminoso é “presumível” enquanto não houver sentença definitiva. Ninguém, a
não ser um tribunal de júri popular, pode julgar alguém. Nem tampouco os meios de
comunicação estão autorizados a divulgar dados da vida íntima de supostos criminosos
e ou de seus familiares que pouco ou nada têm a ver com o caso.
O direito à privacidade, no entanto, pode cessar quando a ação praticada tem
caráter público. É o caso dos governantes, cujos atos particulares possam refletir na sua
atuação pública (1).
Mas o que tem de relevância pública a divulgação de fotografias de pessoas
ensangüentadas, muitas vezes, em condições que ferem sua dignidade e que expõem
seus entes-queridos? Que interesse público tem a publicação de casos ainda insolúveis
que vêm sendo investigados pela polícia?
Constata-se que o interesse na publicação de material sensacionalista é
meramente o de manter um negócio. A cobertura de escândalos e de material chocante
faz parte do metier. Nem mortos ilustres escapam do esquartejamento moral. As fotos
da atriz Daniela Perez assassinada a golpes de tesoura (28/12/1992) pelo seu colega de
trabalho na Tevê Globo, Guilherme de Pádua (2), foram dilaceradas pela mídia e, neste
caso, com a concordância de seus familiares. E as pessoas que pertencem às classes
sociais menos privilegiadas, cujas fotografias são diariamente escancaradas nas
primeiras páginas dos jornais sensacionalistas e nos programas policiais de televisão, e
que nem sabem que teriam o direito de não permitir que seus nome e imagem fossem
expostos à execração pública?
A atividade da imprensa traduzida na divulgação de informações abrange um
espectro enorme. Cabe à imprensa divulgar tudo informações técnicas, políticas,
culturais, científicas, policiais, etc. Pode-se dizer que não há campo da atividade
humana que não interesse diretamente à imprensa. Enfim, tudo que às pessoas interessa,
interessa à imprensa. A cobertura jornalística está em todos os lugares, todo o tempo, de
dia e de noite. Há informação para todos os gostos e necessidades. Dentre Muitas
matérias que aguçam o interesse e a curiosidade da grande massa, despontam aquelas
que lidam com pessoas que, pelos motivos mais variados, ganharam notoriedade ou
fama, boa ou má. Aí se encaixam políticos, religiosos, artistas, escritores, celebridades,
celebridades momentâneas (feitas pela própria mídia) e atletas famosos.
6
Mas nem só de figuras públicas e famosas vive a imprensa. Na verdade, a
chamada imprensa vermelha (que explora o noticiário policial), esta nem está muito
interessada no rico e famoso esses geralmente são por ela protegidos. Interessa a esse
segmento da mídia, pessoas humildes que passaram a protagonizar o show do
sensacionalismo policial. Quer pelo exótico, pela dramaticidade, pelo inusitado, essas
pessoas despertam à atenção do jornalismo e, num passe de mágica, viram notícia
geralmente, má notícia. Nesse caso a mídia não perde tempo dando fama “de graça” a
pobres ilustres desconhecidos. Mas a má fama é grátis porque rende dividendos para os
proprietários de veículos de comunicação. A mídia, ao mesmo tempo em que pode
enaltecer, pode também acabar com protagonistas de cenas dantescas por ela expostas,
sobretudo, quando esses atores são de origem humilde. Para virar má notícia, basta ser
pobre, preto ou puta.
A liberdade de imprensa e também os chamados direitos da personalidade são
garantia estabelecida pela Constituição Federal Brasileira que reza: “são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”(3).
Isso significa que tanto uns quanto os outros, todos direitos fundamentais, não
são absolutos. Limitam-se, reciprocamente, de forma que não sejam cometidos abusos.
A informação é de interesse da sociedade. Todavia o direito de informar,
infelizmente, se sobrepõe aos direitos individuais. E, por causa disso, a imprensa
adquiriu certa imunidade. Não se punem os crimes de imprensa no Brasil, salvo raras
exceções. Porém aos poucos, as coisas começam a mudar por aqui. Alguns abusos já
vêm sendo denunciados e levados à justiça.
Liberdade de opinião somente tem sentido se também contemplar as opiniões
contrárias. O direito à privacidade não desaparece com uma acusação por mais
comprovada que esteja muito menos pelo simples fato de estar uma das pessoas numa
lista de suspeitos. E o direito de resposta não exige que uma notícia seja verídica ou
falsa, mas simplesmente que seja ofensiva. Só que, quando o atingido ainda não
aprendeu exercitar seus direitos, isso desaparece no ar. Ficam as seqüelas. Meros
suspeitos são, apressadamente, condenados à pena do constrangimento, causado pelas
manchetes que atingem a honra da pessoa. Tudo para o simples divertimento da
multidão.
7
PARADOXOS
Ética e jornalismo policial
SE AS PESSOAS resolvessem partir para cima dos meios de comunicação exigindo
autorização prévia para a publicação de suas histórias e de suas imagens, no entender do
diretor de redação do jornal Tribuna do Paraná, de Curitiba, Carlos Alberto Tavares, o
jornalismo policial estaria morto. “Se o jornal fosse obrigado a solicitar autorização por
escrito de todos os envolvidos em crimes e confusões ou de familiares de pessoas
assassinadas, estaria decretada a falência do veículo enquanto explorador do segmento
policial”. (4)
O advogado curitibano Joel Samways Neto analisa que os veículos de
comunicação que fazem sensacionalismo terão falência decretada a partir do momento
em que as pessoas resolverem fazer valer os seus direitos assegurados
constitucionalmente. “Se os familiares das vítimas ou se as próprias vítimas começarem
a processar os veículos de imprensa que cometem crimes contra eles, acho que esses
vão à falência de qualquer maneira”.(5)
É possível, entretanto, elaborar uma matéria policial ética. Divulgar o fato de
acordo com todas as partes envolvidas sem pré-julgamentos. Sem a necessidade de
escrever ou dizer que fulano de tal é vagabundo, é delinqüente, assassino, ladrão ou
coisa parecida. É preciso apurar mais a notícia e não mergulhar no denuncismo, na
denúncia infundada. “Dá para fazer jornalismo policial com liberdade plena de
imprensa, respeitando os direitos do cidadão”, defende o advogado e jornalista
curitibano Hermínio Back.
Há algumas pessoas, como já descreveu o crítico norte americano Andy Warhol,
que buscam, com certo frenesi, os seus quinze minutos de fama. Há outras que
gostariam, se a imprensa permitisse, de descansar no berço esplêndido do anonimato.
Elas evitam a exposição, sobretudo quando não lhes convém. Porém poucos podem
gozar desse privilégio apenas os mais endinheirados. A grande maioria é pobre e
desconhece que pode, por exemplo, exigir de um fotógrafo, o filme de sua máquina,
quando fotografada sem autorização prévia.
8
Mais pessimista, João Féder, professor de Ética da Comunicação, na
Universidade Federal do Paraná (UFPR) diz que se realmente os jornais ou os
apresentadores de programas policiais de televisão a tiverem de amparar todas as
matérias em cima de autorizações prévias, esse tipo de jornalismo acaba. “Jornalismo
policial dificilmente é ético. Os agentes policiais, os delegados de polícia, geralmente
fazem média com o jornalista e com o público, mostrando o preso, o meliante, como se
fosse uma presa, uma caçada”. O preso está para o policial como um troféu, e, da
mesma forma está para o jornalista como um prêmio, um produto que será vendido
quentinho junto com o pão e o leite no dia seguinte. Ele ainda pergunta: “qual é o
cidadão pobre que vai mover ação contra um jornal, uma televisão, uma emissora de
rádio, ou contra um delegado de polícia? E quanto às ações por reparação de dano, a
Justiça faz um julgamento pragmático: qual é a imagem que vale mais, a do Pelé ou do
Zé Ninguém?” Para ele o prejuízo é mensurado economicamente e o valor varia de uma
pessoa para outra (6).
O ESPETÁCULO DA VIOLÊNCIA
Noticiário ou espetáculo
A IMPRENSA não pode pautar as suas atividades pelo ângulo do espetáculo. O
fenômeno da violência está adquirindo características epidêmicas e coincide, pelo
menos aparentemente, com o crescente impacto que a mídia exerce sobre a população.
Cabe, portanto, levantar uma hipótese: não haverá um nexo de causalidade entre a
violência transmitida e a violência praticada? Os defensores do papel catártico da
imprensa afirmarão que a hipótese não tem fundamento. A convivência com a violência
da mídia, dirão eles, serve para aliviar a violência reprimida. (7)
O termo sensacionalismo significa divulgação e exploração, em tom
espalhafatoso, de matéria capaz de emocionar ou escandalizar; uso de escândalos,
atitudes chocantes, hábitos exóticos, etc., com o mesmo fim: exploração do que é
sensacional na literatura, na arte, etc. (8)
Quando um veículo de comunicação se envereda para o lado sensacionalista,
parte dos formadores de opinião críticos, jornalistas e intelectuais tendem a colocá-
9
lo à margem na tentativa de afastá-lo dos medias “sérios”. Danilo Angrimani, num
estudo do sensacionalismo na imprensa, escreveu que se um jornal impresso, telejornal,
ou radiojornal, é tachado de sensacionalista, significa para o público que o meio não
atendeu às suas expectativas. Na abrangência de seu emprego, sensacionalista é
confundido não só com qualificativos editoriais, audácia, irreverência, questionamento,
mas também com imprecisão, erro na apuração, distorção, deturpação, editorial
agressivo. São acontecimentos isolados que podem ocorrer dentro de um jornal
informativo comum, que não esteja exatamente no segmento do noticiário policial.
“Sem discutir a questão da morbidez e da imoralidade envolvidas, o termo
sensacionalismo pode ser usado para o tratamento particular que um jornal dá a crimes,
desastres, escândalos e monstruosidades.” (9)
Sobre a linguagem e modo sensacionalista de divulgação do noticiário, Rosa
Nívea Pedroso, da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
faz o seguinte comentário:
Intensificação, exagero e heterogeneidade gráfica; ambivalência
lingüístico-semântica que produz o efeito de informar através da não
identificação imediata da mensagem; valorização da emoção em
detrimento da informação; exploração do extraordinário e do vulgar, de
forma espetacular e desproporcional; adequação discursiva do status
semiótico das classes subalternas; destaques de elementos
insignificantes, ambíguos, supérfluos ou sugestivos; subtração de
elementos importantes e acréscimo ou invenção de palavras ou fatos;
valorização de conteúdos ou temáticas isoladas, com pouca
possibilidade de desdobramento nas edições subseqüentes e sem
contextualização político econômico social e cultural; discursividade
repetitiva, fechada ou centrada em si mesma, ambígua, motivada,
autoritária, despolitizadora, fragmentária, unidirecional, vertical,
ambivalente, dissimulada, indefinida, substitutiva, deslizante,
avaliativa; exposição do oculto, mas próximo; produção discursiva
sempre trágica; especificidade discursiva de jornal empresarial-
capitalista, pertencente ao segmento popular da grande empresa
industrial-urbana, em busca de consolidação econômica ao mercado
jornalístico; escamoteamento da questão popular, apesar do pretenso
engajamento com o universo social marginal; gramática discursiva
fragmentada no desnivelamento socioeconômico e sociocultural entre
as classes hegemônicas e subalternas.
E a imprensa sensacionalista não se presta a informar, muito menos a
formar. Presta-se básica e fundamentalmente a satisfazer as
necessidades instintivas do público, por meio de formas sádica,
caluniadora e ridicularizadora das pessoas. Por isso, a imprensa
sensacionalista, como a televisão, o papo no bar, o jogo de futebol,
servem mais para desviar o público de sua realidade imediata do que
para voltar-se a ela, mesmo que fosse para fazê-lo adaptar-se a ela. (10)
10
OS PAPARAZZI
Um acidente de percurso
MAS SERÁ que o público quer mesmo fazer a catarse da violência, do erótico, do
exótico, do inusitado, como sugerem alguns teóricos da comunicação?
Quando se trata do jornalismo sensacionalista logo vem uma velha discussão do
ovo e da galinha: quem nasceu primeiro? O jornalismo sensacionalista existe porque o
povo gosta ou o povo gosta porque já existe o jornalismo sensacionalista? Ou seja, o
povo aprendeu a assimilar essa cultura e também apreciá-la como produto de consumo?
É isso que o jornalista tem de se perguntar.
Com o acidente automobilístico que matou a princesa da Inglaterra, Diana
Spencer, torna-se mais popular para os brasileiros a figura dos paparazzi (11). Os
fotógrafos que perseguiram Lady Di por que o povo inglês gosta de ver as fotos da
princesa? E, por causa disso teriam provocado, segundo boa parte da imprensa
internacional, o acidente automobilístico na Ponte de Alma, em Paris, na madrugada no
dia 31 de agosto de 1997, que culminou na sua morte; do namorado Dodi Al-Fayed e do
motorista? Ou será que o povo inglês foi acostumado pelos paparazzi a gostar da
invasão da intimidade das pessoas famosas? Então, o jornalista, antes de por o pé na
estrada deve ter isso bem claro. Tem de ter o discernimento das coisas e não submeter o
seu trabalho à ditadura do marketing da notícia.
Em setembro de 1997, e nota à imprensa, a Executiva Nacional dos Repórteres
Fotográficos e Cinematográficos (ANARFOC) divulgou a defesa dos profissionais da
imagem. E nessa defesa, a instituição repassa grande parte da culpa e a própria
discussão ética para a sociedade que “consome esses jornais”. Dizia a nota à íntegra:
Mesmo não concordando com o tipo de fotografia sensacionalista
utilizada por tablóides (12)
da Inglaterra e França (entre outros países),
a ANARFOC não aceita que a culpa pelo acidente que causou a morte
da Princesa Diana e de seus acompanhantes no carro, recaia somente
sobre os paparazzi. A afirmação de que eles estariam com as mãos
sujas de sangue (junto com os editores dos jornais), feita por parentes
11
da princesa, deve ser ampliada para a sociedade que consome esses
jornais, com tiragem de dois milhões de exemplares semanais (na
Inglaterra) e de três milhões (na França). Esse tipo de fotografia não
representa a totalidade do trabalho dos repórteres-fotográficos assim
como a imprensa sensacionalista não representa a imprensa toda, a
população que compra esses jornais não representa um país.
A ANARFOC entende que a ética deve ser mais bem discutida por
todas as partes envolvidas e interessadas, desde o repórter-fotográfico –
que produz a imagem até o leitor que a consome. Problemas com a
ética ou ainda com a sua falta, são alguns das questões enfrentadas no
nosso dia-a-dia profissional e estamos interessados em resolvê-los junto
com a sociedade. (Antônio Coutinho, secretário geral da ANARFOC).
Seis fotógrafos e seis motociclistas presos por envolvimento no acidente com a
princesa Diana foram indiciados pela justiça francesa acusados de homicídio culposo e
omissão de socorro. Porém, ninguém deles foi esculachado, em nenhum dos jornais,
principalmente nos quais para quem eles trabalham e são sensacionalistas ávidos por
porta de delegacia. Ao contrário, numa ação corporativista, trataram de sair em defesa
dos colegas e foram os primeiros a estampar nas manchetes: “motorista da princesa
estava bêbado”. Aliás, a manchete parece ter sido a mesma no mundo inteiro nos
sensacionalistas. E o Brasil não ficou de fora. Por aqui, o motorista estava “de porre”,
“bebum”, com a “cabeça cheia de cachaça”.
Os paparazzi franceses, no entanto, foram libertados pela justiça num prazo de
48 horas mediante pagamento de fiança e foram proibidos de trabalhar como fotógrafos
“enquanto prosseguir a investigação sobre o caso”. E o Sindicato Nacional dos
Jornalistas (SNJ) da França protestou: “prisão preventiva prolongada, acusações,
confisco de material profissional, de pesquisas, retirada da carteira de imprensa,
proibição de deixar o território, proibição de exercer o trabalho de jornalista: isto ocorre
na França, em setembro de 1997, depois de um acidente de carro, cujo chofer estava
bêbado” declarou o SNJ em documento oficial.
Na opinião dos dirigentes do SNJ este é um fato sem precedentes na França
desde o término da Segunda Guerra Mundial e qualificou as medidas judiciais como
“chocantes, desmedidas e gravíssimas”.
12
O relatório policial de Paris afirma que “os paparazzi foram insensíveis ao
acidente e continuara fotografando o carro, tendo como alvo principal a princesa
Diana”. Um dos fotógrafos presos, Jacques Langevin, disse que as acusações foram
exageradas, alegando ter medido o pulso da princesa e que teria consolado-a, avisando
que o socorro estava a caminho. Surpreendentemente, poucos dias depois, as fotos de
uma princesa ultrajada, ensangüentada estavam na rede mundial de computadores
Internet para quem quisesse ver.
Há bastante controvérsia em torno dessa discussão. Sobretudo, quando do
episódio da morte por acidente automobilístico da princesa Diana Spencer. Houve muita
polêmica em torno do trabalho dos paparazzi que perseguiam, de motocicletas, a
limusine que transportava a princesa. Uns afirmam que por causa da perseguição, os
fotógrafos teriam provocado o acidente na entrada do túnel próximo ao Rio Sena.
Muitos jornalistas afirmam que os paparazzi estavam simplesmente fazendo seu
trabalho em função de uma exigência de mercado. “Há mercado para esse tipo de
noticiário”, diz Antônio Coutinho, secretário gera da ANARFOC.
Pois bem, se existe mercado, logo, tem-se de ir atrás do produto que estará à
venda, quentinho nas bancas ou no ar no rádio e na televisão. Mas como pode o público
comprar um produto que ainda não existe? Isto quer dizer exatamente que primeiro
surgiu o produto sensacionalista, o povo gostou e comprou. Só que agora, não somente
as celebridades, mas o próprio povo, sobretudo os ilustres desconhecidos que, segundo a
imprensa é quem consome, têm sido as maiores vítimas dos abusos da imprensa
sensacionalista.
Na opinião de Hermínio Back, a população ainda é muito, ingênua e
despreparada diante da potência da mídia.
Enquanto Back afirma que o povo é moldado de acordo com aquilo que a mídia
lhe impõe, o professor João Féder diz que a culpa é da sociedade. Jornais
sensacionalistas vendem, e programas policiais sensacionalistas na televisão têm
audiência porque o povo gosta. “Um jornal sério leva de dez a vinte anos para
conquistar um público de leitores. Enquanto que os sensacionalistas já nascem com
público garantido. O The Sun um tablóide sensacionalista londrino vende cinco
milhões de exemplares a cada edição e em matéria de leitura de jornais vermelhos
(noticiário policial) e de audiência de rádio ou tevê, não somos diferentes dos britânicos.
13
Temos uma massa enorme de curiosos a respeito do que se passa com as pessoas. Há
sede por tragédia”.
ESTILO E LINGUAGEM
Preconceito carrega nas tintas
O MANUAL DE REDAÇÃO do jornal O Estado de São Paulo (O Estadão), edição,
ensina como escrever um texto sem ser preconceituoso, ensina como o jornalista deve
se referir, no texto, a pessoas com deficiência física, de cor negra, idoso, homossexual,
criança, adolescente ou doente. Alguns exemplos politicamente corretos, conforme
sugere o jornalista Eduardo Martins, organizador do manual do Estadão:
Deficiente físico: tratar com dignidade, usando palavras técnicas, e não termos
populares e ofensivos, para designar os deficientes físicos. Assim, por exemplo,
impotente, e não broxa; estrábico, e não vesgo. Outros termos a evitar: caolho, maneta,
perneta, manco, zarolho, etc.
Negro e mulato: se necessário usar a forma ‘negro’ (e nunca preto, colored,
pessoa de cor, crioulo, pardo, escurinho, etc.). Mulato e mulata são aceitáveis quando se
justificar a especificação, na notícia, da cor da pele da pessoa. No noticiário policial, só
fazer referência a negro quando se tratar de pessoa procurada. A polícia procura dois
homens negros e, um branco, ambos acusados de... Nos demais casos, raramente há
necessidade de falar em brancos, negros ou mulatos. No noticiário geral, a palavra só
tem sentido se a própria pessoa se referir a ela ou se houver uma denúncia de
discriminação racial. Por isso não descreva um jogador, artista ou personalidade como
fulano de tal, tantos anos, negro (a menos que o personagem proclame sua negritude).
A única exceção seria para casos muito incomuns (o primeiro presidente negro de um
país, o primeiro cardeal negro, etc.).
Velho: Na maior parte dos casos, a palavra tem conotação preconceituosa. Se
necessário, revelar a idade da pessoa que ficará clara essa condição.
Homossexual: É outro termo que só deve aparecer no noticiário com o fato
descrito. Por exemplo: um homossexual foi morto por alguém presumivelmente ligado a
uma quadrilha especializada em matar esse tipo de pessoas. Outro exemplo: um artista,
assumidamente homossexual, admite que essa condição possa influenciar seu trabalho.
À exceção de casos como esses, não há razão para menções a respeito.
14
Menores: por força de lei, menores envolvidos em crimes não poderão ter os
nomes publicados no jornal (identifique-os apenas pelas iniciais), nem suas fotos
divulgadas. Vale lembrar que a inclusão do nome dos pais na notícia revelará
imediatamente quem é o menor. O Estatuto da Criança e do Adolescente é claro,
quando proíbe expressamente a identificação de menor em notícia que se publique a
respeito em divulgação em geral, especialmente na imprensa escrita e televisionada, seja
nome, fotografia, filiação, apelido. Da mesma maneira, o Estadão procede com relação
a vítimas de atos que possam lhes acarretar discriminações, estupro, por exemplo.
Doenças: o jornalista deve informar claramente do que uma pessoa sofre, foi
operada ou morreu. Não há sentido em esconder que alguém tem Câncer ou AIDS. Caso
não seja revelada a informação, a notícia estará sendo desleal com o leitor ocultando-lhe
um fato que ele merece conhecer. Apenas, deve-se tratar a doença com naturalidade,
sem alarde.
Suicídios: se uma pessoa cometeu suicídio, a notícia deve revelá-lo ao leitor,
também para que este não receba informação pela metade. Em qualquer relato de morte,
o mínimo que se quer saber é de que maneira ou em que circunstâncias ela ocorreu:
doença? Acidente? Suicídio? Por mais doloroso que seja o fato, evitar disfarçá-lo.
Todavia, não deve dar detalhes de como a pessoa fez para matar-se.
Raças e nacionalidades: usar a nacionalidade tal como ela é etimologicamente.
Nunca usar comuna, carcamano, china, japa, gringo, galego, polaco, pau-de-arara,
cabeça-chata e baiano (para nordestino), judeu, crente (no mau sentido), etc.
Desempregado: evitar o termo porque pode ser depreciativo, pode dar margem
para vagabundo.
Alguns exemplos de manchetes publicadas nos jornais de Curitiba, Tribuna do
Paraná e Diário Popular que trabalham na cobertura do noticiário policial. Apelativas e
sempre grafadas em letras maiúsculas nas cores vermelha ou preta, estas manchetes -
chamadas de capa, no jargão da redação -, ignoram qualquer manual de redação e estilo.
O diretor de redação da Tribuna do Paraná, Carlos Alberto Tavares dizia que o jornal
não tem um manual por escrito. “Apenas seguimos algumas regrinhas básicas”,
afirmou. Entretanto esses jornais acabam reproduzindo a linguagem do jargão policial.
Alguns exemplos:
15
FEDEU PRO LADO DO BOSTINHA.
VALENTÃO FUZILA O CONCUNHADO.
MALANDRO DAVA GOLPE DO EMPREGO FÁCIL
TUDO INVENÇÃO PARA DISFARÇAR O CHIFRE NO MARIDO.
ASSALTANTE FEZ O DIABO NO LITORAL.
DEZ MINUTOS DE SEXO POR UM REAL.
ELEMENTO PERIGOSO CAI NO XADREZ.
AUTOPEÇAS ERA UMA ZONA.
DESMUNHECOU E SE DEU MAL.
CRUZ MACHADO VIRA PONTO DA BICHARADA.
MOTORISTA DO CARRO DA PRINCESA ESTAVA BEBUM.
MORRE DEPOIS DE SURRAR A ESPOSA.
MORREU FAZENDO O PÃO NOSSO DE CADA DIA.
CUIDADO: TEM GATO DE OLHO NO SEU CARRO
FOI DESCANSAR NO COLO DO CAPETA.
RABUDO DO PARANÁ GANHA NA SENA.
NEGÃO BATE NA MULHER E VIRA MARICA NO XADREZ.
Somente para citar um exemplo de desrespeito aos direitos humanos, fora do
Brasil, embora a notícia esteja também assim reproduzida no Brasil: “Prostitutas são
multadas em Blitz antidegradação em Florença”. O texto: “Treze prostitutas foram
multadas na noite da última segunda-feira, em Florença, por trabalharem próximo a
casas, com roupas e posturas ‘não correspondentes às normas públicas de decência’. A
punição integra o pacote de medidas ‘antidegradação’ aprovado recentemente em
diversas cidades da Itália, que vigora desde ontem (11/08/2008)”. Está na Internet,
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u432714.shtml (site do jornal Folha de
São Paulo/UOL).
Enfim, o texto finaliza com uma autoridade italiana dando uma declaração que
certamente, de acordo com o próprio entendimento do ‘declarante’ ou ‘fonte’ - para usar
um jargão jornalístico não ofende ninguém. De toda forma, vale destacar a declaração
da autoridade européia, à imprensa mundial: “Acreditamos que estamos no caminho
certo quando intervimos nos fenômenos de indiferença e de desobediência aos valores
de convivência civil e de respeito à cidade", comentou o secretário de segurança da
prefeitura de Florença, Graziano Cioni. Sem Comentários.
16
Os exemplos são diários e às dezenas, até porque os jornais são diários e, claro,
as coisas não param de acontecer. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a
cada 13 minutos uma pessoa é assassinada no Brasil. Assim, são 110 cidadãos morrendo
por causa da violência por dia. Contando que uma família, em média, é composta por
outros quatro integrantes, pelo menos 440 familiares precisam lidar com a dolorosa
notícia da morte violenta diariamente. E para piorar as coisas, o noticiário corrobora
para aumentar ainda mais essa dor.
E as notícias estão lá, quentinhas, muitas requentadas, estão lá na próxima banca
de jornal; no ‘zapping’ do controle remoto; no próximo ‘clic’ do mouse; no dial do
rádio ou na boca do vizinho, do colega de trabalho e, infelizmente, dentro de muitas
casas. Uma questão de estilo. Estilo na língua do ‘P’ de preconceito.
Anna Marina Barbará socióloga formada pela PUC-Rio, mestre e doutora em
História pela UFF, trabalhou como pesquisadora da ONG: "Davida, Prostituição,
Direitos Civis, Saúde" em 2005 e publicou As Meninas da Daspu. No release de
divulgação do seu livro, a assessoria de imprensa da autora escreveu.
Há uma piada que diz que uma prostituta é tudo, menos uma
mulher de vida fácil. O livro, As meninas da Daspu, de Anna
Marina Barbará, da Editora Novas Idéias, mostra que toda
brincadeira tem um fundo de verdade. Não, as prostitutas não têm
uma vida fácil. Ao contrário: a prostituição, para elas, aconteceu
como uma saída natural para a pobreza, para a rigidez familiar,
para a solidão. Prostituição é, acima de tudo, uma profissão que
só é reconhecida como um bem maior por quem precisa dela
prostitutas e clientes. Um depoimento: Cuidei dos meus irmãos e
não pude estudar. A gente trabalhava muito na roça. Nós
plantávamos cana, milho, mandioca, feijão, melancia. Colhíamos
coco para fazer dendê. Minha mãe ia para a ribeira lavar roupa
e depois ficava limpando bucho. As pessoas pagavam a ela para
salgar aquelas carnes todas. Então, de tarde, lá pelas cinco
horas, eu e minha irmã, a gente tomava banho, dava banho nos
dois, deixava lá e ia para a ribeira ajudar minha mãe, porque
era muita carne, para deixar em casa para os donos irem pegar.
Foi assim dos sete aos 14 anos. A minha vida era essa. Infância
mesmo de brincar com outra criança a gente não tinha. Era
muito trabalho, muito trabalho mesmo. Foram nove os
depoimentos, colhidos pela pesquisadora, que mostram que, por
trás da mulher seminua na esquina de Copacabana, no inferninho
da Praça Mauá ou na vastidão da Central do Brasil, existem
pessoas com sonhos como qualquer “mulher direita”. Afinal é
isso que elas são: trabalhadoras com rotinas, ascensão
profissional, sonhos de uma melhor vida.
17
A CO-RESPONSABILIDADE DA FONTE
Quando a imprensa não investiga
O CRIME DE IMPRENSA pode ser cometido não somente pelo jornalista ou pelo
veículo que publica denúncias infundadas, mas também pela fonte que divulgou a
notícia. No caso de um delegado de polícia, na sua maioria, gente muito vaidosa que
muitas vezes convoca a imprensa para mostrar o serviço, para apresentar um suspeito ou
um presumível criminoso, este também é co-responsável pela geração da notícia. Todos
cometeram o mesmo crime. A autoridade policial, pela precipitação, o jornalista, por
não ter checado a fonte e não ter sido cuidadoso na hora do tratamento do assunto na
matéria (na redação do texto). Salvo raras exceções, a maioria dos jornalistas policiais
não costuma contestar a fonte quando ela é oficial. O delegado falou tá falado, reza a
norma do meio policial.
Embora tenha um conselho de ética para orientar os profissionais, o Sindicato
dos Jornalistas do Paraná admite que o jornalista não tenha tempo para ficar discutindo
ética. Com relação à checagem da fonte, o repórter, quando recebe uma informação de
fonte oficial, no caso de um delegado de polícia, provavelmente imagina que se está
vindo de uma autoridade pública, então problema dela. (13)
“Hoje, qualquer cidadão que seja acusado por qualquer delegado e cujo nome
caia nas mãos da mídia, está sujeito a sofrer um massacre que dificilmente será
reparado”, admitiu o jornalista Audálio Dantas (14) na comissão julgador do XVII
Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Segundo Dantas,
também que é muito difícil fazer valer o direito de retratação, escrevendo uma carta, por
exemplo, que certamente terá como resposta um texto irado do autor denúncia ou do
próprio veículo. Um dos mais graves equívocos de imprensa no Brasil aconteceu na
cidade de São Paulo, no qual a mídia nacional embarcou, foi o Caso da Escola Base:
O episódio ficou conhecido como Caso da Escola Base. Não foi um
mexerico qualquer. Lúcia Tanoue e Cléa Parente, mães de alunos,
denunciaram ao delegado do Distrito Policial de São Paulo que seus
filhos teriam sofrido abuso sexual na escola. No dia seguinte ao relato
que fez na polícia e temendo que o caso não fosse devidamente
investigado, Lúcia ligou para a Rede Globo de São Paulo, originando o
18
furo jornalístico do repórter Valmir Salaro. A história repercutiu na
maioria dos jornais do País. O que se viu em seguida foi uma somatória
de erros, pré-julgamentos e sensacionalismo da imprensa que arrasou a
vida de seis pessoas e deixou três casais em frangalhos - Paula Milhim,
sócia da escolinha e Maurício Alvarenga, motorista da Kombi escolar,
se separaram após o ocorrido. Icushiro e Maria Aparecida, donos do
colégio, ainda tentam reconstruir suas vidas. Mara Cristina França e
Saulo da Costa Nunes, ela professora, ele seu marido, que até pela
humilhação da prisão passaram, nunca mais foram os mesmos. Hoje, as
vítimas da imprensa vivem em isolamento e tentam cobrar do Estado, o
descalabro que foram as investigações que fizeram deles alvos fáceis
para “juízes”, armados com canetas, microfone e pouquíssimo bom
senso. Acuse primeiro, apure depois. Essa foi a única regra seguida.
Ninguém lembrou que “todos são inocentes, até que se prove o
contrário”. (15)
Neste caso, ninguém se preocupou em checar a fonte. A imprensa acreditou e
reproduziu a versão da fonte oficial, da autoridade pública, nesse caso, o delegado. O
caso da Escola Base de São Paulo tem sido citado porque foi praticamente a primeira
ferida a ser tocada com mais coragem e um pouco mais de senso crítico. Luz, câmera,
ação. Quando o delegado fala, a verdade está escrita. Ninguém contesta. Publica-se.
E quando Polícia e Imprensa são levadas na conversa?
No dia 15 de agosto de 1996, um telex enviado pelo delegado do Serviço de
Investigações de Crianças Desaparecidas (SICRID), Carlos Roberto Bacila, para as
redações dos principais jornais do país informava que fora encontrado, em Manaus
(AM), um menino que seria Leandro Bossi, desaparecido, desde 15 de fevereiro de
1992, em Guaratuba, litoral do Paraná. Foi uma bomba. Todos os jornais deram como
sendo o menino desaparecido. As manchetes davam que Leandro Bossi é encontrado
vivo em Manaus, estampando fotos dele e do pai, abraçados. Cenas na praia. Tudo
caminhava para um final feliz. A imprensa desprezava cada pista. Ninguém sequer
cogitava um exame de DNA. Os jornais tratavam o caso como se ele já estivesse
concluído. O testemunho de João Bossi já fora suficiente, afinal ele era o “pai” e não
iria confundir o próprio filho. Tudo era conduzido para a emoção. Poucas vezes os
jornais se referiam ao suposto Leandro ou como Leandro/Diogo Moreira, Noé de
registro, “depois de raptado”. No final, tudo não passava de armação. E um garoto de
dez anos passou a conversa na imprensa. (16)
Da mesma forma, a partir de informações de delegados ou informantes da
polícia, pessoas são diariamente ridicularizadas nos programas policiais da televisão, do
19
rádio e nas primeiras páginas dos jornais de Curitiba. Pessoas que sequer foram
julgadas. Não passam de suspeitos ou de envolvidos diretamente ou não, em crimes e
confusões. Trata-se de um noticiário que fere um direito fundamental da pessoa
humana: o direito à dignidade. E o que é pior, sem nenhuma investigação. A notícia
começa e termina dentro da delegacia de polícia.
Pessoas são acusadas, condenadas e punidas pela imprensa, sem direito à defesa.
Incompetência na apuração dos fatos? Desinteresse pela verdade? Ou tudo e nome da
notícia – um produto à venda? (17)
Percebe-se que o cinismo tomou conta da imprensa e o sensacionalismo passou
a ser uma estratégia de mercado para conquistar público. A violência se transforma
numa grande vitrine para vender jornal. Em Curitiba, por exemplo, o jornal Tribuna do
Paraná especializado em jornalismo policial vende mais de 30 mil exemplares em
banca, às segundas-feiras, deixando o primeiro colocado, durante o resto da semana, o
jornal Gazeta do Povo, muitos números atrás. A informação foi dada em agosto de
1997, pelo então diretor de redação Carlos Alberto Tavares. O jornal informou ainda
que quando morreu o piloto brasileiro de Fórmula Um - Airton Sena, (01 Mai. 94), a
Tribuna chegou a vender 70 mil exemplares. (18)
Há profissionais que trabalham com o recurso das “fontes ocultas” lançando
boatos diários, abrigados na impunidade aconchegante do anonimato. Sabe-se menos
quanto mais se lê, pois uma reportagem contradiz a outra.
NOTÍCIA PRODUZIDA
Circo armado
A IMPRENSA TEM PODER para manipular, produzir e conduzir o noticiário. Observa o
presidente do Sindicato dos Jornalistas do Paraná, Emerson de Castro. Para
exemplificar, Emerson Castro cita dois casos, descritos a seguir: (19)
- No início do ano de 1997, dois policiais civis, usando armas verdadeiras,
entraram numa estação-tubo*, disfarçados de “bandidos”. Acompanhados pela
reportagem do jornal Tribuna do Paraná, deram voz de assalto para o cobrador,
provocando um mal-estar geral. Isso tudo para provar a vulnerabilidade e a falta de
segurança naquele local público. E ninguém sabia de nada, nem o cobrador que ganha
um baixo salário para cuidar de muito dinheiro que entra diariamente na caixa da
20
catraca. Conseqüências: o jornal publicou a notícia que ajudou a inventar e a produzir,
ignorando quaisquer aspectos éticos do compromisso com a verdade e algumas pessoas
tiveram de ser hospitalizadas porque passaram mal. (*20)
- No mesmo ano, por ocasião do acidente com o avião da TAM que segundo a
política teria uma bomba a bordo uma equipe de produção da Tevê Globo enviou
caixas lacradas com falsas bombas, por vários aeroportos também para provar a falta de
segurança dos mesmos. E conseguiu. E com isso conseguiu também produzir uma
matéria jornalística exibida no horário nobre.
João Féder conta que em 1995, uma rede de televisão do Japão também armou
uma situação ainda mais violenta. Os próprios jornalistas e cinegrafistas montagem a
encenação de um estupro, gravaram tudo em “tempo real” e mostraram em horário
nobre, no noticiário da tevê. Essa “produção” teve conseqüências graves. Uma das
meninas não suportou a sua própria exposição ao ridículo e suicidou-se, jogando-se
embaixo de um trem. No dia seguinte, descobriram tudo. Então, o diretor da emissora
foi ao ar, pediu desculpas ao público e disse que, como punição, ficaria um ano sem
receber o salário. E daí? Reparou em parte? Talvez.
Ficção e realidade estão no fio da navalha. Notícia deveria ser a divulgação de
fatos verdadeiros. Mas nos últimos tempos a notícia se confunde com as armações,
produções, boatarias e com jogos de interesses pessoais ou de grupos.
O jornal impresso registra, para sempre, a espetacularização da violência, do
grotesco, do inusitado, da indignidade humana. A televisão, como uma comadre
fofoqueira, invade as salas de jantar, de estar, a cozinha, os dormitórios e conta, tim-tim
por tim-tim, o que acontece com a vida dos outros. E quando não tem certeza, inventa.
O que ela não pode deixar de fazer é contar, espalhar a notícia, ou boato. Não importam
os meios. O que interessa é o fim. É cumprir o objetivo de comunicar.
“Na televisão tem profissionais que são verdadeiras estrelas muito bem pagas,
mas quando se trata de jornalismo essas duas coisas não combinam”, afirma Emerson
de Castro. Na opinião dele, o humorista Jô Soares “desqualifica o entrevistado”, “tira
sarro das pessoas que leva no programa”. Castro recorda-se de uma entrevista com o
cantor Milton Nascimento, quando o apresentador Jô Soares ficou um bloco inteiro só
falando do chapéu do artista. “Enquanto que o compositor teria coisas bem mais
interessantes para contar”, na opinião do jornalista.
21
A proposta, no entanto, do programa do Jô Soares não é exatamente fazer
jornalismo. Trata-se de um “Talk-Show” programa de entrevista e de entretenimento,
cujo modelo tem sido copiado dos Estados Unidos – precursor na atividade.
O escritor norte americano, Mitchel Stephens, no seu livro, História das
Comunicações do Tantã ao Satélite, escreveu: “Nenhum veículo de divulgação de
notícia oferece mais interação real e mais contato de vizinhança do que a televisão. Os
telespectadores vivem num mundo de realidade indireta. Cada vez mais, falam e pensam
a respeito de pessoas que não conhecem, acerca de lugares onde não têm estado o
apresentador da tevê substituiu o novidadeiro, o amigo, o fofoqueiro”.
POBREZA DÁ CADEIA
O crime de ser pobre
NA REPORTAGEM POLICIAL muitos nem hesitam. “Acusar” parece ser a palavra de
ordem nas redações; o verbo transitivo direto da manchete de capa. Basta para isso que
a acusação seja forte, e o acusado, fraco. A grande maioria é pobre e acredita não ter
nenhum escudo para proteger-se dos franco-atiradores da mídia. Por desinformação ou
pelo bombardeio de informações distorcidas e antiéticas a que está sujeita todos os dias.
Pessoas mais humildes, sem recursos financeiros, quando vitimadas pela
imprensa nem sabem que pode contratar um advogado para defendê-las. E a mídia
escolhe essas vítimas porque já estão condenadas pela sua miséria, indigência e
condição social. Elas já são vítimas da sua própria condição, logo não se sentem
fortalecidas para reagir. Talvez pensem, ser normal essa constante exposição ao
espetáculo da mídia.
Enquanto isso, os jornais policiais continuam publicando fotografias de pessoas
pobres mortas inclusive fotos de prostitutas em posições indignificantes, tanto para
sua memória quanto para seus familiares. E isso acontece sem a menor conseqüência.
Trata-se de crime previsto no Código Penal Brasileiro como vilipêndio a cadáver. Há,
portanto, diariamente, flagrantes de vilipêndio a cadáveres (violação da imagem dos
mortos) quando fotos de corpos humanos são expostas em posições ridículas nas
primeiras páginas dos jornais ou na televisão.
- Quando uma pessoa pobre e humilde, sem consciência de seus direitos vê no
jornal a fotografia da filha estampada na primeira página, sem calcinha, ensangüenta,
22
sem um braço, é claro que ela se sente humilhada, mas não sabe o que fazer afirma o
presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Américo Antunes. (21)
E qual seria o mecanismo para fazer com que a mídia respeitasse, pelo menos, o
mínimo estabelecido pelo artigo 5º da Constituição Federal?
No caso dos programas de auditório, de rádio e televisão, ou mesmo nos jornais
impressos, que exploram esse filão da violência, do sangue, da tragédia humana, a
questão não se restringe unicamente ao jornalismo. Muitas pessoas que estão no
comando desse sensacionalismo, nem jornalistas são. Tem muito artista fazendo isso. E
essa questão tem de ser tratada sob outro ponto de vista, sob algo que transcende o
aspecto da ética ou da liberdade de imprensa. Envolve a questão legal do exercício da
profissão. Em muitos casos, esses apresentadores violam princípios constitucionais,
incitam a violência, cometem crimes de imprensa. “O que nós temos que fazer é contar
com os setores mais esclarecidos da sociedade, com o Ministério Público para
auxiliarmos as vítimas desses crimes levando-as ao exercício da sua cidadania e reparar
possíveis danos. A própria imprensa séria tem por obrigação fazer isso”, sugere
Antunes.
Os danos sofridos por uma pessoa acusada apressadamente pela imprensa são
irreparáveis. Nos veículos de comunicação, principalmente naqueles que exploram o
noticiário policial, ninguém é suspeito, todo mundo é criminoso. Desde que não haja
proteção econômica, obviamente.
O repórter, o apresentador de programas policiais do rádio ou da televisão,
muitas vezes, acaba assumindo uma posição acima do bem e do mal. Acaba
confundindo seu papel na sociedade. Esteja ele armado com sua caneta, sua câmera, seu
microfone, não importa ele é autoridade. Sua audiência dá o flagrante, dá a sentença e
transforma o noticiário policial num grande show, num espetáculo de mídia.
Natalício Norberto ensina que para cobrir matérias policiais, o repórter precisa
possuir inteligência superior, coragem, sangue-frio e caráter. Todavia, esses pré-
requisitos, nos tempos atuais, mais se assemelham aos atributos de um super-homem. O
repórter acaba se colocando superior demais: acima de todas as coisas; sua “coragem”
extrapola a legislação e invade a privacidade das pessoas. (22)
A informação jornalística é essencial para a democracia, mas o que está
acontecendo no Brasil é o excesso. A Constituição Federal Brasileira reza a proteção à
23
informação cujo conhecimento seja relevante para a participação do indivíduo na vida
em sociedade, mas muitos profissionais da imprensa estão interpretando mal esses
preceitos. Fofocas e bisbilhotices sobre a vida íntima das pessoas não têm proteção
constitucional para quem as pratica. É crime de calúnia, injúria ou difamação
dependendo do caso. Acusar uma pessoa, publicamente, de um crime que ela não
cometeu dá cadeia em qualquer lugar do mundo, até no Brasil. Basta que as pessoas
sejam mais bem informadas sobre seus direitos. Aliás, esse deveria também ser papel da
imprensa.
Mais pessimista, o professor de Ética da Comunicação, da UFPR, João Féder
pergunta: qual é o pobre que vai contratar um advogado par processar um veículo de
imprensa? E qual é o advogado que vai ter peito para enfrentar o poder da mídia? (23)
SEM MEDO E SEM LIMITE
Coisa de reacionário
MAS ESSE RECEIO em censurar a imprensa em parte é verdade. A Constituição
Brasileira não permite censura de forma alguma. Há vários artigos que enfatizam a
liberdade de expressão. A partir disso, acontecem os abusos da própria mídia que
também tornou violenta. E o poder público está incapacitado de conter esses abusos
porque estará cometendo um ato de exceção, antidemocrático. Então surge, a liberdade
total = abuso. Na análise do professor Féder, há um risco. Se for permitida uma meia
censura, ninguém segura mais - previne. (24)
Ironicamente a imprensa sobrevive fazendo tudo aquilo que no passado
abominava. Nos anos da ditadura militar, um dos focos de esperança e de resistência aos
abusos do Estado fora a Imprensa. Na opinião do jornalista da Folha de São Paulo,
Gilberto Dimenstein, atacar a imprensa nas sociedades latino-americanas foi, em geral,
prática dos generais; daí, a tendência em se confundir fiscalização com tortura. Ao
comparar o jornalismo brasileiro com o dos Estados Unidos, ele diz que lá, os crimes de
imprensa são sumariamente punidos. Rendem ganhos de causas milionárias às vítimas
de eventuais erros jornalísticos. Como a imprensa norte-americana não passou pelas
mesmas atrocidades que a brasileira, a sociedade, amparada por Organizações Não
Governamentais (ONGs) e pelo judiciário, leva esses crimes às últimas conseqüências
.
Enquanto no Brasil parece “violência” processar um jornalista ou um veículo de
24
comunicação mesmo quando cometem crimes de imprensa (calúnia, difamação e
injúria). E esses crimes são praticados todos os dias, em todo o País. Já fazem parte do
cotidiano do jornalismo, da mídia, de modo geral. (25)
Da mesma forma a excessiva permissão leva ao abuso. O professor de filosofia
da USP, Richard Pedracini, ressalta que a questão, além de jornalística, é ética e que por
causa disso, a discussão tem de partir para as vias legais. (26)
Para o advogado paulista André Martins, não se pode ter liberdade irrestrita de
informação. Ele diz que a imprensa precisa ser responsável e isso significa limitar sua
liberdade. “Claro que não defendemos nenhum tipo de censura, mas o princípio da
responsabilidade civil, para que cidadãos não sejam expostos, diante da opinião pública,
com ofensas e denúncias infundadas”, afirma. (27)
O advogado carioca, Manuel Alceu Affonso Ferreira, especializado em Direito
de Comunicação, diz que a partir da Escola Base de São Paulo, as redações começaram
passar um pouco a limpo o seu próprio comportamento. Em sua avaliação, todas as
faculdades de jornalismo deveriam ter as cadeiras de Ética e de Direito da
Comunicação. (28)
Renê Ariel Dotti, professor de Direito Penal da Universidade Federal do Paraná,
enfatiza que o conflito entre a liberdade de informação e os direitos da personalidade
devem sempre ser resolvidos em favor do interesse público, visado pela notícia. (29)
O brasileiro precisa começar a reivindicar indenizações quando a sua imagem
for agredida. E o bolso, tanto dos jornalistas, quanto das fontes e dos empresários do
setor da comunicação, na medida em que for ameaçado, poderá também começar a
mudar a cultura da impunidade.
Poucos órgãos de imprensa correrão riscos de ter que pagar indenizações
milionárias. Na mesma proporção em que as agressões contra a honra das pessoas forem
resultando em prejuízo para os veículos de imprensa, vai se criando uma nova postura
diante da opinião pública.
Nos Estados Unidos, os advogados movem ações milionárias contra os veículos
de comunicação e massa. No Brasil, isso também pode ser feito. Qualquer advogado
pode mover ações contra a imprensa. Mas de acordo com a análise do professor João
Féder, este profissional ou este cidadão enfim, tem de “ter peito” para enfrentar o poder
25
da mídia. “Aliás, é o poder que mais cresceu no mundo inteiro. É o quarto poder, se não
for o primeiro”, enfatiza.
Uma prova disso é que, mais de quinze anos, quando a juíza Denise Frossard, do
Rio de Janeiro, começou a prender os bicheiros cariocas, o medo deles não era do
Judiciário, até porque este é moroso, burocrático e postergante. O medo dos bicheiros
era o de aparecer no Jornal Nacional, da Rede Globo, ou nos jornais de maneira geral.
Para eles (os bicheiros), a condenação vem pela mídia. O medo não era da juíza e, sim,
do poder condenatório da imprensa.
Tudo isso parece colocar o jornalismo acima do bem e do mal. Aparenta tratar-
se de uma classe protegida pela garantia da liberdade de expressão. Mas, se não houver
bom uso dessa liberdade, pode acontecer o contrário.
Para coibir abusos na imprensa, a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ)
defende a criação de um conselho nacional de auto-regulamentação da imprensa,
semelhante ao Conar Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária que
analisa o conteúdo das mensagens contidas nas propagandas se são ou não ofensivas à
ética. E quando sim, são imediatamente retiradas de veiculação. O Conar tem dado
provas suficientes de que funciona e passou a servir de parâmetro aos jornalistas, há
algum tempo.
A intenção de reunir os empresários e representantes do rádio, da televisão, dos
jornais, das revistas, radialistas, jornalistas, artistas, locutores, repórteres fotográficos, a
fim de estabelecer um mínimo ético para os meios de comunicação, não nos moldes de
censura, sempre fica na intenção ou na reunião. Pouco acontecer de concreto. Todavia,
sempre é bom frisar que não se pode confundir censura com controle externo. Isso seria
uma visão tacanha, porque o pretexto da liberdade de imprensa não pode mais servir
como justificativa de abusos e até de crimes nos meios de comunicação. A liberdade de
imprensa não autoriza o jornalista a agir com irresponsabilidade, nem tampouco a fazer
o que quiser com a vida dos outros.
Nos Estados Unidos, na Alemanha e Inglaterra, para citar alguns exemplos,
reúnem-se representantes da sociedade com profissionais de imprensa e proprietários de
veículos de comunicação para discutir princípios éticos do setor. Na melhor das
hipóteses, por uma boa comunicação.
26
OS CÓDIGOS DE ÉTICA
Compromisso com a verdade
“NÓS ACREDITAMOS que os agentes da comunicação de massa são condutores da
discussão e da informação, públicas atuando segundo o seu mandato e liberdade
constitucionais de conhecer e relatar os fatos. Nós acreditamos no desempenho
inteligente e objetivo, correto e honesto do jornalista”. (Cód. De Ética da Soc. Dos
Jornalistas Profissionais Sigma Delta CHI – EUA, 1984).
“O jornalista deve evitar a divulgação de fatos com finalidades apenas
sensacionalistas; de caráter notoriamente mórbido ou que tripudie sobre os valores
inerentes ao ser humano; que possam prejudicar pessoas inerentes ou visivelmente
indefesas”. (Art. 12 do Código de Ética do Jornalista – FENAJ/RJ, 1985).
No artigo da Declaração de Princípios da Sociedade Americana de Editores
de Jornais está escrito que “os jornalistas devem respeitar os direitos das pessoas
envolvidas nas notícias, devem observar os padrões comuns de decência e colocar-se
em posição de transparência, diante do público, quanto à imparcialidade e à retidão do
noticiário”.
No mesmo artigo reza que “as pessoas acusadas publicamente devem receber,
tão cedo quanto possível, a oportunidade de resposta. O compromisso de confiabilidade
perante as fontes de notícias deve ser honrado a todo o custo e, por isso, não deve ser
assumido levianamente. A não ser que seja clara e urgente a necessidade de manter
sigilo, as fontes de informação devem ser identificadas. Esses princípios são criados
para preservar, proteger e fortalecer os laços de confiança e de respeito entre os
jornalistas e o povo, laços essenciais par sustentar a garantia de liberdade”. (38)
Sob títulos diversos, existem códigos de deontologia num grande número de
países: códigos de honra, códigos da imprensa, declaração dos direitos e dos deveres do
jornalista, carta dos deveres profissionais, normas de jornalismo, etc. Essa variedade
encobre outra: a do conteúdo das normas reunidas nessas recopilações seja qual for seu
título. Contudo, na maioria desses códigos, verificam-se certas características comuns,
valendo ressaltar, especialmente, as que dizem respeito à função primordial da
imprensa, que consiste em informar, e informar corretamente. Por essa razão, os
jornalistas têm a obrigação de defender a liberdade e a independência da informação e
do comentário, no entendimento de que essas duas funções devem permanecer distintas;
27
de respeitar a verdade e, por conseguinte, não deformá-la mediante apresentação parcial
ou enganosa; de verificar a veracidade da informação; de publicar as retificações que
resultem necessárias; de manter o segredo profissional; de não divulgar as fontes de
informação (embora vários países não reconheçam esta última obrigação).
Outras são obrigações que decorrem mais da moral elementar: por exemplo, a
proibição de caluniar ou difamar, ou de revelar a vida privada das pessoas; a de atentar
contra a “moralidade pública”, fazendo a apologia da violência ou do vício; a de
recorrer a meios desleais, como dissimular/prevaricar da condição de jornalista para
obter informação (neste último aspecto há muita discussão). Outras têm sua origem na
solidariedade que deve reinar entre os próprios jornalistas: a que exige mútua ajuda e a
que proíbe práticas como o plágio ou a concorrência desleal. (31)
OMBUDSMAN
Policiando os colegas na redação
OS CONSELHOS DE IMPRENSA têm a função de manter a ética profissional em um
nível elevado. O primeiro conselho foi criado na Suécia, em 1916. Lá, o Conselho de
Imprensa desempenha simplesmente a função de um tribunal de honra, enquanto um
ombudsman (ouvidor) da imprensa, juiz da profissão, examina as reclamações do
público ou toma diretamente a iniciativa de ações contra os abusos da imprensa; pode
decidir pela submissão de uma queixa à Comissão de Práticas Honestas do Conselho da
Imprensa. O termo sueco quer dizer “aquele que representa”. Ombud é “representante” e
man é “homem”, como no inglês. (32)
Mas somente a partir da década de 1970, esses conselhos, em vários países,
assumiram a condição de guardiões da ética. Mas têm, particularmente, por função
defender a liberdade de imprensa. Por esse motivo, descritos como cães de duas
cabeças, uma ladra para o interior, enquanto a outra, ladra para o exterior. Alguns
conselhos (na Alemanha e na Inglaterra) têm inclusive por missão observar e dar
conhecimento ao público da evolução estrutural da imprensa, especialmente das
tendências à concentração: essa função pode, além disso, ser considerada derivada da
liberdade de imprensa. (33)
Com a proposta da nova lei de imprensa no Congresso Nacional desde 1990 (ver
anexos), a Federação Nacional dos Jornalistas propõe a criação de um Conselho
28
Nacional de Comunicação para, entre outras coisas, elaborar um código de ética e
estabelecer uma participação nas redações criando conselhos de imprensa ou neles se
fazer representar.
Todavia, os próprios jornalistas, como corporação profissional, enfrentam
resistências dos proprietários dos veículos que entendem como “censura prévia”. Horror
de um passado recente que o Brasil quer esquecer.
O Brasil só veio conhecer a figura do ombudsman da imprensa em setembro de
1989 quando Caio Túlio Costa foi nomeado para desempenhar a função na Folha de São
Paulo. Na verdade, ele foi o primeiro ombudsman da imprensa na América Latina. O
papel desse jornalista é defender o leitor dentro da própria redação do jornal para o qual
trabalha.
O primeiro ombudsman da imprensa brasileira conta que inicialmente, percebeu
que lhe faltava qualidade para o papel, a paciência. “Exercitei-me em desenvolvê-la
para entender, com o mesmo interesse, às vezes mais de 50 reclamações idênticas num
mesmo dia. Notei também que ninguém seria um bom ombudsman se não conhecesse
profundamente a legislação que envolve seu material de trabalho. Eu, que conhecia
superficialmente a nova Constituição (1988), a Lei de Imprensa (5.250) e os códigos,
Penal e Civil, tive de ir atrás de algumas noções de Direito. Foi quando vi que nós, os
jornalistas, não sabemos nem a diferença entre mandato e mandado. Por falar nisso, o
mandato do ombudsman da Folha de São Paulo é de no máximo dois anos”. Trecho da
apresentação do livro de Caio Túlio Costa, O Relógio de Pascal. (34).
O ombudsman é nomeado pela direção do jornal por um período inicial de um
ano, renovável por apenas e tão-somente mais um ano, se ambas as partes estiverem de
acordo. Há jornais onde os mandatos são maiores, até dez anos. Mas o ombudsman não
pode ser demitido nesse período e goza ainda de estabilidade na empresa por mais um
ano, após deixar o cargo. Tudo por causa a delicadeza da função, para preservar sua
independência.
Os ombudsmen são amados pelos leitores e odiados pelos jornalistas. É preciso
enfrentar fortes reações corporativistas dentro das redações e do próprio meio
profissional. Túlio Costa conta que o cargo na Folha de São Paulo rendeu-lhe
desavenças e a perda de grandes amizades.
29
Hoje, as decisões são tomadas nos gabinetes do poder e, em muitos casos, nas
redações dos veículos de comunicação de massa. O povo, o cidadão comum, tornou-se
marionete do grande espetáculo da mídia. E a figura do ombudsman no Brasil ainda
desempenha seu papel muito timidamente. Em Curitiba, o corporativismo dificilmente
permitiria a instituição desse cargo na redação de um jornal. Os textos são verdadeiros
tratados, não se pode mexer neles.
“Ninguém conhece totalmente as funções dos veículos de comunicação de
massa, pois em geral elas são tão penetrantes e sutis que não podem ser localizadas por
meio de pesquisa social (...)” - escreveu Wrigth Mills. (35)
FATO E VERSÃO
A credibilidade da mídia
PARA WALTER LIPPMANN em Public Opinion (New York-1922), citado por Wrigth
Mills “a maioria dos quadros mentais existentes na sociedade moderna resulta em
produtos dos meios de comunicação a tal ponto, que muitas vezes, muita gente não
acredita realmente no que vê à sua frente, enquanto não lê a respeito no jornal, vê na
televisão ou ouve no rádio. Os meios de comunicação não proporcionam apenas
informações, orientam as experiências. Os padrões de credulidade tendem a ser
realidades determinadas por eles e, não, pela experiência pessoal. Chega-se a ponto do
indivíduo submeter as suas experiências à confirmação da mídia, tamanho a
credibilidade, a influência dos veículos”. (36)
“As palavras vencem guerras ou vendem sabão; agitam ou acalmam o povo”. A
afirmação é do teórico norte-americano J. Truslow Adams em frase atribuída a um
publicitário norte-americano da década de 1920. (37)
Assim, as palavras condenam e absolvem os indivíduos, ignorando o papel da
Justiça. E essa condenação por palavras fica registrada nos anais dos meios de
comunicação de massa, da qual foi o árbitro.
Para Edgar Morin, filósofo francês contemporâneo, a sociedade do século XX
sofre simultaneamente de subinformação e superinformação, de escassez e de excesso.
Ele afirma que o excesso abafa a informação quando estamos sujeitos ao rebentar
ininterrupto de acontecimentos sobre os quais não se pode meditar porque são logo
30
substituídos por outros. Assim, ao invés de perceber os contornos, as arestas daquilo
que os fenômenos trazem, as pessoas ficam cegas dentro de uma nuvem de informações.
“E se as fortes imagens de fome, desgraças, desmoronamentos, desastres voltam todos
os dias, como aconteceu durante a Guerra no Vietnã, no Camboja, no Afeganistão,
então, elas se saturam e deixam o público saturado, banalizam-se. Enquanto a
informação dá forma às coisas, a superinformação submerge a sociedade no informe”.
(38)
Ao criticar a queda dos regimes autoritários do mundo, Morin diz que agora
continentes inteiros tornaram-se novamente desconhecidos, as antigas manchas
geográficas brancas foram substituídas pelas imensas zonas de silêncio sociológico e
político que são, ao mesmo tempo, zonas de informação-ficção. (39)
De acordo com esses teóricos e tantos outros pensadores que já escreveram
sobre os fenômenos da comunicação de massa, há uma tendência no público em
acreditar muito mais na versão do que nos fatos.
Carlos Alberto Di Franco afirma que de algum tempo para cá, os meios de
comunicação social, particularmente os eletrônicos, parecem ter escolhido a crônica
policial como filão predileto. Declarações de bandidos aparecem agora em número
semelhante ao das entrevistas com ministros de Estado. A informação corre o risco de
ser condicionada pelos esquemas de um show. Existe uma confusão cada vez mais
perigosa entre jornalismo e entretenimento. Di Franco cita o sociólogo norte-americano
Neil Postman, que disse: “nós acreditamos tão passivamente na mídia que não
questionamos mais o mundo que ela nos descreve. O insignificante nos parece
importante, a incoerência nos parece saudável. Entramos na cultura da trivialidade”.
(40)
FORA DO AR
Imprensa e cidadania
NO FINAL DE 1997, os apresentadores de programas policiais de televisão, em
Curitiba, Luiz Carlos Alborghetti (Programa Alborghetti, Tevê Independência, canal 7)
e Carlos Ratinho Massa (programa 190 Urgente, CNT Central Nacional de Televisão)
tiveram seus programas levados à Justiça (ver anexos). Essas emissoras foram
condenadas a pagar multas que variavam de US$ 10 mil a US$ 50 mil, cada vez que
31
esses apresentadores desrespeitarem os “direitos individuais do preso ou do suspeito”
mostrado nos programas. A determinação do então juiz federal Vara, em Curitiba,
Zuudi Sakakihara, acolheu parcialmente petição apresentada pelo Ministério Público,
em ação civil pública.
Na sentença, o juiz listou os principais direitos dos acusados que o programa
deve respeitar. “O direito de não ser ofendido em sua dignidade humana; o direito de
não prestar declarações contra a sua vontade; o direito de não ser filmado ou
fotografado em situações vexatórias e humilhantes; o direito de não ser exposto à
execração púbica; o direito de não ser pré-julgado nem condenado por quem não seja
competente; o direito a intimidade”.
O Ministério Público Federal havia solicitado a retirada imediata dos programas
do ar, mas o juiz na ocasião considerou que os mesmos, a par da violação quase que
diária dos direitos constitucionais do cidadão, possui também “aspectos positivos que
devem ser incentivados”. Na opinião do juiz, “o programa é educativo quando combate
o crime, condena a corrupção e desestimula o vício. Mas quando esse programa e ou
esse apresentador/jornalista humilha o preso, submetendo-o a situações vexatórias,
mostrando-o ao público contra a sua vontade, julgando, condenando, convocando a
população ao linchamento, não só deseduca como também fere direitos individuais”.
Ele faz um alerta às vítimas desses programas para que entrem na Justiça
exigindo o ressarcimento pelos danos materiais, morais e de imagem.
O que está por trás desses abusos contra as pessoas, sobretudo contra as mais
humildes, é primeiramente uma disputa selvagem pelo mercado da informação, pelos
índices de audiência. E a luta pela audiência sempre levou esses apresentadores de
programas policiais Alborghetti, Ratinho, e outros como Augusto Canário, Algaci
Túlio, Ricardo Chab (processado pela lei de imprensa por exigir vantagem por deixar de
publicar notícia - 2008), a cometerem abusos. Tudo porque audiência resulta em lucro,
dinheiro vivo, altos salários. Praticam o jornalismo de resultados. Outros têm interesses
políticos que também refletem interesses econômicos porque faturam com o cargo
público.
Quase sempre, os maiores abusos no meio jornalístico são cometidos por
pessoas que não têm a formação profissional. São, na maioria, radialistas que exercem a
profissão de jornalista. Logo, são perigosas certas teorias que defendem a abertura do
32
jornalismo para qualquer um que saiba escrever ou comunicar-se de forma mais ou
menos correta (?).
Esses profissionais, os apresentadores de programas policiais na televisão gozam
de grande popularidade. E alguns desses apresentadores, graças aos pontos da audiência,
conseguem ser eleitos deputados, vereadores e até prefeitos. Com a imunidade
parlamentar prerrogativa dos eleitos esses poderosos passam também a
invulneráveis, intocáveis. Isto é, não podem ser responsabilizados criminalmente por
seus atos, porque a lei lhes assegura que só serão processados com autorização de seus
pares. Mas como impera o corporativismo, tudo fica do mesmo jeito.
A partir desse processo, iniciado em junho de 1997, a Procuradoria da República
em Curitiba passou a fazer um acompanhamento das exibições de todos os programas
policiais da televisão. Embora alguns jornais e radialistas continuem fazendo
linchamento moral das pessoas do noticiário policial.
A linguagem foi moderada por um período que não durou mais de um mês. Aos
poucos, foi voltando ao “normal”. Os apresentadores de programas televisivos e
radiofônicos policiais ficaram um pouco mais cometidos. Mas a bonança dura pouco,
logo todos os desempregados envolvidos em confusões viraram “vagabundos”,
mulheres pegas nos arrastões policiais são “prostitutas” e, suspeitos viram “criminosos,
assassinos, ladrões, estupradores”. Tudo acaba numa esquartejada pizza. E a imprensa
sensacionalista prossegue cometendo crimes de calúnia, difamação e injúria.
ÉTICA “NA MARRA”
Desconhecimento das leis
O ADVOGADO CURITIBANO Joel Sanways aposta numa ética “na marra”. Ele acredita
que diante de punições exemplares, as demais emissoras e os demais profissionais da
imprensa policial ficarão mais cautelosos. Para ele o jornalismo deve ser exercido como
uma profissão como qualquer outra que tem o seu código de ética. “Se um advogado,
um médico, ou um engenheiro age de maneira descortês, antiética ou até grotesca diante
de seu cliente, ele será chamado à atenção e até punido pelo órgão regulamentador da
sua profissão. Por que é que o jornalista não deveria ter um cuidado maior com a sua
ética, com a sua postura perante o seu cliente – o público, de um modo geral? Penso que
33
exista um órgão que regule isso. A gente percebe, no entanto, que não existe a cultura
dessa fiscalização, dessa vigilância”, afirma.
Para Carlos Alberto Di Franco, a ética jornalística não é um dique, mas um canal
de irrigação. A paixão pela verdade; o respeito à dignidade humana; a luta contra o
sensacionalismo; a defesa dos valores éticos, enfim, representam uma atitude
eminentemente afirmativa. A ética, ao contrário do que gostariam os defensores de um
moralismo piegas, não é um freio às legítimas aspirações de crescimento das empresas
informativas. Suas balizas, corretamente entendidas, mola propulsora de verdadeiras
mudanças.
Profissionais que trabalham na mídia, como em qualquer atividade desenvolvida
pelo homem estão sujeitos a erros. Um balanço sereno, no entanto, indica um saldo
favorável ao trabalho da mídia. A imprensa brasileira, de um modo geral, deixou de ser
provinciana. As redações se modernizaram. Mas o jornalismo policial feito em Curitiba
ainda é do tempo em que fofocas e bisbilhotices eram assuntos interessantes no
cotidiano das pessoas. E de certa forma, isso ainda vende muito jornal. Mesmo que os
focalizados sejam “pobres, pretos e putas” – os excluídos da grande imprensa e de todos
os demais cenários nos quais estão os “bacanas”.
O que é ainda mais assustador é que a grande maioria dos jornalistas desconhece
a própria lei de imprensa e o Código de Ética do Profissional de Jornalismo. Essa
afirmação não é resultante de uma pesquisa científica porque não foi aplicado nenhum
questionário junto a esses profissionais. Ela está baseada e entrevistas e conversas
informais com jornalistas dentro e fora das redações dos principais jornais de Curitiba e
na constatação do jornalista e advogado Hermínio Back, que é ainda mais categórico:
“grande parte dos jornalistas não conhece sequer o artigo 5º da Constituição Federal”.
A universidade deve ser grande começo. A escola de jornalismo e os cursos de
comunicação social, de maneira geral, devem dar os primeiros passos para melhorar a
formação e, principalmente, melhorar a informação do profissional de imprensa.
Entretanto, as faculdades de jornalismo, infelizmente, acabam formando técnicos
“escrevedores” de matérias, repórteres “faladores” na televisão ou no rádio. Na opinião
do jurista e professor de direito da Universidade Federal do Paraná, Renè Dotti, a
universidade sozinha não forma o jornalista. “O que o torna profissional é a vida, o
contato, o seu feeling, não o diploma”. (41)
34
RELAÇÕES PERIGOSAS
O caminho da fama
TER A IMPRENSA a favor é ter o povo a favor. Tê-la contra é um veredicto à
condenação. Essas afirmações exageradas soam à presunção, evidentemente por parte
de quem está escrevendo, neste caso, um jornalista. Mas sem a pretensão de colocar o
jornalismo na posição de quarto poder, não deixa de ser um fato preocupante tanto para
quem já está no mercado de trabalho quanto para os futuros focas (repórter em início de
carreira).
Pessoas com ascensão na carreira política, geralmente, dão seus primeiros
passos por intermédio da mídia. Trata-se de uma gente que sabe “trabalhar” com a
imprensa, ou, sem rodeios, sabe usá-la em favor de interesses próprios.
Há também outros profissionais, de outras searas, que sabem, e muito bem, usar
e manipular jornalistas e comunicadores, com igual ou superior habilidade. Médicos,
advogados, engenheiros, terapeutas alternativos, artistas, costureiros. Cada um, muitas
vezes costuma desenhar, com as tintas da mídia, a trilha para seu estrelato. E isso
acontece, em todos os veículos, nos espaços destinados a matérias jornalísticas. É
quando o texto da matéria jornalística é invadido pela semântica da bajulação e pelo
lesco-lesco do jabaculê. Estas duas últimas expressões, numa interpretação livre,
significam, mais ou menos: toma lá dá cá.
No Brasil, isso não é uma prática comum. Gente que quer entrar para o mundo
dos “bacanas” costuma recorrer ao jornalismo em busca de fama e de evidência diante
da clientela no mercado onde atuam. Quanto mais famoso for o profissional, mais caros
serão os seus serviços. Mas, por mais paradoxal que possa parecer, nesse meio, tem até
jornalista que faz uso da própria profissão para crescer financeiramente, conquistar
amizades influentes, “subir na vida”.
Para o jornalista e advogado, Antônio Strano, professor da cadeira de Ética da
Comunicação na PUC/PR e na Universidade Tuiti do Paraná, a sociedade moderna
impõe o utilitarismo. Isso quer dizer que, os profissionais, independente de sua área de
atuação, tem que sair em busca de resultados. “Então temos essa nova terminologia
moderna que classifica como o melhor profissional, aquele que obtém bom lucro no
35
exercício da função”, comenta. Quem tem mais fama terá mais clientes. Com isso, mais
dinheiro e mais poder. (42)
Os advogados também sabem fazer bom uso da mídia. Saem em busca da
opinião pública favorável ao seu cliente. Feito isso, já garantem meio caminho andado
num tribunal de júri popular. Habilidosos, esses profissionais sabem como criar fatos
novos. Convocam a imprensa, estabelecem polêmicas e, muitas vezes, usam a própria
notícia, por eles mesmos, “plantada”, como elementos a favor do processo. Neste caso,
usam também o jornalista, o jornal, o meio, enfim.
Isto quer dizer que aqueles que têm mais influência e maior habilidade no trato
com a imprensa, se utilizam, e muito, de espaços na mídia para obter êxito. Todavia,
nem precisa ser um especialista para afirmar com segurança que sem dúvida, isso
também não é nada ético. Mas para que um advogado possa acessar a imprensa é
preciso que ele também encontre pela frente um profissional que se deixe manipular. E
deixar-se manipular implica num desleixo com relação aos aspectos éticos da profissão.
E quando se encontram jornalista e advogado, com essas características, acontece o
casamento perfeito. Claro que há um pragmatismo nessa relação. É pura troca de
interesses.
Todavia é importante ressaltar que os jornalistas e comunicadores em geral
devem estar sempre preparados, amadurecidos no exercício da profissão, para que não
sirvam de instrumento de certos grupos. Admitir a não percepção do profissional de
imprensa com relação ao discernimento desses aspectos na notícia, é o mesmo que
admitir a sua incompetência. Porque no elenco das características inerentes ao jornalista
há bem pouco espaço para a ingenuidade.
O advogado criminalista curitibano, Júlio Militão, fala sobre a importância de
ter a imprensa a favor do cliente. Ele faz parte da corrente dos que optam pelas causas
que chocam e comovem a opinião pública para que, através da sua atuação nos
tribunais, possa adquirir notoriedade e fama. (43)
Entre suas causas famosas, tem o caso do estudante Rafael Zanella, (com grande
repercussão na mídia/1997) morto pela polícia, no bairro de Santa Felicidade e, em
seguida, para justificar o crime, os policiais colocaram drogas e armas no carro do
rapaz.
36
Num primeiro momento, a imprensa em geral e o segmento que explora o
noticiário policial, deu a versão dos policiais “traficante é morto pela polícia”.
Rapidamente, Militão foi contratado pela família Zanella e, com muita habilidade,
colocou a imprensa contra a polícia. O assassinato do estudante revoltou a comunidade.
Aconteceram passeatas. O fato rendeu semanas de entrevistas dos pais e irmãos de
Rafael Zanella em todos os jornais, programas de rádio e de televisão. Ninguém sequer
tocou no crime de imprensa, por ter divulgado a versão da polícia, sem ter checado.
Nessa história, Militão diz que prefere ter a imprensa a seu favor e é categórico quando
afirma: “A Polícia cometeu o crime, a imprensa simplesmente divulgou a farsa montada
pelos policiais”. Ele acha que a imprensa agiu corretamente porque os jornalistas se
basearam num documento oficial.
Como advogado da família, Militão declarou na ocasião que não tinha interesse
em processar nenhum jornal. “Preciso da imprensa a meu favor. A favor do meu
cliente. A nós, interessa processar o Estado que é responsável pela ação desses maus
policiais”, afirmou.
Outro caso, também defendido por Militão, já foi a julgamento, no final de 89.
Um médico jogou álcool na namorada e ateou fogo. Ela virou uma espécie de “Diva”
da imprensa. Com o corpo todo queimado, a moça foi submetida a várias cirurgias,
sempre sob a mira dos holofotes da mídia. Não deu outra. Todo mundo abominava a
atitude do rapaz, que já cumpriu a pena na Penitenciária de Piraquara Região
Metropolitana de Curitiba. Ele, pelo seu crime hediondo, por si só já estava condenado.
Mas também era preciso condená-lo pela mídia. Para que não obtivesse chances no
tribunal. Então, a ostensiva divulgação das fotografias e do sofrimento de sua namorada
acelerou o julgamento, encerrando o caso mais rapidamente. Além de ganhar a causa, o
advogado conquista fama e dinheiro.
POBRES, PRETOS E PUTAS.
Os pés do preconceito
A PROSTITUTA SE SENTE mesmo à margem da sociedade. Ela talvez nem saiba dos
direitos que tem. Talvez não se sinta uma pessoa valorizada. E isso vale também para o
pobre, que já está condenado ao sectarismo social, e para o negro, que sofre de um
racismo velado. E há o juízo do grupo sobre eles próprios. Aí entra a questão do
37
preconceito, da rotulação que os coloca numa escala inferior na pirâmide social. E lá na
base dessa pirâmide, o cidadão já acaba aceitando que, dada a sua condição sócio-
econômica, não tem os mesmos direitos do que tem um cidadão mais bem situado, mais
respeitado que vai à missa; paga seus impostos; tem propriedade, etc. Essa mentalidade
é a que está por trás de todo o tipo de abuso. Há uma espécie de ausência coletiva dos
direitos e da dignidade das pessoas. E quando essas pessoas resolvem reivindicar os
seus direitos, procuram o Estado que nem sempre está bem aparelhado para lhes
defender e pior, muitas vezes, não demonstra nem o interesse e nem a vocação
necessária para assumir a causa do excluído.
Todo mundo é cidadão e por causa disso deve e precisa exercer a sua cidadania.
E o que é exercer a cidadania a não ser fazer valer seus direitos mínimos assegurados
pela Constituição Federal? Tem cidadão-padrão; cidadão-gay; cidadão-prostituta;
cidadão-mendigo e até cidadão-bandido. Todos são cidadãos. Todos são iguais perante
a lei, pelo menos é o que reza a Constituição Brasileira no caput do seu artigo quinto.
Enquanto os defensores dos direitos humanos lutam a favor desses excluídos, os
profissionais que atuam no jornalismo policial ficam indignados e ironizam a situação.
Após sofrer ação do Ministério Público (agosto/1997) proibindo-o de mostrar suspeitos
ou de execrá-los em público, o então, deputado estadual e então apresentador Luiz
Carlos Alborghetti do programa que levava o seu sobrenome “Alborghetti” na Tevê
Independência de Curitiba -, passou a reinventar o seu estilo. Ele, que tripudiava em
cima das ações dos bandidos e/ou em cima de situações grotescas do cotidiano popular,
começou a ironizar. Antes, ele defendia a pena de morte para os bandidos e todos os
suspeitos já estavam condenados em seu programa. Sempre, poupava os mais
endinheirados e os seus companheiros da política. Nas suas ironias ele dizia, entre
outras coisas, que o “bandido, pobre coitado, é uma vítima da sociedade e que se ele
matou, vai para a cadeia e vai sofrer muito lá, mas por pouco tempo”. E
complementava, alterando sua atuação teatral ora em gritos, ora em sussurros,
dirigindo-se ao suspeito: “não se preocupe meu bem, assassino meu amor, porque os
defensores dos direitos humanos irão lá, na cadeia, levar cigarro pra você e também vão
conseguir um bom advogado para tirá-lo do xadrez. E daí, meu filho, você vai poder
novamente, matar, roubar, estuprar, seqüestrar (...)”.
38
Na opinião do jornalista curitibano, Álvaro Colaço, enquanto na Europa,
especialmente na Inglaterra, se cultua o mito vitoriano da proibição da expressão
sexual, tendo como emblema a própria monarquia, que reis e príncipes que não
necessitam dos prazeres da carne, cultua-se o mito da sexualidade. Lá o
sensacionalismo é feito em cima de fofocas, intrigas e escândalos em torno das
celebridades. No Brasil, cuja cultura formou-se através do homem branco português, do
índio (nativo) e do negro, o mito é um tanto “macunaímico”. Ele acrescenta que o
sensacionalismo adquire uma aura quase circense. Sensacional é o bizarro: ‘mulher-
barbada’; o ‘chupa-cabra’; a ‘loura-fantasma’.
A abordagem está em torno do desconhecido: da morte e da violência. “Aqui,
substituímos os rostos bonitos dos astros do cinema, pela face dura e perturbada de um
‘bandido-da-luz-vermelha”, por personagens que mal sabem seus direitos e os limites
de ação da imprensa. Não que as fofocas e intrigas inexistam, mas elas pertencem mais
à ficção das novelas e às revistas de tevê”. (45)
“Pretos, pobres e putas passam os piores pedaços num país onde
predomina o preconceito. Poderia, em prosa, proferir palavras,
pê-por-pê, para esse povo prejudicado pela polícia. Postergado
pela política. Podres poderes põem as costas para pacatos
cidadãos publicados feitos palhaços de profissionais da imprensa
– paladinos dos poderosos. O Papa só tem piedade desse povo.
Pena! Pena prevalecer o preconceito para pretos, pobres e putas.
Povo sem posição na pirâmide social”. (Sirley Cardoso, 1997)
NOTAS
1. DI FRANCO, Carlos Alberto, Jornalismo, Ética e Qualidade. Rio de Janeiro: Vozes,
1995, p. 77.
2. Guilherme e Paula foram presos e condenados por homicídio qualificado, a 19 anos de
prisão. Os dois separaram-se oficialmente depois do nascimento do filho. Paula cumpriu
pena por um ano e conseguiu liberdade condicional. Guilherme cumpriu um terço da
pena e também conseguiu liberdade condicional. Ambos foram libertados em 1999. A
indignação popular e a luta de Glória Perez resultaram na alteração da legislação penal.
Apesar da mudança da lei não ter atingido os assassinos de Daniela, o homicídio
qualificado passou a ser punido com mais rigor a partir da vigência da lei.
3. ARTIGO INC. X - Constituição da República Federativa do Brasil. Distrito Federal.
1988.
4. Carlos Alberto Tavares que era conhecido no meio jornalístico como “Charles”
faleceu em 05 de fevereiro de 2005 de infarto no miocárdio.
5. O Instituto de Defesa das Liberdades Públicas foi fundado em abril de 1996, pelos
advogados, Joel Samways Neto, Hermínio Bach e Joe Tennyson Vello.
39
6. FÉDER, João. Entrevista concedida à equipe deste Projeto Experimental da UTP.
Curitiba 09/09/1997.
7. DI FRANCO, Carlos Alberto. Jornalismo, Ética e Qualidade. Rio de Janeiro: Vozes,
1995, p. 24.
8. HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. Novo Dicionário da Língua Portuguesa.
Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1988. p. 593.
9. ANGRIMANI, Danilo. Espreme Que Sai Sangue. São Paulo: Summus Editorial, 1995.
p. 14.
10. PEDROSO, Rosa Nívea. A Produção do Discurso de Informação num Jornal
Sensacionalista. Rio de Janeiro: UFRJ/Escola de Comunicação, 1983.
11. Fotógrafos free lancers que trabalham sem vínculo empregatício com os jornais. Prática
mais comum na Europa, principalmente na Inglaterra. O nome Paparazzo tem origem
italiana. Os paparazzi surgiram em cena em 1958. Naquele ano, Tazio Secchiaroli, o
fotógrafo que inspirou Frederico Fellini no filme “La Dolce Vita” (1960), descobriu que
seria mais bem pago quando conseguia fotos “surpresa”. Em uma mesma noite de 1958,
os paparazzi imortalizaram o rei Farouk, do Egito que fora deposto. Ele foi flagrado
pelas câmeras indiscretas do Paparazzo virando a mesa de um restaurante em meio a um
acesso de raiva, e um ator norte-americano esmurrando um fotógrafo que o flagrou
jantando com Ava Gardner. Fellini viu algumas das fotos e saiu em busca de
Secchiaroli. Criou o personagem Paparazzo o fotógrafo de “La Dolce Vita” que faz
dupla com o jornalista Marcello, interpretado por Marcello Mastroiani. (fonte agência
Reuter/Folha de S. Paulo em edição especial sobre a morte da princesa Diana Spencer,
do dia 01.09.97, p. 8). Outra versão, mais folclórica, diz que na década de 50, um
proprietário de um hotel, cujo sobrenome era Paparazzo, hospedava gente famosa e
celebridade e tinha um “esquema” com alguns fotógrafos que flagravam essas figuras
de forma exclusiva. Eram os fotógrafos do Paparazzo. Mas somente em 1962, coma
exibição do filme La Dolce Vita, de Fellini, cujo personagem vivido por Marcello
Mastroiani era de um jornalista, sempre acompanhado pelo colega fotógrafo Paparazzo
e mais uma legião de fotógrafos que perseguiam as estrelas do cinema, o termo tomou-
se famoso, e acabou sendo incorporado à figura do fotógrafo “indiscreto” e em seguida
virou profissão. Mas trata-se de um neologismo da língua italiana, já que nomes
próprios, assim como em Português, não são pluralizados. Isto é, mesmo sendo
referidos no plural permanecem no singular por exemplo: “os Batista são pessoas
muito simpáticas”; logo “os Paparazzo (sobrenome) sã o pessoas muito indiscretas”.
Todavia, como a palavra, na Itália, tornou-se sinônimo de fotógrafos free-lancers,
pluraliza-se (N.A.).
12. Formato do jornal tablóide usa na Europa e Estados Unidos, medindo 36cm por 21,5cm.
Na Europa, tablóides são sinônimos de jornalismo “marrom”, sensacionalista e de
credibilidade discutível. Um jornal em tamanho standart mede 54cm por 32,5cm. O
formato tablóide usado no Brasil mede 33cm por 26cm. O Jornal ZERO HORA, de
Porto Alegre tem esse formato e não trabalha com noticiário sensacionalista. Está na
lista dos jornais sérios do País.
13. CASTRO, Emerson de. Entrevista à equipe do Projeto Experimental da UTP. Curitiba
09 Set.97.
14. DANTAS, Audálio. Revista Imprensa. São Paulo: Feeling Editoria Ltda. Nov.1995, p.
24.
15. Revista Imprensa. Sã o Paulo: Feeling Editoral Ltda. Novembro/1995, p. 25.
16. Programa Canal Livre. Rede Bandeirantes de Televisão – canal 2 Curitiba: apresentador
Ricardo Chab; programa Cadeia. Central Nacional de Televisão (CNT) canal 6
Curitiba: apresentador Augusto Canário; programa 190 Urgente. Central Nacional de
Televisão (CNT) canal 6 Curitiba: apresentador Carlos Ratinho Massa; programa
Alborghetti. Tevê Record canal 5 Curitiba: apresentador Luiz Carlos Alborghetti;
40
jornais Tribuna do Paraná e Diário Popular, programas policiais radiofônicos
apresentados em emissoras AM, em Curitiba. Todos deram a notícia.
17. MEDINA, Cremilda. Corroborando o título de seu livro: Notícia, um produto a venda.
São Paulo: 2ª edição. Summus Editorial, 1988.
18. TAVARES, Carlos Alberto, diretor de redação do jornal Tribuna do Paraná. Entrevista
concedida a Sirley Aparecida Cardoso. Curitiba, 29/09/1997. (Falecido em 05 de
fevereiro de 2002)
19. CASTRO, Emerson. Entrevista à equipe deste Projeto Experimental da UTP. Curitiba
09 Set. 97.
20. Em Curitiba, a partir de abril de 1991, o então prefeito da cidade, Jaime Lerner mandou
construir as estações-tubo de embarque e desembarque de passageiros do transporte
coletivo urbano. (Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Prefeitura de Curitiba).
21. ANTUNES, Américo. Entrevista à equipe deste Projeto Experimental da UTP. Curitiba,
10/09/1997.
22. NORBERTO, Natalício. Jornalismo Para Principiantes. Rio de Janeiro: Ediouro, 1978.
P. 129.
23. FÉDER, João. Entrevista à equipe deste Projeto Experimental da UTP. Curitiba
09/09/1997.
24. IDEM
25. DIMENSTEIN, Gilberto. A polícia puritana. Jornalistas americanos denunciam
excessos cometidos pelos colegas. Folha de S. Paulo. São Paulo: Editora Folha da
Manhã S/A, 09 de março 97.
26. PEDRACINI, Richard. Folha de S. Paulo. Caderno. São Paulo: Ed. Folha da Manhã
S/A. 08/08/1993. P. 3.
27. MARTINS, André. Revista Imprensa. São Paulo: Feeling Editorial Ltda. 1995. P. 22.
28. FERREIRA, Manuel Alceu Affonso. Revista Istoé. São Paulo: Grupo de Comunicação
Três S/A. 30/07/1997. Entrevista aos jornalistas Antônio Carlos Prado e Mario
Chimanovicth. P. 6.
29. DOTTI. Renê Ariel. Folha de São Paulo Caderno Mais. São Paulo: Editora Folha da
Manhã S/A. 09/03/1997. P. 7.
30. GOODWIN, H. Eugene. Procura-se Ética no Jornalismo. Rio de Janeiro: Editorial
Nórdica, 1987. P. 417 e 418.
31. BOHERE, G. Profissão: Jornalista. São Paulo: Editora LTR., 1994. P. 103, 104, 108.
32. IDEM
33. COSTA, Caio Túlio. O Relógio de Pascal A experiência do primeiro ombudsman da
imprensa brasileira. São Paulo: Siciliano, 1991. P. 9.
34. MILLS, C. Wrigth. A Elite do Poder. São Paulo: Zahar Editores. 1975. P. 369.
35. IDEM. P. 122.
36. IDEM. P. 369.
37. MORIN, Edgar. Para Sair do Século XX. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986.
P. 31 e 32.
38. IDEM, Ibidem.
39. DI FRANCO. Carlos Alberto. Jornalismo. Ética e Qualidade. Rio de Janeiro: Vozes,
1996. P. 24.
40. DOTTI, René Ariel. Extra Pauta Jornal do Sindicato dos Jornalistas do Paraná
edição 32 – Curitiba, 10/09/1997. P.5
41. STRANO, Antônio. Entrevista a Sirley Cardoso. Curitiba, 12/11/1997.
42. MILITÃO, Júlio. Entrevista a Sirley Cardoso. 09/10/1997.
43. Editorial do Jornal Laboratório - PAUTA NQM, da Faculdade de Jornalismo da
Universidade Tuiuti do Paraná Ed. 06/1997. (Este texto serviu de inspiração para
escrever este livro)
41
44. Extra Pauta jornal do Sindicato dos Jornalistas do Paraná. Edição 32 10/09/1997.
Curitiba. P. 16.
45. Joel Samways Neto, advogado e procurador do Estado do Paraná e um dos fundadores
do Instituto de Defesa das Liberdades Pública de Curitiba.
46. Carlos Massa - que tem o apelido de Ratinho. Ele começou apresentando programa
policial de na televisão em Curitiba, depois foi para a TV Record, na qual apresentava
um programa que também explorava a boa fé de pessoas humildes, em rede nacional,
em seguida levou o programa para o SBT, agora é proprietário de uma das afiliadas do
SBT no Paraná (Tevê Iguaçu Canal 4)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Livros, artigos e reportagens.
ABRAMO, Cláudio. A Regra do Jogo. São Paulo: Companhia das Letras. 1988.
ANGRIMANI, Danilo. Espreme que Sai Sangue. São Paulo: Summus Editorial. 1995.
ARISTÓTELES. Vida e Obra – A Ética de Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1997.
BAKHATIN, Mikhail. Dialogismo, Polifonia, Intertextualidade. São Paulo: Edusp, 1994.
Barbará, Anna Marina e Ong Davida. As meninas da Daspu. Editora Novas Idéias. Rio de
Janeiro. 2007.
BOHÈRE, G. Profissão: Jornalista. São Paulo: Editora LTr. 1994.
BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à Análise do Discurso, Ed. São Paulo:
Editora da Unicamp. 1995.
CALDAS, Pedro Frederico. Vida Privada, Liberdade de Imprensa e Dano Moral. São
Paulo: Editora Saraiva, 1997.
CARMO-NETO, Dionísio. Metodologia Científica para Principiantes. Ed. Salvador:
Editora Universitária Americana. 1993.
CHAPARRO, Manuel Carlos. Pragmática do Jornalismo. São Paulo: Summus Editorial. 1994.
COSTA, Caio Túlio. O Relógio de Pascal A experiência do primeiro ombudsman da
imprensa brasileira. São Paulo: Editora Siciliano, 1991.
DIÁRIO POPULAR. Curitiba: edições de julho a 1ª quinzena de outubro de 1997.
DIAS, Ana Rosa Ferreira. O Discurso da Violência – As marcas da oralidade no jornalismo
policial. 1ª edição, São Paulo: Cortez Editora, 1996.
DI FRANCO, Carlos Alberto. Jornalismo, Ética e Qualidade. Petrópolis: Editora Vozes, 1996.
DIMENSTEIN, Gilberto. A polícia puritana. Jornalistas americanos denunciam excessos
cometidos pelos colegas. Folha de S. Paulo. São Paulo: Editora Folha da Manhã S/A, 09 de
março 97.
DOTTI, Renè Ariel. Limites da liberdade. Constituição regula abusos contra direitos
pessoais. Folha de S. Paulo. São Paulo: Editora Folha da Manhã S/A, 09 de março 97.
ECO, Umberto. Os Limites da Interpretação. São Paulo: Editora Perspectiva S/A, 1995.
FENAJ Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais. Código de Ética do Profissional
de Jornalismo e Declaração Universal dos Direitos Humanos. Curitiba: Universidade
Católica do Paraná, 1993.
FERREIRA, Manuel Alceu Affonso. Os limites da imprensa. Revista Istoé, São Paulo: Grupo
de Comunicação Três S/A, 30 de junho de 1997. Entrevista concedida aos jornalistas Antonio
Carlos Prado e Mário Chimanovitch.
GOODWIN, H.Eugène. Procura-se Ética no Jornalismo. Rio de Janeiro: Editorial Nórdica,
1987.
42
HULTENG, John L. Os Desafios da Comunicação Problemas Éticos. Florianópolis:
Editora da UFSC, 1990.
LOCKE, John. Ensaio Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Editora Nova Cultural,
1997.
MARCONDES, Filho Ciro. Televisão A Vida Pelo Vídeo. São Paulo: 12ª Editora Moderna,
1995.
MEYER, Philip. A Ética no Jornalismo um guia para estudantes, profissionais e leitores.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1987.
MILLS, C. Wrigth. A Elite do Poder. 4ª Ed., Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975.
MORIN, Edgar. Para Sair do Século XX. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986.
NELSON Chico; SANTOS, Nilton; NORONHA, Solange e MORESTZSOHN, Silvia (org.)
Jornalistas Pra Quê? (Os profissionais diante da ética). Rio de Janeiro: Sindicato dos
Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro. 1989.
NORBERTO, Natalício. Jornalismo Para Principiantes. Rio de Janeiro: Ediouro, 1978.
NUNES, Eunice. Limites da liberdade. Folha de S.Paulo, São Paulo: Editora Folha da Manhã
S/A, 09 de março de 1997.
OLIVEIRA, Juarez. Código Civil Brasileiro. São Paulo: Ed. Saraiva, 1986.
PEDRACINI, Richard. Prezados Jornalistas. Folha de S.Paulo, São Paulo: Editora Folha da
Manhã S/A, agosto de 1997.
ROSSI, Clóvis. O Que é Jornalismo. Ed. São Paulo: Ed. Brasiliense, Coleção Primeiros
Passos, 1991.
SANTOS, Reinaldo. Vade-Mécum da Comunicação. 10ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Destaque,
1993.
STEPHENS, Mitchell - História das comunicações - Do tantã ao satélite. Rio de Janeiro:
Civilização. Brasileira, 1993. Tradução de: A History of News: from the drum to the satellite.
1ª. Ed. New York: Viking Press, 1998
TRIBUNA DO PARANÁ. Curitiba: Editora O Estado do Paraná S/A. Edições de janeiro a
setembro de 1997.
Metodologia Científica sob a orientação do professor Nelson Garcia Santos da Universidade
Tuiuti do Paraná Gravações em vídeo dos programas: Cadeia, rede CNT-Gazeta, apresentado
de segunda à sexta-feira por Augusto Canário; 190 Urgente, rede CNT-Gazeta, apresentado de
segunda à sexta-feira, por Carlos Ratinho Massa; Alborghetti, Televisão Independência de
Curitiba, apresentado de segunda à sexta-feira, por Luiz Carlos Alborghetti.
43
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo