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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Campinas
2005
LUCAS LEONARDO
O DESENVOLVIMENTO DE
O DESENVOLVIMENTO DE O DESENVOLVIMENTO DE
O DESENVOLVIMENTO DE
MODELOS DE ANÁLISE DO JOGO
MODELOS DE ANÁLISE DO JOGO MODELOS DE ANÁLISE DO JOGO
MODELOS DE ANÁLISE DO JOGO
ATRAVÉS DA COMPREENSÃO
ATRAVÉS DA COMPREENSÃO ATRAVÉS DA COMPREENSÃO
ATRAVÉS DA COMPREENSÃO
JOGO
JOGOJOGO
JOGO
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O DESENVOLVIMENTO DE
O DESENVOLVIMENTO DE O DESENVOLVIMENTO DE
O DESENVOLVIMENTO DE
MODELOS
MODELOS MODELOS
MODELOS
DE ANÁLISE DO JOGO
DE ANÁLISE DO JOGO DE ANÁLISE DO JOGO
DE ANÁLISE DO JOGO
ATRAVÉS DA COMPREENSÃO
ATRAVÉS DA COMPREENSÃO ATRAVÉS DA COMPREENSÃO
ATRAVÉS DA COMPREENSÃO
JOGO
JOGOJOGO
JOGO
Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação) apresentado à Faculdade de
Educação Física da Universidade
Estadual de Campinas para obtenção do
título de Bacharel em Treinamento
Esportivo.
Campinas
2005
LUCAS LEONARDO
Orientador: Rodrigo Aparecido Azevedo Leitão
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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA
BIBLIOTECA FEF - UNICAMP
Leonardo, Lucas.
L553d
O desenvolvimento de modelos de análise do jogo através da
compreensão do jogo / Lucas Leonardo. - Campinas, SP: [s.n],
2005.
Orientador: Rodrigo Aparecido Azevedo Leitão.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) Faculdade de
Educação Física, Universidade Estadual de Campinas.
1. Jogos em grupo. 2. Metodologia. 3. Teoria dos jogos. I.
Leitão, Rodrigo Aparecido Azevedo Leitão. II. Universidade Estadual
de Campinas, Faculdade de Educação Física. III. Título.
4
Este exemplar corresponde à redação
final do Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação) defendido por Lucas
Leonardo e aprovado pela Comissão
julgadora em: 22/11/2005.
Prof. Ms. Rodrigo Aparecido Azevedo
Leitão
Orientador
Prof. Dr. Paulo César Montagner
Banca Examinadora
Campinas
2005
LUCAS LEONARDO
O DESENVOLVIMENTO DE MODELOS DE
O DESENVOLVIMENTO DE MODELOS DE O DESENVOLVIMENTO DE MODELOS DE
O DESENVOLVIMENTO DE MODELOS DE
ANÁLISE DO JOGO ATRAVÉS DA
ANÁLISE DO JOGO ATRAVÉS DA ANÁLISE DO JOGO ATRAVÉS DA
ANÁLISE DO JOGO ATRAVÉS DA
COMPREENSÃO JOGO
COMPREENSÃO JOGOCOMPREENSÃO JOGO
COMPREENSÃO JOGO
Dedicatória
Dedico este trabalho a meus pais, por serem os
maiores exemplos de dedicação e perseverança que
conheci. Papai e mamãe, amo muito vocês.
Agradecimentos
Agradecer em um espaço como este é uma tarefa muito difícil, pois não
gostaria que ninguém fosse esquecido.
Mesmo assim, gostaria de aproveitar esse espaço em que não preciso me deter
à regras acadêmicas, citações e “apuds” para que eu possa eternizar pessoas que
para mim já são eternas.
Agradeço muito a DEUS, um cara com o qual andei meio brigado por um
tempo, mas que voltou para minha vida com muita força e muita presença e que
finalmente aprendi a amar e respeitar verdadeiramente.
Agradeço muito ao meu orientador, Rodrigo Leitão, principalmente pela
paciência que teve para me orientar, tarefa nada fácil, pois devido à correria da
minha vida, quase nunca estava nos locais de nossas reuniões nas horas marcadas.
Leitão, valeu pela força e pela excepcional orientação! Muito Obrigado!
Agradeço a todos aqueles que passaram em minha vida de maneira marcante.
Meu primeiro melhor amigo, Felipe Bergamo, pessoa a qual perdi contato após meus
10 anos de idade, mas que me lembro perfeitamente de nossa amizade.
Meus amigos, eternos, Felipe Papais e Rafael Alcaraz, pessoas com as quais
vivi grandes momentos de minha vida, e que mesmo distantes, mas graças ao
ORKUT, ainda consigo manter contato.
Agradeço aos meus amigos com os quais vivi uma adolescência ímpar e
maravilhosa, Daniel (Dandan), Leandro, Miguel e Guilherme (galerinha do prédio lá
de Sorocaba), pessoal com o qual aprontei muito e fui muito feliz.
Agradeço aos meus grandes amigos Rafael Belaz, Vinicião, Maurão, Caetano,
Hélio, Samuca, Tadao, galera do colégio também lá de Sorocaba.
Meu grande amigo e professor de educação física, que há muito não vejo,
Silmar, um cara com o qual aprendi a amar essa profissão que hoje pretendo seguir,
um cara especial, que acabou se tornando um amigo e pessoa fundamental para meu
crescimento como ser humano.
Agradeço aos meus dois grandes professores do voleibol, Clóvis Antônio
Granado e Adílson Zambom (Xupa), duas escolas de voleibol, dois aprendizados
fantásticos em minha vida, pessoas que me motivaram muito a seguir esse caminho e
que são para mim exemplos de perseverança e de vitória.
Agradeço muito a um cara que considero um irmão em minha vida, Baiano
(Ricardo Benevides), você não imagina o quanto considero nossa amizade como uma
das coisas mais importantes de minha vida, não é à toa que divido quarto com você
há três anos la na CASAZUL!
A toda galera que passou pela inesquecível CASAZUL desde que me mudei
para lá: Baiano ( citado), Paulo, Luís, Pink, Penetra, Zazá, Marcelão, Guima,
Gabarrão, Marcel, Pocotó, Catuaba, Coisão e em especial, sem dúvida nenhuma, ao
Japoneis (Marcelo Masato Inoue), um cara formidável, que por de trás daquele jeito
7
“Vegeta” de ser e, que como eu, odeia poodles, é um dos caras mais amáveis que
tive a oportunidade de conhecer!
Agradecimentos também à Tia Nice, que com seus maravilhosos lanches
universitários agasalhou meu estomago em alguns dias que eu ficava sem o
bandejão.
Agradeço também ao Krigor (Seu Agnel), o cortador de grama oficial da
CASAZUL.
Poxa, não poderia me esquecer deste que foi um dos grandes modelos que segui
em minha vida acadêmica e pessoa que me abriu muitas portas, Eduardo Lopes
Salomão Magilono, o Tião. Valeu por tudo cara!
Carioca e Clodoaldo, dois caras loucos, insanos, mas que de um tempo pra
se tornaram duas pessoas determinantes em minha vida!
Agradeço a toda galera do Handebol da FEF, Joninha, Vanessona, Rodrigo,
Pizani, Diego, Tulu, Juba, Jé, Thomás, Tuca e Carlinha, galera, aquele abraço pra
todo mundo!
Não posso de deixar de agradecer ao pessoal do 02 Diurno da FEF uma galera
única com a qual convivi meus anos de faculdade.
Duda, Mazzucão e Caipira, agradeço em especial a vocês por serem muito
espeicais nesse momento da minha vida!
Aos professores da FEF, Césinha, Robertão, Heloisa Reis, Jocimar e Hermes:
valeu pelas oportunidades, pelos puxões de orelha e, sobretudo, pela confiança que
depositaram em mim.
Não poderia esquecer também de pessoas que, com sua simplicidade e amizade,
conquistaram meu respeito: Seu Orlando, Tia Norico, Beeroth, Helinho e Tião do
Ginasinho, sem eles a FEF não “andaria” de jeito nenhum!
Agradeço e muito, não a uma pessoa, mas a uma instituição pela qual dei meu
sangue e suor, agradeço à LAU, um sonho meu e do Tião, com a qual pude ascender
como ser humano, com a qual conquistei muitos amigos, e como é de costume, alguns
inimigos.
Agradeço ao Prof. Tadeu Jorge e Prof. Carlos Anjos por apoiarem as
iniciativas da LAU e permitirem que eu e todos nós os envolvidos na consolidação do
Esporte Universitário da UNICAMP pudéssemos aprender tanto.
A galerinha que me ajudou muito na LAU Mateus, Iperó, Carlinha (de novo
hein?!), Igor, Glenda, Sandrinha.
Agradeço muito à galera do vôlei da Computação, Estatística e Matemática,
Sorô e Mirella (meus eternos capitães), Tatiana Carla, Tatiana Ourofino, Sandrinha
(de novo), Paty, Luana, Carol, Camila, Dani, Irina, Natália, Gi, Ana, Filipe, Felipe,
Ale, Büchner, Renzo, Marcão, Lotufo, Igor, Chopinho, Farofa, Samuel, Pará,
Claudião, Lucinao (computação), Joarez, Zeca (Zeca Neles!), Brunão, Vinicius,
Japa, Luciano (cursão), Ari e Hugo.
Não posso deixar de falar de uma pessoa como a Liu, figura eternizada da
FEF, que mesmo com algumas briguinhas acabei por nutrir uma boa e saudável
amizade.
Agradeço às madrugadas que tanto me acolheram em meus estudos e trabalhos,
talvez o único período em que eu podia sentar em paz e colocar verdadeiramente a
mão na massa.
8
Desculpem a todos que citei, mas agora vem o momento dos agradecimentos
“especialmente especiais”.
Tathy, eu agradeço muito a DEUS por tê-la colocado em minha vida, com você
pude aprender finalmente a valorizar uma relação a dois.
Você é uma pessoa simplesmente linda, fantástica, meiga, determinada e
principalmente... Apaixonante. Amo você, e cada dia eu sinto que esse sentimento se
renova dentro de mim. Obrigado por surgir em minha vida.
Joju, minha irmã, saiba que vo é para mim um grande exemplo de que é
possível dar certo na vida.
Agradeço muito, aos meus queridos pais, pessoas exemplares, que mostram pra
mim o valor da batalha diária e o quão grande é a força interior e de nós seres
humanos.
Pessoas que inacreditavelmente lutaram contra todos os problemas que a vida
lhes colocou, lutaram, ainda lutam, sem nunca perderem a esperança na vida. Papai
e mamãe, vocês são os maiores exemplos de minha vida, e não escondo de ninguém o
quanto os amo.
Digo a todos nestas páginas, para finalizar meus agradecimentos, que meu
objetivo de vida é ser tão competente e amoroso quanto você, meu querido pai, e
batalhador e corajoso quanto você, minha amada mãe.
LEONARDO, Lucas. O desenvolvimento de modelos de análise do jogo através da
compreensão do jogo. 2005. 42f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação Bacharelado
em Treinamento Esportivo) Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 2005.
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo a busca de um corpo teórico norteador para o
desenvolvimento de modelos de análise do jogo para os jogos desportivos coletivos, com
finalidade de discutir o problema apontado por Dufour (1991) apud Garganta (2001) relativo à
dificuldade na delimitação de categorias a serem analisadas nos jogos. Para isso, buscou-se uma
releitura, sob a ótica da análise do jogo, de autores da pedagogia do esporte que têm como
proposta o ensino dos jogos desportivos coletivos desvinculando-os do modo de fazer (gesto
técnico) e considerando os razões do fazer (tática) como o meio pelo qual deve-se basear o
processo de ensino-aprendizagem. Assim, observou-se que o desenvolvimento de modelos de
análise do jogo pode ser estabelecido com base nos autores da pedagogia do esporte e sob a
contextualização dos jogos a partir da teoria do jogo. Assim, deve-se buscar como categorias
bases para a elaboração do modelo de análise do jogo tanto as relações entre os princípios do
jogo enumerados por Bayer (1992), sendo os princípios de ataque: (i) manutenção da posse de
bola, (ii) progressão ao campo adversário e (iii) finalização visando marcar um ponto; e
princípios de defesa: (iv) recuperação da posse de bola, (v) impedir a progressão adversária e
(vi) proteção do alvo, como as regras de ação (mecanismos responsáveis por operacionalizar os
princípios do jogo) de cada modalidade esportiva, fazendo da dimensão da técnica mais um
instrumento de análise do jogo (ao qual a agregação de valores e índices de eficiência ou
eficácia referentes não serão categorias a serem relevadas no momento da elaboração do modelo
de análise do jogo). No modelo proposto, a técnica será qualificada e quantificada apenas no fim
de todo o processo de análise do jogo, que análises baseadas nos aspectos referentes aos
princípios do jogo e das regras de ação (dimensão tática do jogo) possibilitam o acesso à
análise dimensão técnica e sua classificação com relação aos aspectos de eficiência e eficácia,
sendo o caminho inverso buscar análise da tática do jogo apenas com base nas análises da
técnica bastante complicado. Dessa forma, a proposta desse trabalho centraliza-se no
desenvolvimento de modelos análise do jogo cuja estrutura para a coleta dos dados considere os
princípios do jogo e as regras de ação como as categorias a serem analisadas nessa fase do
processo, sendo os princípios do jogo, as regras de ação e também os gestos técnicos os
elementos analisados após a coleta dos dados.
Palavras-Chaves: Análise do Jogo, Metodologia, Jogos Desportivos Coletivos
LEONARDO, Lucas. The development of match analysis models through comprehension of
game. 2005. 42f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Bacharelado em Treinamento
Esportivo)-Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.
ABSTRACT
The present study has as objective the search of a guider theoretical body for the development of
match analysis models for the collective sports games, with purpose to argue the problem
pointed for Dufour (1991) apud Garganta (2001) relative to the difficulty in the delimitation of
categories to be analyzed in the games. So, it was reinterpreted the pedagogic sport’s authors,
under the optics of the match analysis, who have as proposal the education of the collective
sports games disentailing them of the how to do (gesture technician) and considering the
reasons of do (tactical) as the way for which must be based the teach-learning process. Thus, it
was observed that the development of match analysis models could be established with base in
these authors and under the context of the games from the theory of the game. Thus, it must be
searched as categories bases for the elaboration of the match analysis model in such a way the
relations between the principles of the game enumerated by Bayer (1992), being the attack
principles: (i) maintenance of the ball ownership, (ii) progression to the field adversary and (iii)
finishing aiming at to mark a point; and defense principles: (iv) recovery of the ball ownership,
(v) to hinder the progression adversary e (vi) protection white it, as the rules of action
(responsible mechanisms for systemize the principles of the game) of each sporting modality,
making of the dimension of the technique plus an instrument of analysis of the game, to which
the aggregation of values and indices of referring efficiency or effectiveness will not be
categories to be stood out at the moment of the elaboration of the model of analysis of the game.
In the considered model, the technique qualified and will be quantified only in the end of all the
process of analysis of the game, since analyses based on the referring aspects to the principles of
the game and the rules of action (tactical dimension of the game) make possible the access to the
analysis dimension technique and its classification with relation to the efficiency aspects and
effectiveness, being the inverse way - to only search analysis of the tactics of the game on the
basis of the analyses of the technique - sufficiently complicated. Thus, the proposal of this work
is centered in the development of match analysis models whose structure for the data collection
considers the principles of the game and the rules of action as the categories to be analyzed in
this phase of the process, being the principles of the game, the rules of action and also the
gestures technician the elements to be analyzed after the data collection.
Keywords: Match Analysis, Methodology, Sports Games
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figura 1 - Modelo Pendular Proposto por Daolio (2002) 26
Figura 2 - Proposta para Elaboração de Modelos de Análise de Jogo (Baseado em
Daolio, 2002) 35
Tabela 1 -
Análise dos Princípios do Jogo - Retirado de Bayer (1992, p.53)
17
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
FEF Faculdade de Educação Física
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
JDC Jogos Desportivos Coletivos
SUMÁRIO
1. Introdução................................................................................................................................ 13
2. Justificativa .............................................................................................................................. 22
3. Objetivos................................................................................................................................... 23
4. Elementos para a Análise do Jogo ......................................................................................... 24
5. Ciência? .................................................................................................................................... 33
6. Conclusões................................................................................................................................ 34
7. Referências Bibliográficas ...................................................................................................... 36
13
1. Introdução
1.1. A Teoria do Jogo
Quando o tema jogo é discutido observa-se a existência de inúmeras formas
com as quais este pode ser tratado, principalmente pela maneira ampla como esse termo é
utilizado.
Para Freire (2002), o jogo deve ser compreendido pelas suas manifestações,
sendo que o ato de jogar é que revela o jogo. Assim, não são considerados jogos atividades ou
situações específicas apenas pelo fato de serem chamados jogo, comumente ou culturalmente.
O jogo, tratado de maneira geral, deve ser entendido como um sistema
complexo dotado de subjetividade em detrimento da objetividade, inserido num ambiente
(contexto) também complexo (SCAGLIA, 2003; LEITÃO, 2004).
Dessa forma, segundo Scaglia (2003, p.49) “É com esse sentido de totalidade e
complexidade, inseridos num ambiente que lhe é próprio” que o jogo deve ser entendido.
Verifica-se, portanto, de acordo com esses autores que a compreensão do jogo
remete-se a aspectos relacionados à sua complexidade e ao ambiente em que este se encontra, ou
seja, às diferenças culturais
1
encontradas em diferentes contextos, aspectos esses que influenciam
diretamente na forma em que o jogo é concebido.
Logo, não é possível generalizar esse termo apenas por ser usado de maneira
cotidiana para variadas manifestações.
Para Freire (2002), existe no jogo uma lógica inexorável, comum a todos os
jogos e, portanto, ao se conhecer essa lógica, permite-se um maior entendimento do jogo,
possibilitando também uma intervenção mais precisa neste.
A compreensão desta lógica encontrada nos jogos está relacionada diretamente
com possibilidade do acesso ao bom jogo. Mas será este um fator determinante para a conquista
da vitória?
1
Ver em DAOLIO, J. Da Cultura do Corpo. Campinas, 4ª ed., Papirus, 1999.
14
Não dúvidas que a compreensão da lógica do jogo está diretamente ligada a
uma maior facilidade da conquista da vitória, no entanto, nunca deve ser esquecido outro fator
que permeia qualquer manifestação do jogo: a imprevisibilidade; capaz de fazer com que mesmo
uma equipe ou pessoa que domine por completa a lógica do jogo possa ser vencida.
Logo, o bom acesso ao jogo, mesmo possuindo uma estreita relação com a
compreensão de sua lógica, não deve permitir que seja deixado de lado a imprevisibilidade, pelo
fato desta ser uma característica determinante no desenvolvimento do jogo. Caso isso venha a
ocorrer, será observado como resultado a formação de jogadores incapazes de reagir a situações
imprevistas ao contexto normal do jogo.
Pensando na compreensão da lógica do jogo, autores da Teoria do Jogo como
Ditx, Nalebuff (2001) apud Leitão (2004), buscam descrevê-la a partir da classificação de duas
categorias de jogo: os jogos de estratégias seqüenciais e os jogos de estratégia simultânea.
1.1.1. Jogos de Estratégia Seqüencial
Neste tipo de jogo, os jogadores adversários e de uma mesma equipe movem-se
em uma seqüência determinada, estando cada um deles consciente das ações anteriores dos
outros. Um bom exemplo desse tipo de jogo seria os jogos de tabuleiros e cartas.
Leitão (2004) afirma que nesta categoria de jogo o jogador deve antecipar o
futuro e raciocinar sobre o passado e cada jogador deve procurar perceber o modo como os outros
jogadores vão reagir à sua jogada, como ele próprio vai por sua vez reagir, e assim por diante.
O jogador antecipa as conseqüências das suas decisões iniciais, e utiliza essa
forma para definir a sua melhor opção em cada momento.
Quando pensa no modo como os outros vão reagir à sua jogada, como ele
próprio vai por sua vez reagir, o jogador deve pensar e colocar-se na posição dos outros
jogadores, não devendo impor a eles a sua própria linha de raciocínio.
15
Em princípio, qualquer jogo seqüencial que termine após uma seqüência finita de
jogadas pode ser completamente ‘resolvido’. Para determinar a melhor estratégia de
cada jogador deve-se considerar qualquer resultado possível. Certos jogos simples,
podem ser resolvidos desta forma, não constituindo, portanto, grande desafio. Mas no
caso de muitos outros jogos, como o xadrez, os cálculos são demasiados complexos
para funcionarem na prática – mesmo com o auxílio de computadores. Assim, os
jogadores antecipam algumas das jogadas seguintes e procuram avaliar as posições que
daí resultem com base na experiência. (DITIX; NALEBUFF, 2001).
1.1.2. Jogos de Estratégia Simultânea
Em jogos de estratégia simultânea os jogadores adversários e de uma mesma
equipe – agem ao mesmo tempo, cada um deles ignorando
2
as ações dos outros devido à
existência de um círculo lógico de ações (DITIX; NALEBUFF, 2001 apud Leitão, 2004; HORSANYI;
SELTEN, 1988 apud LEITÃO, 2004).
Este círculo de ações se caracteriza pelo fato de que os jogadores agem ao
mesmo tempo, fazendo com que cada um deles esteja consciente de que existem outros jogadores
que, por sua vez, estão simultaneamente conscientes, e assim por diante.
O raciocínio é o seguinte: Eu penso que ele pensa que eu penso... Por conseguinte, cada
qual deverá colocar-se, em sentido figurado, na pele de todos e tentar calcular o
resultado. A melhor jogada de cada um é parte integrante deste cálculo global. (DITIX;
NALEBUFF, 2001).
Segundo Leitão (2004, p.30),
Este raciocínio circular conduz a uma conclusão por meio de um conceito de equilíbrio
desenvolvido por Nash (1951). Segundo este autor, a melhor estratégia para cada
jogador é aquela que leve ao melhor de si e para todos os jogadores do grupo ao mesmo
tempo.
Segundo Ditix, Nalebuff (2001) e Horsanyi, Selten (1988) citados por Leitão
(2004), isso leva à conclusão de que quando em jogo, cada jogador deve procurar um conjunto de
escolhas, sendo que essas escolhas reflitam as estratégias pessoais para cada jogador, as quais
sejam a melhor para si enquanto todos os outros jogadores também joguem baseados nas suas
2
Este “ignorar” diz respeito ao fato de que um jogador não deve esperar a definição de uma jogada para reagir a
esta, mas deve agir simultaneamente a toda jogada e lance do jogo, como se os jogadores exercessem a todo o
tempo um exercício de previsão de eventos futuros das ações de seus companheiros e adversários e reagisse em
função dessa “previsão”.
16
melhores estratégias, ou seja, “[...] cada um escolhe a sua melhor reação àquilo que os outros
fazem” (LEITÃO, 2004 p.30,31).
A cerca da busca da melhor opção, verifica-se que Ditix, Nalebuff (2001) apud
Leitão (2004, p.31) dizem que:
Por vezes, a melhor opção de uma pessoa é sempre a mesma, independente daquilo que
os outros fazem. A isto chamamos uma “estratégia dominante” para esse jogador.
Outras vezes, um jogador tem uma opção uniformemente uma estratégia
dominada no sentido em que qualquer outra opção é melhor para ele independente
daquilo que os outros façam. A procura de um equilíbrio deverá começar pela procura
de estratégias dominantes.
1.2. Os Jogos Desportivos Coletivos
Observando as características relacionadas à lógica dos tipos de jogo
anteriormente citados (jogos de estratégias simultâneas e jogos de estratégias seqüenciais) e os
JDC, verifica-se que existe a possibilidade de observar este último tanto à luz das características
dos jogos de estratégias simultâneas quanto seqüenciais.
Observando características dos JDC que podem ser relacionadas com os jogos
de estratégias seqüenciais, pode-se observar a realização de jogadas ensaiadas, nas quais as ações
de cada jogador têm uma reposta determinada de outros jogadores para a realização da jogada.
Imaginando os JDC como um jogo de estratégias simultâneas, verifica-se que
estes têm como característica marcante a relação entre várias pessoas adversárias e de uma
mesma equipe em movimentação durante o mesmo tempo. Cada ação individual gera respostas
a fim de gerar um equilíbrio entre as ações da mesma equipe, porém visando gerar desequilibro
nas ações da outra equipe, que por fim, visa ter equilíbrio coletivo entre suas ações.
Trata-se de um emaranhando de ações individuais selecionadas a fim de
encontrar a melhor ação individual que reflita em um benefício coletivo, através da relação desta
ação com as ações dos outros jogadores da equipe e adversários criando assim um “círculo
lógico de ações”.
Dessa forma, verifica-se que essas ações e suas relações estão diretamente
relacionadas com a imprevisibilidade do jogo, pois são atitudes individuais que geram respostas
17
individuais, mas convergem para a busca da melhor solução coletiva para uma determinada
situação.
Assim, a questão da imprevisibilidade gera na concepção do jogo desportivo
coletivo o surgimento da complexidade, como sendo a interação entre diversos jogadores –
adversários e da mesma equipe - com finalidade de causar desequilíbrio da relação ataque/defesa
do sistema inicial do jogo e, para a obtenção de vantagem durante a partida, através do
desenvolvimento de ações criativas e da interação entre seus companheiros (GARGANTA, 2001;
GARGANTA, CUNHA E SILVA, 1999 apud SANTOS 2004; LEITÃO, 2004).
Assim, o jogo desportivo coletivo se desenvolve através de uma relação
complexa dentro de um determinado contexto com um grande número de opções a serem
tomadas individualmente gerando respostas coletivas e, logo, passível da imprevisibilidade.
Isso faz com que para uma mesma situação, seja possível a verificação de
inúmeras possibilidades, porém todos os componentes de uma mesma equipe deverão interagir
visando como finalidade o êxito do grupo, seja nos aspectos defensivos, seja nos aspectos
ofensivos.
Neste sentido, ao realizar a análise funcional dos jogos desportivos coletivos,
Bayer (1992) descreve essas possíveis relações demonstrando o grau de complexidade dos jogos
esportivos coletivos a partir da classificação de seis princípios que, segundo o autor, regem as
modalidades coletivas
3
(Tabela 1).
Tabela 1. Análise dos Princípios do Jogo - Retirado de Bayer (1992, p.53).
3
O autor destaca que as relações entre os princípios do jogo sofrem algumas variações no caso específico do
voleibol.
Ataque à meta contraria
para marcar o ponto
Progressão dos jogadores e
da bola até a meta contrária
Conservação da Bola
Ataque
Proteção de minha
meta ou campo
Impedir a progressão
dos jogadores e da bola
até minha meta
Recuperação da Bola
Defesa
18
De acordo com Bayer (1992), existe uma perspectiva dialética nos jogos
desportivos, pois duas situações chave, que se interagem, relacionam estes seis princípios aos
objetivos do jogo: se minha equipe está em posse da bola, sou atacante; se minha equipe está sem
a posse da bola, sou defensor.
Outro fator importante relacionado à posse de bola está no fato de que, quando
em sua posse, uma equipe não deve deixar que o adversário a obtenha antes que seja conquistado
um ponto.
Dessa forma, relacionando essa perspectiva dialética relacionada à posse de
bola nos jogos desportivos coletivos com as relações existentes entre os seis princípios do jogo
(tabela 1), observa-se que uma equipe estando em posse de bola, deve conservá-la, evitando as
ações adversárias que objetivam recuperá-la, através de sua progressão até a meta adversária,
sofrendo combate da equipe adversária que visa impedir essa progressão, tendo como objetivo
principal marcar um ponto (ou gol) contra as ações adversárias que protegem seu campo.
Observando as modalidades coletivas e também e reinterpretando a tabela 1,
verifica-se que essa relação dialética como descreve Bayer (1992), possui mais profundidade, do
que a descrição anterior.
Analisando as setas duplas existentes entre uma ação de ataque e uma de
defesa, pode-se concluir que existem no jogo estratégias ofensivas mesmo em momentos
defensivos e ações defensivas, mesmo em momentos em que a equipe está com a posse de bola.
Assim, mesmo quando estando com a posse de bola e, portanto, atacando, a
equipe deve estar organizada taticamente visando êxito defensivo, como é o caso da manutenção
da posse de bola.
Exemplo disso é o caso do líbero do voleibol, que mesmo com a sua equipe em
posse de bola
4
, este deverá estar em ação defensiva para que a bola, no caso de um ataque
gerando bloqueio adversário, não caia no chão de sua equipe, gerando um ponto para a equipe
adversária.
4
Segundo Bayer (1992) a relação da posse de bola no voleibol deve ser caracterizada de maneira particular se
comparada com os demais jogos esportivos coletivos, que essa posse se sem do domínio total da bola sendo
realizada através da circulação da bola, podendo ser feita através de no máximo três ações.
19
O mesmo vale para as ações defensivas, que muitas vezes, como por exemplo,
numa marcação pressão quadra toda no basquetebol, são as ações responsáveis por agredir a
equipe adversária com a posse de bola, tendo como característica principal a ofensividade.
1.3. Análise do Jogo
De acordo com Garganta (2001), existem na literatura, diversas denominações
para o estudo do jogo, dentre elas destacam-se observação do jogo (game observation), análise do
jogo (match analysis) e análise notacional (notational analysis).
No entanto, segundo Garganta (2001, p.57),
[...] a expressão mais utilizada na literatura é análise do jogo (Garganta, 1997)
considerando-se que engloba diferentes fases do processo, nomeadamente a observação
dos acontecimentos, a notação dos dados e a sua interpretação (Franks & Goodman, 1986;
Hughes, 1996).
Em se tratando do tema análise do jogo, muitos trabalhos podem ser
encontrados, não em literatura, mas também quando se observa a utilização dos chamados
scouts por equipes, não de rendimento esportivo, mas também em trabalhos de categorias de
base.
De acordo com vários autores que tratam do assunto, a análise do jogo é uma
ferramenta capaz de fornecer informações importantes sobre o jogo, dando possibilidades de
aumentar o conhecimento acerca do jogo, tornando possível entender as relações e características
de fatores ofensivos e defensivos, capaz também de mostrar índices relacionados à eficácia
desportiva e útil no auxilio da elaboração de planos de treinamento mais vantajosas à equipe
(FRANKS & GOODMAN, 1986 apud SANTOS 2004; HUGHES, 1996 apud SANTOS 2004;
JANEIRA, 1998 apud SANTOS, 2004; PAIVA DA SILVA, 2000 apud SANTOS, 2004;
HUGHES & FRANKS, 1997; GARGANTA, 1998, 2001; LEITÃO 2001, 2004; SANTOS 2004).
Segundo Leitão (2004, p.10) dentre os principais fatores que fundamentam o
estudo do jogo está no fato de que:
[...] ao longo de uma seqüência de eventos que esta ou aquela equipe promove, podem
ser detectados padrões de jogo. Entender o que acontece, como, quando, onde e por quê
dentro de uma partida é essencial para que se consiga modificar esta ou aquela situação
em um jogo ou em uma equipe.
20
No entanto, muitas vezes, a estruturação desses modelos de análise do jogo não
se é feita a partir de uma base teórica sólida, mas sim a partir da experiência dos analisadores e da
comissão técnica, sendo que, nem sempre esses dados são analisados da maneira mais completa,
ou então, esse modelo desenvolvido pode vir a ser estruturado de maneira que não contemple as
necessidades da equipe.
Acerca disso, Leitão (2001) trata em seu trabalho sobre as diferentes maneiras
de se analisar um mesmo conjunto de dados coletados, citando dois exemplos possíveis para a
análise do jogo baseada em dados obtidos em uma partida de futebol.
Uma análise é feita de forma descontextualizada, verificando apenas a questão
dos números quantificados e relacionando-os com as ações técnicas realizadas, a partir de
ferramentas estatísticas visando demonstrar os níveis de eficiência dos jogadores.
Outra análise é realizada de maneira qualitativa, a partir dos mesmos dados
quantitativos analisados estatisticamente, ou seja, uma descrição mais detalhada das ações do
jogo, levando em consideração as ações adversárias e a evolução dessas ações ao longo do jogo,
sendo possível a obtenção, por parte daquele que usufrui tais descrições, de uma visão mais clara
do jogo e da participação mais ou menos relevante dos jogadores.
Observa-se, pois, que não havendo a preocupação por parte daquele que analisa
o jogo em considerar a presença da complexidade (TEODORESCU, 1984; SCAGLIA, 2003;
GARGANTA, CUNHA E SLIVA, 1999 apud SANTOS, 2004; LEITÃO, 2004) e da
imprevisibilidade (GARGANTA, 2001; LEITÃO 2004), aspectos relacionados à tática do jogo,
acabam por ser realizadas análises que sejam pouco confiáveis e que não contemplem suas
funções e objetivos.
Dessa forma, Leitão (2001, p.07) aponta que:
Se supormos que essas análises estatísticas estejam realmente bem estruturadas e
fundamentadas, ainda assim são muito mais úteis como ferramentas de análises técnicas
do que análises táticas, fortalecendo a idéia de que a análise técnica isolada é falha,
devendo ser dada atenção para a verificação das variações táticas do jogo.
Neste mesmo sentido, Santos (2004, p.02) cita que:
[...] inicialmente, a grande quantidade de pesquisas realizadas na área da observação e
análise do jogo privilegiava aspectos hierarquicamente secundários à sua expressão, por
exemplo: aptidão física, capacidades motoras e habilidades técnicas (Morino, 1985;
Garganta, 1999; Tani, 2002). A conseqüência imediata desta opção foi uma exígua
informação produzida acerca da componente nuclear dos JDC, qual seja, a vertente
organizacional, materializada na dimensão estratégico-táctica do jogo.
21
No entanto, em se tratando da análise do jogo visando a fuga destes aspectos
secundários (Santos, 2004) em detrimento da busca de análises da dimensão tática do jogo,
verifica-se que esse processo referente aos estudos sobre análise do jogo ainda não conseguiu
sanar alguns pontos de conflito, referentes, por exemplo, aos aspectos relacionados com a
definição de categorias de ação a serem analisadas (DUFOUR, 1991 apud GARGANTA, 2001).
Acerca disso, Garganta (2001) alerta a necessidade de se estabelecer
inicialmente os propósitos que fazem a análise do jogo ser realizada, ou seja, procurando
delimitar quais problemas do jogo, e também tendo delimitado sob quais procedimentos teóricos
e metodológicos será construído o modelo de análise do jogo.
Neste sentido, Gréhaigne (1992) em Garganta (2001, p.64) afirma que:
[...] na ausência de um modelo teórico que garanta o enquadramento e a interpretação
dos dados obtidos, deparamos com uma massa de números com fraco poder
informativo.
Pode-se observar, portanto, que devido à ausência de uma metodologia que
preencha a lacuna referente a uma base teórica para a construção de modelos de análise do jogo,
muitos desses podem vir a ser falhos, pois estes passam pela possibilidade de serem
desenvolvidos de maneira aleatória e desprovidos da capacidade de análise dos conteúdos do
jogo.
Outro fator importante do preenchimento dessa lacuna está relacionado ao fato
de que uma base teórica norteadora para o desenvolvimento de modelos de análise do jogo
possibilita àqueles que se utilizam desse instrumento para beneficio do seu sistema de treinos, a
capacidade de desenvolvê-los de forma autônoma, fugindo da procura de modelos prontos, pois
este passa a ter contato com fundamentação capaz de solucionar falhas na elaboração de seu
próprio modelo de análise de jogo.
22
2. Justificativa
Em diversos estudos sobre a análise do jogo observa-se que de maneira geral os
autores classificam-na como uma ferramenta capaz de possibilitar resultados capazes de serem
empregados na intervenção do planejamento pedagógico e de treinamento.
Porém, para a elaboração dos modelos de análise do jogo, verifica-se, de acordo
com Dufour (1991) apud Garganta (2001) que as bases que fundamentam essas propostas
encontram dificuldades relacionadas, por exemplo, com a definição de categorias de ação a serem
analisadas nesses modelos.
A dificuldade a cerca da elaboração de modelos de análise do jogo, pautadas,
por exemplo, no ponto supracitado, faz com que em muitos trabalhos o leitor se questione de que
bases metodológicas e teóricas são e podem ser utilizadas na elaboração de um modelo de análise
do jogo, já que muitas vezes essas não são claras, impossibilitando ao leitor a autonomia para o
desenvolvimento de seus próprios modelos de análise do jogo.
Porém com bases teóricas sólidas, torna-se possível o desenvolvimento de tais
modelos fazendo com que este possa ser desenvolvido de maneira a ter qualidade e
funcionalidade.
Pensando sobre os JDC de uma maneira geral, tais análises devem ser baseadas
em autores que tratam, sobretudo, de estudos que visam abordar aspectos relacionados à
compreensão do jogo, pois com a busca do entendimento dos aspectos táticos do jogo, torna-se
possível a elaboração de modelos de análise do jogo através da compreensão do jogo, não se
limitando apenas a análises de cunho técnico, físico e motor, como cita Santos (2004).
Assim, um trabalho que busca, através da fundamentação em bases teóricas
claras e acessíveis que tratam a compreensão do jogo, tornar possível que técnicos e estudiosos
do jogo desenvolvam sua própria maneira de analisar o jogo, tendo como pressuposto uma teoria
capaz de nortear o desenvolvimento desses modelos de análise, torna-se um trabalho de grande
utilidade para os estudiosos da área.
23
3. Objetivos
O presente estudo tem como objetivo principal estabelecer, por meio de uma
base teórica fundamentada em autores que tratam do jogo e da pedagogia do esporte sob a
perspectiva de sua compreensão, uma base norteadora para o desenvolvimento de modelos de
análise do jogo.
Trata-se, portanto, de um trabalho não de revisão bibliográfica, mas que visa
o desenvolvimento de uma proposta a partir da qual será possível estabelecer possibilidades para
a solução de um dos pontos que causam maior dificuldade no momento de estabelecer um
modelo de análise do jogo: delimitar as categorias a serem analisadas (DUFOUR, 1991 apud
GARGANTA, 2001).
Assim, sendo estabelecidas as bases teóricas para a elaboração dos modelos de
análise do jogo, torna-se possível também solucionar o problema apontado por Gréhaigne (1992)
apud Garganta (2001), quando o autor afirma que a ausência de um modelo teórico para a
interpretação dos dados faz com que esses dados não passem de uma massa de números caráter
informativo.
Não se trata de um trabalho com modelos elaborados a serem apresentados ao
leitor, mas sim de um trabalho no qual técnicos e estudiosos do jogo possam consultar idéias
capazes de auxiliar na construção de modelos de análise do jogo.
24
4. Elementos para a Análise do Jogo
Como descrito no corpo do presente trabalho, delimitar as categorias a serem
analisadas (DUFOUR, 1991 apud GARGANTA, 2001) é apontado como um dos principais
problemas para a elaboração de modelos de análise do jogo.
Talvez estes aspectos sejam o ponto central de discussão do presente trabalho,
que se busca proporcionar aos interessados pela análise do jogo a possibilidade do
desenvolvimento autônomo de modelos capazes de cumprir esta função de maneira a levar em
consideração aspectos relacionados à tática do jogo, propondo uma fuga da análise pura e simples
de técnicas e fundamentos isolados, tendo como base para isto referenciais teóricos, devido à
preocupação de que este trabalho tenha um caráter acadêmico.
Torna-se difícil encontrar em literatura trabalhos que apontem com exatidão a
solução para o presente problema, visto que a conceituação teórica para este ponto passa pela
dificuldade de ser a análise do jogo um trabalho extremamente relacionado com a prática.
Assim, um corpo teórico que conceitue a estruturação desses modelos de
maneira pontual e determinada não pode ser encontrado tão claramente em literatura e, de certa
forma, nem o deveria, pois é difícil imaginar que um trabalho seja capaz de fornecer a “receita
perfeita” para o desenvolvimento destes modelos.
Dessa forma, para o presente trabalho, buscaram-se autores que tratam da
pedagogia do esporte e da intervenção no ensino dos JDC, tentando encontrar em seus trabalhos
uma luz para a questão referente à dificuldade de delimitação teórica para a elaboração de
modelos de análise do jogo e das categorias a serem analisadas.
Para isso foi necessária uma (re)interpretação das obras, sem que houvesse o
foco principal da leitura na visão pedagógica, a qual estes trabalhos tratam, mas buscou-se a
análise dessas propostas sob a ótica da busca de elementos capazes de fundamentar um trabalho
sobre análise do jogo.
Logo, em cada obra lida tinha-se a preocupação da busca das categorias
necessárias para a elaboração de modelos de análise do jogo, havendo sempre o cuidado de não
haver afastamento das idéias centrais dos autores tratados, realizando, assim relações diretas entre
as idéias encontradas nos trabalhos e a possibilidade de relacioná-las com a análise do jogo.
25
4.1. A Busca de um Corpo Teórico
Buscando a possibilidade de relacionar trabalhos da área da pedagogia do
esporte e ensino dos JDC com o tema do presente trabalho, foi possível destacar alguns obras
como fontes úteis para a proposta central do trabalho, destacando-se Bayer (1992), Garganta
(1995) e Daolio (2002).
Observando aspectos relacionados ao trabalho de Bayer (1992) verifica-se que
o autor descreve um modelo em que são encontrados seis princípios que regem os jogos coletivos
(tabela 1).
A leitura desta tabela sob a ótica do processo de ensino-aprendizagem mostra
uma análise funcional dos jogos coletivos, sendo possível, através da interpretação desta tabela, o
desenvolvimento de inúmeras possibilidades pedagógicas para o ensino dos esportes coletivos,
com destaque ao fato de que essas relações são encontradas em grande parte das manifestações
esportivas coletivas
5
.
Assim, este trabalho torna-se muito útil para permear ações pedagógicas e de
treinamento esportivo, sob a premissa da compreensão tática do jogo.
Alunos e atletas que compreendam as possibilidades de relacionar
dialeticamente cada um dos seis princípios enumerados nesta obra terão maiores possibilidades
de ter um bom acesso à pratica esportiva através da compreensão tática do jogo, logo,
compreendendo a sua lógica e comportando-se e agindo de maneira inteligente durante o jogo.
Neste ponto, torna-se importante também a análise da obra de Daolio (2002)
sob a ótica do processo de ensino-aprendizagem.
Daolio (2002) destaca que o processo de ensino-aprendizagem deve respeitar a
lógica representada pelo modelo pendular por ele desenvolvido (Figura 1).
5
Como já citado no presente trabalho, Bayer (1992) destaca que, no caso do Voleibol, se tornam necessárias
algumas adaptações referente às relações destes seis princípios.
26
Figura 2. Modelo Pendular Proposto por Daolio (2002)
Neste modelo, Daolio (2002), baseado na obra de Bayer, destaca o fato de que
os Jogos Desportivos Coletivos devem concebidos como detentores de uma matriz funcional
geral, representada pela relação dos seis princípios descritos por Bayer (1992).
Isto se confirma pelo fato de que no presente modelo os princípios operacionais
– referentes aos seis princípios enumerados por Bayer (1992) – possuem um movimento pendular
muito pequeno, pressupondo que estes princípios são menos variáveis para diferentes
modalidades esportivas.
Assim, devido a essa característica, estes princípios devem ser abordados na
fase inicial de um processo de ensino-aprendizagem, pois dessa forma, é possível uma abordagem
baseada nos aspectos gerais e comuns à maioria dos JDC, possibilitando assim a transferência do
ensinado para as mais variadas manifestações esportivas coletivas.
Ainda nessa fase inicial, deve ser implementado o ensino das regras de ação do
jogo, que segundo Daolio (2002) são os mecanismos necessários para que os princípios
operacionais possam ser operacionalizados.
É possível observar, no modelo pendular, que estas regras de ação ganham um
grau maior de variação entre as modalidades esportivas coletivas, através do movimento pendular
Processo
De
Ensino
Aprendizagem
Princípios
Operacionais
Regras de
Ação
Gesto
Técnico
27
mais amplo das regras de ações em relação aos princípios operacionais, sendo esta a justificativa
de uma abordagem posterior dessa categoria do JDC no processo de ensino-aprendizagem.
As regras de ações se caracterizam pela necessidade de movimentação com e
sem bola visando, a criação de linhas de passe ou o desmarque com relação ao adversário
(Daolio, 2002), aspectos esses que sofrem variações de modalidade para modalidade, conforme
mostra a maior pendulação desta categoria no modelo elaborado por Daolio (2002).
Os Gestos Técnicos somente serão abordados em uma fase mais avançada do
processo de ensino-aprendizagem dos JDC, pois, como mostra o modelo pendular, os gestos
técnicos possuem uma maior amplitude no movimento pendular, caracterizando que entre as
modalidades esportivas coletivas os gestos técnicos também são mais específicos e, portanto,
devem ser enfatizadas num período mais avançado.
Na realidade, as ações técnicas estão presentes em todo o processo, pois não é
possível a realização do jogo sem que haja a execução técnica, porém está não é enfatizada no
princípio do processo de ensino-aprendizagem, estimulando, dessa forma, a criatividade e
também uma aprendizagem que valorize as ações baseadas na compreensão do jogo.
Observa-se, portanto, que o trabalho de Daolio (2002) tem como pressupostos a
intervenção pedagógica nos JDC através da compreensão dos aspectos táticos do jogo, sendo
preconizada a aprendizagem a partir das daquilo que segundo Garganta (1995) denominam-se as
razões do fazer (tática) e não do modo de fazer (técnica), ou seja, por meio da ênfase nos
princípios operacionais e nas regras de ação do jogo.
Neste sentido, Garganta (1995, p.21) destaca que:
[...] o jogo é uma unidade e, como tal, o domínio de diferentes técnicas (passe, condução,
remate, etc.) embora se constitua como um instrumento sem o qual é muito difícil jogar e
impossível jogar bem, não permite necessariamente o acesso ao bom jogo.
4.2. Reflexões
A leitura de tais autores pode ter gerado algumas dúvidas quanto à
possibilidade de adequação das idéias desenvolvidas em suas obras para com a elaboração de
modelos de análise de jogo.
28
Na realidade, conforme já tratado, foram necessárias reflexões sobre essas obras
para que se tornasse possível uma aproximação destas com os objetivos do presente trabalho.
Estas reflexões tiveram como principal preocupação a manutenção da estrutura de idéias
desenvolvidas pelos autores supracitados.
4.2.1. Primeiras Aproximações
Ao buscar apontar categorias passíveis de serem analisadas em modalidades
esportivas coletivas sem que haja a delimitação de uma ou outra modalidade, inicia-se a primeira
aproximação de idéias entre os autores estudados e os objetivos do presente trabalho, pois como
demonstra Bayer (1992) e apóiam-se Daolio (2002) e Garganta (1995), é possível observar a
existência de uma matriz comum aos JDC.
Ao ser interpretada a tabela 1 do presente trabalho verifica-se a possibilidade de
uma prática transferível com base nos princípios comumente encontrados nos JDC.
Isto pode ser exemplificado com a seguinte descrição: Imaginem um jogo
disputado entre duas equipes; quando em posse de bola, as equipes devem, através da
manutenção desta posse, progredir à meta adversária a fim da realização de um ponto; quando
estiverem sem posse de bola, as equipes devem procurar retomá-la através de ações que
impeçam o avanço adversário à sua meta, buscando defender seu alvo.
Se for perguntado após tal descrição: Qual jogo desportivo coletivo está sendo
descrito? Com certeza a resposta será uma grande incógnita, uma vez que as relações dos
princípios do jogo apontados por Bayer (1992) podem ser empregadas à diversas manifestações
esportivas coletivas.
Dessa forma, a proposta do presente trabalho deve nortear a possibilidade de
definição de categorias de análise do jogo capaz de abordar os JDC de uma maneira geral,
pensando essas modalidades como detentoras de uma matriz funcional comum.
29
4.2.2. Definição das Categorias de Análise Os Princípios do
Jogo e as Regras de Ação
Um modelo de análise do jogo pode ser concebido de mais de uma forma, com
objetivo de analisar todo o jogo ou parte dele, sendo exemplo disso a busca de análises mais
focadas em partes do processo ofensivo ou defensivo da equipe.
No entanto, seja qual for o objetivo específico da análise este modelo não pode
deixar de abordar aspectos relacionados a um ou mais princípios do jogo (Bayer, 1992).
Assim, apoiando-se em Bayer (1992), ao se determinar aspectos como a (i)
manutenção da posse de bola, (ii) progressão de bola e equipe (iii) e finalização ao alvo
adversário (quando no ataque); (iv) retomada da posse de bola, (v) dificultação da progressão
adversária e (vi) defesa do alvo (quando na defesa), e relacionar cada um dos princípios
ofensivos e defensivos correspondentes (manutenção da posse de bola e recuperação da posse de
bola; progressão ao campo adversário e a tentativa de impedir a progressão da equipe
adversária; finalização a fim de marcar um ponto e proteção do alvo), torna-se possível
delimitar categorias básicas para a elaboração de modelos de análise do jogo, a partir das quais,
outros parâmetros podem surgir, secundariamente, mas não menos importantes.
Essa afirmação converge com a proposta de Daolio (2002), visto que assim
como em seu modelo pedagógico desenvolvido, no qual a abordagem dos princípios
operacionais é o primeiro estágio dentro de uma seqüência do processo de ensino-aprendizagem,
a elaboração de um modelo de análise do jogo deve ter como categorias iniciais a serem
delimitadas para a análise do jogo as relações existentes (parte delas ou todas elas) entre os seis
princípios do jogo, visto que são características comuns à grande parte do JDC, logo,
fundamentais para a análise do jogo.
Estas relações podem ser ou não contempladas integralmente na elaboração do
modelo, visto que, muitas vezes torna-se necessária uma análise mais específica de um ou outro
princípio e também dos princípios do jogo que interagem diretamente com aquele inicialmente
delimitado.
Um exemplo pode ser dado ao fato de que um modelo de análise do jogo pode
ser desenvolvido com a intenção de analisar os aspectos relacionados à progressão da equipe
atacante e da bola à meta adversária. No entanto, seria necessária para isso, ao menos, a
30
caracterização do padrão defensivo da equipe adversária através das ações que visam impedir a
progressão da bola e da equipe atacante.
Desta forma, estaria sendo estabelecida, para a análise do jogo, uma relação
entre o princípio da progressão da equipe e da bola ao campo adversário e a resposta adversária
realizada através da tentativa de impedir a progressão da outra equipe e da bola até o seu campo,
respeitando a seta dupla que liga ambos princípios, conforme a tabela 1 demonstra.
No entanto, os princípios do jogo para serem desenvolvidos em um JDC,
devem ser realizados através de ações entre os membros da própria equipe e através das ações de
oposição entre estas. Para isso, segundo Daolio (2002) são necessárias a realização de regras de
ação.
Desta forma, apoiando-se na seqüência do processo de ensino-aprendizagem
apontado por Daolio (2002), para a elaboração de um modelo de análise do jogo, faz-se
necessário, após serem apontados quais princípios do jogo serão analisados e quais relações entre
estes princípios serão consideradas, a determinação de uma maneira de delimitar as regras de
ação utilizadas pelas equipes nas situações determinadas.
As regras de ação determinam a dimensão tática do jogo, ou seja, as atitudes
tomadas pelos jogadores frente às ações realizadas pelos outros jogadores (considerando os JDC
como detentores de características predominantemente baseadas nas estratégias seqüenciais)
adversários e da mesma equipe como desmarques, criação de linhas de passe, movimentação
com e sem bola; sendo possível, com a análise desses aspectos, verificar se, dentro dessa
característica voltada para a simultaneidade de respostas frente às ações adversárias e da mesma
equipe, torna-se possível verificar de padrões relacionados a estratégias individuais e coletivas.
4.2.3. A Dimensão da Técnica
Conforme a proposta do trabalho, haveria a partir da leitura dos autores citados,
a manutenção do eixo de idéias por eles defendidas em seus trabalhos, para que assim, estes
possam ser referenciais teóricos sólidos para o desenvolvimento de modelos de análise do jogo.
Parafraseando Garganta (1995, p.14), quando este cita que “Nesta perspectiva
(mecanicista) ensina-se o modo de fazer (técnica) separado das razões do fazer (táctica)”,
31
criticando tal metodologia pedagógica, pode-se dizer que este trabalho tem como característica a
análise do jogo desvinculada o modo de fazer (técnica) como um meio central dessa análise,
buscando através da análise das razões do fazer (tática) a forma de interpretar as ações do jogo,
pois em análises baseadas nos aspectos referentes às razões do fazer (princípios do jogo e das
regras de ação) torna-se possível o acesso à análise e qualificação dos modos de fazer (técnica).
Assim, a análise da técnica torna-se uma conseqüência das análises gerais do
jogo, não sendo realizada a sua classificação através da hierarquização de notas e atributos,
passando esta a ser considerada parte do processo de contextualização e compreensão do jogo.
Dessa forma, como nas propostas de Bayer (1992), Garganta (1995) e Daolio
(2002) a dimensão da cnica não será esquecida, visto que o jogo se trata de uma unidade na
qual a dimensão técnica se faz presente, mas esta não estará sendo enfatizada como um meio de
análises cujo modelo de análise do jogo se baseará.
Assim, em modelos de análise do jogo pautados nessa linha teórica, uma ação
técnica não deverá ser classificada, no momento da análise, como um passe errado ou deficiente;
ou como uma finalização errada ou certa, pois para isso deverá ser levada em consideração a
observação de outros fatores, como, por exemplo, a ação adversária, a verificação da ação tática
da própria equipe, para que, assim, seja possível interpretar se essa era realmente a melhor opção
para o momento.
Portanto, antes de ser analisada como errada, uma finalização a gol deverá ser
analisada como propícia ou não para aquele determinado contexto do jogo.
Logo, a análise da técnica será realizada no fim do processo de análise do jogo,
seguindo as idéias dos autores tratados, quando esses, sob a ótica da pedagogia dos JDC, afirmam
que o ensino da técnica (modo de fazer) não deve ser enfatizado no princípio do processo de
ensino-aprendizagem, devendo ser dada ênfase para tal categoria numa fase mais avançada desse
processo, portanto, posterior ao período cuja ênfase do ensino encontra-se na dimensão da
compreensão do jogo e de suas relações (razões do fazer).
Assim, com base no modelo desenvolvido por Daolio (2002) figura 2 - os
modelos de análise do jogo devem possuir uma estrutura similar para seu desenvolvimento, tendo
como categorias de análise do jogo os princípios do jogo. Após serem delimitados quais
princípios serão analisados e quais as relações entre os eles serão consideradas, devem ser
32
classificadas quais as regras de ação serão relevadas para a contextualização das análises. A
classificação da técnica fará parte das análises realizadas posteriormente.
4.2.4. Contextualização das Análises – Espaço e Cronologia das
Ações.
Para a estruturação de modelos como esse se tornam necessários que sejam
relevados aspectos relacionados ao espaço em que ocorrem as ações, bem como o fator
cronológico em que ocorrem as ações.
Leitão (2004) demonstra em seu trabalho a preocupação com os aspectos
relacionados ao espaço de jogo (anexo C), bem como com relação ao tempo de jogo.
No presente trabalho os aspectos tratados geralmente como tempo de jogo serão
tratados como cronologia das ações dentro da partida, uma vez que nem todos os JDC
desenvolvem-se por tempo de jogo, como no caso do voleibol, jogo em que o andamento da
partida se desenvolve baseada na marcação de um número limitado de pontos desvinculado de
um tempo máximo de jogo.
Na análise de ações táticas, a delimitação de espaços e zonas de ação torna-se
necessária assim como a determinação do aspecto relacionado ao andamento das sucessivas ações
do jogo, pois se torna impensável analisar a movimentação e as respostas a essas, sem que seja
levada em consideração o local e o momento em que isto ocorre.
Modelos de campograma Anexos A, B e C – ou tabelas podem ter essa
característica espacial e temporal, basta ser desenvolvida tendo como preocupação tais aspectos.
33
5. Ciência?
O que se entende por ciência? Este capítulo não tem por finalidade principal
responder esta questão, uma vez que para isso seria necessária a realização de uma outra pesquisa
profunda o bastante a ponto de, talvez, vir a respondê-la
6
.
Na realidade este questionamento tem por finalidade sugerir que seja realizada
uma breve reflexão sobre o tema do trabalho, a análise do jogo, sob a ótica da ciência.
Como se pôde observar no presente estudo, um dos objetivos principais para a
elaboração do mesmo foi a busca de fazer com que, aqueles que possuem interesse na realização
da análise do jogo, pudessem encontrar neste trabalho um meio norteador que forneça uma
proposta capaz de colaborar para a elaboração de modelos de análise do jogo mais aptos e
proveitosos.
Houve, portanto, para o desenvolvimento deste trabalho uma preocupação clara
com a busca de dar respostas através de uma proposta elaborada para que dúvidas sobre a
construção dos modelos de análise do jogo fossem, pelo menos em parte, respondidas.
Dessa forma, numa primeira leitura do presente trabalho, fica clara a
preocupação com relação aos aspectos científicos da construção de modelos de análise do jogo,
numa tentativa de tornar este assunto, e principalmente este processo, dotado de um caráter
acadêmico.
Isto diz respeito principalmente ao fato de que muitos trabalhos encontrados em
literatura tratam a análise do jogo através de um grande conjunto de dados coletados que nem
sempre mostram através de qual processo esses dados foram coletados e quando mostram, não
fundamentam a forma como os modelos foram elaborados, ou seja, não discutindo à luz da
ciência a construção dos modelos de análise do utilizados nesses trabalhos.
Na realidade não se deve cometer o erro de imaginar que este trabalho retira a
capacidade científica dos processos de análise do jogo realizados por técnicos, professores e
treinadores, mesmo que a construção de seus modelos de análise do jogo seja feita “apenas”
através do conhecimento esportivo de cada um deles e sem uma base teórica definida.
6
Ver em GARGANTA, J. Futebol e ciência. Ciência e Futebol. In. Efdeportes Revista Digital. Buenos Aires, n.40,
Setembro. 2001.
34
Claro que isso é ciência. Não como negar que isso é produção de
conhecimento que pode ser útil não para aquele que desenvolveu esse processo, mas também
para outros treinadores, técnicos e professores.
Na realidade a ciência se inicia somente a partir da aplicação de idéias e este
trabalho só pôde ser desenvolvido graças a iniciativas que não necessariamente tiveram um
aporte teórico para sua realização.
Dessa forma, pode-se dizer, sem dúvidas, que graças à construção da ciência
realizada por tantos treinadores e técnicos que muitas vezes foi realizada sem um fim acadêmico,
mas que sempre tiveram como característica principal a busca de respostas, que hoje este
trabalho, com a preocupação de tornar acadêmica a discussão sobre a o processo de construção de
modelos de analise do jogo, pôde ser realizado.
6. Conclusões
No presente trabalho verificou-se que a partir de uma leitura sob a ótica da
análise do jogo, as obras que tratam do ensino dos JDC tendo como pressuposto a compreensão
das suas relações táticas, podem ser referenciais a partir dos quais idéias para a construção de
modelos autônomos de análise do jogo podem ser concebidas.
No entanto, para que seja possível essa leitura sob a perspectiva da análise do
jogo, faz-se necessário que estas obras tenham seus eixo de idéias bem compreendido, para que
assim, tais modelos possam ser desenvolvidos de maneira crítica e bem fundamentados.
Logo, estas obras também precisam ser lidas sob sua ótica inicial, o ensino dos
JDC com base nas características relacionadas com as razões do fazer e não com o modo de
fazer.
Assim, através da interpretação de pontos chave de seus trabalhos conclui-se
que para a elaboração de modelos de análise do jogo, deve-se ter como pressuposto inicial a
delimitação de quais serão os princípios do jogo (Bayer, 1992) a as suas relações, respeitando a
setas da tabela 1, que mostram quais as relações possíveis de serem realizadas entre estes
princípios.
35
Após a delimitação destes princípios, deve-se realizar a anotação dos jogos
através da utilização das possíveis regras de ação do jogo, com a preocupação de delimitar as
regiões em que tais ações ocorrem e também a cronologia das ações, para que as análises estejam
contextualizadas com o andamento do jogo.
A técnica será mais um instrumento de análise do jogo, porém, a agregação de
valores e índices de eficiência ou eficácia referentes à técnica não serão categorias norteadoras no
processo da elaboração do modelo de análise do jogo.
No modelo proposto, a técnica será qualificada e quantificada apenas no fim de
todo o processo de análise do jogo, que análises baseadas nos aspectos referentes aos
princípios do jogo e das regras de ação (dimensão tática do jogo) possibilitam o acesso à análise
da dimensão técnica e sua classificação com relação aos aspectos de eficiência e eficácia, sendo o
caminho inverso buscar análise da tática do jogo apenas com base nas análises da técnica
bastante complicado.
Observa-se, portanto, que para a elaboração de modelos de análise de jogo
pautados na presente proposta, deve-se seguir do seguinte modelo:
Figura 2. Proposta para Elaboração de Modelos de Análise de Jogo (Baseado em Daolio, 2002)
CATEGORIAS DE
ANÁLISE DO JOGO
ATAQUE
DEFESA
MANUTENÇÃO
DA POSSE DE
BOLA
PROGRESSÃO
AO CAMPO
ADVERSÁRIO
FINALIZAÇÃO
AO ALVO
ADVESÁRIO
REGRAS
DE AÇÃO
GESTO TÉCNICO
PROTEÇÃO
DO ALVO
IMPEDIR
PROGRESSÃO
AO CAMPO
ADVERSÁRIO
RECUPERAÇÃO
DA POSSE DE
BOLA
CRONOLOGIA
D
ADOS A SEREM
ANÁLISADOS
PRINCÍPIOS DO JOGO
LOCAL
Processo
de
Construção
de
modelos
de análise
do jogo
36
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TEODORESCU, L. Problemas de Teoria e Metodologia nos Jogos Desportivos. Lisboa: Livros
Horizontes, 1984.
39
ANEXOS
40
ANEXO A: Campograma das Zonas de Finalização do Handebol (SANTOS, 2004)
1
2
3
4
5
6
7
8
41
ANEXO B: Campograma das Zonas de Recuperação de Bola do Handebol (SANTOS, 2004)
1
2
3
4
5 6 7 8
sentido do ataque
42
ANEXO C: Campograma com Zonas e Faixas de Ação Delimitadas e Sentido do Ataque
(LEITÃO, 2004).
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