
“Mas a experiência aqui não é outra coisa que o corpus destas pesagens, destas
pesagens que pesam sem serem pesadas nem medidas por nada, que não depositam em lugar
algum seus pesos, não se apaziguam por nenhuma medida. Experitur: um corpo, uma psyché
tenta, é tentada, tocada, ela ensaia, ela se arrisca, ela é riscada, ela é forçada a vir àquilo que
ela “já” é, mas “já” em sua vinda, não pressuposta, existente por essência impressuposta.
Ela vêm, ela vai imediatamente, já, no instante, e isso toma toda uma existência, até as
bordas: nada menos do que nascer e morrer, circunscrever, inscrever e excrever ao mesmo
tempo o lugar múltiplo de um corpo. Experitur: isso vai e isso vêm ao longo dessas bordas,
confins e fins sem fim bordejados a outros fins, recomeços de si, ao modo do acolhimento
dos outros, toques dados e recebidos, pesagens sopesadas, inumações (levées), lábios,
pleuras, vozes, visões, maneiras de ser no extremo de si e dos outros, bem antes de ser a si
ou a qualquer outra coisa”
221
.
“Experiência não é saber, nem não-saber. Experiência é travessia, transporte de
borda a borda, transporte incessante de uma borda à outra em toda a extensão do traçado que
desenvolve e que limita uma a-realidade (aréalité)”
222
.
“Um corpo é para si mesmo, também sua voragem, sua degradação, e inclusive até o
pus purulento, até a paralisia. A existência não comporta somente o excremento (como tal,
elemento cíclico): mas um corpo é também e se faz sua própria excreção. Um corpo se
espaça, um corpo se expulsa, identicamente. Ele se escreve e se excreta (il s’excrit) como
corpo: espaçado, ele é corpo morto, expulsado, ele é corpo i-mundo. O corpo morto de-
limita o i-mundo e retorna ao mundo. Mas o corpo que se expulsa afunda o i-mundo em
pleno mundo. E nosso mundo faz os dois: dupla suspensão do sentido” (p. 92).
“Numa escritura, o corpo é propriamente o que não se pode ler nela” (p. 76).
“Não se pode pensar isso ou nada. Mas pensar isso, é ainda nada”
223
.
“Pensar em retirada de pensar. Tocar esse grama, esta série, esta extensão. O
pensamento se toca, sem ser si, se se voltar a si. Aqui (mas onde é aqui? ele não é
localizável, ele é a localização tendo lugar, o ser vindo aos corpos) aqui, portanto, não se
trata de juntar uma “matéria” intacta. Não se opõe imanência a transcendência. De maneira
geral não opomos, os corpos não opõem nem se opõem. Eles são postos, depostos, pesados.
Não há matéria intacta – ou então não haveria nada. Ao contrário há o tato, a posta e a
creation comme corpus : sans créateur, logos empirique, variété aléatoire, ordonnance extensible, modalisation
permanente, absence de plan et de fin – seule la creation sera la fin, ce que veut dire aussi, seuls les corps,
chaque corps, chaque masse et chaque intersection, interface de corps, chacun, chacune et toute leur
communauté désoeuvrée ferait les fins infinies de la techné du monde des corps.) » (p. 87)
221
« Mais l’experience n’est autre chose, ici, que le corpus de ces pesées, de ces pesées qui pèsent sans être
pesées ni mesurées par rien, qui ne déposent nulle part leurs poids, ne s’apaisent d’aucune mesure. Experitur :
un corps, une psyché, tente, est tentée, touchée, elle fait l’essai, elle se risque, elle est risquée, elle est pousée a
venir à ce qu’elle est « déjà », mais « déjà » dans sa venue, non pressuposée, existant par essence
impréssuposée. Elle vient, elle va toute de suite – déjà, à l’instant, et cela prend toute une existence – jusqu’au
bords : rien de moins que naître et mourir, circonscrire, inscrire et excrire à la fois le lieu multiple d’un corps.
Experitur : ça va, ça vient le long de ces bords, confins et fins sans fin bordées à d’autres fins,
recommencements de soi autant qu’abords des autres, touches donnés et reçus, pesées soupesées, tombées,
levées, lévres, plévres, voix, visions, maniéres d’être aux bouts de soi et d’autres bien avant d’être à soi ou à
quiconque. » (p. 88)
222
« Expérience n’est pas savoir, ni non-savoir. Expérience est traversée transport de bord à bord, transport
incessant d’un bord à l’autre tout le long du tracé qui developpé et qui limite une aréalité. » (p. 98)
223
« On ne peut pas penser à moins c’est ça ou rien. Mais penser ça, c’est encore rien. » (p. 95)
203