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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA - UNIFOR
Diretoria de Pesquisa e Pós-Graduação
Centro de Ciências da Saúde
Curso de Mestrado em Educação em Saúde
GISELLE NOTINI ARCANJO
AVALIAÇÃO DE PRÁTICAS EDUCATIVAS EM MULHERES
COM DORES NAS COSTAS
FORTALEZA
2005
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1
GISELLE NOTINI ARCANJO
AVALIAÇÃO DE PRÁTICAS EDUCATIVAS EM MULHERES
COM DORES NAS COSTAS
Dissertação apresentada ao Mestrado em Educação em
Saúde da Universidade de Fortaleza, como parte dos
requisitos exigidos para obtenção do título de Mestre.
Orientadora Prof.a Dr.a Raimunda Magalhães da Silva
FORTALEZA
2005
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2
AVALIAÇÃO DE PRÁTICAS EDUCATIVAS EM MULHERES
COM DORES NAS COSTAS
DATA DE APROVAÇÃO: 25/11/2005
BANCA EXAMINADORA
Profa Dra. Raimunda Magalhães da Silva - UNIFOR / UFC
ORIENTADORA
Profa Dra. Leonia Cavalcante Teixeira - UNIFOR
1ª EXAMINADOR
Profa Dra. Zélia Maria de Sousa Araújo Santos - UNIFOR /UFC
2ª EXAMINADOR
Profa Dra. Maria do Socorro Pereira Rodrigues - UFC
SUPLENTE
3
Tu, pesquisadora, já sabias que toda mulher sangra,
e que, bem antes do sangrar, a fadiga já invadia teus dias.
Buscaste ofertar o refrigério com o gelo da ciência,
porém viste mulheres humildes que, antes do climatério,
continham o sangue dos humildes, o vermelho da dor
da rotina, o matraquear dos teares, as labutas da favela,
lavagens que rasgam a ergonomia, baldes de água
tombando a galhardia dos passos frente ao mundo.
E tu presenciaste, discípula da terapia, o fato de que as filhas
do Dendê dormem, amontoadas, torcidas, na cruz das redes.
Ofertaste a parte educativa da ciência nas oficinas do saber
e aliviaste a dor física, que punge antes do sangue chegar.
Sabes, no entanto, que, ficou, ainda, nas vielas, nas casas e nas
almas, o climatério cruciante da vida, a doer, a carpir e a fazê-
las chorar.
Clauder Arcanjo
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, por sempre traçar para meu destino as melhores coisas. O Senhor é
o meu protetor e meu guia!
Aos meus amados filhos Luana e João Victor e ao meu marido e sempre
companheiro, João Helder, pela (nem sempre) compreensão da ausência. Amo vocês!
A todos os funcionários que fazem parte do Setor de Comunicação da
UNIFOR pela disponibilidade em me atender. Saibam que sem vocês a pesquisa não
teria se desenvolvido.
Aos meus clientes que, por meio de sua dor, me incentivaram a querer
pesquisar detalhes de seu sofrimento e buscar meios para minimizá-lo.
À Dra. Ângela e às alunas do grupo de pesquisa da Saúde da Mulher, pela
ajuda na entrada ao NAMI e na seleção das mulheres. Muito obrigada! O trabalho de
vocês é motivante!
Ao Núcleo de Atenção Médica Integrada – NAMI, na pessoa do diretor, Dr.
Flávio Ibiapina, por me haver permitido entrada e o desenvolvimento da 1ª fase da
pesquisa.
Às mulheres do Grupo de Apoio às Mulheres do Climatério, principalmente
àquelas que participaram deste estudo. Vocês me ensinaram muito!
Aos colegas que estiveram comigo nesta etapa de crescimento pessoal e
profissional. Juntos conseguimos vencer mais um passo em nossas vidas!
Aos professores do programa de Mestrado em Educação em Saúde da
UNIFOR, em cuja sabedoria me ensinaram, além de novos conhecimentos, a ser mais
do que professora e pesquisadora.
Aos funcionários do mestrado, Cleide, Marciliano e Rafael, que contribuíram
muito para detalhes da pesquisa.
5
À Profa. Dra. Raimundinha, minha querida orientadora não só de pesquisa,
mas também de vida, que com toda sua humildade e simplicidade, transborda
conhecimentos.
Aos Professores Doutores Zélia Maria de Sousa Araújo Santos, Renan
Montenegro, Maria do Socorro Pereira Rodrigues e Leonia Cavalcante Teixeira por
aceitaram o meu convite para participarem da banca examinadora, seja na qualificação
ou na defesa desta pesquisa. Obrigada pelas colaborações!
Ao meu cunhado, Antônio Clauder Arcanjo, escritor e professor, pela
contribuição de suas palavras.
Enfim, aos meus pais, que estiveram unidos na função de me educar e no
incentivo para alcançar meus ideais. Minha eterna gratidão!
6
RESUMO
Este estudo teve o objetivo de avaliar as repercussões e percepções de práticas
educativas para o autocuidado para dores nas costas, identificando os fatores que
influenciam a adesão e as possíveis barreiras impedientes da aprendizagem e das
condições de continuidade. Foram realizadas oito (8) oficinas educativas com nove
mulheres na fase do climatério com queixas de dores crônicas na coluna, as quais
receberam para isto orientações de autocuidado, durante os meses de janeiro a julho de
2005. Os encontros aconteceram em salas da Universidade de Fortaleza, Estado do
Ceará - Brasil. Trata-se de uma pesquisa avaliativa com abordagem qualitativa, na qual
se utilizou, para coleta de dados, a triangulação de métodos, com entrevistas individuais
e grupais, oficinas educativas e observação participante. Verificou-se que a condição de
vida das mulheres proporcionava ambientes inadequados, estilos de vida insatisfatórios,
hábitos, costumes e alimentação incorretos e dificuldades de acesso à assistência à
saúde, sendo elementos significativos no agravo da dor. Os resultados mostraram que as
ações educativas possibilitaram mudanças comportamentais e mitigação da dor,
ensejando maior mobilidade para retorno às atividades funcionais da vida diária e
manutenção da saúde sem uso de medicação. As mulheres revelaram que o trabalho em
excesso, o cansaço, a falta de tempo, o grau de responsabilidade familiar e de ordem
geral, além de sintomatologias associadas à dor na coluna, modelo biomédico,
facilidade de automedicação e incerteza do diagnóstico foram considerados
impedimentos para continuidade do autocuidado e adesão às ações educativas. Este
estudo possibilitou repensar a idéia de que orientações sistemáticas e coordenadas são
de fundamental importância para que se possa minimizar a dor, o uso excessivo de
medicamentos e gastos financeiros com ações terapêuticas mostrando a necessidade de
aplicação nos serviços, situando as pessoas na atitude de co-participantes do cuidado
com a saúde.
Palavras-chave: práticas educativas, dor nas costas, mulheres.
7
ABSTRACT
This study aimed to evaluate the echoes and perceptions of the educational practices
related to the back pain self-care. It tried to identify the factors which influence the
participants’ enrollment and the possible barriers that avoid the learning as well as the
conditions for keeping on doing it. There have been eight educational workshops having
nine women facing climacterium and complaining about chronic back pain enrolled.
They were guided to develop the spinal column self-care treatment from January to July
of 2005. The meetings took place at the University of Fortaleza – UNIFOR, Ceará. This
study was conducted using a qualitative approach to develop an evaluative research
which collected data through three methodological bases: individual and group
interviews, educational workshops and the participatory observation. It has been
observed that the women’s living standards resulted in inadequate environments, being
their unpleasant lifestyles, wrong posture, wrong costumes and wrong eating habits,
besides the difficulties to access to health care, meaningful to worsen their pain. The
results have shown that the educational actions resulted in behavioral changes, better
pain relief, a great improvement of mobility to their return to daily life activities, and
kept them healthy without taking medicines. The women have revealed that the
overload of work, the tiredness, the lack of time, the level of responsibility and the
symptomatology associated to the back pain, the biomedical model, the facility to self-
medication and the uncertainty of diagnosis were considered hindrances to having kept
the self-care and their enrollment in the educational actions program. This study not
only enables the re-thinking of the actual importance of the systematic and coordinated
counseling in order to soften the pain, the abusive use of medicines, the expenditure of
money on therapeutic actions, but also showed the need to put the self-care into practice
at work, enabling the working force to become co-participants of their health care.
Key-words: educational practices, back pain, women
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................12
2 ESCOLAS POSTURAIS COMO ESTRATÉGIA PREVENTIVA DE
ALGIAS NA COLUNA VERTEBRAL: IMPLICAÇÕES NA REDE
BÁSICA DE SAÚDE ............................................................................................ 16
3 AUTOCUIDADO NA PREVENÇÃO E CONTROLE DAS DORES
NAS COSTAS FUNDAMENTADO NA EDUCAÇÃO EM SAÚDE................ 24
4 METODOLOGIA.................................................................................................. 32
4.1 Abordagem metodológica............................................................................... 32
4.2 Cenário da pesquisa ........................................................................................ 33
4.3 Participantes da pesquisa ................................................................................ 34
4.4 Instrumentos para a coleta dos dados.............................................................. 35
4.5 Procedimentos para coleta de dados ............................................................... 36
4.5.1 A seleção............................................................................................. 36
4.5.2 A entrevista inicial .............................................................................. 37
4.5.3 As intervenções educativas ......................................................37
4.5.4 As entrevistas após a intervenção ....................................................... 51
4.6 Organização e análise dos dados..................................................................... 52
4.7 Considerações éticas ....................................................................................... 53
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS............................................... 54
5.1 Apresentação das participantes: cotidiano das mulheres que
reconhecem sua dor nas costas........................................................................ 54
5.1.1 O grupo de mulheres e sua condição socioeconômica ....................... 60
5.1.2 A dor e sua característica antes da intervenção................................... 62
5.2 Práticas educativas e estratégias para mitigar da dor...................................... 74
5.3 Práticas educativas e condições de vida e saúde.............................................83
9
5.3.1 Classificação da dor após intervenção ................................................ 85
5.3.2 Prática e continuidade do autocuidado......................................................91
5.3.3 Realização dos Exercícios................................................................... 92
5.3.4 Fatores impeditivos da prática e continuidade do autocuidado .......... 94
5.3.5 Disseminação da cultura do autocuidado com o corpo....................... 96
5.4 Autocuidado com a coluna vertebral e qualidade de vida............................. 100
5.4.1 Fatores que interferem na evolução da dor....................................... 105
5.4.2 A interveão como atualizador para uma cultura sauvel...........108
5.4.3 Dor nas costas como fator de conscientização quanto a
atitudes de cura.................................................................... 110
5.4.4 Preveão e Conscientização.....................................................111
5.5 Relação da prática educativa com as políticas de saúde............................... 112
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 115
7 RECOMENDAÇÕES ............................................................................................ 119
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 122
APÊNDICES ........................................................................................................... 128
Apêndice A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...................................... 129
Apêndice B – Entrevista Inicial ................................................................................... 130
Apêndice C – Entrevista Final ..................................................................................... 131
Apêndice D – Instrumento para acompanhamento das práticas .................................. 133
Apêndice E Manual
ANEXOS
Anexo A – Parecer Comitê de Ética
10
LISTA DE QUADROS E FIGURAS
Quadro 1 Requisitos de autocuidado ............................................................................. 31
2 Caracterização socioeconômica das mulheres ....................................61
3 Caracterização da dor antes da intervenção................................................... 63
4 Respostas das mulheres mediante a cada ação do 1° encontro...................... 75
5 Respostas das mulheres mediante a cada ação do 2° do encontro................. 75
6 Respostas das mulheres mediante a cada ação do 3° do encontro................. 76
7 Respostas das mulheres mediante as atividades diárias................................ 77
8 Respostas das mulheres mediante a cada ação do 4° do encontro................. 78
9 Respostas das mulheres mediante a cada ação do 5° do encontro................. 79
10 Respostas das mulheres mediante a cada ação do 6° do encontro................ 81
11 Respostas das mulheres mediante a cada ação do 7° do encontro................ 82
12 Respostas das mulheres mediante a cada ação do 8° do encontro................ 83
13 Acompanhamento da dor durante e após a ação........................................... 88
14 Exercícios mais realizados em casa.............................................................. 93
Figura 1 Escala Visual Analógica ................................................................................ 35
2 Dobradiça de frente......................................................................................... 39
3 Dobradiça de lado ........................................................................................... 39
4 Trabalho com as bolinhas nos pés ................................................................. 40
5 Treino de marcha em diversas posições.......................................................... 40
6 Posição correta para levantar ......................................................................... 41
7 Automassagens................................................................................................ 41
8 Alongamento do quadrado lombar.................................................................. 42
9 Dobradiça com palmear .................................................................................. 42
10 Percepção corporal sentado e deitado .......................................................... 43
11 Bola de tênis nos ísquios e coluna................................................................. 43
11
Figura 12 Exercício de Williams................................................................................... 44
13 Alongamento de cadeia cruzada.................................................................... 44
14 Relógio da pelve............................................................................................ 44
15 Alongamento do glúteo................................................................................. 45
16 Autopostura para alongamento dos isquiotibiais .......................................... 46
17 Autopostura para alongamento dos adutores ............................................... 46
18 Alongamento do piriforme............................................................................ 46
19 Espreguiçar.................................................................................................... 47
20 Autopostura de Asa Delta ............................................................................. 47
21 Exercício na posição de gato......................................................................... 48
22 Postura de Maomé......................................................................................... 48
23 Exercícios na posição sentado – rotação, espreguiçar e dobradiça............... 49
24 Gangorrar ..................................................................................................... 50
25 Rotação da coluna sentado............................................................................ 50
26 Em pé, encostada na parede para alinhamento da postura............................ 50
27 Dobradiça na parede..................................................................................... 51
12
1 INTRODUÇÃO
A proposta desta pesquisa surgiu com a observação de pessoas que se
tratavam de algias da coluna, de variadas faixas etárias, sexo e profissão. Apesar de
realizarem tratamentos especializados e enfáticos, precisavam de mais informações para
a manutenção e melhora do quadro clínico. Observamos que, somente por medidas
curativas, o paciente melhorava, parcialmente, de sua dor, mas não existia continuidade
ao tratamento em casa. Sabíamos também que posturas e atitudes corretas realizadas
durante e após o tratamento seriam imprescindíveis para a melhora de seu quadro
clínico. Faltavam porém, medidas educativas para esses pacientes que não sabiam as
causas de suas dores e como poderiam evitá-las. Na realidade, o que acontecia era a
restrição de certos movimentos por medo de voltar à crise, como eles próprios relataram
- impossibilitados de fazer o que faziam antes. Portanto, percebemos que não adiantava
resolver apenas a queixa principal e fazê-los retornar às suas atividades, pois era preciso
uma orientação quanto à prevenção de recidivas do quadro álgico. Assim, o
disciplinamento quanto à postura, bem como o conhecimento do corpo e da causa de
suas dores na coluna, poderiam ser peças fundamentais no controle e na melhora da
sintomatologia.
Schmidt & Kohlmann (2005) referem que cerca de 80% da população, em
algum momento de sua vida, já experimentaram a queixa de dores na coluna, e a
incidência e a prevalência deste sintoma são de tal modo freqüentes que devem ser
estudadas como desordens epidêmicas, sociais e que causam grandes prejuízos
econômicos, pois é a queixa mais reiterada nos serviços de saúde, a principal causa de
afastamento do trabalho e de benefícios requeridos à Previdência em razão da
deficiência causada.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) designou o período de 2001 a
2010 como a "Década do Osso e da Articulação", com o objetivo de aumentar a
consciência sobre o crescimento das desordens articulares e ósseas que causam dores
crônicas e afetam milhões de pessoas em todo mundo, levando a problemas de
incapacidade física, estresse econômico e psicológico, tanto para o paciente quanto para
a família. Portanto, há uma queda da qualidade de vida, além de acarretar problemas de
13
ordem socioeconômicas, ou seja, gastos que trazem e trarão graves conseqüências para
as economias e para os sistemas de saúde dos países, inviabilizando os atendimentos
básicos da Saúde, tornando de extrema necessidade a implantação de programas de
prevenção primária e secundária. Esta década visa a conferir empowerment aos
pacientes para o autocuidado, incentivar os profissionais da saúde a avançar nas
pesquisas para melhorar a prevenção e o tratamento, incentivar educação e treinamento
destes profissionais no cuidado das pessoas e encorajar a cooperação entre instituições
governamentais, não governamentais e acadêmicas para alcançar os objetivos propostos
sobre esse tema (OMS, 2004).
Numa pesquisa desenvolvida por Silva, Fassa & Valle (2004), em 3.182
indivíduos adultos, de ambos os sexos, em Pelotas - Rio Grande do Sul, os autores
observaram que a dor crônica na coluna era significativamente maior no sexo feminino
e, conforme aumentava a idade dos indivíduos, houve tendência de acresção linear da
freqüência de dor, sendo que o intervalo etário entre 50 e 59 anos apresentou maior
risco. Concluíram também que as mulheres apresentam risco superior ao dos homens,
pois combinam a realização de tarefas domésticas com o trabalho fora de casa, sendo
expostas a cargas ergonômicas, principalmente repetitividade, posição viciosa e trabalho
em grande velocidade. Além disso, o sexo feminino apresenta diferentes características
anátomo-funcionais como menor estatura, inferior massa muscular e óssea, articulações
mais frágeis. Além disso, as mulheres são menos adaptadas ao esforço físico e detêm
maior porcentagem de gordura, o que pode colaborar para o surgimento das dores
crônicas na coluna. O risco é aumentado numa faixa de idade maior em razão dos
processos degenerativos, trazendo como conseqüências o desgaste das estruturas
osteomusculares e orgânicas.
Portanto, nas mulheres, quando atingem o período do climatério e da
menopausa, ocorre a insuficiência ovariana secundária ao esgotamento dos folículos
primordiais, levando a uma diminuição dos hormônios sexuais femininos, o que a torna
susceptível a uma série de doenças, como o aumento dos distúrbios
musculoesqueléticos, dentre os quais a artrose, a osteoporose, a artrite e sendo as algias
na coluna - segundo Araújo et al (2003) - o sintoma mais freqüentemente relatado por
elas. Somado a isso, muitas delas em suas atividades domésticas, sob a exigência de
tarefas pesadas (como lavar paredes e janelas, passar ferro, arrumar camas, cuidar de
bebês ou varrer o chão) realizam esses trabalhos em posições inadequadas que
14
provocam dores na coluna vertebral. Também necessitam trabalhar fora, o que pode
levar ao crescimento do estresse sociopsicológico, influenciando na incidência e no
aumento das dores nas costas.
Em vista desta série sintomatológica de tão importuno problema de Saúde
Pública, surgiu a idéia de procurar alguma proposta que suprisse a necessidade de
prevenção e autocuidado visando à diminuição destes registros inquietantes. Nesse
sentido, encontramos a proposição das Escolas de Posturas, que são hoje,
reconhecidamente, a forma adequada de controlar a dor crônica vertebral pela educação
dos pacientes (FURLAN et al 1998; KNOPLICH, 2003; SCHLAPBACH, 1994). Nessa
mesma linha de intervenção em saúde, também é divisada grande quantidade de
“manuais informativos” sendo divulgados para o autocuidado da coluna, e, por isso,
questionamentos sobre até que ponto eles funcionam ainda precisam ser discutidos.
Existem estudos (BRINGUENTE, 1997; CHUNG, 1996; FURLAN et al,
1998; HAGE, 2004; KNOPLICH, 2003; 2002; 1993; PEREIRA, SOUZA E SAMPAIO,
2001) abordando a importância de práticas educativas para o autocuidado,
especificamente para dores nas costas, comprovando sua eficácia quanto à diminuição
da dor, principalmente nos trabalhadores, mas não encontramos pesquisas neste setor
dirigida a mulheres no climatério e avaliando de forma qualitativa as repercussões desta
proposta.
Com efeito, este ensaio teve o objetivo de avaliar as repercussões e
percepções de práticas educativas para o autocuidado em mulheres na fase do climatério
com queixas de dores crônicas na coluna, e identificar os fatores que influenciam a
adesão às práticas educativas e as possíveis barreiras que impedem a aprendizagem e a
continuidade para a manutenção e/ou recuperação da saúde. A partir destes,
compreendemos o significado da Educação em Saúde e de atividades específicas para
dores nas costas na experiência destas mulheres; examinamos como se comportaram
diante da prática educativa, recolhendo suas percepções e atitudes diante destas ações, e
acerca da melhora das dores nas costas, tentando alcançar respostas mais consistentes
sobre o valor da prática educativa na dor crônica da coluna e as condições de
continuidade. A busca de questões de como as ações educativas podem minimizar e, até
mesmo, curar a dor e se elas teriam condições de autocuidado também foram nossas
preocupações na presente investigação.
15
Consideramos todo o quadro socioeconômico, político, educacional e
ambiental, em cujo contexto de vida se encontravam as mulheres, no que diz respeito a
saúde-doença, além do conhecimento de estímulos que predispõem para a manutenção
do tratamento, dos fatores que auxiliam e impedem a melhora da dor e da qualidade de
vida destas pessoas mediante a recuperação e controle da recidiva do quadro álgico.
Este estudo visou também a incentivar cuidados na atenção básica em saúde,
seja no atendimento no Programa de Saúde da Família, seja no trabalho com os agentes
de saúde do Sistema Único de Saúde, no intuito de reduzir e prevenir este sintoma nos
que sofrem de dores na coluna. Além disso, propôs romper paradigmas no profissional
de Fisioterapia diante também da abordagem primária e secundária, e não somente
terciária de atendimento, ou seja, somar ações de importância preventiva na saúde
coletiva e não somente no plano da reabilitação e cura total.
A pesquisa também teve o cuidado de incentivar as mulheres a usar
capacidades e habilidades adquiridas para promover sua saúde.
.
16
2 ESCOLAS POSTURAIS COMO ESTRATÉGIA PREVENTIVA DE ALGIAS
NA COLUNA VERTEBRAL: IMPLICAÇÕES NA REDE BÁSICA DE
SAÚDE
A coluna vertebral é composta por 33 vértebras (sete cervicais, doze dorsais,
cinco lombares, cinco sacrais e quatro coccígeas) unidas por articulações e discos
intervertebrais, fixados através de poderosos ligamentos e músculos, mostrando-se sob a
forma de três curvaturas fisiológicas, denominadas de cifose dorsal, lordose cervical e
lombar, apresentando a pelve como sua base de sustentação. As curvas torácica e sacral
são consideradas primárias, de proteção e, portanto, mais hipomóveis e as curvas
cervicais e lombares são havidas como secundárias, pois aparecem depois do
movimento de sustentação da cabeça na criança e da bipedestação, a partir do apoio em
pé para a marcha (KAPANDJI, 2000).
A função deste sistema, juntamente com o tônico-postural, consiste em
estabilizar a posição ereta do tronco e seus movimentos (flexão, extensão, inclinação
lateral e rotação), além de proteger a medula espinhal. A coluna é também o depósito
preferencial de todas as agressões ou desequilíbrios de qualquer proveniência e deve
adaptar-se para procurar manter o equilíbrio (SOUCHARD & OLLIER, 2001). Assim,
quando a pessoa é submetida a posturas inadequadas e torções bruscas, ocorre uma
diminuição de sua estabilidade, promovendo retrações musculares e mau
posicionamento vertebral, provocando mecanismos compensatórios posturais e dores
(KAPANJI, 2000). Para permitir novamente a estabilidade e a harmonia dos
movimentos do tronco, será necessário um equilíbrio entre os estímulos externos e
internos do corpo, para que sua função volte a ter uma economia de trabalho muscular
(ALMEIDA, 2001).
A dor na coluna é uma sintomatologia presente no cotidiano de vários
especialistas da área de saúde. Segundo Calliet (2001), 70 % da população sofre de
dores lombares, tornando–se, com efeito, fator incapacitante. Suas lesões podem ser
principalmente por compensação ascendente, ou seja, por lesões decorrentes de
problemas principalmente do pé, sacro, anomalia da dobradiça lombossacra; tensão
excessiva da musculatura extensora ou fraqueza dos músculos abdominais.
17
Calliet (2001: p. 94), então expressa o significado quanto à cronicidade
desta dor:
[...] quando há uma patologia ou um estímulo patológico, ainda
que diminuído, mas que persiste o comportamento da dor,
caracterizado por comportamentos verbais; o consumo de
medicamentos contra a dor; a incapacidade, no qual o nível de
atividade está diretamente relacionado; e o efeito sobre o
ambiente através da reação do empregador, do cônjuge e da
família.
Para Silva, Fassa & Valle (2004) a presença de dor crônica é estabelecida
pela sintomatologia por sete semanas ou mais.
Sua etiologia também pode relacionar-se a variáveis genéticas, psicossociais
e ambientais, assim como pelas precárias condições de vida e saúde, o estilo de vida, o
acesso às informações e o uso incorreto da mecânica corporal no trabalho e no lar
(BRINGÜETE et al, 1997; KNOPLICH, 2002, 1993; REBELATTO et al, 1991;
REVEL, 1995). Desta mesma forma, Almeida et al (1999) referem que as algias da
coluna podem resultar de sobrecargas, da má postura, disfunção do tecido mole e
articulações, de um processo traumático ou patológico e, muito freqüentemente, uma
combinação destes fatores desencadeantes de dores.
As características comportamentais de risco - como viver com o
companheiro, ser fumante, índice de massa corporal elevado, carregar peso e realizar
movimentos repetitivos, além de possuir escolaridade baixa (tudo isso mediado pela
maior exposição a cargas ergonômicas, tanto no domicílio quanto no trabalho) - também
podem ser consideradas condutores da dor crônica na coluna (SILVA, FASSA &
VALLE, 2004).
Processos reumáticos também podem ser inseridos no quadro das causas das
dores nas costas, como: a espondilite anquilosante, patologia inflamatória progressiva
que se apresenta com dor e rigidez da coluna e que provoca a anquilose, uma fusão das
articulações sacroilíaca e vertebral; a osteoartrite - doença inflamatória sistêmica que
afeta duas ou mais articulações, de causa desconhecida relacionada com distúrbios do
sistema auto-imune, cujo paciente sente dores normalmente sistêmicas, simétricas e
18
explosivas, é um processo crônico caracterizado pelas remissões e exacerbações dos
sintomas; a hérnia de disco, provocada pela herniação discal, ou seja, quando uma
posição ergonomicamente errada, por exemplo, provoca uma postura inadequada do
disco, ocasionando a perda da fluidez do núcleo pulposo, havendo um rompimento do
anel fibroso e a saída do núcleo do seu lugar anatômico, agredindo assim o nervo,
provocando dores, na maioria das vezes, incapacitantes (THOMSON; SKINNER &
PIERCY, 1994). Finalmente, a osteoporose, tão freqüente nas mulheres menopausadas,
pelo fato de ser uma doença relacionada à queda do estrógeno e este influencia no nível
de cálcio e, portanto, na densidade óssea, podendo surgir dores, deformidades, fraturas e
dificuldade de movimento. Neste estudo, precisamos ressaltar a dor originária da
osteoporose, no momento em que trabalhamos com senhoras com propensão a ter esta
patologia. Para Knoplich (2003), essa dor ainda é muito discutida, pois a vértebra é
inervada por fibras não mielinizadas que não causa dor, no entanto, essas dores podem
advir de vértebras colabadas ou na presença de osteófitos, ocasionado pressão nas raízes
nervosas, ou, se as dores forem súbitas, podem ser originárias de fraturas.
Em razão dessas ocorrências, numerosos métodos de tratamento para dores
na coluna e problemas posturais são relatados na literatura científica. Revel (1995) e
Almeida et al (1999) revisaram vários tratamentos na reabilitação desta sintomatologia
com o objetivo de analisar a eficácia de cada um deles, evidenciando o fato de que os
programas baseados na reestruturação funcional da coluna e técnicas de
autoconhecimento, identificação dos riscos posturais e agentes causais constituem
estratégia terapêutica que leva ao controle do quadro e à busca da qualidade de vida,
sendo o melhor benefício para o retorno social e ocupacional em longo prazo.
Segundo Verderi (2002), a conscientização acerca da boa e má postura torna-se importante
para minimizar a sobrecarga mecânica que poderá ocasionar, num futuro próximo,
síndromes dolorosas decorrentes de alterações dos padrões musculoesqueletal. Para
Knoplich (2003), quando certas posturas defeituosas são mantidas por tempo prolongado,
podem eventualmente induzir disfunções irreversíveis, resultando na perda permanente de
movimentos e da função, e possivelmente desenvolver deformidade postural. Devemos
enfatizar a noção de que o encurtamento muscular adaptativo como resultado de má
postura pode, em grande parte, ser prevenido pelo exercício regular de correção postural e
dos movimentos apropriados de amplitude, bem como pelo uso de posturas
ergonomicamente adequadas, durante diversas situações de trabalho. Portanto, se a dor
nas costas pode ser produzida e aumentada por estresses e esforços excessivos que se
19
desenvolvem na atividade diária normal, é possível evitar o desenvolvimento de tais
estresses e esforços pela modificação dos hábitos de vida.
Assim, cuidados com a postura corporal no trabalho e nas atividades do dia-
a-dia têm uma importância fundamental, pois podem ajudar a prevenir as dores que a
pessoa já sente e aquelas que poderá vir a ter.
Deve-se procurar meios concretos para tratar problemas de dor na coluna, e,
o que é mais importante, preveni-la de desvios posturais e sintomatologia dolorosa. Em
seu livro sobre Enfermidade da Coluna Vertebral, Knoplich (2003) refere relatos de
experiência do Professor Carl Hirsh, pioneiro do emprego de uma metodologia
científica nos estudos das algias da coluna, exprimindo que a dor nas costas ainda é uma
incógnita e que é muito melhor para os pacientes e para os próprios médicos
prescreverem tratamentos simples e baratos, imprimindo ênfase nos problemas posturais
do dia-dia e do trabalho, sendo o paciente capaz de fazer o autocontrole de sua dor,
evitando excesso de terapia, e assim, evitando gastos, tanto para o indivíduo quanto para
a sociedade.
O modelo Back School ou Escola de Postura foi criado no Danderyd
Hospital, na Suécia, em 1969, com a finalidade de oferecer um atendimento
diferenciado aos pacientes com algias da coluna. Este modelo foi amplamente divulgado
nos países escandinavos, nos Estados Unidos e na Inglaterra. No Brasil, a Escola de
Postura foi introduzida em 1980 por Knoplich, no Hospital do Servidor Público, em São
Paulo, e, a partir daí, difundiu-se por diversas instituições públicas de ensino da
Fisioterapia e centros de referência no tratamento da dor na coluna (KNOPLICH, 2003).
Segundo Pereira; Souza & Sampaio (2001) e Almeida et al (1999), a Escola
de Postura tem como objetivo de capacitar os indivíduos a assumirem atitudes de
autocuidado com a coluna por intermédio de conteúdos teóricos e práticos, conforme
orientações educativas e exercícios específicos, respectivamente. Essa proposta inicial
foi objeto de modificações que deram origem a outras escolas. Além disso, existe uma
variedade de metodologias de intervenção, modificadas também por outras escolas, de
acordo com o serviço a ser proposto e em muitas são praticadas abordagens
multidisciplinares dando maior suporte ao paciente.
20
Furlan et al (1998), Knoplich (2002) e Pereira; Souza & Sampaio (2001)
relatam que a Escola de Postura proporciona a oportunidade de adquirir conhecimento
do processo fisiopatológico, ergonômico e técnico da coluna vertebral, pois os
integrantes participam de atividades que abordam teoria e prática, possibilitando o
autocontrole musculoarticular, adaptação ergonômica e reintegração ocupacional. É
uma atividade em grupo, que, mediante um conjunto de ensinamentos preventivos e
curativos, tenta melhorar a qualidade de vida de pessoas que têm ou já tiveram dores na
coluna.
A Escola de Postura é um tratamento alternativo para dores crônicas na
coluna vertebral. A idéia é fazer a pessoa freqüentar os encontros para aprender a ter
melhor qualidade de vida, pois quando têm dores na coluna, procuram o médico, tomam
remédio e fazem fisioterapia. Depois de algum tempo, a dor volta e retomam todo o
processo, enquanto o correto é mudar os hábitos do dia-a-dia para prevenir recidiva.
Assim, aprendem que a responsabilidade sobre a contração da dor não é só do
profissional de saúde, mas dela também (KNOPLICH, 2003; PEREIRA et al, 2001;
SCHLAPBACH, 1994).
Nos encontros, são transmitidos ensinamentos básicos dirigidos às
atividades diárias do indivíduo: a melhor posição para dormir, sentar, trabalhar, limpar a
casa etc. Ensinam noções de Anatomia e biomecânica, etiologia das dores da coluna e
noções de ergonomia e autocuidado, além de realizar exercícios de alongamento,
terapias de relaxamento, autoposturas, exercícios de sensopercepção corporal, com a
finalidade de promover o autoconhecimento e conscientização sobre as posturas
adequadas, melhorando a produtividade e a qualidade de vida (CHUNG, 1996;
PEREIRA et al, 2001).
Dentre as diversas instituições está a Escola Sueca, onde uma equipe de
fisioterapeutas enfatiza aspectos preventivos em 45 minutos, duas vezes por semana,
durante duas semanas, sendo oito pacientes por grupo. A Escola Canadense apresenta
um enfoque psicológico, realizado em 90 minutos por semana durante quatro semanas,
sendo 20 por grupo. A escola do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo
tem enfoque também preventivo com duração 180 minutos por semana, sendo 20
pacientes por grupo. Na Escola Americana, uma equipe de fisioterapeutas e médicos
oferece orientações principalmente para lombalgias agudas durante 90 minutos por
21
semana, em três semanas, e são apenas quatro participantes por grupo (CHUNG, 1996).
Esta última escola realiza um teste antes e depois do curso, no qual a pessoa deverá
realizar uma série de atividades caseiras com a postura normal e a corrigida depois do
curso, e as que não obtiverem notas compatíveis são obrigadas a repetir as aulas
(KNOPLICH, 2003).
Muitas pesquisas que analisam os efeitos da Escola de Postura e comparam
com outros métodos de tratamento para as dores na coluna concluem que a Escola de
Postura é tão eficaz quanto a fisioterapia, com a vantagem de apresentar menores custos
e afastamento do trabalho. Além disto, está claro na literatura que ela oferece a
oportunidade de uma abordagem mais ampla do ponto de vista preventivo e terapêutico
e os melhores resultados são obtidos quando o paciente se conscientiza de que ele
próprio é o gerenciador de sua saúde. Assim, a Escola de Postura, por ser educativa,
apresenta uma vantagem adicional em relação aos programas terapêuticos
convencionais (ALMEIDA et al, 1999; CHUNG, 1996).
Silva, Fassa & Valle (2004) indicam que a prevalência de dor crônica da
coluna é importante, quando se considera a quantidade de limitação das atividades e de
demanda por serviço de saúde que este problema origina. Destacam que os serviços de
atenção básica em saúde devem estar preparados para diagnosticar e tratar este
problema, bem como identificar suas causas, a fim de serem estabelecidas estratégias de
prevenção adequadas.
Já se registraram em algumas unidades de assistência básica serviços
educacionais para o cuidado da coluna, a exemplo do Município de Sobral – Ceará -
Brasil, no qual, em decorrência do elevado número de consultas médicas por algias da
coluna, adotou-se a proposta no Programa Saúde da Família, e, diante dos resultados, a
equipe constatou que 80% dos participantes tiveram suas dores reduzidas após a
intervenção (COFFITO, 2003). Da mesma forma, segundo Vasconcelos (2001), começa
a haver uma expansão de experiências em práticas educativas de saúde por entidades
governamentais, não governamentais, privadas e instituições diversas. Emergências de
ações desta natureza afloram diante dos sucessos de experiências vividas por
promotores de saúde.
22
Assim, os programas de saúde devem contemplar aspectos de promoção,
prevenção, cura e reabilitação da saúde com um apoio significativo do Governo e da
população. Com este perfil, devem ser determinadas intervenções necessárias para
controlar custos - cada vez mais crescentes na assistência médica e que não
correspondem a resultados igualmente significativos - melhorar a saúde e a prestação de
cuidados; reorientar os serviços de saúde, no sentido de prestarem cuidados de
qualidade, acessíveis, adequados, oportunos e que respondam a necessidades específicas
das mulheres; aumentar a capacitação dos profissionais de saúde; identificar temas
relacionados com a saúde da mulher e aplicação dos resultados por um melhor
planejamento e implementação de políticas e programas (OMS, 2004).
Nesta proposta assistencial para a saúde da mulher, o objetivo é atendê-las
de modo integral em todas as fases de suas vida: infância, adolescência, idade adulta e
terceira idade. Percebe-se, porém, que ainda faltam programas que atendam a mulher
em toda a dimensão do composto saúde/doença.
A organização de programas voltados para a saúde requer a consideração
das dimensões social e coletiva, abordadas de forma multiprofissional e interdisciplinar,
envolvendo os diferentes aspectos que interagem no cotidiano das mulheres e no âmbito
em que se encontram, procurando adaptar os conteúdos desses programas às diferentes
modalidades de demandas individuais e coletivas (FORMIGLI et al, 2000). Muitos
destes programas podem ser considerados estratégias para conferir empoderamento para
a comunidade, os quais, entre outras iniciativas, utilizam práticas educativas,
proporcionando desde o acesso a informações e envolvimento na tomada de decisões até
a participação no planejamento e na execução de projetos e iniciativas sociais (OMS,
2004).
Além da necessidade de mais programas voltados para a saúde da mulher,
destacamos também a grande prevalência dos reumatismos crônicos, principalmente em
mulheres, como doenças incapacitantes e de grande impacto socioeconômico, fazendo
com que um estudo realizado por Muhlen & Keiserman (1984) sugerissem aspectos
teórico-práticos para a implantação de programas de saúde pública no âmbito da
Reumatologia.
23
Infelizmente, o sistema de saúde brasileiro continua ainda dando ênfase à
assistência médico-hospitalar, aos serviços de apoio diagnóstico e terapêutico e ao
modelo assistencial sanitarista (campanhas, mutirões, programas especiais e ações de
vigilância epidemiológica e sanitária), mas iniciativas de redirecionamento de suas
ações em promoção, prevenção, recuperação e reabilitação no plano primário de atenção
em Medicina Social, seja nas dimensões individual ou coletiva, indo além da
exclusividade médica, já podem ser vistas (CZERESNIA & FREITAS, 2003).
Assim, a Educação em Saúde propõe ao Sistema Único de Saúde a
responsabilidade pela comunidade; o reconhecimento das diferenças entre as pessoas; a
eqüidade; a interdisciplinaridade; a identificação e ação sobre os fatores de risco na
comunidade; acompanhamento e identificação dos problemas para resolução e avaliação
do trabalho que está sendo feito (VASCONCELOS, 2001).
É dever dos governos abastecerem seus cidadãos com informações
necessárias para que possam exercer o direito de saber e a responsabilidade de decidir.
O ensino aprendizagem pode melhorar conhecimentos, atitudes, habilidades, de forma a
reduzir custos governamentais, pois à medida que diminuem as filas nos postos de
saúde, evitam-se consultas e tratamentos caros. Com efeito, a Educação em Saúde pode
funcionar como suporte para os profissionais envolvidos nos tratamentos crônicos.
24
3 AUTOCUIDADO NA PREVENÇÃO E CONTROLE DAS DORES NAS
COSTAS FUNDAMENTADO NA EDUCAÇÃO EM SAÚDE
A história da Medicina ocidental transcorre de mudanças ao longo do
tempo, sendo interligada às relações sociais, principalmente na civilização capitalista. A
filosofia de Descartes e a Revolução Industrial influenciaram profundamente na
estrutura social, refletindo no individualismo. Com isto, a concepção do homem
implicou a divisão do corpo/mente, concentrando-se somente na máquina corporal,
negligenciando os aspectos psicológicos, sociais e ambientais da doença. O modelo
biomédico que constitui este discurso cartesiano e que tem a concepção mecanicista do
homem domina atitudes de certos profissionais em relação à saúde e doença até hoje
(CAPRA, 1982).
Atualmente, porém, após 23 anos de O Ponto de Mutação, este modelo está
cada vez tendo menos adeptos na prática de saúde. Ouve-se muito falar em
humanização e, segundo Segre & Ferraz (1997), recupera-se o subjetivismo em toda a
reflexão sobre qualidade de vida. Esta visão anti-positivista e mais humana das
atividades dos profissionais de saúde pode contribuir para um contato mais sintônico,
mais empático e, conseqüentemente, mais ético, entre eles e a população assistida.
Assim, a saúde hoje é interpretada como “um estado de razoável harmonia entre o
sujeito e a sua própria realidade”.
Esta subjetividade referida corresponde à composição de vários aspectos de
natureza interna e externa da pessoa (afetivos, familiares, do corpo, da mídia, da
linguagem, do desejo, entre outros).
Nesta nova concepção, a promoção da saúde é considerada atualmente a
nova espinha dorsal da saúde pública, cujas atividades estão relacionadas à
transformação dos comportamentos e dos estilos de vida individuais e coletivos,
possibilitando o desenvolvimento de habilidades particulares, comunitárias e
intervenção ambiental, o que inclui o físico, o social, o político, o econômico e o
cultural, concentrando-se em programas direcionados para os riscos. As estratégias de
promoção da saúde se dariam por meio de políticas públicas e de condições favoráveis
25
ao desenvolvimento da saúde, bem como do reforço da capacidade dos indivíduos e
comunidades (CZERESNIA E FREITAS, 2003). É nesse momento que surge a
Educação em Saúde como um dos recursos para se alcançar a promoção da saúde, já
que a educação ocupa lugar fundamental no exercício das atividades dos profissionais
de saúde.
Barroso et al (2003) e Vasconcelos (2001) compreendem que esta proposta
de atenção à saúde está fundamentada numa concepção em que a saúde é um processo
não apenas biológico, mas também sociológico, cultural e subjetivo, e, por isso, as
soluções dos problemas de saúde requerem também ações socialmente sustentadas do
ponto de vista cultural e político-econômico.
Desta forma, a Educação em Saúde propõe uma linha de planejamento
participativo para as ações educativas, deixando de lado o caráter autoritário até então
adotado e passa a reconhecer a participação popular e seu direito de conduzir o seu
próprio destino mediante a promoção da informação para decisão, no que se refere aos
riscos de saúde (FROTA & BARROSO, 2003).
Assim, a educação em saúde traz uma reflexão bem mais profunda e uma
relação médico-paciente mais integrada, noções sobre qualidade de vida e de como a
sociedade pode diminuir suas doenças, mudando a concepção de que cura se tem
somente no hospital ou quando se está doente.
Na prática, constitui de atividades técnicas e educativas que se desenvolvem
em quatro diferentes ambientes: na escola, no local de trabalho, no ambiente clínico em
seus diferentes níveis de atuação, e na comunidade, contendo populações-alvo
(CANDEIAS, ABUJAMRA & PEREIRA, 1991). Muitas técnicas de ações educativas
podem ser realizadas, desde videotapes, teatros, fantoches e manuais.
Para se realizar essas práticas educativas, é necessário que se conheça todo o
contexto histórico-social em que vive esta população na qual se quer intervir, buscando
suas necessidades e sua cultura e realizar ações de acordo com este contexto.
Esta análise da educação como questão de vida remete-nos às concepções de
Paulo Freire, ao ensinar que o conhecimento da sociedade tem que ser respeitado e
aplicado aos conteúdos ensinados; e este conhecimento precisa ser vivido para que se
26
transforme em prática aplicável (FREIRE, 1997).
O papel do profissional de saúde, principalmente do educador de saúde é
incentivar o indivíduo na mudança de comportamento, educando e promovendo a saúde
individual e coletiva. Desta forma, Knoplich (1993) acentua que a durabilidade das
mudanças cognitivas e comportamentais é proporcional à participação ativa do
educando. Além disso, o educador em saúde deve ajudar o grupo a pensar em vez de
pensar pelo grupo, questionar do que discursar, assessorar do que decidir, contribuindo
assim para o crescimento do grupo na solidariedade, autonomia e consciência. Cabe ao
educador facilitar as capacidades dos indivíduos e dos grupos sociais para terem o
máximo de poder sobre suas vidas, o que implica intervir sobre as relações sociais com
base nas quais constituem suas vidas (VASCONCELOS, 2001).
O educador em saúde tem como responsabilidade ensinar e não somente
transferir conhecimento, ensinar com aprender, devendo haver uma troca de
ensinamentos e aprendizagens entre educador e educando. Para a sustentabilidade da
técnica, deve ser considerado o encontro das informações dos pacientes, com o objetivo
de conhecer experiências e expectativas de informação, e, assim, proporcionar maior
aplicabilidade, com centro no paciente, de maneira holística.
A Educação em Saúde traz nova forma de fazer saúde, pela troca do
conhecimento e, quando o profissional recobra o saber popular e transforma em
conhecimento científico, ele confere capacitação e autonomia a esse indivíduo dotando-
o de conhecimentos e ações de saúde no propósito da melhora de sua qualidade de vida.
O ensino do autocuidado toma como base princípios deste processo educativo, que
busca o conhecimento e atua na vida do ser humano. Assim, as ações educativas devem
resultar na ampliação da consciência, na aquisição de habilidades, na emersão de novos
e diversos interesses, na mudança de comportamento, tendo como razão essencial a
formação de cidadãos capazes de participar criticamente da vida pública
(VASCONCELOS, 2001).
Desta forma, posto neste locus educativo está o paciente, que se torna o
maior responsável por sua própria saúde, cabendo-lhe a decisão de participar ativamente
do processo (KNOPLICH, 1993).
27
Também disposto no conceito de Educação em Saúde está o aspecto de
prevenção, no momento em que fazer saúde pública é também evitar doenças, prolongar
a vida e desenvolver a saúde física e mental, devendo-se organizar os serviços de saúde
para também se ter um diagnóstico precoce e um tratamento preventivo. Segundo
Rouquayrol (2003), existem três níveis de aplicação das medidas preventivas: a
prevenção primária, em que medidas de ordem geral são adotadas na intercepção de
fatores pré-patogênicos; a prevenção secundária realizada no indivíduo sob a ação do
agente patogênico (esta prevenção tem por escopo evitar a propagação e progressão da
doença); e a prevenção terciária, consistente em medidas destinadas à prevenção das
incapacidades.
Assim, Educação em Saúde é um componente essencial direcionado para a
promoção, manutenção e restauração da saúde, prevenção da doença e assistência para
lidar com os efeitos residuais (SANTOS & SILVA, 2002).
Na perspectiva de Vasconcelos (2001), para implantar Educação em Saúde,
é necessário saber sobre os conceitos populares. Segundo Czeresnia & Freitas (2003), a
saúde e a doença correspondem a experiências singulares e subjetivas e, portanto, existe
uma desigualdade de experiências e de conhecimentos entre as pessoas, o que torna
relevante a reflexão e a interatividade dos saberes do senso comum e do saber científico
para que se elaborem instrumentos para o enfrentamento e solução destas questões. É
mediante a experiência da doença que a Educação em Saúde propõe intervenções para
lidar com as mais variadas patologias.
Lembra Ferreira (1994) que a dor é uma experiência subjetiva, privada, e
sua percepção e tolerância variam significativamente conforme o grupo social. A
sensação da dor, os comportamentos que a envolvem, até as atitudes dizem respeito às
expectativas do sujeito, suas experiências e sua bagagem cultural. Helman (1994)
defende o argumento de que cada cultura tem a própria linguagem para representar a
dor, sendo vários os exemplos de como a sociedade pode reagir à dor e em algumas
culturas a exposição pública da dor refere significados sociais. Ele compara culturas
onde pessoas são mais expansivas e outras mais comedidas, sendo que as primeiras
tendem a dramatizar a dor enquanto as demais tendem a negá-la.
28
A percepção da doença é influenciada pela posição social e pela cultura do
grupo social de referência dos indivíduos (VASCONCELOS, 2001). Por isso, é
necessário compreender os significados da enfermidade que interferem na vida diária,
pois a interpretação dos significados e o registro das principais crises psicossociais é
que podem contribuir para prover estratégias no cuidado mais efetivo e humano dos
pacientes (LIRA, NATIONS & CATRIB, 2004).
É importante que o profissional de saúde descubra, do ponto de vista
antropológico, os signos e significados da doença, a experiência vivida pelo doente e
como lidam com ela, reconhecendo que a partilha de experiências permite elaborar um
modelo de cuidado da saúde no qual todos os atores sejam envolvidos, em discussão,
planejamento, educação e na resolução dos problemas (UCHÔA & VIDAL, 1994;
VASCONCELOS, 2001). É comum observar que as ações dos indivíduos e definições
populares da doença não são consideradas nos sistemas de serviços de saúde e no
modelo biomédico, resultando freqüentemente em revoltas e resistências populares às
intervenções (NATIONS & MONTE, 1996).
Knoplich (1993) alerta para a necessidade de se observar em diferentes fases
do diagnóstico da doença, para levantar indicadores epidemiológicos, identificar os
problemas específicos de saúde e comportamentais, comportamentos pessoais internos
ou não comportamentais - externos ao indivíduo - como os fatores econômicos,
genéticos e ambientais. O conhecimento desses componentes permite que os programas
de Educação em Saúde sejam mais realistas.
Assim, o profissional de saúde deverá reconhecer a importância do
compartilhamento de experiências e elaborar um modelo de cuidado da saúde, no qual
todos os atores sejam envolvidos num processo de discussão, planejamento, educação e
na resolução dos problemas (VASCONCELOS, 2001).
As cartas e declarações de Promoção da Saúde expressam mudança na
educação e no ensino dos profissionais da área para que as pessoas sejam vistas e
assistidas na integralidade do seu ser; relatam que os serviços de saúde devem ter uma
posição abrangente e que respeite as peculiaridades culturais, além de uma participação
ativa das pessoas na modificação do modo de viver (BRASIL, 2001).
29
Mediante a formação de atitudes e valores é que nos tornamos críticos,
responsáveis e construtivos nas diferentes situações sociais, propiciando utilizar e
aplicar os conhecimentos adquiridos para consecução de uma sociedade democrática e
solidária; formar uma imagem positiva de si, o respeito próprio traduzido pela confiança
em sua capacidade de escolher e realizar seu projeto de vida e assumir posições segundo
seu próprio juízo de valor, considerando diferentes pontos de vista e aspectos de cada
situação (SOFISTE, 2003).
Assim, cremos que, a partir da conscientização e do autocuidado, de como
se prevenir da doença e escolher o tratamento, decidindo o melhor para a sua saúde, a
pessoa com dor nas costas adquire maior confiança e, assim, pode ter uma melhora do
seu estado de saúde, encaminhando-se celeremente para a cura.
É a partir de programas educacionais voltados para a saúde os quais afloram
cada vez mais, ganhando força na sociedade, que se proporciona o empowerment em
relação social, ambiental e na saúde, fazendo assim as transformações efetivas para
melhor qualidade de vida.
Assim, se estamos pensando em oferecer estratégias para melhor qualidade
de vida em nossa população, a educação do autocuidado torna-se uma dessas táticas, na
medida em que o profissional de saúde busca a adaptação do cliente à doença, a
prevenção de complicações e da agudização do seu quadro, a aderência ao tratamento,
enfim, tornando-se agente do cuidado e multiplicador de suas ações junto à família e à
comunidade, já que sabemos que ninguém escapa da educação seja em casa, na rua, na
igreja ou na escola, pois, de um modo ou de outro, nos envolvemos sempre com os atos
de aprender e ensinar ou ambos, levando-nos posteriormente a uma reflexão crítica,
transformando-nos para agir (SANTOS & SILVA, 2002).
Desde as primeiras conferências de Promoção da Saúde iniciadas em 1974 e
precedentes, declarações e cartas referem estratégias de enfrentamento para alcançar o
mais alto nível de saúde para as pessoas e, dentre elas, o autocuidado, ou seja, decisões
e ações que o próprio indivíduo toma em benefício de sua própria saúde e de ambientes
saudáveis, fortalecendo a idéia de autonomia dos sujeitos e dos grupos sociais,
diminuindo a responsabilidade do Estado (CZERESNIA & FREITAS, 2003).
30
As primeiras referências sobre a teoria do autocuidado surgiram nos anos
1950, com o desenvolvimento de conceitos sobre Teorias da Enfermagem, elaborada
por Dorothea Elizabeth Orem. O autocuidado referenciado por Orem (1995) é definido
como o cuidado desenvolvido pelo indivíduo, em benefício próprio, por meio de
atividades ou ações, capazes de satisfazer as necessidades do próprio ser, a partir de
determinados requisitos ou condições, sejam fisiológicas, de desenvolvimento ou
comportamentais, sendo às vezes necessária a utilização de métodos de ajuda para
obtenção deste autocuidado.
A Teoria do Autocuidado engloba conceitos de “atividades de autocuidado”
e “terapêutica do autocuidado”, além de “fatores condicionantes básicos” e “requisitos
para o autocuidado”. O ensino do autocuidado e o papel da informação apresentam-se
cruciais, especialmente em condições quando são considerados parte integrante do
tratamento. Segundo Orem (1995), a exigência terapêutica do autocuidado se constitui
de ações a serem executadas mediante o uso de métodos e ações, que se agrupam em
três categorias de requisitos, tais como: universal, desenvovimental e desvio de saúde
(Quadro 01). Além disso, fatores condicionantes básicos, como a idade, o sexo, o estado
de desenvolvimento, o estado de saúde, a orientação sociocultural, os fatores familiares,
os padrões de vida, os fatores ambientais e a adequação e disponibilidade de recursos
também podem influenciar na terapia do autocuidado e, por isso, devem ser sempre
vistos e relacionados, principalmente, para o engajamento no autocuidado.
31
Quadro 1 – Requisitos de autocuidado
Universais
Desenvolvimentais
Desvio de Saúde
Estão associados a processos de
vida e à manutenção da estrutura
e funcionamento humano, como a
manutenção de ingestão sufici-
ente de ar, água, alimento, de um
equilíbrio entre solidão e intera-
ção social; provisão de cuidados;
prevenção de riscos à vida hu-
mana.
Relacionados a processos de
desenvolvimento humano, como
as condições e eventos ocorridos
durante a fase do ciclo vital, e
ocorrências que podem
influenciar no desenvolvimento,
tais como nascimento,
prematuridade, infância,
adolescência, gravidez, adaptação
ao novo trabalho e adaptações a
mudanças físicas.
Estão associados com defeito
genético e constitucional, desvio
estrutural e funcional humanos,
com seus efeitos, com diagnósti-
cos médicos e condutas de trata-
mento.
Fonte: OREM, D.E. Nursing: concepts of practice. 4th. ed. St. Louis, Missouri: Mosby Year Book,
1995.
As metas para o ensino do autocuidado deverão estar de acordo com os
níveis preventivos, ou seja, nos planos primários, secundários e terciários, sendo na
prevenção primária relacionada aos requisitos de autocuidado universal e
desenvolvimental e, na prevenção secundária e terciária, vinculadas aos requisitos de
autocuidado por desvio de saúde. Orem (1995) identifica os seguintes métodos de ajuda:
agir e fazer para o outro, guiar o outro, apoiar o outro (física ou psicologicamente),
proporcionar ambientes e ensinar o outro. Uma das execuções de atividades do
autocuidado pode ser efetivada mediante sistemas de apoio-educação, podendo ocorrer
por meio de palestras e sessões educativas em grupo, proporcionando ao cliente meios
de conhecimento de sua doença e habilidades para o autocuidado efetivo e contínuo.
É por isso que cada vez mais vemos a necessidade de ampliação das
capacidades individuais para enfrentar os controles externos sobre a vida e a saúde, de
modo mais autônomo.
32
4 METODOLOGIA
4.1 Abordagem metodológica
Este estudo foi do tipo avaliativo com abordagem qualitativa, que
desenvolveu uma prática educativa com um grupo formado por nove mulheres na fase
do climatério com queixas de dores nas costas. Optamos por esta abordagem como
forma de possibilitar uma aproximação entre os sujeitos e a pesquisadora e, assim,
buscar o significado que as pessoas atribuem à ação.
Empregamos a pesquisa avaliativa como estratégia metodológica
essencialmente dinâmica, interativa e participativa, com a finalidade de analisar as
respostas das mulheres no processo de intervenção, possibilitando estimular reflexões,
interpretar valores e significados e compreender as estruturas e fatores para mudanças
comportamentais e sociais mais abrangentes.
Acreditamos que o modelo de investigação utilizado nesta pesquisa trouxe
uma ação educativa, tendo como apoio a comunicação interativa, a técnica de
procedimentos físicos, a tomada de decisão das participantes e, ao mesmo tempo,
considerando os seus valores, suas crenças e sua cultura. Assim, visou a capacitar
mudanças de atitudes e hábitos com relação à dor nas costas, ao mesmo tempo fazendo
com que os sujeitos do estudo fossem multiplicadores das ações, divulgação,
transferência de técnicas de aconselhamento, mudança de estilo de vida e “busca ativa”
de mulheres com essa sintomatologia.
33
4.2 Cenário da pesquisa
As mulheres foram encontradas no Núcleo de Atenção Medica Integrada -
NAMI, vinculado à Universidade de Fortaleza – UNIFOR, situado no bairro Edson
Queiroz. Esta unidade oferece assistência à população, em especial à Comunidade do
Dendê, que fica localizada no mesmo bairro da Universidade, presta atendimento pelo
sistema de convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS), recebendo não só a
população adstrita como também pessoas dos mais diversos bairros, sendo considerado
posto de referência em todo o Estado do Ceará. O Núcleo é também espaço de estágio
para os alunos da Universidade de Fortaleza, cuja supervisão é feita por professores das
diversas áreas, servindo assim de aprendizagem aos estudantes do Centro de Ciências da
Saúde da instituição.
O NAMI foi criado em 1978 e presta atendimentos de saúde de natureza
primária e preventiva. Desenvolve várias ações, como consultas médicas, análises
laboratoriais, vacinas, atendimento materno-infantil, Enfermagem, Fisioterapia,
Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional.
Um ponto forte do novo NAMI é a interdisciplinaridade que permite
integração total entre os cursos de saúde e áreas correlatas da UNIFOR. Todos os cursos
vão trabalhar em conjunto para fazer uma triagem interdisciplinar em pacientes sem
diagnóstico para que, em seguida, este paciente seja encaminhado a um profissional
específico.
Há um ano e meio funciona no NAMI o Grupo de Apoio às Mulheres na
Fase do Climatério. Este grupo conta com aproximadamente 80 mulheres inscritas com
média de freqüência nas reuniões de 30 mulheres. As reuniões são mensais e acontecem
na última terça feira de cada mês, no turno da tarde. O objetivo principal deste grupo é
capacitar as mulheres para o autocuidado nesta fase do climatério, visando à melhoria
da qualidade de vida e a mudanças comportamentais quanto à saúde pessoal e familiar.
Assim, selecionamos, a partir deste grupo, mulheres com dores nas costas e
com as condições físicas, emocionais e demográficas de participar dos encontros,
acontecidas no estúdio equipado para filmagem na própria Universidade.
34
4.3 Participantes da pesquisa
A seleção das participantes foi sistemática, composta por nove mulheres que
apresentavam dor acima do grau quatro e que se dispuseram a participar da pesquisa.
Estas não deveriam estar em terapia de reposição hormonal, pois poderia influenciar na
melhoria dos distúrbios musculoesqueléticos e dificultar a percepção de dor nestas
mulheres.
Os sintomas referidos por elas para o diagnóstico do climatério deveriam ser
a irregularidade menstrual ou cessamento, ondas de calor freqüentes (fogachos),
sensibilidade e ressecamento vaginal, distúrbios urinários, pele seca, perda da memória
e concentração, ansiedade, diminuição da libido, irritabilidade, cansaço e depressão,
fadiga e dor muscular pela interferência do hipoestrogenismo no aspecto trófico do
músculo.
A sensação de dor foi um critério do diagnóstico e inclusão, e a dor deveria
estar acima do grau dois e seis da Escala Visual Analógica – E.V.A. (pois em sensações
de dores em maiores graus poderiam ter que fazer uso de medicação ou não querer
participar da prática, e menor do que o grau dois significava ausência de dor). Esta
escala foi fundamental para o monitoramento dos aspectos da dor e a opção de utilizá-la
decorreu da fácil aplicabilidade durante a ação e de fácil compreensão para o paciente.
Segundo Porto (2000), a EVA consiste de uma linha reta de 10 cm,
graduada de zero a dez, nas quais no zero ou extremidade esquerda a marcação significa
ausência de dor e na outra extremidade, ou seja, à direita ou o dez, a pior dor imaginável
(Figura 1). As mulheres receberam as instruções para fazerem uma marca no local onde
representava a intensidade de sua dor. Essa escala tem a vantagem de facilitar a
avaliação e quantificar a intensidade da dor e é um instrumento para "se fazer entender".
As desvantagens incluem a tendência de escolherem os lados extremos da escala e a
dificuldade em transferir sua experiência subjetiva, já que o limiar de dor varia de
pessoa a pessoa.
35
Data: / /
Nome: _________________
_______________________
Nome: _________________
_______________________
Endereço: ______________
_______________________
_______________________
Telefone: _______________
Figura 1 - Escala Visual Analógica
Zero (0) = Ausência de Dor
Um a Três (1 a 3) = Dor de fraca intensidade.
Quatro a Seis (4 a 6) = Dor de intensidade moderada.
Sete a Nove (7 a 9) = Dor de forte intensidade.
Dez (10) = Dor de intensidade insuportável.
Ressaltamos que, durante o desenvolvimento da pesquisa, as mulheres
foram orientadas a não fazerem, preferencialmente, uso de medicação para dor
especifica, mas se os sintomas persistissem e se tornassem recorrentes ou agravados,
apesar das tentativas de obter alívio, aconselharíamos procurar tratamento médico.
4.4 Instrumentos para coleta dos dados
Para a entrevista inicial, foram escolhidas perguntas norteadoras sobre a
causa de sua dor, formas de enfrentamento, mudanças de hábitos, limitações e
modificação da postura causada pela dor, e perspectivas quanto ao tratamento e cura
(Apêndice B).
Durante a intervenção, realizamos oficinas educativas e observação
participante e como estratégias de registro dos dados utilizamos anotações no diário de
campo para documentar de forma individual e semanalmente as reações e percepções de
cada mulher quanto às práticas e à dor (Apêndice D).
36
Depois de um mês e de dois meses após a intervenção, realizamos
entrevistas grupais com questionamentos norteadores quanto à análise da dor, hábitos e
conceitos adquiridos após as práticas e continuidade do autocuidado (Apêndice C).
Estas técnicas possibilitaram maior aproximação das informações e dos
significados obtidos durante as intervenções das ações educativas e ajudaram na
explicação e no esclarecimento do material coletado, proporcionando comparações ou
outros tipos de raciocínio não conclusivos, relacionados com o objetivo de estudo.
Todos os encontros e as entrevistas finais foram filmados, captando as ações
e sentimentos das mulheres. Segundo Bauer e Gaskell (2002), este enfoque oferece um
registro poderoso de ações e ajuda na análise do resultado da pesquisa, pois a
informação visual traz a maior fidedignidade das questões teóricas e abstratas:
O vídeo tem uma função óbvia de registro de dados sempre que
algum conjunto de ações humanas é complexo e difícil de ser
descrito compreensivamente por um único observador,
enquanto ele se desenrola (BAUER & GASKELL, 2002, p.
149).
4.5 Procedimentos para coleta de dados
4.5.1 A seleção
A coleta dos dados ocorreu durante os meses de janeiro a julho de 2005. A
seleção das mulheres foi realizada no dia de uma das reunes do grupo do
climatério do NAMI, do qual participavam 40 mulheres. Esclarecemos os objetivos e
o teor da pesquisa e entregamos a Escala Visual Analógica de 0 a 10, com o objetivo de
quantificar o grau da dor para 29 mulheres que referiram tê-la. Após este procedimento,
selecionamos 23 delas, que demonstraram um grau de dor igual ou superior a 4 (quatro).
A partir desta classificação, a dor foi considerada como de intensidade moderada e que
incomoda, é insuportável e incapacitante à medida que o grau aumenta. Da mesma
forma, na opinião das mulheres, era uma dor que causava desconforto e prejudicava o
desenvolvimento das atividades do dia-a-dia.
Observamos que algumas classificaram a sua dor em 10 e percebemos
que não tinha correspondência com o que é referido pelo escore da escala, pois
uma dor de maior grau incapacita de movimentar, de andar, mas, pela
37
subjetividade da dor de cada mulher, selecionamos as que referiram que tinham
dor de 4 a 10.
4.5.2 A entrevista inicial
No segundo momento, as mulheres selecionadas foram convidadas
para a entrevista inicial, realizada individualmente, em lugar apropriado, com a
finalidade de diagnosticar a situação em que se encontravam (Apêndice B).
4.5.3 As intervenções educativas
Das 23 mulheres convidadas a continuar na pesquisa, apenas nove
compareceram. Com estas realizamos oito (8) oficinas educativas, uma vez na semana,
na qual receberam orientações para o autocuidado com o objetivo de contribuir para
melhoria ou cura da dor e de se sentirem mais saudáveis e confiantes do saber-fazer
para evitar a dor.
As ações educativas foram realizadas em grupo, o que favoreceu maior
interação, troca de experiências, maior reflexão nas descobertas e saberes sobre a dor.
No primeiro encontro, entregamos um manual de autocuidado (Apêndice E) para que
este fosse um guia de orientação para as mulheres no seu dia-a-dia no domicilio.
Os encontros foram divididos em dois momentos, sendo um para
explicações gerais e o outro para a realização de exercícios, objetivando prevenção e
melhora da dor. As mulheres foram sempre estimuladas a dar continuidade em casa às
práticas apreendidas no grupo.
A intervenção, adaptada de Almeida (2001); Furlan et al (1998); Grandjean
(1998); Hage (2004); Knoplich (2003; 2002); Mercúrio, (1997); Oliver (1999);
Steffnhagen (2003) constituiu-se de exposições sobre a anatomia e fisiologia da coluna,
aspectos ergonômicos, com ênfase na readequação da atividade cotidiana, tipos de
doenças, explicações sobre as lesões musculares e articulares da coluna, sobre a dor na
coluna em diferentes situações (nas atividades diárias e no climatério) e explanações
sobre o autocuidado. Nestas ações educativas, utilizamos linguagem fácil e
compreensível para todas; questionamos e discutimos exemplos da vida diária das
participantes.
38
Os exercícios específicos para a coluna envolveram alongamentos,
autoposturas, exercícios de sensopercepção corporal, treinamento ergonômico, ou seja,
tudo para a mulher autogerenciar os hábitos de saúde.
A seguir será descrito como se desenvolveram as ações educativas,
destacando a denominação dos encontros, objetivos e as estratégias realizadas.
1° Encontro - Apresentação do grupo e conhecimento do corpo
Objetivos: mostrar o conceito e o objetivo dos encontros, além de suas
implicações; fundamentar aspectos da anatomia da coluna de forma clara e quais as
estruturas que nela existem para melhor percepção de seu corpo e de sua dor; perceber o
corpo e adquirir conhecimento de melhor postura; e saber identificar uma boa e má
postura e saber se prevenir de dores.
Estratégias: apresentação da pesquisa, da pesquisadora, do ambiente e do
grupo; discussão sobre as causas de dores na coluna; explicação acerca da importância
das oficinas na aprendizagem e na sua multiplicação; demonstração, da parte de cada
mulher, do seu andar e sentar nas atividades do dia-a-dia; discussão sobre anatomia da
coluna, causas das dores nas costas, posturas certas e erradas nas posições de pé e
sentado e os movimentos da coluna; realização dos movimentos de flexão, extensão,
rotação e inclinação pelas mulheres para perceberem os seus limites de amplitude;
mapeamento do corpo em pé (autopercepção corporal, percebendo desequilíbrios e
assimetrias); análise da postura de uma das mulheres; dobradiça para frente e de lado (ir
flexionando a coluna lentamente para frente com o queixo no peito até encostar-se ao
chão; voltar lentamente; após enrolar a coluna lateralmente até o limite, e, quando
conseguir, esperar um pouco; com o queixo no peito e ir enrolando a coluna para o lado
até encostar no chão, ir para o meio das pernas e voltar para posição em pé lentamente
(Figuras 2 e 3).
39
Figura 2: Dobradiça de frente
Figura 3: Dobradiça de lado
Após a dobradiça as mulheres realizaram novo mapeamento para analisar se
houve mudanças no corpo; foi feita demonstração sobre a maneira de pisar. Ao final,
realizamos a entrega dos manuais e explicação de como utilizá-los em casa.
2° Encontro - Aspectos funcionais da coluna vertebral
Objetivos: conhecer como funciona a coluna e como o mau
funcionamento pode interferir na sua dor; trabalhar os pés e a marcha,
pois, a partir daí, pode promover mudanças à medida que compreendem
e percebem os pés e como estes se posicionam; mostrar a melhor
postura de se sentar.
Estratégias: discussão sobre as causas de dores na coluna e aspectos não
ergonômicos que podem provocar as dores (peso do corpo, andar errado, esforço etc);
explicação sobre hérnia de disco, escoliose, hipercifose, osteoporose e reumatismo;
explicação a respeito da importância do saber respirar e sua influencia nas dores nas
40
costas; demonstração dos movimentos bruscos e de torção que podem prejudicar a
coluna e provocar dores; demonstração da posição de pegar peso; demonstração no
tocante à importância de pisar certo; utilização de bolas de tênis no pé e treino de
marcha para melhora da percepção do pé (andar de ponta de pé, calcanhar, parte de
dentro do pé, parte de fora do pé, bater com o pé no chão) (Figuras 4 e 5).
Figura 4: Trabalho com as bolinhas nos pés
Figura 5: Treino de marcha em diversas posições
41
3° Encontro – Fatores predisponentes e agravantes (sono, sentar, lavar
roupa, higiene pessoal, eliminações) das algias da coluna
Objetivos: conhecer as causas de dores da coluna; percepção da coluna e
exercícios de autocuidado para o alívio das dores nas costas.
Estratégias: demonstração sobre lavagem de roupa, torcer a roupa,
posicionamento da cabeça e do corpo quando assistirem televisão; explicação a respeito
da melhor maneira de sentar e deitar e como devem fazer em caso de dor e cansaço.
Em relação ao sono, demonstração de como levantar da cama e dormir
(Figura 6); explicação sobre os melhores tipos e colchões e redes.
Figura 6: Posição correta para levantar
Demonstração relativa aos exercícios que devem ser feitos quando acordar
para prevenir dores nas costas; demonstração da melhor maneira de fazer as atividades
do dia-dia sem sentir dor (escovar dentes, sentar na privada, tomar banho, lavar o pé,
vestir a roupa); realização de automassagens na coluna cervical e lombar (Figura 7).
Figura 7: Automassagens
42
Alongamento do músculo quadrado lombar (músculo envolvido nas causas
das dores pelo seu encurtamento), que elas denominaram de exercício da bailarina
(encostado de lado na parede com uma mão apoiada, cruzar a perna de fora na outra
perna e inclinar o tronco de encontro com a parede com o braço em abdução completa e
cotovelo estendido) (Figura 8).
Figura 8: Alongamento do quadrado lombar
Exercícios de flexão, extensão e rotação da cabeça para relaxamento das
tensões musculares da cervical; dobradiça com palmear (uma das mulheres faz a
dobradiça, e a colega, com a mão em forma de concha e ou em punho, vai suavemente
batendo, de forma rítmica, as costas) (Figura 9) - Neste trabalho, promovemos maior
integração do grupo.
Figura 9: Dobradiça com palmear
43
4° Encontro - Aspectos ergonômicos relacionados às algias da coluna e
autocuidado
Objetivos: compreender como posições e movimentos inadequados podem
influenciar nas dores nas costas e como evitá-los; treinar o autocuidado aprendido nos
encontros anteriores; alongar musculaturas que podem influenciar nas dores.
Estratégias: diagnóstico de como as mulheres realizam as tarefas de casa,
como varrer casa, passar pano, lavar roupa e estender roupa com uso de uma vassoura,
um rodo e uma bacia; demonstração da melhor forma de varrer, passar pano e lavar
roupa, sentar, levantar da posição deitada, sentada e dormir; percepção corporal nas
posições sentada e deitada (Figura 10).
Figura 10:
Percepção corporal sentado e deitado
Nas posições sentada e deitada, uso de bolas de tênis embaixo dos ísquios e
na coluna, respectivamente, para relaxar e desativar as tensões musculares e
ligamentares da região (iniciar com as bolinhas na região sacroilíaca, tentando relaxar a
musculatura. A cada 3 expirações, ir subindo, vértebra por vértebra, até chegar à
cervical. Nos pontos de maior tensão e dor, esperar mais tempo) (Figura 11).
Figura 11: Bola de tênis nos ísquios e coluna
44
Na posição deitada, dobrar as pernas de encontro com o tronco para alongar
a região lombar (alongamento de Williams) (Figura 12).
Figura 12:
Exercício de Williams
Ainda deitadas,
alongamento da cadeia muscular cruzada (tronco para um lado e membros inferiores
para o outro, fazendo para os dois lados) (Figura 13)
Figura 13:
Alongamento de cadeia
cruzada
Exercício do relógio da pelve (imaginar o sacro ser um relógio e ir
movimentando sem tirá-lo do chão no sentido horário e anti-horário) (Figura 14).
Figura 14: Relógio da
pelve
5° Encontro -
Aspectos ergonômicos
45
relacionados às algias da coluna e autocuidado
Objetivos: compreender como posições e movimentos inadequados podem
influenciar nas dores nas costas e como evitá-las e alongar as musculaturas que podem
influenciar nas dores.
Estratégias: explicação de como aliviar a dor durante muito tempo em pé;
explicação sobre posturas corretas e incorretas em pé e andando e os tipos ideais de
sapatos; explicação sobre a influência psicológica e fatores climáticos nas dores nas
costas; demonstração dos movimentos certos e errados nas atividades do dia-a-dia;
explicação da maneira correta de se agachar, pegar peso, empurrar objetos, usar o
telefone, passar roupa, arrumar a cama, estender roupa, colocar coisas na prateleira,
costurar, bordar, limpar a casa e ver televisão, dirigir, viajar e lavar carro.
Realização dos exercícios: posturas de auto-alongamento das
musculaturas envolvidas da pelve - deitadas no chão, alongamento do glúteo no qual
denominaram de “exercício do 4 do bêbo” (colocar uma perna sobre a outra como se
quisesse fazer um quatro e flexionar a perna de encontro ao tronco) (Figura 15).
Figura 15: Alongamento do glúteo
A autopostura para alongamento da
musculatura dos isquiotibiais (deitadas com toda coluna no chão, elevar as duas pernas
– primeiro uma e depois a outra – empurrando para o teto e sem tirar a coluna do chão,
ficar por alguns minutos) (Figura 16).
46
Figura 16: Autopostura para alongamento dos isquiotibiais
Autopostura para alongamento dos adutores - deitado com toda a coluna no
chão, flexão dos joelhos e planta com planta dos pés, ficar por alguns minutos (Figura
17).
Figura 17:
Autopostura para alongamento
dos adutores
Alongamento do músculo piriforme (colocar o pé no chão ao lado do joelho
oposto e puxar o joelho com a mão) (Figura 18).
Figura 18: Alongamento do piriforme
Realização do ato de espreguiçar com o intuito de alongar os músculos e
ligamentos da coluna (Figura 19).
47
Figura 19: Espreguiçar
6° Encontro - Aspectos ergonômicos relacionados às algias da coluna e
autocuidado
Objetivos: mostrar os diferentes tipos de autocuidado como o
uso de compressas, posições e movimentos de alívio, respiração,
vibradores, duchas, automassagem, uso de faixas e cintas; alongamento
e relaxamento de musculaturas que podem influenciar nas dores e
prejudicar a postura; promover melhora e maior consciência postural.
Estratégias: explicação sobre como melhorar da dor, em posição sentada e
em pé; demonstração de relaxamento e alongamento para dor na coluna deitadas na
cama e no banho; explicação sobre o uso de faixas e cintas para estabilizar a coluna;
realização do alongamento da cadeia muscular posterior do corpo (mãos encostadas na
parede, pés e joelhos juntos, inclinar o tronco para frente com o alinhamento do tronco e
ir “arrebitando o bumbum”) (Figura 20).
Figura 20: Autopostura para
alongamento muscular posterior
Em pé, de costas uma para outra, com as costas encostadas nas costas da
outra para percepção das curvaturas da coluna; depois, de joelhos na posição de gato
arredondar a coluna para cima e para baixo, fazendo hiperlordose lombar, repetindo 5
48
vezes (Figura 21); ainda de gato esticar um membro superior e o membro inferior
contrário, mantendo por 5 segundos e alternar.
Figura 21: Exercício na posição de gato
Realização da “Postura de Maomé” para alongar a coluna (sentado nas
pernas, braços estirados, tentando encostar a testa no chão) (Figura 22).
Figura 22: Postura de Maomé
7° Encontro - Qualidade de vida, autocuidado e alterações da coluna
vertebral na terceira idade
Objetivos: discutir sobre qualidade de vida, identificando a
percepção das mulheres sobre sua qualidade de vida antes e depois de
participarem das ações educativas, indo além da avaliação somente
funcional, mas mensurando significados e sentimentos sobre se ter uma
vida melhor; conhecer como a obesidade e os sintomas do climatério
podem influenciar nas dores da coluna, conhecendo as formas de
49
prevenção; identificar formas de autocuidado para as dores nas costas
quando sentadas.
Estratégias: Explicação sobre interferência da obesidade, das alterações do
climatério e o envelhecimento nas dores nas costas. Aconselhamento quanto à
prevenção de doenças cardíacas e osteoporose, incentivando à atividade física;
demonstração de cuidados em várias situações da posição sentada (Figura 23).
Figura 23: Exercícios na posição sentado – rotação, espreguiçar e dobradiça.
8° Encontro - Repercussão da atividade física nos distúrbios álgicos da
coluna e avaliação da aprendizagem com vistas ao autocuidado
Objetivos: conhecer como a atividade física pode ajudar ou prejudicar nas
dores das costas; continuar a ensinar autocuidados que possam ajudar na melhora da
dor; encerramento e avaliação das oficinas de intervenção e das mulheres.
Estratégias: demonstração sobre como proteger a coluna durante as
atividades físicas e esportivas, incentivando a realizarem-nas de forma consciente, sem
provocar as dores na coluna; retomada sobre o que foi aprendido, mostrando nos
manuais que foram entregues no início dos encontros.
Logo após, iniciamos os exercícios: sentadas no chão, com as pernas
dobradas, tentando esticar para frente e encostar a testa no chão. Em dupla, sentadas
uma de frente para a outra, gangorrar, puxando os braços da colega para incentivar
encostar a testa no chão (Figura 24).
50
Figura 24: Gangorrar
Ai
nda sentadas com as pernas cruzadas, girar o tronco para trás com a mão no joelho
oposto e o outro braço esticado atrás do corpo (esperar um minuto e trocar de lado)
(Figura 25).
Figura 25: Rotação da coluna sentado
Autopostura de pé encostadas na parede, procurando um posicionamento e
tentando encostar a região lombar, a torácica e a cabeça na parede, corrigindo as
assimetrias, e um autocrescimento (Figura 26).
Figura 26: Em pé, encostada na parede para alinhamento da postura
51
Ainda encostadas na parede, realização da flexão anterior do tronco
(dobradiça), tentando encostar as mãos no chão (Figura 27).
Figura 27: Dobradiça na parede
De frente para a parede, realização do alongamento da cadeia muscular
posterior do corpo com os braços apoiados na parede (Figura 20).
4.5.4 As entrevistas após a intervenção
No quarto momento da coleta de dados, depois de um mês e depois de dois
meses após a implantação da proposta educativa, realizamos novamente uma entrevista
com as mulheres, que, por escolha e preferências das próprias participantes, foi
realizada de forma grupal, indagando como estavam se sentindo, o que tinham
melhorado em relação à dor e se estavam realizando as práticas em casa.
Nesta etapa, tivemos a oportunidade de acompanhar e obter mais
informações sobre saúde/dor, como tinham percebido a prática educativa em relação à
dor, ao seu cotidiano e na aplicação no seu dia-dia, além de comparar aos aspectos
abordados na primeira entrevista.
Posteriormente, as imagens foram observadas e transcritas para codificação
e análise de como a ação educativa foi recebida pelas usuárias.
52
4.6 Organização e análise dos dados
Como primeiro passo, transcrevemos as gravações da primeira entrevista e
as filmagens das oficinas e das entrevistas finais. A análise dos depoimentos foi
realizada por meio de sucessivas leituras, e, após, os dados foram organizados,
agrupados e categorizados por semelhança das situações e percepções das mulheres em
relação às práticas educativas e suas dores nas costas. A análise dos dados foi procedida
de forma qualitativa na busca de compreender os significados das ações, da
interpretação das práticas educativas e a internalização destes significados nas mulheres.
Desta forma, os conteúdos das gravações e das filmagens foram transcritos e juntamente
com as anotações das observações do diário de campo foram organizados em categorias
(BARDIN, 1977) relacionando os dados empíricos e teóricos.
Segundo Bardin (1977, p. 42) a análise de conteúdo pode ser entendida
como "um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por
procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,
indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens".
Desta forma, este conceito fundamentou a compreensão dos dados fornecidos nas
entrevistas, assim como, permitiu explicitar e sistematizar o conteúdo das mensagens.
O procedimento da análise privilegiou o uso das falas e das atitudes na
intervenção e seguiu os três pólos cronológicos para a operacionalização: a pré-análise -
com leituras exaustivas dos dados coletados, selecionando-os de acordo com os
objetivos; a exploração do material – os dados foram organizados, recortados e
agrupados, compondo unidades de análises e expostos na forma de agrupamento das
falas. O tratamento e interpretação – fundamentados nas experiências de vidas das
mulheres, nas mudanças ocorridas durante a pesquisa e na Teoria de Orem,
especificamente, enfatizando o sistema de apoio educativo e o método de ajuda para o
autocuidado.
Assim, após o agrupamento dos dados, estes foram organizados em cinco
categorias - apresentação das participantes: cotidiano das mulheres que reconhecem sua
dor nas costas; práticas educativas e estratégias para mitigar a dor; práticas educativas e
condições de vida e saúde; autocuidado com a coluna vertebral e qualidade de vida;
53
relação da prática educativa com as políticas de saúde. Sendo a primeira categoria com
as duas seguintes subcategorias: o grupo de mulheres e sua condição socioeconômica e;
a dor e sua característica antes da intervenção. A 3ª categoria conteve também cinco
subcategorias: classificação da dor após intervenção; prática e continuidade do
autocuidado; realização dos exercícios; fatores impeditivos da prática e continuidade do
autocuidado e disseminação da cultura do autocuidado com o corpo. E a 4ª categoria
com quatro subcategorias: fatores que interferem na evolução da dor; a intervenção
como atualizador para uma cultura saudável; dor nas costas como fator de
conscientização quanto a atitudes de cura; prevenção e conscientização.
Procuramos analisar os dados pautados nas experiências vividas pelas
participantes fundamentando nos conceitos de autocuidado e na literatura pertinente à
temática. Visamos despir-nos de preconceitos, respeitar as questões éticas e manter, na
medida do possível, a neutralidade necessária para que não houvesse interferência no
relato das percepções nem nos resultados da análise.
4.7 Considerações éticas
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A) foi
apresentado junto ao deferimento do Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFOR de
Parecer n° 011/2005 (anexo A), para todas as mulheres, antes de iniciar a pesquisa.
Neste termo, as mulheres foram esclarecidas sobre os objetivos e relevância da pesquisa
e seus direitos.
Ressaltamos que foram mantidos os preceitos éticos-legais de permissão
para se ausentar, confidencialidade e anonimato, utilizando-se de nomes fictícios para
não identificar as participantes. A pesquisa foi desenvolvida, rigorosamente, de acordo
com a Resolução do Conselho Nacional de Saúde, de n° 196, de 10 de outubro de 1996.
54
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os resultados dispõem-se, inicialmente, pelas características das nove mulheres
que participaram da pesquisa. Segundo Geertz (1989), caracterizar o grupo social é essencial
para iniciar a reflexão sobre os significados de práticas sociais e a interpretação das
experiências quanto a sua cultura, e, por mais que o pesquisador teça detalhes do referido
grupo, provavelmente muitas nuanças podem não ser identificadas.
Logo em seguida, discutimos sobre as percepções do grupo, costumes e crenças
relacionadas à sintomatologia. Após, expomos a prática da intervenção e o que foi realizado
durante as oito oficinas, além dos resultados observados por nós e relatados pelas mulheres.
Os resultados são dispostos em categorias, tendo em vista os objetivos do estudo, agrupados
conforme similaridade de significados emergidos das falas e a seguir analisados e discutidos.
5.1 Apresentação das participantes: cotidiano das mulheres que reconhecem
sua dor nas costas
Para que possamos melhor compreender a realidade do dia-a-dia de cada mulher
que fez parte do estudo, descreveremos o modo como estas vivenciavam e percebiam seu
cotidiano em relação à dor na coluna, o que pensam sobre as causas, como essas dores
modificaram o estilo de vida e quais as estratégias de enfrentamento para superar ou minimizar
a dor. Ao final, discutiremos sobre essas histórias de vida, analisando seus saberes e práticas:
Crisântemo
Tem 56 anos, analfabeta, viúva recentemente, dona de casa, ganha menos de
um salário mínimo. Sente dores na coluna há mais de 4 anos. Classificou sua dor na
Escala Visual Analógica (E.V.A.) em 8. Acredita que decorreu da anestesia realizada de
uma operação do períneo ou pelo trabalho. Trabalhava em artesanato de mão e bordado.
Hoje não trabalha mais porque fica com as mãos dormentes e não segura os objetos na
mão. Acha-se muito sofredora e que nunca teve vida boa, pois como os pais eram
separados começou a trabalhar desde os 5 anos de idade para sobreviver, lavando
roupa. Com 13 anos teve uma doença que a deixou paralítica, ficando 6 meses
sem andar. Aos 17 anos, começou a trabalhar como doméstica, depois trabalhou
em churrascaria e lanchonete. Atualmente só cuida da casa. Refere que a coluna
55
dói mais à noite e por isso não tem um bom sono, pois acorda muitas vezes com dor e
com dificuldades de se movimentar na cama. Está dormindo de rede para ver se
melhora, pois acredita que na rede relaxa mais, sendo ruim somente para se levantar.
Dorme muito tarde, somente quando arruma a casa. Refere que, ao se levantar da
cadeira, sente dores nas costas e diz que, quando assiste à televisão, senta esparramada e
quando leva o tronco para frente sente dor na coluna. Refere que tropeça muito. Nunca
fez nenhum tratamento para dor na coluna, mas que, às vezes, usa um gel e faz
massagens. Não gosta de ir ao médico pela demora do atendimento e só vai “quando
está nas últimas. Diz que um dia está melhor, outro dia está pior e assim “vai
levando a vida”. Trabalha muito em casa, caminha muito, cuida dos filhos e
netos, mas gosta disso, pois, segundo ela, se não fosse isso “a vida iria ser uma
besteira só. Não faz nenhum exercício físico. Lava muita roupa e isto piora a dor nas
costas, assim como quando fica muito tempo em pé. A dor na coluna interfere na sua
vida no momento em que se sente incomodada e chateada, pois a dor a impede de ir
para algum lugar, porque não agüenta andar muito, sentar, pegar um peso, carregar água
ou fazer um trabalho, pois de todo jeito aparece dor e pára de fazer o que está fazendo,
relaxa um pouquinho, e depois volta de novo. Acha que não tem saúde para trabalhar e
fazer tudo. Acredita que nunca mais irá ficar boa em razão da idade que tem e acha que
sua doença é antiga e por isso não irá conseguir ficar boa. Acredita que para melhorar
precisa de se ter um repouso e que se não tomar uma medicação e se não tiver uma boa
alimentação não tem jeito de melhorar.
Margarida
Tem 50 anos, só estudou até o ensino fundamental, casada, dona de casa,
tem uma renda familiar um pouco maior do que dois salários mínimos. Há mais de 6
anos sente dores na coluna. Classificou sua dor na Escala Visual Analógica (E.V.A) em
6. Acredita que a dor começou quando lavava roupa dentro de um banheiro bem
pequeno e por isso acha que o mal jeito de ficar lavando roupa provocou a dor. Em
1999, a dor da coluna piorou tanto que irradiava para as pernas. Foi se consultar com o
médico que, segundo ela, disse que não era nada demais e o motivo das dores era
porque estava ficando velha, e que os ossos “estavam ficando enferrujados...” Refere
que as dores são tão grandes que incomoda a respiração e até sente dor no peito.
Atualmente lava roupa na máquina e coloca para enxugar em cima da lage da sua casa.
56
Usa baldes pequenos que enche de roupas e as leva subindo as escadas. Refere que ficar
costurando também sente “queimar” a coluna, mas é lavando roupa que piora. Usa
massagens com gel e acredita que isto alivia bastante. Nunca fez tratamento para
coluna. Tem alergia e não pode tomar qualquer remédio. Às vezes toma Dorflex e
Voltaren ou outro analgésico. Não faz nenhum exercício físico. Refere que tem uma
respiração curta. A dor a impede de pegar peso, subir alguma coisa, arrumar a casa e
que tem que mandar alguém fazer e acha isto muito ruim. Desta forma, acha que a vida
vai ficando mais complicada, pois não gosta de depender dos outros. Anda devagar e
refere que, há dias, sente a perna doendo.
Girassol
Tem 51 anos, analfabeta, viúva, balconista e dona de casa, tem uma renda
familiar um pouco mais do que um salário mínimo. Há três anos sente dores na coluna.
Classificou sua dor na Escala Visual Analógica (E.V.A) em 8. Acha que a dor decorre
da idade, pois, quando era jovem, não tinha dor na coluna e que depois dos 50 anos os
ossos vão ficando fracos, ou devido aos movimentos que faz, lavando roupa, se
abaixando, pegando caixa de cerveja, abrindo congelador, varrendo, e que nos finais de
semana, quando trabalha mais, é que a dor piora. Comenta que, quando pega as caixas
de cervejas do chão para colocar em outro lugar, isto exige dela que curve o tronco
tanto para pegar quanto para colocar de novo no chão. Tem medo de ficar aleijada.
Dorme na rede. Quando está com dor na coluna, usa um gel, que é vendido nas portas
de casa, para fazer massagens, mas usa mais vezes a automedicação, tomando de 1 a 3
comprimidos por semana, dependendo da dor. Mais não toma, pois refere que os
comprimidos são caros. Já fez fisioterapia. Faz caminhada todo dia ou três vezes na
semana. Assiste à televisão deitada no sofá e às vezes inclina o pescoço para trás e
cochila em frente ao televisor. Refere que tem problemas de coração. Não percebe que
tenha uma postura ruim, mas anda bamboleando e tem um pouco de hipercifose
torácica. Acha que sua dor na coluna limitou algumas coisas que fazia, pois deixou de
fazer muitos do seu dia-dia. Quando está com dor sente-se triste, quer ficar só deitada e
não quer conversar com ninguém. Espera que a proposta desta pesquisa ofereça
orientação, pois, como nunca estudou, acredita em ações educativas: “fica-se sabendo
57
mais, torna-se mais alegre pois tem o quê conversar com as pessoas”. No final ainda
deixa um recado: “Olha, se eu gostar vou continuar, se eu não gostar eu digo que não
estou gostando, e deixo pra outra vez, mas pra isso eu tenho que ver se vai dar certo ou
não”.
Violeta
Tem 52 anos, também só estudou até o ensino fundamental, viúva, trabalha
como acompanhante de idosos, tem uma renda familiar de mais de dois salários
mínimos. Há mais de 30 anos, diz sentir dores nas costas todos os dias e que se
irradiam para as pernas. Classificou sua dor na Escala Visual Analógica (E.V.A.) em
6. Acredita que as dores começaram depois que aumentou de peso na gravidez. As
dores iniciaram tão intensas que prejudicaram os movimentos do corpo,
chegando a paralisar as pernas, tendo que até parar no hospital em 1996. Além
disso, acha que sua dor também pode decorrer do reumatismo ou do fato de
carregar muito peso, principalmente no seu trabalho, onde cuida de uma senhora
idosa que pesa muito, tendo que segurá-la e banhá-la. Refere que, a dor piora
quando fica muito tempo em pé ou sentada. Expressa que, quando anda de ônibus,
fica com dor nas costas. Tem o ombro direito mais alto do que o outro. Já fez
fisioterapia, mas precisou parar, pois não agüentava mais. Tropeça muito, pelo
fato da perna ter ficado mais fraca. Não gosta de tomar medicamento, mas toma 1
a 2 comprimidos quando está sentindo muita dor. Quando está sentido muita dor,
faz movimentos com o corpo, virando-se de um lado para outro e rodando o tronco,
colocando a coluna no lugar e, assim, segundo ela, “o sangue esquenta” e a dor
melhora. Diz que coloca de 2 a 3 travesseiros atrás da coluna na cama para poder
apoiar as costas e a cabeça. Refere que tem um irmão e uma filha com os mesmos
problemas de coluna e que também os prejudicam, pois mesmo com
medicamentos, a dor some, mas depois volta tudo de novo. Não faz exercício
físico.
58
Hortênsia
Tem 58 anos, casada, estudou até o ensino fundamental, lavadeira e
passadeira, mas atualmente só é dona de casa, pois deixou de trabalhar para cuidar
da mãe que morreu há pouco tempo. Tem uma renda familiar menor do que um
salário mínimo. Sente dores na coluna há 2 anos. Classificou sua dor na Escala
Visual Analógica (E.V.A.) em 5. Diz que suas dores iniciaram depois que tomou
uma anestesia, mas que também podem decorrer da idade ou da posição errada de
lavar roupa. Relata antes lavava muita roupa, todos os dias, mas agora lava uma
vez ou outra, pois “o corpo ficou enferrujado”. As dores pioram quando passa
pano na casa, lava roupa ou quando dorme de mau jeito. Dorme de rede. Para
melhorar sua dor, deita-se no chão. Diz que só assiste à televisão deitada no sofá e
por isso sente dor no pescoço. Anda se arrastando, lava roupa sentada em balde no
chão, enrolando a coluna para frente. Nunca fez tratamento para dor na coluna ou
tomou medicamento para esta dor. Nunca fez exercício físico, mas tem vontade
de fazer. Acha que a dor não piorou sua vida e que nunca deixou de fazer suas
atividades. Espera que com a pesquisa melhore sua dor para trabalhar e ter o
próprio dinheiro.
Rosa
Tem 58 anos, analfabeta, viúva, dona de casa, com renda familiar menor do
que um salário mínimo. Sente dor na coluna há um ano, mas há uma semana
piorou. Classificou sua dor na Escala Visual Analógica (E.V.A.) em 10. Não sabe o
que causa sua dor, mas acredita que, como dormia na rede e agora está dormindo
na cama, a dor piorou. Para aliviar sua dor, também usa um gel que compra na
venda. Com esse gel, faz massagens, mas acredita que para o problema da dor o
gel não serve. Nunca fez tratamento ou tomou medicamento para dor na coluna.
Não faz exercício físico. Anda curvada para frente e bamboleando e arrastando o pé.
Tem o ombro direito mais alto e senta-se curvada. Refere que, quando fica muito tempo
sentada, as costas começam a doer. Acha que as atividades de casa não pioram sua
dor e que por isso não limitou sua vida. Espera que, com a pesquisa, sua dor
diminua sem precisar tomar medicamento, e que tenha informações sobre o que
poderia ser sua dor e quais atitudes poderia tomar.
59
Magnólia
Tem 51 anos, estudou até o ensino fundamental, mas não sabe ler. Casada,
dona de casa, tem uma renda familiar de um salário mínimo. Sente dor na coluna há
quatro anos. Classificou sua dor na Escala Visual Analógica (E.V.A.) em 8. Toma
medicamento só se estiver com muita dor. Acha que suas dores decorrem da lavagem
de roupa, pegar peso, pelos movimentos que não faz direito ou quando dorme de rede.
Diz que tem artrose. Acha que tem um ombro mais alto que o outro. Já fez fisioterapia,
mas quando termina o tratamento, as dores voltam. Refere que sempre está sentindo
dores e acredita: “Eu acho que é porque a gente nunca quer direito. A gente só faz
direito quando quer”. Em casa, não faz nada para melhorar a dor, apenas relaxa ou
anda. Toma banho de cuia. Vai ao médico de 3 em 3 meses no posto de saúde que
freqüenta, mas que toda vez que vai sempre está sentindo dor. Segundo ela, depois que
retorna do médico: “Melhoro, mas não fico boa”. Faz caminhada 3 vezes na semana.
Acha que suas dores na coluna pioram quando se abaixa, quando costura ou fica muito
tempo sentada: “Para levantar tem que ter ajuda, quando tenho que abaixar para
pegar alguma coisa no chão, se não for direito(...)”. Não consegue sentar no chão e
levantar-se. Não consegue costurar em decorrência da dor: “Quando estou costurando
na máquina, passa um pedaço só falto não agüentar”. A dor interfere muito na sua vida
porque não consegue fazer o que fazia antes: “Eu gosto de arrumar minha casa, puxar
as coisas do canto, tirar as coisas do lugar, passar pano, agora eu não posso mais
fazer. Aí é muito ruim. Queria ser o que eu era, fazer tudo”. Espera que a proposta da
pesquisa a cure pelo resto da vida, e que ensine o que deve fazer ou deixar e fazer.
Orquídea
Tem 49 anos, estudou até o ensino médio. Casada, dona de casa, tem renda
familiar de um salário mínimo. Sente dores na coluna há dois anos. Classificou sua dor
na Escala Visual Analógica (E.V.A.) em 4. Tem pressão alta, é obesa, tem colesterol
alto. Segundo ela, os movimentos que pioram sua dor na coluna são os de dobrar para
frente, lavar roupa, passar pano de chão ou quando faz a faxina geral na casa. “Quando
esforço mais um pouco minha coluna dói mais”. Não sabe o que causa sua dor, mas
acredita que não seja o peso, porque sente mais nas pernas. Teve filhos gêmeos e depois
60
da gravidez refere que só se levanta com ajuda de alguém: “Eu tenho muita dificuldade
para me levantar. Eu me sento, me deito, mas pra levantar...” Nunca fez tratamento
antes porque tem dificuldades na assistência médica: “A gente não pode, não tem
condição de plano de saúde. A gente tem dificuldade e agora está pior, a gente vai pro
posto de saúde não tem médico pra atender na hora, tem que agendar e a gente vai
deixando e acaba não indo ao médico”. Para melhorar sua dor, faz massagens, usa
compressas de gelo e diz que aprendeu a fazer isso com a revista da Avon, que ela
própria vende. Faz ginástica 3 vezes por semana. A dor não limitou nada em sua vida,
pois, mesmo com dor, faz tudo. Espera que a proposta da pesquisa a melhore, que fique
boa, pois detesta remédio.
Lírio
Tem 45 anos, estudou até o ensino fundamental. Casada, dona de casa, mas
também trabalha com transporte escolar. Tem uma renda familiar de um salário e meio.
Sente dor na coluna há 15 anos. Classificou sua dor na Escala Visual Analógica
(E.V.A.) em 9. Não sabe o porquê de suas dores, mas acredita que, como trabalhou
durante muito tempo como costureira e isto pode ter causado suas dores. Diz que tem
artrose. Já fez fisioterapia durante dois meses, mas as dores ainda continuam. Em casa,
faz automassagens com gel que compra numa venda. Vai ao médico somente quando
está sentindo muitas dores na coluna. Acha que suas dores na coluna pioram quando
lava louça e roupa ou quando costura. A dor interfere muito na sua vida porque passou
a ter medo de fazer algum trabalho que exige maior esforço ou aquele que lhe causa
dor.
5.1.1 O grupo de mulheres e sua condição socioeconômica
As nove mulheres tinham idades entre 45 e 58 anos e referiram queixas de
dores nas costas há um tempo médio de mais de dois anos. Destas, cinco (5) estudaram
até o ensino fundamental, três eram analfabetas e uma estudou até o ensino médio.
Todas eram donas-de-casa e, destas, três tinham outro emprego. A renda familiar média
entre as mulheres era de um salário mínimo e todas tinham condições de moradia
desfavoráveis e situação financeira e social precárias (Quadro 2).
61
Esta condição de vida poderá proporcionar ambientes inadequados, estilos de
vida insatisfatórios, alimentação incorreta e dificuldades de acesso na assistência à
saúde, e, assim, podem ser consideradas elementos significativos no agravo da dor.
Quadro 2 - Caracterização socioeconômica das mulheres
Mulher Idade Nível
Educacional
Ocupação Renda Estado civil
Crisântemo
6
Analfabeta Dona de casa. Artesã
Menos 1
salário
viúva
Margarida
0
Até o ensino
fundamental
Dona de casa
Mais 2
salários
casada
Girassol
1
Analfabeta Dona de casa e balconista
Mais 1
salário
viúva
Violeta
2
Ensino
fundamental
Acompanhante de idosos
Mais 2
salários
viúva
Hortênsia
8
Ensino
fundamental
Ex-lavadeira e passadeira,
dona de casa
Menos 1
salário
mínimo
casada
Rosa
8
Analfabeta Dona de casa
Menos 1
salário
mínimo
viúva
Magnólia
1
ensino
fundamental
Dona de casa
1 salário
mínimo
casada
Orquídea
9
Ensino médio Dona de casa
1 salário
mínimo
casada
Lírio
5
Ensino
fundamental
Dona de casa, ajudante de
transporte escolar
1 salário e
meio
casada
Segundo Cade (2001), os problemas vivenciados no cotidiano podem
dificultar as práticas educativas, pois ensejam insatisfação, estresse e desviam a atenção
dos sujeitos no que diz respeito à realização de comportamentos voltados para a saúde.
Esses aspectos devem ser considerados com o objetivo de oferecer condições ao
paciente de rearranjar sua condição de vida para melhor enfrentamento dos estímulos
internos e externos.
62
Vemos que estas mulheres identificam e buscam diferentes formas de
cuidados de acordo com o próprio conhecimento cultural. Desde os anos 1980,
pesquisadores como Good (1992), Kleinman (1988) e Nations (1992) argumentam que
a saúde e a doença, inclusive a dor, são culturalmente elaboradas, interpretadas e
vivenciadas, requerendo, assim, investigações antropológicas para compreender os seus
significados e impacto no cuidado clínico.
Luz (2003, p. 91) identifica a existência das “diferentes representações de
indivíduo/ pessoa, corpo/espírito, saúde/doença, cuidado/tratamento, cura/equilíbrio, presentes
nos distintos agentes sociais, pacientes ou terapeutas, e, mesmo em indivíduos sadios
praticantes de atividades, sem referencia à questão do adoecimento”.
5.1.2 A dor e sua característica antes da intervenção
O tempo médio de dor entre as mulheres variava de 1 (um) a 30 (trinta) anos,
sendo, portanto, considerada dor crônica. De acordo com escala visual analógica, elas
elegeram suas dores entre os graus de 4 a 10, não sendo relacionadas com o tempo de dor, ou
seja, não existiu relação se o maior tempo de dor indicava maior ou menor intensidade dos
sintomas referidos (Quadro 3).
Pelos relatos das sensações dolorosas, as mulheres revelaram características de
dores específicas de cada uma, evidenciando as percepções de sua história e experiência de
vida, do seu cotidiano, do seu jeito de ser e suas crenças. Sensações de ardência, queimação,
fisgada foram expressões usadas para identificar suas representações de dor e suas
conseqüências, fato que também foi observado no estudo de Duarte (2001) e que pode ser
caracterizado nesta fala:
“Quando eu costuro sinto queimar, arder à coluna” (Margarida).
63
Quadro 3 - Caracterização da dor antes da intervenção
Mulher Tempo de
dor
E.V.A.
Causa percebida Perspectiva Restrições da dor
Práticas de
saúde
Violeta
Mais de 30
anos
6
Aumento de peso,
gravidez
Diminuir a dor sem
medicamento
Mesmo com medicamentos
a dor some, mas volta tudo
de novo
Automedicação,
movimenta o
corpo de um
lado para outro,
roda o tronco.
Coloca
travesseiros para
apoiar as costas e
a cabeça e estira
as pernas quando
está assistindo
televisão.
Hortênsia Há 2 anos 5
Anestesia, idade, posição
errada de lavar roupa
Precisa melhorar para
voltar a trabalhar e ter o
próprio dinheiro
A dor não piorou sua vida,
não deixou de fazer as coisas
Deita no chão.
Nunca fez
tratamento e
nunca tomou
medicamento
Rosa
Há 1 ano, mas
que estava em
crise
10
Mudança na dormida
Diminuir a dor sem
medicamento
Não limitou em nada sua
vida
Gel, massagens.
Nunca fez
tratamento nem
tomou
medicamento
para dor na
coluna.
Magnólia Há 4 anos 8
Lavagem de roupa, pegar
peso incorretamente,
artrose
“Melhoro, mas não fico
boa”
“Queria ser o que eu era
antes”
Não consegue sentar no chão
e levantar, costurar, fazer o
que fazia antes
Relaxar e
andar, vai ao
médico de 3 em
3 meses; já fez
fisioterapia
Orquídea 2 anos 4
Movimentos incorretos
Diminuir a dor sem
medicamento
Não limitou em nada sua
vida
Massagens,
compressas de
gelo
Lírio 15 anos 9
Pela profissão de
costureira e artrose
As dores continuam
mesmo com o tratamento
Deixa de fazer as coisas,
pois tem medo de fazer
piorar a dor
Massagens, gel.
Já fez
fisioterapia
Crisântemo
Mais de 4
anos
8
Anestesia
Acha que nunca vai ficar
boa
Sente-se incomodada e
chateada; impede de andar,
sentar, pegar um peso,
carregar água ou fazer um
trabalho
Gel e massagens.
Pára de fazer o
que está fazendo
e quando melhora
reinicia. Nunca
fez tratamento
Margarida
Mais de 6
anos
6
Lavar roupa de mal jeito,
idade
A vida vai ficando
mais complicada
Respiração, pegar peso,
subir em alguma coisa,
arrumar a casa,
dependência
Massagens com
gel,
automedicação.
Nunca fez
tratamento pra
coluna
Girassol Mais 3 anos 8
Idade, movimentos
errados (lavar roupa,
abaixar, pegar peso,
abrir congelador e
varrer
Medo de ficar aleijada
Deixou de fazer muitas
coisas. Depressão
Alonga o corpo,
automedicação
e gel. Já fez
fisioterapia
64
Na opinião destas mulheres, as causas das dores, ou seja, a etnoetiologia,
são decorrente das “posições erradas” e “trabalho pesado” e também conseqüências
da idade. Outra causa revelada foi a de ser provocada por anestesia que tomaram em
cirurgias anteriores ou problemas de ordem anatômica (Quadro 3). As mulheres
sabem a causa da dor por haver sido referida pelo médico ou por experiências
pessoais, de familiares ou amigos. Alguns depoimentos apontam para este
conhecimento:
(...) depois que eu aumentei de peso e que estou mais
barriguda, eu sinto aquele peso na espinha, pois antes
quando eu era fininha eu não sentia! (Violeta)
O médico disse que tenho artrose, mas não sei o que é só
sei que o médico mandou fazer fisioterapia e natação.
(Lírio)
(...) o problema é mais a idade, pois quando eu era
nova, não tinha essa dor na coluna. É... tem hora que
os ossos vão ficando fracos. (Rosa)
(...) eu já fiz muitas cirurgias que precisei de anestesia
e a dor começou depois disso. Então eu acho que foi
da anestesia, tem muita gente que diz isso. (Hortênsia)
Minhas dores pioram por causa da frieza da chuva. Isso é mau
de velho, sabe? (Orquídea)
A falta do diagnóstico e de uma explicação efetiva quanto à doença
causa confusão diante da patologia que pode estar causando suas dores, o
que é visto nestes depoimentos:
Ouvi dizer que bico de papagaio é hérnia de disco e que é
justamente na coluna. Disseram que o meu problema de coluna é
ciatalgia devido à hérnia de disco, bico de papagaio. Já pensou
todos esses bichos misturados na minha espinha? O médico
65
também me disse que tenho escoliose só que não consigo
entender como que apareceu essa escoliose depois de velha.
(Violeta)
McIntosh & Shaw (2003) discutem a idéia de que a maior causa de
descontentamento e frustração entre os pacientes com dores na coluna está na
pouca explicação quanto seu diagnóstico por parte dos médicos, produzindo
confusão quanto ao diagnóstico e tratamento, fazendo com que eles mesmos
procurem soluções para sua sintomatologia.
Segundo Almeida et al (1999), as algias da coluna vertebral também
podem advir de sobrecargas, em conseqüência de má postura, disfunção dos
tecidos moles e articulações, de um processo traumático ou patológico ou de
combinação destes. A maneira como as pessoas entendem as causas das
dores na coluna exprime a visão do modelo biomédico já imposto, embora não
seja entendido de forma coerente pelas pessoas o que pode ensejar a menor
aderência ao tratamento. Da mesma forma, Knoplich (1993) afirma que a
crença da origem da dor crônica da coluna e o modo como explica para si
própria e para os outros será, de certa maneira, a forma que determinará como
conviverá com a dor, qual comportamento adotará em relação à prevenção de
novas dores e quais respostas darão às intervenções de saúde propostas.
Observamos que outras atividades relatadas trazem como conseqüência dores na
coluna - como carregar baldes de água, dormir na rede - que são costumes vistos na região
Nordeste e por isso podem ser traduzidos como atividades de risco cultural:
(...) tem redes que são muito ruins que também dá dores, as
fundas que são piores (...). (Violeta)
(...) quando eu durmo de rede eu fico toda entrevada.
(Lírio)
Eu sinto muita dor quando tenho que buscar água, às vezes
longe da minha casa. Eu tenho que estar todo tempo enchendo o
balde e carregando e por isso tenho que várias vezes levantar
peso. (Flor)
(...) eu tomo banho de cuia. (Magnólia)
66
Assim, a experiência de vida também facilita a identificação da causa da dor
e do porquê de seu aumento, ou seja, pela postura do corpo adotada na rede enquanto
dorme, o tipo de rede, a condição e a forma de tomar banho ou buscar água para uso
doméstico. Além disso, estas ações têm relação com o baixo nível socioeconômico e
podem dificultar nas decisões de dormir melhor e no abastecimento de água em sua
residência. Os termos entrevada, enferrujado, desjuntado são comumente usados pelas
pessoas com dores nas costas e significam a pessoa que tem rigidez das articulações e
aumento da tensão muscular, o que pode ser simbolizado pelo movimento corporal
prejudicado causado pela dor:
Antes lavava muita roupa todos os dias, mas agora lavo uma vez
ou outra, pois meu corpo ficou enferrujado. (Margarida)
(...) quando vou levantar, parece que está desjuntando, tem que
ser bem devagar, para voltar pro lugar. (Magnólia)
Na visão das mulheres a dor traz desajustes de impacto pessoal e social. As
perturbações relacionavam-se às pessoas com dores na coluna que as mulheres diziam
conhecer, independentemente da faixa etária, sexo ou classe social e podem ser
apresentadas de várias formas:
Tenho uma amiga que já está idosa e está se curvando.
(Lírio)
Conheço um rapaz que tinha dor na coluna e não podia
nem andar direito se escorando nos cantos. (Girassol)
Tem uma senhora perto da minha casa que tem dor na
coluna e passa 2 a 3 dias arriada numa cama. (Violeta).
67
Muitos autores explicam que a dor na coluna e os desequilíbrios posturais
são queixas que podem ser pretextadas por grande parte da população. A quantidade de
pessoas que se queixam desta sintomatologia pode ser esclarecida pela qualidade má das
condições de trabalho, a utilização de materiais não ergonômicos e a falta de
conscientização para uma melhor postura.
As expressões se curvando, se escorando e arriada podem significar o grau
da dor e como essas mulheres reagem a esta condição.
A noção popular de cronicidade da sintomatologia foi muitas vezes
relatada em todas as entrevistas, e constatamos que: melhora, mas não fico
boa e me acostumei com a dor são relatos sempre vistos em pessoas que se
queixam de dores na coluna. Nos depoimentos, podemos identificar a falta de
esperança de cura, certa conformidade, exigindo dos indivíduos que exerçam
medidas da própria vivência e até mesmo se determinarem a conviver com a
dor, como podemos constatar nas falas:
Vou ao médico 3 em 3 meses devido as marcações feitas no
posto de saúde que freqüento, mas toda vez que vou, sempre
estou sentindo dor. Aí melhoro, mas não fico boa.(Magnólia)
Um dia eu estou melhor, outro dia estou pior e assim vou
levando a vida. Acho que nunca mais vou ficar boa devido à
minha idade, minha doença é antiga. (Crisântemo)
Nestes depoimentos, podemos questionar sobre o que falta no
serviço para que essas mulheres possam melhorar da dor. Será que a
associação de tratamentos medicamentosos com a conscientização de
melhores posturas no cotidiano pode permitir a melhora ou cura? Percebemos
que uma assistência multiprofissional no manejo da dor na coluna pode
favorecer um tratamento contínuo e adequado, possibilitando melhor controle
da dor.
68
Conforme depoimentos, a dor causou limitações sociais, psicológicas
e físicas, interferindo com maior intensidade no trabalho e nas atividades do
cotidiano:
(...) quando estou com dor me sinto incomodada e chateada, pois me
impede de ir para algum lugar, não agüento andar muito, sentar, pegar
um peso, carregar água ou fazer um trabalho, pois de todo jeito a dor
aparece. (Girassol)
(...) não posso pegar peso, subir em alguma coisa, arrumar a
casa tenho que mandar alguém fazer e isso é muito ruim, a vida
vai ficando mais complicada, pois eu não gosto de depender dos
outros. (Margarida)
Eu gosto de arrumar minha casa, puxar as coisas do canto, tirar
as coisas do lugar, passar pano, agora eu não posso mais fazer.
Aí é muito ruim. Queria ser o que eu era, fazer tudo. (Magnólia)
O grau de dependência causada pela dor limita a satisfação pessoal
e de vida quando as mulheres referem incomodo, chateação, complicação e
dificuldade de realizar tarefas de sua competência.
Desta forma, a dor traz vários problemas com dimensões políticas,
econômicas e socioculturais (BRINGUENTE et al, 1997). No estudo sobre
Modelos de Crenças em Saúde aplicado a funcionários públicos com dores na
coluna, Knoplich (1993) observa que fatores demográficos e sociopsicológicos,
assim como condições adequadas da estrutura médico-sanitarista, podem
alterar a percepção do indivíduo em relação a sua saúde, influenciando no
comportamento das pessoas.
Em meio a esta multiplicidade de conceitos, para Ferreira (1994), a dor é uma
experiência subjetiva, privada, e sua percepção e tolerância variam significativamente conforme
o grupo social. A sensação da dor, os comportamentos que a envolvem, até as atitudes, dizem
respeito às expectativas do sujeito, suas experiências e bagagem cultural.
Observamos nas falas o fato de que a presença de dor reflete socialmente na vida
pessoal mediante rótulos, quando referem que a pessoa é inutilizada. Existem denominações
classificatórias, ou seja, graus de taxinomia que podem ser de menor estigmatização até a
69
graduação mais elevada, sendo menos ofensiva quando chamada de dengosa, até a mais alta
prerrogativa aleijado, inutilizado. Assim, podemos perceber que há uma identificação cultural
com a palavra descadeirado que se traduz como dor nas costas. Este rótulo cultural pode
corresponder um desajustamento e preconceito pessoal, no trabalho e na sociedade, e que, às
vezes, elas são desacreditadas nas suas colocações em relação à dor. Exemplo está nas falas
de Violeta e Girassol:
(...) uma vez minha irmã perguntou o que eu tinha e me chamou de
dengosa. Outra vez eu estava com uma dor tão grande que fiquei sem
respirar e minha filha disse que eu era muito mole (...) a minha filha é
toda torta e meu irmão está inutilizado devido à hérnia de disco.
(Violeta)
Ás vezes fico toda descadeirada que não posso nem me abaixar.
(Girassol)
A percepção de medo também foi encontrada, podendo ser uma sensação
que resulta em prudências, resistências e obstáculos que as impedem de ter uma vida
normal. No estudo de Knoplich (1993), o medo também foi visto por entre as pessoas
que tinham dores na coluna vertebral e foi considerado como uma dimensão mais
importante na incapacidade de trabalhar, e está ligado a crenças e convicções de ter a
doença e tornar-se grave. Neste mesmo estudo, argumenta-se que, quanto mais o
indivíduo conseguir fugir desse medo associado à dor, menos terá desabilidades e os
médicos, os terapeutas, os familiares e os fatores sociais reforçam este sentimento.
Segundo Lima et al (2005) pessoas com dor crônica têm a crença de que não podem
controlar sua dor e fazem tudo para evitá-la, entrando no processo de aceitação da dor e
de reorganização do seu mundo de vida e isto podemos encontrar na fala:
Tenho medo de fazer algum trabalho que me exija maior
esforço ou aquele que me cause a dor. (Lírio)
Segundo Neto (1998), por medo passamos a não viver novas
experiências, estacionando e dificultando situações de vida, gerando
insegurança, tabus, irrealidades, superstições, conceitos errôneos e
preconceituosos, o que assimilamos de forma verbal ou em gestos. O medo
pode significar a preocupação de que, no futuro, a dor cause perdas físicas e
até mesmo sociais, o que pode ser exemplificado na fala:
70
(...) tenho medo de ficar aleijada. (Girassol)
Além disso, Luz (2003) chama a atenção para o comedimento, como uma das
representações fundamentais da saúde na cultura contemporânea. As ações, o modo de se
comportar ou controlar está nos sujeitos, sendo, assim, os responsáveis por não danificarem
sua saúde com excessos, ensejando, desta forma, a contenção ou controle que remete, por
sua vez, ao comedimento.
A dor, quando se torna crônica, compromete lazer, sono, apetite, atividade sexual e
profissional, resultando no estresse, na diminuição da resposta imunológica, podendo causar
depressão e, conseqüentemente, fazendo a pessoa perder boa parte da qualidade de vida.
Para Lira, Nations & Catrib (2004), a sintomatologia crônica traz uma desordem do cotidiano
das pessoas, na medida em que há uma perda da esperança de melhora, a invalidez, uma
imagem corporal alterada e uma queda da auto-estima.
Como parte da definição de qualidade de vida uma das entrevistadas relatou
que não consegue dormir e todas não podem trabalhar em conseqüência das dores.
Minha coluna dói à noite e por isso não consigo dormir direito,
pois acordo muito com dor e passando mal sem conseguir me
virar na cama. (Crisântemo)
A dor pode resultar na exteriorização de outros sentimentos psíquicos, como
depressão, irritabilidade, baixa da auto-estima, ansiedade, frustração, insegurança.
Podemos também acrescentar a idéia de que estes sintomas psíquicos podem ser a causa
de suas dores, sendo, portanto, efeito inverso (DUARTE, 2001). A tensão emocional
pode transformar a coluna em um órgão de choque, onde o indivíduo descarrega as
emoções negativas, como ansiedade e frustração, e assim podem funcionar como um
fardo nas costas, como se costuma dizer. Dahlke (2004) explica, mediante o
mecanismo psicossomático, que a doença apresenta características simbólicas e sugere
que a dor nas costas pode significar um grito de socorro por apoio de alguém, desgosto
e carga existencial. Desta forma, a origem e as conseqüências da doença devem ser
investigadas em todas as suas dimensões para que o processo de cura seja desenvolvido
de maneira mais completa. Estes sentimentos podem ser observados em uma das falas,
que comenta como a dor interfere na sua vida:
71
Só que quando estou doente, com dor, dor na coluna a
minha vida piora muito, pois não posso nem me levantar,
não quero falar com ninguém, fico triste, deprimida e passo
o dia deitada. (Girassol)
Knoplich (1993) explica que as pessoas maximizam ou minimizam os
sintomas orgânicos de expressão difícil, como são as dores na coluna, com a
finalidade de obter ganhos afetivos, econômicos ou sociais.
De qualquer forma, a dor pode tornar uma situação de vida pesada e
difícil de suportar, levando a um desequilíbrio social e pessoal. Para Duarte
(2001) fatores psicoafetivos e emocionais, quando não são causadores da dor,
contribuem consideravelmente para que isso ocorra, pois produzem uma
tensão da musculatura do corpo, predispondo ao início da dor, e diz que, por
trás dos sintomas dolorosos da coluna, podem estar escondido sentimentos de
insatisfações, emoções reprimidas e situações mal resolvidas.
Os saberes e práticas das entrevistadas também podem ser
influenciados por experiências de vida que adquirem em situações anteriores.
Fatores como a dieta e o estilo de vida também podem ser incluídos como
melhora do estado de saúde, segundo o relato:
Se eu quiser melhorar preciso ter um repouso, tomar uma
medicação e se não tiver uma boa alimentação não tem
jeito de melhorar. (Crisântemo)
Segundo Kleinman (1980; 1988), o modelo explicativo popular traduz o conjunto
articulado de explicações sobre a doença e tratamento, ou seja, a interpretação das ações que
as pessoas desenvolvem para lidar com as suas aflições parte de uma lógica explicativa,
característica de um determinado modelo de conhecimento científico. Neste sentido,
acreditamos que as entrevistadas organizam e interpretam a explicação de sua sintomatologia
e a racionalizam de acordo com sua experiência, dando subsídios para suas condutas e
decisões quanto ao tratamento.
As barreiras que impedem melhor qualidade de vida vão do nível do
macrossistema, incluindo o sistema de saúde, as instituições e o sistema
econômico, até o nível do microssistema, como pessoal, íntimo, cultural e força
pessoal. As dificuldades passadas pela assistência médica pública, a falta de
cuidados e de maior atenção de alguns profissionais de saúde relatadas produz
72
sentimentos de angústia e negligência nas mulheres, o que pode contribuir
também para a persistência de suas dores.
A gente não pode, não tem condição de plano de saúde. A
gente tem dificuldade e agora está pior, a gente vai pro
posto de saúde não tem médico pra atender na hora, tem que
agendar e a gente vai deixando e acaba não indo ao médico.
(Orquídea)
Só vou ao médico somente quando estou sentindo muitas
dores na coluna. (Lírio)
As formas de enfrentamento do problema são de vários jaezes,
desde atitudes físicas, educacionais e psicossociais até alimentação. As
estratégias variam de acordo com as condições de cada um nos aspectos
sociais, nível de conhecimento em relação à sua patologia e educacional. É
sensível o fato de que, quanto maior o conhecimento, mais formas de
enfretamento foram observadas, indicando que, quanto maior a informação,
maiores e melhores eram as atitudes de melhor qualidade de vida e tentativa
de cura, como pode ser visto nos depoimentos de quem apresenta dor lombar:
(...) quando a rede é muito funda eu pego o travesseiro e
coloco debaixo da coluna e melhora. (Violeta)
Para melhorar da dor me deito no chão. (Hortênsia)
(...) eu me sento pra tomar banho e por isso não me canso
tanto. (Crisântemo)
As atitudes comportamentais variam de acordo com o nível de vida. A
condição de deitar no chão é feita por muitas pessoas por acreditarem que desta forma
possa diminuir a dor.
A automedicação, o uso de géis e automassagens são os recursos mais
empregados e isto pode decorrer da dificuldade da assistência, cópia das receitas
anteriores ou de experiências vividas da doença de outras pessoas de seu convívio
73
social. No estudo de Mandu e Silva (2000), também foi encontrada o uso constante
desta prática pelos participantes da pesquisa, favorecido pela facilidade de adquirir o
produto e proximidade com pessoas de mesma identidade cultural e social, tornando
mais rápido o acesso à resposta desejada. Segundo Ferreira (1998), o doente seleciona
os medicamentos mediante o auxílio de familiares, vizinhos e balconistas de farmácia e,
por esta automedicação, passa a controlar o desenvolvimento de sua cura à medida que
decide o quanto e quando tomar. Nos desabafos, essa atitude aparece:
(...) quando estou sentindo muita dor nas costas, eu tomo
um comprimido de Butazona, mas só quando estou sentindo
muita dor mesmo, aí eu tomo 1 a 2 comprimidos e aí
melhoro. (Violeta)
(...) lá tem o pessoal que vende um gel, aí eu passei e
aliviou mais. (Girassol)
Géis e medicamentos populares, que se dizem “milagrosos”, podem ser vistos
sendo vendidos de forma ilegal na comunidade, sem comprovação científica, mas que, pela
experiência popular, têm resultados satisfatórios e até conduzem à cura.
Das nove mulheres, quatro (4) disseram que já realizaram algum tipo de
tratamento além do medicamentoso, no caso, a fisioterapia. Percebemos nos discursos o
fato de que, quando realizavam o tratamento por muito tempo, começavam a identificar
o que era bom ou não para seu corpo. A experiência vivida por uma delas nos a chama
atenção, pois o tratamento imposto parecia não solucionar sua dor e, à medida que
experimentava outros recursos e percebia melhora dos sintomas, passava a identificar
quais recursos mais adequados e que funcionavam para o seu tratamento.
Na época que eu fazia fisioterapia, no dia que botava o gelo
chegava em casa pior do que como eu estava, aí no dia que foi
pra quentura logo fiquei boa. (Violeta)
Muitas vezes, o tratamento imposto pelos profissionais para a melhora da
dor não funciona para todos. As pessoas com dores na coluna reclamam muito do uso
da crioterapia utilizada para amenizar a dor na fisioterapia, principalmente em pessoas
de mais idade, pelo mesmo fato de acreditarem que seu problema pode decorrer do
reumatismo e que piora com a “frieza”. A crioterapia pode piorar o espasmo da
musculatura, sendo possível que represente uma das causas da dor na coluna. O uso de
termoterapia oferece uma sensação de relaxamento e por isso um alívio para as dores.
74
5.2 Práticas educativas e estratégias para mitigar da dor
O esporte, a dança, o namoro, as relações sexuais, o alimentar-se, o
dormir, o caminhar, o trabalhar, tudo pode e deve ser visto como
prática de saúde ou de risco de doença, dependendo da intenção, da
intensidade, da freqüência e da quantidade com que é feito. (LUZ,
2003, p.103).
Os resultados alcançados de cada encontro encontram-se dispostos em forma
descritiva e em quadros. A análise dos resultados foi feita em relação a cada ação de forma
imediata ou de maneira processual por semana, ou seja, como se sentiram durante a ação, no
decorrer da semana após o aprendizado e de acordo com o decorrer dos dois meses após o
término da intervenção.
1° Encontro - Apresentação do grupo e conhecimento do corpo
Como pode ser visto no quadro 4, no estudo da percepção do corpo, seis
mulheres referiram algum tipo de desequilíbrios corporais e assimetrias; três não
perceberam mudanças, o que pode ser explicado pela percepção de esquema corporal
alterado e assimilado pelo cérebro de maneira correta. O fato de não conhecer a postura
correta e a falta de prática quanto à percepção corporal passam despercebidos por nós e,
desta forma, acreditamos que temos uma postura perfeita. Na avaliação dos
movimentos da coluna, a falta de flexibilidade, restringindo maior amplitude de
movimento, foi vista em seis mulheres.
No exercício da dobradiça de frente (Figura 2), não houve dificuldades para
nenhumas delas, fato que pode explicar a maior adesão por parte das mulheres na
realização desta prática no domicílio.
Em contrapartida, na dobradiça realizada de lado (Figura 3), todas as
mulheres tiveram dificuldades e uma delas referiu dor, por isso, ao final das oficinas,
percebemos que tal exercício não era comum em suas práticas de autocuidado.
75
Quadro 4 - Respostas das mulheres mediante a cada ação do 1° encontro
Ações Violeta Margarida Girassol Rosa Lírio Magnólia Hortênsia Crisântemo Orquídea
Mapeamento
do corpo
Não
percebe
assimetrias.
Percebe
ombro
diferente do
outro
Não
percebe
assimetrias
Não
percebe
assimetrias
Percebe
pisar mais
num pé que
no outro e
desequilíbrio
Percebe
diferenças
no pé e
desequilíbrio
Percebe o
ombro
diferente do
outro.
Percebe o
ombro diferente
do outro.
Percebe o
joelho
fechado
Movimentos
da coluna
Sem dificul-
dades
Dificuldade
em
extensão,
inclinação e
rotação
Refere
dobrar o
joelho para ir
até o chão
Grande
dificuldade
em todos os
movimentos
Sem
dificuldades
Dificuldade
em extensão
inclinação e
rotação
Sem dificul-
dades
Dificuldade em
extensão e dor,
não consegue
fazer rotação e
inclinação
Dificuldade
em
extensão,
inclinação e
rotação
Dobradiça de
frente
Sem dificul-
dades
Sem dificul-
dades
Sem dificul-
dades gosta
mais de
fazer
Sem dificul-
dades
Sem
dificuldades
Sem
dificuldades
Sem dificul-
dades
Sem
dificuldades
Sem dificul-
dades
Dobradiça de
lado
Dificuldade Dificuldade
Dificuldade e
dor
Dificuldade Dificuldade Dificuldade Dificuldade Dificuldade Dificuldade
Novo mapea-
mento
Não refere
mudança
Melhora da
postura, pé
mais reto,
corpo mais
leve e
respiração
mais solta
Não refere
mudança
Sente pisar
melhor e
melhora da
dor
Não refere
mudanças
Não refere
mudança no
ombro, mas
se sente
mais
relaxada e
mais fácil de
pisar correto
Refere dor
de cabeça
Não refere mu-
dança
Não refere
mudança
2° Encontro - Aspectos funcionais da coluna vertebral
No quadro 5 dispõe os comportamentos das mulheres diante das práticas no
segundo encontro. Vimos que na ação de levantar o peso, deveriam se abaixar dobrando
as pernas sem fletir a coluna para frente e fracionar o peso à medida que o levantava,
mas apenas três mulheres conseguiram fazer esse exercício corretamente. No exercício
com as bolas nos pés (Figura 4) e o treino de marcha em diversas posições do pé
(Figura 5), para sensopercepção dos pontos de apoio dos pés e melhorar o
posicionamento destes, todas referiram mudanças quanto a postura, flexibilidade e
maior relaxamento.
Quadro 5 - Respostas das mulheres mediante a cada ação do 2° encontro
Ações Violeta Margarida Girassol Rosa Lírio Magnólia Hortênsia Crisântemo Orquídea
Levantar peso
Fez
correta-
mente
Pegou longe
do corpo
Curvou o
tronco para
frente.
Curvou o
tronco para
frente e
longe do
corpo
Fez
correta-
mente
Curvou o
tronco para
frente
Fez correta-
mente
Curvou o tronco
para frente e
longe do corpo
Fez correto
Sensopercepção
do pé
Após o
exercício
está se
sentindo
mais leve
Após o
exercício
melhora da
postura
Após o
exercício se
sente mais
leve com as
“juntas mais
moles”
consegue
colocar a
mão no
chão
Após o
exercício
passou a
dor e sente
o pé mais
apoiado no
chão.
Coloca a
mão no
chão
Após o
exercício
está se
sentindo
mais leve
Após o
exercício
sentindo mais
leve e mais
firme. Maior
simetria nos
ombros
pernas
Coloca a mão
no chão
Após o
exercício
está se
sentindo
mais leve
Após o
exercício está
se sentindo
mais leve
Após o
exercício
está se
sentindo
mais leve
76
3° Encontro – Fatores predisponentes e agravantes (sono, sentar, lavar roupa,
higiene pessoal, eliminações) das algias da coluna
No quadro 6 vimos que a prática de automassagens (Figura 7) foi realizada
sem dificuldades por elas, já que é comum em suas vivências. No alongamento do
músculo quadrado lombar (Figura 8), cinco mulheres sentiram dificuldades ou alguma
restrição quanto à sua realização. Percebemos também a dificuldade no entendimento de
como realizá-lo. Nos exercícios de flexão e extensão da coluna cervical, não foram
referidas dificuldades, ao contrário do exercício de rotação da cabeça, no qual referiram
maiores dificuldades sem conseguir fazer nem em casa com maiores tentativas, sendo,
portanto, abolido por elas em suas práticas de autocuidado. Nestes exercícios, uma delas
referiu tontura, o que pode ser explicado por desordens do controle sistema vestibular,
pois, conforme Assunção, Albertino & Lima (2002), a movimentação da cabeça como
extensão, flexão e rotação testa o reflexo vestíbulo-ocular, podendo diagnosticar a
vertigem postural, e a sensação de tontura pode relacionar-se com alterações do
equilíbrio corporal. Assim, este desequilíbrio postural pode ocorrer por alterações
funcionais originadas do sistema vestibular ou problemas clínicos em outros órgãos o
que podem afetar, como envelhecimento, distúrbios vasculares, doenças metabólicas e
problemas cervicais.Na dobradiça com palmear (Figura 9), nenhuma delas se reportou a
dificuldades e todas sentiram maior relaxamento. Relataram que a dependência de outra
pessoa poderia ser um dos impedimentos para maior realização do exercício.
Quadro 6 - Respostas das mulheres mediante a cada ação do 3° encontro
Ações Violeta Margarida Girassol Rosa Lírio Magnólia Hortênsia Crisântemo Orquídea
Automassagem
Sem
dificul-
dades
Sem dificul-
dades
Sem
dificulda-
des
Sem dificul-
dades
Sem
dificuldades
Sem
dificul-
dades.
Faz
muito em
casa
Sem dificul-
dades
Sem dificul-
dades
Sem dificul-
dades
Alongamento
de quadrado
lombar
Tontura
Sem dificul-
dades
Dificul-
dade em
colocar
o pé de
maneira
correta e
de
inclinar.
Achou o
melhor
exercício
Dificuldade
para
entender
Sentiu
“arder” no
alongamento
Sem
dificul-
dades
Sem dificul-
dades sentiu
um lado
“mais duro”.
Dificuldade
em colocar o
pé de
maneira
correta e de
se inclinar
Sem dificul-
dades
Flexão da
cabeça
Sem
dificul-
dades
Sem dificul-
dades
Sem
dificulda-
des
Sem dificul-
dades
Sem
dificuldades
Sem
dificul-
dades
Sem dificul-
dades
Sem dificul-
dades
Sem dificul-
dades
Extensão da
cabeça
Tontura
Dificuldades
Sem
dificulda-
des
Sem dificul-
dades
Sem
dificuldades
Sem
dificul-
dades
Sem dificul-
dades
Dificuldades
Sem dificul-
dades
Rotação da
cabeça
Dificul-
dades
Dificuldades
Sem
dificulda-
des
Dificuldades
Dificuldades
não
consegue
fazer nem
em casa
Dificul-
dades
Dificuldades,
não
consegue
fazer nem
em casa
Dificuldades Dificuldades
Dobradiça com
palmear
Sem
Dificul-
dades
Sem dificul-
dades
Sem
dificulda-
des
Sem dificul-
dades
Sem
dificuldades
Sem
dificul-
dades.
Relaxa-
mento
Sem dificul-
dades
Sem dificul-
dades
Sem dificul-
dades
77
4° Encontro - Aspectos ergonômicos relacionados as algias da coluna
Poucas fizeram corretamente as atividades diárias, como varrer e passar pano na
casa, lavar e estender roupa (Quadro 7). Movimentos incorretos de curvar muito a coluna, fazer
rotações do tronco para realizar estas atividades e esticar exageradamente os braços para
estender roupa foram vistos na maioria (7) das mulheres. Em duas delas, além de fazerem
posições corretas nestas ações, vimos também atitudes de proteção para a coluna como pedir
ajuda de outros para torcer e estender roupas e dobrar os joelhos para se abaixar.
Quadro 7 - Respostas das mulheres mediante as atividades diárias
Mulher Varrer casa Passar pano Lavar roupa Estender roupa
Margarida Faz correto
Dobra a coluna para
frente
Faz muitas rotações de
tronco
Não estende muito o
braço, pois refere que
o varal é baixo.
Hortênsia
Curva a coluna e faz
bem rápido
Curva a coluna e faz
bem rápido
Faz muitas rotações de
tronco
Estende muitos os
braços
Lírio
Não curva a coluna,
dobra os joelhos para
se agachar e afasta os
objetos
Não curva a coluna,
dobra os joelhos para se
agachar e afasta os
objetos
Não dobra a coluna, torce a
roupa por partes para não
pegar peso
Estende muitos os
braços
Rosa Curva a coluna Curva a coluna
Dobra a coluna, pois refere
que a pia é baixa
Estende muitos os
braços
Magnólia
Não curva a coluna,
dobra os joelhos para
se agachar
Não curva a coluna,
dobra os joelhos para se
agachar
Pede ajuda para torcer a
roupa pesada
Pede ajuda para
estender a roupa
pesada
Girassol
Faz muitas rotações
de tronco
Curva muito a coluna
A pia é alta e por isso não
dobra muito a coluna
Estende muitos os
braços pois refere que
o varal é alto
Crisântem
o
Faz correto
Curva a coluna e faz
bem rápido; refere que
“sou exagerada no
pano”
Lava muita rede e coloca a
rede no ombro para torcer
Coloca a roupa no
ombro e estende
sozinha de um lado
para outro
Orquídea Faz correto Faz correto Faz correto Faz correto
Violeta
Dobra os joelhos, pois
se curvar a coluna fica
tonta
Passa o pano com os
pés, e com o rodo leva-
o bem à frente do corpo
Lava roupa na pia, coloca
no balde, enxágua e volta
para o balde – faz muitas
rotações de tronco
Estende muitos os
braços
O quadro 8 mostra como as mulheres reagiram ao realizarem os exercícios
solicitados neste encontro. Na percepção corporal (Figura 10), as mulheres não tiveram
dificuldades para a sua realização, apenas cinco delas, ao se sentarem no chão, tiveram
dificuldades, em virtude de restrições musculares e ligamentares do quadril e joelho. A
ação de colocar as bolas de tênis embaixo dos ísquios (sentado) e na coluna (deitada)
(Figura 11) não foi muito bem aceita pela maioria e quatro delas referiram dores e
grandes dificuldades, mas, à medida que diminuíam as tensões musculares, percebiam
melhorar suas dores na coluna e as dificuldades que as impediam de sentar direito no
chão. O exercício de Williams (Figura 12) foi realizado com certa dificuldade por cinco
mulheres, em virtude da dificuldade de dobrar os joelhos e de abraçar as pernas. Todas
sentiram dificuldades na realização do exercício do alongamento da cadeia cruzada
(Figura 13) em razão da falta de entendimento, coordenação e de flexibilidade que o
78
exercício exige. No exercício do relógio (Figura 14), todas também tiveram
dificuldades para entender a ação e uma delas não sabia ver as horas.
Quando pedimos para mostrarem a maneira como dormem, todas fizeram
corretamente. Não sabemos se isto é também realizado em casa ou foi à maneira como
aprenderam como dormir e que demonstraram. Pedimos para que se levantassem da
posição deitada para sentada e todas fizeram torções na coluna, forçando abdômen e
cervical. Desta forma, demonstramos novamente que se deve ficar de lado e forçar com
os braços e, novamente, fizeram a ação e finalmente todas se levantaram corretamente.
Quadro 8 - Respostas das mulheres mediante a cada ação do 4° encontro
Ações Violeta Margarida Girassol Rosa Lírio Magnólia Hortênsi
a
Crisântemo
Orquídea
Per-
cepção
cororal
Sem dificul-
dades
Dificuldade
de sentar
não con-
segue
dobrar a
perna
Difi-
culdade
de sentar
Dificuldade
de sentar
Sem
dificul-
dades
Sem
dificul-
dades
Dificul-
dades de
sentar
Dificuldade
de sentar
Dificuldade
de sentar
Bola de
tênis
nos
ísquios e
na
coluna
Sentiu um
lado “mais
duro” que o
outro. No
início sentiu
muita dor,
mas
depois
melhorou
Refere dor,
mas depois
“sumiu a dor
do lado
onde sentia
a perna
doer”.
Consegui
dobrar a
perna.
Não
gostou,
sentiu dor
Muita
dificuldade.
Sem
dificul-
dades
Sem
dificul-
dades
Melhorou o
sentar.
Achou o
melhor
exercício
Dificuldade,
sentiu dor na
coluna só de
um lado
Sem dificul-
dades
Williams
Sem dificul-
dades
Dificuldade
Difi-
culdade,
mas
achou o
melhor
exercício
Sem
dificul-
dades
Sem
dificul-
dades
Dificul-
dades
Dificuldade
Sem dificul-
dades
Dificuldade
Cruzado
deitada
Dificul-
dades, mas
achou o
melhor
exercício
Dificuldades
Dificulda-
des
Dificul-
dades
Dificul-
dades
Dificul-
dades
Dificul-
dades
Dificuldades
Dificuldades,
mas achou o
melhor
exercício
Relógio
da pelve
Dificul-
dades para
entender
Dificuldades
para entender
Difi-
culdades
para enten-
der
Não sabe
ver as
horas
Dificul-
dades para
entender
Dificul-
dades para
entender
Dificul-
dades para
entender
Dificuldades
para
entender
Dificuldades
para entender
Avali-
ação da
maneira
de
dormir
Posiciona-
se de
maneira
correta
Posiciona
de maneira
correta
Faz
errado
Posiciona-
se de
maneira
correta
Posiciona-
se de
maneira
correta
Posiciona-
se de
maneira
correta
Posiciona-
se de
maneira
correta
Posiciona-se
de maneira
correta
Posiciona-se
de maneira
correta
Levantar
de dei-
tada
para
sentada
Levantou –
se errado
Levantou –
se errado
Levantou-
se errado
Levantou-
se errado
Levantou-
se errado
Levantou-
se errado
Levantou -
se errado
Levantou-se
errado, mas
depois de
treinar con-
seguiu
sentar-se e
levantar -
sesem ajuda,
o que não
conseguia
antes
Levantou-se
errado
79
5° Encontro - Aspectos ergonômicos relacionados às algias da coluna e
autocuidado
As respostas de cada exercícios por cada mulher do estudo estão expostas de
forma ordenada no quadro 9. Desta forma, percebemos que ao realizarem os exercícios
específicos para melhorar suas dores nas costas, vimos que no alongamento do glúteo
(Figura 15), 4 mulheres não conseguiram realizá-lo por dificuldades anatômicas e de
flexibilidade. Margarida comenta que, apesar de sua dificuldade, esforçou-se para
realizá-lo e por isso sentiu que melhorou a restrição do quadril e sua dor melhorou.
A autopostura para alongamento dos isquiotibiais (Figura 16) foi realizada
sem dificuldades pela maioria das mulheres, sendo referido que foi o exercício que mais
trabalhou a coluna e as pernas. Na autopostura para alongamento dos adutores (Figura
17), a maioria referiu também dificuldades, não em relação ao exercício em si, mas à
dificuldade de alcançar maior alongamento da musculatura adutora.
No alongamento do piriforme (Figura 18), não referiram muitas
dificuldades, apenas aquelas cuja anatomia do corpo as impedia de alcançar a perna
talvez pelo tamanho do braço ou pela falta também de flexibilidade.Espreguiçar (Figura
19) é uma prática muito comum entre nós e por isso não houve dificuldades relatadas
pelas mulheres, inclusive sentiram alongar a coluna.
Quadro 9 - Respostas das mulheres mediante a cada ação do 5° encontro
Ações Violeta Margarid
a
Girassol Rosa Lírio Magnóli
a
Hortênsi
a
Crisântemo
Orquídea
Alonga-
mento
glúteo
Achou o
pior
exercício,
sentiu
cãimbra e
o corpo
trêmulo,
mas fez
sem difi-
culdades
Dificuldade.
Sentiu
“estalar” o
quadril e
ficou sem
dor
Dificulda-
des
Dificuldade
s
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldades
Não conseguiu
Autopostur
a para
alongamen
to dos
isquiostibia
is
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldades
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldades.
Sentiu trabalhar
a coluna
Dificuldades
Autopostur
a para
alongamen
to dos
adutores
Não
conseguiu
colocar o
joelho no
chão
Dificuldade;
não
conseguiu
colocar a
perna no
chão
Não
conseguiu
colocar o
joelho no
chão
Não
conseguiu
e não
achou bom
por causa
da dor no
joelho
Dificulda-
de; não
conseguiu
colocar a
perna no
chão
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldade
s
Dificuldades;
não conseguiu
colocar a perna
no chão
Dificuldades;
não conseguiu
colocar a
perna no chão
Alongamen
to piriforme
Sem
dificuldade
s
Dificuldade
devido a
limitações
do corpo
Dificulda-
des
Dificuldade
s
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldades
Dificuldades
Espreguiça
r
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldades
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldade
s
Percebeu
esticar
bem a
coluna
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldade
s
Sem
dificuldades
Sem
dificuldades
80
6° Encontro - Aspectos ergonômicos relacionados às algias da coluna e
autocuidado
No quadro 10 estão dispostas as respostas das mulheres referentes aos exercícios
deste encontro. Neste dia a Orquídea não compareceu, mas justificou que por problemas
pessoais não poderia ir. Vimos que na autopostura para alongamento muscular posterior
(Figura 20), a maioria relatou dificuldades, pela falta de melhor entendimento quanto à
realização do exercício, quanto ao próprio desequilíbrio e dificuldade de coordenação, mas,
mesmo assim, 3 delas consideraram o melhor exercício da oficina, pois perceberam que
trabalhou e alongou a musculatura envolvida em suas dores.
Na atividade de ficar de costas uma para outra, todas tiveram dificuldades de
alinhar sua postura com a da colega e perceberam excessos das curvaturas de suas colunas e
desequilíbrios para se manterem numa boa postura, no momento em que sentiam a colega
empurrar e tentar alinhar-se com a coluna da outra.
O exercício da posição de gato (Figura 21) proporcionou momentos de bastante
descontração e relaxamento. Não referiram nem foram observadas dificuldades, acontecendo
apenas com uma delas. No momento em que foi pedido para dissociar os braços e pernas, a
falta de coordenação e flexibilidade dificultou a melhor realização da prática.
Na postura de Maomé (Figura 22), apenas em 4 foram observadas dificuldades,
em virtude da limitação muscular ou por apresentarem patologias do joelho associadas.
81
Quadro 10 - Respostas das mulheres mediante a cada ação do 6° encontro
Ações Violeta Margarida Girassol Rosa Lírio Magnólia Hortênsia
Crisântemo
Orquídea
Autopos-
tura para
alonga-
mento
muscular
posterior
Fez cor-
reto sem
dificuldade
Fez
correto,
considerou
o melhor
exercício
porque
sentiu
esticar a
perna
Grande
dificul-
dade
Não conse-
guiu fazer
corretamente,
mas achou o
melhor
exercício
conseguiu
fazer com
ajuda
conseguiu
fazer com
ajuda
conseguiu
fazer com
ajuda, mas
achou o
melhor
exercício
Grande
dificuldade
FALTOU
De
costas
uma para
a outra
Não
consegue
encostar
coluna
com
coluna
Não
consegue
encostar
coluna
com
coluna
Empurra
a coluna
do outro
Não conse-
gue encostar
coluna com
coluna
Não
consegue
fazer.
Empurra o
corpo para
trás.
Dificulda-
de de
encostar a
lombar na
outra
Dificul-
dade de
encontrar
a coluna
Dificuldade
de colocar
a lombar
encontrada
na coluna
Dificuldade
de fazer
uma boa
postura;
não
consegue
se esticar
FALTOU
Posição
de gato
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificul-
dade
Dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Achou o
melhor
exercício
FALTOU
Posição
de gato
alter-
nando
braços e
pernas
Dificul-
dade
Dificuldade
Dificul-
dade, não
conseguiu
abaixar a
coluna
Dificuldade;
tronco fica
torto, não
consegue
estirar o
braço; não
entendeu
bem o
movimento
Sem
dificuldade
Fez cor-
reto mas
teve
dificuldade
em descer
o tronco e
estirar
Sem
dificuldade
A coluna
ficou toda
enrolada
com
dificuldade
para se
estirar
FALTOU
Postura
de
Maomé
Sem
dificuldade
Dificuldade
de sentar
sobre as
pernas e
estirar os
braços
Dificul-
dade de
sentar
sobre as
pernas,
abaixar o
tronco e
estirar os
braços
Não conse-
gue sentar
nas pernas e
estirar os
braços
(dificuldade
devido aos
joelhos)
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Não
consegue
sentar
sobre as
pernas,
abaixar o
tronco e
estirar os
braços
FALTOU
7° Encontro - Qualidade de vida, autocuidado e alterações da coluna vertebral na
terceira idade
Em virtude da facilidade na realização dos exercícios, pelo fato de serem
práticas populares de autocuidado, vimos no quadro 11 que não foram referidas e nem
observadas dificuldades pela maioria das mulheres nos exercícios solicitados nesta
oficina. Apenas em duas delas, percebemos que as dificuldades apresentadas em um
dos exercícios eram as mesmas para os demais, decorrentes da dificuldade de
coordenação e dissociação que se exigiam no exercício.
82
Quadro 11 - Respostas das mulheres mediante a cada ação do 7° encontro
Ações Violeta Margarida Girassol Rosa Lírio Magnólia Hortência
Crisântemo
Orquídea
Rotação
sentado
na cadeira
Sem
dificulda-
des
Sem
dificulda-
des
Dificul-
dade
Sem
dificulda-
des
Sem
dificulda-
des
Sem
dificulda-
des
Sem
dificulda-
des
Dificul-
dades
Dificul-
dades
Espregui-
çar na
cadeira
Sem
dificulda-
des
Sem
dificulda-
des
Dificul-
dade
Sem
dificulda-
des
Sem
dificulda-
des
Sem
dificulda-
des
Sem
dificulda-
des
Dificul-
dades
Dificul-
dades
Dobradiça
na cadeira
Sem
dificulda-
des
Sem
dificulda-
des
Dificul-
dade
Sem
dificulda-
des
Sem
dificulda-
des
Sem
dificulda-
des
Sem
dificulda-
des
Dificul-
dades
Dificul-
dades
8° Encontro - Repercussão da atividade física nos distúrbios álgicos da
coluna. Avaliação da aprendizagem objetivando o autocuidado
Percebemos que atividades em academia e outros esportes não faziam parte de
seus cotidianos, como podemos perceber nas falas:
Gostaria de fazer academia ou algum esporte, mas não tenho
dinheiro e nem tempo para fazer isso, o que eu posso fazer é
caminhada. (Magnólia)
Posso caminhar com sandália ou com uma chinela fechada
atrás, pois não tenho dinheiro para comprar um tênis, pois me
disseram que a melhor maneira de caminhar seria de tênis.
(Lírio)
Quanto aos exercícios, observamos no quadro 12, os que exigiam encostar a
cabeça no chão, a maioria tiveram dificuldades pela falta de flexibilidade muscular. No
exercício de gangorrar (Figura 24) não tiveram dificuldades de entender o exercício,
mas não conseguiram encostar a cabeça no chão pelos mesmos motivos expressas
anteriormente.
Da mesma forma, o da rotação da coluna (Figura 25) fizeram sem
dificuldades, apenas Girassol apresentou dificuldade ainda pela falta de coordenação,
também observada na oficina anterior.
No exercício em que exigia manter a postura correta encostada na parede
(Figura 26), apenas três delas apresentaram dificuldades, o que pode identificar melhora
83
da postura, pois, nas oficinas anteriores a exigência de atividades em que se trabalhava
a postura, todas tinham apresentado dificuldades.
Como a dobradiça estava sendo realizada por elas durante as semanas
anteriores, não apresentaram dificuldades, quando foi pedido o mesmo exercício, mas
encostadas na parede (Figura 27).
Da mesma forma, o alongamento da cadeia muscular posterior do corpo com
os braços apoiados na parede (Figura 20), que já tinha sido realizado em oficina
anterior, foram observadas dificuldades somente em Rosa, em razão da sua postura ser
assimétrica por uma escoliose e pela dificuldade em entender a realização da prática.
Quadro 12 - Respostas das mulheres mediante a cada ação do 8° encontro
Ações Violeta Margarida Girassol Rosa Lírio Magnólia Hortênsia
Crisântemo
Orquídea
Sentada
no chão
encostar
a cabeça
no chão
Dificul-
dade
Dificul-
dade
Dificul-
dade
Dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Dificul-
dade
Dificuldade
Dificulda-
de
Gangorrar
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Dificul-
dade
Rotação
da coluna
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Dificul-
dade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
De pé
encostada
na parede
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Dificuldade
Dificul-
dade
Dobradiça
na parede
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Alonga-
mento da
muscula-
tura
posterior
apoiadas
na parede
Sem
dificuldade
Sem
dificulda-
de; achou
o melhor
exercício
Sem
dificuldade
Dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
Sem
dificuldade
5.3 Práticas educativas e condições de vida e saúde
A maneira como perceberam e receberam a prática educativa nas suas vidas pode
ser vista na melhora da dor, qualidade de vida, comportamento diante da dor e atividades do
cotidiano.
Desse jeito vamos todas sair novinhas em folha. (Lírio)
Quando eu termino de fazer as coisas de casa eu vou pro
meu quarto fazer os exercícios e aí eu digo - Agora e vou
ficar boa. (Violeta)
A continuidade na realização dos exercícios foi relatada por todas as
mulheres e pode ser confirmada em uma das falas no momento em que na última
entrevista uma delas refere:
84
Ah! Eu não posso deixar mais de fazer os exercícios. (Lírio)
Podemos dizer que as ações educativas modificaram seu cotidiano e que
contribuíram para continuidade do autocuidado, no momento em que dizem que sempre estão
se lembrando dos exercícios e associam aos aspectos que mais chamaram a atenção por ser
mais engraçado de fazer ou ter nomes mais exóticos:
A minha pia é da altura ideal e eu vejo que as pias das minhas
colegas são muito baixas e é muito ruim, eu mandei meu marido
fazer do jeito certinho pra mim. (Magnólia)
(...) às vezes vem na mente os nomes dos exercícios, crescer pelo
cucuruto, exercício do gatinho, sentar nos ossinhos. (Lírio e
Hortênsia).
As práticas educativas realizadas em grupo podem ser fatores de adesão para
as mulheres de meia idade, pois oferecem trocas de experiências, conhecimentos,
oportunidades de novas amizades e “descanso momentâneo” de seus problemas e
mudança do cotidiano, como pode ser visto neste desabafo:
Adoro participar destas terapias em grupo, acho tudo
maravilhoso, porque saio de casa, esqueço todos os problemas e
acho ruim quando eu volto para casa. (Hortênsia)
As terapias em grupo ajudam na socialização e também podem servir como
terapia sociopsicológica. A baixa situação de vida vivida por estas mulheres leva a
diversos problemas que acontecem dentro de casa, sejam eles de ordem econômica ou
social ou problemas familiares. Referem problemas de drogas com filhos, alcoolismo e
dívidas, o que pode influenciar no aumento da dor por somatização. Assim,
acreditamos que terapias de grupo proporcionam sentimentos de solidariedade,
confiança, valorização e melhor adequação do indivíduo à sua situação.
A percepção de que a prática educativa pode ser um fator de melhora,
somada ao tratamento médico, foi referida pelas mulheres:
Aprendi a fazer muitas coisas que não sabia, alguns deles me
ensinaram na fisioterapia, mas outros eu aprendi aqui. A gente
aprende para sempre e se tiver com uma dor na coluna, não
precisa tomar medicamento vai lá faz o exercício 1, 2x e aí
melhora. Aprender a fazer as coisas corretamente também foi
muito importante, porque a maioria das pessoas que sentem dor é
85
devido a posição de fazer as coisas, sentar e dormir de mau jeito,
lavar uma roupa, uma louça, varrer uma casa, que geralmente
faz de qualquer jeito. Então eu acho que você vai fazer uma coisa
que é para o seu bem, não vai fazer errado e ensinar um filho,
uma filha, um vizinho, alguém que esteja precisando. (Lírio)
A minha última consulta com o médico foi em agosto do não
passado e até hoje ainda não consegui minha consulta e eu estou
doida pra conseguir pra eu dizer pro médico que eu estou curada.
Porque tem 3 anos a 4 anos que eu estava me tratando com ele e
eu nunca ficava boa e agora estou boazinha, até meus pezinhos!
Vou dizer pra ele que agora sou eu que vou ensinar como é para
tratar os pacientes. (Magnólia)
5.3.1 Classificação da dor após intervenção
Percebemos que a dor foi mitigada na percepção da maioria das mulheres
(ver quadro 4). No caso de Crisântemo, ela referiu que por melhorar sua postura em
suas atividades e hábitos errados, não mais sentiu dor nem mesmo nos afazeres que
causavam suas dores. Classificou sua dor em 0. Consegue levantar-se sem dificuldades
e dorme durante a noite toda; voltou a trabalhar com artesanato. Esta melhora pode ser
explicada pelo fato de que realizava o autocuidado de forma sistemática.
A dor de Margarida foi alterada à medida que avançávamos nas oficinas.
Suas dores ainda continuavam apenas quando precisava realizar maiores esforços, mas
relatou que, quando sentia dor, sabia quais exercícios deveria realizar e a dor passava
,
não precisando tomar remédios. Antes havia classificado sua dor em 6 e, após as
intervenções, classificou em 2, porque sua dor aparecia nos grandes esforços,
quando costurava e lavava roupa ou quando passava muito tempo sentada ou em
pé, mas que não mais precisou tomar medicação.
Girassol, no início dos encontros, sentiu dores em virtude do esforço que fez
ou pelo mau jeito como realizou os exercícios, por isso e por não ter tido consciência da
prevenção, não aderiu à prática dos exercícios inicialmente, mas continuou a freqüentar
todas as oficinas. Podemos dizer, pois, que ela estava gostando do tipo de intervenção,
já que no início tinha avisado de que, se não gostasse, só viria um dia. No final dos
encontros, tomou consciência da necessidade de realizar os exercícios e da prevenção,
referindo realizar sempre o autocuidado não somente quando estivesse com dor, fato
que se pode relacionar com a diminuição de suas dores.
86
Em Violeta, suas dores não diminuíram tanto. O atraso em iniciar o
autocuidado (somente a partir do 6° encontro) e o fato de trabalhar muito pegando peso
dificultaram sua melhora. Havia classificado sua dor em 6, e após as intervenções,
referiu ter baixado apenas para 4, pois suas dores ainda persistiam nos esforços, mas
que não tomou remédio para dor nem mesmo quando estas eram maiores, como fazia
antes. Não tropeça mais, fato aludido na entrevista inicial como fator de incômodo.
Percebeu a necessidade do autocuidado quando suspendeu a prática numa semana e por
isso voltou a sentir dores. A vida difícil, com problemas financeiros e familiares e o
tipo de sua atividade profissional podem também ter influenciado na dificuldade de
melhora.
Hortênsia disse não sentir mais dor. Apesar de ter sentido dores de cabeça e
sintomas de gripe em algumas semanas dos encontros, e de haver precisado tomar
medicação, expressa que não teve dores nas costas como acontecia antes das oficinas.
Realizou os exercícios todos os dias e modificou suas posturas em suas atividades. No
4° encontro, sentiu dor, mas soube o motivo da volta de suas dores nas costas - ainda
insistia em assistir à televisão de forma incorreta, fato também referido no último
encontro após 2 meses. Apesar disto, sabia o que fazer para melhorar suas dores. Tinha
classificado sua dor em 5 e, após as intervenções, suas dores nas costas tinham
desaparecido, mesmo realizando atividades com posturas incorretas.
Rosa avaliou sua dor no mais alto grau, no início, talvez pela sua agudeza.
Suas dores logo desapareceram, pois disse que realizava 2 vezes na semana, mas
sempre referia dores nos joelhos e nos pés. Sua postura não melhorou muito. Havia
classificado sua dor em 10, e após as intervenções, classificou em 2, pois ainda sente
dor na cervical quando carrega muito peso ou quando passa muito tempo sentada. Após
2 meses declarou não ter tido tempo para fazer os exercícios.
Orquídea mencionou que desde do início das oficinas, sempre realizava os
exercícios, o autocuidado e a melhora das posturas nos seus afazeres, por isso sentiu
melhora a partir do 2° encontro, não mais se queixando de dor, mesmo sem realizar o
autocuidado.
Magnólia falou que todo dia pratica o autocuidado. A partir do
encontro, sentiu as costas “novas” porque não apresentavam mais dor, somente se
realizasse grande esforço ou porque deitou-se no colchão em que no início havia
referido que era o que lhe causava dores, mas, com a realização dos exercícios as dores
melhoravam. Desde o início, diz sofrer também de dores no calcanhar, em razão do seu
esporão de calcâneo, mas, na entrevista final, depois de um mês da última oficina,
relatou que não sentia mais dores em lugar nenhum. Ficou 2 semanas sem fazer os
exercícios e não sentiu dor. Refere que antes, quando parava de fazer a fisioterapia e o
87
tratamento, não passava 1 mês e sentia a dor de novo. Nunca mais tomou medicamento.
Antes das intervenções tinha classificado sua dor em 8 e após marcou em 0.
Lírio também sentiu dor na cervical após o primeiro encontro. Mesmo
dizendo realizar o autocuidado todos os dias, suas dores continuaram, ao lavar roupa ou
costurando, mas diz que pode ser pelo seu trabalho, pois carrega muito peso. Antes das
intervenções, classificou sua dor em 9 e, depois classificou em 2.
Assim, percebemos que as mulheres que praticavam o autocuidado mais
freqüentemente tinham sua escala de dor referida após as intervenções com menores
graus. Aquelas que trabalhavam fora de casa não apresentaram melhores resultados
quanto às dores, pelo fato de seus hábitos e atividades ocorrerem com grandes esforços,
como transporte e manipulação de pacientes, carregar peso, movimentos repetitivos,
falta de estrutura ergonômica, podendo ser fatores de risco para lesões da coluna
(BRINGUENTE et al, 1997; PARADA, ALEXANDRE & BENATTI, 2002;
REBELATTO, CALDAS & VITTA, 1991).
88
Quadro 13 - Acompanhamento da dor durante e após a ação
Nome 2º Encontro 3º Encontro 4º Encontro 5º Encontro 6º Encontro 7º Encontro 8º Encontro Depois de 1 mês
Depois de 2
meses
Crisântemo
1ª vez
Melhorou o
sentar, sentiu dor
devido ter tido
que carregar e
levantar peso,
“puxar água e
botar água para
fora devido a
chuva ter inun-
dado sua casa”.
Lavou muita
roupa e não
sentiu dor
Sem dor na
coluna. Dor e
inchaço nas
pernas porque
andou muito
Sem dor
Lavou rede e
muita roupa e não
sentiu dor
Não sentiu dor e tem
feito os exercícios
todos os dias, de
acordo com os
manual entregue
E.V.A. 0. Não
sentiu mais dor
lavando e passando
roupa. Mudou
hábitos de vida.
Levanta sem
dificuldade. Dorme
durante a noite toda
Sem dor e voltou
a trabalhar
Margarida
Sentiu um
pouco de
melhora
Lavou roupa e
sentiu quase
nenhuma dor.
Sem dor
Dor nos pés e nos
ossos; trabalhou
muito, sentiu dor,
mas fez os
exercícios e a dor
passou
Sem dor
Sentiu pouca dor
na coluna, está
conseguindo
sentar em cima
das pernas
Pegou peso e a
coluna doeu, mas fez
os exercícios e
melhorou
E.V.A. 2. Dor
somente aos
grandes esforços,
costurando ou
quando passa
muito tempo
sentada ou em pé,
ou quando
termina de lavar a
roupa, não toma
mais comprimidos
Faltou
Girassol
Sentiu dor após
a intervenção:
“Amanheci
toda quebrada,
que não podia
nem virar o
pescoço”.
Sentiu dor no
pescoço, mas não
fez os exercícios.
Sentindo gripe
e por isso
tomou um
comprimido;
não sentiu dor
nas costas
Sem dor
Sem dor Sem dor Sentiu dor na coluna Faltou
Nunca mais
tomou remédio
para a dor nas
costas. Sente
dor somente ao
se abaixar.
Não sente mais
dor quando
lava roupa,
varre casa ou
quando pega
peso
89
Quadro 13 - Acompanhamento da dor durante e após a ação (continuação)
Nome 2º Encontro
Encontro
4º Encontro 5º Encontro 6º Encontro 7º Encontro 8º Encontro Depois de 1 mês Depois de 2 meses
Violeta
Continua pe-
gando muito
peso. Sentiu
muita dor. Fez os
exercícios so-
mente no 1º dia e
depois não fez
mais por falta de
tempo
Sentindo
dor, não fez
os exercícios
Sentindo dor,
não fez os
exercícios
Sem sentir dor há
mais de 3 dias
Sentindo dor,
não fez os
exercícios
“Comecei a
fazer os exercí-
cios e, peguei
bastante peso e
não senti dor”..
Não sentiu
mais a dor e
está fazendo
todos os
exercícios
E.V.A. 4. Sente dor,
quando faz muito
esforço, fica muito
tempo em pé, sus-
tentando um peso ou
quando cansada. Não
tomou mais
remédio.Não está mais
tropeçando. Não acorda
mais com a dor
Nunca mais tomou
medicação. Ficou sem
fazer os exercícios e
ficou toda dolorida;
fez os exercícios e
melhorou. Sento dor
quando fica muito
tempo em pé, lavando
roupa ou a louça
Hortênsia
Não sentiu dor
como antes.
Mudou a posição
de lavar roupa.
Fez os exercícios
todos os dias
Não sentiu
dor e tomou
remédio para
dor de
cabeça
Sentiu alguma
dor, mas sabe
que decorreu da
postura de as-
sistir à televisão
Sentindo o corpo
doído por causa
gripe, mas refere
que depois dos
encontros nunca
mais sentiu dor.
Diz que antes
quando sentia
gripe, ficava com a
coluna dolorida,
mas desta vez não
doeu
Sem dor
Sentindo gripe,
mas não está
sentido dor na
coluna. Tomou
Paracetamol
Sem dor
E.V.A. 0. Refere que
às vezes lava e passa
roupa com postura
errada mas não sente
dor. Faz os exercícios 1
vez por semana na hora
do banho
Refere dor nas
costas quando
sentada vendo
televisão, mas
levanta, estica e
roda a coluna para
melhorar
Rosa
Dor no pescoço e
na torácica,
refletindo para o
peito. Fez os
exercícios 2
vezes na semana
Faltou
Refere dor nos
pés, devido ter
andado muito e
por ter o joelho
esquerdo “tor-
cido”. Não
refere dor nas
costas
Sem dor na coluna Sem dor
Sem dor na
coluna,
somente nas
pernas porque
andou muito
Sem dor
E.V.A. 2. Sente ainda
um pouco de dor.
Dorme de cama, mas
não sente dor
Sente dor na
cervical, quando
carrega muito peso
ou quando passa
muito tempo
sentada, mas,
quando lava roupa
não sente mais dor.
Não teve tempo de
fazer os exercícios
90
Quadro 13 - Acompanhamento da dor durante e após a ação (continuação)
Nome 2º Encontro 3º Encontro 4º Encontro 5º Encontro 6º Encontro 7º Encontro 8º Encontro
Depois de 1
mês
Depois de 2
meses
Orquídea
Fez os exercícios
antes da
caminhada e a
dor na coluna
melhorou
Sem dor, refere
que antes sentia
dores nos mo-
vimentos, mas
que tem feito os
exercícios e
procura sentar e
deitar direito
Sem dor
Sem dor e faz os
exercícios 3
vezes por
semana
Faltou
Sem dor; não
teve tempo de
fazer os exercí-
cios
Não sentiu mais
dor
Faltou Faltou
Magnólia
Sentiu melhora e
faz os exercícios
todos os dias
Sentiu dores,
pois lavou muita
roupa, mas que
fez os exercícios
e melhorou a dor
Sem dor. Refere
dor somente nos
pés devido ao
esporão de
calcâneo
Sem dor, inclu-
sive nos pés
Sem dor
Sentiu dor por se
ter deitado no
colchão da cama,
mas fez os
exercícios e
melhorou
Sem dor
E.V.A. 0. Não
sente mais dor
nas costas e
nem no
esporão
Sem dor. Nunca
mais tomou
medicamento
Lírio
Sentiu dor na
cervical. Fez os
exercícios todos
os dias pela
manhã
Sentiu dor nos 2
últimos dias
depois que lavou
muita roupa e
acha que é
porque pega rede
pesada
Sentindo dor na
cervical e nos
joelhos devido
ao trabalho,
tendo que subir,
descer e carregar
mochila pesada
Fez massagem
Lavou muita
roupa mas não
sentiu dor como
antes. Acha que
é porque tentou
fazer de forma
correta
Sem dor Sem dor
Sentiu dor na
coluna torácica
E.V.A. 2. As
dores diminuí-
ram, mas sente
dor por
carregar peso
no trabalho,
quando costura
ou lava roupa,
mas não sente
quando lava
louça
Parou de fazer
os exercícios e
fez as coisas
todas erradas
para testar a
dor. Sentiu dor,
mas refere que
não como
antes. Ainda
sente dor la-
vando roupa e
louça
91
5.3.2 Prática e continuidade do autocuidado
Segundo a maioria das mulheres, a prática do autocuidado foi continuada com
a mesma freqüência depois dos dois meses após a última oficina. Na entrevista final, ao
serem perguntadas se continuavam fazendo os exercícios e com a mesma freqüência, a
maioria das mulheres respondeu que sim e que, o manual entregue facilitou a
continuidade do autocuidado.
Continuo e com a mesma freqüência. Eu faço aqueles retratinhos
que está lá na folha. Do jeito que eu estava fazendo estou
continuando. Eu faço 3 x na semana, de manhã,quando acordo ou
quando vou tomar banho a tarde. (Magnólia)
Percebemos que a entrega de um material de apoio didático, como foi o manual, que
mostrava por fotos os exercícios e os cuidados que deveriam fazer em casa, foi importante no
aprendizado das mulheres e imprescindível para a adesão e continuidade do autocuidado, como
referido pela maioria das mulheres e representado pela fala:
Tenho visto o manual e eu faço antes e quando eu chego da
caminhada. Vou levar os exercícios que aprendi pra vida toda e se eu
esquecer ainda tem o manual pra me olhar, não vou esquecer de jeito
nenhum. Eu deixo em cima da televisão pra quando eu chegar já tá lá
naquele cantinho, porque se tiver guardado eu me esqueço. (Girassol)
Além disso, o manual proporcionou maior possibilidade para transferência do
aprendizado entre amigos e a família:
Eu mostrei aquele livrinho que a senhora nos deu para minhas
amigas e disse que aprendia aqui e aí elas me pediram pra fazer lá
com elas. Quando eu sair daqui aí eu vou lá fazer. (Girassol)
A minha neta sofre da coluna e sente muita dor, aí eu mandei ela
olhar o livro. Ela conseguiu fazer os exercícios só vendo o manual
sem que ensinasse. (Rosa)
Lá perto de casa mora uma menina de 12 anos que está toda torta,
aí eu disse pra ela: vou levar meu manual pra tu ver como vai ficar
boa! (Hortênsia)
92
Eu tenho uma cunhada que sente muita dor nas costas e disse a ela
que lá em casa eu tinha um papelzinho com um bocado de exercício e
que se fizesse melhoraria muito, porque era exatamente para sua dor.
(Lírio)
A confiança, adquirida nas intervenções, no fato de que os exercícios poderiam
melhorar suas dores foi fundamental para essa continuidade como pode ser visto na fala:
Hoje, quando eu sinto a dor, faço logo os exercícios e aí passa.
(Violeta)
5.3.3 Realização dos Exercícios
O exercício da dobradiça foi referido por todas as mulheres como o mais realizado,
seguido pela autopostura para alongamento dos isquiotibiais (5 mulheres). O exercício de
abraçar as pernas para alongar a coluna (Williams), o alongamento do músculo quadrado lombar
e os exercícios realizados sentadas, seja de rotação ou alongando a coluna tentando encostar a
testa no chão foram referidos por 4 delas. Três mulheres incluíram o exercício que joga os braços
para um lado e as pernas para o outro (cruzada deitada) e o espreguiçar como aqueles que mais
realizavam em casa. Os exercícios de rotação da cabeça, o de usar as bolas nos pés para
relaxamento, o de gatinho para relaxar a musculatura paravertebral e a automassagem na coluna
foram relatadas variadamente pelas mulheres, de per se.
93
Quadro 14 - Exercícios mais realizados em casa
Violeta Margarida Girassol Rosa Lírio Magnólia Hortênsia
Crisântemo
Orquídea
Espregui-
çar, Do-
bradiça,
Autopostura
para alon-
gamento
dos
isquiostibi-
ais, Cru-
zada dei-
tada. Faz
todos os
dias
Dobradiça,
Williams,
Autopostura
para alonga-
mento dos
isquiostibiais.
Faz quase
todos os dias,
no final do dia
Dobradiça,
Alongamento
do quadrado
lombar,
Rotação da
cabeça,
Williams
Autopostura
para
alongamento
dos
isquiostibiais
Bolas no
pé,
Autopostura
para
alongamento
dos
isquiostibiais,
Espreguiçar,
Sentada
rodando a
coluna,
Dobradiça.
Posição de
gato,
Espreguiçar,
Williams,
Dobradiça,
Cruzada
deitada,
Alongamento
do quadrado
lombar.
Auto-
massagem,
Dobradiça,
Cruzada
deitada,
Sentada
coloca a
testa no
chão.
Alonga-
mento de
quadrado
lombar,
Dobradiça,
Bolas nos
pés,
Autopostura
para
alongamento
dos
isquiostibiais
e Williams
Dobradiça,
Exercícios
sentada no
chão
Dobradiça,
Alongamento
do quadrado
lombar,
Sentada
rotação da
coluna
A dificuldade ou a facilidade na realização dos exercícios são fatores
essenciais para o processo de escolha. Além disso, a quantidade de treinamento e a
facilidade do aprendizado também contribuíram para maior adesão:
Porque eu me acostumei com esses, os outros são muito difícil de
lembrar de fazer. (Hortênsia)
(...) eu acho que é porque desde do começo comecei a fazer
bastante esses exercícios e me dei bem com eles, aí esqueci dos
outros. (Lírio)
A conveniência e a facilidade de como fazer os exercícios também são
critérios para a escolha dos exercícios:
Porque são mais fáceis de fazer e eu faço na cama mesmo. Vou
para cama e faço tudinho e ás vezes eu durmo e quando eu acordo
eu vou para a rede, pois eu gosto de dormir na rede, pois a cama
eu não gosto muito da cama não! (Violeta)
94
5.3.4 Fatores impeditivos da prática e continuidade do autocuidado
A presença de outra sintomatologia além da sentida na coluna pode impedi-las
de realizar os exercícios específicos para a dor nas costas, mas relataram que os mesmos
exercícios apreendidos podem ajudar na melhora deste outro sintoma.
Eu levei as bolinhas pra fazer na coluna, mas eu adoeci
anteontem e não fiz, agora eu fiz o dos pés porque estava dolorido
porque anteontem eu andei muito. (Hortênsia)
Em relação aos exercícios que necessitam de realização em dupla, as mulheres
referiram dificuldade de realizá-los em razão da dependência de outra pessoa, fato que é
sempre dito como um impedimento:
O ruim daquele exercício em dupla é que precisa de 2 pessoas.
(Hortênsia)
Não faço porque precisa de outra pessoa. (Magnólia)
Outro fator interpretado como dificuldade para realização dos exercícios foi o
excesso de trabalho que podem estar realizando, deixando-as desestimuladas à efetivação
de qualquer tarefa que não seja o descanso muscular. Além disso, foi referido por elas o
fato de que a falta de tempo, seja por este excesso de trabalho ou de responsabilidades,
também pode ser visto como impedimento para realizar os exercícios com certa
freqüência, o que é também observado no estudo de Knoplich (1993) e considerado uma
barreira na adesão do autocuidado:
Fiz os exercícios somente no 1º dia e depois não fiz mais, porque
não dá tempo de fazer e quando vou me deitar já estou muito
cansada. (Violeta)
Eu não faço todo dia não, porque eu que cuido dos meus
netos que são pequenos e não tenho tempo. Eu faço um dia
sim outro não. (Rosa)
As condições sociais de moradia e falta de espaço, além da falta de
tranqüilidade, também foram indicadas como impedimento para a realização do
autocuidado.
95
Outro dia eu fui fazer na sala, os meninos foram subindo em cima
de mim aí eu desisti. Por isso acho que tem que fazer bem
descansada, com tempo, sem ninguém incomodando. (Hortênsia)
Os exercícios durante os quais apresentaram sensação de dor são os que menos
foram objeto de adesão por parte das mulheres, e isto faz com que os descartem de sua
lista de autocuidado. Problemas da estrutura anatômica em razão de outra patologias que
dificultam a realização dos exercícios, como a dificuldade de dobrar o joelho, podem
ensejar dificuldade na realização do exercício, sendo também fatores que impedem a
eleição de sua prática:
Eu não faço mesmo é o da bola porque eu não gosto porque fica
doendo as costas. (Girassol)
Aquele da bolinha eu só faço nos pés eu não faço na coluna não. É
muito ruim, dói. E o exercício das pernas não da para fazer porque
eu tenho joelho torcido mesmo. Eu tenho medo de maltratar meu
joelho, porque ele não doeu mais. (Rosa)
Percebemos em alguns desabafos revelados nos discursos que pode ser
barreira para o autocuidado o nível de conscientização quanto à prevenção e a
dificuldade de entendimento do que a pesquisadora ensinou:
(...) a gente lembra de fazer a coisa certa quando está com dor,
sem dor ninguém lembra de fazer não! Eu me cuido quando eu
estou com dor, quando estou sem sentir nada, nem me lembro.
(Girassol)
Não dá para decorar tudo que você falou(...) O ruim que esquece!
(Girassol)
Esta dificuldade de apreensão das mensagens pode ser explicada por
alguma dificuldade da adesão à prática ou pela interferência dos fatores sociais em que
vivem, ou seja, pelo fato de que a maioria das mulheres era semi-analfabeta e sem
costumes das discussões em grupo. Além disso, a idade também pode ajudar nesta
dificuldade, pois segundo Marinho (2000), ao atingir o período do climatério, a
diminuição hormonal pode influenciar na memória e concentração das mulheres.
96
5.3.5 Disseminação da cultura do autocuidado com o corpo
À medida que as mulheres foram adquirindo aprendizado, elas começaram a
transferir seus conhecimentos a pessoas, sejam familiares ou amigos, que identificavam
que poderiam se beneficiar, confirmando o estudo de Santos & Silva (2002) e Tezoquipa,
Monreal & Santiago (2001), ao assinalarem que as mulheres são responsáveis pelos
cuidados com as doenças de toda a família e assumirem perante os familiares e às outras
pessoas que interagem no papel de multiplicadoras de ações de saúde, e por isso tornam-
se mais atentas às sensações doentias, sendo consideradas capazes de identificar com
clareza os indicadores de qualidade e melhoria de vida, seja pelo conhecimento do
cotidiano e de experiências ou pelo fato de serem as principais agentes de saúde no
contexto doméstico.
A minha filha que tem 14 anos e o meu menino menor estão
fazendo os exercícios comigo. (Margarida)
Eu tenho uma sobrinha que está fazendo também, minhas vizinhas
também vão lá em casa. (Girassol)
Eu fui ensinar o meu menino a fazer o da bolinha porque ele sente
tanta dor na coluna que dorme até no chão. Aí eu mostrei os papéis
pra ele e ele melhorou! (Magnólia)
Ensinei o exercício do gatinho pros meninos fazer. Minha neta de 4
anos se deita no chão e me chama - vó vamos fazer esse exercício
daqui - e ela faz do mesmo jeito, coloca os pés pra cima na
parede. (Crisântemo)
Eu ensinei pra minha neta e entreguei o livrinho a ela. Eu digo
também pra as pessoas lá perto de casa. (Rosa)
A identificação do fato de que o conhecimento e o aprendizado podem trazer
satisfação pessoal por haverem adquirido maiores informações, formação cultural e torná-
las autoconfiantes, conhecedoras da verdade, cônscio do dever e responsabilidade e
capacitadas a satisfazer as próprias necessidades, mesmo que seja relacionada somente
97
com o processo saúde-doença, pode ser observada quando elas se referem ao avanço
educacional que irão adquirir após as intervenções educativas:
Vai todo mundo sair formada daqui! (Orquídea)
Em um dos discursos foi divisada a vontade de transmitir seus conhecimentos,
inclusive para pessoas que se diziam com maiores saberes, mas que preconceitos desta
atitude tinham acontecido por parte de outros de mesma identidade cultural:
Chegou uma mulher do médico e perguntou o é que a gente fazia
aqui e eu ensinei pra ela e minha filha me recriminou dizendo que
não acreditava que eu estivesse ensinando para uma mulher de um
médico. (Violeta)
Nos discursos foi expresso o fato de que os níveis de conscientização, o fator
sexo, ou seja, o desinteresse, a falta de fé em que aquela atitude possa melhorar suas
dores, a falta de tempo, o cansaço são motivos ditos por elas dos homens não procurarem
serviços de saúde e aderirem ao autocuidado. Estes fatores dificultavam a transferência do
conhecimento adquirido pelas mulheres para pessoas que identificavam precisar do
mesmo, portanto, barreiras para atitudes multiplicadoras de conhecimento e também para
atitudes quanto práticas educativas e de autocuidado na sociedade em geral.
A opinião das mulheres sobre a não-adesão às práticas de saúde responde
diversas pesquisas do porquê de a maioria dos que procuram serviços de saúde e
intervenções educativas serem mulheres:
A gente é mulher é que procura mais. Homem não tem
interesse mesmo. Não liga, acha que não serve. (Lírio)
Homem é diferente. Eles não acreditam, não tem fé. Chegam
cansados. A gente incentiva, mas eles não tão nem aí(...) o
meu filho que sente dores nas costas, começou a fazer, mas
não fez mais não, ele diz que não tem tempo, já chega morto
de cansado e não quer mais fazer nada. (Magnólia)
98
Segundo elas, a preguiça e a falta de motivação, além da dificuldade de
entendimento da importância do autocuidado, também podem ser fatores que impedem a
adesão:
A minha filha tem o problema danado nas costas mandei ela fazer,
mostrei os exercícios e ela pediu pra deixar lá que depois iria ver,
mas quando eu vi já tinha ido embora com as amigas, outro dia foi
trabalhar, nas folgas passou o dias sem ir em casa e nem ligou.
(Hortênsia)
(...) tem outra que eu chamo pra fazer, mas diz que está cansada.
É preguiça mesmo e porque ela tem problemas na cabeça.
(Crisântemo)
Cade (2001) relatou que, quando a paciente não segue orientações quanto à
sua saúde, é porque apresenta um nível de desinformação importante em relação à sua
doença, pois, mesmo com a falta de tempo referida pelos sujeitos de seu estudo, constatou
que as pessoas procuravam se cuidar.
No estudo de Knoplich (1993), a falta de tempo para realizar exercícios para
as costas foi considerada uma barreira para alcançar saúde. Além disso, acentua que um
processo inovador, como são as práticas educativas para cura da dor, leva certo tempo
para que o grupo social adote a iniciativa de participar, e, por não a conhecerem, as
pessoas passam a analisar a importância e a necessidade de sua aplicação.
A condição imposta pelo modelo biomédico e a facilidade em tomar um
remédio - e com isso sabem que aliviam a dor - também podem ser motivos identificados
como impedimento para a aderência ao tratamento de autocuidado:
Tem uns que dizem assim: eu não vou fazer esses exercícios, pois é
só ir à farmácia comprar um remédio e a dor acaba. Aí eu digo:
acaba a dor, mas depois volta tudo de novo. Veja eu, fazia um
tratamento sério todo dia, mas não resolvia o meu problema,
99
sempre voltava, depois que me eduquei nunca mais senti dor.
(Magnólia)
Alves & Souza (1999) argumentam que a pessoa só procura tratamento
quando atribui relevância a algum distúrbio biológico que afete sua interpretação da
normalidade, ou no momento em que não consegue mais desempenhar normalmente as
tarefas cotidianas. O comportamento do enfermo relaciona-se aos seus valores
culturais, estruturas familiares, gênero e idade. A escolha do tratamento está
fortemente relacionada às necessidades e condições financeiras da família.
A falta de credibilidade de seus familiares e amigos em relação às mulheres,
pois não são da área da saúde, pode ser um dos fatores que as impede de transferir seus
conhecimentos:
Eles não acreditam na gente. (Margarida)
Eu mostrei para algumas pessoas lá de casa. Aí eles falam - A
mãe querendo dar de médico e a mãe sabe lá de nada! A senhora
acha que eu sou louca de fazer a coisa que senhora manda? Mãe, o
seu problema é um, o meu é outro - É mais fácil eu mostrar lá no
meu trabalho que querem saber como é que faz. (Violeta)
Além disso, a falta da certeza de um diagnóstico também pode dificultar
atitudes de autocuidado por parte de outros que desejam transferir seus conhecimentos:
Eu mostrei a minha filha os exercícios que ela tinha que fazer e aí
ela disse - Não venha me aleijar não pelo amor de Deus! - A
médica disse que ela tinha que fazer um Raio X pra saber
direitinho o quê tem e ela não conseguiu fazer, porque o problema
dela não sabem nem o que é. Como é que eu posso ensinar! Aí ela
100
não ia fazer porque podia quebrar, entortar de uma vez, aí que a
dor ia piorar, e que só pode ser quando saber o que é! (Violeta)
McIntosh & Shaw (2003) verificaram que a concepção da maioria
das pessoas quanto ao tratamento para dor nas costas é o repouso e que qualquer esforço
pode retornar ou agravar a dor, portanto, é uma crença que pode ser considerada barreira
para atitudes de autocuidado.
5.4 Autocuidado com a coluna vertebral e qualidade de vida
Percebemos nos relatos das mulheres que a qualidade de vida melhorou, pois
as dores que tinham antes eram fortes e limitavam em muito suas vidas com relação a
mobilidade e posição e agora já não mais existiam. Disseram que antes a dor interferia nas
atividades da vida diária, ao levantar, ao caminhar, sentar, dormir, na vida social e que,
depois da intervenção, haviam melhorado bastante.
Antes era cheia de dor e toda entrevada. Agora melhorei 100%.
(Violeta)
Quando cheguei aqui era caindo aos pedaços, era dor pra todo
lado, tinha muita dor na cervical, vivia na fisioterapia, esse ano faz
4 anos e só vim sentir melhora agora. Agora estou maravilhosa,
estou nova! Eu sei que minha vida está maravilhosa. Eu tenho fé
em Deus que não vou mais precisar de fisioterapia. (Magnólia)
Desta mesma forma, Saupe e Broca (2004) também avaliaram pacientes depois
de um programa de hemodiálise e perceberam que a maioria das pessoas mencionou uma
significativa melhora, pois estavam muito mal e então se sentiam mais ativas, dispostas,
com a diminuição dos sintomas, como dor cansaço, edema e internações hospitalares.
O papel da fé na terapêutica é disposto, seja na crença ou nas técnicas para
consegui-la. Para minimizar a dor, as pessoas incorporam uma espécie de conformidade.
Segundo Rabelo (1994), a fé transforma uma situação insuportável em uma experiência
101
aceitável e com a qual é mais fácil de lidar, no sentido em que o doente redireciona sua
atenção a novos aspectos ou à percepção de sua sintomatologia. As mais recentes
pesquisas evidenciam a ligação entre a saúde, crenças e práticas espirituais, incluindo a
prece, o comparecimento a serviços religiosos e a fé em Deus. A crença e a religião
podem prevenir doenças, promover a saúde e bem-estar, no momento em que influenciam
comportamentos saudáveis, orientação para melhor lidar com a dor, maior compreensão e
aceitação frente a este estado, propiciando o otimismo e a esperança, estimulando reações
curativas do corpo.
No aspecto avaliativo da intervenção, em relação à melhoria da qualidade de
vida, houve, além da redução da dor na coluna, uma conscientização sobre o autocuidado
e acerca da causa das dores, e isso poderá ajudar principalmente no aspecto preventivo.
Além do mais, proporcionou a melhoria do bem-estar físico, mais condições para a
tomada de decisões, potencializando a mobilidade e o retorno das atividades funcionais da
vida diária, e manteve a saúde com um mínimo de medicação. Percebemos que a prática
educativa influenciou nas atividades do cotidiano das mulheres no que se refere a
mudanças na forma de realizar as atividades cotidianas, como pegar peso e lavar roupa, e
isto pode ser considerado um fator determinante para a melhora da dor, como pode ser
visto na transcrição das falas:
A gente aprendeu a fazer os exercícios, a se cuidar em casa e no
trabalho sem estar fazendo fisioterapia e quando está sentindo vai
lá faz os exercícios. Quer dizer melhorou bastante! Antes só se
conhecia o médico - faça isso, faça aquilo - agora não! Aquele
folhetozinho que a senhora nos deu quando estou sentindo a dor
faço o exercício e melhora 100%. Então melhorou a vida bastante.
Se estiver sentindo a dor, já sei o remédio, vou lá faço os exercícios
e pronto! Até o jeito de fazer as coisas em casa, como se agachar
de uma vez, dormir, lavar roupa, levantar... mudou tudo agora!
(Lírio)
Antes eu não sentia muita dor não, mas sempre sentia. Eu aprendi
a fazer as coisas direito, às vezes ainda sinto dor quando lavo
roupa, mas é porque eu me esqueço e levanto a bacia de forma
errada. (Hortênsia).
102
Da mesma forma quando eu tinha que buscar água às vezes longe
da minha casa e aí eu tenho que tá todo tempo carregando o balde
e aí lá tinha que encher o balde várias vezes e levantar o peso, aí
agora estou botando bem pertinho o peso do corpo do jeito que
aprendi na aula, e aí pronto não senti mais e também ensinei aos
meus meninos como fazer. Antes eu sentia muita dor porque eu
pegava bem longe o balde e trazia pra perto e aí eu vi na aula que
a gente tem que pegar o peso bem pertinho, subir colocando na
pia, e aí pronto não senti mais nada.Esta semana lavei rede, lavei
um bocado de roupa e não senti nada, e antes quando lavava roupa
e tinha que trazer as roupas na cabeça, faltava me ver de dor nas
costas, agora arrumei 2 sacolas coloco as roupas dentro delas e
pego assim com o braço (próximo do corpo) e pronto não senti
mais, melhorei bastante. (Crisântemo)
Mudou pra melhor! Antes andava torta, agora ando direitinho,
dormia torta e agora aprendi a dormir direito e descobri que esse
era o motivo de sentir doída. Então era a má posição que eu
dormia que me fazia sentir dor. (Margarida)
Antes era dor aqui e acolá e agora melhorou. Quando comecei a
aprender o certo e o errado de como deitar, levantar, varrer uma
casa, lavar uma roupa a gente procura melhorar e eu melhorei
bastante. (Orquídea)
No depoimento de Crisântemo, analisamos sua entrevista inicial a questão do
sofrimento, que foi muito relatada, e quando ela compara este sofrimento antes e depois
da ação educativa, percebemos o quanto esse sofrimento diminuiu, pois melhorou sua
vida em relação as suas atividades, na melhora da dor, nas suas habilidades e condições
físicas:
Antes eu fazia fisioterapia, sentia muita dor, traumatizada,
sofrendo. Hoje já lavo roupa sem sentir dor. Ontem andei muito a
pé eu fui e voltei a pé não senti nada, antes eu morria de dor ficava
cansada com dor no peito... De primeiro quando eu sentava no
chão eu não conseguia me levantar, nem sentar no chão, era me
103
arrastando no chão, apoiando nas coisas, agora coloco meu joelho
no chão e me levanto ligeiro que minha filha se assusta, Antes se eu
ia me sentar no chão era cheia de dor, agora sento no chão e me
levanto sem dor! (Crisântemo).
No aspecto funcional, a qualidade de vida percebida pelas mulheres também
teve uma significativa melhora relacionada ao sentar, à realização de tarefas, a levantar, o
que pode ser explicado pela melhora da flexibilidade, a maneira correta de realizar as
atividades e a conscientização sobre como prevenir a dor e evitá-la.
Desde a semana passada eu estou conseguindo fazer isso (mostra
que fica sentada dobrando e cruzando as pernas, sem dor e sem
dificuldade). Eu não conseguia fazer isso de jeito nenhum, porque
minha perna doía muito e desde da semana passada eu estou
conseguindo e sem dor. Estou bem melhor do que antes, quando
andava doía muito, já consigo sentar em cima das pernas, que
antes não conseguia sentar. (Margarida)
Com esses exercícios eu consegui me sentar e levantar, antes só me
levantava de empurrão e aqui eu consegui me levantar.
(Crisântemo)
Desta mesma forma, a melhora de outras sintomatologias associadas à dor na
coluna também foi relatada pelas mulheres e pode decorrer da melhoria da flexibilidade
proporcionada pelos exercícios:
Eu tinha câimbra nas pernas e quando eu fiz os exercícios e esticou
bem os nervos eu nunca mais senti nada. (Violeta)
Eu acho também que antes de começar os exercícios eu tinha muita
câimbra na perna. Era horrível! Hoje antes de levantar estou
sempre alongando minha perna, estico bem eu acho que deixei de
sentir por causa destes exercícios. Sentia muito que incomodava.
(Margarida)
O retorno ao trabalho e às atividades de casa, sem se queixar de dor também
foram relatados e assim podemos dizer que houve a melhora de sua qualidade de vida,
104
que tinha sido perdida quando estava com dor, e pode ser vista pela maioria das mulheres
nos relatos apresentados na entrevista final:
Agora eu faço tapetes, passo muito tempo sentada e não sinto
mais nada não. Hoje eu ando bem melhor, antes eu topava muito
e agora não. (Crisântemo)
Hoje eu costuro bem, sem sentir dor! A minha coluna parece que
tá tão sarada que eu sinto coçar. (Margarida)
Hoje eu faço tudo (Hortênsia)
Agora costuro e não tenho dor e consigo sentar no chão sem dor.
Agora eu faço as coisas de casa. Faço e não sinto mais a dor. Não
podia varrer a casa que sentia dor e acho que é porque eu não
fazia direito. (Magnólia)
É tanto que no começo eu pegava o menino no colo e sentia dor
aqui no pescoço, mas depois que eu fiz os exercícios não senti mais
a dor nas costas. (Rosa)
Outro ponto traduzido ao grupo está relacionado à comparação entre a
classificação que fizeram sobre o que é boa vida no aspecto geral, de acordo com o que
falaram, relacionado com a qualidade de vida antes e depois da intervenção.
Sob o prisma global, melhorou a vida, além de ser maximizado o aspecto
físico, emocional e intelectual. A dor impede-as de se relacionarem com as pessoas em
razão do mal-estar que a falta de saúde provoca, de modo que, estando sem dor os
relacionamentos e tudo o que mencionaram a respeito da qualidade de vida ficam mais
fáceis de alcançar. Schalock (2004) salienta que a pessoa pode ser mais independente,
produtiva, integrada na comunidade e sentir-se mais satisfeita, quando os serviços de
reabilitação se baseiam na melhora da qualidade de vida, o que pôde ser observado nas
afirmações:
Eu sei que tudo que nós colocamos de ter uma boa vida, antes era
assim e agora é do mesmo jeito, eu já fazia as amizades, só que
agora está melhor, pois estou sem dor. (Magnólia)
105
A saúde melhorou! E a vida melhorou, pois a dor irrita, incomoda,
dá impaciência, fico inquieta e agora estamos sem dor. (Lírio)
Este programa é tão bom porque a gente se diverte, se distrai,
conversa com as amigas, aprende tantas coisas, faz exercícios...
Daqui a pouco meus filhos estão dizendo que vou virar professora.
(Crisântemo)
A noção de que, mesmo com situação de vida difícil em que vivem, com a
melhora da saúde, a segurança obtida pela fé, o apoio da família e de amigos, pode
amenizar quaisquer dificuldades.
Com efeito, observamos que, apesar da intervenção possuir características
essencialmente educativas, a aprendizagem alcançada favoreceu promoção de saúde de si
mesmo, estendendo-se à família.
Assim, pela reprodução dos relatos, percebemos que todos os domínios que
avaliam a qualidade de vida, como as atividades da vida diária, a capacidade de
autocuidado, a saúde geral, perspectiva de vida, suporte da família e amigos e os aspectos
psicológicos foram abordados, percebendo-se a melhora destes depois que participaram
da prática educativa sobre dores na coluna.
5.4.1 Fatores que interferem na evolução da dor
Pelos relatos, os fatores que auxiliaram na melhora das suas dores nas costas
foram a aprendizagem adquirida nas oficinas, que lhes mostraram as causas de suas dores
e a mudança das formas de fazerem suas tarefas do cotidiano, o que referiram como
imprescindível para a melhora desta dor, dizendo que, mesmo com tratamentos médicos e
fisioterapia, se não tiver essa conscientização, a dor não melhora:
Tudo o que aprendi e os exercícios mudaram a forma de fazer as
coisas que fazia errada. A gente se machuca porque quer, porque
não tem o jeito de fazer as coisas, porque eu vivi quantos anos
fazendo fisioterapia de 6 em 6 meses, 6 meses fazia e outros 6
meses deixava de fazer e as dores sempre viam, foi impressionante
isso que fizemos aqui com você. (Magnólia)
106
Como é que podemos saber se estamos com uma má postura, se
não sabemos o certo! (Violeta)
Os fatores que impeditivos variam de acordo com suas condições socio-
culturais, ou seja, como as condições de vida e o nível instrucional das mulheres são
baixos, o tipo de trabalho realizado por elas é normalmente mais pesado do que os
normais, trabalhos como faxina, cuidar de pessoas e da casa. A cobrança para realizar o
serviço correto e bem feito podem ser fatores que podem impedir a melhora da dor na
coluna, assim como foi visto em Silva, Fassa & Valle (2004), conforme os seguintes
discursos:
Senti dor porque como eu cuido de uma senhora pesada que pesa
mais que 80kg e não ajuda em nada e às vezes tenho que fazer
posições que não ajudam muito e faço muito esforço, porque ela
cai muito, tenho que ficar muito tempo parada, fazendo força para
levar ela ao banheiro para tomar banho. Eu sei que eu não faço
corretamente, mas é o único meio de fazer, porque não tem
condições de mudar, porque é muita correria. Meu trabalho é
sempre pegando muito peso e sempre me maltrata. (Violeta)
A dor só se eu fizer muito esforço, trabalhar, lavar muita roupa,
cuidando da casa todo dia! Mas é porque eu faço muito esforço,
trabalhando, lavando roupa, levando menino para o colégio,
depois que termino sinto cansaço nas pernas e nas costas. Acho
também que é porque tenho que estender roupa numa área em cima
da cozinha e aí tenho que ficar de cima pra baixo levando os
baldes cheios de roupa. Eu tenho certeza se não fosse isso aí eu
não tava mais sentindo dor não (Margarida)
Essa semana deitei no colchão da minha cama acordei cheia de
dor nas costas novamente. Agora já sei, não vou dormir no
colchão! Eu sei que meu colchão é que provoca dor, tenho que
trocar o colchão ou rever a grade da cama, mas é difícil, pois não
107
tenho dinheiro para trocar. Aí eu durmo de rede mesmo!
(Magnólia)
Acho que estou com dor porque andei muito. (Rosa)
É difícil modificar hábitos e costumes e este pode também ser um dos fatores
de dificuldade para melhorar da dor:
Não sinto melhorar a dor porque eu me deito no sofá de noite e
fico de mau jeito e eu não sei estar assistindo nas cadeiras assim,
me dá uma impaciência danada, só assisto no sofá. (Hortênsia)
Condições patológicas associadas à dor na coluna também podem dificultar a
percepção de melhora da dor:
Estou bem, se não fosse a dor nos pés e nos ossos, esta semana
trabalhei muito, senti um pouco de dor, meus pés doem muito
quando eu caminho. Aí eu fiz os exercícios, espreguicei, aí passou
a dor, sem massagem, sem nada. (Margarida)
A dificuldade financeira e a falta de condições para modificar esse quadro
atrapalham na realização de ações para a melhora a dor:
Eu detesto dormir de rede! Mas tenho que dormir, porque não tive
dinheiro pra comprar um colchão novo e ele não está bom pra
dormir (Magnólia)
108
5.4.2 A intervenção como atualizador para uma cultura saudável
Percebemos nos relatos que novas atitudes de autocuidado e mudanças de
hábito foram mencionadas nos últimos encontros e nas entrevistas finais, em virtude da
conscientização adquirida nos encontros, o que ajudou na recuperação e na continuidade
da melhora de seu quadro de dor da maioria das mulheres:
(...) antes eu lavava muita roupa e sentia dor nas pernas, aí eu
arrumei um monte de tijolos empilhei um em cima do outro e vou
trocando a perna. Aí meus filhos ficam dizendo que estou ficando
doida, aí eu digo eu não estou ficando doida. Peço agora para me
ajudarem torcer a roupa pesada e pendurar no varal. Antes o meu
varal era bem alto, agora eu abaixei tudinho, porque quando eu me
esticava para estender a roupa eu sentia dor, depois que abaixei eu
não sinto mais. Aprendi a fazer as coisas e eu não sinto mais
dificuldade, nem pegar peso, de carregar as coisas (...) Antes eu
trazia as roupas na cabeça, faltava me ver de dor nas costas, agora
arrumei duas sacolas, coloco as roupas dentro delas e pego assim
com o braço (próximo do corpo) e pronto não senti mais, melhorei
bastante. (Crisântemo)
De primeiro eu lavava roupa e tinha que me abaixar, pois eu
lavava na pia baixa e agora eu não fiz mais não. (Rosa)
Eu aprendi a como me cuidar, pois antes eu fazia muito esforço,
pegava peso de mau jeito a gente não sabia (...) Antes eu
amanhecia o dia sem pisar no chão de dor, hoje mudei a posição
de dormir e eu não sinto mais, mudou completamente. Eu também
não varro mais do jeito que varria antes, muito dobrada e doía
mesmo e agora eu não faço mais isso. Aquilo ali prejudica mesmo!
(Margarida)
Antes eu fazia as coisas erradas e hoje eu procuro fazer as coisas
certas pra eu não sentir a dor. Lavava a roupa de bumbum pra
cima, sentada, passava o pano na casa de qualquer jeito, agora eu
procuro fazer do jeito que é pra ser pra eu não sentir. Mudei a
109
posição de lavar roupa, estou fazendo do jeito que ensinou e nunca
mais senti dor nenhuma. (Hortênsia)
Quando eu sinto dor aí eu paro de fazer o que eu estou fazendo,
não faço mais como eu fazia de lavar tudo de uma vez só. (Lírio)
Mudanças quanto à maneira de se cuidar foram também ressaltadas, sendo
mencionado que a realização dos exercícios aprendidos nas oficinas era suficiente para
tratar a dor e que estes poderiam substituir a automedicação realizada antes por elas:
Quando eu sinto dor eu vou logo fazer os exercícios, antigamente
eu tomava remédio. (Violeta)
A falta de esperança da cura relatada no início pelas mulheres foi alterada à
medida que sentiam que as práticas educativas podiam modificar sua sintomatologia
crônica, reconhecendo a melhora e voltando a ter credibilidade no tratamento:
Quando eu fazia meu tratamento no HGF os médicos passavam
comprimidos pra quando eu sentisse dor. Aí o tempo foi passando e
sempre dizia pra o Dr - Eu não agüento mais! A dor não passa e eu
vou morrer de tomar comprimido. Essa dor dói tanto que não
agüento mais, já faço fisioterapia... - Aí ele disse assim - Pois eu
vou passar esses comprimidos e só tome quando tiver muita dor.-
Pois os comprimidos estão lá e até hoje eu não tomei nenhum. E
graças a Deus estou maravilhosa. (Magnólia)
110
5.4.3 Dor nas costas como fator de conscientização quanto a atitudes de cura
Depois das oficinas realizadas e capacitadas do autocuidado, às mulheres foi
perguntado quais eram os motivos que agora percebiam que causaram suas dores nas
costas e notamos que modificaram sua forma de pensar e, na entrevista final, relataram as
causa de suas dores como relacionados às situações de movimentos errados nas atividades
do dia-a-dia (posturas incorretas e inadequadas), esforço físico, levantamento de excesso
de peso, sobrecarga de atividades:
Hoje eu acho que foi devido aos movimentos que fazia errado,
sentia mal, pois quando comecei a fazer certo e as dores se
acabaram. (Crisântemo)
Eu pensava que minhas dores eram devido à anestesia, hoje sei que
não é, pois eu já levei 3 anestesias, acho mesmo que a dor é devido
aos maus tratos que a gente faz lavando roupa e varrendo casa
errado, todas essas coisas que fazemos errado. (Magnólia)
(...) os movimentos errados que a gente faz, lavar roupa, passar o
pano na casa, hoje eu evito de abaixar porque eu sei que é assim
que vou sentir dor. (Girassol)
Além disso, uma delas relatou que descobriu que suas dores advinha de
problemas em outras regiões e que isso poderia estar confundindo sua percepção de dores
nas costas. As dores nos órgãos internos podem ser confundidas com as dores na coluna.
Segundo Kraychete & Guimarães (2003), as dores viscerais são difusas e pobremente
localizadas em virtude da organização das vias nociceptivas viscerais no sistema nervoso
central e pela convergência das fibras nervosas viscerais e somáticas ao conectarem no
corno dorsal da medula espinhal, portanto, pode ser mencionadas como dores
equivalentes para região da coluna.
Eu senti uma dorzinha mas descobri que não era da coluna. Eu fiz
um ultra-som vaginal e deu mioma e eu pensava que a dor era da
coluna. (Girassol)
111
Quanto à forma de enfrentamento, os resultados observados na entrevista final
mostraram que todas responderam que não tinham mais usado o gel e feito a
automedicação, pois não tiveram mais necessidade de usá-lo.
Eu acho que não precisa de medicação, porque atrapalha o
estômago da gente pode dar uma úlcera, uma gastrite, como
aconteceu na época da minha paralisia que o único recurso era a
medicação, então é só prestar bem atenção e fazer tudo certinho.
(Violeta)
5.4.4 Prevenção e Conscientização
A conscientização de como evitar as dores foi adquirida à medida que
discussões sobre sua importância iam surgindo e o amadurecimento de sua aprendizagem
ia interferindo em suas atitudes.
No início das oficinas, Girassol não conseguia compreender que as práticas
educativas serviriam tanto para quando tivesse com dor quanto sem dor. Ao final,
conseguiu compreender que a prevenção era o melhor remédio para evitá-la e um recurso
para não mais precisar de outras formas de enfrentamento:
(...) mas depois eu pensei a gente tem que fazer antes de sentir a
dor, porque depois que está com dor aí o jeito é tomar remédio aí
eu botei isso na minha cabeça que eu tenho que fazer pra não sentir
a dor e aí pronto de lá pra cá não senti mais nada. (Girassol)
(...) quando quer esquentar um pouquinho a coluna, eu paro,
porque também direto não dá para fazer as coisas e trabalhar e
fica coçando até parar. (Margarida)
A palavra “esquentar” significa popularmente estar doendo. Segundo Duarte
(2001), o indivíduo tenta dar a sua experiência pessoal uma qualidade que seja
socialmente conhecida, como, por exemplo, “uma pontada”, “uma fisgada”, “uma
ardência”. Segundo Ferreira (1994), à medida que este indivíduo dá nomes a estas
sensações confusas, ele as culturaliza, transformando o que era um fenômeno individual
112
em um fenômeno que pode ser reconhecido pelo grupo, tornando seu relato de fácil
compreensão.
Eu aprendi que a gente deve fazer as coisas tudo direito pra não
sentir problema de saúde. Isto que é maravilhoso. Não é que a
pessoa vai fazer errado pra fazer exame pra ficar bom (...).
(Hortênsia)
5.5 Relação da prática educativa com as políticas de saúde
Na visão das mulheres, a necessidade das ações educativas fazerem parte das
políticas de saúde aparece quando referem que estas ações poderão ajudar na melhoria
dos atendimentos nos postos de saúde, nas atitudes de prevenção e cura das pessoas de
baixa renda e carentes, pois, segundo elas, a classe social baixa influencia na maior
prevalência de dores nas costas, pois realiza maiores esforços na coluna pelo tipo de
trabalho que efetuam.
Eu acho que influi muito para ajuda para o povo, porque a maioria
do povo vive hoje tudo aleijado, principalmente os pobres que
trabalha no peso, o rico nem tanto, porque trabalha numa coisa
maneira, mas os pobres uns trabalham de pá, outro de enxada,
outros de faxina, é tudo coisa pesada. Aí tem que levar mesmo,
ainda tem essa coisa de reumatismo, esse povo aleijado, tudo torto,
aí eu acho que se levasse pra comunidade, pros postos, nestes
ambientes aí que necessita era muito bom, porque já tão indo tomar
medicação, se intoxicar, porque a maioria do povo vive intoxicada,
só tomando remédio, remédio e remédio. (Violeta)
Se todo mundo soubesse destas coisas desde o início, quando a
gente começasse a trabalhar não sentia tanta dor como a gente
sente. Nos postos de saúde é que devia mesmo ter este tipo de
atendimento. (Lírio)
Se considerarmos os elementos doutrinários do Sistema Único de Saúde,
veremos que o princípio da Integralidade estabelece a integração de ações de promoção de
113
saúde, a prevenção de doenças, o tratamento e a reabilitação, sendo, portanto, os mesmos
objetivos das práticas educativas.
Além disso, as vantagens das práticas educativas é que ensejam a interação dos
saberes do processo saúde/doença no momento em que se precisa abrir mão da escuta, do
acolhimento, do diálogo e da negociação para a produção do cuidado, princípios esses da
humanização, que, segundo a Política Nacional de Humanização, se entende por:
[...] valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo
de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores;
fomento da autonomia e do protagonismo desses sujeitos;
aumento do grau de co-responsabilidade na produção de saúde e
de sujeitos; estabelecimento de vínculos solidários e de
participação coletiva no processo de gestão; identificação das
necessidades de saúde; mudança nos modelos de atenção e gestão
dos processos de trabalho tendo como foco as necessidades dos
cidadãos e a produção de saúde; compromisso com a ambiência,
melhoria das condições de trabalho e de atendimento. (BRASIL,
2004).
Nos relatos finais das mulheres, percebemos que a satisfação quanto à
intervenção e ao cuidado dado à sua condição foram fatores que permitiram também na
melhora de sua dor:
Foi uma magia, eu não confiava que ia ficar boa. Mas, o que mais
chamou minha atenção foi à forma de como tratou a gente.
(Magnólia)
Segundo Vaitsman & Andrade (2005), a humanização nos serviços e
sistemas de saúde pode ser medida por meios operacionais como satisfação e
responsividade. A partir destes conceitos, as práticas educativas podem ajudar o usuário a
ter mais informação sobre opções de tratamento, devendo ele ser encorajado a questionar
e discutir com o profissional de saúde sobre seu processo de saúde/doença. Desta forma, o
usuário ficará mais satisfeito e sentir-se-á bem cuidado.
Desta mesma forma, no estudo realizado por Furukawa et al (1996), foi
114
sugerido, em razão da alta incidência de problemas na coluna, principalmente em idosos,
o uso de manuais explicativos como tratamento preventivo para serem distribuídos na
região, o que demonstrou a necessidade deste enfoque nas unidades básicas de saúde.
Assim, as práticas educativas podem ser incorporadas às políticas de saúde
para as mulheres, uma vez que estas são trabalhadoras, donas de casa e se encontram na
fase do climatério e do envelhecimento, indicadores estes que facilitam o surgimento e o
agravo da dor nas costas e por isso merecem atenção básica de saúde.
Já vimos que nas políticas de saúde da mulher de Fortaleza compõem metas e
estratégias que reconhecem os agravos do processo de saúde doença, incluindo nos
estudos de ergonomia a adequação dos instrumentos de trabalho que favoreçam a
realização saudável das tarefas domésticas, além de enfocar a implantação de serviços
especializados na atenção à mulher no climatério e menopausa (FORTALEZA, 2005).
115
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta das ações educativas, com intervenção para promoção da saúde em
mulheres no climatério e portadoras de dores na coluna vertebral, constou de uma
orientação quanto ao autocuidado à prevenção da má postura e de práticas específicas que
favoreceram a melhoria da qualidade de vida e da saúde dessas mulheres.
O ensejo de utilizar como instrumento, para coleta de dados, as oficinas
educativas, as gravações em vídeo e a observação participante, proporcionou-nos a
reflexão com detalhes sobre o processo saúde-doença vivenciado pelas mulheres e
alcançar as expectativas quanto aos objetivos do estudo. Esse processo nos ensejou ver,
ouvir, sentir e agir, possibilitando maior aproximação com as participantes, assim como
comprovar a viabilidade e a confiabilidade dos dados. Foram momentos em que
adentramos a subjetividade das mulheres e isso nos possibilitou melhor compreensão das
situações vivenciadas durante a pesquisa.
Constatamos que, para as mulheres, as ações educativas realizadas nas
oficinas, tanto nas orientações de autocuidado quanto nos exercícios específicos para dor,
deram ensejo a maior aprendizado e contribuição para a adesão das práticas. Outro fato
importante foi a entrega do manual, como apoio instrucional, o qual facilitou o
aprendizado das mulheres, pois, na opinião destas, a publicação representou motivo de
ajuda na adesão e continuidade do autocuidado e, sobretudo, na indicação da forma
correta dos exercícios.
Os achados deste estudo sustentam a teoria de que não adianta resolver apenas
a queixa de dores na coluna, por intermédio do modelo biomédico, e fazer com que as
mulheres retornem às suas atividades. É preciso rever todo o quadro sociocultural,
econômico, ambiental e, se possível, tentar mudar situações e práticas que possam
impedir a recuperação ou o controle da recidiva do quadro álgico, mediante ajuda
educacional.
116
Identificamos, nos depoimentos e nas observações, a noção de que a condição
de vida das mulheres proporcionava ambientes inadequados, estilos de vida
insatisfatórios, alimentação incorreta e dificuldades de acesso à assistência à saúde, sendo,
assim, elementos significativos no agravo da dor. Os hábitos errados e os costumes
culturais também foram considerados fatores que influenciaram na persistência da
sintomatologia.
Ressaltamos, ainda, que as atitudes e comportamentos destas mulheres, diante
as circunstâncias, variaram de acordo com suas crenças, condições sociais e o nível de
conhecimento em relação à sua patologia, pois, quanto maior o conhecimento a respeito
de sua dor, mais formas de enfretamento eram apreendidas e postas em prática
cotidianamente.
A análise reflexiva das percepções reveladas pelas participantes em relação às
práticas educativas para o autocuidado tornou evidente a relevância das ações educativas
para minimizar ou até mesmo curar a dor. Estas ações proporcionaram melhora do bem-
estar físico, social e mental e potencializaram a mobilidade para retorno às atividades
funcionais da vida diária, mantendo a saúde sem uso de medicação. Esses achados
também foram corroborados por Luz (2003), ao acrescentar que não basta prevenir
doenças ou medicar as populações, mas é necessário, antes assegurar uma qualidade de
vida para que possa haver uma população efetivamente sadia.
A conscientização sobre o autocuidado, o aprendizado das causas e do que
fazer quando tivessem dores nas costas, possibilitaram que as mulheres assumissem a
própria cura, oferecendo mais condições para a tomada de decisões, promovendo, assim,
mudanças comportamentais, melhora da postura em suas atividades e nos hábitos do
cotidiano. Percebemos que, se não houver mudança de hábito, as dores poderão continuar
ou ter recidivas mais freqüentes.
Assim, o tão almejado caminho da melhora da dor surgiu para estas mulheres
como um processo de libertação, de autonomia, satisfação e fortalecimento. À medida
que as dores diminuíram ou eram eliminadas, conseguiram retornar às atividades
domésticas, ao trabalho, e sentiram-se novamente produtivas.
117
Não podemos deixar de mencionar o papel importante que as mulheres
tiveram em relação à transferência dos conhecimentos adquiridos nas oficinas. Todas
disseram que repassaram o conhecimento para familiares ou amigos que identificavam
poderem se beneficiar com tal prática.
Na interpretação dos dados, detectamos que dificuldades apresentadas no
entendimento das explicações quanto ao autocuidado ou na realização dos exercícios,
assim como a conveniência e a facilidade da realização dos mesmos, podem ser
consideradas critérios para escolha dos cuidados a pôr em prática.
As condições socioculturais em que viviam, o trabalho em excesso, o cansaço,
a falta de tempo, o grau de responsabilidades, outras condições patológicas associadas à
dor na coluna, como a fadiga muscular e problemas musculoesqueléticos ocasionados
pela diminuição hormonal e idade foram considerados barreiras nas condições de
continuidade e ou recuperação da saúde.
As mulheres revelaram que, ao tentarem transferir o conhecimento para as
pessoas de seu convívio, os baixos níveis de conscientização, o sexo masculino, a
preguiça, a falta de motivação, o desinteresse, as condições impostas pelo modelo
biomédico, a facilidade quanto à automedicação, a incerteza do diagnóstico e a descrença
de que o autocuidado poderia prevenir ou melhorar as dores nas costas foram barreiras
para que ações educativas fossem realizadas.
Este estudo possibilitou o repensamento de que orientações sistemáticas e
coordenadas são de fundamental importância para que possamos minimizar o uso
excessivo de medicamento para a dor, os gastos financeiros com ações terapêuticas e a
necessidade de sua aplicação nos serviços de saúde que atendem a maioria das pessoas
desfavorecidas de recursos sociais, econômicos, educacionais, dentre outros, ou seja, na
Saúde Coletiva/ Saúde Pública, situando as pessoas como co-participantes do seu cuidado
com a saúde.
Não é do nosso conhecimento a inserção deste tipo de assistência nas políticas
públicas de saúde, mas observa-se que alguns profissionais desenvolvem ações educativas
voluntariamente no Programa Saúde da Família. Portanto, sugerimos algumas diretrizes
118
para inserção e aplicação desta assistência nas Políticas de Saúde para a Mulher,
programas de Saúde da Família e no Sistema Único de Saúde, para alcançarmos melhores
estratégias de atendimento, resolução de problemas ou disponibilidade de mais recursos
tecnológicos.
119
7 RECOMENDAÇÕES
Assim, as oficinas educativas favoreceram a participação, o diálogo, a
liberdade de expressão e despertaram para maior consciência e controle sobre a
assistência terapêutica e o cuidado com a saúde. Na prática, acredita-se que a intervenção
educativa em saúde solidifica o conceito de autonomia e determinação, principalmente
para o controle de saúde dos pacientes com agravos crônicos.
Mediante as informações obtidas, observamos que a inclusão da Educação em
Saúde na prevenção de agravos, promoção e tratamento de saúde é uma tarefa primordial
dos profissionais de saúde, pois, em situações de dor, as pessoas experimentam uma série
de dúvidas, medos e preconceitos que produzem insegurança e resistência para adoção de
medidas inovadoras e necessárias.
Segundo Holanda (2004), o educador será um facilitador, subsidiando,
apoiando, instrumentalizando, acompanhando e estimulando o processo para organização
ambiental e familiar, levando os participantes à conscientização das mudanças de
comportamento. A busca da transformação do comportamento mediante o fortalecimento
do cuidar proporcionará melhoria da qualidade de vida.
Para que essas ações se concretizem, no âmbito da atenção básica,
recomendamos a Educação em Saúde aliada aos princípios e diretrizes traçados pela
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (BRASIL, 2004), as quais
poderiam ser implantadas de acordo com as sugestões que seguem:
- Campanhas de conscientização sobre a importância de que ações educativas
em saúde podem minimizar e até mesmo tratar a dor. As ações poderão ser
realizadas em grupo, buscando maior número de pessoas, maior
disseminação de conhecimentos e, portanto, poderá ser aderida como
intervenções mais adequadas acessíveis e de baixo custo.
- Disponibilidade destas ações para a demanda dos serviços e nos níveis
primário, secundário e terciário de assistência à saúde, executadas de
forma articulada com setores governamentais e não governamentais.
120
- Disponibilidade de insumos, equipamentos e materiais educativos.
- Associar as ações terapêuticas e preventivas às educativas para que
ofereçam à clientela resultados mais eficazes, pois, quando o usuário
compreende o tratamento e seu objetivo, este poderá participar
efetivamente na sua continuidade e nas mudanças de atitude.
- Capacitação técnica dos profissionais de saúde para uso das práticas
educativas voltadas à comunidade, reconhecendo a importância da
continuidade e do engajamento da pessoa em relação ao tratamento, para
proporcionar resultados mais rápidos e efetivos.
- A inserção do profissional fisioterapeuta não só no plano da reabilitação,
mas também na atenção primária ou no Programa de Saúde da Família,
para que possam transmitir seus conhecimentos à sociedade quanto à
prevenção de doenças, agravos de dores e deficiências físicas.
- As ações educativas devem nortear-se pela perspectiva do conhecimento
da realidade do usuário, considerando fatores culturais, sociais,
individuais, experiências anteriores e expectativas quanto à assistência e à
saúde; considerar a multiplicidade de significados que intercalam as
práticas biomédicas, alternativas e populares.
- Estabelecimento de mecanismos de acompanhamento da continuidade no
autocuidado, monitoramento das ações e avaliação do impacto sobre o
problema tratado para redefinição de estratégias.
- Trabalhar em conjunto com os princípios da humanização e os conceitos
interdisciplinar, multidisciplinar e multiprofissional.
Diante do exposto, estamos sugerindo que na atenção básica à saúde sejam
aplicados modelos de práticas educativas por fisioterapeutas seguindo os parâmetros de:
1. Avaliação diagnóstica – com o objetivo de realizar o acolhimento e levantar as
necessidades fundamentais afetadas (movimento corporal, condição física, emocional,
cultural e educacional); 2. Plano de ação – priorizar o problema e intervir com práticas
educativas (orientações, exercícios e trocas de experiências); 3. Acompanhamento
sistemático - monitoramento das atividades práticas e teóricas a cada encontro realizado
121
anteriormente e rever estratégias de acompanhamento; 4. Avaliação progressiva –
controle dos problemas, assegurar a cura ou continuidade das ações educativas e rever
estratégias para manutenção das estratégias educativas e alta fisioterápica.
Insinuamos que futuras pesquisas abordem o tema com diferentes
trabalhadores e nas empresas, podendo também intervir juntamente com a ginástica
laboral; expandir as pesquisas para escolas, nas quais essas ações educativas em
estudantes poderão prevenir futuras lesões e distúrbios musculoesqueléticos, e nos
serviços de atenção básica à saúde e nos hospitais.
Propomos também que materiais de apoio à aprendizagem, como folhetos,
manuais, sejam divulgados e testados quanto à sua validade e adequação como
instrumentos tecnológicos para a saúde. Em nosso estudo, a partir dos exercícios
escolhidos e mais realizados pelas mulheres, iremos elaborar o manual para facilitar a
identificação de outros que o poderão utilizar e reforçar a continuidade dos cuidados e
manutenção da saúde.
Esperamos que este estudo possa ensejar transformações não só nos
profissionais de saúde, como também na sociedade em geral, pois necessitamos
compreender que a cura não só é medicamentosa ou feita por técnicas específicas, mas a
educação e a conscientização sobre a situação vivenciada permitem que os sofredores de
dores na coluna possam ser sujeitos de seu próprio aprendizado, da identificação de suas
problemáticas e da análise de soluções eficientes para a diminuição da dor.
122
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Janeiro, 10(4): 497-504, oct/dec, 1994.
VAITSMAN, J. & ANDRADE, G. R. B. de. Satisfação e responsividade: formas de
medir a qualidade e a humanização da assistência à saúde. Ciênc. saúde coletiva, jul./set.
2005, vol.10, no.3, p.599-613.
VASCONCELOS, E.M. A saúde nas palavras e nos gestos - reflexões da rede educação
popular e saúde. São Paulo: Hucitec, 2001.
VERDERI, E. Educação postural e qualidade de vida. Disponível em:
<http:www.cdof.com.br> Acesso em: 08/12/02.
128
APÊNDICES
129
APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Eu, Giselle Notini Arcanjo, sou aluna do Mestrado em Educação em Saúde da Universidade
de Fortaleza e estou desenvolvendo uma pesquisa intitulada “Avaliação de práticas educativas em
mulheres com dores nas costas
sob a orientação da Prof.a Dr.a Raimunda M. da Silva. Com esta
pesquisa pretendemos analisar práticas educativas para o autocuidado e sua repercussão em mulheres no
climatério com dores na coluna vertebral. Os dados serão coletados por intermédio de informações
fornecidas pela pessoa durante as entrevistas, observações e anotações por mim realizadas além de
filmagens com gravação de vídeo e fotos. Sua participação não é obrigatória e a qualquer momento você
poderá desistir e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum dano, riscos ou prejuízos em sua
relação comigo e com o serviço. Esclareço que não haverá ônus de nenhuma das partes.
Sua participação nesta pesquisa consistirá em realizar ações educativas e preferencialmente,
você não deverá estar tomando nenhuma medicação ou realizar outras terapias para a dor específica durante
a fase da pesquisa. Os benefícios referentes à sua participação serão da provável melhora da dor e do
aprendizado para prevenção de futuras dores. A sua participação proporciona conscientização educativa
para prevenções de dor lombar, favorecendo, assim, a melhoria da qualidade de vida e de saúde.
As informações obtidas nesta pesquisa são confidencias e é assegurado o sigilo sobre sua
participação. Os dados não serão divulgados de forma a possibilitar sua identificação. Os materiais colhidos
referentes a você serão guardados sigilosamente durante 5 anos.
Você receberá uma cópia deste termo, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua
participação, agora ou a qualquer momento.
Consentimento Pós-Esclarecimento
Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa e tudo
aquilo que me foi explicado e concordo em participar desta pesquisa.
_______________________________________
Sujeito da pesquisa
______________________________________
Giselle Notini Arcanjo (pesquisadora)
Mestrado em Educação em Saúde – UNIFOR
Fone: 3477.3280
130
APÊNDICE B – Entrevista Inicial
Nome __________________________________________
Idade ______________________
Fone _________________________
Ocupação __________________________________
Renda familiar ____________________
Grau de escolaridade ( ) Analfabeto
( ) Ensino fundamental
( ) Ensino médio
( ) Ensino superior
Data: _________________________
1- Você sente:
Irregularidade menstrual ( )
Ondas de calor freqüentes (fogachos) ( )
Sudorese noturna ( )
Sensibilidade vaginal, ressecamento ( )
Distúrbios urinários ( )
Pele seca ( )
Perda da memória e concentração ( )
Ansiedade ( )
Alterações do humor ( )
Diminuição da libido ( )
Irritabilidade ( )
Cansaço e depressão ( )
Fadiga ( )
Você faz TRH ( ) S ( ) N
Há quanto tempo tem estes sintomas? ______________
2 – Há quanto tempo você sente dor de coluna? ______________________
3 – O que acha que causa sua dor?
4 - Você acha que seu corpo, sua postura mudou depois da dor nas costas?
5 - O que faz para melhorar sua dor?
6 – Em 1ano quantas vezes fez tratamento para dor nas costas?
7 – Se você toma remédio para a dor nas costas, em que freqüência?
8 – Você faz ou deixou de fazer exercício físico?
9 – Quais os movimentos que você faz que agravam a dor?
10 – A dor limitou ou interferiu sua vida em alguma coisa?
11 – O que você espera dos tratamentos para amenizar ou eliminar sua dor?
131
APÊNDICE C – Entrevista Final
A) Logo após o último encontro das oficinas
Data: ______________
1 – O que melhorou depois da prática educativa?
2 - Se ainda sente dor:
a) O que acha que ainda causa sua dor?
b) O que faz para melhorar sua dor? Que conduta utilizou para amenizar ou eliminar sua
dor
3 – Está realizando algum exercício/cuidados ou algo que aprendeu nos encontros? Qual?
Se não por quê?
5 – Se você está tomando medicamento para a dor na coluna, em que freqüência?
6 – Você está fazendo ou deixou de fazer exercício físico?
7 – O que você achou da prática educativa? Tem alguma sugestão?
B) Entrevista depois de 1 mês do término do último encontro das oficinas
Data: _______________
1 – Como é que você se sente em relação a sua dor na coluna? A sua dor melhorou ou
piorou?
2 – Se não sente mais dor: O que você acha que contribuiu para melhora?
3 - Se ainda sente dor:
a) O que acha que ainda causa sua dor?
b) O que está fazendo para melhorar sua dor? Que condutas utilizou para amenizar ou
eliminar sua dor
3 – Está realizando algum exercício/cuidados ou algo que aprendeu nos encontros? Qual?
Se não por quê?
5 – Se você está tomando medicamento para a dor na coluna, em que freqüência?
6 – Você está fazendo ou deixou de fazer exercício físico?
C) Entrevista depois de 2 meses do término do último encontro das oficinas
Data: ___________________
1 – Como é que você se sente em relação a sua dor na coluna? A sua dor melhorou ou
piorou?
2 – Se não sente mais dor: O que você acha que contribuiu para melhora?
132
3 - Se ainda sente dor:
a) O que acha que ainda causa sua dor?
b) O que está fazendo para melhorar sua dor? Que condutas utilizou para amenizar ou
eliminar sua dor?
3 – Está realizando algum exercício/cuidados ou algo que aprendeu nos encontros? Qual?
Se não por quê?
5 – Se você está tomando medicamento para a dor na coluna, em que freqüência?
6 – Você está fazendo ou deixou de fazer exercício físico?
133
APÊNDICE D - Instrumentos para Acompanhamento Individual das Práticas
Encontro 01
Mulher (Nome) Mulher (Nome) Mulher (Nome) Mulher (Nome) Mulher (Nome)
(Ação educativa)
(Reações,
percepções
diante das
práticas,
dificuldades
apresentadas)
AÇÕES
134
APÊNDICE D - Instrumentos para Acompanhamento Individual das Práticas (Continuação)
Encontro 02
Mulher (Nome) Mulher (Nome) Mulher (Nome) Mulher (Nome) Mulher (Nome)
RELATOS DA DOR OU
DESCONFORTO
(Melhora ou piora
da dor/ qual
exercício do que
mais gostou)
(Ação educativa)
(Reações,
percepções diante
das práticas,
dificuldades
apresentadas)
AÇÕES
135
_____________________________________________________________________
A668a Arcanjo, Giselle Notini.
Avaliação de práticas educativas em mulheres com dores nas costas /
Giselle Notini Arcanjo. - 2005.
134 f.
Cópia de computador.
Dissertação (mestrado) – Universidade de Fortaleza, 2005.
“Orientação Profa. Dra. Raimunda Magalhães da Silva”.
1. Mulheres – Dor nas costas 2. Educação em saúde I. Título.
CDU 616.711-055.2:616.8-009.7
_____________________________________________________________________
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