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No homem, esse sistema, em sua manifestação geral, não é diferente, porém, assume uma
sofisticação e complexidade, muito maiores ao se exercer na diferenciação do “Eu” com
seu potencial particular de experienciação. A essa manifestação, Rogers dá o nome de
“tendência atualizante do eu”, que se relaciona com a totalidade do organismo,
inicialmente, através de um sistema regulador chamado “avaliação organísmica”, cujo
critério é a tendência atualizante, ou seja, o sistema motivacional, mas deve-se entender
bem que os autores falam de apenas uma tendência que segue os mesmos princípios
básicos já referidos, entretanto, com múltiplas manifestações.
Por outro lado, nosso sistema social predominante, orienta-se por valores originariamente
externos à pessoa, mas que são internalizados durante o desenvolvimento das relações
interpessoais, constituindo um subsistema nomeado por Rogers “avaliação condicional”,
tendo como critério, num primeiro momento, as pessoas significativas, evoluindo depois
para um complexo sistema de valores internalizados que, aos poucos, vão “viciando” as
pessoas a produzirem a “necessidade de consideração positiva” por parte dos outros.
Como todo vício tem seu preço, tal consideração só é obtida sob determinadas condições,
percebidas dessa forma. Nesses momentos, os sentidos do organismo são preteridos. As
expectativas em relação ao que os outros esperam de nós, nos move a internalizar aquilo
que percebemos como alguns de seus valores e, conseqüentemente, relegar a um segundo
plano os valores que são gerados em nosso próprio organismo, fruto da experiência direta.
Deparamo-nos com um complicador, pois, nesse caso, não é o puro e simples grau de
facilitação na interação com o meio que está influenciando o exercício da tendência
atualizante, mas sim, a própria percepção interativa, subjetiva, fenomenológica, arbitrando
a escolha do comportamento, assim percebido, como o mais adequado naquele momento.
Desse modo, a tendência atualizante do “Eu” adquire certa peculiaridade em relação à
orientação da tendência organísmica geral, embora seguindo o mesmo princípio, mas
muitas vezes orientada pelo sistema condicional de avaliação que, não raramente, nos
engana produzindo ilusões, fantasias, miragens da consciência, ou mesmo o imaginário