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processo de municipalização, ao mesmo tempo em que expressam as preocupações
quanto ao futuro dos serviços e dos usuários atendidos.
“Enfrentamos vários problemas nessa transição. Implantou-se o Serviço de
Proteção Jurídico-Psico-Social achando que iria ser uma coisa. Que iria ajudar a
ampliar nosso trabalho que iam fazer parte, porque os técnicos daqui já faziam
parte da nossa equipe, a não ser os que foram recém-contratados. Até hoje não
está claro, não vejo isso, não vi grandes mudanças, continuamos fazendo as
mesmas coisas enquanto orientadores. Não mudou nada. Meus colegas
continuam sendo orientadores e são testemunhas disso, estão balançando a
cabeça. Não é, Rê? Continua a mesma coisa, e, assim, tentou-se atender à
comunidade, dar conselho de proteção jurídico [psico-social] e dar suporte às
famílias, [tentou-se também] buscar recursos na rede, mas a rede não funciona.
Estamos tentando resolver aqui e continuamos tentando apagar incêndio do
mesmo jeito, porque as coisas não estão claras. Acho que vão destruir uma coisa
que ainda nem se tem clareza de como funcionaria realmente na prática. O
modelo que foi feito não foi bem estruturado. Se fosse, não estaria destituindo. O
que eles estão implantando é uma coisa tão errada que agora já não [se] sabe
mais o que fazer. Por que não incorpora? Para que separou? Por que a gente tem
essa política separatista? Era só incorporar o psicólogo, o advogado, o assistente
social dentro do nosso trabalho. Não precisaria fazer: esse aqui é o Serviço de
Proteção Jurídica [Psico-Social] e esse aqui são os orientadores... Eles fazem
parte da mesma coisa. Do jeito que foi implantado parece que são duas coisas
distintas. O que não funcionou” (Depoimento de Cláudio).
Vejamos agora o ponto de vista de Vitória sobre o processo de
municipalização:
“Na verdade nesse processo da municipalização, o que veio muito falho foi essa
questão do MGTA [Módulo de Gerenciamento Técnico-Administrativo] e da
Incubadora [Social] que não eram claros. Tanto o Serviço de Proteção Jurídico-
Psico-Social quanto o Núcleo [Socioeducativo] eles já eram algo idealizado que já
existiam nos movimentos de municipalização. O que foi novo foi o Serviço
Jurídico-Psico-Social ser um serviço à parte do Núcleo. A idéia de se juntar e fazer
um único serviço é muito mais válida do que está hoje, porque garante que esse
serviço se mantenha existindo. Como hoje é um Serviço desvinculado do Núcleo,
ele vai ser extinto sem a menor cerimônia, sem a menor preocupação no
atendimento do adolescente. Quando ele passa a estar, a fazer parte do
atendimento do Núcleo, ele se mantém porque ele se faz necessário, não é
dissociável. Acho que é válida essa decisão por conta disso, embora tenha que se
tomar muito cuidado de como virá essa nova proposta, como será esse novo
modelo e isso me preocupa muito, porque os representantes do governo não
estão nunca preocupados com o melhor atendimento para o adolescente, mas
muito mais com questões de finanças. Estamos sabendo que estão para extinguir
serviços, tem data e tudo marcado, mas... e o adolescente? Quando a gente
questiona isso, que ele nunca é levado em consideração [o adolescente], ele não
tem importância nesse processo. É um serviço que foi se criando, foi revendo sua
posição, foi se formulando, se adequando à demanda. Na verdade, por si só, pela
sua própria coordenação, pela sua equipe técnica e não por suporte técnico dos
órgãos competentes. A SAS [Regional], a meu ver, se sente extremamente
perdida nesse processo, é algo que compromete. Ela não sabe como lidar, ela não
sabe o que é de fato demanda e o que não é demanda desse serviço. Porque o