Download PDF
ads:
1
O DIVÃ VIRTUAL E A LINGUAGEM DO ATENDIMENTO
PSICANALÍTICO ON-LINE NO CIBERESPAÇO
PAULO CRISTOVÃO DA SILVA OLIVEIRA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE
DARCY RIBEIRO - UENF
CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ
FEVEREIRO 2009
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
PAULO CRISTOVÃO DA SILVA OLIVEIRA
O DIVÃ VIRTUAL E A LINGUAGEM DO ATENDIMENTO
PSICANALÍTICO ON-LINE NO CIBERESPAÇO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Cognição e Linguagem do
Centro de Ciências do Homem da Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro,
como requisito parcial para obtenção do Grau
de Mestre em Cognição e Linguagem.
Orientador: Prof. Dsc. Carlos Henrique Medeiros
de Souza
CAMPOS DOS GOYTACAZES
FEVEREIRO 2009
ads:
3
FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pela Biblioteca do CCH / UENF
Oliveira, Paulo Cristovão da Silva.
O divã virtual e a linguagem do atendimento psicanalítico on-line no
ciberespaço / Paulo Cristovão da Silva Oliveira -- Campos dos Goytacazes,
RJ, 2009.
121 f.
Orientador: Carlos Henrique Medeiros de Souza
Dissertação (Mestrado em Cognição e Linguagem) Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Centro de Ciências do
Homem, 2009.
Bibliografia: f. 112 – 121
1. Psicanálise. 2. Psicologia. 3. Linguagem. 4. Comunicação Digital. 5.
Internet. I. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.
Centro de Ciências do Homem. II. Título.
CDD –
303.4833
048
003/2009
4
O DIVÃ VIRTUAL E A LINGUAGEM DO ATENDIMENTO
PSICANALÍTICO ON-LINE NO CIBERESPAÇO
PAULO CRISTOVÃO DA SILVA OLIVEIRA
“Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Cognição e Linguagem do
Centro de Ciências do Homem da Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro,
como requisito parcial para obtenção do Grau
de Mestre em Cognição e Linguagem”
Aprovada em: 11/02/2009
Comissão Examinadora:
Prof. Dsc. Carlos Roberto Pires Campos
Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo – CEFET - ES
Prof. Dsc. Mário Galvão de Queirós Filho
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF
Prof. Dsc. Paulo Arthur Buchvitz - ISECENSA
Institutos Superiores de Ensino do CENSA de Campos dos Goytacazes - RJ
_______________________________________________________________
Prof. Dsc. Carlos Henrique Medeiros de Souza
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF
Orientador
5
Caminho e caminho ao encontro do meu destino
fugidio, e quem sabe, um dia, talvez, eu o
encontre nas veredas de minha vida.
Paulo Cristovão da Silva Oliveira
6
HOMENAGENS
Aos meus pais, Nilton (in memorian) e Maria
Elma, por terem me apontado um caminho para
eu ser quem sou. As minhas irmãs Silvia
Cristina e Clicia por serem as irmãs
maravilhosas que são. As minhas Tias Hélia e
Delma (in memorian). A todos meus amigos e
familiares sempre presentes em minha vida.
7
AGRADECIMENTOS
Este trabalho contou com a ajuda e colaboração de várias pessoas. Externo aqui o meu
profundo carinho por todos.
Especialmente ao meu orientador Prof. Dsc. Carlos Henrique Medeiros de Souza, por sua
orientação, parceria e investimento no tema ao qual me propus pesquisar. Ao Prof. Dsc.
Sergio Arruda e a Prof. Dsc. Vera Deps pelas contribuições através das disciplinas
ministradas.
Ao Prof. Dsc. Dalton José Alves pelas contribuições na banca de qualificação e aos
Professores Dsc. que contribuíram com sua participação na banca de defesa no mestrado
A Universidade Estadual do Norte Fluminense, secretários e funcionários do programa de
pós-graduação de Cognição e Linguagem em especial Ana Paula Caputo, Silvana Freitas,
Gabriel Barreto e Luiz Alberto da Graça.
Aos companheiros do Corpo Freudiano Escola de Psicanálise: Valesca do Rosário
Campista, Carmem Aguiar Cruz, Elizabeth Chacur Juliboni, Eleonora Chacur Naked,
Denise Maciel Gondim, Germano Quintanilha Costa por tudo que compartilharam comigo.
Aos amigos do curso de mestrado Conceição Campinho pela ajuda e contribuição na
organização dos trabalhos de apresentação de minha qualificação e defesa de dissertação;
Fernanda Castro, Rosiane Ribeiro, Rodrigo Montezano e Daniel Barreto por todos bons
momentos vividos e compartilhados.
Ao meu primo e amigo Erivelton Almeida, a amiga Lina Fregonassi pelas revisões
ortográficas e semânticas e as amigas Aliete Lopes e Rose Nogueira pelas traduções em
Francês e Inglês.
Aos amigos e funcionários da Fundão Municipal da Infância e Juventude, especialmente
Valéria Palhares, Patrícia Barreto, Nilza Gama, Teresa Melo e Carlos Magno Tavares.
Aos profissionais psicanalistas e psicoterapeutas que colaboraram com a minha pesquisa e
um agradecimento especial a: Fatima Siqueira Pessanha,Carmem Aguiar Cruz,Valesca do
Rosário Campista,Luciano Alves de Freitas, Eleonora Chacur Naked, Rosemary dos Santos
Peixoto, Maria Fernanda Teixeira Herig, Elizabeth Chacur Juliboni, Mario Bruno Hingst
Manzolillo, Ana Paula Bessa Barbosa,Sheila da Silva Chagas, Mariangela Lopes Dias,
Sandra da Silva Pessanha, Marcia Sant’Ana Aragão, Nathalia Costa Franco ao psicólogo e
psicoterapeuta Marcio Roberto Regis, e a toda minha família e amigos que me deram força
para a elaboração deste trabalho.
Se alguém ficou esquecido peço desculpas.
8
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo analisar como a influência da Internet mudou a
forma de pensar o atendimento psicanalítico/psicoterapêutico, que apouco tempo
tinha atenção voltada aos consultórios em um ambiente concreto. Este trabalho
também procurou mostrar como um psicanalista se posiciona e intervém frente à queixa
de seu analisante e de que forma a relação analista/analisante se constitui. Para tanto,
foi necessário fazer um breve percurso de como a psicologia se tornou uma ciência
preocupada com as questões humanas e, posteriormente, com o advento da
psicanálise, como se deu a descoberta do inconsciente estruturado como linguagem.
Foram abordados os vários tipos de linguagem, os conceitos de virtual e ciberespaço, o
que é psicanálise e psicoterapia, as possibilidades destas ocorrerem num ambiente on-
line mediado pela Internet e de que forma este atendimento o correria diante das
especificidades da psicanálise e das psicoterapias. Como referencial teórico foram
utilizadas as contribuições de Freud, Lacan, Pierre Lévy e também de outros
profissionais com posicionamentos diversos em relação ao atendimento
psicanalítico/psicoterapêutico no ciberespaço.
PALAVRAS CHAVE: Psicologia – Linguagem - Novas Tecnologias – Psicanálise -
.Ambiente on-line.
9
ABSTRACT
This task wants to analise how the Internet influence changed the way of thinking about
the psychoanalytic/psychotherapeutic attendance that newly it had its attention on the
offices itself. It also tried to show how the psychoanalyst position and interfere when
they face the patient´s complaint and how the relation psychoanalyst/patient is.
Therefore, it was necessary to remember how the psychoanalysis became a human
questions preoccupied science end, after that, with the psychoanalysis arrival, how the
unconscious was disclosure as a language. It was approached kind of languages such
as virtual and cyberspace concept, what psychoanalysis and psychotherapy are and the
possibilities of their occurrence in an ambience on-line mediated by the Internet and how
the attendance would happen facing the psychoanalysis and psychotherapies features.
Freud, Lacan, Pierre Lévy and other professionals contribution were used by theoretical
references with several positions related to Psychoanalytic/psychotherapist in
cyberspace.
Key words: Psychology - Language – New Technologies – Psychoanalysis – On-line
ambience
10
RÉSUMÉ
Ce travail a pour objectif d’analyser comment l’influence d’Internet a change la manière
de penser la pratique psychanalitique/psycothérapeutique, que jusqu’a peu, tournait
autour des cabinet conventionnels. Aussi, ce travail chercher à montrer comment um
psycanaliste se positionne face à plainte de l’analysant et de quelle forme la relation
analyste/analysant se constitue. À cette fin, Il a été nécessaire de tracer um bref
parcours sur comment la psychologie est devenue une science tournée vers les
questions humaines et, plus tard, avex l’avènement de la psychanalyse, sur comment a
eu lieu la découverte de l’inconscient structu comme langage. Plusieurs types de
langages ont été abordes, les concepts de virtuel et de cyberespace, ce qu’est la
psychanalyse, le concept de transfer, les différences entre psychanalyse et
psychothérapie, les possibilites qu’ elles ont de se produire dans une ambience on-line,
par intermédiaire d’Internet et de quelle manierè cette pratique pourrait se faire devant
les spécificités de la psychanalyse et des psychothérapies. Comme référenciel
théorique ont été employées les contributions de Freud, Lacan, Pierre vy et aussi
d’autres professionnels avex des opinions diverses par rapport à la pratique
psychanalytique/psychothérapeutique dans Le cyberespace.
MOT CLÉS: Psychologie Langage - Nouvelles Technologies Psychanalyse -
Ambiance on-line.
11
ÍNDICE DE SIGLAS
CFP – Conselho Federal de Psicologia.......................................................................
15
WWW World Wide Web............................................................................................
16
CRP – Conselho Federal de Psicologia.....................................................................
17
NTICs – Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação ................................
17
MIT – Instituto Tecnológico de Massachusetts............................................................
67
CHAT – Sala de Bate-Papo .......................................................................................
86
ICQ - "I seek you". É um programa de mensagens instantâneas que surgiu antes
do MSN. Serve para enviar mensagens instantâneas para pessoas..........................
86
CNS – Conselho Nacional de Saúde .........................................................................
87
UNIPSICO – Cooperativa de Psicológos fundada em São Paulo em 13/11/1987 por
psicólogos com o objetivo de prestar assistência psicológica para um maior número
de usuários a custo de cooperativa.............................................................................
87
SPOB – Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil .................................................
89
ABP – Associação Brasileira de Psicanálise ..............................................................
89
IPA - International Psychoanalisys Association ..........................................................
89
CFEP – Corpo Freudiano Escola de Psicanálise.........................................................
89
ELF – Escola Letra Freudiana...........................
..........................................................
89
EBP – Escola Brasileira de Psicanálise.......................................................................
89
PL – Práxis Lacaniana ................................................................................................
89
FCCL – Formações Clínicas do Campo Lacaniano ....................................................
89
ATMC – Atendimento Mediado por Computado .........................................................
91
SBP – Sociedade Brasileira de Psicanálise................................................................. 91
12
SUMÁRIO
1
. INTRODUÇÃO
……………………………………………………………...
14
2. UM RECORTE HISTÓRICO DA PSICOLOGIA
.......................................
2.1. Os cosmólogos e o surgimento do universo e do ser no mundo ......
2.2. A filosofia a caminho da descoberta da psicologia ...........................
2.3. O pensamento cartesiano: o dualismo mente - corpo ......................
2.4. O nascimento da psicologia científica ...............................................
20
20
25
30
33
3. LINGUAGEM: A TRAJETÓRIA DA INSCRI
ÇÃO DOS SUJEITOS
........
3.1. Língua e linguagem: uma tentativa de explicação ............................
3.2. Os estudos da língua e da linguagem ...............................................
3.3. O homem primitivo e o domínio da linguagem ..................................
3.4. O signo, o significado, o significante e a linguagem: conversas com
Lacan e Saussure ....................................................................................
40
41
43
45
48
4. LINGUAGEM E AS NOVAS TECNO
LOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA
COMUNICAÇÃO ..........................................................................................
4.1. Pierce e Saussure: discutindo a linguagem ......................................
4.2. Linguagem e Internet ........................................................................
4.3. O conceito do que é virtual ...............................................................
4.4. Linguagem de computador X linguagem de programação ...............
55
56
59
63
66
13
5. UMA ABORDAGEM HISTÓRICA DA PSICANÁLISE
............................
5.1. O conceito de transferência na psicanálise ......................................
5.2. A forma como trabalha um psicanalista ............................................
5.3. Algumas reflexões sobre psicanálise e psicoterapia ........................
69
72
77
80
6. REFLEXÕES SOBRE PSICANÁLISE E PSICOTERAPIA
ON-LINE
NO
CIBERESPAÇO ...........................................................................................
6.1. O espaço cibernético ........................................................................
6.2. Alguns posicionamentos de psicanalistas e psicoterapeutas sobre
o atendimento on-line no ciberespaço .............................................
86
92
94
7. CONCLUSÕES
........................................................................................
104
8. BIBLIOGRAFIA
......................................................................................
112
14
1. INTRODUÇÃO
O homem sempre buscou e tem buscado novas formas de amenizar suas dores
de existir, advinda do eterno vazio existente, em todos nós, que nos deixa sua marca.
Existem várias técnicas para lidar com essas dores e com este eterno vazio, incluindo-
se, aí, os vários tipos de crenças, rituais nos mais diversos atos e cultos religiosos,
entre outras práticas, que excluem o atendimento psicológico, como uma forma de
entender e amenizar os conflitos humanos.
Freud,em 1930, no seu famoso trabalho, “O Mal-estar na Civilização”, denunciou
a difícil relação do homem consigo mesmo e com o seu semelhante, e convocou os
psicanalistas a se ocuparem do mal-estar do homem no mundo civilizado e a se
interessarem pela subjetividade contemporânea, e por seu psiquismo.
O homem é um ser que sofre, que adoece psiquicamente e tenta, de alguma
forma, a livrar-se desse sofrimento, por isso, busca a “felicidade” de várias formas para
encontrar o “paraíso psíquico” e livrar-se das angústias cotidianas que levam à
formação dos sintomas, que, dependendo das condições de análise pode cristalizá-lo e
com isso manter o adoecimento pquico, remetendo o analisante à manutenção de seu
sintoma.
Neste cenário de busca para a felicidade humana”, alguns psicólogos,
acompanhando os avanços tecnológicos, criaram o atendimento psicológico
(psicanalítico e psicoterápico) on-line, virtual ou cibernético, como um instrumento para
15
tratar o adoecimento psíquico, além de, aproveitar o acesso que a Internet propicia aos
mais diversificados tipos de usuários.
Apesar de o Conselho Federal de Psicologia (CFP), conforme a Resolução
012/2005, que regulamenta o atendimento psicoterapêutico e outros serviços
psicológicos mediados por computador, não reconhecer a eficácia da prática, defende
que ela pode ser utilizada em caráter experimental desde que não tenha função de
psicoterapia. Por essa razão, esta pesquisa torna-se relevante na medida em que,
busca estudar um tipo de atendimento que poderá acarretar conseqüências para as
vidas dos sujeitos.
Prado (2002) argumenta que a referida Resolução e a falta de pesquisas sobre o
atendimento mediado pela Internet não impediram que alguns psicólogos passassem a
lançar mão de tal modalidade de atendimento via Internet, o qual apresenta tendência
de crescimento com o passar do tempo, razão por que não pode ser ignorado.
Essa questão é atual, e ainda se faz necessário verificar cientificamente se
possibilidades de se construírem subsídios teórico-científicos quanto à eficácia do
atendimento psicanalítico on-line, visto que a psicanálise de acordo com Lacan (1985) é
baseada em conceitos fundamentais, (Inconsciente, Pulsão, Repetição e a
Transferência a qual se baseará este trabalho) os quais numa análise psicanalítica on-
line possivelmente pode estar excluída. Ressalta-se que numa experiência analítica a
transferência é de fundamental importância no estabelecimento do nculo
analista/analisante para que uma análise obtenha sucesso.
Nas décadas finisseculares do século XX, várias discussões ganham espaço
com o objetivo de pôr em reflexão a validade do atendimento psicoterápico, e
16
psicanalítico on-line, os quais que percorrem vários sites na Internet a rede pública
composta por computadores do mundo todo, compartilhando enormes quantidades de
informações das mais diversas formas, hospedada num canto da internet chamado
WWW ou World Wide Web onde, na maioria das ginas, são oferecidos diversos
recursos, incluindo-se os psicológicos (psicanalíticos e psicoterapêuticos) aos mais
variados tipos de clientela, com o intuito de resolver, solucionar, amenizar questões da
vida afetiva dos sujeitos, até então limitados aos consultórios convencionais de
psicanalistas e psicoterapeutas.
Por essa razão, considerando-se os avanços tecnológicos, principalmente no
mundo digital, propõe-se uma reflexão sobre a possibilidade de se articular a linguagem
da psicanálise tradicional à linguagem na modalidade on-line via Internet.
Os psicanalistas e psicoterapeutas on-line, mediados pela Internet têm, segundo
seus discursos, procurado oferecer esses recursos como uma forma de facilitar a vida
daqueles que desejam “curar-se”, apesar de admitirem, que alguns casos devem ser
tratados em consultórios convencionais, pois o atendimento psicoterápico on-line para
alguns casos não tem suporte que sustente um tratamento. Vale ressaltar que uma
diferença entre psicanálise e psicoterapia, a qual será descrita neste trabalho.
Atualmente fazer um atendimento psicoterápico ou psicanalítico on-line é fácil,
basta procurar em qualquer site de busca na Internet, que serão oferecidos vários
serviços psicológicos, incluindo-se os psicanalíticos, como se fossem lojas virtuais que
disponibilizam seus produtos aos mais variados tipos de consumidores.
Segundo Prado (2002), a Internet configurava-se como uma oportunidade para
alguns psicólogos oferecerem seus conhecimentos aos consumidores que procuravam
17
aconselhamento gratuito. Isto propiciou o início da terapia via Internet, como atividade
profissional, mesmo não havendo um respaldo ético e científico por parte dos
Conselhos Regionais de Psicologia (CRP) e CFP, os quais se pronunciaram contra
esse tipo de serviço.
Em razão desse conjunto de discussões, a pesquisa tomou como problema o
seguinte questionamento: em que medida é possível o atendimento psicanalítico no
ambiente on-line, virtual ou cibernético, mantendo o mesmo conceito de transferência
postulado pela psicanálise?
A hipótese: com o desenvolvimento das sociedades e com os avanços das
tecnologias e das formas de comunicação, muitas atividades profissionais poderão ser
desenvolvidas neste novo ambiente que está sendo constituído. Para tal é importante
observar se o conceito de transferência em psicanálise pode ser inserido no ambiente
on-line, virtual, cibernético.
Os objetivos desse estudo são: investigar sobre o conceito de linguagem no
contexto de estruturação do sujeito; analisar os conceitos de Novas Tecnologias da
Informação e da Comunicação (NTICs), ciberespaço e o que é virtual dentro do
conceito de linguagem; fazer uma pesquisa aberta e informal, através de diálogos, com
profissionais psicanalistas e psicoterapeutas sobre as possibilidades da psicanálise e
das psicoterapias ocorreram no ambiente da Internet.
A metodologia empregada neste estudo foi de acordo com o conceito de Gil
(1991 apud Silva e Menezes, 2001, p. 21). Trata-se de uma pesquisa exploratória,
visando oferecer uma maior familiaridade com o problema procurando explicitá-lo e
levantar hipóteses. Este tipo de pesquisa envolve levantamento bibliográfico.
18
Ainda do ponto de vista de Gil (1991) o tratamento das informações foi de
natureza qualitativa e os procedimentos técnicos foram de uma pesquisa bibliográfica
(constituído principalmente de livros, artigos e pesquisa na Internet) elaborada a partir
de material já publicado; opiniões profissionais colhidas em artigos na Internet, contatos
informais, através de entrevista aberta com profissionais elencados na pesquisa e
materiais disponibilizados na Internet.
Esta dissertação de mestrado está dividida em 5 (cinco) partes: a parte fala do
nascimento da psicologia enquanto ciência. Para isto será necessário tratar das
inquietações que os homens sempre tiveram a respeito de si, do outro homem e do
mundo; uma breve trajetória do pensamento humano citando alguns filósofos
considerados cosmólogos, que tinham interesse de estudar a natureza do Universo;
filósofos que eram interessados em estudar a natureza humana e seu pensamento; os
fundadores da psicologia científica, culminando com o surgimento das principais teorias
psicológicas e sua evolução.
A parte trata do que é linguagem, do significado e sentido de linguagem para
autores como Freud, Lacan, Saussure, entre outros e a importância desta na
constituição do sujeito;
A parte trata dos tipos e formas de linguagem, mostrando os impasses
objetivando definir se existe um único conceito a respeito do que é linguagem, e o que é
linguagem como ferramenta das NTICs. Trataremos também sobre o que é
ciberespaço e o que é virtual, conceitos utilizados pelo filósofo Pierre Lévy.
19
A parte trata do conceito de Psicanálise e Psicoterapia; o conceito de
transferência e contratransferência e a diferença entre psicanálise e psicoterapia de
acordo com Freud et al.
A parte trata de reflexões sobre psicanálise e psicoterapia on-line, no
ciberespaço, a linguagem no espaço cibernético e posicionamentos de psicanalistas e
psicoterapeutas sobre o atendimento psicanalítico e psicoterapêutico no ambiente on-
line, no ciberespaço e para finalizar as Conclusões.
É importante esclarecer que, neste trabalho, pretendemos apontar um breve
percurso da psicologia e os desdobramentos desta em teorias como a psicanálise por
exemplo, até chegar ao modelo on-line, o percurso do pensamento humano no que diz
respeito à Psicologia, Linguagem, as NTICs e os desdobramentos que tais avanços
vêm trazendo a prática profissional psicanalítica.
Ressaltamos que não pretendemos dissertar sobre os conceitos fundamentais da
psicanálise postulados por Freud e Lacan, mas procurar descrever a especificidade da
transferência no atendimento psicanalítico em um ambiente convencional e se esta é
diferente no atendimento psicanalítico no ambiente on-line, no ciberespaço.
20
2. UM RECORTE DA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA
A humanidade sempre levantou várias questões em torno do mundo que a
rodeia, buscando respostas que lhe minimizassem suas dúvidas, angústias e
inquietações, a respeito de si mesma do próprio mundo e do universo. Para Heidbreder
(1981) a natureza não foi unicamente o objeto destas questões, em virtude do quê a
humanidade passou a refletir sobre si mesma e sobre a vida humana, sobre seu
comportamento, principalmente sobre as emoções, inquietações, sentimentos, e o
porquê do nascimento e da morte.
O fascínio do ser humano pelo seu comportamento fê-lo levantar questões, em
torno das condutas humanas, por meio da cosmologia e filosofia. Foram os filósofos,
que iniciaram a utilização de métodos que investigavam a natureza humana. Segundo
Schultz (2002), a psicologia é uma das mais antigas disciplinas acadêmicas e, ao
mesmo tempo, uma das mais novas.
A psicologia surge no final do século XIX, quando se adota o método científico
como uma forma de resolver suas questões e esta, como toda produção humana,
remete às necessidades de uma determinada cultura, de uma sociedade, para cuja
compreensão precisamos inteirar-nos dos diversos períodos da história da humanidade.
2.1. Os Cosmólogos e o do surgimento do universo e do ser no mundo
De acordo com Heidbreder (1981) um grupo de filósofos denominados
cosmólogos foram os primeiros a ter preocupação em responder às questões humanas
21
para as quais buscavam respostas por meio do conhecimento do princípio natural do
Universo. A palavra Cosmologia vem do grego, e configura-se como o ramo da
astronomia que estuda a origem, estrutura e evolução do Universo a partir da aplicação
de métodos científicos.
Tales de Mileto foi o primeiro filósofo, considerado cosmólogo, de que se tem
notícia, marco inicial da filosofia ocidental. Apontado como um dos sete sábios da
Grécia Antiga foi, também, o primeiro filósofo da physis (natureza), porque outros,
depois dele, seguiram seu caminho buscando o princípio natural das coisas. Ele
considerou a água como a origem de todas as coisas e seus seguidores, embora
discordassem quanto à “substância primordial” (que constituía a essência do universo),
concordavam com ele no que dizia respeito à existência de um ”princípio único” para
essa natureza primordial.
O esforço investigativo de Tales no sentido de descobrir uma unidade, que seria
a causa de todas as coisas, representa uma mudança de comportamento na atitude do
homem perante os cosmos, pois abandona as explicações teológicas até então
vigentes e busca, por meio da razão e da observação, um novo sentido para o universo.
Quando Tales disse que todas as coisas estão cheias de deuses, ou que o
magnetismo se deve à existência de “almas” dentro de certos minerais, ele não estava
invocando as palavras Deus e Alma, no sentido teológico como as conhecemos
atualmente, mas referindo intuitivamente a presença de fenômenos naturais inerentes à
própria matéria.
22
Partindo das investigações de Tales, podemos dizer que a filosofia teve seu início
com ele, ao estabelecer a proposição de que a água é o absoluto, isto provoca o
primeiro distanciamento entre o pensamento racional e as percepções sensíveis.
Após Tales encontramos Anaxágoras de Clazômenas, filósofo grego do período
pré-socrático. Ele afirmava que o universo se constitui pela ação do Nous”, conceito
que geralmente é traduzido por espírito, mente ou inteligência, e defendeu “a existência
de um número indefinido de elementos qualitativos diferentes” (HEIDBREDER, 1981,
p.30).
Para Anaxágoras a ordem do mundo deveria ser explicada, assim como todas as
partes que o constituíam e neste princípio ordenador ele encontrou no Nous, que
seria algo próximo à razão ou alma humana.
Segundo o filósofo, o “Nousatua sobre uma mistura inicial formado de sementes
que contém uma porção de cada coisa. Assim, o Nous”, que é ilimitado, autônomo e
não misturado com nada mais, age sobre estas sementes ordenando-as e constituindo
o mundo sensível. É esta noção de causa inteligente que estabelece uma finalidade na
evolução universal e irá repercutir em filósofos posteriores, como Platão e Aristóteles.
Outro importante filósofo, considerado cosmólogo, foi Heráclito de Éfeso, um
filósofo pré-socrático que recebeu o cognome de "pai da dialética". Problematizava a
questão do devir (mudança, movimento) e recebeu a alcunha de "Obscuro", pois
desprezava a plebe, recusou-se a participar da política (que era essencial aos gregos),
tinha, também, desprezo pelos poetas e pela religião. Sua alcunha derivou-se
principalmente devido ao livro (Sobre a Natureza) que escreveu com um estilo obscuro,
próximo a sentenças oraculares.
23
Na visão de Schultz (2002), os filósofos milesianos haviam percebido o
dinamismo das mudanças que ocorrem na physis, como o nascimento, o crescimento e
o perecimento, mas não chegaram a problematizar a questão. Heráclito, inserido dentro
do contexto pré-socrático, parte do princípio de que tudo é movimento, e nada pode
permanecer estático. Panta rhei, sua "máxima", significa "tudo flui", "tudo se move",
exceto o próprio movimento.
Heráclito exemplifica dizendo que não podemos entrar duas vezes no mesmo rio,
porque, ao entrarmos pela segunda vez, não serão as mesmas águas que estarão lá, e
a pessoa mesma será diferente de fato, a Biologia veio a descobrir muito mais tarde
que nossas células estão em constante renovação, e isso é uma mudança, um devir!
Mas tal questão é apenas um pressuposto de uma doutrina que vai mais além. O
devir, a mudança que acontece em todas as coisas, é sempre uma alternância entre
contrários: coisas quentes esfriam, coisas frias esquentam, coisas úmidas secam,
coisas secas umedecem e assim por diante. A realidade acontece, então, não em uma
das alternativas, que são apenas parte da realidade, mas da mudança ou, como ele
chama, na guerra entre os opostos.
Esta guerra é a realidade, aquilo que podemos dizer que é. Essa guerra da qual
fala Heráclito não tem conotação de violência ou algo semelhante. Tal guerra é que
permite a harmonia e mesmo a paz, já que assim é possível que os contrários possam
existir: A doença faz da saúde algo agradável e bom, ou seja, se não houvesse a
doença, não haveria porque valorizar-se a saúde, por exemplo.
Schultz (2002) comenta que inserido no contexto pré-soctico, Heráclito definiu,
partindo de seus pressupostos (o "panta rhei" e a guerra entre os contrários), uma
24
arché, um princípio de todas as coisas: o fogo. Para ele, todas as coisas transformam-
se em fogo, e o fogo transforma-se em todas as coisas. De seus escritos restaram
poucos fragmentos, encontrados em obras posteriores, os quais geraram grande
número de obras explicativas.
Segundo Heráclito, o fogo é o elemento primordial de todas as coisas. Tudo se
origina por rarefação e tudo flui como um rio. O cosmos é um e nasce do fogo e, de
novo, é pelo fogo consumido, em períodos determinados, em ciclos que se repetem
pela eternidade. Condensado, o fogo se umidifica, e com mais consistência, torna-se
água, e esta, solidificando-se, transforma-se em terra e a partir daí, nascem todas as
coisas do mundo.
As especulações a cerca da origem de tudo no universo prosseguem com
Demócrito de Abdera, que foi tradicionalmente considerado, um filósofo pré-socrático.
Cronologicamente é um erro, que foi contemporâneo de Sócrates. Do ponto de vista
doutrinário, contudo, faz algum sentido considerá-lo pré-socrático, pois seu pensamento
ainda é fortemente influenciado pela problemática da physis.
Segundo Schultz (2002) a fama de Demócrito decorre do fato de ele ter sido o
maior expoente da teoria atômica ou do atomismo. De acordo com essa teoria, tudo o
que existe no universo é composto por elementos indivisíveis chamados átomos e é daí
que vem a palavra átomo, que, em grego, significa "a", negação e "tomo", divisível.
Átomo= indivisível.
Demócrito defende que o homem e o mundo eram compostos por átomos do
corpo e átomos da alma, ambos eram materiais, mas se diferiam por serem os átomos
da alma mais sutis e mais ativos.
25
Heidbreder enfatiza:
[...] estes são pequenas partículas de matéria em movimento constante;
elas se movem de varias maneiras; é diferente em tamanho e forma,
porém movem-se de acordo com uma necessidade ou uma lei
(HEIDBREDER, 1981, p.29).
Não certeza se a teoria foi concebida por ele ou por seu mestre Leucipo e a
ligação estreita entre ambos dificulta a identificação do que foi pensado por um ou por
outro. Todavia, parece não haver dúvidas de ter sido Demócrito quem de fato
sistematizou o pensamento filosófico e a teoria atomista.
2.2. A filosofia a caminho da descoberta da psicologia
Bock (2002), ex-presidente do Conselho Federal de Psicologia, concebe que
como um corpo de conhecimentos que busca compreender a interioridade humana, a
psicologia nasce, e encontra seu apogeu, na Grécia Antiga com os filósofos e muito do
saber que temos hoje possui suas raízes nas culturas ocidentais antigas, sobretudo
com os gregos, considerando seus avanços na área da arquitetura, agricultura, física e
ciências políticas.
No antigo Egito e outras civilizações acreditava-se que a Terra fosse plana, e os
astros lâmpadas fixas numa abóbada móvel; em muitas civilizações existiam crenças
onde se acreditava que o Sol nascia a cada amanhecer para morrer ao anoitecer, o que
acabou por se tornar a base de muitas religiões antigas.
Os gregos, sobretudo os seguidores de Pitágoras, acreditavam que os corpos
celestes tinham seus movimentos regidos rigorosamente pelas leis naturais, na
26
esfericidade da Terra e na harmonia dos mundos; já os seguidores de Aristóteles
consideravam a teoria geocêntrica, em que a Terra era o centro do universo.
[...] basicamente atentos para a estrutura da Natureza e seu
funcionamento e interessados em interpretar os fenômenos naturais em
termos racionais, os filósofos gregos identificaram que o conhecimento é
humano e que havia uma distinção entre o conhecimento adquirido
pelos sentidos e aqueles obtidos pela mente (LEMOS 2003, p. 2).
Os filósofos da Antiguidade Grega, Sócrates, Platão e Aristóteles influenciaram
enormemente o nascimento da psicologia, como campo do conhecimento
sistematizado. Alguns filósofos pensavam que a alma era “ar”, outros, que eram odores,
elementos vivificantes. Ressaltamos que a filosofia teve seu inicio a partir do
pensamento dos então chamados cosmólogos, considerados os filósofos da época.
Sócrates preocupava-se em definir as diferenças entre o homem e os animais e
postulou como sendo a razão a principal característica essencialmente humana, por
meio da qual o homem é capaz de dominar seus instintos, fonte de toda irracionalidade.
Sua preocupação fundamental era o limite que separava o homem do animal.
[...] ao definir a razão como peculiaridade do homem ou como essência
humana, Sócrates abre um caminho que seria muito explorado pela
psicologia. As teorias da consciência são de certa forma, frutos dessa
primeira sistematização na filosofia” (BOCK, 2002, p. 33).
Sócrates na tentativa de justificar seus conhecimentos, suas virtudes e
habilidades que eram atribuídas, conduzia seus discípulos à construção do saber por
meio do diálogo, pelo questionamento e proferiu o aforismo inscrito nas paredes do
templo de Apolo em Delfos: “conhece-te a ti mesmo”, remetendo-se à importância da
razão, elemento da essência humana, para fazer brotar os valores que os homens
27
trazem em si e para a compreensão da realidade. Para Sócrates, a virtude era o
próprio resultado do conhecimento e o mal era basicamente a ignorância; acreditava
que a verdade estava implícita no intelecto humano a qual necessitava ser extraída e
purificada.
O método utilizado por Sócrates era a maiêutica, em que o conhecimento poderia
ser obtido por meio do conhecimento do seu próprio eu. Com isto direcionava o homem
como deveria proceder, em sua vida, uma vida de forma integral. Para Sócrates, a visão
de si mesmo é uma ilusão e o homem não sabe nada do que diz saber. O homem não
era visto com algo isolado, mas em uma permanente interelação entre os seus
semelhantes e o Estado. Nesse sentido, suas contribuições para a psicologia são
percebidas, sobretudo, no ramo cujo foco é o estudo da consciência.
[...] graças a Sócrates o objetivo da Filosofia deslocou-se do estudo dos
fenômenos naturais para o estudo da criação humana e da ética.
Naquele tempo, procurando explicações racionais para o mundo e seus
fenômenos, sem recorrer aos mitos e às religiões, os filósofos formaram
a ciência e a Medicina constitui-se ciência na época (LEMOS, 2003. p.
2).
Outro filósofo importante no trajeto histórico da constituição da psicologia como
ciência foi Platão, discípulo de Sócrates que retomou os estudos do mestre, sobretudo
sua teoria sobre a “idéia”.
Para explicar tal teoria, Platão elabora o “mito da caverna”, qual seja a percepção
que temos da vida é, na verdade, apenas imagem. Como se estivéssemos em uma
caverna observando as sombras que se formam em suas paredes. Atentos a essas
28
imagens, somos incapazes de nos livrarmos da caverna e de sua falsa realidade.
Alcançarmos a realidade, ou conseguir sair da caverna, só seria possível pela razão.
Platão trouxe muitas contribuições para as ciências, desde a física à política, mas
foi no campo da fisiologia humana, preocupado em definir o lugar da razão em nosso
corpo, que postula que corpo e alma são duas instâncias humanas distintas, sendo que
a alma ficaria na cabeça e deveria comandar todas as outras funções humanas e “a
medula seria, portanto, o elemento de ligação da alma com o corpo” (BOCK, 2002, p.
33).
Platão concebia a alma como algo imortal e separada do corpo, com capacidade
de ocupar outro corpo quando a matéria (o corpo) de origem desaparecia com o óbito.
Estabeleceu, pela primeira vez, uma distinção definida entre mente e matéria e
acreditava que, vivendo pelo intelecto, o homem estaria exprimindo suas maiores
possibilidades. Para Platão, as idéias são manifestas pela razão e os objetos são
revelados pelos sentidos.
As idéias possuem uma perfeição e nunca são encontradas nas coisas concretas
e o objeto é uma substância por meio da qual as idéias se expressam, mas, devido a
sua natureza, torna impossível a perfeita expressão “porque impõe suas próprias
limitações sobre elas e as despoja de sua pureza” (HEIDBREDER, 1981, p. 34).
Platão classificou as forças humanas das mais elevadas às mais baixas e
descreveu que a razão residia na cabeça; a coragem no peito; os sentidos e os desejos
no abdômen. Essas forças eram como parte da alma, por isso utilizou o modo de
pensar que mais tarde seria denominado de faculdade psicológica. Reconheceu haver
29
diferenças individuais entre os homens, ou seja, descobriu o ser humano como um
sujeito subjetivo e singular.
Discípulo de Platão, Aristóteles, foi um filósofo de grande influência no campo do
conhecimento científico. Em seus estudos, postula que toda ciência baseia-se na
definição e na demonstração. Considerado como um grande mestre da ciência antiga,
tratou de quase todos os problemas que ainda hoje nos ocupam. Sua contribuição foi
inovadora ao postular que alma e corpo não devem ser dissociados, por que a psyché é
o princípio ativo da vida, portanto tudo que tem vida possui uma alma racional com a
função de pensar.
A distinção de Aristóteles entre mente e matéria não foi a mesma de seu mestre
Platão. Seu pensamento foi dirigido para a matéria e forma interessando-se pelo
concreto e pelo real, não encontrando uma diferença marcante entre matéria e a forma
(mente) sendo que uma não podia viver sem a outra. A forma existia no objeto concreto
não como uma entidade separada. “A mente é forma potencial, o objeto real é a forma
utilizada na matéria, é a união de forma e maria” (HEIDBREDER, 1981, p. 36).
Conforme Aristóteles, o corpo humano não é obstáculo, mas instrumento da alma
racional, que é a forma do corpo. Esse filósofo chegou a sistematizar seu estudo sobre
as diferenças entre as sensações, a percepção e a razão, em um tratado denominado
Da Anima, o qual pode ser considerado o primeiro em psicologia.
Os gregos consideravam a alma como o sopro da vida, como o que vivificava a
vida. Como, porém, se realizava essa vivificação foi um problema que permaneceu tão
discutido quanto insolúvel. Os antigos filósofos gregos procuravam, antes de tudo, dar
30
respostas aos problemas fundamentais acerca da natureza da alma, sua relação com o
corpo, seu destino depois da morte e a origem das idéias.
O pensamento filosófico do homem imprimiu uma marca que levou outros
filósofos de outras épocas se interessarem pelas questões do ser humano e seu
pensamento e entre esses destacou René Descartes que, no século XVII deu uma
grande contribuição, pois via a mente e o corpo como essências diferentes, mas
reconhecia a existência de uma interação entre ambos, e “alegava que a mente só tinha
uma função: a de pensar” (SCHULTZ, 2002, p. 41).
2.3 - O pensamento cartesiano: o dualismo mente-corpo
Descartes viveu numa época marcada pelas guerras religiosas entre
Protestantes e Católicos na Europa. Ele viajou muito e viu que sociedades diferentes
têm crenças diferentes, mesmo contraditórias. Aquilo que numa região é tido por
verdadeiro, é visto como ridículo, disparatado, mentira, nos outros lugares.
Descartes viu que os "costumes", a história de um povo, sua tradição "cultural"
influenciam a forma como as pessoas pensam, aquilo em que acreditam e é
considerado o primeiro filósofo "moderno".
Para Lemos (2003) a contribuição de Descartes à epistemologia é essencial,
assim como às ciências naturais, por ter estabelecido um método que ajudou o seu
desenvolvimento. Descartes criou, em suas obras o Discurso sobre o Método e
Meditações - ambas escritas no vernáculo em Frances, ao invés do latim tradicional
dos trabalhos de filosofia - as bases da ciência contemporânea.
31
O método cartesiano consiste no Ceticismo Metodológico - duvida-se de cada
idéia que pode ser duvidada. Para Descartes, nada existia que ele soubesse com
certeza, descobriu que podia duvidar de tudo que fosse possível e por em dúvida,
inclusive as maiores crenças do homem com a intenção de chegar ao evidente por si e
ao indubitável.
Entre suas descobertas, estavam a dúvida sobre a existência de Deus, do mundo
e a existência de seu próprio corpo. A única coisa do que Descartes não tinha dúvida
era que ele podia duvidar. Isso lhe dava a certeza que estava pensando, portanto ele
existia.
Ao contrário dos gregos antigos e dos escolásticos, que acreditavam que as
coisas existem simplesmente porque precisam existir, ou porque assim deve ser.
Descartes institui a dúvida: se pode dizer que existe aquilo que possa ser provado,
sendo o ato de duvidar indubitável. O método da dúvida foi baseado no racionalismo,
que foi descrito no Discours de La Metode de1673.
[...] pensei que tinha de rejeitar como absolutamente falso tudo o que
pudesse supor que levantava a mais pequena dúvida, para ver se
depois disso permanecia alguma coisa que pudesse considerar
inteiramente indubitável. Assim, considerando que os nossos sentidos
por vezes nos enganam, quis por a hipótese de que não existe nada que
corresponde àquilo que eles nos fazem imaginar. E como alguns
homens cometem erros no raciocínio - mesmo a respeito dos mais
simples assentos da Geometria e se deixam cair em falácias, julguei-
me tão sujeito a cometer erros como outro qualquer e resolvi rejeitar
como pouco sólidos todos os raciocínios que até tinha tomado por
demonstrações [...] resolvi imaginar que tudo o que tinha entrado até
32
então na minha cabeça não era mais verdadeiro do que as ilusões dos
meus sonhos” (DESCARTES it LEMOS, 2003, p. 5).
Descartes buscava provar a existência do próprio eu (que duvida, portanto, é
sujeito de algo - cogito ego sum penso, logo existo) e de Deus. Ao pronunciar a
assertiva “penso, logo existo”, que deveria ser traduzida como “penso, logo sou”.
[...] uma razão de exatidão de língua e de tradução, dado que a
forma latina é sum o verbo é ser e a forma em Frances, língua de
descartes, é “Je pense donc Je suis”, e não “Je pense donc J’ existe
(ELIA, 2004, p.12).
Descartes estava marcando o dualismo mente-corpo, sendo mente a instância
humana responsável pelo pensamento, que não possui materialidade, ao passo que o
corpo seria a substância material, sujeita às ações físicas, mecânicas e, portanto, o
corpo sem a mente é apenas matéria, mas a mente interage com o corpo sofrendo sua
influência por meio da ação, emoção e sensação.
O método também consistia na realização de quatro tarefas básicas: verificar se
existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada;
analisar, ou seja, dividir ao máximo as coisas, em suas unidades de composição
fundamentais, e estudar essas coisas mais simples que aparecem; sintetizar, ou seja,
agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro; e enumerar todas
as conclusões e princípios utilizados a fim de manter a ordem do pensamento, o que
[...] contribuiu diretamente para a história da psicologia moderna mais do
que ninguém, ele libertou a pesquisa dos rígidos dogmas teológicos e
tradicionais que haviam controlado durante séculos (SCHULTZ, 2002, p.
38).
33
Em relação à Ciência, Descartes desenvolveu uma filosofia que revolucionou o
mundo de sua época. Mantinha a crença, de que o universo era pleno e não poderia
haver vácuo. Descartes acreditava que a matéria não possuía qualidades inerentes,
mas era simplesmente o material bruto que ocupava o espo. Ele dividia a realidade
em res cogitans (consciência, mente, coisa pensante) e res extensa (matéria).
Acreditava também que Deus criou o universo como um perfeito mecanismo de moção
vertical e que funcionava deterministicamente sem intervenção desde então.
Descartes sempre esteve preocupado com a res cogitans (coisa pensante) não
percebendo a necessidade de um interlocutor, ficando reduzidas as suas reflexões a
monólogos, não explicando de que maneira o ser humano poderia ter acesso a res
cogitans. Mesmo assim, sua doutrina tem sido objeto de estudo pelos filósofos,
fisiólogos e psicólogos e foram essas questões que impulsionaram o surgimento da
psicologia científica e posteriormente a psicologia moderna.
2.4 - O nascimento da psicologia científica
Com as novas exigências do mundo moderno, a psicologia precisava, para ter o
status de ciência, de um objeto de estudo definido e concreto, um corpo teórico que a
sustentasse e de procedimentos experimentais definidos, com o controle das variáveis.
Na medida em que a psicologia vai se libertando da filosofia atrai novos
estudiosos e pesquisadores que, voltados para uma nova ótica dos padrões de
conhecimento, passaram, segundo Bock (2002), definir seu objeto de estudo (o
comportamento, a vida psíquica, a consciência); a delimitar seu campo de estudo,
34
diferenciando-o de outras áreas de conhecimento, como a Filosofia e Fisiologia; a
formular métodos de estudo desse objeto e a formular teorias enquanto um corpo
consistente de conhecimento na área da psicologia.
Heidbreder (1981) defende que, como marco inicial do período científico, poder-
se-ia fixar um entre dois momentos: a consagração do método experimental com o
procedimento possível e adequando à problemática psicológica, caso em que, Wilhem
Wundt, médico Alemão, seria seu iniciador, ou o uso sistemático do conceito de
comportamento como objeto da pesquisa e, nesse caso, está em evidência John B.
Watson.
A vida de Wundt e da Psicologia foram marcadas pela publicação do livro
Elementos de Psicologia Fisiológica e pela fundação, em Leipzig, do laboratório para
pesquisas psicológicas. Segundo Ray (2003), Wundtna qualidade de fundador da
nova ciência da psicologia, é uma das mais importantes figuras do campo”, o qual não
reuniu, mas classificou, e agrupou, os elementos da vida mental, e determinou seu
objeto e objetivo, enunciou seus princípios e os seus problemas, estabeleceu os
métodos de estudo e estruturou, e normatizou a psicologia.
A Psicologia deixa de ser o estudo da vida mental e da alma e passa a ser o
estudo da consciência ou dos fatos conscientes “sua concepção da consciência foi que
ela inclui muitas partes ou características distintas e pode ser estudada pelo método da
analise ou redução” (Schultz, 2002, p. 81) e assim, passa a ser estruturada e
sistematizada, a psicologia torna-se uma ciência autônoma, não mais um apêndice da
filosofia.
35
Com a fundação do laboratório para pesquisas psicológicas, em 1879, Wundt,
veio complementar, e testar, tudo aquilo que havia dito no seu livro. Seu desafio foi
estudar os processos mentais por meio dos métodos experimentais e quantitativos que
eram pertinentes às outras ciências.
Utilizou-se da observação, da experimentação e da quantificação sem desprezar
a introspecção. Limitava a experimentação ao estudo dos conteúdos experimentais
básicos, como a sensação e a associação.
[...] a psicologia de Wundt é a ciência da experiência consciente, o
método psicológico deve envolver a observação dessa experiência. Só a
pessoa que tem experiência pode observá-la, razão por que o método
envolver a introspecção o exame do próprio estado mental. Wundt a
denominava percepção interior (SCHULTZ, 2002, p. 82).
Wundt acreditava que a vida mental era fruto da experiência e não de idéias
inatas, e os fenômenos mentais do presente se baseavam em experiências passadas,
antecipando, de certa forma, o construtivismo.
Seu laboratório foi palco de muitas experiências de estudos das sensações e da
percepção, no qual foram medidas e classificadas as sensações no seu aspecto visual,
tátil, olfativo e sinestésico. Foram pesquisados, também, os sentimentos, a vontade e a
emoção, registrando-se as variações físicas como: da alteração da respiração, da
pulsação e dentre outros. Para Wundt, o objeto de estudo da psicologia era a
consciência e esta era:
[...] individual (e) totalmente incapaz de nos oferecer a história do
pensamento humano, pois ela está condicionada por uma história
36
anterior, a respeito da qual ela não pode por si mesma, dar-nos nenhum
conhecimento (REY, 2003, p. 3).
Ele entendia a ciência como estudo da estrutura ou das funções detectáveis na
experiência interior, nos processos psíquicos da sensação, percepção, memória e
sentimentos. A essa concepção da psicologia opuseram-se os psicólogos científicos
posteriores, em particular os comportamentalistas, para os quais pode haver ciência
a partir do que é externamente observável, no caso, o comportamento.
Ao procurar definir o objetivo da nova ciência, Wundt concluiu que o problema da
psicologia era tríplice e se constituía em: (1) analisar os processos conscientes; (2)
descobrir como esses elementos são sintetizados ou organizados; (3) determinar as leis
de conexão que governam a sua organização.
Sendo assim, uma das maneiras de classificar as especialidades em que se
dividiu a psicologia é segundo os conteúdos examinados por. As principais disciplinas
psicológicas seriam as psicologias da sensação, da percepção, da inteligência, da
motivação, da emoção, da vontade e da personalidade.
Outro psicólogo importante para a psicologia cientifica foi John B. Watson, que,
para suportar suas despesas pessoais, aceitou como trabalho a limpeza dos gabinetes
da Universidade, bem como a vigilância dos ratos brancos dos laboratórios de
Neurologia. Doutorou-se em Neuropsicologia, defendendo uma tese sobre a relação
entre o comportamento dos ratos brancos e o sistema nervoso central.
Watson, como professor de psicologia animal, desenvolveu investigações
fundamentalmente sobre o comportamento de ratos e macacos. São as suas
experiências com animais, controladas de forma rigorosa e objetiva, que lhe vão inspirar
37
o modelo de psicologia. Os mesmos procedimentos poderão ser aplicados pelos
psicólogos se eles se debruçarem sobre o estudo do comportamento humano. Do
porquê de Watson assumir claramente a abolição da barreira entre a psicologia humana
e a psicologia animal.
[...] Watson afirmou que a psicologia devia restringir-se aos dados das
ciências naturais, ao que podia ser observado em outras palavras, ao
comportamento. Sendo assim somente os métodos de investigação que
eram completamente objetivos eram aceitos no laboratório
comportamentalista (SCHULTZ, 2002, p. 246).
Na década de 1910, John B. Watson lançou a corrente behaviorista, conhecida
nos dias atuais como terapia comportamental, considerada uma das três tendências
teóricas da psicologia neste século. Esta corrente propunha o estudo exclusivo do
comportamento, ou seja, aquilo que é observável na conduta humana. Segundo o
autor, seria cientificamente observável a ação de um estímulo sobre o organismo e a
reação deste em face do estímulo. A relação entre estímulo e a reação teria seu
protótipo nos reflexos condicionados e incondicionados.
Em 1918, Watson retomou a investigação, estudando a primeira infância, mas
um divórcio tumultuoso obrigou-o a abandonar a Universidade. Ingressou numa agência
de publicidade e dedicou-se paralelamente à divulgação das suas teorias junto de um
público mais amplo. Depois de aposentado, retomou as suas investigações em
psicologia.
Os métodos utilizados por Watson compreendiam: (1) a observação com ou sem
o uso de instrumentos; (2) os métodos de teste; (3) o método do relato verbal; (4) o
38
método do reflexo condicionado. Watson opunha-se ao método introspectivo, por não
confiar na precisão deste por não ser objetivamente observado. Se os introspectores
não entravam em um consenso a respeito do que observavam como a psicologia
poderia progredir (REY, 2003).
Para Watson, a psicologia não devia ter em conta nenhum tipo de preocupação
introspectiva, filosófica ou motivacional, mas apenas os comportamentos objetivos,
concretos e observáveis.
[...] Watson iria tratar de coisas tangíveis e discordava das
pretensões de relatos introspectivos sobre ocorrências no interior de um
organismo que podiam ser verificadas por uma observação
independente (SCHULTZ, 2002, p. 247).
A psicologia, portanto, no final do século XIX e início do século XX, se
caracteriza por ter incorporado os princípios legitimados pela sociedade da época,
sobre o que significava fazer ciência. Com isso, desvincula-se da filosofia e, define seu
objeto. O Comportamento delimita seu campo de abrangência e estabelece critérios
metodológicos de estudo, capazes de formular teorias fundamentadas e construir um
corpo teórico capaz de lhe sustentar como área de conhecimento científico. A
psicologia não mais divaga no mundo das idéias, como propunha a filosofia, mas
passar a, observava o comportamento humano e a controlar suas variáveis em
laboratórios.
Com base nesses critérios começam a se delinear, basicamente, três escolas em
psicologia que se sistematizaram em inúmeras teorias que existem nos dias atuais. O
Funcionalismo, o Estruturalismo e o Associacionismo.
39
Segundo Bock (2002) o Funcionalismo: inaugurado pelo americano William
James, define como objeto de estudo a consciência como elemento fundamental para
adaptação do homem ao meio, investiga, portanto o que os homens fazem e porque o
fazem.
O Estruturalismo foi cunhado pelo inglês Edward B. Titchner, mas foi Wundt que
fundou a segunda escola em Psicologia cujo objeto de estudo também é a consciência,
assim como no funcionalismo, mas sob seus aspectos estruturais, ou seja, os estados
elementares da consciência como estruturas do sistema nervoso central.
Os teóricos, que representam o Associacionismo concebiam o processo de
aprendizagem como uma relação de associação de iias e teve seu início com
Thorndike (1874-1949) que formulou a primeira teoria da aprendizagem na psicologia e
a “Lei do Efeito”, ou seja, todo organismo vivo tende a repetir um determinado
comportamento, por meio do reforço, quando recompensado ou inibi-lo se for castigado.
Neste caso, a recompensa e o castigo configuram-se como efeitos do comportamento.
Essas abordagens se desdobraram e se modificaram e no século XX a
psicologia toma corpo e se sistematiza em três escolas principais: A Gestalt; O
Comportamentalismo (Behaviorismo) e a Psicanálise, que se dedicam e se dedicam à
interpretação dos comportamentos, sentimentos, emoções humanas, ou seja, o
universo psíquico dos sujeitos, por meio de um tipo específico e característico de
linguagem por meio da qual o sujeito” (o ser humano) se estrutura, se constitui, sendo
as duas primeiras abordagens pela via da linguagem do consciente e a última pela via
da linguagem do inconsciente.
40
3 LINGUAGEM: A TRAJETÓRIA DA INSCRIÇÃO DOS SUJEITOS
Ao querer tratar do sentido, significado de linguagem faz-se necessário
aproximar-se de alguns conceitos que possam “dar conta” de um conceito “real”, se é
que se pode falar que este existe devido ao fato de os seres humanos estarem, ao
longo de suas existências, tentando aproximar-se dessas funções enigmáticas”, nos
discursos de vários estudiosos e autores que tentam conceituar linguagem e colocá-la
em uma categoria que abarque um sentido, um conceito único do significado de
linguagem e com isso muitos desses pesquisadores parecem controversos em seus
conceitos sobre o que é linguagem, mas mesmo assim, procuram de alguma forma,
explicitá-los para que possam com isso dar um sentido ao mundo e aos sujeitos.
[...] linguagem é uma ferramenta social e as pessoas que usam
ferramentas geralmente não perdem tempo estudando as mesmas. Em
vez disso usam as ferramentas para criar outras coisas”. [...] a língua por
sua própria natureza envolve muito mais do que é possível a um homem
ou a um pequeno grupo de homens compreenderem: ela vem do
passado até o presente e continua até o futuro, e engloba milhões de
pessoas que nunca falarão diretamente um com o outro, mesmo se
compartilhassem o que se considera “a mesma ngua(SOUZA, 2005,
p.1).
Partindo deste pensamento, compreende-se que a língua e a linguagem têm um
código próprio para cada sujeito. Código este que representa o sujeito na sua relação
com outro sujeito e naquilo que o outro o endereça. Faz-se necessário, por
41
conseguinte, interpretar este digo, mesmo que esteja representado “numa mesma”
língua.
O universo do discurso da linguagem e da fala é uma característica
exclusivamente do ser humano e fundamental para que se possa compreender,
interpretar, (re) interpretar para tornar a interpretar o mundo, os sujeitos e as coisas,
com isso o homem é construído e constituído.
3.1. Língua e linguagem: uma tentativa de explicação
O que significa linguagem e língua? Linguagem pode ser compreendida como
uma representação do pensamento que se utiliza sinais, os quais permitem a
comunicação e a interação entre as pessoas. Podendo, ainda, ser classificada como
verbal (aquela que tem por unidade a palavra) e não-verbal (aquela que representa
outros tipos de unidades, como gestos, o movimento, a escrita, a imagem e ainda o
inconsciente).
[...] a linguagem é uma atividade é um trabalho de homens, de sujeitos
que são histórica social e culturalmente situados e através desse
trabalho, dessa atividade, organizam, interpretam e dão forma as suas
experiências e a realidade em que vivem (ABAURRE, 2007, p.14).
Na tentativa de conceituar ngua, esta é entendida como um código que
corpo e sentido à palavra, numa dimensão de ser um código formado por meio dos
quais as pessoas interagem.
42
[...] língua é uma maneira particular pela qual a linguagem se apresenta.
A linguagem humana é essa faculdade de poder construir mundos [...] a
linguagem ao homem uma possibilidade de criar mundos, de criar
realidades, de evocar realidades não presentes (FIORIN, 2003, p.71).
Dentro da língua pode-se encontrar variedades lingüísticas, que a ngua
apresenta de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que
é utilizada. Dentre estas variações encontra-se a norma culta (sendo a língua padrão) e
a norma popular, variedade lingüística de maior prestígio social. Ressaltamos, contudo,
que esta última difere-se da língua padrão.
Em cada língua falada, escrita ou representada em outro contexto, deve-se
observar e compreender os signos que formam a língua obedecendo às regras de
organização combinatória oferecidas por esta.
[...], no entanto, é preciso lembrar que o desenvolvimento da linguagem
aconteceu ao que tudo indica no momento em que as relações sociais
entre os homens se tornaram mais complexas, sendo impossível
separar o indivíduo com suas capacidades físicas e biológicas de sua
relação com o contexto social do que faz parte. Essa nova abordagem
procura compreender o surgimento da linguagem em função da vida em
sociedade (FRANCHETTO e LEITE, 2004, p.40).
Segundo Lacan (apud Jorge, 2005) não é somente o homem que fala, mas essa
fala é no homem por meio do homem, pois se trata de uma função simbólica que é
caracterizada por um princípio inconsciente único em torno do qual era possível
organizar a multiplicidade das situações particulares de cada sujeito”; não seria
43
possível a existência da linguagem, não fosse à existência dos sujeitos” (ABAURRE,
2007 p.16).
3.2. Os estudos da língua e da linguagem
O que existe no universo psíquico dos homens que o levam à necessidade de
falar, expressar suas opiniões, os seus sentidos em palavras? Qualquer ouvinte pode
compreender esta comunicação? Vale ressaltar que a criação do mundo ocorreu por
meio de uma atividade lingüística. Enfatiza-se que dentro do sistema da linguagem
existe a língua. Para Franchetto e Leite (2004) a palavra cria o mundo, são
construções dos homens e não uma imitação do objeto nomeado.
Segundo Braghirolli (2002) os estudos sobre a linguagem envolvem vários
campos do saber e sempre chamaram a atenção de vários pesquisadores nas suas
mais variadas atividades profissionais, entre eles psicólogos, médicos, filósofos,
sociólogos, antropólogos, professores, lingüistas, psicolingüistas, dentre outros. Todos
fascinados por este indecifrável conhecido/desconhecido. A linguagem exerce, e
sempre exerceu e exercerá um fascínio sobre os sujeitos, na medida em que, por meio
dela, que os sujeitos tentam dar sentido a tudo que pensam, sentem, vive e desejam.
A linguagem sempre esteve presente na vida dos sujeitos. Desde os primeiros
vestígios do homem na terra, estes têm marcas da existência de variadas formas de
linguagem através da qual buscava se comunicar, e se expressar. Mesmo quando o
homem ainda não fazia articulações em palavras a respeito de seus pensamentos, ela
existia de forma rudimentar como uma necessidade de se comunicar e essa
44
necessidade de comunicação ainda permanecem nas diversas formas de linguagem,
na representação das idéias, ações, desejos e aspirações.
[...] a motivação para a linguagem humana vem da necessidade de
comunicação, uma vez que os homens constituem uma sociedade e o
homem pode comunicar-se pelo movimento corporal (o gesto) ou pela
vocalização (a palavra). É a linguagem como convenção que distingui o
homem dos demais animais (FRANCHETTO e LEITE, 2004, p. 17).
A linguagem marca uma diferença entre os homens e os animais, apesar de
entre esses últimos terem um código de linguagem próprio de cada espécie. Os seres
humanos são os únicos a terem a capacidade de articular linguagem, de nomear as
coisas, de simbolizar, sendo estes instrumentos importantes em todas as formas de
comunicação.
[...] é precisamente essa faculdade de falar e de nomear que traça a
linha divisória entre humanos verdadeiros e animais verdadeiros. É
impossível se imaginar um ser superior ou um herói civilizador que não
seja dotado da mais importante faculdade do homem: a linguagem
(FRANCHETTO e LEITE, 2004, p.10).
É inegável que a linguagem é um atributo essencialmente humano, por esta ser
constituída por um conjunto de signos, símbolos, entre outras produções psíquicas por
meio das quais os seres humanos procuram dar sentido a ele próprio e ao mundo em
que ele vive e onde se insere e está inserido no universo do desejo. O ser humano só
se torna humano no momento em que ele é inserido no universo, no campo da
linguagem.
45
3.3. O homem primitivo e o domínio da linguagem
Desde os homens primitivos, havia uma necessidade de uma tentativa de
comunicação. Pois estes tinham, um modo próprio de expressar símbolos e signos para
dar sentido, significações e significados as suas idéias, por meio das quais o homem
primitivo conseguia "falar”, “comunicar” a sua realidade a outro homem, ou seja: “em si
mesmos, estes símbolos, signos envolviam um caráter comunicativo”.
(BRAGHIROLLI, 1994, p.39)
A aquisição da linguagem significa saber falar uma língua, significa saber os
“sons” que fazem parte dela e os que não fazem. Saber uma língua é saber como
relacionar esses “sons”, significados e significantes.
[...] a linguagem humana é um termo entre o eu e o outro. Entre o sujeito
que fala e o seu ouvinte existe um anteparo uma proteção, uma espécie
de muralha que se ergue, mesmo quando silêncio. Entre dois seres
humanos existe sempre a marulha da linguagem (LONGO, 2006, p 7 ).
Para Longo (2006), essa muralha leva os sujeitos a darem um sentido aos seus
discursos e do outro sujeito o que possibilita a estruturação de seus universos
psíquicos.
[...] não no mundo quem não participe da linguagem: a realidade se
expressa na palavra e existe na medida em que se possa dizê-la. A
linguagem tem existência dinâmica, está em permanente processo de
criação por sua multidão de falantes as forças vivas dos sujeitos que
reagem contra a coisificação da linguagem. Essas forças não estão
46
presentes apenas nos poetas, estão enraizados nas falas de todos
(LONGO, 2006, p 7).
Para Lacan (1960) entender a linguagem do inconsciente é possível
associando o sentido de um significante a outro significante no discurso do sujeito,
discurso por meio dos quais o sujeito se constitui enquanto sujeito. O conceito de
sujeito é introduzido na psicanálise por Lacan. Para Elia (2004) o sujeito se constitui,
não nasce e não se desenvolve isto é uma aquisição e esta é marcada pela entrada do
sujeito no universo da linguagem, das representações.
Quando Lacan (1960) introduz o conceito de sujeito na psicanálise quer dizer
que na linguagem existe um sujeito o qual procuramos compreender, decifrar por meio
de seus discursos e assim somos marcados pelo significante e pela linguagem.
A visão de linguagem para Saussure (1997) é a social e abstrata, e a postula
como um sistema estável e imutável de elementos lingüísticos a eles mesmos que pré-
existem ao indivíduo falante, a quem não resta alternativa a não ser o de reproduzi-los.
Para Saussure os elementos lingüísticos são objetivos, sem envolvimento ideológico e
a sentença é sua unidade preferida de análise.
Para Garcia-Roza (1984) o conceito de signo em Pierce é social, mas cada
sujeito tem uma forma particular de interpretar o signo. Peirce denomina a esta
interpretação como “interpretante”. Segundo este autor, cada signo tem uma referência
comum em todos os sujeitos de uma determinada comunidade lingüística, por outra via,
cada sujeito dará um sentido particular devido à capacidade de simbolizar.
[...] os fenômenos simbólicos, como os da linguagem, são fundamentais
à vida do espírito e estão relacionados ao inconsciente a
extraordinária revelação de Freud... por meio dela, podemos dotar de
47
significação o mundo e a natureza, ambos de existência enigmática e
absurda, pois não são criações humanas (LONGO, 2006, p 7).
Do ponto de vista de Peirce, a noção de interpretante do signo mostra que
embora seja subordinado a uma idéia geral, social, cada significado (sentido) de um
signo diferencia-se de indivíduo para indivíduo.
Apesar de existir uma forma de comunicação na época do homem primitivo,
esta por si não satisfazia aos anseios humanos, desenvolvendo-se, assim, uma
“nova tecnologia na comunicação” em virtude do avanço na linguagem humana: a fala,
por meio da qual a linguagem se manifesta e os sujeitos podem revelar o seu universo
psíquico.
Uma questão podemos levantar: os seres humanos vivem e viverão eternamente
essa era de novas tecnologias? Se observarmos, o homem primitivo será possível
percebermos que essas novas tecnologias” sempre existiram e o homem tem
alcançado, desde os tempos das cavernas, grandes saltos no processo comunicativo.
O homem das cavernas “levou” os símbolos do interior das cavernas através dos
quais “projetou” sua vida psíquica e cotidiana, para a emissão de sons até chegar à
articulação destes, mediante a fala representada pela palavra. Com isso, deu-se o
aparecimento da linguagem falada, uma nova tecnologia como forma de comunicação
que vem desde os tempos remotos, provocando o avanço destas, com a inclusão da
linguagem como nova forma de expressão.
O homem tinha e tem a necessidade de endereçar algo a outro homem, sendo
assim, “quando um homem fala com o outro, o faz para que possa ser entendido; e o
48
fim da fala implica que estes sons, como marcas, devem tornar conhecidas suas idéias
ao ouvinte”. (BRAGHIROLLI, 1994, p.39)
A língua é por assim dizer o espelho, é o reflexo da linguagem que, por sua vez,
tem um caráter subjetivo, singular com códigos próprios, por meio dos quais os seres
humanos construíram e procuram construir, construir-se e constituir-se enquanto
sujeitos. O homem é criador de códigos, ao mesmo tempo em que é ele mesmo
constituído de códigos. Com a “criação” da “linguagem falada”, o homem constrói o
mundo, pois a partir desse momento é criada uma nova estrutura organizacional,
formando-se assim uma nova cultura, uma nova sociedade, uma nova tecnologia na
comunicação.
O homem por meio da língua um novo sentido ao que nele sempre existiu: a
linguagem. Segundo Saussure (1997), a língua não se confunde com a linguagem por
ser uma parte determinada, essencial dela, “... é ao mesmo tempo um produto social da
faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo
corpo social para permitir o exercício desta faculdade nos indivíduos.” (SAUSSURE,
1997, p.17).
3.4. O signo, o significado, o significante e a linguagem: conversas com Lacan e
Saussure
Os seres humanos sempre foram e sempre serão objetos de estudos no universo
dos mais variados pesquisadores, principalmente os psicólogos, psicanalistas e
lingüistas, que procuram entender os sujeitos nas diversas formas de discurso que
49
estes possuem. É por meio desse discurso que percebemos a condição complexa do
sujeito, na medida em que o homem se apresenta como um ser dialético. Daí o grande
interesse pelos estudos da linguagem e de que forma ela está articulada aos sujeitos
humanos.
[...] a linguagem é multiforme e heteróclita, pertence tanto ao domínio
individual quanto ao social; não se deixa classificar em nenhuma
categoria dos fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua
unidade. Não é a linguagem que é natural ao homem, mas a faculdade
de constituir uma língua, ou seja, a língua é um produto social da
faculdade da linguagem. a fala (discurso), , ao contrário, é individual
e voluntária (LONGO, 2006, p 31).
Se a psicologia e os lingüistas querem entender o homem, necessita entender a
sua linguagem que precisa ser interpretada por ser simbólica e fazendo-se, assim, do
homem um ser simbólico e a função do símbolo é representar a coisa ou pessoa. O
símbolo não é a coisa ou a pessoa representada ele é um representante da coisa
ausente.
[...] entre as precondições para a existência de uma faculdade humana
de linguagem estão às capacidades de classificar ou categorizar o
mundo, de simbolizar e de fazer hipóteses sobre o estado mental do
outro (FRANCHETTO e LEITE, 2004, p 41).
Se a linguagem é simbólica e o homem sendo portador dessa também é
simbólico, por ser singular e possuidor de subjetividade, existiriam então vários tipos de
linguagem? O homem possui uma língua, a falada, e sua linguagem vai ser entendida,
interpretada pelo outro homem por meio das interpretações de seus signos e símbolos,
50
peculiares em cada tipo de língua e de sujeito, e de acordo com o sentido que este dá a
sua fala, que vem carregada de significados e significantes.
Saussure (apud Carvalho, 2000) concebe a língua como um sistema de signo
que, por si só, dá conta da significação. Ao conceituar o que é signo, ele deixa marcada
a distinção entre entidades psíquicas (que constituíram os signos) e físicas (que lhes
eram estranhas). Os termos que estão implicados nos signos lingüísticos estão na
ordem do psíquico, unidos no cérebro através de um vínculo associativo.
Na opinião de Carvalho (2000), o signo lingüístico em Saussure é definido como
a combinação do conceito e da imagem acústica sendo esses dois últimos substituídos
por significante e significado. Em sua teoria, enfatizou o estudo da linguagem em duas
vertentes, a linguagem sincrônica que é limitada a examinar uma linguagem num
determinado período de existência e a linguagem diacrônica que examina o estudo
histórico do desenvolvimento da linguagem ao longo de sua existência. Um signo é a
unidade básica da língua. Toda língua é um sistema completo de signos. A fala (parole
em francês, speech em inglês) é uma manifestação externa da língua.
[...] Lacan recorre à categoria de significante imagem acústica, para
Saussure, à qual se associa um conceito (idéia), como significado, na
constituição do signo lingüístico. [...] Lacan subverte essa associação
significante/significado, conferindo ao primeiro (o significado) na
produção do segundo: o significante prevalece sobre o significado, que
lhe é secundário, e se produz somente a partir da articulação entre os
significantes (ELIAS, 2004, p. 37).
Lacan (apud Jorge, 2005) parte do princípio que a linguagem e o simbólico
determinam os sujeitos mesmo antes do nascimento. Os sujeitos nascem marcados por
51
discursos, através dos quais se inscrevem as fantasias dos progenitores, da cultura, da
classe social, a língua, a época, dentre outros, constituindo-se, assim, o campo do
Outro (com o maiúsculo por ser pertencente ao outro imaginário que os sujeitos
constroem em relação à imagem que têm do outro sujeito), e é neste campo que se
forma, se constroem, se constituem os sujeitos.
Com Freud (1915) temos a revelação do inconsciente caindo por terra à crença
do sujeito centrado na consciência. O Eu está assujeitado a força do inconsciente o
qual determina a forma, o modo de existência da espécie humana.
Segundo Jorge (2005), Lacan desenvolveu a lógica do significante para construir
uma teoria sobre a relação entre inconsciente e linguagem. O significante é uma
unidade mínima do simbólico e não surge isolado, estando sempre articulado a outros
significantes. A significação é produzida pela articulação entre os significantes,
formando-se assim, uma cadeia por meio da qual os sujeitos produzem um sentido.
Freud destaca em Os chistes e suas relações com o inconsciente(1905) e
A psicopatologia da vida cotidiana (1901) respectivamente, as palavras são
materiais plásticos e sonoros que, muitas vezes, perdem seus significados ligados ao
código da língua, ganhando novas significações, e o inconsciente não leva em conta o
significado ou os limites acústicos das sílabas.
Para a psicanálise, o que torna o homem diferente das outras espécies é o
simples fato de termos uma linguagem, com seus códigos e símbolos, que são produtos
da razão. Segundo Lima (2006), o que a psicanálise analisa é o sujeito psíquico: aquele
que atribui significado a seu corpo e a seus órgãos, a depender de suas representações
a respeito de si. O homem se torna homem no momento em que ele é inserido no
52
mundo da linguagem, no mundo do simbólico por meio do qual ele passará a ser uma
representação para outro sujeito.
[...] a linguagem e a psicanálise são domínios tão contíguos que não é
tarefa simples estabelecer um limite entre os dois campos separados
pela mais porosa das fronteiras. A passagem de uma para a outra está
sempre aberta, basta seguir as fendas do caminho (LONGO, 2006, p. 7).
Na visão de Santuário (2005), o sujeito enquanto ser simbólico se expressa pela
linguagem existente na fala; por meio da falta inerente a todos os sujeitos; e ao
manifestar suas representações simbólicas, imaginárias e reais. Dessa maneira o
sujeito fica capturado nas malhas de uma báscula eterna entre linguagem e desejo.
[...] a partir da compreensão de que o ser humano situa-se para além do
real que lhe é biologicamente natural, no sentido de que o humano para
constituir-se como tal, deve ocupar um topo subversivo para além da
plataforma, do ancoradouro biológico, e passar a habitar o mundo da
linguagem, sendo que esta metamorfose, esta transmutação do natural
ao cultural, do biológico ao simbólico, podemos compreender que a
psicanálise é a teoria do desejo na sua relação ao outro (SANTUÁRIO,
2005).
Ao simbolizar, o sujeito exterioriza a sua subjetividade, assim como a sua
consciência enquanto ser portador de desejo e desejante, a consciência do outro como
portador de desejo e desejante e a consciência do mundo onde vive. Ao desejar o ser
humano se inscreve enquanto sujeito no universo do simbólico e ao fazer essa
inscrição ele passa a ter uma representação em todas as dimensões da realidade. É na
cadeia de significantes e símbolos que é possível fazer uma leitura desta linguagem na
53
qual o sujeito se constitui enquanto cultura e externaliza a sua subjetividade, entre
outras produções da vida humana. Essas prodões são formas de internalizar o que o
constitui como sujeito do desejo e enquanto linguagem.
Por meio da articulação da linguagem que o ser humano descobriu a forma de
se posicionar diante das coisas e do mundo, nomeando coisas e objetos, passando a
ter um “suposto’ controle sobre o universo, organizando o espaço em que vive,
superando obstáculos pelo desejo de adquirir conhecimento. A tudo e a todas as coisas
o homem atribuiu sentido, designou funções, nomeou coisas e se impôs perante aos
outros seres. Para Longo (2006), sem exposição a alguma língua, não é possível
aprendermos a falar.
Ainda para a mesma autora a fala corpo, sentido às coisas. Ao nomear os
objetos, estes são passados para o mundo da linguagem, ao universo simbólico. O
homem se aproxima e se distancia do mundo e das coisas ao mesmo tempo ele se
apropria do real na tentativa de mudar para conhecer aquilo que desconhece.
Os seres humanos se tornam sujeitos por meio das interpretações que dão aos
significados e significantes nos discursos do outro, sendo assim introduzidos no campo
da cultura que é o resultado de uma organização da sociedade e de uma participação
na vida em comum.
[...] o ser humano não é binário: é múltiplo e a linguagem que inventa
comporta como ele mesmo, uma falha: é ambígua, flutuações
contínuas nos sentidos das palavras equívocos deslizes de sentido,
lapsos de línguas, chistes, atos falhos, jogos de palavras, ficções,
repetições, lapsos de memória, lacunas, erros, tropeços (LONGO 2006.
p.15).
54
É em torno da linguagem que se pode articular o pensamento, a consciência e a
reflexão, o que possibilita organizar o mundo, tornando os sujeitos capazes de
estabelecer uma relação de autonomia em relação à própria vivência no mundo
organizado e com isso criar e recriar novos modelos de linguagem.
55
4 LINGUAGEM E AS NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA
COMUNICAÇÃO
A linguagem é um código no qual se encontram significados; significantes;
metáforas; metonímias e simbolismos, estes estão intimamente relacionados à
subjetividade, singularidade dos sujeitos, e por meio destes os sujeitos procuram
compreender as produções psíquicas e a compreensão dos digos que os diferentes
tipos de língua e linguagem trazem.
Partindo desses princípios faz-se necessário uma leitura da emergência dos
“novos tipos” de linguagem e língua que as NTICs têm apresentado apontando-se para
a variedade de possibilidades que a linguagem e a ngua oferecem na construção de
novos ambientes e novos espaços.
[...] o aperfeiçoamento dos meios de veicular a informação fundamenta-
se na necessidade de o homem se comunicar. O ser humano ao longo
de sua história mantém-se sempre na expectativa a desvelar novos
horizontes, explorar territórios alheios, impulsionado pelo desejo de
interação, de descoberta (SOUZA, 2003, p.13).
Pelo fato de a língua possuir regras de combinação definidas, isto distingue a
linguagem dos sistemas não comunicativos e dos sistemas comunicacionais que não
utilizam signos. A linguagem se distingue igualmente dos sistemas que servem de meio
de comunicação e utilizam signos pouco formalizados ou sem nenhuma formalização.
56
[...] quando um homem fala com o outro, o faz para que possa ser
entendido; e o fim da fala implica que estes sons, como marcas, devem
tornar conhecidas suas idéias ao ouvinte (LOCKE apud BRAGHIROLLI,
2002, p.37).
A linguagem é definida como uma forma de comunicação; elaborando um pouco
mais esta definição, podemos definir a linguagem como um conjunto de elementos
(símbolos) e um conjunto de métodos (regras) que são combinados, para serem usados
e entendidos por uma determinada comunidade. Segundo Longo (2006) para tornar
nossos pensamentos conhecidos temos a linguagem, através da qual nos
comunicamos com outros seres humanos e temos a percepção daquilo que ele nos
representa.
Segundo Franchetto e Leite (2004) várias formas e tipos de linguagem: a do
olhar, a do toque, a dos sinais, etc. A comunicação pode ser até em palavras, o silêncio
é às vezes, mais eloqüente do que a argumentação bem engendrada. Portanto não
como desprezar algum tipo de linguagem em detrimento de outra. Ou elas se
completam ou uma pode ser mais adequada que outra em determinadas situações.
Interessa chegar ao objetivo do relacionamento ou da comunicação
4.1. Pierce e Saussure: discutindo a linguagem
Para Pierce existem três tipos de signos distintos o ícone, o índice e o símbolo,
os quais estão na ordem daquilo que representam alguma coisa. Em função de sua
relação com o objeto, um signo pode ser denominado ícone, índice ou símbolo.
57
Assim sendo, Pierce menciona:
[...] um signo é denominado índice ou sinal quando mantém uma relação
direta com o objeto que ele representa. Assim, uma rua molhada pode
ser índice ou sinal que choveu. Um signo é denominado ícone quando
sua relação com o objeto é de semelhança. É o caso, por exemplo, da
relação existente entre um retrato e o retratado. Um signo pode ainda
ser denominado símbolo, e isto acontece quando sua relação com o
objeto é arbitrária ou convencional, isto é, não-natural. É o caso das
palavras (
PIERCE apud
GARCIA-ROZA, 1984, p.73).
Garcia-Roza (1984) compartilha com Pierce a idéia de que um símbolo não
indica nenhuma coisa em particular, o símbolo apenas denota uma espécie de coisa,
pois o símbolo não faz parte nem do universo físico, nem do universo biológico,
pertence ao universo do sentido.
Na visão de Saussure (1997) é através do signo que podemos conceber uma
ciência que estude a vida dos sinais no seio da vida social, envolvendo parte da
psicologia social e, por conseguinte, da psicologia geral.
[...] para Saussure, a língua é uma estrutura que comporta um sistema
de elementos diferentes, relacionados em si, cuja forma homogênea,
abstrata, mental e psíquica o falante registra passivamente. Essa forma
só está completa na massa de falantes (Longo, 2006, p. 31).
A concepção de Saussure (apud Carvalho, 2000) relativamente ao signo, ao
contrário da de Pierce, distingue o mundo da representação do mundo real. Para ele, os
58
signos, pertencentes ao mundo da representação, são compostos por significante (a
parte física do signo) e pelo significado (a parte mental, o conceito).
[...] Lacan preserva a definição de signo que ele extrai de Pierce,
precisamente no que ela não implica a referência ao sujeito e introduz
sua definição do significante é o que representa um sujeito para outro
significante, enquanto que o signo é o que representa alguma coisa para
alguém que saiba lê-lo (JORGE, 2000, p. 82).
Para a psicanálise entender a linguagem do inconsciente é possível
associando o sentido de um significante a outro significante no discurso do sujeito.
Podemos, assim, dizer que a linguagem falada é um instrumento por meio do qual
podemos expressar nosso pensamento, pois ela nos oferece conceitos e formas de
organização do real que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto do
conhecimento.
Na opinião de Castells (2001), é inegável a importância do avanço que as novas
tecnologias informatizadas têm trazido ao mundo, sendo impossível definir neste
momento, as áreas mais importantes, que todas se entrelaçam formando uma
sociedade em rede, uma relação de co-dependência, fazendo com que os seres
humanos inventem, re-invente, re-descubra os benefícios que as NTICs trazem para os
seres humanos.
59
4.2. Linguagem e Internet
Até pouco tempo falar de Internet, conhecida como Net, veículo midiático onde
se pode ler jornais, diários, trocar mensagens, acessar programas de televisão,
teleconferência ou até mesmo usar o computador, a Internet era como se falar de um
alienígena, fato que não foi diferente com o surgimento do rádio aparelho de televisão,
telefones fixos, telefones móveis, entre outros avanços tecnológicos, os quais uma
minoria da população tinha acesso e, aos poucos essas tecnologias foram invadindo as
residências e outros espaços, tornando-se familiares, aos que os adquiriam (SOUZA,
2003).
Essas tecnologias foram incorporadas ao cotidiano dos sujeitos em um processo
de assimilação, acomodação e de incorporação. Isto não foi e não tem sido diferente
com o computador, que hoje esinserido em todas, ou quase todas, áreas da vida
humana. Para Souza (2003) a Internet é algo espantoso, mas é feita de computadores,
o que significa que nem tudo a seu respeito é o simples como deveria ser.
Vivemos a era do ciberespaço, ambiente criado por uma rede de computadores
de forma virtual através do uso dos meios de comunicação modernos, destacando-se
entre eles a Internet (LÉVY, 2003). Esse fenômeno se deve ao fato de, nos meios de
comunicação modernos, haver a possibilidade de pessoas e equipamentos trocarem
informações das mais variadas formas.
O ciberespaço também conhecido como Cyberespaço, um termo muito comum
na ficção científica o qual da variação para várias outras denominações referente à
Internet, como Cybersex, Cyberpoeta, Cyberpunk, Cyberpsicólogo e outros mais. A
60
palavra "ciberespaço" (uma junção de cibernético com espaço) foi projetada por um
escritor canadense de ficção científica William Gibson em 1984 no seu livro
"Neuromante” que designa Ciberespaço como:
[...] o universo das redes digitais, descrito como campo de batalha entre
as multinacionais, palco de conflitos mundiais, nova fronteira econômica
e cultural. [...] o Ciberespaço de Gibson torna sensível a geografia móvel
da informação, normalmente invisível (LÉVY, 2003, p. 92).
Lévy (2003) coloca o ciberespaço como uma grande rede interconectada
mundialmente, com um processo de comunicação "universal" sem "totalidade". A
"universalidade" sem "totalidade" segue uma linha interativa de comunicação,
possibilitando a "todos" navegantes da grande "rede" participar democraticamente num
modelo interativo de "todos para todos", consolidando e constituindo a idéia de uma
"aldeia global". Para Lévy o Ciberespaço é: “espaço de comunicação aberto pela
interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores”.
[...] a humanidade diante de uma verdade da qual não pode escapar: os
valores, as atitudes e os modos de pensamento estão sendo
condicionados por um novo espaço que surge da interconexão mundial
dos computadores: o ciberespaço, em cujos nós heterogêneos surgem
fontes de diversidades de assuntos e discussões que processam
renovações continuas (SOUZA e GOMES, 2003, p. 2).
O ciberespaço, também conhecido, segundo Souza (2003), como o não-lugar um
espaço virtual, mas que o existiria sem uma referência do real, dissemina uma nova
61
cultura pelo globo a cibercultura. A noção de cibercultura faz um corte nas fronteiras
que demarcam e define a territorialidade. O ciberespaço redefine essa noção nos
oferecendo, com isso, a possibilidade de outra visão sobre a “entrada” e “saída” dos
espaços e lugares com um novo tipo de passaporte: o virtual. Os usuários e criadores
de redes digitais retomaram o termo que se difundiu em vários setores das sociedades
e de diversas culturas que na atualidade fazem parte da cibercultura.
A Cibercultura provém de um espaço de comunicação mais flexível que o
produzido nas mídias convencionais, TV, Rádio, Jornal. Nas mídias convencionais o
sistema hierárquico de produção e distribuição da informação segue um modelo pouco
flexível baseado no modelo “um-todos” (Rádio, TV, Cinema, etc.). no Ciberespaço a
relação com o outro se desdobra no contexto “todos - todos” conclui Souza (2003).
O primeiro tipo de modelo de comunicação de massa considerado de interação
perfeita tipo “um por um” é o telefone, seguido pela invenção do rádio, televisão e
cinema de tipo “um-todos”. O processo de evolução dos meios de comunicação de
massa tem com um dos objetivos a democratização do saber e da informação (Lévy
apud Souza, 2003).
O espaço cibernético abriu novas possibilidades de comunicação e capacidade
de transmitir palavras, imagens e sons que vão para além do que era permitido pelos
meios de comunicação anterior, impondo-se como uma nova forma de linguagem
(SOUZA, 2003).
O mesmo autor defende que o ciberespaço é o espaço da comunicação do tipo
“todos- todos”, num retorno ao modelo inicial de oralidade. A comunicação virtual gera
62
um novo modelo de se comunicar onde não distinção entre receptor e emissor
havendo assim uma comunicação coletiva.
Na opinião de Lévy (2003), a cibercultura é um termo utilizado na definição dos
agenciamentos sociais das comunidades no ciberespaço, espaço eletrônico virtual.
Estas comunidades estão ampliando e popularizando a utilização da Internet e outras
tecnologias de comunicação, possibilitando assim uma maior aproximação entre as
pessoas de todo mundo.
Para Braghirolli (2002), assim como o homem das cavernas utilizava signos,
símbolos e sons que a princípio pareciam desconexos para se comunicar, assim como
surgiu a linguagem pelas variadas formas de comunicação, surgem em cena o
computador, a máquina humanizada pelo homem, com os dois tipos de linguagem: a
verbal onde utilizamos o microfone para nos comunicarmos pelos programas como
MSN, Skype, teleconferências e outros que utilizamos a voz e a linguagem a não
verbal em que nos comunicamos por meio de textos digitados, salas de bate-papo, e-
mails, em que a fala está excluída. Neste contexto cibernético, surgem as linguagens
síncronas e assíncronas (PRADO, 2002).
[...] pensar a internet nos dias em que vivemos se tornou um verdadeiro
“must”. Os reflexos das mudanças por ela instauradas transcendem, em
muito, o território da informática. Em uma época em que o saber técnico
assume proporções inimagináveis, a tecnologia atravessa a vida
condicionando os comportamentos humanos. No campo da psicologia,
surgem questionamentos até então inexistentes, dentre os quais se
destaca o da possibilidade de um atendimento psicológico via Internet. A
resposta a essa pergunta não pode ser dada, entretanto sem
dificuldades, exigindo de nossa parte considerações adicionais. A
63
primeira delas é a necessidade de pensarmos a especificidade do
espaço que comumente chamamos de ciberespaço, o que fatalmente
nos leva a refletir sobre o próprio momento em que tal espaço se
constrói (ALMEIDA e RODRIGUES, 2003, p. 10-17).
Marot (2003) designa como linguagem síncrona a linguagem verbal mediada
pelo computador, a linguagem falada por meio de todos os recursos que os sujeitos têm
para comunicar-se pela voz e a linguagem assíncrona, a linguagem não verbal
presente em todos os outros tipos de comunicação mediado pelo computador onde a
linguagem verbal não está presente: os e-mails, textos digitados e utilização de outros
programas, recursos e atividades onde a fala está ausente, mas que tem de alguma
forma uma conexão homem máquina e outro homem, ligados por uma cadeia de
signos, símbolos necessários a todos os tipos de linguagem e a comunicação. Neste
espaço cibernético, virtual de comunicação, é comum o uso da linguagem síncrona por
meio dos chats e videoconferências e assíncrona através de e-mails e fóruns.
4.3. O conceito do que é virtual
Há muitas concepções de virtual. Algumas das definições mais comuns são: Algo
que é apenas potencial ainda não realizado (a definição histórica). Virtual referir-se-ia a
uma categoria tão verdadeira como a real.
O virtual não seria oponente ao real. O virtual pode ser oposto ao atual, porque o
virtual carrega uma potência de ser, enquanto o atual é (ser). Algo que não é físico,
apenas conceitual e algo que não é real. Virtual é tudo aquilo que não é palpável,
64
geralmente alguma abstração de algo real. A simulação de algo, como em realidade
virtual.
[...] no uso corrente, a palavra virtual é empregada com freqüência para
significar a pura e simples ausência de existência, a “realidade” supondo
uma efetuação material, uma presença tangível. O real seria da ordem
do “tenho”, enquanto o virtual seria da ordem do “terás”, ou da ilusão, o
que permite geralmente o uso de uma ironia fácil para evocar as
diversas formas de virtualização (LÉVY, 2005. p. 15).
Com o desenvolvimento das comunicações computadorizadas em rede, se
popularizaram os termos “virtual” e "virtualidade". Popularmente, chama-se "virtual"
tudo aquilo que diz respeito às comunicações via Internet. Nesse sentido "virtual"
implica o conceito de uma simulação, o que nem sempre é verdade. Em muitos casos
de expressões como "amigo virtual" ou "universidade virtual", o adjetivo "remoto" ou " a
distância" se encaixaria com mais propriedade.
Um dos mais conhecidos autores a tratar do tema é o francês Pierre Lévy. Em
seu livro "O que é o virtual?" discorre:
[...] Contrariamente ao possível, estático e constituído, o virtual é
como o complexo problemático, o de tendências ou de forças que
acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma
entidade qualquer, e que chama um processo de resolão: a
atualização (LÉVY, 2005, p. 16).
65
É uma definição filosófica, é uma realidade que existe e, como filosofia, é uma
especulação, o ciência. Na tentativa de explicar melhor o que é "virtual", Lévy
descreve a situação de uma empresa com departamentos longe da matriz.
[...] a virtualização pode ser definida como o movimento inverso da
atualização. Consiste em uma passagem do atual ao virtual, em uma
'elevação à potência' da entidade considerada. A virtualização não é
uma desrealização (a transformação de uma realidade num conjunto de
possíveis), mas uma mutação de identidade, um deslocamento do
centro de gravidade ontológico do objeto considerado: em vez de se
definir principalmente por sua atualidade ('uma solução'), a entidade
passa a encontrar sua consistência essencial num corpo problemático
(LÉVY, 2005, p. 17).
Lévy usa o termo para criar especulação filosófica: fala de "virtualização"
aplicada a, praticamente, todos os aspectos da vida humana: "Três processos de
virtualização fizeram emergir a escie humana: o desenvolvimento das linguagens, a
multiplicação das técnicas e a complexificação das instituições" (Lévy, 2005, p. 70). E
assim por diante.
Em informática, o termo virtual é muito usado para designar sistemas de
animação tridimensional em tempo real: realidade virtual. "Virtual" também é um termo
usado largamente para designar qualquer relacionamento mediado por redes de
computador. A mídia de informática, principalmente, ajuda a popularizar a "virtualidade",
porque é uma palavra que sempre chama atenção, está sempre ligada a novas
tecnologias e ao modismo tecnológico.
66
A concepção mental não é algo irreal, "virtual", porque os pensamentos são
coisas reais e materiais: pelo que se sabe do cérebro, hoje, os pensamentos são
definidos por ligações sinápticas entre células nervosas. As concepções mentais, as
idéias, os sentimentos, os conceitos, a imaginação, tudo são coisas físicas, interações
entre células nervosas mediadas por neurotransmissores e energia elétrica.
Pensamentos são esmagadoramente físicos. Não o exatamente coisas, mas
interações entre coisas aparentemente físicas, que por sua vez são interações entre
outras coisas, infinitamente. Tudo no universo é resultado de interações entre
fenômenos, num complexo "joguinho de armar", conclui LÉVY (2005).
4.4. Linguagem de computador X linguagem de programação
Diante a diversidade de formas de língua e linguagem existe a “linguagem do
computador” que é uma coleção de cadeias de símbolos, de comprimento finito. Estas
cadeias são denominadas sentenças de linguagem e são formadas pela justaposição
de elementos individuais ou símbolos.
Uma linguagem de programação é um método padronizado para expressar
instruções para um computador. É um conjunto de regras sintáticas e semânticas
usadas para definir um programa de computador. Uma linguagem permite que um
programador especifique precisamente sobre quais dados um computador vai atuar,
como estes dados serão armazenados ou transmitidos e quais ações devem ser
tomadas sob varias circunstâncias.
67
Dentro da linguagem de programação temos o Programa ELIZA, especialista em
psicologia, sem finalidade terapêutica, criado em 1966, por Joseph Weizenbaum e
kennety Colby, psicoterapeutas e pesquisadores, do MIT (Instituto Tecnológico de
Massachusetts) nos Estados Unidos da América. O MIT é um dos líderes mundiais em
ciência e tecnologia, bem como outros campos, como administração, economia,
lingüística, ciência política e filosofia.
Segundo Prado (2002) o programa demonstrava o processamento de linguagem
natural "conversando" com humanos ao estilo de um compreensivo psicólogo rogeriano
(programas deste tipo são conhecidos agora como chatterbots). ELIZA é considerada
uma precursora das "máquinas pensantes". Weizenbaum ficou chocado ao constatar
que ELIZA era levada a sério por muitos usuários, fazendo com que abrissem seus
corações para um programa. Então, ele começou a pensar filosoficamente sobre as
implicações da inteligência artificial e posteriormente tornou-se um de seus principais
críticos.
A cada momento de nossas vidas surgem novos tipos de linguagem advindos
das mudanças imperiosas que ocorrem nas relações entre as pessoas, relações essas
que influenciam e ajudam ao acesso as informações numa velocidade-luz e esta
realidade está vinculada ao fenômeno da globalização tornando-nos muito próximos
uns aos outros, surgindo, assim, um novo espaço “chamado pelos especialistas de não-
lugar, espaço virtual, ciberespaço, que tem como características principais a mutação e
a multiplicidade” (SOUZA 2003).
Tais construções sofrem criticas, mas abre-se também para um leque de
possibilidades inovadoras. Dentre essas críticas e inovações encontramos a validade
68
e/ou possibilidades de um novo modelo de atendimento psicológico no ambiente on-
line: o atendimento psicanalítico e psicoterápico on-line.
69
5 UMA ABORDAGEM HISTÓRICA DA PSICANÁLISE
A psicanálise surgiu na década de 1890 em Estudos sobre a histeria (1893-
1895), com Sigmund Freud, um médico neurologista, interessado em descobrir um
tratamento efetivo para pacientes com sintomas neuróticos ou histéricos, com isso,
Freud alterou, radicalmente, o modo de pensar a vida psíquica dos seres humanos.
Conversando com os pacientes, Freud acreditava que seus problemas, se
originaram da não aceitação de questões de ordem cultural, ligadas a desejos
inconscientes e suas fantasias de natureza sexual, sendo assim recalcados.
Para Jorge e Ferreira (2005) A vida de Sigmund Freud marcou a história da
humanidade. Freud descobriu que o homem é regido por forças que escapam à
consciência, algo de que o ser humano tanto se gaba para diferenciar seu gênero de
todas as espécies animais e que, no entanto, é apenas a ponta de um imenso iceberg.
Roudinesco e Plon (1998, apud Franco, 2004) afirmam que Freud nomeou a
psicanálise como um método singular de psicoterapia denominado de tratamento pela
fala. Tratamento proveniente do processo catártico de Breuer, em que se visava a uma
descarga considerada adequada, para afetos patogênicos, pautado na exploração do
inconsciente por meio da livre associação e da interpretação dos conteúdos latentes
presentes na fala, nos atos falhos, sonhos, chistes e nos sintomas trazidos pelo
paciente.
Freud (1914) iniciou a história da psicanálise com Berta Pappenheim, conhecida
pelo nome fictício de Anna O. nos Estudos Sobre a Histeria (1893-95) de Freud, que
70
mostrou como o impasse do método catártico obtido através da hipnose, precisou ser
transposto para que a psicanálise pudesse surgir.
Anna O. a moça que inventou a talking cure ou “cura pela conversa”,
apaixonou-se por seu médico, Dr. Breuer, e deu pistas do que seria mais tarde
denominado por Freud de transferência. Na época, Anna O. com 21 anos apresentava
uma variedade de sintomas como: a oscilação exagerada de humor; angústia;
sonambulismo; perturbações graves na visão e na linguagem; ascos aos alimentos;
paralisias por contratura; anestesias; tosses, etc.
[...] quando acolhida em tratamento por Breuer, pôs em marcha aquilo
que ela mesma denominou, de modo sério de talking cure (cura pela
conversa) e de maneira jocosa limpeza de chaminé (MAURANO, 2000,
p. 13).
Freud (1914) ao aceitar a talking cure pista dada por Anna O. abandona
definitivamente a hipnose e volta sua atenção para a tentativa de descobrir a partir das
associações livres do analisante, o que ele deixava de recordar e com isso contornar a
resistência pelo trabalho da interpretação.
Segundo Laplanche e Pontalis, a associação livre é um:
[...] método que consiste em exprimir indiscriminadamente todos os
pensamentos que acodem ao espírito, quer a partir de um elemento
dado (palavra, número, imagem de um sonho, qualquer representação)
quer de forma espontânea (LAPLANCHE e PONTALIS, 1988, p. 71).
71
No que diz respeito a psicanálise várias definições foram dadas por Freud
(1913), quais sejam: um procedimento para investigação de processos mentais que de
outra forma são praticamente inacessíveis e um método psicoterápico baseado nessa
investigação para o tratamento de distúrbios neuróticos. A psicanálise é um método
investigativo do inconsciente baseada principalmente nas associações livres do
paciente que são a garantia da validade interpretativa nas evidências significativas
inconscientes das suas palavras e das suas produções imaginárias (sonhos, fantasias
etc.).
De acordo com Freud (1930), a psicanálise está interessada na “causa” da
insatisfação e da angústia do sujeito e com o mundo dos objetos. O interesse da
psicanálise é orientar o sujeito, pela via do saber do inconsciente, conduzindo o sujeito
a construir uma relação menos discordante com os objetos que trazem satisfação.
Por mais que:
[...] a psicanálise tenha sido propagada das formas mais estapafúrdias,
sua proposta desde seus primórdios no rigor da ética cunhada por
Freud, foi a de ser uma estratégia para tratar desse vazio, que na maior
parte do tempo tratamos por falta de alguma coisa ou falta de alguém
(MAURANO, 2006, p. 15).
Na opinião de Pamponet (2001), a psicanálise pretende que o sujeito trabalhe
seus conflitos para que ele possa funcionar melhor diante dos impasses que a vida
cotidiana a todos os momentos nos impõe. Neste sentido a palavra é privilegiada, pois
ela é a expressão viva do sujeito e a via pela qual ele pode se libertar da dor de existir e
72
de suas angústias e isto é possibilitado a partir da relação transferencial que o
analisante faz em relação à figura do analista.
Freud (1926) revelou a importância do método psicanalítico na elaboração dos
pensamentos inconscientes e esta elaboração é efetivada superando as resistências
internas do analisante, a qual surge através da transferência.
5.1. O conceito de transferência na psicanálise
Freud (1911) define a transferência como o deslocamento do sentido atribuído a
pessoas do passado para pessoas do nosso presente e num processo de análise o
deslocamento da transferência é para a figura do analista e é necessariamente
ocasionada durante o tratamento. A transferência é executada pelo inconsciente e é
essencial no processo de análise e ocorre necessariamente durante o tratamento.
Quinet (1991) defende que o estabelecimento da transferência é necessário para que
uma análise se inicie.
Na opinião da Maurano (2000) é da posição que o analisante dá, ao analista pela
transferência, que ele poderá analisar interpretar e intervir sobre a transferência do
analisante que coloca o analista ocupando uma posição, um lugar em sua vida afetiva.
Para Freud (1904), o método básico da Psicanálise é a interpretação da
transferência e da resistência com a análise da associação livre, método criado por
Freud que possibilitou o nascimento da psicanálise culminando com o abandono da
hipnose, como método eficaz no tratamento dos sintomas neuróticos dos sujeitos e isto
a torna diferente dos demais métodos.
73
[...] é a análise da transferência que institui a diferença chave entre a
psicanálise e os outros métodos de que, antes dela, o próprio Freud
tinha lançado mão (MAURANO, 2000, p. 9).
Para Maurano (2000) o fenômeno da transferência é a chave da inveão desse
novo método de tratamento. A Überträgung, termo alemão que além de transferência
significa também transmissão; contagio tradução; versão; e até audição; ganhará,
enquanto conceito psicanalítico, o sentido de estabelecimento de um laço afetivo
intenso, que se instaura de forma quase automática e independente da realidade, na
relação do paciente com o analista, revelando o pivô em torno do qual gira a
organização subjetiva do paciente.
Para Lacan (1960) é impossível eliminar o fenômeno da transferência pelo fato
de que ela se manifesta exclusivamente na relação com alguém a quem se fala. Lacan
(1964) propõe ainda, que o analista deve esperar a transferência acontecer para
começar a interpretar. Ele acentua esta questão porque ela é a linha divisória da boa e
da má maneira de conceber a transferência.
Na medida em que analista e analisante vão construindo sua relação, fantasias
são despertadas e ganham novas roupagens. Nesta relação que vai se constituindo o
lugar que o analista assume, por substituição do analisante, o lugar de alguém
importante na vida do analisante. Isto se trata do que em psicanálise é chamado de
transferência a qual é importante que o analista a aceite para que a análise possa
acontecer.
74
[...] o analisante imputa ao seu analista certas posições correlativas
àquelas nas quais se encontram as figuras primordiais para ele desde o
inicio de sua vida. Nessa perspectiva, é preciso que apareça um traço
pela qual a pessoa do analista seja identificada com uma pessoa do
passado (MAURANO, 2000, p.16).
Lacan (1960) defende que a transferência é condição primordial para que o
tratamento psicanalítico aconteça. Se a transferência não se estabelecer e o analisante
não for capaz de fazer um investimento no analista a utilização do método psicanalítico
fica inviabilizado. Maurano (2000) defende que é por meio da intervenção do desejo do
analista que a transferência efetiva-se como viabilização do tratamento.
Um fator preponderante na transferência, no ponto de vista de Lacan (1960) é
que esta propicia que o analisante fale livremente ao analista tudo o lhe vier em seus
pensamentos, sem restrições, num processo de associação livre, que segundo Jorge e
Ferreira (2005) é onde o analisante é convidado a falar tudo que lhe passa na cabeça
sem exercer o crivo da censura. Freud denominou a associação livre como regra
fundamental da psicanálise e como condição essencial ao trabalho.
[...] é também a partir do estabelecimento da transferência que o
analista pode levantar a hipótese diagnóstica que o orientará no manejo
de sua clínica psicanalítica (MAURANO, 2000, p. 24).
Para a mesma autora, a psicanálise configura um tipo de laço social
absolutamente particular, eminentemente linguageiro, ou seja, depende do que se
articula pela fala.
75
[...] Lacan parte da evidência de que a linguagem, a cadeia simbólica,
determina o homem antes do nascimento e depois da morte. O bebê
vem ao mundo marcado por um discurso, no qual se inscrevem a
fantasia dos progenitores, a cultura, a classe social, a língua, a época,
etc. enfim, podemos dizer que tudo isso constitui o campo do Outro,
lugar onde se forma o sujeito (JORGE e FERREIRA, 2005, p. 44).
Longo (2006) destaca que Outro (com o maiúsculo) é a maneira como Lacan
representa o inconsciente, diferente do outro (com minúscula), que representa os
sujeitos falantes. Ele vem de fora, e produz alteridade, marca a diferença nos sujeitos.
Maurano (2000) destaca que a transferência está ligada ao amor e com a
demanda do analisante de ser amado e como esta será acolhida, encaminhada, tratada
e desmontada na experiência psicanalítica. Segundo Lacan (1985), “a transferência é o
pivô sobre o qual repousa inteiramente a estrutura do tratamento psicanalítico”.
Outro fator importante a ser observado diz respeito à contratransferência,
diferindo da posição do analisante que sempre irá transferir seja positivamente ou
negativamente em relação ao analista. O conjunto de reações afetivas do analista em
relação ao analisante seja consciente ou inconsciente chama-se contratransferência.
[...] quando um analista importância aos afetos suscitados nele por
seus pacientes, sua função fica prejudicada, ou inviabilizada, pois o
trabalho analítico, diferente de muitos trabalhos psicológicos, não se
efetiva como um processo intersubjetivo, ou seja, entre sujeitos
(MAURANO, 2000, p. 35).
Segundo Freud (1910), um analista se torna ciente da contratransferência, por
meio da influência das questões trazidas pelos analisantes, sobre os sentimentos
76
inconscientes do analista. A análise do analisante não avançará enquanto o analista
não superar suas próprias resistências.
Segundo Roudinesco e Plon, a resistência é:
[...] o termo criado em psicanálise para designar o conjunto das reações
de um analisante cujas manifestações, no contexto do tratamento, criam
obstáculos ao desenrolar da análise (ROUDINESCO e PLON, 1998, p.
659).
Deve-se dar ao analisante um tempo para familiarizar-se com a resistência, e
assim elaborá-la e conseguir superá-la e isto poderá ser alcançado por meio da
relação transferencial, relação que o analisante constrói com seu analista. Esta relação
transferencial depende de como o analista maneja a transferência e quebra” a
“barreira” da resistência.
A elaboração da resistência poderá revelar-se uma tarefa árdua para o
analisante e uma prova de paciência para o analista. A espera do analista na
elaboração da resistência do analisante é o que promove as mudanças do analisante
que busca uma “cura” para sua ferida, seu mal-estar, sua dor, seu eterno vazio e isto
distingue o tratamento analítico da qualquer outro tipo de tratamento psicoterápico.
[...] não podemos nos curar da ferida de sermos humanos, ou seja,
substituindo a iia de cura como o que estaria na finalização de um
tratamento, por meio da extirpação de um mal, entra em cena o
procedimento investigativo do tratamento psicanalítico, que traz como
uma de suas conseqüências o efeito terapêutico. O vazio é impossível
de ser extirpado, mas cabe-nos encontrar meios menos nefastos de
abordá-lo (MAURANO, 2006, p. 25).
77
Em Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise (1912), Freud
chamou-lhes a atenção no sentido de que para exercerem a psicanálise deveriam
submeter-se a uma análise pessoal, por ser uma condição primordial para o tratamento
psicanalítico de um analisante auferir sucesso em sua forma de trabalho.
5.2. A forma como trabalha um psicanalista
Freud (1926) revela que em um processo de análise o analisante, numa postura
relaxada, é solicitado a dizer tudo o que lhe vem à mente. Sonhos, esperanças, desejos
e fantasias o de interesse do analista/psicanalista, como também as experiências
vividas nos primeiros anos de vida em família. O analista trabalha com o método da
interpretação.
[...] termo que designa qualquer intervenção psicanalítica que vise a
fazer um sujeito compreender a significação inconsciente de seus atos
ou de seu discurso, que estes se manifestem através de um dito, um
lapso, um sonho, um ato falho, de uma resistência, da transferência, etc.
(ROUDINESCO e PLON, 1998, p. 388).
De acordo com Freud (1926), geralmente, o analista mantém sua atenção
flutuante e escuta, fazendo comentários, somente, quando no seu julgamento
profissional, visualiza uma crescente oportunidade para que o analisante torne
conscientes os conteúdos recalcados que são supostos, a partir de suas associações
livre.
78
[...] a atenção flutuante é o correlato no analista, da regra fundamental
da associação livre, segundo a qual o analisante é convidado a falar
tudo que lhe passe na cabeça, sem exercer o crivo da censura (JORGE
e FERREIRA, 2005, p. 21).
Quinet aponta:
[...] que o sujeito em associação livre é um sujeito dirigindo-se ao
analista, cuja presença física nas sessões é condição sine qua non para
que possa presentificar o inconsciente. Por mais que possa parecer
estranho, o inconsciente, psicanaliticamente falando se presentifica na
poltrona do analista (QUINET, 2000, p. 45).
Escutando o analisante, o analista mantém uma atitude empática de
neutralidade. Uma postura de não-julgamento, visando a criar um ambiente seguro.
Comumente os analistas escutam indagações sobre o silêncio e da pouca intervenção
de palavras deste. Este fator é importante para que as questões do analisante possam
emergir do objeto de estudo da psicanálise - o inconsciente que é estruturado como
linguagem.
Segundo Jorge (2000), para Lacan, o inconsciente é estruturado como uma
linguagem. Ao fazer esta formulação Lacan trouxe a psicanálise de volta ao campo da
linguagem fazendo referência à fala. O inconsciente é linguagem e esta em psicanálise
remetida à fala, a palavra.
[...] o inconsciente não se encontra num suposto mais-além da
linguagem, nem em qualquer profundeza abissal ou oculta; ele se acha
nas palavras, apenas nas palavras e é nas palavras enunciadas pelo
79
sujeito que ele pode ser escutado. Estruturado como linguagem, é nela
que o inconsciente se encontra enraizado (JORGE, 2000, p. 80).
Ao referir-se ao postulado de Lacan (1964) que “o inconsciente é estruturado
como linguagem”, Longo (2006) faz um apontamento de que o inconsciente segue as
leis da linguagem e que não há discurso possível sem a condensação (metáfora) e o
deslocamento (metonímia).
A originalidade do conceito de Inconsciente introduzido por Freud (1915) deve-se
à proposição de uma realidade psíquica, característica dos processos inconscientes. É
preciso diferenciar inconsciente, sem consciência, de Inconsciente, conforme elaborado
por Freud, que diz respeito a uma instância psíquica basilar na constituição do sujeito.
Quinet (2000) traz uma contribuição muito importante para a psicanálise, no que
diz respeito à noção de sujeito e pensamento quando diz que o sujeito é também sujeito
do pensamento - pensamento inconsciente. Pois, o que Freud descobriu é que o
inconsciente é feito de pensamento e para tornar nossos pensamentos conhecidos
temos a linguagem e sem a exposição a uma língua não se aprende a falar e é por
meio da fala que o inconsciente pode revelar-se.
[...] pensamento e linguagem são diferentes. Contudo é na linguagem
que o homem encontra significações, embora precárias, que o
protegerão contra o excesso de realidade de um mundo que existe
antes da linguagem, pois o mundo e a natureza são estranhos e
absurdos para o homem, até que possam se aproximar de nós pela
mediação simbólica da linguagem que irá, então, modelar o sentido da
realidade (LONGO, 2006, p.12).
80
Freud (1903) postulou que a revelação do inconsciente ocorre em face de uma
resistência continua por parte do analisante, o que muitas vezes leva o analisante a
querer interromper a análise e o analista, à disposição de escutar o analisante, deve
encontrar meios para trabalhar a resistência do analisante e, com isso, prosseguir o
trabalho de análise, que exige do analisante sinceridade.
5.3. Algumas reflexões sobre Psicanálise e Psicoterapia
Se a psicanálise é a única que aborda e tem uma escuta do inconsciente e suas
relações com a consciência, que modelo terapêutico abordaria exclusivamente o
consciente? Existiria um modelo específico para tal tratamento? É muito comum ouvir o
nome psicoterapia para o tratamento das questões psíquicas dos sujeitos humanos.
Seria a psicanálise e psicoterapia a mesma coisa? O senso comum não estabelece
diferença entre psicoterapia e psicanálise, todavia que se ressaltar a existência de
uma diferença entre ambas, conclui Franco (2004).
[...] diferenciar a psicoterapia da psicanálise é fácil de dizer. Na
verdade, é preciso ser prudente e dizer que é um critério importante
para distinguir a psicoterapia da psicanálise. Essa condição especifica a
transferência analítica em relação a qualquer outra transferência
implicada nas relações humanas habituais (NASIO, 1999, p. 45).
Na opinião de Franco (2004), existe uma diferença entre psicologia e psicanálise,
a saber, a psicologia originou a partir de pesquisas em laboratório e a psicanálise foi
81
estruturada a partir da experiência clínica de Freud. A psicanálise foi construída por
Freud a partir da escuta de seus analisantes. Miller defende (1997) que falar faz bem e
cura. Estar mal e doente pode ser interpretado com um meio de falar quando não se
sabe falar.
[...] na linguagem de hoje, diz-se “somatizar”, o que quer dizer que o
corpo se torna um meio da palavra. Que haja uma relação entre o mal e
a palavra. Que haja uma relação entre o mal e a palavra não é uma
descoberta de Freud; a medicina, antes de inserir-se no discurso da
ciência, sabia muito bem o valor de alívio da confissão e da palavra da
absolvição (MILLER, 1997, p. 12).
Segundo Scarpato (2006), a psicoterapia é um campo do saber que visa à
compreensão do ser humano e de seu modo de existir no mundo. Envolve, portanto, o
estudo do comportamento humano bem como o desenvolvimento de recursos
metodológicos clínicos que favorecem o equilíbrio bio-psico-social do indivíduo. Na
opinião de Miller (1997), o que de comum entre psicoterapia e psicanálise é que
ambas admitem a existência de uma realidade psíquica.
O mesmo autor define, ainda, o tratamento psicoterápico como um processo
conduzido por um psicólogo, com sólida competência profissional em realizar
diagnóstico e procedimentos clínicos psicológicos. Trata-se, portanto, de um tratamento
realizado por meio de técnicas fundamentadas em uma teoria de personalidade, com o
propósito de reorganizar padrões de comportamentos geradores de sofrimento que
interferem no bem estar do indivíduo e o impedem de criar possibilidades de realização
pessoal.
82
Assim sendo, a psicoterapia objetiva o fortalecimento da capacidade de
autogerenciamento do cliente, permitindo-lhe tomar para si o rumo da própria vida. Isso
se através do aprofundamento de sua autopercepção e, por conseqüência, a
compreensão de seu próprio funcionamento e dos fatos de sua vida.
Psicoterapeutas e clientes, juntos, vão, como num caleidoscópio, girando e
reorganizando de outras maneiras a pedrinha nele contida, originando-se, assim, novas
formas de pensar, sentir e agir. Nessa perspectiva a relação psicoterápica é uma
relação de parceria, pois implica um compromisso mútuo, porém diferenciado, do
profissional e do cliente, conclui Scarpato.
[...] se considerarmos a psicanálise com base na psicoterapia, a
psicanálise confunde-se com a psicoterapia, ao passo que, considerada
com base em si mesma, ela não tem nada a ver com a psicoterapia
(MILLER, 1997, p. 11).
Na opinião de Franco (2004) a psicanálise postulada por Freud e retomada por
Lacan guarda especificidades que a colocam fora do domínio das psicoterapias. As
expressões como sugestão, persuao, reeducação e restabelecimento do equilíbrio
emocional do indivíduo não cabem a psicanálise, que tem seu trabalho calcado no
inconsciente.
A psicoterapia é considerada como um valioso recurso para lidar com as
dificuldades dos sujeitos, com todas as formas de que o sofrimento humano surge: as
manifestações sintomáticas (pânico, angústia, depressão, fobias, anorexia, bulimia,
etc.), as crises pessoais (conflitos relativos aos sentimentos dos sujeitos consigo
83
mesmo), crises de relacionamentos, conflitos conjugais e familiares, distúrbios
psicossomáticos, dificuldades nas transições da vida, crises profissionais, etc.
Na opinião de Scarpato (2006) outro fator que difere a psicoterapia da
psicanálise é a questão dos prazos, de duração das sessões. Em psicanálise não tem
um tempo determinado ao passo que nas psicoterapias variam com os objetivos.
Atualmente é possível atingir resultados significativos em períodos de 3 (três) a 12
(doze) meses e muitos processos terapêuticos profundos que se encerram
satisfatoriamente em prazos inferiores a três anos, conclui ele.
[...] no conjunto de psicoterapias atuais algumas deveram sua
implantação e expansão ao fato de fazerem crer que seu modo de
intervenção podia subtraí-la do campo da linguagem. O que parecia,
também, como uma crítica à psicanálise por ser um tratamento muito
longo (NICÉAS, 1997, p. 21).
Freud (1913) em sobre o Início do tratamento fez um alerta aos analistas aos na
questão dos tratamentos rápidos. Segundo Freud, os analistas deveriam prevenir-se
quanto a diagnósticos relâmpagos e tratamentos rápidos e que este caminho não
deveria ser trilhado por um analista.
[...] psicoterapeutas e psicanalistas acolhem a mesma demanda que o
sintoma motiva, e utilizam o mesmo meio, a palavra. Entretanto, eles
reconhecem que não fazem desse meio o mesmo uso, e não visam aos
mesmos fins. Os primeiros utilizam até eventualmente a psicanálise
como contraponto, prometendo: mais curto, mais humano, menos caro,
menos perigoso, etc. quanto aos psicanalistas, estes pretendem
84
introduzir o sujeito que a ele confia, em outra coisa, até mesmo em um
além da terapêutica (SOLLER, 1997, p. 107).
Freud (1901 apud Horne 1997) faz uma alusão metafórica ao separar psicanálise
de psicoterapia utilizando-se da oposição que Leonardo Da Vinci estabeleceu entre
escultura e pintura.
[...] a pintura, diz Da Vinci, procede pelo método de pôr, de colocar
sobre a branca tela cores onde antes não havia. Ao colocá-las sobre a
tela, opera “per via di porre”. A escultura, em troca o faz “per via di
levare”, retirando pouco a pouco do bloco de mármore a massa que
cobre a estátua nela contida (HORNE, 1997, p. 145).
A terapia sugestiva para Freud (1901) não se preocupa com a origem, a força e o
sentido dos sintomas. A sugestão encobre o sintoma e com isso impede sua
emergência, a sua exteriorização, ou seja, trabalha “per via di porre”. A psicanálise ao
contrário, não tem como proposta em sua condução nada de novo, pretende extrair,
deixar sair aquilo que se encontra ”escondido” por detrás do grande bloco de mármore,
o inconsciente. Sendo assim a psicanálise trabalha “per via di levare”.
A base de uma análise/terapia está na relação terapêutica. A análise/terapia se
desenrola num enquadre clínico com um vínculo que favorece este processo, no qual
necessariamente, estejam ambos na presença física um do outro. O segredo desta arte
consiste em criar um ambiente que permite a relação do mundo interno do
analisante/paciente com o mundo externo favorecendo o desenvolvimento de um
85
processo singular de cada um. Nesta relação, uma possibilidade que o inconsciente
se mostre, seja ouvido, transformando-se, formando vida.
Diante da importância da presença física do analista/psicoterapeuta nas sessões
de análise/psicoterapia, abre-se espaço para questionamentos sobre outras formas de
atendimento psicanatico/psicoterapêutico, entre eles o atendimento no ambiente on-
line, no ciberespaço.
86
6 REFLEXÕES SOBRE PSICANÁLISE E PSICOTERAPIA ON-LINE NO ESPAÇO
CIBERNÉTICO
A prática do atendimento on-line começou a se disseminar no Brasil por volta de
1996 e 1997 por alguns psicanalistas e psicoterapeutas. Mello (2000) começou a utilizar
os serviços em 1999 e defende que o atendimento virtual tem um perfil para ser mais
utilizado como terapia breve e o tratamento se dá usando chat ou ICQ.
Para Prado (2002) a terapia mediada pela Internet pode ser realizada de forma
assíncrona, sendo o e-mail um exemplo, que é uma forma de comunicação em que não
é necessário que as partes estejam conectadas simultaneamente, ou pode ser
realizada de forma síncrona que é uma forma de comunicação em que as partes estão
conectadas simultaneamente através de chats e videoconferência.
Segundo Bernardo (2002), a Psicanálise on-line agrega todos os preceitos
consagrados na psicanálise clássica, novos mecanismos de trabalho, utilizando-se das
possibilidades que a moderna tecnologia lhe oferece, a exemplo de outras formas de
terapia que já utilizam esta modalidade.
O mesmo autor aponta, ainda, que nesta forma de trabalho vantagens que
merecem destaques, como por exemplo: permitir o acesso a clientes que moram em
locais que não há psicanalistas ou clientes que não querem ou não aceitam ir ao
consultório, oferecer flexibilidade nos horários, permitir maior abertura emocional e
oferecer preços menores que a média cobrada pelos psicanalistas tradicionais.
Regis (2006) destaca que, segundo a Resolução 012/2005, que regulamenta o
atendimento mediado por computador, via Internet, os referidos atendimentos, só
87
podem ser feitos como pesquisa científica, cujo protocolo tenha sido aprovado por
comitê de ética em pesquisa, reconhecido pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS).
Ainda o mesmo autor defende que existe uma diferença entre o atendimento
clínico convencional e o atendimento de orientação on-line, mediado pela Internet, o
qual não tem efeito terapêutico propriamente dito, pois são orientações breves e
objetivas centradas numa queixa específica. Essas orientações podem ser via e-mail,
chat, ICQ, skype, MSN, entre outras de comunicação mediada pela Internet, com ou
sem o uso de webcam e microfone (para conversa com voz), ou apenas trocas de
mensagens digitadas. A psicoterapia o existe neste caso. a ptica convencional
em clínicas ou consultório tem efetivamente efeito terapêutico e consiste num processo
à longo prazo, conclui Regis (2006).
Segundo Saad (2000) que atende de maneira convencional, não como ter
sucesso nesse tipo de contato. Pessoas que têm fobia social, por exemplo, não
deveriam ficar em frente ao computador ao contrário, deveriam se esforçar a sair de
casa. O ato falho, a gagueira, o desvio do olhar são alguns dos elementos presentes
em uma sessão de análise e considerados fundamentais para o trabalho do
Inconsciente. Será que, com o texto, é possível perceber tudo isso? Questiona Saad.
Dias da Silva (2000), presidente da Unipsico (Cooperativa de psicólogos de São
Paulo), afirma ser impossível a aliança terapêutica on-line, pois esta exige um contato
vivo. As possibilidades de melhoria vêm a partir das reações verbais e o verbais,
onde o tremor das mãos, o sorriso, a voz e a expressão facial são vitais para a
comunicação entre analisante e analista.
88
Segundo Lutfi (1999), o atendimento psicológico via Internet tem causado
polêmica e divergências entre psicólogos principalmente no que diz respeito à eficácia
do atendimento que ainda não tem comprovação científica. Isto provoca
questionamentos como: que metodologia sustenta essa prática clínica? Como a prática
pode ser explicada? Como definir os critérios de um atendimento cibernético (on-line)
se não há hora ou lugar marcados? Como se dá a relação entre o analista e o
analisante? Segundo Lutfi tais questões ainda não foram cientificamente respondidas.
Barreto (1999) não a possibilidade de a relação via Internet ser rica o
suficiente para um tratamento profundo, pois o tratamento psicanalítico implica o
estabelecimento de uma relação com uma pessoa a uma dimensão simbólica. O
encontro entre o paciente e o psicanalista revela uma série de elementos, além do
próprio afeto envolvido: os gestos, a maneira de falar, a própria preparação emocional
de ir ao consultório do psicanalista.
Psicólogos on-line como Mello (1999), por exemplo, garantem que é possível
perceber a personalidade, o caráter, e até mesmo o inconsciente de uma pessoa por
meio da rede. Mello diz que a escrita pode conter atos falhos, manifestações de
desejos, raiva e até depressão e por este motivo ser possível uma psicoterapia on-line.
Apesar disto Mello admite que existam casos clínicos que não têm possibilidades de
serem tratados em um ambiente virtual e nestes casos as pessoas são orientadas a
procurarem um profissional que possa lhes atender pessoalmente.
Bello (2000) acredita que toda essa discussão ainda está no começo. Para ela
sem a presença física fica faltando uma série de pressupostos básicos do tratamento.
Na verdade, não se estabelece uma relação, não manifestação de sentimentos.
89
Bello admite não ter ainda uma opinião fechada sobre o assunto, acha tudo muito
discutível.
Para a psicanalista Milman (2000) este tipo de psicoterapia peca por uma
limitação básica: a ausência de presença física. Ela defende que terapia é entendida
estar de corpo presente, tanto a voz quanto o gestual são fundamentais para o
processo terapêutico.
Os psicanalistas ortodoxos on-line, da Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do
Brasil (SPOB) defendem a possibilidade do atendimento no ambiente on-line, ou seja,
no ciberespaço. Para Machado (2000), presidente da referida instituição, a prática pode
ser exercida por qualquer profissional que faça um curso de formação em psicanálise, o
qual é oferecido na própria SPOB, com direito a certificação do título de psicanalista.
Esta afirmação é perigosa. Na opinião do psicanalista Amendoeira (2000),
presidente da Associação Brasileira de Psicanálise (ABP), que congrega todas as
Sociedades e Escolas de Psicanálise filiadas à International Psychoanalisys Association
(IPA) fundada por Freud, afirma ser um grande engano a afirmação da SPOB, pois para
se tornar um psicanalista não basta fazer um curso de formação em psicanálise, é
necessário anos de estudos. É digno de nota que a SPOB, não faz parte da ABP.
As Escolas e Sociedades de Psicanálise, como Corpo Freudiano Escola de
Psicanálise (CFEP), Escola Letra Freudiana (ELF), Escola Brasileira de Psicanálise
(EBP), Práxis Lacaniana (PL), Formações Clínicas do Campo Lacaniano, (FCCL) entre
outras, reconhecidas pela ABP (IPA), não têm como objetivo a formação de
psicanalistas mas a difusão e transmissão da psicanálise e isto é feito de forma
permanente e até tornar-se um analista é necessário um grande percurso.
90
O Ministério da Saúde, através do CNS, admite pela Resolução 196/96 à
formação de psicanalistas exclusivamente por instituições reconhecidas pela IPA da
qual a ABP faz parte, congregando várias Escolas de ensino, difusão e transmissão da
psicanálise.
Amendoeira (2000) defende que o analista necessita de um ambiente
preservado, que facilite a compreensão do que o analista e analisante compartilham. O
tratamento feito na Internet não atende a essa necessidade por diminuir o envolvimento
emocional entre analista e analisante, reduzindo as possibilidades do desenvolvimento
do tratamento, conclui Amendoeira.
Corrêa (1999) revela que quando se entra nos sites de atendimento on-line não
credibilidade no que acontece ali. Ela defende que nas práticas psicanalíticas, o
psicanalista passa por anos de estudos, leituras e tratamento. Para Corrêa, os próprios
psicólogos que utilizam a Internet como mediadora do atendimento psicológico sabem
muito pouco do que estão fazendo e conclui dizendo que nenhum desses
cyberterapeutas conseguiu mostrar cientificamente que o tratamento pode ser feito de
forma efetiva.
Segundo Mrech (2000) a questão que gera mais polêmica vem dos profissionais
que defendem a essência da psicoterapia. A essência, nesse caso, seria o atendimento
face a face com o paciente. No contato via Internet à possibilidade mais próxima disso é
o uso de câmeras ligadas aos computadores, o que não é suficiente. O corpo do
paciente faz parte da sessão. É preciso analisar as reações do paciente, o que é
impossível com uma câmera de vídeo defende Mrech.
91
Ricotta (2000) argumenta que na terapia on-line o paciente pode até sentir-se
mais a vontade para falar sobre suas inseguranças e pecados” longe dos olhos do
terapeuta, mas na hora de uma crise poderá faltar um respaldo mais consistente que só
a terapia convencional pode dar.
Prado (2000) integrante do grupo de trabalho do ATMC (Atendimento Mediado
por Computador) do CRP de São Paulo acredita que ainda vai demorar a surgir uma
posição final sobre o assunto. Segundo Prado, serão necessárias várias pesquisas até
que se tenha uma visão clara dos limites e dos potencias da terapia on-line. Maiorino
(2000), outra integrante da ATMC, acredita que as pesquisas podem gerar uma nova
linha de psicoterapia, com um novo modelo de atendimento.
Pellanda (2000) defende que se consideramos a psicanálise como o fruto da
nova árvore do conhecimento, com o advento da Internet, nada poderá ser feito para
impedir sua difusão, a não ser que os próprios psicanalistas deixem que esta
psicanálise equivocada torne-se difícil para um público leigo distingui-la da psicanálise
saudável.
Mautner (2000), psicanalista da SBP (Sociedade Brasileira de Psicanálise) de
São Paulo, não é favorável a prática on-line, pois não se pode chamar de terapia ou
análise esse tipo de trabalho; falta o essencial que é o encontro, sem intermediários,
entre analisante e analista.
Para Marcos Vinicius de Oliveira, ex-conselheiro do Conselho Federal de
Psicologia, a questão central, que divide os terapeutas, refere-se às aplicações das
técnicas terapêuticas em um meio completamente diferente do ambiente do consultório.
Na comunicação virtual, ou cibernética feita por chat ou e-mail, o terapeuta não pode
92
ver nem ouvir o paciente, o que compromete a interpretação dos signos e
conseqüentemente torna a técnica tradicional inadequada.
6.1. O espaço cibernético
O espaço cibernético é considerado uma forma diferente de comunicação entre a
existente (telefone, rádio, TV, jornal, livro, etc.), pois neste espaço as mensagens se
tornam interativas, ganham plasticidade havendo uma abertura de transformação
imediata naquilo que faz e dão sentido as relações simbólicas entre os homens (LÉVY,
2000).
[...] o espaço cibernético é o terreno onde está funcionando a
humanidade hoje. É um novo espaço de interação humana que tem
uma importância profunda principalmente no plano econômico e
científico, e, certamente, esta importância vai ampliar-se e vai estender-
se a vários outros campos, como por exemplo, na pedagogia, na
estética, na arte, na política, etc (LÉVY, 2000, p. 13).
Diz o autor que “o ser humano vive em e por sistemas simbólicos que lhe
permitem fazer sentido”, e permitem dar sentido ao mundo em que vive, seja este
mundo externo ou interno. O sentido é uma espécie de evento mental que se atribui as
impressões que os seres humanos têm de suas relações simbólicas com os outros
seres humanos, e nesta relação que as experiências humanas ganham e dão sentido.
[...] o sentido é sempre sentido de alguma coisa. Mas, a partir do
momento em que tentamos captar o sentido, independentemente dos
93
enunciados, das mensagens, das imagens ou dos fatos aos quais se
refere, eis que ele parece se desvanecer (LÉVY, 2000, p. 21).
Quando somos interrogados sobre o sentido que compreendemos de uma frase,
podemos respondê-lo por meio de outra frase, ou ainda por gestos e mesmo assim,
não damos conta de responder, de dar um sentido completo a esta frase,
independentemente do suporte que temos para respondê-la, por ser impossível
apreender o sentido de forma pura por este emergir a partir de uma estrutura simbólica
que preexiste a aparição da fala.
[...] não se pode encontrar sentido em um sistema simbólico, a não ser
para designá-lo por palavras que são furos na linguagem, a não ser para
significá-los por imagens ou rituais que se limitam a apontar aquilo que
aponta e que, se ele se volta, encontra o vazio. O vazio não é senão
a palavra vazia para designar a inapreensível fonte de sentido. Não se
pode dizer o sentido daquilo que dá ou cria o sentido (LÉVY, 2000, p.
23).
Ao mesmo tempo, em que o sentido se manifesta, ele se esconde “nos jogos de
uma combinatória que enlaça linguagens, referências simbólicas e uma certa
estruturação da experiência”, afirma Lévy. Assim sendo, o ciberespaço introduz a
interação coletiva, uma nova forma de relacionamento, de interação social e simbólica
de fazer e dar sentido as relações entre os seres humanos.
Segundo Lévy (2000), profissionais de várias áreas como: psicólogos,
pedagogos, artistas, entre outros profissionais que não estavam interessados em
94
fenômenos tecnológicos passaram a dar uma atenção e interesse as questões
tecnológicas dessa nova cultura, a cibercultura, considerada um novo equipamento
coletivo de sensibilidade, de inteligência, de relação social, que está nascendo em
silêncio.
6.2. Alguns posicionamentos de psicanalistas e psicoterapeutas sobre o
atendimento on-line no ciberespaço
Através de contatos informais com alguns psicólogos, psicanalistas e
psicoterapeutas, foi lhes solicitado emitir suas opiniões acerca do tema dessa pesquisa.
Segue abaixo a reprodução de alguns posicionamentos dos profissionais no período de
março a junho de 2008.
Segundo Cruz, psicóloga e psicanalista, o uso da Internet para o tratamento
psicanalítico/psicoterápico on-line é um recurso novo e que precisa, urgentemente, ser
posto em questão. A princípio, Cruz defende que é complicada a instauração da
transferência sem a presença do analista, mas acredita que os verdadeiros lacanianos
terão reservas quanto a esta utilização.
Cruz defende, ainda, que Lacan pôs em questão o setting analítico, dizendo que
em psicanálise não regras e sim princípios éticos. A única regra da psicanálise seria
a associação livre. Apesar de Lacan não tomar o setting como uma regra possibilitou
que a psicanálise pudesse ocupar outros espaços, para além dos consultórios
particulares e pensar uma psicanálise sem a presença do analista, a seu modo de ver,
coloca no mínimo, questões éticas. É preciso um corpo que encarne os significantes da
95
transferência para o analisante, no caso o corpo do analista, argumenta Cruz. Neste
sentido pensar a transferência, sem outro sujeito presente de carne e osso que possa
encarná-la, é o mesmo que pensar a transferência no vácuo, ou no “cyberespaço”,
conclui.
Siqueira Pessanha defende que psicanálise não é modismo e por este motivo o
atendimento psicanalítico on-line, não será uma tendência. Segundo ela, a psicanálise
para acontecer tem que manter em vigor os seus 4 conceitos fundamentais:
Transferência, Inconsciente, Recalque e Pulsão. A nível on-line como isto se opera?
Como se a linguagem, a escuta e a verdade do sujeito neste movimento on-line?
Interroga Siqueira Pessanha. Esta questão se torna um desafio para os analistas e é
preciso ser ouvidas as experiências diante das demandas do mundo contemporâneo.
Segundo Lacan, “os psicanalistas precisam inventar a psicanálise”. Se o analista
acompanha um analisante por um tempo significativo e este analisante, precisa mudar
de país, mas propõe ao analista manter um tratamento via on-line, como se aplica isto
se o desejo se mantém em análise e se faz representar pela transferência
estabelecida? É possível se manter a qualidade do tratamento? Só depois para saber...
Vale o desafio!!!!
Na opinião da Psicóloga e Psicanalista Campista quanto ao uso da Internet para
o tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line, é complicado porque não há na Internet
como manter pontos centrais do tratamento como, por exemplo, a presença do analista.
Em tempos atuais em que as pessoas querem fazer tudo rapidamente e cada vez mais
se escondem de encarar suas próprias questões, querem economizar tempo e gastam
96
mais tempo. Ela pensa que isso acaba por corroborar o sintoma, que mantém o sujeito
na virtualidade.
Campista levanta uma questão: em que condições será possível manter um
tratamento on-line? no que se refere o tempo, dinheiro, nº de sessões, lugar do analista.
Será de fato um tratamento, ou recurso dado a impossibilidade de fazer um tratamento?
Na opinião de Regis, Psicólogo Comportamental, o uso da Internet para o
tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line ainda é recente em nosso país e motivo
de muita discussão entre nossa classe. Ele acredita que os psicólogos devem se
debruçar mais para as orientações psicológicas online, pois ainda temos muito a
explorar e usufruir dessa tecnologia para benecio de nossos clientes.
Para Regis a utilização da psicologia on-line deve ser usada como complemento,
uma alternativa para aqueles que vivem em locais remotos, sem acesso a psicologia,
ou aqueles que possuem grande dificuldade de se deslocar ao consultório, seja por
problemas físicos, psicológicos, geográficos, problemas de trânsito nas grandes
metrópoles, dentre outros.
Em seu método de trabalho, o foco das orientações psicológicas on-line é
determinar um curto espaço de tempo na prestação de serviço com o objetivo de
sensibilizar o cliente a procurar uma psicoterapia presencial, se isso for possível.
Regis destaca que a orientação psicológica on-line, com certeza é A tendência e
não podemos deixar de lado essa prática em plena época e expansão da Internet
banda larga no mundo. A interação entre psicólogo-cliente facilita e muito com a
utilização de softwares de mensagens instantâneas, webcam, e deve ser utilizado de
97
forma sadia, consciente em busca de uma melhor qualidade de vida de nossos clientes
e da população em geral.
Regis argumenta que daqui a não muito tempo, nas grandes metrópoles como
São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, entre outras cidades que existam muitos
congestionamentos no trânsito, entre outros problemas de segurança pública,
possivelmente os psicólogos e seus clientes preferirão optar pelos atendimentos
psicológicos on-line a terem se deslocarem até os consultórios. Mas isso será uma
próxima etapa. Orientações psicológicas on-line, discussão sobre os impactos da
Internet no comportamento humano devem ser mais abordadas nas universidades e ter
matérias específicas sobre o assunto para acompanharmos as tendências.
Na opinião do Psicólogo e Psicanalista Freitas, quanto ao uso da Internet para o
tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line: questões ligadas à resisncia, como ir
ou não ao analista, o ato de pagar, a tensão do ambiente, questões ligadas à
transferência, o ato de cumprimentar o analista e uma infinidade de variáveis que se
perderiam tornam o tratamento psicanalítico/psicoterápico inviável. Acredita que a
possível tendência do atendimento on-line possa se adequar a uma linha teórica mais
positivista.
Freitas diz que apesar de acreditar ser inviável acredita também que paradigmas
possam ser quebrados e pesquisas como essas se fazem necessárias para o progresso
responsável do tratamento psicanalítico e psicoterápico.
Peixoto, Psicóloga Existencial Humanista, acredita que o incentivo que vem
sendo dado para que a Internet, seja muito em breve uma das formas mais utilizadas
para uma comunicação rápida, não tem dúvidas que é uma ferramenta importanssima
98
que pode vir a ser utilizada na área da psicologia. No entanto, devido ao não
treinamento dos profissionais e a uma não regulação para uma utilização ética e
adequada, pensa que, na atualidade, o atendimento deve ser feito sob uma situação
emergencial quando preferencialmente existir um vínculo terapêutico, tendo como
base um processo de terapia existente ou em vigor. Acredita também que
virtualmente possam ser desenvolvidas diversas formas de aconselhamento, que não
envolvam a idéia nem de processo nem de vínculo terapêutico.
Peixoto deduz que este tipo de tratamento seja algo a se desenvolver de forma
complementar às outras abordagens existentes e não como uma tendência que
excluirá ou desvalorizará outras formas de atendimento e caso o CFP e as instituições
passem a considerar a possibilidade dessa forma de atendimento, serão muito
importantes fóruns de discussão para posterior regulamentação e como pode ocorrer
esse atendimento. Além disso, também cabe a necessidade de educação para melhor
funcionamento ético desse atendimento, complementa.
Na opinião de Naked, Psicóloga e Psicanalista quanto ao uso da Internet para o
tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line, defende que não é possível, dada a
importância da presença do analista no setting analítico e no manejo da transferência.
Ela diz que, em se tratando da escuta, um ato falho dito é diferente do escrito, já que é
possível uma correção.
Segundo Herig, Psicóloga Holística o uso da Internet para o tratamento
psicanalítico/psicoterápico on-line não substitui o contato direto, mas pode ser um
facilitador se bem empregado e bem utilizado. Herig diz que ainda precisa pensar mais
a respeito, pois ainda não sabe exatamente como ocorreria.
99
Do ponto de vista de Juliboni, Psicóloga e Psicanalista, quanto ao uso da Internet
para o tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line, do ponto de vista da psicanálise,
não a possibilidade de escutar os atos falhos, os tropeços da língua, as vacilações
na fala com a mediação do computador. Além disso, a presença do analista é um
conceito fundamental para a psicanálise já que dela depende o ato analítico um outro
ponto fundamental para o andamento de uma análise. Nesse caso, em sua opinião,
quando de trata de psicanálise até o presente momento o sistema teórico não admite
esta possibilidade.
Juliboni destaca que, até onde aprendeu e ensinou em sua prática clínica e
acadêmica, em 25 anos, por mais que seja atraente essa tendência (pelo menor
esforço que ela promete de ambas as partes - analisante e analista), não acredita que a
psicanálise possa ser mantida sem se desfigurar em seu rigor teórico e em seu fazer
clínico, se ela se apropriar desses meios. Nesse caso, teríamos ou uma revolução em
seus conceitos fundamentais ou não seria mais psicanálise.
Juliboni conclui dizendo que considera importante que uma pesquisa desse teor
possa ter em mente, e no seu horizonte investigativo, a diferença conceitual entre
psicanálise e psicoterapia sob o risco de chegar a conclusões pouco apuradas em
função de não levar em conta a diferenciação radical entre os dois campos.
O psicólogo Manzolillo, ex- conselheiro presidente do Conselho Regional de
Psicologia do Rio de Janeiro, no que diz respeito ao uso da Internet para o tratamento
psicanalítico/psicoterápico on-line, diz que, embora não conheça o procedimento,
parece-lhe pouco conveniente, uma vez que a digitação (escrita) empobrece a
exposição do paciente, além de impedir a análise de outras formas de comunicação
100
não verbal. Além disso, acredita que o espaço físico do momento terapêutico deva ser
específico, isso, porque um tratamento via Internet não contempla a preservação desse
espaço. Manzolillo levanta uma questão: a de imaginar uma terapia on-line, feita com o
paciente em sua sala de trabalho! Como vai se controlar isso!
Manzolillo acredita que o uso da informática é uma tendência e se os
profissionais de Psicologia se “renderem” a esse recurso, evidentemente a população
vai utilizá-lo. No entanto, se houver um movimento contrário, não acredita que venha a
ser um fator de redução nos atendimentos. Ele acrescenta que acredita ser necessário
estimular a reflexão sobre os exageros promovidos pelo uso indiscriminado da Internet.
Se por um lado, ela traz agilidade e redução no tempo gasto, por outro, precisamos
utilizar esse tempo ganho a nosso favor. Do contrário, para que ganhar tempo?
Barbosa, Psicóloga Existencial Humanista, quanto ao uso da Internet para o
tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line, não acredita que funcione, na medida em
que não um contato tão essencial e fundamental para estruturação do nculo entre
terapeuta e paciente.
Barbosa acredita que as psicoterapias on-line são uma tendência como muitas
outras que surgem, porém que apenas passam. Ela defende que o que sustenta o
vínculo terapêutico são as relações de confiança mediadas no dia a dia perpassadas
por meio de um olhar, de um acolhimento, de um toque, onde exige a presença de duas
pessoas, conclui ela.
Silva, Psicóloga e Psicanalista, acredita ser difícil o uso da Internet para o
tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line, por várias questões e principalmente pela
101
questão da transferência. Segundo ela é uma boa discussão e que seja de preferência
com a presença dos sujeitos.
Para Silva o atendimento psicológico on-line não é uma tendência, mas uma
possibilidade talvez, já que a tendência é otimizar o tempo e o espaço e quanto a isso
tem reservas, mas não está fechada à discussão sobre o assunto.
De acordo com Dias, Psicóloga Existencial Humanista, a sua opinião quanto ao
uso da Internet para o tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line, é de que o é
viável, pois como todo tratamento é um processo de troca entre o terapeuta e o cliente
de corpo presente, com o objetivo de auxiliá-lo a buscar soluções e/ou encaminhá-lo
para suas questões mais íntimas, identificando as insatisfações que não conseguem
superar, seja com relação à sua vida, ou sua realização pessoal, seria necessário o
contato pessoal, para que haja a confiança, a empatia. Para os terapeutas Existenciais
Humanistas, a troca de olhares, o contato pessoal é de fundamental importância.
Dias defende que muitas vezes captamos informações e sentimentos por meio
dos olhares e on-line, poderíamos ser boicotados, como as pessoas têm a tendência
de desempenhar um papel que não é o dela.
Pessanha, Psicóloga e Gestat Terapeuta, não acredita na eficácia integral do
uso da Internet para o tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line por ser um método
de contato limitado de troca energética. Para Pessanha, o Universo on-line é uma
realidade. Conveniências, facilidades, perigos, crimes, entre outros temas, são
vivenciados por nós integrados no mundo moderno. Contudo, o atendimento nos
moldes on-line inevitavelmente limita princípios da integração terapeuta-paciente. O
contato necessário para dar energia e prosseguimento ao tratamento perpassa também
102
pelo silêncio, pelo não dito, pelas manifestações e expressões corporais. No
atendimento on-line todo este material terapêutico se perde.
Aragão, Psicóloga, utiliza como psicoterapeuta a técnica da Gestalt e como
terapeuta sexual utiliza da técnica Comportamental. A sua opinião quanto ao uso da
Internet para o tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line é de que, para ser usado
na terapia é inadequado. Pois, é muito importante a linguagem corporal do cliente este
contato direto é fundamental, pois existem sutilezas de percepção no atendimento, que
é preciso estar em sintonia terapeuta-cliente, no entanto para orientação e/ou
responder dúvidas gerais, acredita ser uma boa ferramenta.
Ao realizarmos a análise do conteúdo de acordo com as opiniões obtidas
encontramos uma perspectiva pouco otimista em relação ao atendimento psicológico
on-line, como as defendidas no decorrer desta pesquisa, pois os profissionais se
mostraram receosos com o novo método de atendimento no que diz respeito a
tratamento psicanalítico ou psicoterápico on-line.
Acreditamos que são necessárias mais pesquisas a respeito desta nova prática,
pois sem estudos e pesquisas é o mesmo que desconstruir, não todos os conceitos
fundamentais da psicanálise, mas das psicoterapias também, como é apontado nas
falas de vários psicanalistas e psicoterapeutas citados anteriormente nesse estudo.
É cedo ainda para afirmar que a psicanálise é inviável no ambiente on-line,
virtual ou cibernético, pois serão necessários muitos anos de estudos até que se
autentique a sua veracidade. Afirmar que é viável é prematuro, arriscado e perigoso,
levando-se em consideração todos os postulados da psicanálise. Não ficou claro nas
afirmações dos psicanalistas on-line que os conceitos fundamentais da psicanálise,
103
entre eles a transferência, podem ser manejados no ambiente on-line e de que forma
eles seriam tratados, com isso considera-se que a técnica psicanalítica on-line ainda
não pode ser considerada como válida.
Sendo assim, de acordo com a manifestação dos psicanalistas e psicoterapeutas
que se utilizam dos métodos de atendimento convencional, percebeu-se que foi de
opinião unívoca que o tema pesquisado merece uma atenção maior, visto que os
subsídios teóricos dos defensores da psicanálise e da psicoterapia on-line precisam ser
melhor estruturados, esclarecidos e explicados cientificamente.
104
7 CONCLUSÕES
Para facilitar a compreensão desta pesquisa, optamos por relatar de uma
maneira geral nossas conclusões, nas quais os objetivos plenamente conquistados
estão permeando o texto que se segue.
O desenvolvimento do nosso psiquismo ocorre a partir da forma como
elaboramos as nossas experiências emocionais-afetivas, fundadas nas fantasias e
impressões que temos em relação ao nosso primeiro objeto de amor- a mãe - e depois
em relação à inserção do pai ou de quem faz esta função na nossa vida, pois no
percurso de nosso desenvolvimento, aos poucos somos compelidos a abandonar o
objeto mãe, o que nos “força” a investir em outros objetos.
Na medida em que o sujeito se desenvolve psiquicamente, vai se deparando
com questões inerentes a todos: a angústia de sermos finitos e completamente sós e
outras questões que nos remetem à “dor” de que jamais conseguiremos ser completos,
pois buscamos um reencontro com o objeto imaginariamente perdido, que supomos tê-
lo tido um dia. Isso nos aponta a necessidade de termos as nossas vidas dirigidas a
outros objetos, incluindo-se nestes, outros sujeitos, na obtenção de prazer, que muitas
vezes é frustrado por não conseguirmos a satisfação imediata de todos os nossos
anseios e desejos.
A capacidade de os sujeitos lidarem com essa não satisfação imediata é
importante na constituição destes, para que com isso possam suportar, sem um “dano
muito grave ao seu psiquismo, suas frustrações, angústias e conflitos, determinando-se
assim a estrutura psíquica dos sujeitos.
105
Mister se faz ressaltar que em todos os momentos de nossas vidas postergamos
alguns desejos, vontades e necessidades que poderão em outros momentos serem
realizados, e é nessa dinâmica que os sujeitos podem “promover” seu bem-estar
psíquico. É importante ressaltar que a forma dos sujeitos lidarem com suas mazelas
psíquicas são de caráter subjetivo.
Estamos o tempo todo procurando respostas e fórmulas para minorar a “nossa
eterna dor de existir” e ao longo de nossa evolução buscamos métodos e técnicas que
tornem a nossa vida mais prática e feliz, principalmente no que diz respeito a nossa
vida afetiva, a qual é interpretada, de formas variadas, pelo diversos tipos de
psicoterapias, incluindo-se aqui a psicanálise, através das quais pretendemos encontrar
o tão sonhado paraíso” psíquico e parece que a Internet está surgindo como mais um
meio para esse encontro.
Oportuno se torna dizer que os avanços tecnogicos inauguraram a era virtual.
Com o avanço das NTICs chegou a Internet que vem revolucionando as formas de
comunicação e de relacionamentos entre pessoas. A Internet de “um simples”
instrumento de pesquisa e comunicação rápida passou a ocupar outros espaços na
vida humana, tais como: leituras de jornais do mundo inteiro; entretenimentos; música;
cinema; relações de amizade; namoro; política; religião; educação e a ciência da
psicologia, que a princípio estava direcionada a assuntos exclusivos da categoria no
que diz respeito a trabalhos acadêmicos e aos conselhos regulamentadores da
profissão.
Cumpre-nos assinalar que os avanços tecnológicos do mundo globalizado e o
advento da Internet têm propiciado uma nova forma de os profissionais oferecerem
106
seus trabalhos, com isso alguns psicólogos e profissionais que se interessam pela
prática psicanalítica e psicoterápica têm oferecido o atendimento
psicanalítico/psicoterapêutico on-line, o que vem trazendo muita polêmica com opiniões
diversas acerca da eficácia do referido atendimento, devido a este ainda não ter uma
comprovação científica. O divã que antes era utilizado num ambiente físico concreto,
agora está sendo, por alguns profissionais, substituído pelo ambiente on-line, virtual,
cibernético.
Percebemos que o atendimento psicanalítico e psicoterapêutico on-line ou
cibernético, segundo alguns profissionais, aponta várias facilidades em sua execução:
rapidez; fácil acesso; possibilidades de ser feito em casa ou em outro ambiente de fácil
acesso ao usuário; possibilidade de ser executado em municípios e estados diferentes
de onde a pessoa está; oferecer estes recursos a pessoas que morem em lugares onde
não exista o profissional etc. Ressaltamos que esses atendimentos podem ser
executados através de e-mails, chats, MSN, vídeo-conferência, entre outros recursos
mediados pela Internet.
Oportuno se torna dizer que alguns cyberterapêutas, explicitado durante o
estudo afirmam os benefícios conquistados nesta nova modalidade e fazem os
referidos atendimentos e a cada dia surgem novos sites oferecendo os mais diversos
serviços psicológicos. A Resolução 012/2005 não impede que tais procedimentos
sejam realizados em forma de orientação até que seja comprovada a sua cientificidade
e validade, como acontece com qualquer objeto de pesquisa.
Este estudo permitiu compreender que a questão mais importante não deve ser
pautada no que diz a referida Resolução, ou se o atendimento on-line é válido ou não,
107
mas se a prática psicanalítica se conforma ao ambiente on-line, pois esta tem
especificidades, tais como: a presença física do analista; a fala do analisante; o olhar;
os lapsos de linguagem; como o laço transferencial é constituído; o corte da sessão; as
faltas do analisante; a postura do analisante etc, que possivelmente no ambiente on-
line, cibernético, estariam mascarados, difíceis de serem manejados pelo analista,
sendo difícil definir os procedimentos destes.
Convém ressaltarmos que o analista, em um ambiente face a face, tem melhores
condições de manejar a relação transferencial, para que o analisante prossiga em
desvelar seu inconsciente. No ambiente on-line, provavelmente seria mais difícil, o
analisante pode simplesmente parar de enviar e-mails, ou se for através de chat, MSN
ou skype, desconectar sem dar possibilidades ao analista de trabalhar as questões do
analisante, que podem o impedir de prosseguir a sua análise pessoal.
É preciso insistir no fato de que a psicanálise trabalha com a linguagem do
inconsciente, com a fala do analisante, pois ela é “a matéria prima” em um trabalho de
análise. Ao se criarem novos modelos de emprego da psicanálise, sejam eles quais
forem, esta deixa de ser psicanálise e passa a ser um novo método com propriedades
dos conceitos fundamentais da psicanálise postulados por Freud e Lacan. A psicanálise
dentro do modelo on-line não utiliza a fala do analisante, que fica excluída, como objeto
de trabalho e sim as mensagens enviadas e recebidas por e-mail e este modelo de
atendimento pode impedir que o processo transferencial ocorra.
Quando Berta Pappenhein, conhecida como Anna O. cria a talking cure”, ou
seja, “a cura pela palavra”, estava em processo transferencial com Freud, o que
possibilitou a emergência da psicanálise e ensinou ao grande Freud que o caminho
108
para a “cura” era a palavra, sendo assim, na medida em que tiramos a psicanálise do
campo da fala, da palavra e a transpomos para um outro campo de linguagem, o da
linguagem no ambiente on-line, virtual, cibernética, parece-nos que estamos criando
uma nova psicanálise, utilizando de forma equivocada os conceitos da psicanálise
postulados por Freud e Lacan.
Não podemos perder de vista que, em um processo de análise, é função do
analista propiciar a transferência. O analisante irá transferir, só que a nível inconsciente,
para a figura do analista as queses que construiu em relação aos seus pares
amorosos na infância. Como regra fundamental da psicanálise é preciso que o analista
esteja presente fisicamente para que essa relação aconteça, pois nós construímos
todas as nossas relações, sejam elas em que ordem for, na presença física de um outro
sujeito que é para nós um objeto e só depois, que esta presença pode estar
presentificada na ausência física do outro sujeito. É na transferência com o analista que
o analisante “re-vive”, “reedita” as suas experiências infantis. É na figura do analista que
se configura o sintoma do analisante.
Cumpre-nos ratificar que os chamados psicanalistas e psicoterapeutas on-line
transferiram todo o trabalho que é realizado num consultório convencional para o
ambiente on-line em nome de um possível acompanhamento das NTICs, como se fosse
um ato simples, transgredindo não aos postulados das várias abordagens
psicológicas, psicanalítica e psicoterapêutica como também aos defensores da
importância do desenvolvimento das NTICs em prol do progresso científico e da
humanidade. Consideramos ainda que este não seja um ato simples, pois banaliza a
psicanálise, as psicoterapias e todos os avanços na área de comunicação e tecnologia.
109
Para a psicanálise, o inconsciente se manifesta tanto pela via da escrita, que
segundo Freud é um processo secundário do pensamento, como pela fala, que é
considerada como o único meio pela qual uma análise em psicanálise ocorre. Numa
escrita os erros ortográficos (atos falhos de escrita) que venham a ser cometidos em um
e-mail, por exemplo, podem ser retificados antes de serem enviados, ou até mesmo
num chat esses erros podem ser considerados pelo analisante como um erro de
digitação, fato que acontece com freqüência na Internet. Sendo assim, empobrece o
material do trabalho tanto do analisante quanto do analista.
Outro fator importante a ser observado é que num texto escrito a interpretação é
de quem o lê e não por aquele que o escreve, sendo assim, a interpretação dessa
escrita fica contaminada. Não é incomum um analisante produzir textos e levar para
uma sessão de análise. Quando isto ocorre o analista solicita que o analisante leia
quantas vezes forem necessárias e interroga ao analisante sobre o que escreveu, para
evitar que ocorram interpretações baseadas no ponto de vista do analista.
Na fala não possibilidades de se corrigirem os equívocos, mesmo que o
analisante diga que o que foi dito escapou na fala e era outra coisa a ser dita. Falar é
uma arte e é através da fala que nós analistas podemos esculpir o mármore e tirar de
dentro deste a bela estátua que nele habita.
Não concordância entre os psicanalistas e psicoterapeutas convencionais e
os on-line sobre a eficácia do atendimento ser mediado via Internet. Pudemos observar
durante este trabalho, tanto na psicanálise quanto nas psicoterapias convencionais, que
o mais importante num tratamento psicoterápico é a aliança terapêutica, vínculo
110
terapêutico e na psicanálise é a transferência entre analista e analisante e que este
laço, a princípio, só acontece na presença física um do outro.
É preciso que os psicanalistas on-line mostrem como os conceitos fundamentais
da psicanálise funcionam neste ambiente, pois estamos lidando com a fragilidade
humana e seu sofrimento psíquico, e a partir daí, podermos avançar rumo ao futuro, ao
bem estar da humanidade e da ciência.
Como se trabalha a importância da presença física do analista nas sessões; a
fala do analisante; a escrita dos e-mails; o olhar; os lapsos de linguagem (atos falhos,
chistes etc.) do analisante; o laço transferencial e o manejo deste; o acolhimento do
material que o analisante traz no ambiente on-line; como o psicanalista on-line trabalha
e interpreta este material; como seria trabalhada a transferência num ambiente mediado
pela Internet; são questões que ainda não foram respondidas e nem explicadas pelos
psicanalistas on-line.
É possível que a psicanálise on-line seja o surgimento de outra psicanálise que
se utiliza dos conceitos fundamentais da psicanálise tradicional. Este “novo modelo de
psicanálise” seria uma psicanálise com outro tipo de linguagem, uma linguagem
específica para o ambiente on-line, virtual, cibernético, que é uma nova ferramenta de
comunicação.
Compreendemos que é possível que a questão entre as duas psicanálises não
demore a ser respondida. Como trabalha o psicanalista on-line, como se trabalham no
ambiente on-line os conceitos fundamentais da psicanálise postulados por Freud e
Lacan, como se constituiria um laço transferencial entre analista e analisante numa
psicanálise on-line, são questões que não foram discutidas nem defendidas pelos
111
psicanalistas on-line. Esperamos que, em prol do desenvolvimento do bem-estar dos
sujeitos, da Psicanálise, da Ciência, das NTICs e da Humanidade, os psicanalistas on-
line as encontrem.
Não temos dúvidas que tanto Freud quanto Lacan, se vivos, se interessariam por
pesquisar sobre a psicanálise no ambiente on-line, virtual, cibernético. Pesquisadores e
interessados no progresso do mundo científico e no bem-estar dos seres humanos, eles
aceitariam este novo desafio de pesquisa em prol da ciência e da humanidade e
apontariam que possivelmente o caminho para se efetivar uma análise on-line estaria
na maneira como a formação da transferência entre analisante e analista poderia ser
propiciada no ambiente mediado pela Internet e, é possível que a partir do momento em
que ela, a transferência, tiver sido constituída no ambiente concreto, possa ser feita
uma passagem da análise do ambiente tradicional para a análise no divã virtual.
112
8 REFERÊNCIAS
ABAURRE, Maria Bernadete Marques. in XAVIER, Antonio C. E Cortez S. (Orgs).
Conversas com linguistas. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.
ALMEIDA, Leonardo Pinto de, e Rodrigues, Joelson Tavares. Narrativa e Internet:
Possibilidades e Limites do Atendimento Psicoterápico Mediado por Computador.
Revista Psicologia Ciência e Profissão, nº. 3, ano 2003, p. 10-17, Conselho Federal de
Psicologia. Brasília, DF.
AMENDOEIRA, Wilson. O preço da terapia on-line. Disponível no site:
http://www.homemdemello.com.br/psicologia/oglobo.htm. Acessado em 27 maio 2006.
ARAGÃO, Marcia Sant’ Ana, psicóloga na cidade do Rio de Janeiro
BARBOSA, Ana Paula Bessa, psicóloga da Secretaria Municipal de Educação e Cultura
da Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes - RJ.
BARRETO, Myrian Campêlo. O divã de pernas para o ar. Disponível no site:
http://www.homemdemello.com.br/psicologia/internetbr.html. Acessado em 27maio
2006.
BELLO, Lucia. Um divã na internet. Disponível no site:
http://www.homemdemello.com.br/psicologia/planeta.htm. Acessado em 27 maio 2006.
BERNARDO, Nilton Caldeira. Psicanálise on-line? Disponível no site:
http://www.psicanalise.online.nom.br/papsicanlise.htm. Acessado em 21 set 2006.
BOCK, Ana Merces Bahia (Org). Psicologias: uma introdução ao estudo da
psicologia. São Paulo: Saraiva, 2002.
113
BRAGHIROLLI, Eliane Maria. Temas de Psicologia. 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes.
1994.
CAMPISTA, Valesca do Rosário, psicanalista, psicóloga da Fundação Benedito Pereira
Nunes da Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes, professora de psicologia da
Universidade Estácio de Campus campos dos Goytacazes - RJ e membro fundador
do Corpo Freudiano Escola de Psicanálise seção campos dos Goytacazes – RJ.
CAPUANO, Cristina. No Di Virtual. Claudia on-line 02/2002 (Nº. 02 ano 41).
Disponível no site: http://www.homemdemello.com.br/psicologia/revclaudia.htm.
Acessado em 15 jul 2006.
CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure. Petrópolis, Rio de
Janeiro: Vozes, 2000.
CASTELLS. Manoel. A Sociedade em rede. V.1, 5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
CORRÊA, Roberta. O di de pernas para o ar. Disponível no site:
http://www.homemdemello.com.br/psicologia/internetbr.html. Acessado em 27 maio
2006.
CRUZ, Carmem Aguiar, psicanalista e psicóloga da Fundação Benedito Pereira Nunes,
Prefeitura Municipal de Campos dos goytacazes, membro fundador do Corpo Freudiano
Escola de Psicanálise seção Campos dos Goytacazes – RJ.
DIAS, Mariangela Lopes, psicóloga do Sest/ Senat – Campos dos Goytacazes – RJ.
DOR, Joël. Introdução a Leitura de Lacan. 2. ed.rev. Porto Alegre: Artes dicas
Editora, 1991.
114
ELIA, Luciano. O conceito de sujeito. Rio de Janeiro: Jorge zahar Ed., 2004.
FIORIN, José Luiz. In XAVIER, Antonio Carlos. e Cortez Suzana. (Orgs). Conversas
com linguistas. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.
FRANCHETTO, Bruna. e Leite, Yonne. Origens da linguagem. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar ed., 2004.
FRANCO, Nathalia. Gonçalves da Costa Nas trilhas da psicoterapia à psicanálise.
Monografia de graduação em Psicologia - Universidade Estácio de Sá. Campos dos
Goytacazes, 2004.
FREITAS, Luciano Alves, Psicanalista e psicólogo do CAPS adulto Prefeitura
Municipal de Campos dos Goytacazes – RJ.
FREUD, Sigmund. Edição Padrão Brasileira das Obras Completas de Sigmund
Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 24 vols (Tradução coordenada por Jayme
Salomão, copyright James Strachey 1969).
_____. A Psicopatologia da Vida Cotidiana. Vol. XXI, Publicação original (1901).
_____. Artigos sobre a técnica e outros trabalhos. Vol.XII. Publicação original (1911-
1913).
_____. Cinco lições de Psicanálise. Vol. XI, Publicação original (1910).
_____. Os Chistes e Sua Relação com o Inconsciente. Vol. VIII, Publicação original
(1905).
_____. O Futuro de Uma Ilusão. Vol. XXI, Publicação original (1927).
115
_____. O Mal-Estar na Civilização. Vol. XXI, Publicação original (1930).
_____. O método psicanalítico de Freud. Vol. VII, Publicação original (1903-1904).
_____. Sobre a psicoterapia. Vol. VII, Publicação original (1904- 1905).
_____. Um estudo autobiográfico. Vol. XX, Publicação original (1925- 1926).
GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar Editores
S.A. 1983.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1999.
HEIDBREDER, Edna. Psicologias do século XX. 5. ed. São Paulo: Mestre Jour, 1981.
HERIG, Maria Fernanda Teixeira, psicóloga na cidade do Rio de Janeiro
HORNE, Bernardino. Per via di porre ou per via di levare. In FORBES, J. (Org).
Psicanálise ou psicoterapia. Campinas, São Paulo: Papirus, 1997.
JULIBONI, Elizabeth Elias Chacur, psicanalista, psicóloga, Doutora em psicanálise pela
UFRJ, professora de psicologia da faculdade de Seviço Social da UFF Campus
Campos dos Goytacazes-RJ, membro fundador do Corpo Freudiano Escola de
Psicanálise seção Campos dos Goytacazes – RJ.
JORGE, Marco Antonio Coutinho e Ferreira, Nadiá Paulo. Freud o criador da
psicanálise. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2005.
_____. Fundamentos da psicanálise de freud a Lacan, v.1 Rio de Janeiro: Jorge
zahar Ed., 2000.
116
_____. Lacan, o grande freudiano. RJ: Jorge Zahar, 2005.
KAUFMANN, Pierre. Dicionário Enciclopédico de psicanálise: o Legado de Freud a
Lacan. Rio de Janeiro: Jorge zahar Editores. 1996. (Trad. de Vera Ribeiro e Maria Luiza
X. de A. Borges).
LACAN, Jacques. A ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1986.
_____. A transferência. Rio de Janeiro: Jorge zahar Ed., 1992.
_____. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge
zahar Ed, 1985.
_____. O eu na teoria da Freud e na técnica da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 1985.
LAPLANCHE, J e Pontalis, J-B. Vocabulário da psicanálise. 10. ed. São Paulo:
Marintis Fontes, 1988.
LEMOS, Carmem Sylvia Dias. Psicologia como ciência: uma Incursão histórica da
filosofia à biologia. São Paulo: Universidade Estadual de Campinas, 2003.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.
_____. Cibercultura. Trad. de Carlos Irineu da Costa. 1. ed. São Paulo: Editora 34,
1999.
_____. O que é virtual? Trad. Paulo Neves. 7ª reimpressão. São Paulo: Ed. 34, 2005.
MANZOLILLO, Mario Bruno Hingst, psicólogo e ex- conselheiro presidente do Conselho
Regional de Psicologia do Estado do Rio de Janeiro.
117
LIMA, Marilene. Psicanálise e Cultura. Disponível no site:
www.profala.com/artpsico41.htm. Acessado em 03 abr 2006.
LONGO, Leila. Linguagem e psicanalise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.
LUTFI, Adriana. O Divã de Pernas para o Ar”. Disponível no site:
http://www.homemdemello.com.br/psicologia/internetbr.html. Acessado em 27 maio
2006.
MACHADO, Oséas. O preço da terapia on-line. Disponível no site:
http://www.homemdemello.com.br/psicologia/oglobo.htm. Acessado em 27 maio 2006.
MAIORINO, Fabiana. Técnicas da terapia on-line causan polêmica. Disponível no
site: http://homemdemello.com.br/psicologia/estadão.htm. Acessado em 27 maio 2006.
MAROT, Rodrigo Vicente. A consistência entre as atitudes e as intenções dos
internautas em relação a aprovação da terapia on-line no Brasil. Dissertação de
Mestrado em Psicologia, Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, 2003.
MAURANO, Denise. A transferência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.
_____. Para que serve a psicanálise? 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.
MAUTNER, Ana Verônica. Técnicas da terapia on-line causan polêmica. Disponível
no site: http://homemdemello.com.br/psicologia/estadão.htm. Acessado em 27 maio
2006.
MELLO, Márcia Homem de. Disponível no site: www.homemdemello.com.br/psicologia.
Acessado em 27 ago 2006.
118
_____. Um divã na internet. Disponível no site:
http://www.homemdemello.com.br/psicologia/planeta.htm. Acessado em 27 ago 2006.
MILMAN, Luli. Um divã na internet. Disponível no site:
http://www.homemdemello.com.br/psicologia/planeta.htm. Acessado em 27 ago 2006.
MILLER, Jacques-Allain. Psicanálise e psicoterapia. In FORBES, J. (Org).
Psicanálise ou psicoterapia. Campinas, São Paulo: Papirus, 1997.
MRECH, Leny Magalhães. Pacientes a distância. Disponível no site:
http://www.homemdemello.com.br/psicologia/viver.htm. Acessado em 27 maio 2006.
NASIO, Juan-David. Como trabalha um psicanalista? Tradução Lucy Magalhães.
Revisão técnica Marco Antonio Coutinho Jorge. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999.
_____. O prazer de ler Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999.
NAKED, Eleonora Dib Chacur, psicanalista, psicóloga da Fundação Benedito Pereira
Nunes da Prefeitura Municipal de campos dos Goytacazes RJ e membro Fundador do
Corpo Freudiano Escola de Psicanálise seção Campos dos goytacazes- RJ
_____. O prazer de ler Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999.
NICÉAS, Carlos Augusto. Resposta ao saber suposto. In FORBES, J. (Org).
Psicanálise ou psicoterapia. Campinas, São Paulo: Papirus, 1997.
PAMPONET, Reinaldo. Internet e o Sintoma Conteporâneo. Revista espaço
Acadêmico, Ano 1 nº. 4 novembro 2001. Disponível no site:
http://www.espacoacademico.com.br/004/04internet.htm. Acessado em 24 abr 2006.
PEIXOTO, Rosemary dos Santos, psicóloga The British School Rio de Janeiro - RJ
119
PESSANHA, Fatima dos Santos Siqueira , psicanalista e psicóloga do Posto de
Urgência Psiquiátrico da Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes - RJ, Membro
da Escola de Psicanálise Letra Freudiana do Rio de janeiro.
PESSANHA, Sandra da Silva, psicóloga da Fundação Municipal da Infância e da
Juventude da Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes – RJ.
QUINET, Antonio. A descoberta do Inconsciente: do desejo ao sintoma. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000.
_____. As 4+1 Condições de análise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1991.
REGIS, Márcio Roberto. Portal Atlaspsico. Disponível no site:
http://www.atlaspsico.com.br. Acessado em 14 maio 2006.
RESOLUÇÂO 012/2005. Regulamenta o atendimento psicoterapêutico e outros
serviços psicológicos mediados por computador. Conselho Federal de Psicologia.
RESOLUÇÃO 196/1996. Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas
Envolvendo Seres Humanos. Conselho Nacional de Saúde.
REY, Luis Fernando González. Sujeito e subjetividade: uma aproximação histórico
cultural. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
RICOTTA, Luiza Cristina. Técnicas da terapia on-line causan polêmica. Disponível
no site: http://homemdemello.com.br/psicologia/estadão.htm. Acessado em 27 maio
2006.
ROUDINESCO, Elizabeth e PLON, Michel. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 1998.
120
SAAD, Ana Cristina. “Doutor on-line” Psicólogos atendem usnado e-mail e bate-
papo. Disponível no site: http://www.homemdemello.com.br/psicologia/folhasp.html.
Acessado em 27 maio 2006.
SABBATINI, Renato. Psicoterapia pela Internet. Disponível no site:
http://www.sabbatini.com/renato/correio. Acessado em 15 abr 2006.
SALGADO, Marcelo Sidrião. Divã virtual psicoterapia e cybercultura. Livro eletrônico.
Disponível no site: www.fortalnet.com.br/psyberterapia/livro. Acessado em 13 set 2006.
_____. O que é Psicoterapia on-line. Disponível no site: http://www.fortanet.com.br.
Acessado em 27 ago 2006.
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de lingüística geral. São Paulo: Editora Cultrix, 1997.
SCARPATO, Arthur. O que é psicoterapia? Disponível no site:
www.psicoterapia.psc.br/scarpato/psicoterapia.html. Acessado em 27 ago 2006.
SCHULTZ, Duane P. E Schultz Sydney E. História da psicologia moderna. 10. ed.
São Paulo: Editora Cultrix, 2000.
Silva, Scheila Chagas, psicanalista e psicóloga da Fundação Benedito Pereira Nunes
da Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes - RJ
SILVA, Edna da Silva e Menezes Estera Muszkat. Metodologia da pesquisa e
elaboração de dissertação. 3. ed. Universidade Federal de Santa Catarina -
Florianópolis - UFSC, 2001.
SILVA, Marlene Dias da. O preço da terapia on-line. Disponível no site:
http://www.homemdemello.com.br/psicologia/oglobo.htm. Acessado em 27 maio 2006.
121
SOLER, Collete. O intratável. In FORBES, J. (Org). Psicanálise ou psicoterapia.
Campinas, São Paulo: Papirus, 1997.
SOUZA, Carlos Henrique Medeiros de. Comunicação, educação e novas
tecnologias. Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro: Editora FAFIC, 2003.
_____. A informática na educação. Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro: Editora
FAFIC, 1999.
SOUZA, Carlos Medeiros de Souza e Gomes, Maria Lucia Moreira. Do Lugar ao Não
Lugar: a Re-invenção do Conhecimento. In: Anais VI Congreso Latinoamericano de
Humanidades – Chile, 2003.
SOUZA, Manuela. O divã de pernas para o ar. Disponível no site
:http://www.marciahomemdemello.com.br/psicologia/internetbr.html. Acessado
em 15 ago 2006.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo