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guerra. Quanto ao segundo ponto, sou de opinião que o mecanismo de que se trata é
de fácil manejo e dos mais engenhosos que tenho visto; porém não o considero no
caso de satisfazer a todas as condições requeridas pelas máquinas de guerra; pois,
além de apresentar defeitos capitais em referência à solidez exigida para o trabalho
propriamente mecânico, muito deve sofrer com a presença dos fenômenos físicos e
químicos, sem dúvida inevitáveis em muitas circunstâncias que ocorrem, já nos
combates, depois de algumas horas de fogo, já no serviço dos postos avançados, em
dias de grande calor, ou de copiosa chuva, sem falar dos nocivos efeitos da constante
humidade atmosférica que, como todos sabem, nestes países muito prejudica o
armamento portátil em uso no nosso exército, por isso que se torna preciso limpá-lo
com freqüência, e nem todos os nossos soldados possuem a necessária aptidão para
fazê-lo convenientemente. [...] a espingarda Robert´s não pode com vantagem
substituir a que presentemente empregamos, nem é ainda a arma de carregamento
pela culatra, que há tanto tempo se busca como meio para se obter, pelo perfeito
forçamento do projétil, o máximo alcance e precisão no tiro, além de grande
celeridade no carregamento. A experiência já nos tem mostrado que as armas que se
carregam pela culatra, até hoje conhecidas entre nós, não devem ser adotadas pela a
infantaria, quer pela dificuldade que apresentam os respectivos mecanismos no
tocante ao seu asseio e conservação, quer pela prontidão com que se desarranjam e
deixam de funcionar regularmente depois de certo número de tiros; podendo isso
acarretar o grave inconveniente do soldado marchar para o combate sem a menor
confiança na sua arma [...]. Quanto ao cartuchame [...] nada tem de peculiar pois é o
mesmo adotado por [...] outros muitos que pretendem ter descoberto a arma de
carregamento pela culatra [...]. Padece, portanto, essa munição do mesmo
inconveniente que se nota em todas as armas similares, cuja extração do cartucho
metálico deve ser feita automaticamente: isto é, depois de certo número de tiros, o
extrator não tem força suficiente para sacar o cartucho, geralmente fabricado de
cobre roseta, cuja maleabilidade faz com que a sua aderência às paredes do cano da
arma seja considerável. Além do inconveniente que acabo de apontar e é inerente ao
sistema, tem-se observado pouca regularidade e perfeição no cartuchame que
acompanham as armas de Robert´s; o que é mais uma razão para não serem
adotadas, sob pena de ficar comprometido o corpo que com elas entrar em ação. [...]
Concluo, portanto, assegurando que nutro a convicção de que tanto o sistema
Robert´s, como o de Spencer, não convém ser adotado para a nossa infantaria, pois é
de esperar que qualquer deles produza o funesto resultado obtido pelas armas de
agulha, como era de prever, e eu o disse mais de uma vez.
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Os defeitos apontados pelo major Ancora -pouca resistência, imperfeição das
peças metálicas, deficiências do mecanismo de carregamento e disparo na culatra, problemas
de forçamento do projétil, que reduzia, assim, o alcance e a precisão do tiro, sujeira
acumulada após vários tiros e mau funcionamento do extrator de cartucho, obrigando o
soldado a sacá-lo com a mão- foram apontados por muitos outros pareceristas na Corte, todos
eles membros da Comissão de Melhoramentos do Material do Exército. Em 21 de janeiro de
1868, o major Francisco Primo de Souza Aguiar, por exemplo, já dava a seguinte opinião
sobre as referidas armas: “[...] direi que o trabalho nela executado não me parece perfeito, e
deixa muito a desejar quanto à mão de obra [...].”
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148
Diário do Exército, p. 310-311.
149
Relatório do Ministério da Guerra de 1868, p. 02.