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modificando assim os usos mais esperados dos espaços públicos. È por isto que o
autor identifica na permanência destas práticas a possibilidade de serem produzidos
déficits significativos de comportamentos civilizatórios. O confinamento dificulta, quando
não impede, a formação de práticas democráticas na cidade. A ausência de diálogos
entre os diferentes grupos em razão do bloqueio de canais de comunicação de
natureza pública, como por exemplo as vias laterais aos condomínios indevidamente
privatizadas, modifica o sentido destes espaços.
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Este caso revela, dentro de uma
espacialidade, uma crise societária que
[...] corresponde a fragilização dos processos de socialização e, portanto, de
orientações institucionais relacionadas à tessitura das interações sociais, ao
compartilhamento de valores e , inclusive, ao uso dos mesmo códigos na
comunicação diária. Apesar da relevância destes processos, os seus ângulos
mais dolorosos tendem a permanecer ocultos pelo ativismo estimulado pela
efervescência consumista. Esta efervescência, que altera o ritmo das grandes
cidades, decorre da financeirzação da economia urbana, da monetarização de
todas as relações sociais e da ênfase, quase exclusiva, em intervenções de
materialidade que objetivam o embelezamento de áreas privilegiadas e aa
circulação confortável para somente alguns segmentos da população. (Ribeiro,
2008, p.3).
O trânsito destes grupos, observado dentro das bolhas de segurança
apresentados por Ceccato (1997) em que o deslocamento de uma determinada parcela
da população ocorre entre vias seguras que protegem os seus transeuntes através do
uso de seguranças que envolvem homens armados e carros blindados, configuram, em
termos parciais, os espaços de fluxos Castelianos. Vê-se nestes deslocamentos a
interconexão dos vários fluxos destacados por Castels. A título de exemplo observemos
a seguinte situação, bastante comum entre alguns moradores da Barra da Tijuca. Um
adolescente, morador de um grande condomínio, sai da sua casa em rumo à escola
dentro de um carro com seguranças. No seu trajeto a preocupação com a segurança é
fundamental, já que este deslocamento é feito dentro de um espaço público. Ao chegar
à escola este estudante não teve nenhum contato com a rua, sequer visual. Terminada
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Na minha pesquisa de campo uma das moradoras que eu entrevistei, residente no condomínio Barramares, um dos mais
prestigiados da Barra da Tijuca, me relatou um conflito muito comum no bairro. Existe uma rua lateral ao condomínio que permite o
acesso ao Canal de Marapendi, que é utilizado pelos moradores que usam a balsa para chegar aos seus condomínios.
Incomodados com esta “ invasão de terreno “ os moradores do Barramares, através de sua associação, tentaram na justiça o
impedimento deste uso. Como não foram bem sucedidos em seu pleito, afinal de contas, ao contrário do imaginário dos seus
moradores, uma rua, ainda que vizinha a um condomínio é pública, o condomínio Barramares construiu uma cerca nos seus limites
legais, como se quisessem passar a mensagem de que haviam perdido uma batalha, e não a guerra. Nota-se neste caso que o
bloqueio do diálogo á ainda mais grave, já que se dá entre os “iguais”.